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O objetivo do estudo foi investigar o processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do Futebol Americano (FA) no estado de São Paulo a partir do conhecimento dos treinadores, com isso, analisando as entrevistas que realizamos com os sujeitos escolhidos, buscamos coletar informações sobre este processo a partir das definições da Pedagogia do Esporte, considerando a organização, sistematização, aplicação e avaliação (GALATTI et al., 2014).

Os autores Machado, Galatti e Paes (2012) citam a importância de um tratamento pedagógico adequado ao esporte que pode contribuir para a formação dos praticantes, dessa forma, discutiremos neste momento sobre o processo de organização do ensino do FA e os conteúdos que os treinadores têm abordado. Neste estudo citado, os autores discorrem sobre os referenciais da Pedagogia do Esporte apontando a necessidade de que os conteúdos desenvolvidos com os alunos (ou atletas) sejam diversificados e se relacionem às questões que vão além do campo (ou da quadra), transferindo as aprendizagens à vida dos sujeitos, sendo assim, se faz necessário, ao se ensinar esporte, que seja abordado de maneira equilibrada os referenciais técnico-tático, socioeducativo e histórico-cultural.

Os conteúdos do referencial técnico-tático estão relacionados aos fundamentos, técnicas dos esportes, habilidades motoras, estratégias e também à compreensão dos elementos

táticos ofensivos, defensivos e de transição (MACHADO; GALATTI; PAES, 2012, 2015). Durante a análise foi possível perceber que os treinadores, em suas falas, usaram os termos tática e sistema tático, para se referirem às jogadas do playbook e ao sistema de jogo que costumam utilizar em suas equipes, porém, encontramos diferentes definições para cada um destes termos, conforme apontam Galatti et al. (2017), que são importantes serem discutidas uma vez que, para interagir no sistema dos Jogos Esportivos Coletivos, caracterizado, entre outros fatores, pela imprevisibilidade, é indispensável que o atleta atue estrategicamente, taticamente e tecnicamente.

Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1999) discutem em seu estudo sobre as definições destes termos, para eles, a estratégia está relacionada aos planos, princípios, diretrizes, decididas antes do jogo, com foco em organizar as ações da equipe para o jogo; a estratégia especifica responsabilidades dos atletas, opções de ações, jogadas, antes da ação acontecer. A

tática está relacionada às ações sucessivas executadas voluntariamente durante o jogo de

acordo com as situações que se apresentam naquele momento específico, com o objetivo de se adaptar às mudanças e imprevisibilidades características dos jogos esportivos coletivos, como as diversas ações dos oponentes, movimentação da bola, ocupação de espaço, transições, entre outros elementos; a eficiência tática, dessa forma, implica na capacidade de tomar decisões rapidamente dentro do jogo buscando criar soluções aos problemas apresentados (GALATTI et al., 2017; GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1999). Souza e Scaglia (2004, p. 27) definem tática como uma “maneira hábil de se resolver um problema com ordem, rapidez e organização, segundo as possibilidades existentes e as exigências do temporais e espaciais”. A

técnica se relaciona ao modo de fazer, movimentos, gestos esportivos eficientes de cada

modalidade, habilidades motoras, padrões, ações, estando relacionada à tradição esportiva (DAOLIO, 2002; GALATTI et al., 2017).

O playbook é um documento definido pelos treinadores que agrupa todas as jogadas que o time pode executar durante uma temporada. Geralmente cada setor tem um playbook diferente, dessa forma, geralmente há um documento destes para o ataque, defesa e especialistas, que contém cada uma das jogadas desenhadas detalhadamente, com informações sobre posicionamentos em campo, formações, movimentações antes do início da execução, funções dos atletas em cada situação, nomenclaturas, códigos para chamada de jogadas, alterações, opções de escolhas possíveis de acordo com os posicionamentos em campo, entre outras informações; adicionamos a Figura 4, que faz parte de um playbook da NFL disponível online, para exemplificar o documento (FOOTBALL X AND O'S, 2017). Como foi possível

inferir da análise, o playbook tem grande relevância no processo de organização dos conteúdos a serem ensinados, de maneira geral, ele é entregue aos jogadores no começo do ano para que seja estudado em profundidade por cada atleta, e é detalhado e vivenciado por meio de treinos teóricos e práticos, com análises, ensaio de jogadas, repetições e aplicações situacionais.

