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MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA SÃO PAULO

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Academic year: 2018

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Hamilton Fernandes de Souza

VIRILIDADE TRAVESTIDA: Protótipo e Estereótipo na

representação da

travesti.

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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VIRILIDADE TRAVESTIDA: Protótipo e Estereótipo na

representação da

travesti.

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa, sob a orientação da Profa. Dra. Jeni Silva Turazza.

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Banca Examinadora:

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“De fato, os homossexuais precisam ser curados. Eles necessitam curar-se de todas as feridas que lhes foram feitas pela sociedade, a começar pela própria família e pela igreja. Em vez de promessas de cura, ofereçamos apoio, suporte emocional, e um ambiente onde não sejam julgados, mas amados, acolhidos em vez de rechaçados.”

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A Deus, inicialmente, por ter me amparado nas alegrias bem como nos percalços para a organização deste trabalho.

A Profa. Dra. Jeni Silva Turazza, que me orientou com segurança, estimulando, problematizando, apresentando novas possibilidades para o desenvolvimento deste trabalho. Com sua mão firme, retirou o chão da minha certeza e, por intermédio de leituras, discussões e produções, me ajudou a construir um arcabouço científico sólido.

As Profa. Dra. Ana Rosa Ferreira Dias e a Profa. Dra. Paula Pinho Dias pelas orientações seguras durante a qualificação, sugestões pertinentes, que me ajudaram na execução deste trabalho.

A minha família:

Minha mãe Hermínia, que com sua força, orações, nos momentos mais difíceis, ajudaram-me a superar todas as dificuldades. Exemplo de amor, coragem, ética e respeito; Meu pai Luiz (in memoriam), que me ensinou à ética, respeito e integridade.

Meus irmãos: Luiz e Alzira por ajudarem na minha formação pessoal e profissional; Wilson (in memoriam), que demonstrava o quanto é importante a felicidade nos pequenos momentos das nossas vidas; Aílton, pela segurança, integridade e exemplo e Adílson, que sempre mostrou a importância da felicidade, da música, dos vídeos, da gastronomia e, principalmente o gosto de ensinar. Mesmo, que agora, não exerça diretamente o magistério, sua preocupação sempre foi com a formação dos educadores e àqueles envolvidos no processo educacional e a quem ele se dirige: o aluno. Sua luta é intensa na direção do direito, da justiça, do respeito e da ética.

Aos gestores, professores e funcionários da E.E. Professor Miguel Reale pelo apoio aos bons momentos, aos ruins e pela paciência pelas minhas ausências.

A Nair Gonçalves e Carminha pela amizade, carinho, respeito e ter sempre uma palavra de alento.

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A Sonia Aparecida Silva, D. Helenice (D. Licinha), Josiane Strafling Massi, Jean Carlo Jéssica Maria, Luiz Carlos por participarem diretamente da minha vida, me apoiando, sempre usando palavras de ânimo para eu superar as adversidades.

A Lourdes pelo profissionalismo, pelo respeito, principalmente pelas palavras certas nos momentos certos e pelas informações sempre corretas. Mesmo super ocupada, sempre tem um espaço para nos ajudar.

A Teresinha Oliveira Carmo pela parceria, pela força, pelos pensamentos positivos nos momentos mais complicados pelos quais passei.

Aos meus amigos: Márcio Mikio, Elaine Paceli, Adilson, Jonatas, Mayara Aquemi, Natália, Larissa, Renata, Luciana, Marcia Fernanda, Márcia Simião, Gabriel, Caio e Deglirée, Fernando e Camila, Dóris e Carlinhos, Lia, Sr. Gentil (in memoriam), sua esposa, Patrícia, Mônica, D. Olga, Marcelo, Priscila Colombo, Ewerson, Maria Helena (Lena), Cris Verônica, Luciana, Vivian, Sandra e Wanderley, Liliana e Diego, Symone Sanches, Vicente, Sérgio, Jennifer, Fábio, Dinah – pela amizade, carinho, respeito e orientações.

Aos gestores, professores e funcionários da E.M.E.F. João Gualberto do Amaral Carvalho pelo profissionalismo, ética e respeito.

Aos meus alunos e ex-alunos que são a razão de eu ter prosseguido nos meus estudos.

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Macha, Fêmeo

Compositores: Arnaldo Antunes, Paulo Tatit e Marcelo Fromer

macha fêmeo macha fêmeo fêmeo macha

cérebra caralha baga saca pescoça prepúcia ossa nádego boceto teto côxo vagino cabeço boco corpa moço dentra foro moça

orgasma coita palavro sexa goza liberal gerou

macha fêmeo macha fêmeo fêmeo macha

fígada barrigo umbiga perno braça unho mucoso axilo nerva pela veio cabela narino porro

corpa moço dentra foro moça orgasma coita palavro sexa goza liberal gerou

calço terna saio camiseto vestida cueco bluso meio sandálio calcinho cinta sapata casaca luvo corpa moço dentra foro moça

orgasma coita palavro sexa goza liberal gerou

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à prostituição e o travesti. Como resultados da pesquisa temos: 1) Identificação dos protótipos e estereótipos sociais, a partir do senso comum; 2) Análise da crônica visando apresentar os estereótipos sociais, violência a que o homossexual vem sendo sujeitado, bem como apresentar um modelo prototípico, que é o travesti. 3) Propiciar uma reflexão ao leitor para que ele aja sem preconceitos e que a sexualidade é humana e não está ligada somente ao gênero: masculino e feminino. De uma concepção dual temos uma concepção tríade.

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been subjected, and present a prototype model, which is the thetransvestite.3) To promote reflection to the reader so that it act without prejudice and that sexuality is human and is not link only to gender: male and female. A dual conception has a triad design.

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Introdução 14

Capítulo I. A homossexualidade entre o gênero, o sexo e a virilidade 18

1.1. Preliminares 19

1.2. Os Estudos Linguísticos do Século XX: Questões de Gênero e Regras 21 1.2.1. O Gênero por uma perspectiva léxico-gramatical 24 1.2.2. O Gênero gramatical: origens, classificação e reclassificação 25 1.2.3. O Gênero por uma perspectiva linguístico-cultural 28 1.3. A Virilidade Humana ao Longo do Processo Civilizatório 32

1.3.1. A Virilidade entre os Povos Tribais 34

1.3.2. A Virilidade e a Homossexualidade entre Os Egípcios 39 1.3.3. A Virilidade entre Os Greco-romanos e os Modernos 44 1.3 4. A Homossexualidade pela Educação Grega 48 1.3.5. A Marginalização, a Inversão e a Reintegração: práticas sociais do

aprendiz- varão 51

1.4. A Homossexualidade pela Educação Romana 53

1.5. Algumas Considerações Finais 57

Capítulo II - Fundamentos Teóricos da Lexicultura: Identidade dos Significados da

forma vocabular “Homossexual” 60

2.1. Considerações Iniciais 60

2.2. A Legitimidade de os Significados Lexicais 62 2.2.1. As Designações: O Dizer para Nomear e para se Expressar: atos de

fala 65

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Capítulo III – A Crônica: dos estereótipos sociais à construção de um modelo de

protótipo: O Travesti 105

3.1. Preliminares 106

3.2. Etimologia e Histórico 106

3.3. A Crônica e seu autor 107

3.4. Gêneros do discurso 107

3.5. Texto e discurso 108

3.6. Gêneros do discurso 110

3.7. Gêneros do discurso narrativo 111

3.7.1. Gênero narrativo 111

3.7.2. Gênero descritivo 112

3.7.3. Gênero dissertativo 112

3.8. O Texto e o Travesti 113

3.8.1. Situando a Lapa 116

3.8.2. Descrição das personagens 122

3.8.3. Algumas Considerações Finais 142

Considerações Finais 144

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INTRODUÇÃO:

Esta Dissertação de Mestrado tem por tema o estudo de formas como os homossexuais são designados, representados e ideologicamente avaliados em língua portuguesa do Brasil, por intermédio de textos escritos através do tempo. Para tanto, recorreremos aos conceitos de protótipo, que se refere à “virilidade” em contraposição a “não-virilidade”, delimitado ao papel social por meio do qual os homossexuais são representados pelos estereótipos, no idioma português do Brasil, em textos produzidos em língua escrita e colocados em circulação, são lidos, compreendidos e interpretados como crônicas. Dentre os designativos referentes à homossexualidade, encontramos o travesti, transexual, transgênero, lésbica, gay, assexuados, que são nomeados genericamente de bicha, gay, entre outros.

