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A cidade de São Paulo do século XVIII: a importância da indumentária ( )

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Sandra Regina da Silva

A cidade de São Paulo do século XVIII:

a importância da indumentária (1765 - 1776)

Mestrado em História Social

São Paulo 2017

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Sandra Regina da Silva

A cidade de São Paulo do século XVIII:

a importância da indumentária (1765 - 1776)

Mestrado em História Social

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em História Social, sob a orientação do Prof. Dr. Amílcar Torrão Filho.

São Paulo 2017

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Aos meus pais, Maria José e Sebastião, meus maiores incentivadores, dedico a vocês esta conquista e vitória.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pela realização deste projeto.

À minha família, pelo apoio e compreensão durante esse período de muito estudo. Especialmente ao meu irmão Celso, que teve a paciência de ler e me ajudar a corrigir os erros de digitação.

Não posso deixar de agradecer à CAPES e ao CNPq, pelo apoio financeiro concedido para a realização deste trabalho.

Ao meu orientador, Amílcar Torrão Filho, pela sua orientação, confiança, paciência e por ter acreditado neste projeto desde o início, meus sinceros agradecimentos por tudo.

Agradeço à Profª Drª Maria Aparecida Menezes de Borrego, coordenadora do projeto Espaço doméstico e cultura material em São Paulo colonial a partir do estudo de acervos do Museu Paulista - USP, modalidade Jovem Pesquisador (Fapesp 2010/52585-4), que me recebeu muito bem quando fui até o seu local de trabalho, o Museu Paulista - USP, no qual me indicou uma bibliografia que enriqueceu muito este trabalho. À Profª Drª Estefânia Knotz Cangaçu Fraga, pelas aulas ministradas nas disciplinas de Pesquisa Histórica e Cultura e Representação. A essas professoras agradeço imensamente pelas opiniões, sugestões e apontamentos na qualificação, que foram importantes para a realização desta dissertação.

Aos funcionários do Arquivo do Estado de São Paulo, que durante o período de pesquisas foram sempre atenciosos e gentis.

À bibliotecária do Arquivo Municipal Tomiko, que teve a consideração de ligar na minha casa dizendo que havia separado um artigo sobre vestimenta do século XVIII que se encontrava na Revista do Arquivo Municipal. Isso me motivou ainda mais a seguir em frente com este projeto.

Ao meu primo, afilhado e funcionário Thiago, pela força que me deu durante todo esse tempo de estudo, ficou segurando as pontas na empresa para que pudesse me dedicar com mais tranquilidade às minhas pesquisas. À minha sobrinha

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Gabrielle e mais uma vez ao Thiago, por me acompanharem na viagem ao Rio de Janeiro, onde estive para pesquisar os manuscritos do Morgado de Mateus, que estão arquivados na Biblioteca Nacional.

Aos meus amigos do curso de mestrado Ana Paula, André, Cris, Felipe, Lucas, Priscila, João, Yuri e Zé Roberto. Não esquecerei a “Panelinha” nem a nossa viagem a Florianópolis.

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RESUMO

Este trabalho dedica-se a levantar dados da vida material no século XVIII, através de inventários e testamentos, verificando-se como eram as roupas de homens, mulheres e crianças. Essas informações estão descritas nos arrolamentos de bens dos inventários, onde estão os usos e costumes da vida cotidiana dessa gente. Todos esses bens eram de extrema importância para os herdeiros, às vezes era tudo o que restava de seus entes queridos. Não somente o vestuário dos civis, também ganharam bastante destaque nesse período os uniformes militares, examinados no estudo através de iconografias que representam o cotidiano das pessoas no século XVIII, como se vestiam e também como se vestiam os soldados da colônia. Quem confeccionava essas vestimentas, sapatos e tecidos eram os profissionais das “artes mecânicas”: alfaiates, sapateiros e tecelões. Esses profissionais formavam o trio dos oficiais da beleza.

