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Pedagogia do esporte : o conhecimento dos treinadores sobre o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do futebol americano no Estado de São Paulo

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Academic year: 2021

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DANIEL AUGUSTO PEREIRA TANCREDI

PEDAGOGIA DO ESPORTE:

O CONHECIMENTO DOS TREINADORES

SOBRE O PROCESSO DE ENSINO, VIVÊNCIA,

APRENDIZAGEM E TREINAMENTO DO

FUTEBOL AMERICANO NO ESTADO DE SÃO

PAULO

Campinas

2019

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Campinas

2019

Dissertação apresentada à Faculdade

de Educação Física da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do

título de Mestre em Educação Física,

na

Área

de

Biodinâmica

do

Movimento e Esporte.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Rodrigues Paes

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO DANIEL AUGUSTO PEREIRA TANCREDI, E ORIENTADA PELO PROF. DR. ROBERTO RODRIGUES PAES.

PEDAGOGIA DO ESPORTE:

O CONHECIMENTO DOS TREINADORES

SOBRE O PROCESSO DE ENSINO, VIVÊNCIA,

APRENDIZAGEM E TREINAMENTO DO

FUTEBOL AMERICANO NO ESTADO DE SÃO

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Prof. Dr. Roberto Rodrigues Paes

Universidade Estadual de Campinas Orientador

Prof. Dr. Alcides José Scaglia

Universidade Estadual de Campinas Membro da Banca

Prof. Dr. Hermes Ferreira Balbino

Membro da Banca

Ata da Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da unidade.

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Agradeço primeiramente à Deus por me dar forças todos os dias e não me abandonar. Agradeço minha família toda por acreditarem em mim, não duvidarem, me apoiarem, me darem forças, por rirem e chorarem juntos. Sem vocês eu nada seria! Obrigado pra sempre, em especial Pai, Mãe e Pri!

Agradeço minha comunidade por todas as orações, por estarem do meu lado também nesse caminho, por me escutarem e estarem presentes em diversos momentos da minha história. Agradeço todos os meus amigos e amigas, sem exceção, por sempre estarem lá, pelas palavras de apoio, pela paciência, por cada minuto que reservaram para me escutar e me incentivar, por acreditarem! É difícil citar nomes com medo de deixar alguém para trás, mas como eu disse, agradeço à todos e todas, em especial Marcos, Henrique, Gu, Du, Gui, Mateus, que viram de perto o que esses anos representaram para mim (as alegrias e dificuldades vivenciadas) e que durante a minha vida toda, estão sempre lá! Obrigado turma 010, Igor, Gilson, Bené, Fê, Brunão, Keryma, Leandro, Modolo, João Guilherme, enfim todos, vocês são pessoas que sempre me incentivaram, sempre acreditaram, que me aguentaram nos momentos mais difíceis de ansiedade e preocupação (hahaha desculpa), que compartilharam e compartilham risadas, conhecimentos, zoeiras, piadas, músicas, filmes, jogos, entre tantas coisas que fazem a vida mais leve e especial. Agradeço o Polé, Matheus e Caio pelas risadas, pelos jogos, por me apoiarem e incentivarem. Agradeço pela amizade e parceria, pelas risadas e jogatinas, noites de filme e comida, festas, entre tantas outras coisas, Rafa, Karen, Kell, Leo, Penna, Rafaela, Marina, Fabi, Sté, Renan, Liane, Helen, Matheus.

Agradeço os meus colegas de time ao longo dos anos, que me permitiram vivenciar essa modalidade que significa tanto para mim. Agradeço também os atletas e as atletas que treinei na minha breve história como treinador do UNICAMP Eucalyptus, os treinadores e treinadoras que atuaram comigo e a diretoria. Vocês foram essenciais para minha formação como aluno, pesquisador e como ser humano. Obrigado por permitirem que eu tentasse ensinar algo, e principalmente por me deixarem aprender com vocês! Vocês são importantes demais para mim e sempre vão ser!

Agradeço meus colegas de laboratório do GEPESP e de pós-graduação, por me ensinarem sobre o mundo acadêmico, me incentivarem, compartilharem experiências e

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servirem de inspiração! Agradeço também o GEPESPINHO e todos que fazem parte dele, por me permitirem aprender junto com vocês, e por me incentivarem a continuar estudando, a querer conhecer; obrigado Paula pela parceria e pela oportunidade!

Agradeço todos os meus professores, professoras e treinadores, da minha vida toda, em especial hoje o professor Roberto, Hermes e Alcides, por serem compreensíveis e por acreditarem, por me apoiarem, por confiarem, por querer fazer parte desse momento da minha vida, pelos ricos ensinamentos que mudaram e mudam a minha vida, é uma honra poder contar com vocês nessa etapa da minha vida. Agradeço o professor Riller e a Larissa pelos incentivos, por estarem disponíveis, por tudo que me ensinaram e ensinam, pela inspiração, pela parceria, pelas oportunidades que me proporcionaram! Agradeço meu treinador e amigo Zé (Guilherme Valli) que foi quem me apresentou o FA, e que pelo seu esforço contribuiu para que eu vivenciasse experiências no esporte que vão ficar para sempre marcadas em mim, e que me levaram a escrever esse estudo, a buscar a EF, obrigado!

Agradeço também os treinadores que participaram do estudo, por se disponibilizarem, pela colaboração e por reservarem um momento para as entrevistas. Parabéns pelo trabalho de vocês e obrigado por contribuírem à essa modalidade!

Muito obrigado à todos que puderam compartilhar um pouco comigo do que foram esses anos no mestrado, das ânsias, das dificuldades, e também das alegrias, oportunidades de aprendizagem e crescimento. Eu vou lembrar sempre de tudo que fizeram por mim, de cada palavra, ato, de cada pensamento positivo, da paciência que tiveram, do acolhimento. Enfim, obrigado por acreditarem!

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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O esporte é um fenômeno sociocultural em crescimento que apresenta múltiplos significados e possibilidades de prática. A Pedagogia do Esporte (PE) tem mostrado que é possível pensar o seu ensino priorizando as necessidades dos indivíduos e a formação integral, indo além da simples repetição de gestos técnicos, tratando sobre a reflexão, autonomia, entendimento das razões de fazer, tomada de decisão, socialização e defendendo um processo que seja organizado, sistematizado, aplicado e avaliado. O Futebol Americano (FA) é uma modalidade esportiva que tem estado em evidência em nosso país apresentando um grande número de equipes, atletas e diferentes campeonatos, porém, pouco se conhece no meio acadêmico sobre como tem sido conduzido o seu ensino nacionalmente. O objetivo geral do estudo foi investigar o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA no estado de São Paulo a partir do conhecimento dos treinadores. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva na qual entrevistas semiestruturadas individuais foram conduzidas com 4 treinadores (adultos) do estado de São Paulo que atuam nas equipes que participaram da Superliga Nacional de Futebol Americano da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) no ano de 2016. As entrevistas foram transcritas na íntegra e uma análise de conteúdo foi conduzida. As categorias de análise definidas foram: comissão técnica, aprendizagem dos treinadores, organização, sistematização, aplicação, avaliação, atletas iniciantes, dificuldades e sugestões. De maneira geral, revelou-se um processo organizado e sistematizado de treinamento em que os treinadores buscam adaptar a prática aos sujeitos, e o foco principal se dá nas questões estratégicas e técnicas para a aplicação adequada do playbook. Os treinadores se aproximaram da abordagem tradicional de ensino dos esportes, ensinando principalmente através de exercícios analíticos, situações de jogo, aplicação e ensaio de jogadas. Avalia-se no contexto para selecionar atletas titulares e checar a aprendizagem do playbook e das técnicas, nomeadamente através de análise de vídeos e observação dos treinos e jogos. Destaca-se também que os treinadores aprendem predominantemente através de situações de aprendizagem não-mediadas em contextos de aprendizagem informais. O FA se apresenta como um campo fértil para novas pesquisas; defendemos que as produções em PE podem contribuir para se pensar o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento de FA.