Nesta acepção, a investigação está vinculada à linha de pesquisa “Variedade do Discurso” do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa e, numa interface com a linha História e Descrição da Língua Portuguesa, na dimensão do sistema e do uso, focaliza as relações léxico-gramaticais como recursos expressivos das práticas sociocultural-históricas de caráter discursivo que se qualificam ou se tipificam como narrativa.

A partir de uma incursão no léxico através da História, partimos para a análise da crônica “O travesti está na terceira margem do rio”, contida no livro Amor é prosa sexo é poesia: crônicas afetivas, do escritor e jornalista Arnaldo Jabor. O autor utiliza-se da crônica, que tem como característica ser uma narrativa e que possui a narratividade. Os seus argumentos estão ancorados na descrição do travesti, drag queen, prostituta, garota de programa, viado, entre outros, com o intuito sempre de deixar em evidência quem é o travesti. Para tanto, recorre às antíteses, elipses, implícito/explícito. A partir destes elementos, o autor constrói o texto argumentativo, cuja finalidade é persuadir, convencer o leitor.

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Dubois (1988), Coseriu (1962), Hjelmslev (1975), Kleiber (1995), Lara (1996), Silveira (2012), Adam (2011), Bizzocchi (2012), Elia (1987), Paz (2002), Laroca (1994), Garcia (2010); Análise do Discurso: Koch (2008), Suáres (2010), Ferrari (2011), Bakhtin (2010), Odalia (2012), Dias (2003), Michaud (2006); Bergson (2001), Charaudeau (2006), Propp (1976); Medicina: Spizzirri e Abdo (2000).

A partir deste referencial teórico, buscamos investigar como o protótipo surge e como os estereótipos são criados a partir de modelos aceitos e como eles se organizam. Estes sentidos são institucionalizados pela frequência de uso e funcionam como significados sociais, que continuamente são compreendidos, interpretados e reinterpretados pelas práticas de leitura. Tal classificação reduz a concepção de homem apenas ao campo dos conhecimentos do mundo do gênero, ou seja, a um esquema prototípico, resultante de informações percebidas, ainda não processadas reflexivamente por saberes inscritos nos arquivos da memória semântica de longo prazo. (Cf. Lara, 1996). Para tanto, o pesquisador privilegiará fundamentos da linguística textual sociocognitiva-interativas de modo a atribuir relevo à leitura, concebendo-a como um trabalho interpretativo, inerente à compreensão deste tipo de prática social discursiva.

Justifica-se pela própria delimitação do tema acima, explicitado e pelas leituras da bibliografia, a necessidade de investigá-lo por fundamentos que têm por ancoragem estudos sobre protótipos e estereótipos, explicitados por modelos que organizam e ordenam a produção de sentidos. Esses sentidos, institucionalizados pela frequência de usos, funcionam como significados sociais, continuamente compreendidos, interpretados e reinterpretados pelas práticas de leitura.

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Para tanto, no presente trabalho foram elaborados dois gráficos em que apresentamos os protótipos tanto horizontalmente quanto verticalmente a fim de demonstrar como esses modelos permanecem na sociedade; bem como os estereótipos que nascem também do senso comum, mas refletem as designações ideológicas em relação ao homossexual. No que tange ao homossexual, percebemos que há uma redução da concepção de homem. Ele é silenciado pelos aparatos sociais e quando tem a sua voz, ela vem modalizada pelos estereótipos: afeminado, passivo, que desmunheca, rebola, inflexão na voz.

Para assegurar esta redução, elaboramos um glossário L.G.B.T.T. tendo por base vários dicionários de vocábulos ligados aos homossexuais masculinos e femininos para demonstrar que a sociedade cria muitos termos, que ora estão ligados a aspectos da animalização, da coisificação, algumas metafóricas outras metonímicas. Suscitamos a criatividade lexical. No glossário encontramos termos importados e também ligados ao candomblé, que funcionam como gírias usadas pelos travestis.

Suscitamos uma questão: A partir do conceito de “virilidade” como é construída a imagem do homossexual através do tempo?

Arnaldo Jabor, na crônica acima citada, parte dos estereótipos sociais construídos pelo senso comum e busca desconstruí-los a fim de apresentar-nos o travesti. Este travesti como sinônimo de uma terceira forma, com intenção de apresentar a “virilidade”. Temos um homem que está travestido de mulher, mas mantém a sua virilidade.

Quanto ao objetivo geral da pesquisa é contribuir para a compreensão da homossexualidade.

Os objetivos específicos são:

- Ampliar os conhecimentos prévios sobre o tema com o intuito de compreender os modelos de representação por meio dos quais os homossexuais foram interpretados e avaliados pela sociedade. Para tanto, fizemos uma abordagem histórica, partindo das sociedades tribais, civilizações: egípcia e greco-romana, observando que a sociedade ocidental ainda tem muito vínculo com a civilização clássica;

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análise. Para tanto, abordaremos as noções de categorização, desde Aristóteles, passando por Eleanor Rosch até chegarmos a Georges Kleiber.

Essa noção é capital para reforçar o Capítulo precedente, em relação ao surgimento do conceito de virilidade e da não-virilidade e para que haja entendimento deste, foram construídos gráficos representando os protótipos e estereótipos, bem como um glossário, com o intuito de demonstrar como os vocábulos são criados para designar a homossexualidade sob o ponto de vista negativo, tendo em vista o protótipo e o estereótipo criados pelo senso comum, que reforçam uma intolerância em relação à homossexualidade;

- Analisar a crônica a partir das categorias apresentadas no Capítulo II, partindo do conceito de virilidade e sua contraparte a não-virilidade e buscando observar como o autor Arnaldo Jabor, na crônica “O travesti está na terceira margem do rio”, trabalha com os estereótipos sociais e apresenta um modelo prototípico, que é a homossexualidade, tendo como personagem o travesti.

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CAPÍTULO I

A HOMOSEXUALIDADE ENTRE O GÊNERO, O SEXO E A VIRILIDADE

Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas

(...)

Sofrem pros seus maridos Poder e força de Atenas

(...)

Quando eles embarcam soldados

(...)

E quando eles voltam, sedentos Querem arrancar, violentos Carícias plenas, obscenas

(...)

Geram pros seus maridos Os novos filhos de Atenas

(...)

Elas não têm gosto ou vontade Nem defeito, nem qualidade

Têm medo apenas

(...)

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1.1. Preliminares:

Este Capítulo trata de estudos que fazem remissão à concepção de gênero por uma perspectiva histórica e, por meio dos registros da bibliografia selecionada, foi possível identificar o grau de proximidade e de distanciamento que os sentidos atribuídos aos significados que essa forma vocabular carrega consigo, ao longo da existência humana, para se referir à sexualidade dos homens. Esses registros carregam consigo os conflitos gerados pela pluralidade cultural dessa espécie contraposta à unidade biológica que qualifica o homem como um animal que, pelo sexo masculino, diferencia-se da sua contraparte, a mulher, animal da sua mesma espécie, mas do sexo ou gênero feminino. Esse, à semelhança de outros animais do seu mesmo gênero, se constrói, produz e se reproduz um pelo outro, no espaço do universo da vida e, ao mesmo tempo em que se produz e se reproduz, desconstrói-se pelo mundo da morte.

Uno, invariável quanto aos seus caracteres físico-biológicos e, ao mesmo tempo, tempo múltiplo, variável quanto aos seus caracteres sociocultural-históricos, os conflitos humanos permanecem como tema central de polêmicas intermináveis, mesmo que Confúcio tenha enunciado, anunciado e propagado há quatro séculos antes de Cristo que a natureza humana sempre fora, é e se mantém a mesma, pois são os hábitos que os diferenciam uns dos outros e os mantêm separados. Logo, a sexualidade humana ou suas práticas não são valores essenciais de que se possa fazer uso para classificar, diferenciar os membros dessa espécie entre si. (Laraia, 2001).