Figura 4 – Exemplo de jogadas descritas no playbook do Carolina Panthers (NFL) de 2005 Fonte: (FOOTBALL X AND O’S, 2017, p. 125)

Assim, o playbook se relaciona mais à estratégia e aos esquemas de jogadas, que são sequências pré-estabelecidas de ações ensaiadas antes das partidas e executadas durante o jogo (GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1999), e não à tática, como apontaram os treinadores. Estratégia, tática e técnica devem se relacionar o tempo todo no jogo, são indissociáveis (GALATTI et al., 2017) e é papel dos treinadores deixar claro o papel de cada um destes e a dependência entre os três (GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1999), assim, para executar a tática, é necessário aprender certas técnicas, e para buscar a melhor execução, é necessário se planejar para o jogo, refletir sobre o que fazer no ataque, defesa e transição, para que haja harmonia na busca pelos objetivos. Estes fatores devem ser levados em consideração quando pensamos sobre “o que ensinar” aos atletas de FA, e devem ser destacados no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento conforme apontam os estudos citados, porém, pelas falas dos treinadores, foi possível perceber que o processo de treinamento do FA nestes contextos têm sido determinado pelos fatores estratégicos do jogo (playbook) e o foco do ensino tem sido nas questões técnicas do FA. Foi possível inferir das entrevistas que a

escolha dos conteúdos que serão desenvolvidos na temporada depende do playbook que irão utilizar, e o desenvolvimento das questões táticas, conforme definem Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1999), não é citado pela maioria dos entrevistados, em outras palavras, o aprendizado durante a temporada tem como fim executar o playbook corretamente durante as partidas do campeonato de acordo com o planejado.

Para discutir o equilíbrio no tratamento dos referenciais da Pedagogia do Esporte conforme descrevem Machado, Galatti e Paes (2012) no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA, especificamente em relação à organização, se faz relevante comentar sobre os conteúdos que podem ser abordados. Bayer (1992), cita que as modalidades esportivas coletivas são representadas pelas invariantes já citadas neste trabalho como bola, espaço de jogo, parceiros com os quais se joga, adversários, um alvo a atacar e defender, e regras definidas, caracterizando o Jogo Esportivo Coletivo (JEC), dessa forma, através das semelhanças entre as modalidades coletivas é possível pensar em abordagens pedagógicas que levem em consideração a possibilidade de transferência de conhecimentos entre essas (GARGANTA, 1995) e as características funcionais das práticas, como os princípios operacionais do ataque (conservar a posse de bola, progredir ao alvo, atacar o alvo e marcar pontos) e da defesa (buscar recuperar a posse da bola, impedir a progressão dos jogadores e da bola até o alvo, proteger o alvo), e também as regras de ação, que irão auxiliar os jogadores a aplicarem os princípios operacionais dentro do jogo e atingir os objetivos, requerendo um processo de raciocínio, seleção e combinação de processos técnicos. Os princípios operacionais e regras de ação podem ser abordados nas intervenções dos treinadores com o intuito de auxiliar os atletas a coordenarem suas ações e a trabalharem em conjunto em busca de resolver e se adaptarem aos problemas que são inerentes aos jogos, atuando taticamente e criticamente dentro de cada modalidade de acordo com suas especificidades (BAYER, 1992). Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1999) também citam em seu estudo sobre princípios relacionados à lógica interna dos JEC, que podem auxiliar os atletas a focarem em estratégias e táticas específicas durante sua atuação, como o princípio do engano, da surpresa, mobilidade, oportunidade, coesão, competência, reserva, economia e melhoria. Galatti et al. (2017) apresentam em seu estudo uma possível organização dos conteúdos técnico-táticos que podem ser considerados no processo de ensino dos esportes coletivos, observando os conceitos apresentados por Claude Bayer.

QUADRO 3 – Quadro desenvolvido por Galatti et al. (2017) sobre os princípios defensivos e ofensivos na perspectiva da cooperação e oposição.