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ABSTRACT

This work is dedicated to collecting data on material life, through inventories and wills, as were the clothes of men, women and children. This information is described in the inventories of goods and inventories, where are the customs and customs of daily life of these people. All these goods were of the utmost importance to the heirs, sometimes they were all that remained of their loved ones. Not only civilian clothing, but also military uniforms, gained prominence during this period through iconographies, which represent the daily lives of people who lived in the eighteenth century, as they wore and wore, and dressed as the soldiers of the Colony. To make these garments, such as: shoes, fabrics, were the professionals of the "mechanical arts": tailors, cobblers and weavers. These professionals form the trio composed by beauty officials.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 18

CAPÍTULO I – FESTA E FARDAMENTO: O EXTRAORDINÁRIO E O COTIDIANO NA SÃO PAULO DO MORGADO DE MATEUS... 35

1.1 O COTIDIANO À ÉPOCA DO MORGADO... 35

1.2 O FARDAMENTO... 59

CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DA INDUMENTÁRIA EM SÃO PAULO: O MORGADO DE MATEUS E A VESTIMENTA DOS ÍNDIOS... 93

2.1 A IMPORTÂNCIA DA INDUMENTÁRIA... 93

2.2 SERTÃO DO TIBAGI: A VESTIMENTA QUE DOMESTICA E CIVILIZA OS ÍNDIOS... 112

CAPÍTULO III – VESTIMENTA E DISTINÇÃO: GÊNERO, IDADE E SEPULTAMENTO... 142

3.1 ROUPAS DE MULHER... 142

3.2 ROUPAS DE HOMEM... 159

3.3 ROUPINHAS... 175

3.4 A MORTALHA... 180

CAPÍTULO IV – CULTURA MATERIAL: TECELÃO, ALFAIATE E SAPATEIRO... 191 4.1 TECELÃO... 191 4.2 ALFAIATES... 198 4.3 CABELEIREIROS... 213 4.4 SAPATEIROS... 215 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 225 FONTES E BIBLIOGRAFIA... 229 GLOSSÁRIO... 244

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Uniformes da capitania de São Paulo... 23

Figura 2 - Uniformes da capitania do Rio de Janeiro... 24

Figura 3 - Vestimenta - Rio de Janeiro, 1776... 28

Figura 4 - “Modello de modo de trajar das senhoras da cidade de S. Paulo” – Século XVIII... 29

Figura 5 - Conde de Assumar... 59

Figura 6 - Uniformes dos oficiais granadeiros da guarda francesa (1760)... 64

Figura 7 - Uniformes do Regimento de Infantaria da Praça de Cascais (1762).... 66

Figura 8 - Uniformes do Regimento de Infantaria da Praça de Cascais (1777).... 67

Figura 9 - Uniformes do Regimento de Infantaria de Cascais (1783)... 68

Figura 10 - Regimento de Infantaria de Cascais - Fardamento... 69

Figura 11 - Uniforme dos oficiais... 71

Figura 12 - Uniformes dos oficiais do Têrço de S. José (Rio de Janeiro)... 72

Figura 13 - Uniforme dos oficiais do Têrço de Santa Rita (Rio de Janeiro)... 73

Figura 14 - Uniformes dos oficiais do Têrço dos Pardos (Rio de Janeiro)... 74

Figura 15 - Uniformes dos oficiais da Companhia de Cavalaria da Guarda dos Vice-Reis (Rio de Janeiro)... 75

Figura 16 - 1º Corpo de Cavalaria de Dragões de São Paulo e Divisas do Sul – corpo amarelo... 79

Figura 17 - 2º Corpo de Cavalaria Ligeira de Guaratinguetá e Divisas do Norte – corpo azul liso... 80

Figura 18 - 1º Corpo de Infantaria de Serra Acima de São Paulo e Divisas do Sul – corpo encarnado... 81

Figura 19 - 2ª Companhia de Auxiliares de Cavalo de Curitiba – corpo branco todo... 83

Figura 20 - 2º Corpo de Infantaria de Serra Acima de Guaratinguetá e Divisas do Norte – corpo azul-escuro... 84

Figura 21 - 2º Corpo de Infantaria da Marinha de Paranaguá e Divisas do Sul – corpo azul-escuro e branco... 85

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Figura 22 - Homem de capote e chapéu largo, no início do século XIX, desenhado por Labrousse, gravura de St. Sauveur. Senhoras usando manto ou mantilha em Portugal, desenhadas por José

Teixeira Barreto... 99

Figura 23 - Vestimentas do século XVIII - 1776... 101

Figura 24 - Trajes no século XVIII - 1776... 102

Figura 25 - Vestimenta de escrava - 1776... 106

Figura 26 - Vestimentas de escravas pedintes da festa do Rosário - século XVIII - 1776... 107