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discurso que se explica pelo duplo aspecto da singularidade-pluralidade, ou seja, a semelhança humana se inscreve nas próprias diferenças entre os homens, pois:

Se não fossem semelhantes, os homens seriam incapazes de se compreender entre si e aos seus ancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem e virão a existir, os homens não precisariam da ação e do discurso para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar suas necessidades imediatas e idênticas (....). Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa – como sede, fome, afeto, hostilidade ou medo. (...) a alteridade que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, inclusive com seus semelhantes, tornam-se singularidade, e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade de seres singulares. (Arendt, 1999: pp. 190, 191)

Considerados esses fundamentos referentes à identidade humana que só se deixa revelar pela ação inerente aos processos de discursivização, para tratar das questões do grupo social que se busca identificar pelas escolhas de suas práticas sexuais, fez-se necessário, por um lado, atribuir relevo aos discursos que tematizam a homossexualidade pelos princípios ou pressupostos da antropologia. Esses princípios, delimitados à necessidade de se atribuir relevo aos matizes de significados socioculturais, foram focalizados como heranças dos nossos antepassados, contudo, continuamente modificados, reinterpretados pelas novas gerações; logo, elas sempre implicam e implicaram, recontextualizadas, para atender às lentas mudanças de outras-novas formações sociais.

Esses movimentos transformadores levaram o pesquisador a se situar no campo dos estudos historiográficos e por esse deslocamento, foi possível compreender que os estudos antropológicos se qualificam como uma das vertentes da História da Humanidade. Trata-se de estudos que se referem aos saberes produzidos pelo/sobre o homem, ao longo de diferentes civilizações. São os conhecimentos sobre elas que possibilitam aos seus estudiosos identificar os bens culturais, materiais e não materiais transmitidos entre as diferentes gerações e, por eles, identificar os diferentes e variados usos, hábitos e/ou costumes e crenças que orientam as atitudes, comportamentos, modos de proceder e de agir dos humanos.

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sociocultural-histórico - tivemos o objetivo de responder à seguinte questão: o que se deve ou se deveria entender, compreender por “gênero masculino e feminino”, quando se ultrapassa os limites atribuídos aos significados do termo “sexualidade humana”? Culturalmente, quais teriam sido e quais são os sentidos que se poderia atribuir aos usos desse termo “gênero”, quando se ultrapassa os limites do tempo presente dos estudos das formas vocabulares classificadas em “masculinas” e “femininas”, no campo dos estudos linguísticos? A identificação desses sentidos contribui para ampliar a compreensão sobre a homossexualidade?

Para responder a essas questões o ponto de partida incidiu sobre o estudo gramatical dos gêneros das palavras, propostos pelos estudiosos da língua voltado para o tratamento da flexão.

1.2. Os Estudos Linguísticos do Século XX: questões de gênero e regras.

Tratar o gênero das formas vocabulares por uma perspectiva gramatical implica considerar que as línguas humanas não se explicam e tampouco se deixam descrever apenas por regras que explicam os cálculos ou medidas para combinar as partes que formam a sua estrutura. Elas não são e não funcionam como as ciências do campo da matemática, ou aquele da física ou da química; pois as línguas humanas são lógicas e, ao mesmo tempo, analógicas e o seu sistema de cálculos, embora estável é variável, embora suas variações sejam controladas pelas suas invariabilidade. Por conseguinte, ela varia dentro de certos limites e ao longo da extensionalidade do tempo transcorrido do seu uso, mas sempre de modo lento e, muitas vezes, essas mudanças são imperceptíveis, principalmente para aqueles que não se ocupam dessas suas mudanças.

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vocábulos, fazem remissões às palavras cuja duração é evanescente, por um lado, são perceptíveis pelos sons com que desaparecem tão logo são pronunciadas. Mesmo escritas, essas formas vocabulares só têm significados quando se remetem às palavras conhecidas; pois, se desconhecidas, tais formas nada significam. Logo, as estruturas linguísticas são construções que precisam ter por referenciação a produção de saberes, de conhecimentos prévios sobre elas e esses são e sempre foram sociocognitivo-culturais e históricos, situados nos arquivos da memória como modelos de esquemas psicossociais.

Nesse sentido, ao serem reduzidas a estruturas, as línguas, estudadas e organizadas pela dupla lateralidade dos conhecimentos léxico-gramaticais de que sempre resultou a produção de duas obras complementares: as gramáticas e os dicionários – reduzem os estudos lexicais aos padrões dos estudos gramaticais. Assim procedendo, os estudos semânticos, em razão de eles se qualificarem por um ponto de vista sócio-psíquico-cultural-histórico, são excluídos do campo de investigações da linguística estrutural. Por esse procedimento reducionista, em sendo o homem produtor de significados, também deixa de ter espaço nos mundos das ciências humanas, visto ser ele o único produtor desses significados. Passou-se, desde então, a descrever as estruturas fonológicas, morfológicas e sintáticas das línguas, concebidas apenas como produtos da linguagem: uma invenção do próprio homem que, por ela, se faz um animal relacional e, por essas relações, o único entre todos os demais que é racional e político, conforme já afirmavam os gregos.

Afirma Coseriu (1962) dentre outros estudiosos da linguística moderna que refletem sobre o reducionismo da linguística estruturalista e se esforçaram por reintegrar a semântica como objeto desses estudos, de modo a tornar o homem não só criador, mas usuário da língua por ele falada - sobre a impossibilidade de se dissociar esses estudos daqueles referentes à fala e à linguagem dos seres humanos. Esse fracionamento de que resultou o exílio da semântica e fragmentou esses estudos em várias disciplinas: algumas voltadas para a descrição do sistema e, outras, para os estudos da fala ou das variações de usos desse sistema, diferenciando-se em investigações psicolinguísticas, etnolinguísticas e sociolinguísticas.

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sócio-histórica e antropológica; portanto, por estudos interdisciplinares. Entretanto, os resultados das pesquisas sobre variações e variedades, deixam de migrar de uma área para as outras impossibilitando que eles contribuam para a revisão dos estudos da língua concebida como sistema ideal, para aqueles da língua real, compreendida como produto e produtora dos fatos de linguagem. Afirma Bechara, orientando-se pelos estudos de Coseriu que, exaurido o estruturalismo pelos próprios resultados de suas pesquisas de que resultou a produção de gramáticas “científicas” e a revisão dos estudos sobre o léxico, faz-se necessário rever as chamadas “gramáticas tradicionais contemporâneas”, visto que elas, ao longo de sua existência, sempre foram reinterpretadas por resultados de estudos descritivos.

Assim, ao longo dos últimos anos esse gramático-filólogo tem se dedicado a rever suas descrições gramaticais pelos resultados dos estudos sobre a gramática estrutural. Esse trabalho é orientado por Coseriu (1962) para quem a história sobre os estudos da linguagem sempre foram orientados por duas posições: uma de caráter explicativo e outra de caráter descritivo, e seus estudiosos sempre se ocuparam de rever suas pesquisas explicativas pelas descritivas, ou vice-versa.

Essa posição revisionista também tem sido objeto do trabalho de estudiosos das questões morfológicas que têm se voltado para o tratamento das questões lexicais, mais especificamente, nas últimas décadas do século XXI, de modo a assegurar os estudos semânticos de caráter sócio-histórico-cultural sobre os significados das línguas humanas. Assim, apresentam-se, abaixo, os resultados desses estudos revisionistas que têm a morfologia da língua portuguesa como objeto de observação de análises descritivas e explicativas sobre os processos de suas significações. Observa-se que os mesmos serão assim considerados:

a) aqueles que se referem aos estudos de morfologia que antecedem as gramáticas estruturalistas da primeira metade do século XX;

b) aquele referente aos estudos do período estruturalista;

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1.2.1 O Gênero por uma Perspectiva Léxico-Gramatical

A origem da forma vocabular morfologia é situada no ano de 1830 do século XIX e seu uso está alocado no campo da biologia, onde passou a ser usado, no campo da biologia para se referir ao estudo das formas dos organismos vivos. Trata-se, portanto, de um termo próprio da teoria evolucionista de Darwin que se refere às mudanças das formas das espécies dos animais, por influência do meio e, ao ser transposto para o campo dos estudos linguísticos, por volta de 1860, ele passou a ser empregado, para referir-se ao estudo das formas vocabulares das línguas humanas.