Fonte: (GALATTI et al., 2017, p.643)

Galatti, Paes e Darido (2010) ressaltam em seu estudo que, ao se trabalhar com os esportes, é necessário pensar também nos princípios operacionais de transição, sendo importante tratar com os alunos sobre o reconhecimento destes momentos em que há a troca de posse de bola durante a jogada e as possíveis organizações individuais e coletivas que podem ser feitas; no FA há uma divisão muito nítida entre o ataque e a defesa, sendo que muitos jogadores treinam e atuam exclusivamente em apenas um setor e em determinada posição, dessa forma, destacamos a importância de refletir sobre a transição no FA e sobre o processo de ensino desse momento do jogo, salientando ainda que nenhum treinador comentou sobre este assunto em suas respostas. Os autores discorrem também sobre as regras de ação de Bayer e a importância de ensinar os alunos a compreenderem maneiras de: se comportar taticamente nos JEC a partir da estrutura e lógica específica de cada contexto; ocupar os espaços no campo; se posicionar para receber a bola e para pressionar o adversário, cooperando com os companheiros. Em relação ao ensino dos fundamentos (como fazer), é interessante salientar que os gestos técnicos variam mais se comparados aos princípios operacionais e regras de ação das diferentes modalidades, tendo suas próprias maneiras de execução, cultura esportiva, eficiência, de acordo com as exigências de cada esporte (DAOLIO, 2002), porém Galatti et al. (2017), baseados nos estudos de Bayer, apresentam elementos técnicos comuns dos JEC de acordo com as demandas do jogo, que podem ser considerados quando pensamos na organização dos conteúdos a serem ensinados.

QUADRO 4 – Quadro desenvolvido por Galatti et al. (2017) sobre os fundamentos técnicos dos JEC.

Fonte: (GALATTI et al., 2017, p.643)

Durante a análise das entrevistas, os treinadores salientaram a importância dos fundamentos tackle e bloqueio no FA. Como descrito, cada modalidade tem a sua cultura e especificidade em relação aos movimentos que são mais eficientes e destacamos a importância de tratá-los no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do FA, levando em consideração a relação de dependência entre técnica, tática e estratégia, sendo assim, acreditamos ser relevante indicar o trabalho de conclusão de curso realizado por Tancredi (2014) que buscou descrever de maneira detalhada os fundamentos básicos que os treinadores citaram nas entrevistas, e também apresentou possibilidades de atividades para o processo de ensino do FA.

Foi possível observar nos resultados que, tirando o Treinador 1, os sujeitos não costumam reservar momentos específicos para tratar sobre os referenciais socioeducativos e histórico-culturais, atuando principalmente por meio de conversas com o time sobre tais conteúdos de acordo com a necessidade que percebem, o que caracteriza um processo não planejado de intervenção deste referencial. Os autores Machado, Galatti e Paes (2012, 2015) afirmam que os referenciais socioeducativos podem ser estimulados nos treinos quando são, de fato, intencionalmente organizados e sistematizados como conteúdo esportivo, tendo como objetivo: promover a discussão de valores, modos de comportamento; estimular os alunos a se colocarem no lugar do outro; promover a participação, inclusão, diversificação, coeducação, autonomia; construir um ambiente favorável para o desenvolvimento de relações intrapessoais

e interpessoais; transferir conhecimentos do esporte para a vida; tratar sobre respeito, trabalho em equipe, responsabilidades, superação, honestidade, concentração, disciplina, paciência, tolerância, organização de grupos, diálogos, saber competir, autonomia, ética, entre outros temas. Eles também comentam sobre a importância de se abordar nas intervenções o referencial histórico-cultural, que busca tratar dos conhecimentos que caracterizam o esporte como um elemento cultural e social e contribuir para a apreciação do esporte e ressignificação da prática, sugerindo conteúdos como surgimento, história e evolução da modalidade, regras, cenário competitivo, ícones da modalidade, influência da mídia, papel dos agentes esportivos (árbitros, treinadores, atletas, dirigentes), implicações sociais do esporte (mídia, dinheiro, marketing), entre outros.

