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Educação Superior no PNE

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Educação Superior no PNE 2014 - 2024

Elber Almeida, Natasha Almeida e Peirol Gomes

As universidades brasileiras passaram por dois momentos históricos fundamentais para sua expansão e consolidação. O primeiro foi um movimento de expansão do ensino superior iniciado com a redemocratização, em 1946; e o segundo, um movimento de contenção pela chamada “crises dos excedentes”, em 1968, que se caracteriza, por uma situação em que havia candidatos aprovados para ingresso na universidade, mas que não podiam iniciar o curso pela falta de vagas.

A partir deste processo, muitos estudantes passaram a ficar de fora da universidade por uma questão política, que se justificava pela manutenção da qualidade e que ao mesmo tempo intensificou o processo de concentração de vagas no ensino superior. Diante dessa situação, surge a necessidade de implementação de políticas educacionais, que tenham como principal objetivo, reduzir as desigualdades de acesso as camadas mais elevadas do ensino, atender a demanda crescente pelo ensino superior, além de melhorar qualitativamente todos os aspectos desse nível, como carreira docente, programas de pós-graduação e regular novos setores educacionais privados.

É diante desses desafios que nasce o PNE 2001 - 2010, que deveria responder a lacunas históricas até então não contempladas de forma parcial ou em sua totalidade. Nesse PNE é previsto uma articulação da sociedade civil e os entes federados para promover a oferta de educação para todos, os eixos centrais eram redemocratização e expansão, considerando os seguintes metas:

1. Oferta: promover, até o fim da década, a aferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos.

2. Financiamento: estabelecer um sistema de financiamento para o setor público, que considere na distribuição de recurso para cada instituição, além da pesquisa, o número de alunos atendidos, resguardar a qualidade dessa oferta. Os recursos gastos com a educação até 2010 atingiram em torno de

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5% do PIB e no nível superior ficam em apenas 0,8% do PIB em 2010.

No entanto, esse PDE pode ser caracterizado muito mais como um

“programa de metas” do que um plano, já que não há a descrição de estrategias necessárias para sua realização. Para atingir as metas do PDE, três instrumentos foram considerados como determinantes e que são responsáveis pelos números apresentados até os dias de hoje (Lima, 2013):

a) Reestruturação e expansão das universidades: REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais e PNAES - Plano Nacional de Assistência Estudantil;

b) Democratização do acesso: PROUNI - Programa Universidade para Todos, reformulação do FIES - Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior;

c) Avaliação e regulação: SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior via ENADE - Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes.

O PNE atual está em fase inicial de implementação. Neste sentido, a discrição acima é interessante para entender um pouco o desempenho do cumprimento das metas e realizar uma projeção de perspectivas futuras.

Descrevendo as principais metas para o ensino superior:

Meta: 12

● elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%

(quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público .

Segundo os dados do PNE /2013, estamos com um porcentual de 30,3%

da meta atingida quando olhamos para o Brasil, dentro da população que frequenta a educação superior entre 18 a 24 anos, sendo que a região Centro - Oeste tem o maior índice com 40,4% e Norte o menor com 25,3%.

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Quando olhamos para a taxa líquida da população de 18 a 24 anos de idade que frequenta ou já concluiu a educação superior, ao total de toda a população de 18 a 24, temos um porcentual de 20,1% no Brasil com o pior resultado na região nordeste com 14,2%.

Como observado nos indicadores, o maior desafio apontado pelo Plano é as taxas por estado e por região, sobretudo nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.

Cada município também possui uma realidade diferente em termos da oferta e do acesso à educação superior (MEC/SASE, 2014).

Com relação a situação atual de implementação do novo PNE, é interessante destacar que as metas de ampliação da proporção de matrículas no ensino superior são muito semelhantes às metas antigas, o que indica pouca evolução no quadro. Isso tem a ver com o baixo crescimento na proporção do PIB investido na educação superior pública, que entre 2000 e 2013 oscilou entre 0,07% e 0,8% do PIB. Com isso, a meta de uma taxa líquida de matrícula de 30% não chegou a ser atingida pela metade, tendo como resultado final só 14,9%.

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Segundo o artigo “Política de financiamento da educação superior – análise dos planos nacionais de educação pós-constituição de 1998” de Vera Lúcia Jacob Chaves e Nelson Cardoso Amaral, a expansão do ensino superior público, de forma a atingir um mínimo de 40% de matriculados em universidades públicas com relação ao total de matriculados no ensino superior (meta antiga), e uma qualidade mínima relacionada ao nível médio de investimento dos países da OCDE, demandaria investimento de 1,54% do PIB em ensino superior público o Brasil, o que estaria relacionado a um investimento de 10% do PIB em educação. A nova meta do PNE estabelece 10% do PIB para educação só para o fim do plano, 2024. Além disto, coloca que é necessária que na ampliação de vagas no ensino superior 40%

seja de vagas no setor público, porém, não que ao final do plano 40% dos matriculados estejam em instituição pública, o que é claramente um rebaixamento da meta.