Afirma Laroca (1994: p.11 a 13) que essa concepção de morfologia era desconhecida dos gramáticos da antiguidade clássica greco-romana e mesmo dos gramáticos medievais e daqueles do mundo moderno, cujos estudos antecederam aqueles da primeira metade do século XIX. Todavia e desde então, os estudos gramaticais do período clássico e medieval já dividiam os estudos gramaticais em três partes: flexão ou acidentes, derivação ou formação de palavras e sintaxe. Os estudos sobre a formação de outras novas palavras da língua não se confundiam com aqueles da flexão e já se deixavam compreender pela dinamicidade dos processos de criação de novas designações lexicais, enquanto a flexão se contrapunha à sintaxe, de modo a ser compreendida como um objeto de caráter gramatical.

Nessas primeiras gramáticas, orientadas por princípios filosóficos que situava o homem no campo dos estudos da linguagem, a palavra era concebida como um todo indivisível: o elemento primeiro e fundamento dos estudos linguísticos, ela era classificada por suas características variáveis ou acidentes. A principal função gramatical a elas atribuída como elemento da língua era diferenciar o nome do verbo pelo paradigma das declinações e, a sua principal função como elemento do discurso era nomear os conhecimentos de mundo, de modo a que eles expressassem valores de verdade e não de falsidade.

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meio de palavras, ao dizê-las, implicava o aprender a nomear para argumentar sobre o grau de veracidade referente aos conhecimentos de mundo, por um lado. Por outro lado, essa arte do dizer implicava o saber organizar e ordenar esses conhecimentos, selecionando e combinando as palavras selecionadas entre si pelos princípios da racionalidade: aquele das regras sintáticas da gramática, de modo a que essas palavras pudessem fazer referência ao conteúdo dos conhecimentos comunicados em língua. Pelo ensino desse trabalho respondia o rector: professor de gramática, aquele que conhecia com proficiência a arte do bem dizer para escrever e falar.

Nesse contexto e, em se tratando da aprendizagem da língua latina e - considerando que a sua aprendizagem por povos europeus por meio da colonização e expansão do estado imperial romano – o contato com outras línguas, faladas pelos povos da Península Ibérica, levaria a transformar o latim na língua portuguesa e na espanhola. Diferenciadas entre si por modelos morfossintático-semânticos distintos quanto à produção de palavras, organização e sua ordenação na construção de enunciados, a flexão latina era expressa por meio de casos: o masculino, o feminino e o neutro. Já a língua portuguesa – bem como a língua italiana e francesa - expressará a flexão de gênero apenas pelo masculino e feminino. Observa-se que essa classificação do gênero por casos e não por flexão ainda se faz presente em línguas ditas “modernas” como no alemão, de modo que o gênero pode ser expresso por esses dois critérios classificatórios por seus gramáticos. Outra observação significativa sobre o tema incide sobre o fato de, ao lado da flexão de número, o gênero ser uma categoria que mais se faz presente em todas as línguas faladas pelos humanos, para expressar tanto a concepção de sexualidade quanto a de quantidade.

1.2.2 O Gênero Gramatical: origem, classificação e reclassificação.

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herdado a categoria de gênero de suas antecessoras, ao serem modificadas quanto as suas estruturas e usos, tenham tido delas excluído o gênero gramatical. Derivariam de outras que faziam uso de tais categorias, ou não, são perguntas que não foi possível identificar para elas respostas.

Considerando a questão apenas pelo ponto de vista léxico-gramatical da língua portuguesa, é preciso pontuar que apenas as formas vocabulares que são classificadas como nomes, a princípio, são diferenciadas como formas masculinas ou femininas. Substituídas por pronomes pessoais – “ele”, “ela” - também classificados como masculinos e femininos, em língua latina; entretanto, pronomes impessoais, como “isso”, “isto” - ao contrário de “aquele”, “aquela”, “esse” e “essa”, por exemplo, e também masculinos e femininos, embora masculinos - trazem consigo reminiscências do gênero neutro da língua latina. Observa-se vocábulos que fazem referência a seres inanimados como “estojo” ou “porta” são representados em língua portuguesa como se tivessem sexo e seres animados como “hiena” e “a criança” como se não tivessem significado de sexualidade. Portanto, o gênero não tem apenas a forma dos vocábulos como sinal do morfema “o” que possibilita identificá-la, pois também é identificada por semas como “animado X inanimado”: “sexuado X assexuado”; “macho X fêmea”; por conseguinte, trata-se também de uma classificação referente a aspectos físicos e/ou biológicos.

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Nesse sentido, os gêneros das formas vocabulares que designamos tanto as “as coisas ou seres” do(s) mundo(s) natural(is) têm sido assim classificados morfossintático e semanticamente:

a) vocábulos masculinos – semanticamente identificados como “seres animados do sexo masculino”: homem; boi; trabalhador; garoto; velho; gato; cachorro; Pedro; Malhado, etc.;

b) vocábulos femininos – semanticamente identificados como “seres animados do sexo feminino” – mulher; vaca; trabalhadora; garota; velha; gata; cadela; Joana; Malhada, etc.;

c) vocábulos sobrecomuns – semanticamente identificados como “seres animados do sexo masculino ou feminino”, mas cuja sexualidade não é identificada de forma precisa ou determinada- animal; criança; testemunha; cônjuge, etc.;

d) vocábulos complexos -semanticamente identificados como “seres masculinos ou femininos”, contudo, como substantivos coletivos referentes a seres animados, mas de ambos os sexos- plateia; povo; assembleia; humanidade, etc.

e) vocábulos neutros - semanticamente não são identificados como seres masculinos ou femininos e designam seres inanimados e abstratos – bondade; felicidade; amizade; etc.

A revisão, acima registrada pelos estudos de Bizzocchi (2008: pp.2-3), confirmam a classificação dos nossos gramáticos tradicionais que também pontuam que a concepção de gênero se explica pelo fato de as formas vocabulares nominais da classe dos substantivos poderem ser: uniformes – “cobra”, “pinto”; biformes – “menino” e “menina”, “gato” e “gata”; o ou a estudante” - ou heteronímicas: “homem” e “mulher”, “bode” e “cabra”. Por conseguinte e em relação aos uniformes, o uso de uma das formas “macho” ou “fêmea” - para os animais do gênero da espécie “não humana” – apenas expressam a dualidade semântica da categoria “+ sexualidade” e “+.animado”. Já em se tratando de “estudante” ou “dentista”, à semelhança de “lápis” ou “pires”, expressam o gênero gramatical pelo critério sintático; todavia, quanto ao critério semântico, eles se contrapõem entre si pelos semas “-animados” X “+animados”; razão pela qual se tem o uso de “-o ou –a estudante ou dentista”, em contraposição a “-o lápis”.

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quais essa forma vocabular faz referências a campos discursivos distintos. Assim, o termo “gênero”:

a) no campo discursivo das ciências biológicas se refere à sexualidade humana e, por ele, se denomina conhecimentos que permitem diferenciar o “homem da mulher” por suas características biológicas, ou seja, pelo agrupamento de organismos vivos que formam conjuntos de espécies comuns ou semelhantes – homo sapiens: denominação da espécie humana a que pertence o gênero “homem”;

b) no campo dos estudos linguísticos, delimitados aos estudos da Análise do Discurso, ele se refere a tipos de textos e/ou de discursos que, na antiguidade clássica, se qualificavam ou se classificavam em gênero lírico, dramático, ou satírico e suas subdivisões. Esses textos eram diferenciados entre si por tipos de gêneros literários, hoje, foram ou estão sendo reclassificados por segmentos textuais do tipo narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo;

c) no campo dos estudos linguísticos, delimitados aos estudos das formas vocabulares da língua portuguesa, o gênero se refere aos substantivos uniformes e biformes, conforme referência acima;

d) no campo da música, delimitado aos estudos dos gêneros musicais, é um subcampo do campo, ou área dos conhecimentos expressos por gêneros do discurso musical.