Figura 27 - Coroação nos festejos de Reis - século XVIII - 1776... 108

Figura 28 - Cortejo da Rainha Negra na festa de Reis - século XVIII - 1776... 108

Figura 29 - Coroação da Rainha Negra na festa de Reis - século XVIII - 1776.... 109

Figura 30 - Extração de Diamante - século XVIII - 1776... 111

Figura 31 - Cena 1 e cena 2 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 114

Figura 32 - Cena 3 e cena 4 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 115

Figura 33 - Cena 5 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 116

Figura 34 - Cena 6 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 117

Figura 35 - Cena 7 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 118

Figura 36 - Cena 8 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 119

Figura 37 - Cena 9 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 119

Figura 38 - Cena 10 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 120

Figura 39 - Cena 11 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 121

Figura 40 - Cena 12 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 121

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Figura 41 - Cena 13 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 122 Figura 42 - Cena 14 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 123 Figura 43 - Cena 15 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 123 Figura 44 - Cena 16 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 124 Figura 45 - Cena 17 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 125 Figura 46 - Cena 18 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 125 Figura 47 - Cena 19 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 126 Figura 48 - Cena 20 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 126 Figura 49 - Cena 21 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 127 Figura 50 - Cena 22 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 128 Figura 51 - Cena 23 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 129 Figura 52 - Cena 24 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 129 Figura 53 - Cena 25 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 130 Figura 54 - Cena 26 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 131 Figura 55 - Cena 27 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 132 Figura 56 - Cena 28 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 132 Figura 57 - Cena 29 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 133

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Figura 58 - Cena 30 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 134 Figura 59 - Cena 31 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 134 Figura 60 - Cena 32 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 135 Figura 61 - Cena 33 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 136 Figura 62 - Cena 34 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 137 Figura 63 - Cena 35 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 137 Figura 64 - Cena 36 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 138 Figura 65 - Cena 37 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 139 Figura 66 - Cena 38 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 139 Figura 67 - Cena 40 - Aquarelas de Joaquim José de Miranda (1771), coleção Beatriz e Mario Pimenta Camargo, São Paulo, Brasil... 140 Figura 68 - Viúva, com capa e vestido negro e véu comprido sobre o rosto –

coleção de aquarelas do começo do século XIX... 144 Figura 69 - Vestimentas de São Paulo - aquarela e nanquim... 145 Figura 70 - Espartilho - século XVII (1660-1680) – Museu Nacional do Traje,

Lisboa, Portugal... 148 Figura 71 - Trajes femininos - Século XVIII - 1776... 149 Figura 72 - Um funcionário do Governo deixando sua casa com a sua família, por Jean Baptiste Debret... 156 Figura 73 - Trajes femininos - Século XVIII - 1776... 157 Figura 74 - Conjunto de casaca, colete e calção, circa 1780 - Museu Nacional do Traje, Lisboa... 166 Figura 75 - Cena romântica - século XVIII - 1776... 168 Figura 76 - Retrato de D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, 4º Morgado de Mateus - Século XVIII (3º quartel), óleo sobre tela, 118x224 cm... 173

(14)

Figura 77 - Casaca de criança (palmela, réplica de roupa de criança século XVIII) – Museu Nacional do Traje, Lisboa - Portugal... 177 Figura 78 - Franciscano, Igreja de São Francisco de Assis - São Paulo... 182 Figura 79 - As Carmelitas. Pintura do teto da Igreja Nossa Senhora do Carmo – São Paulo... 187 Figura 80 - Os Carmelitas. Pintura do teto da Igreja Nossa Senhora do Carmo – São Paulo... 188 Figura 81 - Sapatos do século XVII (c.1660-80), Museu Nacional do Traje,

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Sociedade proposta pelo Morgado aos comerciantes de Santos –

1768... 39

Tabela 2 - Despesas da companhia de aventureiros da Vila de Santos de 1765... 87

Tabela 3 - Roupas que as mulheres mais usavam no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 152

Tabela 4 - Cores usadas pelas mulheres no período de 1765 a 1776... 153

Tabela 5 - Roupas e tecidos mais usados pelas mulheres no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 154

Tabela 6 - Roupas que os homens mais usavam no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 170

Tabela 7 - Roupas e tecidos mais usados pelos homens no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 171