Rebaixamento da meta, afinal, o ensino superior privado tem qualidade muito inferior ao que vemos no ensino superior. O que pode ser confirmado, por exemplo, quando analisamos a meta correspondente ao número de mestres e doutores lecionando no ensino superior no Brasil. A meta estabelece um aumento no número de mestres para 60000 até 2024, sendo que hoje temos 45000 vindos de um aumento acelerado.Com relação aos doutores a meta é 25000 e o número atual supera os 15000, com um ritmo de crescimento também grande. Porém, quando observamos especificamente o ensino superior privado, vemos que o índice de doutores em 2012 era de apenas 17,8%, e de mestre de 45,5%, segundo dados do INEP.

Meta 13:

● a elevação da qualidade na educação superior e ampliação da proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35%

(trinta e cinco por cento) doutores.

Quando olhamos para o número total de docentes com mestrado ou doutorados no ensino superior temos um indicador de 69,5%, muito perto da meta.

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O maior desafio dessa meta é atingir esse porcentual nas instituições privadas, que históricamente possuem professores menos capacitados e altamente explorados, quando comparados com as universidades públicas. (MEC/SASE, 2014).

Dentro desse cenário, algumas políticas foram pensadas com o objetivo de alcançar os indicadores das metas propostas, como é o caso da política de cotas, que são conhecidas como ações afirmativas de inclusão social, e que funcionam pela reserva de vaga em universidades públicas ou privadas. Por meio das cotas vem ocorrendo uma diversificação no perfil de estudantes que acessa o nível superior, esses novos estudantes muitas vezes são oriundos de escolas públicas, afro-descendentes, ou indígenas.

Apesar da adesão das cotas por várias instituições de ensino superior, este tipo de política gerava posições contraditórias, tanto no meio acadêmico, quanto fora dele e muitas vezes agravando o desconforto nos próprios estudantes.

Em meio a esses vários questionamentos no ano de 2012 o governo Federal aprovou a Lei de Cotas nas Universidades Federais de acordo com a Lei nº 12.711, embasada no Supremo Federal Nacional, que no dia 25 de abril de 2012 julgou as ações de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental propostas pelo DEM - Partido Democrata, contra a Universidade de Brasília pelo seu sistema de cotas, em que o resultado foi unânime, pois considerou a ação improcedente, declarando constitucional a política de cotas utilizada pela universidade, levando o governo federal definitivamente regulamentar a situação criando a Lei. Sendo assim, ficou determinado que 50% das vagas em universidades e institutos federais ficam reservadas a estudantes que frequentaram

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todo o ensino médio em escolas públicas. O decreto deixa claro para as instituições quais critérios devem ser considerados para aceitar um estudante como cotista.

Exemplificando tal política, a esperiência da UFABC é emblemática. Já que em seu primeiro vestibular organizado pela Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista (Vunesp), realizado em julho de 2006 em duas fases. Entre as 1.500 vagas oferecidas no processo seletivo, 750 foram reservadas para alunos que haviam cursado o ensino médio integralmente em escola pública.

Desse contingente, foram destinadas 204 vagas (27,3%) para negros e 2 (0,1%) para índios. O que possibilitou a formação de um corpo estudantil diverso, que em 2013 chegava a 41,66% de estudantes cotistas (Pinezi; Zimerman; Silva, 2012).

Além dessa política, é interessante dar maior atenção a duas delas que estão numa fase transitória muito importante, pois já foram implementadas numa primeira parte e agora foram ou estão sendo reavaliadas para ter diretrizes e indicadores mais próximos das estratégias da meta.

Por exemplo o FIES, que teve um aumento relevante no número de contratos a partir do ano de 2010, graças a algumas medidas tomadas pelo governo como diminuição dos juros para contratação, aumento do prazo de quitação, a autorização de contratação durante qualquer período do curso, entre outras. Essas mudanças fizeram com que o governo aumentasse em 13 vezes os seus gasto com crédito estudantil de 2010, que era de R$ 1,1 bilhão para R$ 13,7 bilhões em 2014.