Logo, a palavra gênero é heteróclita, pois ela não se deixa definir por um único significado de um signo, mesmo que seja constituída e expressa por uma única forma vocabular. Essa palavra tem como sistema de referenciação uma classificação bastante variada. Essa variedade faz referência a diferentes campos discursivos ou dos conhecimentos humanos, conforme, o que foi postulado e registrado acima e, quando comparados esses estudos léxico-gramaticais com outras formas de organização ou classificação, ainda se pode atribuir ao gênero valores culturais.

1.2.3 O Gênero por uma Perspectiva Linguístico-Cultural

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gêneros se perdeu ao longo da civilização do oral e remontam aos tempos imemoriais dessas línguas históricas. Embora Hjemslev (1975) já houvesse considerado que, ao querer fazer equivaler o critério de classificação delimitado a parâmetros linguísticos àqueles referentes aos matizes culturais, seus estudiosos observariam graus significativos de distanciamentos entre eles. Para esse autor, bastaria que comparássemos como os animais de tração são classificados pela cultura europeia e, por exemplos, aquela dos que povos vivem nas regiões: a) da Antártica, para quem o animal de tração é o cão, não o cavalo ou o boi; b) da Índia, para quem o animal de tração é o elefante, pois o boi e o cão são animais sagrados, e não um produtor de carne e leite ou um animal de guarda, um colaborador do pastor de ovelhas ou o melhor amigo do homem; c) para os árabes, principalmente das regiões do deserto, o animal de tração é o camelo e d) para os indígenas das regiões dos Andes é a lhama. Assim, não se pode e não se deve, quando se frequenta um restaurante hindu acreditar que nele se poderá comer um filé grelhado de picanha.

Focalizando o gênero por essa perspectiva sociocultural dos grupos humanos, observamos que as línguas são usadas para classificar “as coisas do mundo” por uma perspectiva metafísica ou mítico-religiosa e não somente pela lógica: razão pela qual “árvore” é um nome feminino em várias línguas. Representada pelo significado de ela ser um elemento, um corpo dotado de vida que, por gerar frutos, se auto reproduz, a árvore é representada por um corpo sexuado, dotado de alma, à semelhança do homem. Esse ponto de vista animista – aquele por meio do qual o homem transfere suas propriedades ou características para a própria natureza - justifica a razão de o povo que era usuário da língua latina compreender que a árvore se classificava como palavra do gênero feminino e não do neutro, visto ser ela – dentre outros elementos do mundo natural – associada à figura materna. Já, em se tratando de outros povos, a palavra “moça”, por exemplo, é neutra, tornando-se feminina no momento em que a jovem concebe. Nessa e por essa visão de mundo, afirma Bizzocchi (op.cit.: pp. 2-3), a mulher só é vista como tal quando cumpre seu papel procriador. Nas histórias infantis e para os usuários da língua portuguesa e espanhola,.o Sol representa o homem e a Lua a mulher, mas no imaginário

dos falantes da língua alemã,

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românicas, notadamente o francês, pois em inglês nature e language são palavras neutras.

Na língua portuguesa, a morte é representada por uma figura que tem a forma de esqueleto, coberto por uma capa, cujo capuz lhe cobre a cabeça, armada com uma foice, de modo a representar que ela tem a função de igualar todas as coisas ou elementos vivos. Esses sentidos são expressos pelo uso do gênero feminino.

Nesse contexto em que a flexibilidade do gênero é representada por critérios heterogêneos, levariam os linguistas a postularem não serem as línguas espelho da realidade, mas representações dos matizes culturais por meio dos quais essa realidade é representada pelo imaginário humano. Da comparação entre línguas, observadas as semelhanças inscritas nas diferenças de como elas ora classificam os pronomes pessoais da língua portuguesa em gêneros masculino e feminino referentes às categorias sintáticas das orações frasais. Tais pronomes, classificados como pessoais e usados para substituir palavras que, organizadas pelas categorias semânticas “+ animados” e “+ potência” – aquela expressa pela força do movimento da ação, desencadeada pelo verbo da oração, incide sobre alguém ou algo que é o alvo dessa ação – possibilita diferenciar o sujeito do objeto desse tipo ação. Logo, tanto os humanos como os não humanos são denominados por palavras que exercem a função de objeto; razão pelas quais o homem - e não só os objetos inanimados, desprovidos da possibilidade de serem agentes de uma ação verbal intencional ou proposital – também podem ser representados pelos pronomes oblíquos, quando exercem a função de objeto. Nesse caso, o movimento desencadeado pela ação verbal incide sobre ele; logo o objeto é aquele que foi atingido pelo modo de ser ou de agir do outro: o sujeito da ação verbal.

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função de sujeito de sujeito dessas orações, embora a bola não seja qualificada como objeto dotado de potência que, por si mesma, desencadeia ação capaz de quebrar o vidro da janela. Tal potência se explica pela ação de ela ser chutada pelo menino; logo, a potência está na força do chute: ação desencadeada pelo menino. Mas se o pronome “ele” substitui “menino” e “ela” substitui “bola” –“ Ele quebrou a janela” ou “Ela quebrou a janela” – ambos também podem ser classificados como sujeitos sintático, embora ela esteja substituindo a designação de um objeto, e não a de uma pessoa: aquela que, sintático e semanticamente, é concebida como sujeito de ações. Por conseguinte, em língua portuguesa, a categoria “sujeito” e “objeto” também se revestem da mesma complexidade por meio da qual o gênero é classificado pela sua morfologia, onde a palavra bola, embora seja qualificada pelos semas “-animado” e “-sexuado”, ela se classifica como palavra feminina que pode exercer a função de sujeito. Nesse caso, não há equivalência entre o sujeito semântico e o sujeito sintático ou gramatical de uma oração.

Observadas as diferenças, acima pontuadas, é preciso considerar que a palavra “cachorro” - como: a) animal de tração (esquimós); b) um pária (os hindus); c) um animal domesticado para a caça e para vigilância (europeu) – não poderá ser semanticamente representada, cognitivamente, de maneira única por esses povos e, desse mesmo modo, suas definições semânticas não têm equivalência unívoca nos dicionários das línguas faladas por esses povos. Tais diferenças são aquelas que também diferenciam os discursos produzidos por esses povos, cuja construção dos processos de referenciação também difere entre si. Os discursos por serem produtos da expressividade do uso das formas da língua e das modalidades ou modos do pensar de seus usuários são mais imunes aos fatores etnogenéticos, mas também a eles não se subtrai.

É nessa e por essa acepção que Bizzocchi (op.cit. p. 3.) argumenta:

Militantes contra o preconceito de sexo – erroneamente chamado “de gênero” – acusam as línguas de ter pronomes “sexistas” e exigem mudança até no texto da

Bíblia (frases como “nem só de pão vive o homem” seriam machistas). Tudo porque a evolução fonética fortuita tornou masculinas palavras neutras. E porque a confusão entre gênero gramatical, natural e sexo biológico, estimulada pela adoção de termos gramaticais inadequados, está enraizada em nossas crenças sobre a natureza da linguagem.

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uma das categorias da espécie do mundo animal, em contraposição àquelas dos mundos vegetal e mineral. Aquelas do mundo animal organizam tais conhecimentos em dois gêneros: a dos animais irracionais – reclassificados em domésticos e selvagens, mamíferos e não mamíferos, ovíparos, quadrúpedes e bípedes, etc. – e a dos animais racionais: o Homo sapiens. Observa-se, portanto, que o vocábulo gênero e, de modo extensivo, é uma palavra que recobre a significação do campo semântico por meio do qual são organizados e ordenados por conhecimentos do mundo animal extensivos àqueles que são irracionais e àquele que é racional, ou seja, o homo sapiens.

