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2 O MOVIMENTO COMUNITÁRIO NO BAIRRO MATHIAS VELHO, COMO ESPAÇO DE RELAÇÕES SOCIAIS

2.2 AS ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS

Ao longo da década de 1970 e 1980, diferentes “organizações comunitárias” foram formadas, a partir das ocupações na Vila Santo Operário e na Vila União dos Operários, proporcionadas pelo espírito de organização e lutas desses moradores e impulsionadas pelas ocupações, apoiadas por diversas lideranças de grupos organizados, bem como pela organização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Essa base de apoio, junto aos novos moradores, constituiu um movimento social comunitário, cujas demandas são as melhorias reivindicadas junto aos poderes públicos, com apoio e participação de uma ação política, de caráter coletivo, que poderíamos conceituar de esquerda, visando socializar os benefícios conquistados por essas organizações de trabalhadores.

Eder Sader estuda a formação de movimentos político-sociais, como sujeitos históricos, atuando com uma lógica política diferente de alguns partidos de esquerda . Durante a ditadura civil-militar no Brasil, que se assentava nas experiências cotidianas de seus participantes, o autor identifica três matrizes determinantes na constituição dos discursos dos movimentos sociais: a Teologia da Libertação, oriunda da Igreja Católica; que nesta pesquisa está presente no bairro Mathias Velho, no mesmo período histórico; grupos de esquerda marxista, que buscavam maior integração com os trabalhadores e o novo sindicalismo, surgido a partir de uma estrutura sindical, esvaziada pela intervenção da ditadura civil-militar

nos sindicatos. A seguinte citação evidencia o aspecto comunitário e a administração de bairros, que será aprofundada, nesta pesquisa, no bairro Mathias Velho:

[...] As classes populares se organizam numa extrema variedade de planos, segundo o lugar de trabalho e moradia, segundo algum problema específico que os motiva ou segundo algum problema comunitário que os agrega... Apontaram no sentido de uma política constituída a partir das questões da vida cotidiana. Apontaram para uma nova concepção de política a partir da intervenção direta dos interessados. Coloram a reivindicação da democracia referida às esferas da vida social, em que a população trabalhadora está diretamente implicada: nas fábricas, nos sindicatos, nos serviços públicos e nas administrações dos bairros (SADER, 2001, p. 313).

O resultado são as várias organizações comunitárias populares, oriundas desse movimento comunitário de inspiração religiosa. A experiência mostrou que a organização popular tem força, na medida em que encontra meios para atingir seus objetivos organizativos e também espirituais. Entre as conquistas populares, entre os anos de 1975 a 1988, podemos destacar a Associação de Moradores, o Clube de Mães, a Horta Comunitária, a Associação Beneficente Educadora Creche Vó Maria (na Vila Santo Operário), e os Fornos Comunitários do bairro Mathias Velho.

A Associação de Moradores da Vila Santo Operário, fundada em 1979, torna-se um elo de organização dos moradores, no bairro Mathias Velho, em Canoas. Com a ocupação, a organização e a luta por demandas sociais são intensificadas e necessidades básicas, como luz, água, encanamento e consertos das ruas, tornam-se reivindicações constantes junto à prefeitura. Isso pode ser identificado, através do primeiro boletim da Associação dos Moradores, da Vila Santo Operário, em janeiro de 1983. Esse boletim torna-se o principal veículo de comunicação entre esses moradores, mostrando preocupações comuns deles, como a reorganização dos números das casinhas, como também funciona como veículo de divulgação de eventos sociais mais específicos, como bailes, grupos de folclore e atendimento aos sócios.

Figura 26 – Boletim informativo nº1 de janeiro de 1983 da Associação dos Moradores da Vila Santo Operário, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin.