Tabela 8 - Cores mais usadas pelos homens no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 175

Tabela 9 - Tecelão: Bairro Pirajussara – 1765... 192

Tabela 10 - Tecelão: Bairro Nossa Senhora do Ó e Stª Anna – 1765... 192

Tabela 11 - Tecelão: Bairro Sancta Anna – 1765... 193

Tabela 12 - Tecelão: Bairro de Tremembé thé a Cachoeira Inclusive – 1765... 193

Tabela 13 - Tecelão: Rua do Carmo q’ principia do campo vindo por travessa thé ao Collégio – 1765... 193

Tabela 14 - Preços das roupas confeccionadas pelos alfaiates – 1765-1770... 200

Tabela 15 - Homens de negócio da Rua Direita – 1767... 204

Tabela 16 - Alfaiate: Rua Direita – 1767... 205

Tabela 17 - Alfaiate: Travessa da Freira e a do Ferrador thé muros do Fonsequa - 1767... 206

Tabela 18 - Alfaiate: Rua do Carmo q’ principia do Campo vindo por Tª Reveza thé ao Collegio – 1767... 206

Tabela 19 - Alfaiate: Rua q’ principia de Pascoal thé largo da Sé – 1767... 207

Tabela 20 - Alfaiate: Beco da Quitanda pª a rua do Rozario q’ continua esta thé a Boa Vista – 1767... 207

(16)

Tabela 21 - Alfaiate: Rua São Bento thé Cadea compreende os moradores

de Anhangabaú de São Bento indo para N. Sra da Luz – 1767... 207

Tabela 22 - Alfaiate: Beco que vem do Collegio parte da Quitanda – 1767... 208 Tabela 23 - Alfaiate: Rua da Quitanda principia Canto N. Sra da Lapa

thé Francisco Pinto segue a Rua de Marcos Francisco thé

fronte de José Roiz e Antonio Frz – 1767... 208

Tabela 24 - Cabeleireiro: Rua do Carmo q’ principia do Campo vindo por Tª

Reveza thé ao Collegio – 1767... 213

Tabela 25 - Cabeleireiro: Beco da Quitanda pª a rua do Rozario q’ continua esta

thé a Boa Vista – 1767... 213

Tabela 26 - Cabeleireiro: Rua São Bento thé Cadea compreende os moradores

de Anhangabaú de São Bento indo para N. Sra da Luz – 1767... 214

Tabela 27 - Sapateiro: Bairro do Pari e Nossa Senhora da Luz – 1765... 217 Tabela 28 - Sapateiro: Rua do Canto da Sé thé o Rozário – 1765... 218 Tabela 29 - Sapateiro: Rua das Flores q’ principia do passo junto aos muros de

thé travessa thé do campo – 1765... 218

Tabela 30 - Sapateiro: Rua q’ principia de Pascoal thé largo da Sé – 1765... 218 Tabela 31 - Sapateiro: Beco que vem do Collegio parte da Quitanda – 1767... 218 Tabela 32 - Sapateiro: Rua São Bento thé Cadea compreende os moradores

de Anhangabaú de São Bento indo para N. Sra da Luz – 1767... 219

Tabela 33 - Sapateiro: Moradores do pé da ponte de Anhangabaú debacho

indo para Nossa Senhora da Luz – 1767... 219

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LISTA DE GRÁFICOS E MAPAS

Gráfico 1 - Porcentagem das roupas das mulheres no século XVIII em

São Paulo... 153

Gráfico 2 - Roupas de homens mais usadas no período de 1765 a 1776 em São Paulo... 172

Gráfico 3 - Percentual de alfaiates espalhados pela cidade de São Paulo – 1765- 1776... 209