A sexualidade, por sua vez, é uma propriedade tanto de animais irracionais quanto do homo sapiens e, ambos, pela diferença de forma e de função biológica dos seus órgãos sexuais, são reclassificados como “macho” ou “fêmea”. Essa e por essa distinção sexual é expressa, em língua portuguesa, pelos vocábulos homem – aquele que é um animal racional; portanto, expressa o gênero – e mulher também tem o seu significado inscrito na designação homo sapiens, pois esta locução de sentido genérico não coloca em relevo a sexualidade: ser homo sapiens independe, portanto de questões sexuais. A categoria da sexualidade, por sua vez, está marcada na forma vocabular “mulher” que é classificada como neutra, conforme item 1.2.3 desse Capítulo; razão pela qual o uso da locução adjetiva homo sapiens tem por referência o gênero, mas o uso do substantivo “mulher”, em contraposição a “homem” tem por referência a diferença sexual do homem em contraposição à da mulher.

Nesse contexto, nos itens que se seguem aos antecedentes, topicalizamos a homossexualidade pelo princípio da forma vocabular primitiva que assegura a sua derivação, excluindo o uso da palavra “gênero” para fazer uso da palavra “virilidade”. Por virilidade, temos uma reunião de particularidades que se referem ao homem; potência física, moral. Esse conceito também é extensivo à mulher, conforme epígrafe que abre o presente Capítulo.

1.3 A Virilidade Humana ao Longo do Processo Civilizatório.

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afirmação de alguns historiadores cujas pesquisas não desconsideram os chamados “padrões culturais”. Observa ainda o autor que não se dever negligenciar o fato de esses padrões serem revestidos de “valores”, sejam eles positivos ou negativos, para quem o significado do termo valor é mais amplo do que o significado do termo “moral”, por ser ele extensivo a padrões culturais; portanto, os padrões culturais são valorativos ou ideológicos.

Nessa acepção, Corbin, Courtine, Vigarello (2013) asseveram que o significado do termo latino “virilidade” deve ser compreendido na sua relação com o vocábulo grego “areté”: homem corajoso, respeitado e amante da honra; razão pela qual o significado de “aristocracia” – derivado de “aristos”, ou seja, aquele que é dotado das qualidades do “areté” –significa “o governo dos melhores”. Esta qualidade do homem dotado de areté se fazia extensiva ao “cavalo” cujo porte imponente era expresso até mesmo na corrida. Orientado por esse conceito, Aristóteles dele fará uso para deslocá-lo para o campo da ética para tratar da magnitude de heróis que demonstram o seu orgulho, a grandiosidade das suas ações por praticar a magnificência, ser corajoso e liberal, em relação aos demais homens. Logo, o areté para os gregos ou a virilidade para os romanos compreende qualidades próprias do homem sábio que busca alcançar ou conservar o equilíbrio entre forças opostas; aquilo que mantém a sua dignidade, que propicia um caminhar lento e em voz baixa. Essas características são extensivas às mulheres.

A reinterpretação pelos romanos, um povo guerreiro, pelo vocábulo virilidade denomina não só a concepção de “masculino”, mas se faz extensivo à significação de “nobreza” de modo que a virilidade seria uma virtude, um modelo de procedimentos por meio dos quais as qualidades viris se explicariam pela atitude de um homem “ativo”, ”procriador”, mas também, “ponderado”, “rigoroso”, “contido”, “corajoso” e “comedido”.

No fluxo da História do longo tempo que tem por marco a civilização antiga ou clássica a virilidade se explica por uma tradição severa que, herdada por civilizações que a elas sucederam, parece estar ameaçada, visto que a virilidade sempre oscilou entre certezas e incertezas, dissimulações que comprometeram e comprometem o procedimento viril.

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de outro, a força que se faz necessária para instituir e manter o conceito de virilidade ao longo do tempo. É nessa e por essa longa temporalidade que é possível estudar e compreender a virilidade como uma história que se transforma, modifica-se, ou seja, ela não é estática e imóvel, mas variável de sociedade para sociedade, de grupo para grupo, de indivíduo para indivíduo. Trata-se, portanto, de uma história móvel, visto que as qualidades humanas são continuamente reorganizadas, recompostas no tempo e pelo tempo: não são produtos apenas da vida social, mas também, da vida econômica, mercantil, cultural, psicológica, etc.

Nesse sentido, é preciso considerar que as representações sociais do modelo de homem viril são variáveis e dinâmicas e, orientadas por modelos do mundo imaginário e inscrevem-se como projeções do modo de vida; compreendido e interpretado em dado tempo presente.

Assim, o modelo de homem viril pode agregar valores tais como a elegância e graciosidade em contraposição àqueles de truculência, do combate, da força bruta, ou vice-versa. Os primeiros são vistos como características femininas, que ao ser atribuídas ao homem, tornará afeminado. Observa-se, por outro lado, ser um conceito que não se refere apenas a comportamentos efeminados, visto que tais valores também são interpretados pelo princípio da honra, do combate mesmo para qualificar o comportamento do guerreiro que sempre recorre à espada e não às palavras, às atitudes viris de gentilezas para manter-se honrado. ; para os ingleses um “gentleman”, um homem ou uma mulher “cortês”, para os europeus: o que recebe educação esmerada. Trata-se da formação humanística, de modos de agir, de proceder e de ser que qualificam usos, costumes hábitos dos grupos humanos, diferenciados entre si, conforme estados de processos civilizatórios distintos.

1.3.1. A Virilidade entre os Povos Tribais

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antropologia, ela pode agregar valores de elegância e graciosidade em contraposição àqueles de truculência, do combate, da força bruta, ou vice-versa. Observam ainda que a virilidade não se refere apenas a comportamentos efeminados, visto que os seus valores também são interpretados pelo princípio da honra, do combate mesmo para qualificar o comportamento do guerreiro que sempre recorre à espada e não às palavras, às atitudes viris de gentilezas para manter-se honrado. Assim, os termos “gentleman” ou “lady” para os ingleses têm por referência as normas de “cortesia e foram incorporadas para se referirem aos modos de proceder da mulher ou do homem “sábio”, equivalente ao areté a que se referia Aristóteles ou à virilidade a que se referiam os latinos. Tratam-se de termos que se referem à formação humanística, de modos de agir, de proceder e de ser que qualificam usos, costumes hábitos dos grupos humanos, diferenciados entre si, conforme estados de processos civilizatórios distintos.

Considerado o fato de os homossexuais, que são pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, sempre terem existido entre quaisquer grupos humanos, é preciso ponderar a possibilidade de se identificar estudos que antecedem àqueles das primeiras civilizações humanas, sob a forma de registros rupestres, conforme quadros abaixo. Pontua-se que essa pintura se refere à região da Serra da Capivara, do Estado do Piauí e nela é possível identificar a rotina de caçadores-coletores, bem como a participação de animais em práticas sexuais desses homens pré-históricos.

Figura 1- Registro rupestre, Serra da Capivara-PI

Fonte:

http://www.ufpi.br/20sic/Documentos/RESUMOS/Modalidade/Humanas/Hebert%20Rogerio%20do%20Nasci

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Nesse contexto e considerados os estudos de Paz (Cf. 2002) entre os nativos das duas Américas ibéricas - a do Sul e a Central e a América do Norte – foi possível identificar resultados mais sistematizados sobre o tema, de modo a melhor explicitar o sentido, talvez universal da cultura humana quanto a sentidos de caráter mais universal. São aqueles que, embora valorizem a heterossexualidade atividade necessária para a manutenção e preservação da vida humana na Terra, apresentam um olhar sobre a homossexualidade por uma perspectiva que coloca em relevo o ponto de vista cultural, sem deixar que sobre ele prevaleça uma perspectiva simplesmente ideológica.