Dentro do contexto da prática esportiva das modalidades coletivas (dentre elas o FA), além da execução de gestos e movimentos, é possível vivenciar: valores, modos de comportamento; a necessidade dos companheiros e dos adversários para se jogar e para atingir os objetivos em conjunto; o respeito às regras e aos sujeitos que jogam; dessa forma, Machado, Galatti e Paes (2012) afirmam que tais questões devem ser destacadas no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do esporte, fazendo parte do planejamento de maneira clara e intencional. Os autores comentam sobre possíveis procedimentos pedagógicos que podem auxiliar no ensino deste referencial: grupos de debate, momentos de reflexão e diálogo, definição de valores a serem trabalhados e avaliados pelos próprios sujeitos. Os autores também destacam procedimentos pedagógicos para estimular o conhecimento no Referencial histórico- cultural como: pesquisas a serem realizadas pelos sujeitos com o auxílio do treinador envolvendo questões como recordes atingidos, uso de drogas no esporte, os principais atletas da modalidade, a realidade e o contexto do esporte, a violência, etc.; a utilização de vídeos e documentários, estimulando debates e análises diversas.

Acreditamos que as produções sobre os life skills (habilidades para a vida), podem contribuir também para pensar no ensino do referencial socioeducativo. Gould e Carson (2008), em seu estudo sobre o tema, citam que este termo tem sido associado às produções em desenvolvimento positivo de jovens (Positive Youth Development) que, no contexto esportivo, se relacionam à aprendizagem de hábitos saudáveis por parte dos jovens atletas, desenvolvimento físico, ao desenvolvimento de atributos psicológicos e disposições, como otimismo e esperança, e habilidades específicas como: saber definir e atingir objetivos, e lidar com o estresse. De maneira geral, os autores apontam que o desenvolvimento positivo de jovens é uma noção abrangente relacionada ao desenvolvimento de competências diversas que podem

auxiliar os jovens no esporte, na vida presente e futura; inseridos no desenvolvimento positivo de jovens, os life skills, são habilidades que ajudarão os sujeitos a ter sucesso em diferentes ambientes de sua vida como a escola, casa, comunidade, estando relacionadas à saber se comunicar com outras pessoas, saber tomar decisões efetivas, resolver problemas, ter liderança, controle emocional, autoestima, ética de trabalho, entre outras (CAMIRÉ et al., 2011; GOULD; CARSON, 2008; TURNNIDGE et al., 2016). Essencialmente, os life skills ajudam o jovem a ser bem sucedido no esporte e também a transferir os conhecimentos adquiridos neste contexto para a vida cotidiana, sendo que, para ser considerado um life skill, é necessário esforço por parte dos sujeitos buscando que essa transferência de fato aconteça; os autores também citam o papel do treinador neste processo, que deve enfatizar intencionalmente a importância dessa transferência em suas intervenções, dessa forma, é necessário, ao tratar sobre os life skills, que se rompa a ideia de que o esporte automaticamente ensina aos participantes habilidades para a vida, destacando que o planejamento e a intencionalidade se fazem essenciais quando tratamos destes conteúdos (CAMIRÉ et al., 2011; GOULD; CARSON, 2008).

Em seu estudo, Gould e Carson (2008) apresentam um modelo que explica como os life skills são treinados através do esporte; Camiré et al. (2011) também reúnem uma série de estratégias que podem facilitar o desenvolvimento positivo de jovens como: a definição cuidadosa da filosofia do treinador priorizando o desenvolvimento físico, psicológico e social dos atletas; o desenvolvimento de relacionamentos significativos com os atletas; o planejamento intencional de estratégias de desenvolvimento; não só falar, mas praticar os life

skills; e ensinar os atletas sobre como os life skills são transferidos para outros contextos além

do esportivo. Identificamos nas falas dos treinadores que eles costumam realizar atividades que podem auxiliar no desenvolvimento dos conteúdos do referencial socioeducativo, conversando com os atletas sobre motivação, discutindo atitudes e questões emocionais, organizando momentos de confraternização com os atletas fora do contexto esportivo, planejando atividades voluntárias para ajudar a comunidade, utilizando o aquecimento para trabalhar a coesão do time em atividades em que todos os setores atuam juntos e destacando a importância deste momento para o FA, porém, foi possível perceber que este processo não está sendo organizado e planejado, nem tornado explicito conforme os autores destacaram (CAMIRÉ et al., 2011; CAMIRÉ; TRUDEL, 2013; GOULD; CARSON, 2008; MACHADO; GALATTI; PAES, 2012). Camiré e Trudel (2013) discutem e analisam em seu estudo o desenvolvimento de life

skills, especificamente no Futebol Americano canadense, citando diversos trabalhos sobre essa

de programas de Futebol Americano, dificuldades que têm sido encontradas no ensino, entre outros temas; acreditamos que estudos dessa natureza, como também dos autores Petitpas et al. (2004) e Gould et al. (2007), podem contribuir para pensar em intervenções relacionadas ao referencial socioeducativo dentro do FA.