Gráfico 4 - Comerciantes que trabalham com beleza e vestuário... 223

Mapa 1 - Planta da cidade de São Paulo - 1810... 202

Mapa 2 - Fragmento extraído da Planta da cidade de São Paulo - 1810... 203

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INTRODUÇÃO

Pelo alferes Raymundo José de Souza recebi de V.M. de 19 de julho e não he muito que eu faltasse tanto pª mª obrigação que tenha de agradecer o favor porque a falta de sumaca, e as minhas continuadas occupaçoins bastantes e me desculpas, agora porém que tenho esta ocasião venho a V.M. mtªs vezes as graças pela boa diligencia e acertadas que satisfes e o empenho da compra da mª incomenda, a qual foi muito do meo gosto, e da minha satisfação; porém como ainda totalmente não esta completo o numero todo para a conta de q’ precizo, se a hey aparecerem mais alguns topázios grandes que possão dar botão para cazaca estimaria muito q’ V.M. me comprasse esta meya duzia que he so pouco mais ou menos o q’ poderei necessitar, para ficar mais perfeita sobra, e ainda que outras de haver os grandes seja V.M. obrigado a comprar alguns pequenos, sendo estes na forma dos q’ V.M. já remeteo do tamanho de ervilhas os mui perfeitos ao que não deve darei pagar, porém estes pequenos sejão os menos q’ puder ser e só na conformidade de nos não quererem para outro modo largar os grandes, se devem comprar, atendendo a q’ os grandes servirão para cazaca he q’ necessito, e dos pequenos, e só me convém pelo interesse de alcançar os grandes e por isso de V.M. evitar o prejuízo de comprar os pequenos o mais que puder ser.1

Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, na carta acima, escreveu para Manoel da Costa Cardoso, em outubro de 1770, sobre as pedras de topázio que serviam para fazer botões de casacas militares. As demais pedras miúdas eram para botões de véstias, mas o Morgado de Mateus não se importava muito com as pedras menores; o seu maior interesse era pelas pedras maiores, que em boa parte seguiriam para o Reino.

Os botões usados nos uniformes dos oficiais das tropas e auxiliares eram encapados com veludo, mesmo tecido empregado para confeccionar as fardas. O aviamento que mais distinguia as roupas umas das outras eram os botões, eles impunham sua marca, tornavam as peças exclusivas – e também quem as vestia. Nos inventários e testamentos registrados nesse período, fardas com botões de

1

Livros de registro das cartas particulares de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus, enquanto governador da capitania de São Paulo, 13 de maio de 1769 – 27 de setembro 1775. Originais 4V1806, doc. 1484 MS 553, vol. 1, documento 234. Acervo da Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro.

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casquinha de ouro e prata aparecem muito entre os bens de capitães e sargentos-mores.

O objetivo desta dissertação é analisar a importância da indumentária dos paulistas no século XVIII, mais especificamente no período de 1765 a 1776, abrangendo o governo do Capitão-General Morgado de Mateus e o início do governo do Capitão-General Martim Lopes Lobo Saldanha, por intermédio de documentos como:

• Livros de registro das cartas particulares de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, enquanto governador da capitania de São Paulo, 13 de maio de 1769 - 27 de setembro 1775, contendo recibos assinados pelos portadores das cartas registradas (originais 4V1806 doc. 1484 MS 553, vols. 1 e 2). Essas cartas se encontram no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, somando mais e 3.000 documentos manuscritos referentes ao Morgado de Mateus, doados pela sua família à Biblioteca Nacional.

• Actas da Camara da Cidade de São Paulo – 1765 - 1770, vol. 15, com informações importantes sobre o cotidiano da cidade de São Paulo. Nesse documento encontram-se fontes oficiais, constituindo um suporte documental restrito ao âmbito político-administrativo, importante fonte de análise da dinâmica interna da sociedade, sobretudo quando suas informações explícitas e implícitas são relacionadas, entrecruzadas e confrontadas com outros tipos documentais.

• Série Documentos interessantes para História e Costumes de São Paulo, com cartas do Morgado de Mateus escritas ao Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal.

• Inventários e Testamentos, totalizando 48 documentos, consultados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, sendo 21 documentos masculinos e 27 femininos. • Maço de População, dos anos de 1765, 1767 e 1770.

(20)

O primeiro capítulo apresenta o cotidiano no período do Morgado de Mateus, de 1765 a 1775.

Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o 4º Morgado de Mateus, nasceu em 21 de fevereiro de 1722, na propriedade de seus avós maternos, na freguesia de São Veríssimo de Riba, distrito da Vila de Amarante. Recebeu educação militar de seu avô, Dom Luís Antônio de Sousa, governador do castelo de São Tiago da Barra da Vila de Viana. Comandou a resistência à ofensiva franco-espanhola em 1762, durante a Guerra dos Sete Anos (1756 – 1763), tendo sido promovido a coronel de infantaria. Ao ser nomeado governador da capitania de São Paulo, possuía os títulos de Morgado de Mateus, de Moroleiros, de Sabrosa e Cumieira, fidalgo da casa de Sua Majestade e de seu conselho, senhor donatário da Vila de Ovelha do Marão, alcaide-mor da cidade de Bragança, comendador de Santa Maria de Vimioza da Ordem de Cristo e governador do castelo da Barra de Viana2.