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Sport is a growing sociocultural phenomenon that presents multiple meanings and possibilities of practice. Sport Pedagogy (SP) has shown that it is possible to teach sports prioritizing the full development of individuals, not simply by teaching techniques through repetition, but considering their needs, the reflective process, autonomy, the reasons of execution, the decision making process, socialization, defending a process that should be organized, systematized, applied and evaluated. American Football (AF) is a growing sport in Brazil considering the number of teams, athletes and different championships that exist in the country, however little is known in science about the coaching process nationally. The main objective of the study was to investigate the process of teaching, experiencing, learning and training AF in the state of São Paulo through coaches’ knowledge. Individual semi-structured interviews were conducted in this qualitative, exploratory and descriptive research with 4 adult coaches in the State of Sao Paulo that coach the teams that participated in the national championship entitled “Superliga Nacional de Futebol Americano” in 2016. The interviews were fully transcribed and a content analysis was conducted. The analysis’ categories were defined as: coaching staff, coaches’ learning, organization, systematization, application, evaluation, beginner athletes, difficulties and suggestions. Overall, an organized and systematized coaching process was revealed in which coaches seek to adapt practices considering their athletes’ needs, and put their focus in teaching strategies and techniques aiming to execute the playbook correctly. Coaches related to the traditional approach to teaching sports, coaching mainly through analytic exercises, game situations, execution and rehearsal of plays. Evaluations are conducted in the context to select starting players and check athletes’ knowledge regarding the playbook and techniques, mainly through games and practices’ video analysis and observation. The study highlighted that coaches learn mostly through unmediated situations in informal learning contexts. AF is presented as a fertile field for new researches; we sustain that studies in SP may contribute to reflect about the process of teaching, experiencing, learning and training AF.

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Figura 1 – Visão integrada sobre a Pedagogia do Esporte segundo Machado (2012) ... 26

Figura 2 – Teorias do conhecimento e abordagens de ensino segundo Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) ... 33

Figura 3 – Etapas da análise de conteúdo segundo Benites et al. (2016)... 59

Figura 4 – Exemplo de jogadas descritas no playbook do Carolina Panthers (NFL) de 2005... 119

Figura 5 – Esporte contemporâneo segundo Galatti (2010) ... 127

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QUADRO 1 – Categorias e unidades de registro da análise de conteúdo ... 60 QUADRO 2 – Dados descritivos dos treinadores ... 62 QUADRO 3 – Quadro desenvolvido por Galatti et al. (2017) sobre os princípios defensivos e ofensivos

na perspectiva da cooperação e oposição ... 121

QUADRO 4 – Quadro desenvolvido por Galatti et al. (2017) sobre os fundamentos técnicos dos

JEC ... 122

QUADRO 5 – Quadro desenvolvido por Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) sobre as principais

diferenças entre as abordagens metodológicas de ensino do esporte ... 135

QUADRO 6 – Quadro desenvolvido por Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) sobre as consequências

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CBFA Confederação Brasileira de Futebol Americano

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DB Defensive back

DL Defensive Line

DT Defensive Tackle

EF Educação Física

EUA Estados Unidos da América

FA Futebol Americano

GPAI Game Performance Assessment Instrument

HC Head Coach

ICCE International Council for Coaching Excellence

IFAF International Federation of American Football

ISCF International Sport Coaching Framework

JEC Jogos Esportivos Coletivos

LB Linebacker

NFL National Football League

OL Offensive Line

OTA Organized Team Activities

PE Pedagogia do Esporte

QB Quarterback

ST Special Teams

TCTD Teste de Conhecimento Tático Declarativo

TCTP Teste de Conhecimento Tático Processual

TGFU Teaching Games for Understanding

TSAP Team Sport Assessment Procedure

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1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 Contextualização ... 15

1.2 Pergunta norteadora ... 18

1.3 Objetivos ... 19

1.4 Justificativa ... 19

1.5 Limitações ... 21

1.6 Estrutura do estudo ... 21

2 MARCO TEÓRICO ... 23

2.1 Pedagogia do esporte ... 23

2.2 Futebol Americano ... 36

3 PESQUISA DE CAMPO ... 54

3.1 Tipo de pesquisa/ Metodologia ... 54

3.2 Amostra ... 55

3.3 Instrumentos e Procedimentos ... 56

3.3.1 Montagem da entrevista ... 56

3.3.2 Procedimentos ... 57

3.4 Análises ... 57

3.4.1 Cuidados éticos ... 61

3.5 Resultados ... 61

3.5.1 Dados descritivos ... 62

3.5.2 Comissão técnica ... 63

3.5.3 Aprendizagem dos treinadores ... 65

3.5.4 Organização ... 72

3.5.5 Sistematização ... 74

3.5.6 Aplicação ... 84

3.5.6.1 Estrutura dos treinos ... 103

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3.5.8 Atletas iniciantes ... 109

3.5.9 Dificuldades ... 113

3.5.10 Sugestões ... 115

3.6 Discussão ... 117

4 PLANOS DE CONTINUIDADE DO ESTUDO ... 178

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 179

REFERÊNCIAS ... 188

APÊNDICE ... 203

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

Nos últimos anos, diversos estudos têm destacado o aumento do fascínio pelo esporte e a conquista de novos adeptos pelo mundo (GALLATI et al., 2018; PAES; BALBINO, 2005). Os ambientes de práticas vêm se multiplicando e as modalidades, juntamente com os seus significados, têm sido modificadas por diferentes atores em contextos variados, fazendo surgir novas formas de expressão no esporte (GALLATI et al., 2018; PAES; BALBINO, 2005; REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2013). De maneira geral, o esporte tem vivido um momento de transição, deixando de ser compreendido como uma prática esportivizada e limitada (centrada apenas nos gestos técnicos), passando a ser entendido hoje como um fenômeno sociocultural, que apresenta pluralidade de possibilidades e complexidade (GALLATI et al., 2018; PAES; BALBINO, 2005).

A Pedagogia do Esporte (PE), sendo uma disciplina das Ciências do esporte, tem buscado entender o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento, tratando de temas como a organização, sistematização, aplicação e avaliação das diferentes práticas esportivas (GALATTI et al., 2014). Considerando a variedade de estudos que se inserem nessa disciplina, é possível notar que diferentes autores têm apontado a necessidade de um processo de ensino das práticas esportivas que seja comprometido com a responsabilidade sociocultural e educativa (REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2013).

De fato, no estudo realizado por Reverdito, Scaglia e Paes (2009), fica claro que diferentes abordagens dentro da Pedagogia do Esporte (com suas especificidades) têm apontado para uma ruptura paradigmática em relação ao ensino do esporte, destacando a importância de um processo responsável, sistematizado e organizado, com foco no sujeito que joga, indo além da simples repetição de gestos e buscando entender a complexidade do jogo. Estes autores destacam o caráter educativo da prática esportiva, tanto no alto rendimento como na iniciação, e a importância de criar ambientes de prática acolhedores que permitam o desenvolvimento humano, a tomada de decisões, a capacidade de produzir e transformar, e a valorização da cultura social e corporal.

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Machado, Galatti e Paes (2012) corroboram com estes conceitos em seu estudo, afirmando que, independentemente dos personagens ou do cenário, é possível, quando bem estruturada e conduzida, que a vivência da prática esportiva contribua para a formação dos sujeitos e permita a transferência de conhecimentos da prática para a vida. De acordo com estes autores, a prática adequada, que busca não reduzir o esporte, deve considerar abordar conteúdos amplos que permitam conhecer o esporte e a sua complexidade, observando a importância dos referenciais da Pedagogia do Esporte: técnico-tático; socioeducativo; e histórico-cultural.