Após a ocupação da Vila União dos Operários, os novos moradores formarão a Associação dos Moradores da Vila União dos Operários (AMVUO), que atuará de forma oficial, para congregar os moradores, depois do conflitivo processo de ocupação. Com a associação, o trabalho coletivo, na resolução de demandas, junto ao poder público, como

ocorreu na primeira ocupação na Vila Santo Operário, torna-se realidade. Como forma de comunicação, a Associação dos Moradores da Vila União dos Operários cria também, de forma semelhante à Associação da Vila Santo Operário, o seu Boletim Informativo. Na edição de junho de 2005, esse boletim faz referência, como veremos, a seguir na foto, às comemorações dos 25 anos da criação da Associação dos Moradores da Vila União dos Operários.

Figura 27 – Boletim informativo nº 2 de junho de 2005 da Associação dos Moradores da Vila União dos Operários, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Como forma de controlar e organizar os moradores, a Associação dos Moradores da Vila União dos Operários, cria fichas individuais dos sócios, intituladas “Ficha dos sem morada”, tendo identificação pessoal, familiar e origem desses moradores, como podemos verificar na ficha do morador Antenor S. Gawlinki, oriundo de Camaquã. Cada morador pertencia a um grupo específico e, na mensagem que está colocada na ficha, ao lado da foto do novo morador, destaca-se que a luta pela terra é por um motivo de fé e para quem estiver com a firme disposição de lutar por ela, a casa é de todos. Nesse sentido, podemos identificar, de forma coletiva, a relação entre a luta dos moradores e a fé religiosa como inspiração para conseguir a sua habitação.

Figura 28 – Ficha dos sem-morada da Vila União dos Operários, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Fonte: Acervo pessoal de Ivo Fiorotti.

As associações de moradores têm sido uma força importante, dentro dos movimentos comunitários, ao longo da década de 1970, no Brasil, e de um modo especial no Rio Grande do Sul, no bairro Mathias Velho, em Canoas, tanto na Vila Santo Operário quanto na Vila

União dos Operários. Enquanto organização de base no movimento popular, ao se tornarem oficiais, as Associações de Moradores buscam garantir sua força junto aos poderes públicos, pois, até então, na fase das ocupações, havia a possibilidade de que os próprios poderes públicos pudessem expulsar esses moradores.

Na obra Costumes em comum, de Edward Palmer Thompson (2005), o historiador analisa os costumes e a cultura popular dentro de um universo de pesquisas, feitas pelo autor, a partir do campo teórico da História Social Inglesa, no estudo sobre “História a partir dos debaixo”, relacionando à estrutura da sociedade capitalista com a cultura das classes populares. Neste sentido, o estudo, de forma tradicional, sobre a cultura dos migrantes, suas mudanças de paradigmas, lutas e conquistas, no processo de organização comunitária, em Canoas, torna-se relevante. A experiência dos trabalhadores e suas famílias, ligada à luta e à consciência por alternativas em suas vidas, enquanto efeitos em um novo local de moradia, são marcantes no movimento comunitário no bairro Mathias Velho, em Canoas, através da conquista de uma área devoluta. É nesta relação de uma experiência organizada de forma coletiva, fugindo do empirismo, ou de qualquer experiência puramente individual, que se enquadra esta análise histórica importante.

O historiador inglês Eric Hobsbawm (1987), no seu livro Mundos do trabalho, demonstra uma preocupação fundamental, em analisar a história de pessoas comuns que, na maioria das vezes, é desprezada por uma história tradicional, baseada nos chamados heróis e feitos históricos. No caso desta obra, o autor identifica que a percepção de uma classe operária única e singular somente foi possível, levando em consideração alguns fatores, como o uso de boné chato pelos proletários britânicos, como identificação dessa classe. O ambiente concreto destes proletários identifica um estilo de vida, que apresenta uma consciência de classe, com identificação nos ideais do Partido Trabalhista Inglês e na afiliação a sindicatos de proletários. Desta forma, de acordo com esse historiador, ocorre que não é a consciência de classe que domina, mas a identificação com outros interesses, ao relatar formas de sociabilidade e práticas culturais nas fábricas, bairros e comunidades de trabalhadores. Ao mesmo tempo, ao analisar o surgimento de uma consciência de classe entre os trabalhadores, Hobsbawm verifica que a unificação da classe operária ocorre independente do credo professado, da origem étnica e da categoria profissional; ou seja, nos seus estudos é dada ênfase para a consciência de classe, que permite que os interesses individuais, ou grupais, sejam postos de lado, na medida em que todos se identificam com os interesses considerados como sendo de classe. Estudos como esses tendem a valorizar a força das organizações populares e suas lutas para mudar o curso da História e, ao mesmo tempo, registrar ações concretas que fortalecem a