Para fundamentar o estudo são examinadas diversas correspondências que revelam o cotidiano do Capitão-General Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo. Em suas correspondências para a esposa, Dona Leonor, referia-se à capitania como uma “capitania morta”, pobre. Mas era a visão de um homem europeu que, ao chegar a São Paulo, não conseguira ver que havia um fluxo de comércio na cidade. Seria esse desapontamento decorrente da configuração desse comércio? A aparência da cidade que talvez não fosse das melhores? O que se percebe é que para ele a cidade era pobre e decadente. Todavia, o Maço de População apontava a presença de comércios em todo o centro da cidade, sendo que os comerciantes mais ricos se concentravam na região do chamado “triângulo do centro”.

Para Maria Aparecida de Menezes Borrego e Ilana Blaj, havia uma teia mercantil na cidade de São Paulo, se articulando com os bairros rurais ao redor do centro.3 Entre os negociantes estabelecidos na cidade, havia muitos mercadores, boticário, advogado, mas os alfaiates, sapateiros e tecelões, eram esses os homens responsáveis pelas diversas vestimentas dos moradores de São Paulo, como

2

TORRÃO FILHO, Amílcar. O “milagre da onipotência” e a dispersão dos vadios: política urbanizadora e civilizadora em São Paulo na administração do Morgado de Mateus (1765 - 1775). São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2007, p.147.

3

BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. A teia mercantil: negócios e poderes em São Paulo Colonial (1711 - 1765). São Paulo: Alameda, 2010.

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sapatos, roupas de mulher, roupas de homem, roupas de criança e mortalhas, e também pelos uniformes militares no governo do Capitão-General.

No seu governo, o Morgado de Mateus teve a preocupação de fardar seus soldados; tanta era essa preocupação que foram feitos vários desenhos de fardamento para os soldados da capitania. Esses desenhos estão nos Documentos

interessantes para a história e costumes de São Paulo (vol. 72). Cada desenho

pertencia a uma corporação, sendo elas: 1º Corpo de Cavalaria de Dragões de São Paulo e Divisas do Sul - Corpo Amarelo; 2º Corpo de Cavalaria Ligeira de Guaratinguetá e Divisas do Norte - Corpo Azul Liso; 1º Corpo de Infantaria de Serra Acima de São Paulo de Divisas do Sul - Corpo Encarnado; 2º Corpo de Infantaria Serra Cima de Guaratinguetá e Divisas do Norte - Corpo Azul-Escuro; 2º Corpo de Infantaria da Marinha de Paranaguá e Divisas do Sul - Corpo Azul-Escuro e Branco; 2ª Companhia de Auxiliares de Cavalo de Curitiba - Corpo Branco todo.

O próprio Morgado de Mateus mandou desenhar croquis para a tropa dos soldados da capitania de São Paulo. Aquarelas de Carlos Julião, por sua vez, mostram como eram os uniformes dos militares do Rio de Janeiro nesse período do século XVIII. Através desses croquis e aquarelas é possível comparar os uniformes dos soldados do Rio de Janeiro e de São Paulo. As fardas de ambas as tropas tinham influência dos uniformes da Europa, cabendo notar que mesmo os uniformes portugueses foram inspirados nos fardamentos franceses. Na Europa do século XVIII os uniformes militares não diferiam dos trajes civis senão pelas cores dos tecidos.4 Essa comparação é feita com base na iconografia de Carlos Julião e nos desenhos referentes às Tropas de Cascais, cujos originais estão arquivados no Arquivo Histórico Militar, em Portugal.

Carlos Julião, nasceu em Turim em 1740, e faleceu em 18 de novembro de 1811; Alferes em 31 de outubro de 1763; Tenente em 1 de fevereiro de 1764; Capitão em 9 de julho de 1781; Sargento-Mór (Major) em 13 de agosto de 1795, nesta data entrou para o serviço do Arsenal Real do Exército; requereu em março de 1800 promoção a Tenente-Coronel, tendo o diretor do Arsenal confirmado a Sua Alteza Real D. João, Príncipe Regente, a sua brilhante folha de serviços e considerado Carlos Julião 'um benemérito oficial que tem servido neste Arsenal

4

LIVRARIA CHARDRON. História do trajo em Portugal. Encyclopedia pela imagem. Porto: Livraria Chardron, 1928, p.50.