A vertente educacional do esporte é destacada também por Galatti et al. (2018) ao afirmarem que, dentro da prática esportiva, se apresentam possibilidades de troca de informações, socialização e relações humanas. Para Leonardi et al. (2014), é possível transcender a prática pedagógica esportiva, contemplando o ensino de conteúdos técnicos e táticos da modalidade e contribuindo ao mesmo tempo para a formação e educação do indivíduo. Leonardi et al. (2014) nos ajudam a entender que é possível, no ensino de uma modalidade esportiva, pensar na formação integral do indivíduo (o movimento, o pensamento e o sentimento), na busca pela atuação crítica no mundo, tratando, no processo ensino, vivência, aprendizagem e treinamento dos conteúdos específicos das diferentes modalidades esportivas, e também daqueles relacionados aos sentimentos, interação, cooperação, convivência, participação, autonomia, coeducação e cognição. Para Souza e Scaglia (2004), em todo momento que uma prática pedagógica estiver promovendo o desenvolvimento esportivo, contemplando a generosidade e o respeito às regras e adversários, além de tomada de consciência sobre a prática esportiva e a sua ideologia, possibilitando a reflexão e autonomia, o esporte se mostrará como educativo.

De fato, Côté e Gilbert (2009), ao considerarem o contexto de ensino do esporte e a relação entre o treinador e os atletas, mostram que os treinadores que buscam ser eficientes não devem limitar a busca de conhecimentos e a sua prática apenas aos conteúdos específicos do esporte, ao contrário, estes devem também buscar se relacionar com os atletas e os diversos atores envolvidos no treinamento, atuando e refletindo sobre a prática. Em qualquer ambiente de vivência esportiva, os treinadores devem atuar buscando auxiliar os atletas a se desenvolverem de maneira integral, não apenas no conhecimento específico sobre o esporte, mas na competência, confiança, conexão e caráter; de maneira geral, o esporte deveria ser visto como um meio em que os indivíduos podem se desenvolver como cidadãos, para além de serem atletas proficientes, em qualquer nível de prática e competição (CÔTÉ; GILBERT, 2009).

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De acordo com Gallati et al. (2017), quando tratamos sobre as modalidades esportivas coletivas (o Futebol Americano sendo uma delas), é necessário levar em consideração a sua natureza tático-técnica complexa e as características invariantes da sua prática, uma vez que sempre há: a presença de uma bola (ou implemento) que é disputada por duas equipes que cooperam e se enfrentam em um espaço de jogo delimitado; a existência de uma meta a ser atacada e defendida; e a presença de regras bem definidas (BAYER, 1992). Tais especificidades são relevantes porque permitem aos participantes vivenciarem dentro do jogo experiências de: imprevisibilidade, cooperação, tomada de decisão, oposição, execução de técnicas, resolução de problemas, leitura tática, entre outras, demandando inteligências para o jogo (GALATTI et al., 2017). Considerando isso, a componente tática-técnica do jogo se mostra fundamental no processo de ensino dos Jogos Esportivos Coletivos (JECs), devendo ser tratada pedagogicamente de forma adequada (GALATTI et al., 2017).

Caminhando nesta direção, faz-se relevante considerar o que Souza e Scaglia (2004) apresentam sobre o processo de ensino do esporte. Para estes autores, existe uma Pedagogia do Esporte que se pauta na abordagem tradicional de ensino e existem as pedagogias inovadoras que buscam superar sua antecessora. As pedagogias do esporte inovadoras, segundo Souza e Scaglia, estão centradas na lógica-tática (ensino do esporte por meio de jogos, entender “as razões de fazer”), estimulam processos criativos, exploram movimentos diversos e soluções diferenciadas, permitem que cada jogador crie a própria técnica, produzem rico acervo de possibilidades de respostas (motoras, cognitivas, afetivas, sociais, morais), não necessitam pré-requisitos, são abertas a todos, ricas em tomada de decisões e possibilitam a autonomia. As metodologias tradicionais de ensino do esporte são aquelas centradas na técnica (“modos de fazer”) e baseadas no paradigma cartesiano/mecanicista, que buscam reproduzir modelos da técnica perfeita do gesto, permite poucas tomadas de decisões por parte do atleta, gera dependência, produz pobre acervo de possibilidades de resposta, ensinam através de atividades repetitivas.

Pesquisas envolvendo o treinador esportivo têm crescido nos últimos anos no Brasil e no mundo (GALATTI et al., 2016). Buscando entender melhor como estes atores têm atuado no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento, estudos têm sido realizados em diferentes contextos de prática, tratando de temas como o pensamento e o comportamento destes (GALATTI et al., 2016).

Inseridos neste cenário apresentado, os estudos realizados por Bettega (2015) e Bettega et al. (2018) se fazem relevantes para pensar o tema desta pesquisa. Tendo como

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objetivo principal investigar as concepções e estratégias de diferentes treinadores no processo de ensino do futebol considerando a formação integral dos atletas, o autor mostrou, por meio de uma pesquisa qualitativa com o uso de entrevistas, que em determinado contexto, os treinadores muitas vezes planejam e priorizam o desenvolvimento da técnica sem relações com a tática, de maneira descontextualizada. Dessa forma, os autores defendem em seus estudos o ensino que estimula a atuação autônoma dos jogadores em situações de imprevisibilidade, destacando a relevância do tratamento adequado e integrado dos componentes táticos e técnicos do esporte coletivo. Levando isso em consideração, o processo de ensino e treinamento do esporte deve permitir que as técnicas sejam desenvolvidas em condições táticas, em situações que permitam a vivência da aleatoriedade e variabilidade, características dos esportes coletivos (BETTEGA, 2015; BETTEGA et al., 2018).

No Brasil, um esporte que tem estado em evidência pelo crescimento recente é o Futebol Americano (FA). São mais de 100 times cadastrados no site da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA, 2019), diversos campeonatos organizados todo ano (SALÃO OVAL, 2019), há órgãos oficiais (Confederação e Federações), uma seleção nacional que já participou de uma Copa do Mundo nos Estados Unidos da América (EUA), diferentes projetos para o crescimento do esporte, aproximações com o meio escolar, crescimentos significativos do número de espectadores e fãs, presença de equipes de base femininas e masculinas, entre outros (TANCREDI, 2014; TANCREDI; PAES, 2016). Apesar deste crescimento do número de participantes, e consequentemente de pessoas encarregadas pela organização da prática, escassas são as produções acadêmicas sobre o tema no Brasil, especialmente tratando sobre o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento da modalidade (HINGST, 2017; TANCREDI, 2014). No estudo de revisão de Galatti et al. (2016), sobre as produções acadêmicas brasileiras relacionadas com a temática do treinador esportivo, foi possível notar uma variedade de estudos em diferentes modalidades esportivas, principalmente no futebol, voleibol, basquetebol e handebol, porém, nenhum envolvendo o Futebol Americano.

1.2 Pergunta norteadora

Levando em consideração o que os estudiosos da Pedagogia do Esporte citados têm sugerido e a capacidade do treinador de influenciar a vida dos sujeitos inseridos no contexto da prática esportiva, há uma preocupação em estudar as variáveis de sua atuação (COSTA, I.;

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SAMULSKI; COSTA, V., 2010; GILBERT; TRUDEL, 2004). Tendo em vista também que o desenvolvimento de uma profissão ou área depende de pesquisas para entender o estado atual do campo, e que as pesquisas descritivas são necessárias para o entendimento básico e acúmulo de conhecimento visando a resolução de problemas mais complexos (GILBERT; TRUDEL, 2004; THOMAS; NELSON, 1996), a pergunta principal que buscamos responder neste estudo é: o que pensam os treinadores sobre o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA considerando a importância da organização, sistematização, aplicação e avaliação?