Notamos nas respostas dos treinadores que de fato estes têm dado importância ao processo de sistematização e planejamento das equipes. Três treinadores afirmaram que escrevem um documento definindo todo o processo de planejamento da equipe antes da temporada começar juntamente com os coordenadores, separando momentos distintos durante a temporada, distribuindo conteúdos ao longo do tempo, apontando uma progressão de ensino de acordo com seus conceitos. O Treinador 4 inclusive cita um documento de sua autoria feito especificamente para os atletas brasileiros, apontando quais fundamentos aprender, a progressão e os momentos para ensiná-los, definindo também a cultura do time e atitudes esperadas dos atletas. Os participantes também se mostraram abertos a adaptar o planejamento de acordo com as exigências que surgem ao longo da temporada.

A importância de um processo organizado e sistematizado de ensino, possibilitando a otimização das ações e a formação dos sujeitos, é destacado na literatura (CAMIRÉ et al., 2011; GALATTI; PAES; DARIDO, 2010; GALATTI et al., 2017; LIBÂNEO, 2013; MACHADO; GALATTI; PAES, 2015). O processo cuidadoso de planejamento de aulas e treinos (independente do cenário de prática ou personagens) pode contribuir para ampliar os conteúdos que são tratados nas intervenções esportivas em busca de valorizar o esporte e estimular os valores e modos de comportamento, dessa forma, o trabalho com o esporte deve ser organizado e sistematizado tomando como base os objetivos educacionais estruturados a partir de intenções claras e bem definidas, buscando o desenvolvimento pleno dos sujeitos dentro e fora do contexto esportivo (MACHADO, 2012; MACHADO; GALATTI; PAES, 2015). Para Machado (2012), a organização e sistematização que leva em conta o contexto de ensino e a realidade dos alunos facilita a visualização do ponto de partida e onde se pretende chegar, tornando possível definir as progressões adequadas do mais simples ao mais complexo, entender os caminhos que foram percorridos e os possíveis avanços dos praticantes; para a autora, a sistematização auxilia a tornar claras as finalidades do trabalho a ser desenvolvido, a atingir objetivos, e contribui para uma prática reflexiva, contínua, adaptável, sendo assim, é importante que os professores/treinadores caminhem em direção a uma prática que seja intencional, planejada previamente, que considere as especificidades dos alunos, o contexto, que seja adaptável e leve em conta o interesse dos praticantes e a relevância social dos

conteúdos abordados. Os conceitos elucidados na literatura se relacionam às respostas dos treinadores sobre o processo de planejamento do FA; destacamos o fato de que somente o Treinador 1 comentou sobre a importância dos diretores da equipe no planejamento, e apontamos este como um possível tema de estudos futuros no FA, para entender melhor a atuação e o papel de cada um dos sujeitos envolvidos no processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento da modalidade, que é influenciado pelo contexto.

Os treinadores também citaram em diversos momentos da entrevista que buscam entender a realidade dos atletas para pensar o planejamento e o ensino do FA, adaptando o que aprendem sobre a modalidade à realidade que estão inseridos, às demandas e objetivos de cada aluno. Os sujeitos da pesquisa salientaram que geralmente em contextos de treino como nos EUA, o treinador tem uma filosofia prévia e busca implementá-la nos times que trabalha, selecionando os atletas que precisa especificamente para o seu playbook de acordo com as suas preferências, o que difere do contexto brasileiro citado por eles, em que é preciso entender quem são os atletas e adaptar os treinos, planejamento, playbook, de acordo com o que estes sabem e conseguem fazer. Essas são afirmações relevantes para entender o contexto brasileiro de FA, uma vez que neste esporte as equipes são formadas por mais de 50 atletas muitas vezes, podendo chegar até 100 em determinados casos, contando com atletas que atuam no ataque, defesa, time de especialistas, reservas, a equipe de coordenadores, os assistentes, etc. Camiré e Trudel (2013) destacam também o tamanho das equipes de Futebol Americano se comparadas às equipes de

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