(22)

Real, com muita honra, préstimo e inteligência'; Coronel por decreto de 3 de abril de 1805; em 1 de novembro nomeado deputado inspetor das Oficinas do Arsenal do Exército, em substituição ao Brigadeiro Carlos Antônio Napion; reformado no posto de Brigadeiro, por decreto assinado no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1811; a Carta Patente de sua reforma tem a data de 19 de janeiro de 1813, dada na mesma cidade, já depois de sua morte.5

Adilson José de Almeida, em sua dissertação “Uniformes da Guarda

Nacional (1831-1852): a indumentária na organização e funcionamento de uma associação armada”, afirma que os uniformes apresentam três funções: pragmática,

diacrítica e simbólica.6 A função pragmática se dá na aplicação prática do uniforme, conforme as suas características estruturais, como materiais e métodos de confecção, cores e modelos. A função diacrítica está ligada às propriedades distintivas dos uniformes, que possibilitam visualizar posições hierárquicas, mediante a diferenciação nos modelos internos, uso de emblemas e sinais. Já a função simbólica diz respeito aos significados, valores, princípios, expectativas, produção de sentido e representações que possam recair sobre os usuários dos uniformes.

O livro dos autores J. Wasth Rodrigues e Gustavo Barroso, Uniformes do

Exército Brasileiro - 1730-1922, traz desenhos dos uniformes de soldados do Rio de

Janeiro e da capitania de São Paulo, examinados a seguir. A primeira imagem é do fardamento da capitania de São Paulo de 1765. O soldado da Infantaria de São Paulo Vila do Sul aparece usando chapéu tricórnio preto com galão amarelo, botas, colete vermelho, calça azul e casaca azul-ferrete com dragonas amarelas e canhões vermelhos. O soldado da Infantaria Guaratinguetá e Vila do Norte usa chapéu tricórnio preto com galão branco, casaca com a parte da frente em vermelho, colete cinza, calça vermelha, exibe dragonas brancas e canhões vermelhos. O soldado dos Dragões de São Paulo Vila do Sul usa chapéu tricórnio preto com galão branco, casaca com frente amarela, colete branco, cinto vermelho, botas pretas, calça azul-ferrete, canhões amarelos e dragonas na cor branca. E, por último, o soldado da Cavalaria de Guaratinguetá e Vila do Norte tem uma particularidade, ele aparece

5 BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Riscos illuminados de figurinhos de brancos e

negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio. Aquarelas por Carlos Julião. Rio de Janeiro,

1960. Acervo da Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro.

6

ALMEIDA, Adilson José. Uniformes da Guarda Nacional (1831-1852): a indumentária na organização e funcionamento de uma associação armada. Dissertação (Mestrado em História Social), Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999, p.83.

(23)

usando sapatos de fivela prata com meias na cor branca, chapéu tricórnio preto com galão branco e um laço no próprio chapéu, casaca com frente cinza, cinto vermelho, calça azul, canhões brancos e dragonas brancas.

Figura 1 - Uniformes da capitania de São Paulo.7

Os soldados do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro, em desenho que data de 1767, surgem com chapéu tricórnio preto com galão amarelo, casaca, calça e colete azul-ferrete, camisa branca, canhões pretos e dragonas amarelas, meias na cor branca e meia bota. O soldado com tambor veste casaca e calça vermelhas, camisa branca, dragonas amarelas, canhões pretos, meias na cor branca, meia bota, chapéu tricórnio preto com galão amarelo e está com o instrumento tambor atravessado em seu corpo.

7

RODRIGUES, J. Wasth; BARROSO, Gustavo. O uniforme do Exército Brasileiro. Edição Especial do Ministério da Guerra. Rio de Janeiro e Paris, 1922, p.126.