1.3 Objetivos

O objetivo geral do estudo foi investigar o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do Futebol Americano no estado de São Paulo a partir do conhecimento dos treinadores.

Os objetivos específicos foram:

- Analisar os dados relativos a pesquisa de campo considerando o processo de organização, sistematização, aplicação e avaliação da modalidade em questão.

- Analisar e debater os achados da pesquisa relacionando-os com uma seleção de produções científicas, nacionais e internacionais, que tratam sobre o ensino dos esportes coletivos.

- Indicar temas que podem ser considerados em futuras pesquisas sobre o FA.

1.4 Justificativa

Apesar de compreendermos a necessidade evidenciada por Galatti et al. (2016) para que haja mais estudos sobre o desenvolvimento, formação e o papel dos treinadores no Brasil, indo além das pesquisas descritivas, acreditamos que este estudo seja relevante pelo cenário identificado do FA em território nacional.

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Ao investigar este contexto do processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA, podemos aprender mais sobre uma prática que já aparece em nosso território e que tem sido pouco explorada no campo acadêmico; além disso, este conhecimento pode facilitar para que futuros estudos possam ser planejados com o intuito de entender mais profundamente a influência dos processos de treinamento escolhidos pelos treinadores na formação e desenvolvimento dos atletas.

Uma pesquisa dessa natureza, além de apresentar uma investigação sobre parte do processo de ensino do FA de acordo com o conhecimento dos treinadores do estado de São Paulo, pode colaborar para que novos estudos se aproximem dos avanços metodológicos que têm sido feitos nesta área (GALATTI et al., 2016) explorando, através da aplicação de outros métodos de pesquisa, os diversos temas relacionados aos estudos que envolvem o treinador esportivo e o ensino do esporte, como por exemplo: pensamentos, sentimentos e formação dos treinadores; a dinâmica da organização dos times; a relação entre o Head Coach, os treinadores assistentes e os atletas em cada um desses níveis, observando o desenvolvimento e aprendizagem dos atletas nestes espaços; entre outros.

De maneira geral, acreditamos que este estudo pode contribuir: para um maior entendimento sobre o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA no contexto citado; para o ensino da modalidade, agrupando no corpo teórico conceitos importantes que devem ser considerados quando se buscam ambientes de prática adequados, e apresentando práticas que têm sido destacadas pelos treinadores de FA; para que novos questionamentos sejam propostos nesta área que se mostra recente e escassa no contexto nacional.

Tratando-se de uma pesquisa qualitativa, é importante citar que uma das motivações para este estudo vem do histórico do autor com a modalidade em questão como praticante e estudioso. O pesquisador tem estudado o Futebol Americano há cerca de nove anos (tendo praticado por seis anos), teve a oportunidade de trabalhar como treinador do time da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) por 20 meses, e também realizou um intercâmbio de um ano nos Estados Unidos da América (EUA) pelo programa Ciência Sem Fronteiras (CAPES) na Western Kentucky University, com o objetivo de buscar entender melhor esta prática, inclusive, tendo a oportunidade de fazer um estágio na área com um ex-jogador profissional da National Football League (NFL). Conforme citado, mesmo com o crescimento evidente da prática e a busca por informações, tem sido difícil encontrar produções acadêmicas

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nacionais relacionadas ao ensino deste esporte que auxiliem no entendimento sobre a modalidade de modo contextualizado à realidade brasileira.

1.5 Limitações

Apesar do delineamento do estudo permitir investigar o conhecimento dos treinadores sobre o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do Futebol Americano no Brasil, a utilização das entrevistas apenas, como ferramenta de pesquisa, pode ser um limitador. Acreditamos que no futuro seja possível realizar pesquisas mais aprofundadas que utilizem na metodologia filmagens dos treinamentos, diários de campo, entrevistas com os atletas, dirigentes, membros da comissão da técnica, e outros sujeitos relevantes no contexto estudado.

1.6 Estrutura do estudo

Em um primeiro momento (Capítulo 2) definimos um capítulo teórico para o estudo dividindo-o em duas partes distintas. Na primeira parte estabelecemos o nosso marco teórico em relação aos estudos que definem a Pedagogia do Esporte e que abordam o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento dos esportes considerando suas especificidades, tratando de temas como: as potencialidades do esporte para o desenvolvimento integral dos sujeitos; a definição de termos como organização, sistematização, aplicação e avaliação; as bases teóricas das diferentes abordagens de ensino e teorias da aprendizagem; os referenciais da PE. A segunda parte trata exclusivamente da contextualização do cenário brasileiro do Futebol Americano e do seu ensino, utilizando para isso produções diversas sobre a modalidade, de modo geral, abordamos temas como: a inserção do esporte no Brasil; o histórico da modalidade e de algumas equipes brasileiras; a popularização da prática; entre outros.

O segundo momento do estudo (Capítulo 3) foi reservado para a pesquisa de campo envolvendo os treinadores de Futebol Americano do estado de São Paulo; nele apresentamos o tipo de pesquisa, a amostra estudada, os instrumentos e procedimentos adotados, a análise realizada, os resultados e a discussão.

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O terceiro momento do estudo teve como objetivo: apresentar os possíveis planos para divulgação dos resultados encontrados; descrever os temas que podem ser considerados para estudos futuros no FA; concluir a dissertação.

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2 MARCO TEÓRICO

2.1 Pedagogia do esporte

Reverdito, Scaglia e Paes (2009), ao refletirem sobre a pluralidade de práticas esportivas e significados, afirmam que a Pedagogia do Esporte é uma das disciplinas recentes das Ciências do Esporte que surgiu do crescente interesse da sociedade pelas práticas esportivas corporais. Os autores explicam que a pedagogia é um campo de conhecimento que busca compreender as questões da teoria e prática da educação, considerando o que foi produzido pela humanidade durante sua história, e se preocupando com a formação humana; estando a pedagogia interessada nas produções humanas, nos conhecimentos, ela também se preocupa com as práticas esportivas culturais, uma vez que o esporte é um fenômeno social, um campo de criação da humanidade que está relacionado aos valores sociais, razões, padrões, educação, entre outros temas (REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2009).

Machado (2012) afirma que um dos papéis da pedagogia é contribuir para que seja possível criar ambientes favoráveis ao desenvolvimento no processo de ensino, vivência e aprendizagem, com o intuito de estruturar uma prática educativa que se baseie em ações intencionais e planejadas, que considere sempre o desenvolvimento humano e a formação do homem que vive em sociedade. A autora acredita que é fundamental que a pedagogia leve em conta o processo de formação humana, educando o homem que usufrui e transforma a sociedade coletiva; para ela, o esporte pode contribuir para essa educação e formação não só pela possibilidade de desenvolvimento dos aspectos motores, mas também em relação aos aspectos morais, sociais, afetivos e cognitivos. O processo de ensino, vivência e aprendizagem das modalidades esportivas deve se preocupar com quem joga, sejam crianças, adultos, idosos, jovens, deficientes, atletas profissionais, dando destaque à formação global, ampliando a prática para além da repetição de gestos, e adequando as intervenções aos sujeitos (MACHADO, 2012). Machado, Galatti e Paes (2015) e Galatti (2010) consideram que sempre há um componente educacional no esporte (positivo ou negativo) em qualquer contexto de prática, uma vez que as pessoas têm a oportunidade de interagirem, trocarem informações e vivenciarem relações interpessoais. Sobre isso, Galatti et al. (2008) destacam a complexidade de valores e modos de comportamento que se manifestam no esporte, o que demanda o trato pedagógico adequado, potencializando que esse componente educacional seja positivo de fato.