De frente com esse aumento gigantesco de concessão de crédito, algumas empresas do setor educacional, como por exemplo, o grupo Kroton- Anhaguera, se tornaram um dos maiores recebedores dos repasses educacionais feitos pelo governo, recebendo valores anuais maiores que a Odebrecht, uma das construtoras responsáveis pela maior parte das obras do país. Entretanto, para 2015, o governo mudou as regras do financiamento estudantil, reduzindo em 47,5%

o número de contratos feitos no primeiro semestre desse ano em comparação com o mesmo período do ano anterior. Com as mudanças, o governo espera entre outras

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coisas, dar prioridades para regiões como Nordeste, Norte e Centro-Oeste e também forçar que as universidades particulares melhorem seu nível de ensino, pois será dado prioridade para alunos matriculados em cursos com nota 5 ou 4 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES).

Outro exemplo que deve ser pontuado é o programa Ciência sem Fronteiras. O programa surgiu em 2012, com a meta de distribuir 101.000 bolsas distribuídas entre doutorado sanduíche (15.000) ou pleno (4.500), pós-doutorado (6.440), graduação sanduíche (64.000), desenvolvimento tecnológico e inovação no exterior (7.060), atração de jovens talentos (2.000) e pesquisador visitante (2.000).

Ele cumpriu todas as suas metas até o final de 2014, porém, antes mesmo de ser avaliado e analisado a presidenta Dilma Rousseff, já havia lançado a versão 2.0 do programa, prometendo mais 100.000 bolsas de 2015 até 2018. Entretanto, o programa é muito questionável devido ao seu alto custo. Estimasse que a primeira etapa tenha custado R$ 10 bilhões de reais aos cofres públicos. Dessa forma, os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, que são os gerenciadores do programa, junto com a CAPES, CNPq e presidência da república estão discutindo e avaliando o programa antes de implementar a primeira rodada da fase 2.0. Espera- se que nele ocorra um fenômeno parecido com o ocorrido no FIES no começo de 2015, com a criação de maiores requisitos para participação para aumentar o índice de qualidade dos bolsistas do programa.

De forma geral, todas as políticas tem alcançado resultados positivos, entretanto, em algumas delas como o Ciência sem Fronteiras, é muito complicado se medir o resultado direto das ações pois a política visa um retorno a longo prazo.

Mas dois questionamentos interessantes a respeito delas são os seguintes:

1 – Vale a pena investir R$ 10 bilhões de reais para distribuir 101.000 bolsas? O governo precisa reduzir os custos do Ciência sem Fronteiras? Ou ele precisa aumentar os critérios de seleção, para distribuir um número menor de bolsas, mas com uma certeza de retorno e de qualidade dos bolsistas muito maiores?

2 – O FIES sem dúvida possibilitou que muitas pessoas tivessem acesso ao ensino superior graças ao financiamento estudantil. A questão é, a educação superior se tornou um produto, altamente rentável para algumas empresas e isso não é um problema, porém, como o governo pode exigir qualidade de ensino?

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Referências:

BRASIL, Ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio n.o 29 de agosto de 2012. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12711.htm. Acesso:

14 de maio de 2013.

Planejando a Próxima Década Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de

Educação, disponível em:

http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf.

LIMA, Paulo Gomes. Políticas de educação superior no Brasil na primeira década do século XXI: alguns cenários e leituras. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, v. 18, n. 1, p. 85-105, 2013.

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC. Perfil e Opinião Discente. São Paulo, 2013.

CHAVES, Vera Lúcia Jacob. AMARAL, Nelson Cardoso. Política de financiamento da educação superior- análise dos Planos Nacionais de Educação pós- constituição/1988. In: Revista Eletrônica de Educação. São Carlos (SP):

Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2007-. Semestral. ISSN 1982-7199. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br.

CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS. Site oficial do programa. Disponívelem:

http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa. Acesso em 25 jul.

2015.

PIOVEZAN, Stefhanie. Ciência sem Fronteiras é ‘bom’para 53% dos bolsistas e

‘fraco’para 5%. G1, São Carlos, 17 de julho.2015. Disponível em:

<http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/07/ciencia-sem-fronteiras-e- bom-para-53-dos-bolsistas-e-fraco-para-5.html>. Acesso em 25 de jul. 2015.

FIES. Site oficial do programa. Disponível em: <http://sisfiesportal.mec.gov.br>.

Acesso em 25 jul 2015.

PINEZI, Ana Keila Mosca; ZIMERMEN Artur; SILVA Sidney Jard da. Ações Afirmativas na Universidade Brasileira: a experiência da UFABC, R. Bras. Est.

Pedag., Brasília, v. 93, n. 233, p. 147-165, jan./abr. 2012.

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