resistência popular. Neste sentido, a organização popular e comunitária do bairro Mathias Velho, a partir do final dos anos de 1970, enfatiza essa análise da ligação política entre a estrutura geral da sociedade capitalista e as relações empíricas dos trabalhadores que lutam na busca de trabalho e renda, com interesses comuns de melhorias para suas vidas, dentro do aspecto cultural ligado à religiosidade e às conquistas de moradia, luz, água, esgoto, transporte e alimentação.

A participação popular, através das fontes analisadas, indicam que essa luta ocorreu de forma independente ao Estado, e que os moradores reivindicavam aquilo que consideram seus direitos fundamentais, sem deixar de preservar sua autonomia e projetos próprios.

Nesse sentido, podemos destacar os movimentos por habitação, trabalho e renda, que ocorreram no município de Canoas, no Rio Grande do Sul, no final da década de 70. Ao identificarmos os movimentos sociais, verificamos também uma crescente participação dos setores populares na história social recente, tanto em nível nacional quanto estadual e local.

A importância da História Social Inglesa, identificada no pensamento dos historiadores Edward Palmer Thompson e Eric Hobsbawm, e seus estudos sobre a classe operária, relacionada nesta pesquisa com a construção do movimento comunitário, enquanto movimento social de trabalhadores, suas ações e resgate de suas experiências coletivas, bem como a relação entre classes sociais e o estudo das mentalidades coletivas, como sujeito em construção na história, é analisado por Maria da Gloria Gohn:

[...] A corrente dos historiadores ingleses – E. Hobsbawn, E. P. Thompson, G. Rudé etc. Seguindo a trilogia marxista que se dedicam ao estudo histórico da classe operária, os “novos” historiadores ingleses que se tem dedicado ao estudo dos movimentos sociais [...] se preocupam em resgatar as experiências coletivas dos trabalhadores e, nestas, seus atos de protestos, manifestações e movimentos. Trabalhando com a categoria de cultura política, esta corrente alia a análise das classes sociais ao estudo das mentalidades coletivas. Retomam a questão do sujeito na história, um sujeito não pré-designado, mas em construção (GOHN, 1991, p. 24).

Em maio de 1984, o irmão marista Antonio Cechin teve a ideia de ajudar os moradores da Vila União dos Operários, de uma forma que cada um deles pudesse ter sua própria fonte de renda. Junto com os freis Capuchinhos, ele começou a idealizar a horta comunitária e a colocou em prática com os moradores. O movimento de criação foi uma alternativa para os moradores de baixa renda, que ainda hoje utilizam a horta como fonte de renda, plantio e cultivação de verduras. O espaço, criado a partir da ocupação, que gerou a Vila União dos Operários, chegou a ser utilizado por 32 famílias associadas, que cultivavam produtos para subsistência de cerca de 160 pessoas. Os novos moradores formaram a Associação da Horta

Comunitária União dos Operários (HOCOUNO), dentro do processo de ampliação da Vila União dos Operários, em que a Associação dos Moradores da Vila União dos Operários AMVUO) foi protagonista. As frentes de trabalho foram organizadas na Vila União dos Operários, sendo a horta comunitária fruto dessa ação. De acordo com Clésio Aires de Oliveira, um dos moradores que participou da organização da horta comunitária, a criação dela foi realizada com muitas dificuldades, desde a preparação da área para cultivo, o trabalho e a distribuição dos alimentos, produzidos entre os moradores:

[...] as dificuldades arregimentaram uma parte do pessoal das Frentes de Trabalho e reservaram uma área de 90 x 100m: “A gente conseguiu recursos para cercar. Foi colocada tela na volta. A intenção era auxiliar aquelas pessoas que estavam necessitadas, que estavam desempregadas, que tivesse espaço aqui na horta. Era mais fácil conseguir junto aos poderes públicos, sementes, adubo. Individualmente, ninguém conseguiria isso. Outro objetivo da horta era fazer mudas e distribuir para a população para que plantasse nos seus terrenos. Tentava-se envolver a juventude, as famílias para obter sustento na horta. [...] “A gente tentou fazer uma plantação única para fazer a distribuição depois[...] Então foram distribuídos canteiros por família. Por exemplo, um plantava cenoura, outro plantava couve, faziam troca-troca (PENNA; CORBELLINI; GAYESKI, 2000, p. 61).

A seguir podemos identificar a Horta Comunitária da Vila União dos Operários (HOCOUNO), através de uma foto, em que os novos moradores organizaram e cercaram o local, colocando uma placa de identificação. Podemos identificar um pavilhão, que serve de local de reuniões dos moradores do local. É importante destacar que esta horta comunitária existe até nossos dias, sendo um dos marcos da organização comunitária da Vila União dos Operários.

Figura 29 – Horta Comunitária na Vila União dos Operários, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS (HOCOUNO).

Os “fornos comunitários” foram outra das experiências significativas, enquanto organizações comunitárias, na periferia do bairro Mathias Velho. Essa iniciativa congregou várias comunidades, ligadas à Igreja Católica, na sua estrutura paroquial, tendo vitalidade e espírito comunitário, na preparação e partilha do pão, entre os novos moradores, oriundos das Vilas Santo Operário e União dos Operários, além de outras vilas do bairro. Entre as comunidades envolvidas, podemos citar: Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Divino Mestre, Nossa Senhora dos Romeiros, Sagrada Família, Nossa Senhora de Fátima, Jesus Operário, Perpétuo Socorro, Espírito Santo, Nossa Senhora da Luz, São José Operário e São Pio X. Cada comunidade está distribuída em dez grupos internos, com cinco senhoras cada, para elaborar o pão. A partilha do alimento abarca cerca de 70 grupos participantes, com cerca de 350 senhoras e também um cerimonial religioso. A leitura bíblica de novo se faz presente na ação comunitária de fazer o pão.

Dentro das vilas, as CEBs formam o núcleo do movimento comunitário, contribuindo essencialmente para a dimensão formativa e mística. Mas são, em outras estruturas da sociedade, que os moradores têm seu espaço de ação política, como as associações de moradores, os sindicatos e os partidos políticos. A formação e a mística desenvolvida pelas CEBs, no entanto, são pensadas como garantias da independência e autonomia dos movimentos populares, garantia também da participação, não apenas de católicos, mas também de uma ampla pluralidade religiosa. Esse trabalho é ressaltado no jornal O Timoneiro, de Canoas, em junho de 1986, tendo como reportagem: o “Dia da Mulher participante”, destacando que Canoas é, talvez, um dos municípios gaúchos onde a mulher mais participa, ombro a ombro, lado a lado, com o homem, na conquista de objetivos de justiça social, como se pode acompanhar nessa edição do jornal, que traz também, na sua capa, uma foto da preparação do pão, que será cozido nos “fornos comunitários”.

Figura 30 – Dia da mulher participante com os “fornos comunitários” com a produção de pão na vilas Santo Operário e União dos Operários, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin.