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Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) definem que o educar e o ensinar têm como objetivo dar sentido aos atos cotidianos, abordando os conhecimentos que são elaborados e construídos pela humanidade ao longo do tempo; formar, para os autores é desenvolver a criticidade, autonomia, reflexão, permitindo a liberdade de expressão de um sujeito que se insere no mundo, se adapta e o transforma. Na educação esportiva é necessário buscar a inclusão, participação, cooperação, coeducação, responsabilidade, indo além da repetição de gestos, considerando a necessidade dos sujeitos e criando possibilidades para que estes possam construir conhecimentos que estejam relacionados à sociedade em que vivem, para os autores, deve-se buscar a formação integral, corpo-alma-natureza-sociedade, lidando nas intervenções com questões relacionadas aos valores, capacidade crítica, e não reduzindo o esporte apenas às questões técnicas. Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) salientam a importância de um processo de ensino que estimule os sujeitos a atuarem e participarem da sociedade, remodelando a prática, afirmando que o esporte não é educativo por si só, sendo papel do professor/treinador fazer escolhas teóricas conscientes que possibilitem a aplicação de aulas adequadas e relevantes, que permitam o desenvolvimento e exercício do pensamento crítico e que busquem compreender os problemas da prática esportiva, o “esporte será o que nós (professores, treinadores, dirigentes, políticos...) fizermos dele, pedagógico, educativo, saudável, social, alienador, transformador, emancipador etc.” (SCAGLIA; REVERDITO; GALATTI, 2014, p. 77).

A pedagogia, para Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) auxilia na reflexão sobre todo o contexto que envolve a ação educativa, colaborando para que as práticas sejam comprometidas, intencionais, dirigidas, organizadas, responsáveis, e que busquem proporcionar ambientes em que os alunos sejam capazes de construir o conhecimento. Para os autores, não basta o professor (ou treinador) ser um especialista em determinado assunto, é necessário que ele saiba organizar e sistematizar o processo buscando adequar o conteúdo aos alunos, estabelecendo relações com a sociedade e ressignificando a prática.

O ato de pedagogizar o esporte deve ser entendido como uma intervenção desenvolvida dentro de um processo de ensino e aprendizagem que leve em conta o sujeito aluno, criando possibilidades para a construção desse conhecimento, inserindo-o e fazendo-o interagir com o que o aluno já sabe, ampliando-se assim, sua bagagem cultural e, por conseguinte, sua inteligência de corpo inteiro, mediada, intencionalmente, por um pedagogo do esporte. Consequentemente, estamos nos referindo a um processo organizado, sistematizado, aplicado e avaliado, com o objetivo de realizar o ensino, a aprendizagem e a vivência do esporte, observando o sujeito envolvido no processo, o cenário em que esse processo ocorre, os significados

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atribuídos por esse sujeito ao conhecimento apreendido e as finalidades dessa prática. (SCAGLIA; REVERDITO; GALATTI, 2014, p. 52).

Souza e Scaglia (2004) definem que a Pedagogia do Esporte deve ser a área responsável por organizar conscientemente e de forma comprometida todo o processo de ensino e aprendizagem dos esportes no ambiente da educação formal ou não-formal; enquanto disciplina das ciências do esporte, ela busca entender o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento considerando os diferentes personagens, cenários e significados do esporte, tratando de temas como a organização, sistematização, aplicação e avaliação das diferentes práticas esportivas (GALATTI et al., 2014, 2017).

Machado (2012) apresenta em seu trabalho a Figura 1 buscando ilustrar a visão integrada da Pedagogia do Esporte, considerando os contextos de ensino do esporte, a centralidade de um processo que deve buscar ser educativo em qualquer realidade, os conteúdos dos referenciais da Pedagogia do Esporte, e os procedimentos metodológicos que podem ser utilizados.

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Figura 1 – Visão integrada sobre a Pedagogia do Esporte segundo Machado (2012) Fonte: (MACHADO, 2012, p. 72)

Galatti (2006) salienta a importância da PE, e dos processos de organização, sistematização, aplicação e avaliação adequados, para que seja possível abordar conhecimentos que vão além do contexto esportivo apenas, buscando formar jogadores inteligentes que são capazes de lidar com os problemas dos jogos e que busquem a cooperação. Para a autora, é necessário educar na busca de melhorar a sociedade, considerando a transdisciplinaridade do fenômeno esportivo, os diferentes campos de conhecimento, as realidades de prática, os

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processos de ensino que sejam adequados e relevantes aos sujeitos, refletindo e propondo novas propostas de intervenção com o intuito de potencializar o desenvolvimento dos alunos e/ou atletas como cidadãos. Para Cotê e Gilbert (2009), em qualquer contexto de ensino do esporte, os treinadores têm a responsabilidade de organizar um ambiente de prática que otimize o aprendizado, no qual os atletas possam se sentir apoiados, no qual existam oportunidades para se tomar decisões autônomas, desenvolver competências, se conectar com outras pessoas. Para eles, é necessário dar suporte à necessidade básica de todos os atletas de pertencer a um grupo no qual os integrantes se ajudam mutuamente e atuam como companheiros (as).

Quando consideramos a necessidade de organizar, sistematizar, aplicar e avaliar o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento é possível considerar o que Machado (2012) e Libâneo (2013) destacam em seus estudos. Para os autores, o processo de ensino coerente e adequado deve ter definido claramente: o que ensinar, ou seja, quais serão os conteúdos que serão selecionados pelo professor/treinador (organização); para que ensinar, definindo objetivos que devem sempre considerar a formação humana; para quem ensinar, levando em conta a importância de entender as necessidades dos alunos, as limitações e buscando adequar o ensino; como ensinar, relacionado a utilização de diferentes métodos de ensino que são selecionados pelo professor com o intuito de atingir os objetivos previamente definidos no planejamento (aplicação). Machado (2012) reitera que é necessário ter clareza em relação as finalidades das aulas esportivas, uma vez que elas norteiam as ações do professor e o processo de organização, sistematização, aplicação e avaliação.

Galatti et al. (2017), afirmam que a organização do processo é condicionada pelo ambiente, assim, é fundamental que se busque compreender o contexto de intervenção considerando os aspectos sociais e culturais, definindo conteúdos que se relacionem à realidade em questão, respeitando os limites dos sujeitos, as suas potencialidades e necessidades. Machado (2012) também cita que o processo de organização é essencial para que se definam os conteúdos que devem ser ensinados.

Libâneo (2013) define conteúdos como

[...] o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos em sua vida diária (LIBÂNEO, 2013, p. 142).

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Machado (2012) em seu estudo afirma que os conteúdos fazem menção a tudo aquilo que os alunos devem aprender através do processo de ensino, considerando os objetivos definidos previamente e a busca por uma educação que seja transformadora e social, permitindo a formação nos aspectos físicos, emocionais, sociais, afetivos, cognitivos e culturais.

Em relação ao planejamento, Galatti et al. (2017) afirmam que o ensino deve ser pedagogicamente estruturado com o intuito de estabelecer intencionalidade em todas as tarefas, sendo papel do treinador definir significados claros e objetivos para cada intervenção.

Desta forma, a formação esportiva passa invariavelmente pelo conhecimento inerente aos conceitos teóricos, processos metodológicos contemporâneos e condizentes à evolução de aspectos estruturais e funcionais relativos ao jogo, assim como, reporta-se para o esporte a partir de um caráter responsável e estruturado, gerando significados a partir da espontaneidade e prazer pelo qual é vivenciado. (GALATTI et al., 2017, p. 648).

Machado (2012) destaca o planejamento como uma forma de organização do processo de ensino, vivência e aprendizagem, afirmando que um currículo organizado e sistematizado pode contribuir para que seja possível refletir sobre a prática pedagógica, possibilitando a abordagem de mais conteúdos durante o processo. A autora cita que a

sistematização está relacionada à organização dos conteúdos de forma coerente aos níveis de

ensino, assim, busca-se com este processo definir o que ensinar, em que momento e com qual evolução.