Esse autor se detém em pontuar para seus leitores que o Novo Mundo - seja ele focalizado pelo modelo colonizador europeu ou pelo neocolonialismo da América do Norte -sempre foi representado por uma perspectiva permansiva que valoriza os extremos sociais: o barão, o navegante, o fundador e civilizador e o “patucho” - o deserdado, o migrante, o pária da sociedade desenvolvida. No espaço dessas relações de contrariedades, busca descrever o comportamento, o modo de ser e de proceder ou de agir do homem latino-americano, como representação da sua identidade. Assim procedendo, pontua que “Quem teve a visão da Esperança não a esquece. Busca-a embaixo de todos os Céus e entre os homens” Paz (op.cit.: p.22) razão pela qual a esperança é um marco da identidade do patucho. Reitera a necessidade de não se pode abandonar o trabalho incansável de resgatar a identidade do homem latino da qual mexicano partilha. Adverte que tal necessidade se justifica diante de investidas da América anglo-saxônica e do seu incansável e neurótico sistema de diferenciações, pois essa outra América é historicamente exterior àquela do ”pachuco” que sabe como se lançar fora de si para não ser como aquilo que o rodeia: um norte americano anglo-saxão. O “pachuco”, segundo Paz, é um homem que não se deixa revelar quem realmente ele é, exceto essa sua vontade de não ser esse seu outro; mas não se trata apenas de diferenças econômicas como se quer fazer crer.

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expressar sua solidariedade e solidão, o que faz com que muitas vezes sejam qualificados como ariscos, desconfiados ou mesmo resignados. São sentidos por meio dos quais eles buscam zelar não só por suas intimidades, mas também pela intimidade alheia, pois não só as palavras, mas um simples gesto pode significar um agrado ou uma ofensa: palavras ou suspeita de palavras resultam em usos de significações suspensas – razão pela qual as reticências, figuras, alusões são bastante frequentes em suas atividades de fala. Assim, numa disputa verbal fazem opção pelo silêncio e não pela injúria, pois essa preferência funciona como uma muralha capaz de estabelecer o distanciamento do outro: um índice de quem se faz impassível, distante de si mesmo. Essas estratégias, afirma Paz (op.cit. p.200) têm por referência sentidos de hombridade, de virilidade, pois nada há de mais significado para a cultura indígena do que o não se deixar rachar, ou penetrar pelo outro, por suas condutas ou atitudes.

Nessa acepção em que a concepção de virilidade é expressa pelo esforço de jamais “se abrir”, ainda que esse homem possa a vir a se curvar em razão de uma força maior, superior que sobre ele se abate, quando se é vencido pelo inimigo, por exemplo. Entendem que o rachar-se, segundo Paz (2002; p.33) é uma posição assumida por aqueles que são covardes, destituídos dos princípios e dos sentidos de hombridade. Trata-se de um homem que

Puede doblarse, humillarse, “agacharse”, pero no “rajarse”, esto es, permitir que el mundo exterior penetre em su intimidad. El “rajado” es de poco fiar, um traidor o um hombre de dudosa fidelidade, que cuentalos secretos y es incapaz de afrontar lospeligros como se deve. Las mujeres som seres inferiores porque, alentregarse, se abrem. Su inferioridade es constitucional y radica em su sexo, em su “rajada”, herida que jamás cicatriza. (...) Toda abertura de nuestro ser entraña uma dimisión de nuestra hombría..1

Esse modelo de representação de virilidade, quando se refere à mulher – para pontuar seu modo de ser, agir ou se comportar, no espaço público das sociedades civilizadas -valoriza suas atitudes recatadas, de modo que o pudor feminino tem caráter defensivo para proteger sua intimidade. Para o homem essa proteção está na reserva das palavras; razão por que entregar-se a confidências sempre é uma atitude é perigosa, seja para

1

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aquele que faz confidências como para aquele que as ouve; por isso ele jamais deve se abrir e tampouco se entregar a sentimentos que revelem quem ele é na sua intimidade para não correr de ser invadido na terra da sua solidão.

Nesse contexto, Paz situa o tema da homossexualidade entre os povos das Américas ibéricas onde a mulher representa o marco da vida, de perpetuação da espécie que é, por essência, impessoal e, nesse fato “radica su impossibilidade de tener uma vida personal. Ser Ella misma, dueña de su deseo, de su pasión o su capricho, es ser infiel a sí misma (...) no condena al mundo natural2. Tampoco el amor sexual está teñido de luto”3, Cf. Paz (2002: p.40 e 41) como nos países ibéricos – pois, o perigo não está no instinto próprio, mas em assumir esses desejos instintivos de modo individual, como se pudesse ter controle sobre eles. Nessas sociedades, sempre são as mulheres que cativam os homens, seja pela agilidade de seus espíritos, seja pelo movimento de seus corpos; mas elas sempre esperam que eles deem voltas ao redor delas: aguardam para serem festejadas. Assim e à semelhança de um ídolo, ela é a senhora, a dona da sua força cuja eficácia e poder estão na busca do que é sempre secreto para o homem: o seu sexo oculto, que só se torna ativo pela força do cosmo; é na mulher, pela mulher e com ela comungado que os homens se tornam senhores da terra, da água, do ar e do fogo de suas próprias paixões.

Essa interpretação dos conhecimentos referentes ao mundo natural por esses povos indígenas não exclui, por um lado, a concepção de uma má mulher, contudo, essa imagem sempre está associada à ideia de uma atividade sexual insatisfatória, contraposta à de abnegada mãe, ou mesmo daquela que busca os seus homens e os abandona: uma mulher sem pudores, de alma petrificada. Trata-se de uma mulher maldosa, tão independente quanto seu macho: concepção que transcende a sua fisiologia e a sua função natural e social. Por outro lado e nesse mesmo contexto, situa-se a homossexualidade masculina, sempre concebida com indulgência, quando se trata à ação do macho que é ativo, pois “El passivo, al contrario, es um ser degradado y abyecto”.4 Representado por palavras de duplo sentido que fazem alusões à obscenidade, ele se

2 Ser ela mesma dona de seu desejo, de sua paixão ou de seu capricho, é ser infiel a si mesma (...) não

condena ao mundo natural.

3 Tampouco o amor sexual está tingido de luto. 4

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qualifica como um ser ambíguo, aquele que é o vencido, pessoa que não se pode contestar e que se ocupa em tragar, absorver as palavras que ouve para propagá-las aos adversários a quem se submete. Trata-se de um homem perdido por ser deixar ser possuído, violado pelo inimigo dos não homossexuais. Assim e por essa mesma razão sempre foram impedidos pelos povos indígenas de exercerem o papel social de guerreiros – mas apenas os passivos, pois manter relações homossexuais com o vencido, na condição de homossexual ativo, era descobrir estratégias para vencer os guerreiros inimigos.

Esse modelo de representação das relações homossexuais que, segundo Paz, (2002: p.44.45 e 46), atribui significativo valor ao no abrirse” y, simultaneamente, rajar, herir al contrario, adverte sobre os caminhos da mentira” que, se por um lado nos leva à autenticidade, por outro, um excesso de

sinceridad puede nos condicirmos a formas refinadas de la mentira. Quando nos enamoramos nos abrimos , mostramos nuestra intimidad, ya que uma viejar adición quiere que el que sufre de amor exhiba sus feridas ante la que ama. Pero al descobrir sus llagas de amor, el enamorado transforma su ser em uma imagem, em um objeto que se entrega a la contemplação de La mujer – e de si mismo. Al mostrasse, invita a que lo contemplen com los mismos ojos piadosos com que él se contempla. La mirada ajenaya no lo desnuda; lo encubre de piedad. Y al presentarse como espectaculo y pretender que se le mire com los mismos ojos com que él se ve, si evade Del juego erótico, pone a salvo su verdadero ser, lo substuye por una imagem. Subtrae su intimidad, que se refugia em sus ojos que son nada más contemplación y piedad de si mesmo (....). Lo amor es una tentativa de penetrar en outro ser, pero so lo puede realizarse a condicion de que la entrega sea mutua. No se trata tanto de penetrar la realidade, através de um cuerpo, como de violar”.5

Nesse e por esse contexto sociocultural-histórico, tornou-se possível identificar a questão da homossexualidade entre povos da civilização egípcia e greco-romana.

5

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1.3.2. A Virilidade e a Homossexualidade entre os Egípcios.