O Clube de Mães foi formado pelas pessoas mais constantemente ligadas às vilas, como organização comunitária, a partir dos grupos de famílias que deram origem às CEBs, nas Vilas Santo Operário e União dos Operários. Nesses clubes, as mulheres se reuniam para fazer trabalhos artesanais para as famílias, principalmente quando havia mais necessidades e enfrentamento dos dias mais frios. Ao mesmo tempo em que participavam do Clube de Mães, as mulheres atuavam nas lutas e reivindicações comuns com os demais moradores. Outro objetivo desses clubes era o desenvolvimento de um trabalho solidário e coletivo, base das organizações comunitárias nestas vilas de Canoas. Os Clubes de Mães tinham uma

organização que previa buscar a matéria-prima, que, na maioria das vezes, eram sobras de roupas, para desenvolver seus trabalhos, em vários locais. Havia coordenadores por clube (grupos de famílias), uma supervisora, além de uma coordenação geral entre os clubes, e o local de encontro, reuniões e trabalho era nas próprias casas das moradoras, como também nas capelas ligadas à Igreja Católica. Quanto ao trabalho desenvolvido nos Clubes de Mães, norteado pela inspiração religiosa e lutas comuns dos moradores, Tânia Souza Carretos, supervisora de um Clube de Mães, também chamada pelos moradores de “grupos de mães”, deu o seguinte relato, numa reportagem sobre essa experiência em Canoas, publicada no Jornal Mundo Jovem, em agosto de 1985, na coluna Experiências de Mudanças.

[...] Nestes clubes, as pessoas se reúnem todas as terças-feiras para fazer trabalhos artesanais (enxovais de nenê, travesseiros almofadas, alcochoados, tapetes, etc) “Aqui tudo era aproveitado” [...] Além disso, nestas reuniões semanais, as mães aproveitavam para rezar, cantar, ler um texto bíblico, interpretando e aplicando à sua realidade e discutem as lutas mais urgentes na comunidade. Como todos os grupos ligados as CEBs, o Clube de Mães é responsável principalmente pela criação de um novo tipo relações sociais, de vivência grupal, motivada pela justiça, o que contagia as famílias e as comunidades para uma ação transformadora (JORNAL MUNDO JOVEM, 1985).

A experiência do “Clube de Mães”, em relação ao trabalho solidário e o aproveitamento de roupas a serem transformadas na comunidade, para o uso das famílias, sempre tendo a inspiração religiosa como base, está documentada na próxima foto, que registra uma dessas ações, na Capela Divino Mestre, na Vila União dos Operários. A união e a mística religiosa estão mais uma vez presentes nestas organizações comunitárias em construção, como podemos identificar nas roupas produzidas e no crucifixo cristão, ao lado das mulheres e, no pequeno cartaz, à esquerda, no alto na foto, em que se percebe a inscrição “Povo unido é povo forte”.

Figura 31 – Clube de Mães e a fabricação de acolchoados na Capela Divino Mestre na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.

Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin.

A Creche Vó Maria foi mais uma das organizações comunitárias do bairro Mathias Velho a serem criadas a partir das ocupações urbanas, organizadas e construídas pelos novos moradores. Tinha como objetivo proporcionar um espaço para as crianças dos novos moradores, dentro da perspectiva da busca de trabalho e renda, pois os mesmos não tinham tempo para acompanhar e deixar seus filhos. O nome da creche é uma homenagem à Dona Maria, uma das primeiras lideranças femininas do movimento comunitário no bairro Mathias Velho, como podemos visualizar na foto a seguir.

Figura 32 – Vó Maria, líder comunitária do bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Para o funcionamento da Creche Vó Maria, foi construído um espaço pelos moradores, num local denominado “Associação Beneficente Educadora Creche Vó Maria”, na Vila Santo Operário. Na foto a seguir, podemos visualizar a creche.

Figura 33 – Associação Beneficente Educadora Creche Vó Maria na Vila Santo Operário, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Fonte: Livro Canoas: para lembrar quem somos.

As mulheres, enquanto sujeitos históricos, no processo de organização comunitária e, de modo especial, na formação das organizações comunitárias, foram determinantes, e podemos destacar, entre elas, a educadora Matilde Cechin e a líder comunitária Vó Maria. A primeira, uma intelectual católica, formadora e lutadora neste processo histórico, que foi, ao mesmo tempo, uma organizadora das CEBs, do Clube de Mães, numa ação feminina majoritária, que consolidou uma forma solidária de organização. A segunda, Vó Maria, foi