Para Libâneo (2013), o planejamento define as atividades que deverão ser desenvolvidas ao longo do tempo de acordo com os objetivos propostos, servindo para determinar uma programação de ações, se destacando também como um momento de reflexão e sendo considerado “[...] um processo de racionalização, organização e coordenação da ação [...]” (LIBÂNEO, 2013, p. 246); o planejamento estipula objetivos, conteúdos, métodos, baseados no contexto de prática que o professor está inserido. Libâneo define que o planejamento é uma atividade intencional de reflexão que guia a ação e prevê ações, não devendo ser visto como um processo de definição de um documento meramente burocrático, sem vida, assim, destaca a função deste como um guia de orientação da prática que deve ser adaptável de acordo com as mudanças que ocorrem todos os dias no contexto de ensino. O planejamento deve ter uma ordem sequencial, progressiva, que visa atingir os objetivos definidos, sendo adequado à realidade dos alunos, levando em conta o contexto, as dificuldades

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que podem ser encontradas, as potencialidades dos sujeitos, apresentando coerência entre os conteúdos, objetivos, métodos de ensino e avaliação, ou seja, entre os conceitos que embasam a definição do planejamento e a aplicação de fato (LIBÂNEO, 2013).

A aplicação está relacionada ao conceito de Libâneo sobre o “como ensinar”, assim, aborda a utilização de diferentes métodos de ensino que são selecionados pelo professor com o intuito de atingir os objetivos definidos previamente através da organização e sistematização do processo. Machado, Galatti e Paes (2012) defendem que o ensino deve buscar sempre uma relação de interdependência entre os objetivos propostos pelo professor e os procedimentos pedagógicos aplicados na prática, para que a aprendizagem de fato seja significativa aos sujeitos e seja abrangente, indo além da simples repetição de movimentos ou conteúdos que não se relacionam ao contexto que os alunos estão inseridos; para os autores, os procedimentos pedagógicos adequados podem contribuir para que os objetivos definidos na organização e sistematização do processo se articulem com a aplicação dos conteúdos esportivos.

Libâneo (2013) afirma em seu livro que a avaliação é uma tarefa permanente e necessária do processo de ensino que permite ao professor acompanhar passo a passo os caminhos que estão sendo seguidos, os resultados que estão sendo alcançados de acordo com os objetivos, os progressos que estão sendo feitos, as dificuldades, fornecendo informações relevantes que podem contribuir à reorientação do processo e tomada de decisões. Para o autor, a avaliação é um exercício de reflexão complexo sobre a qualidade do trabalho que os alunos e os professores estão executando, não devendo ser resumida apenas a aplicação de provas e atribuição de notas, dessa forma, acredita que a avaliação deve considerar questões qualitativas do processo, assumindo diversas funções como diagnóstica, didática, pedagógica, e de controle. O autor a define como “[...] componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes” (LIBÂNEO, 2013, p. 217).

Zabala (1998) também discute sobre a avaliação em seu livro afirmando que esta, por muitos anos, foi relacionada apenas à busca por resultados numéricos e pela definição se o aluno pode ou não passar de ano, selecionando quem sabe e quem não sabe. O autor mostra que produções na área da educação têm revelado que essas são só algumas das funções da avaliação, sendo possível pensar em outras estratégias e objetivos no processo de ensino, considerando a potencialidade da avaliação como um instrumento educativo que informa e valoriza o processo

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ao contribuir para que a prática educativa seja adequada à necessidade dos alunos. Zabala afirma que a avaliação é o elemento chave de todo o processo de ensino, para ele, além de se relacionar aos objetivos definidos à priori, a avaliação deve permitir que os alunos participem do processo de ensino, contribuindo para que acompanhem os progressos que são feitos; ela exige também uma posição questionadora dos professores uma vez que demanda investigações sobre os processos com o intuito de direcionar e reorientar o ensino.

Zabala afirma que ensinar vai muito além de selecionar (como na avaliação do processo de ensino tradicional), destacando que a formação integral dos sujeitos é essencial e que a avaliação deve ser utilizada não mais para gerar resultados quantitativos apenas, mas para oferecer oportunidades de aprendizagem aos alunos, sendo adaptada de acordo com as necessidades e potencialidades destes. O autor acredita que a avaliação formativa deve analisar todo o processo de ensino, envolvendo alunos e professores, considerando o contexto de ensino e o ambiente que estão inseridos, os diferentes atores, gerando dados descritivos e qualitativos além dos quantitativos, buscando responder perguntas como: o que os alunos já sabem? Que experiências tiveram? O que são capazes de aprender? Quais os seus interesses? Estilos de aprendizagem?

Descrevendo um processo de avaliação formativa adequado, o autor cita que primeiro deve-se fazer uma avaliação inicial para entender o contexto e definir os objetivos que irão guiar as tarefas e atividades que auxiliarão na aprendizagem, dessa forma, a avaliação colabora também ao planejamento e organização, definindo as progressões, compreendendo o que os sujeitos já sabem, para que seja possível fazer as alterações e adaptações necessárias. O autor cita que deve-se aplicar também avaliações reguladoras ao longo do tempo, com o intuito de entender como cada aluno aprende durante o processo e as suas necessidades, para que seja possível validar as atividades propostas, conhecer a situação dos sujeitos, tomar medidas educativas relevantes, apurar resultados, entender os objetivos que estão sendo cumpridos, buscando a progressão do processo. Zabala também cita a avaliação final e integradora que busca entender os resultados obtidos, os conhecimentos adquiridos, o percurso que foi percorrido, contribuindo para a compreensão geral de todo o processo, desde o seu início até a finalização, agrupando as medidas específicas que foram tomadas, os dados coletados, e fornecendo informações que permitam tomar decisões sobre as ações que devem ser aplicadas no futuro.

Para Zabala (1998), avalia-se com o intuito de aperfeiçoar a prática educativa, para que todos os alunos possam alcançar objetivos e se desenvolver plenamente, sendo esse o

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objetivo maior de todo o processo. Ela deve avaliar se os objetivos definidos na organização e sistematização (que guiam todo o processo) foram atingidos e se os conteúdos foram significativos aos alunos, ajudando a tornar claro também aos alunos as funções de cada conhecimento adquirido, as suas aplicações, para que estes possam interpretar e compreender o processo que vivenciaram, e não busquem aprender apenas para mostrar em uma prova final o que sabem, ou não, de forma mecanizada (ZABALA, 1998).

Machado (2012) comenta que a avaliação é essencial no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do esporte, uma vez que permite verificar a correspondência entre os objetivos de ensino e os resultados obtidos, o que contribui para que novas decisões sejam tomadas com o intuito de adaptar a prática à necessidade dos sujeitos. A autora afirma que os professores devem ter clareza em relação aos objetivos da prática e devem buscar avaliar de modo sistematizado durante o processo, para que seja possível analisar se os objetivos estão sendo cumpridos, se as estratégias condizem com as necessidades dos alunos, ou se são necessárias mudanças, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento dos sujeitos.

Tendo em vista o que os autores citados apresentaram, consideramos para este estudo que a organização faz menção ao processo de definição dos conteúdos que devem ser abordados no ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do esporte, ou seja, busca responder a pergunta “o que ensinar?”; a sistematização busca responder a pergunta “quando ensinar?”, assim, trata-se do planejamento, da definição dos momentos em que os conteúdos devem ser ensinados, das sequências que devem ser seguidas, da evolução do processo, considerando os objetivos e o contexto; a aplicação faz menção à definição dos métodos que são utilizados pelo professor/treinador para atingir os objetivos definidos, os procedimentos pedagógicos, as atividades, a relação do professor/treinador com os alunos/atletas, o estilo de ensino, estando relacionada à busca por responder “como ensinar?”; a avaliação é o processo utilizado para checar os resultados alcançados (e se estão sendo alcançados) de acordo com os objetivos definidos, redefinir a organização, sistematização e a aplicação, verificar a evolução, refletir sobre o processo considerando as necessidades dos alunos e as suas potencialidades com o intuito de adequar a prática, podendo ser pensada também como ferramenta pedagógica.

Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) em seu estudo apresentam uma discussão fundamental sobre o papel que as teorias do conhecimento exercem no direcionamento do processo de ensino, explicando que essas têm buscado responder, ao longo do tempo, questões sobre a origem do conhecimento, de modo geral, definem três tendências epistemológicas que

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buscam responder essas questões: o inatismo, o empirismo e o interacionismo; conforme salientam no texto citado, as teorias do conhecimento influenciaram e ainda influenciam as abordagens de ensino e as teorias da aprendizagem em relação aos processos de ensino, metodologia e intervenção, também no esporte. Com o intuito de ilustrar essa rica discussão, que contribui para o nosso estudo em questão como um marco teórico importante, tivemos a liberdade de organizar e sintetizar os dados apresentados pelos autores Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) na Figura 2.

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Figura 2 – Teorias do conhecimento e abordagens de ensino segundo Scaglia, Reverdito e Galatti (2014) Fonte: Adaptado de Scaglia, Reverdito e Galatti (2014, p. 57)

Teorias Inatistas Teorias Empiristas

Conhecimento advindo da natureza humana, o homem nasce determinado geneticamente; capacidade de resolver problemas

depende do amadurecimento biológico; relacionada ao conceito de dom, aptidão para desempenhar determinadas

atitudes.

Desconsideram a herança genética; explicam a aquisição de conhecimento pela experiência vivenciada; consideram o sujeito

como um ser vazio que deve ser preenchido (completado) de conhecimentos pela transmissão de experiências de maneira

unilateral (sem maiores interações).

Abordagem Racionalista Abordagem Tradicional Abordagem Humanista Abordagem Cognitivista

Relacionada a um processo de ensino que se baseia em transmitir verdades ditadas pelo professor que devem ser

repetidas pelos alunos sem maiores reflexões, nem constatações empíricas; o professor é um reprodutor de verdades estabelecidas e tem o papel de descobrir talentos, ainda muito comum no esporte e na busca pelo dom, ideia de

que quanto menos se interfere em um talento menos se atrapalha o processo natural de desenvolvimento.

Centrada em modelos e transmissão de conhecimentos; o aluno, considerado um receptor passivo, apenas executa o que é determinado pelo professor (autoridade exterior); o objetivo é

acumular informações que são consideradas verdades, sendo essas transmitidas por demonstrações do professor e aprendidas

pela reprodução em busca da automatização.

Centrada no sujeito holístico; enfatiza as relações interpessoais; prima pela liberdade; busca facilitar para que o aluno se crie através de interações com o ambiente; o professor tem o papel de

criar condições de aprendizagem; se opõe as teorias empiristas; principal representante Carl Rogers.

Enfatiza os processos cognitivos relacionados à psicologia da aprendizagem; valoriza a capacidade do aluno em integrar informações e processá-las, entendendo o conhecimento como uma

construção contínua que surge da interação ativa do sujeito com o conhecimento lógico; busca contribuir para que o aluno se desenvolva e seja capaz de atuar na sociedade por meio de atividades que sejam adequadas às capacidades dos sujeitos e que

oferecem liberdade de ação; estudos de Jean Piaget uma das principais referências.

Abordagem Comportamental Abordagem Sócio-cultural Abordagem Ecológica

Relacionada a princípios pedagógicos que se pautam na modelação de comportamentos desejados; ensino composto por

padrões de comportamentos treináveis; o homem é um produto do meio; busca facilitar sua inserção transmitindo conhecimentos

para manter o status quo; entende-se que os alunos são semelhantes e que por isso aprendem no mesmo ritmo e da mesma maneira; relacionada as metodologias tecnicistas em que

se busca a fragmentação do conhecimento em partes a serem transmitidas, determinando processos e técnicas; principal

representante da abordagem é Skinner e o behaviorismo.

Leva em consideração a vocação do homem em ser sujeito (vocação ontológica) e atuar no contexto e realidade que está

inserido; tem como objetivo contribuir para que o homem compreenda esse contexto e as relações entre oprimidos e opressores, e as suas consequências; Paulo Freire um dos

representantes.

De natureza sistêmica; atenta-se às relações de troca entre o organismo (hereditário) e o ambiente (pessoas, objetos, símbolos) e os seus desenvolvimentos, englobando aspectos biológicos, sociais, culturais e históricos; o sujeito é considerado como um ser ativo inserido em um conjunto de sistemas que o influenciam e ao mesmo

sofre mudanças nas relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e ambientais; centra-se nas interações recíprocas entre

o organismo e o ambiente, progressivamente mais complexo ao longo do tempo, em uma relação funcional e emergente; traz em seu

bojo as teorias dos sistemas dinâmicos, do pensamento sistêmico, da complexidade, do desenvolvimento ecológico de

Bronfenbrenner, da percepção, entre outras.

Teorias Interacionistas

Não descarta a importância da genética e não desconsidera as experiências na aquisição dos conhecimentos; o conhecimento é construído através das interações do sujeito com o meio; marcada pelo rompimento epistemológico com as demais teorias, relacionando-se com os conceitos de ressignificação e construção do conhecimento através da mediação e não transmissão.

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Os estudos de Machado (2012) e Machado, Galatti e Paes (2012, 2015) sobre os referenciais da Pedagogia do Esporte também foram essenciais para a dissertação em questão. De modo geral, os autores abordam a questão da componente educacional do esporte, e do processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento adequado que leve em consideração a formação dos sujeitos e que busque ampliar os conteúdos propostos nas aulas e treinamentos, estimulando valores e modos de comportamento, ensinando como jogar, como executar as técnicas esportivas, mas indo além disso. Os autores defendem que além das práticas serem organizadas, planejadas, aplicadas e avaliadas, elas devem ter significado aos alunos, abordando questões históricas e culturais também, assim, apresentam maneiras de organizar os conteúdos que devem ser ensinados aos sujeitos, definindo a proposta dos três referenciais da Pedagogia do Esporte: o técnico-tático, socioeducativo e histórico-cultural, que devem receber um tratamento pedagógico adequado pelos professores e treinadores, sendo abordados de modo equilibrado nos diferentes contextos de prática.

Para os autores o referencial técnico-tático está relacionado às estratégias dos esportes, aspectos táticos ofensivos, defensivos e de transição, habilidades motoras, fundamentos (controle de corpo, manejo de bola, dribles, passes, finalizações, fintas), capacidades biomotoras, conhecimentos que permitam a vivência e prática das modalidades. O referencial socioeducativo aborda a questão dos valores e modos de comportamento que o esporte pode promover como respeito, trabalho em equipe, auto superação, honestidade, paciência, tolerância, entre outros; sendo relacionado à construção de ambientes que promovam o desenvolvimento de relações interpessoais e intrapessoais, que incentive discussões sobre princípios, participação, inclusão, diversificação, autonomia, que promova aprendizados que vão além da quadra ou campo, que se sejam transferidos para a vida dos sujeitos. Machado (2012) comenta sobre a importância do conteúdo socioeducativo

É justamente essa formação Humana que o Referencial Socioeducativo visa sustentar, através de uma prática pedagógica planejada e intencional. A prática esportiva não deve estar voltada somente às questões relacionadas ao desenvolvimento motor e físico de seus praticantes, antes, contudo, deve se preocupar com quem pratica e, este sujeito sente alegria, prazer, tristeza, raiva, timidez; por vezes tem dificuldades em lidar com a derrota, com a vitória; sente-se inseguro, incapaz; às vezes briga com seus colegas pelas situações ocorridas no jogo, tem dificuldade em jogar em equipe. Estas são situações presentes constantemente no jogo, no esporte e nas aulas, portanto, como não considerá-las no processo de ensino, vivência e aprendizagem? (MACHADO, 2012, p. 65).