Os estudos de Brancaglion Júnior (2012) sobre homossexualidade na civilização egípcia, ao contrário daqueles referentes à civilização greco-romana, são bastante escassos, o que faz pressupor ter sido o povo daquele império faraônico destituído de valores eróticos. A esse fato é preciso acrescentar que a escassez desses poucos registros não ser extensiva para todos os membros daquela sociedade, pois aqueles existentes incidem sobre pessoas de status elevados, visto não há informações sobre os menos favorecidos. Outra questão relevante, para o estudioso dessa questão cultural, é a proximidade com a cultura greco-romana, embora os egípcios sejam mais antigos dos povos a se organizarem sob a forma de Estado Imperial e sua cultura não seja tão próxima daquela dos Impérios grego e do romano, há certo grau de contaminação interpretativa. Assim, prevalece certa tendência de associar a cultura egípcia a esses dois povos e não àqueles do mundo oriental e do africano. Outra questão problemática se deve ao fato de os egípcios não disporem de uma palavra capaz de fazer remissão a significados que pudessem definir com precisão as relações sexuais entre indivíduos do mesmo sexo.

Nesse contexto de dificuldades que incidem sobre a homossexualidade, para tratar de uma formação social que por três mil anos se fez presente sobre a Terra, o autor organiza seus estudos em três tópicos, quais sejam: a) como representação divina, compreendida por meio dos mitos e pelo mundo dos mortos; b) como representações literárias, associadas aos reis; c) como representações particulares, explicitadas por meio de imagens e/ou textos, associadas àqueles que eram representantes daquele estado do poder imperial.

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trono real, muito embora no Papiro Kahun, são destacados os atrativos de Hórus como a principal razão que levaria Seth à prática do homossexualismo. Ressalta o autor que, no Papiro Chester Beatty, tem-se a narração em que Isis, mãe de Hórus, masturba o seu filho e recolhe o sêmen por ele ejaculado sobre uma folha a alface que é comida por sua mãe. Essa informação é complementada por dados do Templo de Edfu que, por meio de registros escritos de uma oferenda ao deus Min, traz o seguinte enunciado: “Deixe o seu sêmen penetrar no corpo do (seu) inimigo, que ele engravide de um filho seu” (Brancaglion Júnior, 2012:. p. 71).

Observa o autor que os papéis sexuais da sociedade egípcia não só eram bem definidos e - por estarem associados a uma ordem cósmica - a manutenção dessa ordem social era organizada pelo próprio cosmos. Assim, carregar consigo o sêmen do inimigo seria uma ameaça e exercer o papel de inimigo da própria ordem divina; razão pela qual o homossexualidade não tem relações com opções sexuais de Seth e sim para significar a relações não harmoniosas entre ele e Maar; por isso Seth não poderia herdar o trono egípcio.

O mundo pós-morte era concebido pelo povo egípcio como lugar do espaço cósmico habitado não só por deuses, mas também pelos mortos que nele perpetuariam suas vidas terrenas e, com/por ela, perpetuavam suas atividades sexuais. Nessa acepção, em “Textos dos Caixões” pode-se encontrar o seguinte registro: “Atum não tem o poder sobre (nome do morto) , ele copulou com seu ânus” – passagem que faz referência à prática homossexual, entendem alguns estudiosos, já outros afirmam tratar de demonstração de poder pela imposição de sodomia e não uma relação entre dois homens. (op.cit; p.71). Segundo o ator e, contudo nos Livros dos Mortos é que se pode identificar de forma mais explícita essa prática entre os egípcios, onde ela sempre aparece sob a forma velada de um hábito praticado não só durante a vida terrena, mas também a vida pós-morte. Todavia a sua condenação pelo Tribunal Divino, presidido por Osíris, implicava o fim da existência para a vida póstuma.

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para situar a figura de Neferlcare, provavelmente, o faraó Pepi II e a do faraó Amenhotep II, esse e não demonstra qualquer preferência pelo sexo feminino, pois nenhuma esposa real está associada a ele e, em alguns monumentos, tem-se citação sobre sua mãe como aquela que exerce o papel de esposa real. Sobre Amenhotep tem-se a identificação de um oficial da corte, Usersater, e muitas especulações sobre a sexualidade desse faraó, mas são informações de caráter especulativo - ao contrário do faraó Pepi II que mantinha relacionamento íntimo com um general chamado Sasenet. Assim e à semelhança de outras composições fragmentadas é possível identificar que esses contos tinham como leitores pessoas pertencentes a grupos ilustres que viviam nos palácios para servirem aos seus faraós ou a sacerdotes dos templos sagrados– escribas, secretários, contadores ou coletores de impostos, por exemplo, que se ocupavam de registros escritos.

O general Sasenet não teria uma esposa e vivia sozinho, ao contrário de Pepino que, mesmo casado, frequentava a sua casa à noite, depois de lhe fazer um sinal para que uma escada fosse abaixada pelo muro e ele pudesse entrar e nela se encontrarem. Retornava ao palácio pouco antes do amanhecer, mas “Depois que sua majestade tivesse feito tudo que desejasse” – essa mesma expressão “fazer tudo o que desejava” também está registrada nos templos de Deirel Bahari, mas se refere à rainha, o que faz pressupor ser o rei aquele que assume o papel de homossexual ativo nessa sua relação. Segundo tais registros, esses são fatos que só apontam para hábitos que ilustram o comportamento de governantes de um Egito decadente.

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máxima: “Não tenha relações homossexuais com um efebo.”, para advertir sobre esse comportamento que, para os egípcios, era avaliado como antissocial; contudo, não se identifica nesses textos sentidos que visam à condenação dos homossexuais, por se tratar de advertências.

Os estudos desse autor resgata imagens cunhadas em uma tumba da V Dinastia egípcia, construída para alojar o corpo de dois homens e suas respectivas famílias - Niankhknum e Khnumhotep, ambos Supervisores dos Manicures do Palácio - na pirâmide de Djoser, na Necrópole de Saqquara. Essas imagens cunhadas os representam em poses próprias de casais, observado o fato de o sentimento conjugal ser expresso por abraços e a posição das mãos e do corpo indiciarem práticas sob o comando da mulher no corpo de seu marido. Embora esses dois homens possuíssem esposas e filhos, suas imagens estão representadas em posição secundária, onde o primeiro ocupa a posição masculina e o segundo, a feminina que é abraçado, ao mesmo tempo em abraça o primeiro, e é tocado pelas mãos de Niankhknun. Tais cenas estão no pilar central da antecâmara e na sala de oferendas, onde seus rostos estão próximos de modo a tocar a ponta de seus respectivos narizes e a possibilitar que se compreenda que tais relações seriam perpetuadas por toda a eternidade. (cf. p.74 e 75).

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intercorrelação entre o masculino e o feminino – estabelecia a forma do universo, de sorte que o homossexualismo era compreendido como negação desse poder vital; razão pela qual essa modalidade de relação homossexual era avaliada como desperdício do sêmen humano, símbolo de infertilidade. Apresenta-se, abaixo, quadro referente à descrição, acima:

Figura 2 Gravura da Homossexualidade no Egito Antigo

Fonte:

https://www.google.com.br/search?q=imagens+de+homossexuais+no+antigo+egito&newwindow=1&tb. - Acesso em 12/09/2013.

Nesse contexto e considerados os estudos de Paz entre os nativos das duas Américas Ibéricas - a do Sul e a Central – é possível identificar o sentido, talvez universal da cultura humana que valoriza a heterossexualidade como ação para a manutenção e preservação da vida humana na Terra, em detrimento da homossexualidade. Outra questão relevante, ressaltada por sociólogos que tratam desse mesmo tema, é observar que as sociedades primitivas não estavam preocupadas com o tipo de relação sexual, mas sim, com o número de filhos que poderiam ser gerados uma vez que não havia o controle da natalidade.(Cf. Paz, 2002).

1.3.3. A Virilidade entre os Greco-Romanos e os Modernos:

Imagem

Figura 1- Registro rupestre, Serra da Capivara-PI
Gráfico dos protótipos:
Gráfico dos estereótipos
Figura 1  –  Maquete eletrônica do projeto Guggenheim no Pier Mauá de autoria de Jean  Nouvel (2006-2007)
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Referências

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