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O referencial histórico-cultural que os autores definem, está relacionado ao tratamento pedagógico dos conhecimentos que caracterizam o esporte como uma criação social e cultural, assim, salientam a importância de abordar no processo de ensino, vivência e aprendizagem, temas como a história e evolução das modalidades, regras, as competições, os atletas importantes, a influência da mídia, os diversos atores envolvidos com a prática esportiva e suas funções, entre outros. Deve-se tratar sobre o histórico-cultural para que seja possível conhecer, apreciar e ressignificar a história, buscando desenvolver o gosto pelo esporte (MACHADO, 2012).

Machado (2012) defende que os referenciais da Pedagogia do Esporte devem ser abordados no processo de ensino do esporte de modo equilibrado em todos os contextos de prática, para que o aluno ou atleta possa ter a escolha de percorrer o caminho do esporte da maneira autônoma de acordo com seus objetivos, interesses pessoais, escolhendo de modo consciente, se essa for a sua vontade, se continuará o envolvimento com o esporte como atleta profissional, treinador, professor de Educação Física (EF), comentarista, jornalista esportivo, espectador, lazer, árbitro, e etc.

Resumidamente, pautados também no que Reverdito, Scaglia e Paes (2013) definem em seu estudo, nos aproximamos das abordagens em Pedagogia do Esporte propostas por autores como Roberto Rodrigues Paes e Hermes Ferreira Balbino, que tratam de temas como a Pedagogia, formação crítica e consciente, diversidade, inclusão, cooperação, autonomia, movimento humano, inteligências múltiplas, princípios filosóficos, aprendizagem social, e que defendem o uso de uma estratégia-metodologia pautada na complexidade do jogo, no jogo possível, no ambiente fascinante, fundamentados no pensamento sistêmico, no construtivismo, teoria das inteligências múltiplas, capacidades, potenciais e totalidade; e também no que defendem Alcides Scaglia e João Freire, que tratam sobre princípios pedagógicos, foco no sujeito que joga, motivações intrínsecas, humanitude, da busca por ensinar autonomia e criticidade, cultura corporal, diversidade, considerando uma estratégia-metodologia pautada no Jogo, capacidade tática (cognitiva), especificidade técnica (motora específica), brincadeiras populares, estando fundamentados nas abordagens interacionistas, pensamento sistêmico-complexo, teoria do jogo, e produções culturais.

Buscamos nos aproximar dos pensamentos que se relacionem com as novas tendências em Pedagogia do Esporte, ligadas à prática educativa e formação humana,

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considerando o contexto esportivo como um ambiente repleto de possibilidades para o desenvolvimento humano (REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2013). Vamos ao encontro de teorias que, segundo estes autores, consideram que o processo de ensino, vivência e aprendizagem das modalidades esportivas, em qualquer contexto de prática, pode ser orientado para a compreensão do jogo, privilegiando a interação entre a técnica e a tática contextualizada neste meio, facilitada por meio de jogos que permitem respostas abertas. Defendemos assim, que é possível no contexto esportivo, valorizar a resolução de tarefas coletivas e problemas semelhantes ao jogo (cooperação, oposição, finalização), promovendo a participação efetiva dos sujeitos para buscar o aprendizado; consideramos a inter-relação e a interdependência dos fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais, buscando defender uma intervenção pautada em quem joga, que permita ao sujeito autonomia para responder às exigências do jogo, considerando seu caráter dinâmico, transcendendo a simples repetição de gestos pré-definidos e estimulando a criticidade e reflexão (REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2013).

No decorrer deste estudo buscamos esclarecer a importância de um ensino que permita a formação integral dos atletas, adotando como marco teórico e nos situando entre as produções científicas que se aproximam das teorias interacionistas e das novas tendências em Pedagogia do Esporte, que apresentam influências das abordagens cognitivistas, socioculturais e ecológicas conforme descrevem Scaglia, Reverdito e Galatti (2014). Além disso, os estudos de Galatti et al. (2017) e Bettega (2015) trouxeram contribuições relevantes que ajudaram a estruturar e direcionar a dissertação.

2.2 Futebol Americano

Nesta sessão do estudo abordaremos o FA no cenário brasileiro, nos baseando na literatura que tivemos acesso sobre o tema, de modo geral, discutiremos brevemente sobre: a inserção da modalidade no Brasil; o histórico de equipes de FA; o crescimento da prática e dos espectadores; os campeonatos e o número de equipes existentes; as produções científicas que discutem a temática e que se aproximam do FA nacional; e as organizações que têm buscado compartilhar conhecimentos sobre o esporte em nosso país e desenvolvê-lo. Salientamos que no estudo de Tancredi (2014) já abordamos as questões da história do FA, a dinâmica do

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esporte, regras básicas, as características do ataque, defesa e especialistas e as diferentes posições, com o intuito de contribuir para contextualização sobre a modalidade.

No livro “Manual do Futebol Americano” Antony Curti (2016) explica conceitos sobre o FA, discorre sobre a criação do esporte, o funcionamento das equipes, conceitos estratégicos básicos, as posições que existem na modalidade, trazendo diversas informações sobre a modalidade. Em relação a contextualização da modalidade, o autor comenta sobre o crescimento do FA internacionalmente, primeiro tratando sobre a evolução da modalidade e a sua popularização nos EUA relacionada: a adaptação das suas regras ao longo do tempo que buscaram tornar o jogo mais atrativo para o público; a presença de times tradicionais em todo o território americano; ao papel da televisão na popularização do esporte; a criação do Super

Bowl (final do campeonato da NFL) voltado ao espetáculo; a busca do equilíbrio da liga

profissional com divisão de lucros e teto salarial; as características do jogo relacionadas a conquista de território e a identificação cultural do público; ao apelo do jogo às questões estratégicas e a busca por se distanciar da violência com a criação e atualização de regras que acontecem anualmente. Curti (2016) afirma que o FA é um dos esportes que mais crescem no Brasil hoje, destacando que há mais de 100 equipes espalhadas pelo território nacional e diversos campeonatos que tem sido organizados e disputados nos últimos anos; em seu livro ele compara os caminhos de evolução da modalidade nos EUA com a popularização do FA no Brasil, e destaca que o Brasil tem seguido o mesmo padrão de evolução, salientando a identificação do público atual com as questões estratégicas do jogo e as suas características estruturais e culturais.

Em relação a história do FA no Brasil, especificamente, o autor ressalta o papel das transmissões da NFL que alavancaram o interesse do público pelo esporte, citando que o crescimento gradual de espectadores ocorreu através das primeiras iniciativas de transmissão do FA em 1990 realizadas por Luciano do Valle no canal Bandeirantes; ele comenta sobre o aumento do acesso do público à canais de televisão à cabo e por satélite em 1990 em cidades do interior, que permitiram o contato com atrações internacionais, como o primeiro Super Bowl transmitido no Brasil em 1993; salienta a importância dos comentaristas da ESPN e das equipes de profissionais da televisão que faziam apostilas sobre o FA e enviavam para os telespectadores que se interessavam pelo jogo; o autor descreve também que após 2006, com a popularização da internet, o público teve cada vez mais acesso ao espetáculo das transmissões americanas que sempre buscaram criar produções cinematográficas da modalidade, apresentando um produto muito atrativo ao público com foco no entretenimento. Curti elucida

Referências

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