(24)

Figura 2 - Uniformes da capitania do Rio de Janeiro.8

Já o uniforme dos soldados do Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, em 1767, era composto por chapéu preto com galão branco e laço, casaca azul-ferrete, calça da mesma cor com botões laterais, meias brancas, meia bota, canhões brancos e dragonas brancas, sendo que o primeiro soldado usa cinto vermelho, se diferenciando dos demais, com cinto branco. O soldado do tambor exibe uniforme branco com colarinho e canhões pretos, dragonas brancas, chapéu tricórnio preto com galão branco, está com o instrumento musical atravessado em seu corpo.

O que difere os uniformes dos soldados do Rio de Janeiro e de São Paulo são essencialmente as cores: os uniformes paulistas trazem os tons azul e amarelo, enquanto os uniformes cariocas, azul e branco, menos os soldados com tambor,

8

RODRIGUES, J. Wasth; BARROSO, Gustavo. O uniforme do Exército Brasileiro. Edição Especial do Ministério da Guerra. Rio de Janeiro e Paris, 1922, p.132.

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cujos uniformes são inteiros vermelho ou branco, respectivamente, mas o modelo dos fardamentos é o mesmo. Cabe notar que, durante o século XVIII, os uniformes militares eram de suma importância para os soldados se distinguirem dos demais homens. Segundo Daniel Roche, eles conferiam uma personalidade que distanciava o civil do soldado.9

Assim como os uniformes militares eram importantes para os homens, as mulheres queriam usar vestidos parecidos com os modelos franceses. A moda francesa dominou a Europa durante o século XVIII, unificando o traje europeu, se destacando a cidade de Paris como polo do setor10, atravessou o oceano Atlântico e se infiltrou na colônia, trazida pelos portugueses que aqui se fixaram. Com a vinda da família real, a corrida para se vestir como a corte se intensificou, mesmo a moda surgindo com atraso, já que, quando chegaram por aqui, Carlota Joaquina e D. Maria I não vieram com a última moda francesa.11 As mulheres de Portugal demoravam um pouco mais para aderir à moda de Paris, mas isso não tinha nenhuma importância para as mulheres da colônia que desejavam imitar a realeza.

Para representar como as pessoas se vestiam na colônia, recorre-se à iconografia de “Riscos Iluminados de figurinhos de brancos e negros dos uzos do

Rio de Janeiro e Serro do Frio”, com aquarelas desenhas por Carlos Julião no

século XVIII, por volta do ano de 1776, obra que se encontra no Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. São imagens que traduzem o cotidiano de uma época e nos indicam como escravos e homens e mulheres livres se vestiam nesse período, permitindo analisar as roupas dessas pessoas através do olhar do autor. Se os vestuários que ele apresenta nos desenhos são verídicos ou não, não sabemos de fato. Contudo, o intuito é absorver todas as informações que nos são dadas nessa iconografia. Francis Albert Cotta também não questiona em seus estudos a veracidade do que está representado nas aquarelas, mas procura verificar o discurso histórico que essas pinturas pretendem comunicar.12 Por isso a escolha das

9

ROCHE, Daniel. A cultura das aparências. Uma história da indumentária (séculos XVII-XVIII). São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007, p.240.

10

LIPOVETSKY, Gilles. O império do Efêmero - A moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.73-74.

11

PRIORE, Mary Del; AMANTINO, Márcia (Orgs.). História do corpo no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2011, p.210.

12

COTTA, Francis Albert. Olhares sobre a polícia no Brasil: a construção da ordem Imperial numa sociedade mestiça. Fênix - Revista de História e Estudos Culturais. Belo Horizonte, vol. 6, ano VI, n. 2, p.12.

(26)

aquarelas de Carlos Julião nesta dissertação, ajuda a compreender como as pessoas se vestiam durante o século XVIII.

Mas, além das iconografias, contribuem para a análise inventários e testamentos post mortem emitidos no período de 1765 a 1777 – foram pesquisados 48 documentos no total, 27 inventários femininos e 21 masculinos. A partir da riqueza das informações que fornecem, discriminando entre outros bens a indumentária de parte dos moradores de São Paulo da segunda metade do século XVIII, permitem refletir sobre a vida material no governo do Capitão-General Dom Luís Antônio de Sousa Mourão, o Morgado de Mateus. Assim, torna-se relevante estudar a cultura material, relacionada com objetos do dia a dia, como as roupas, a partir das indumentárias na cidade de São Paulo, levando em conta que, sendo luxuosas ou mais simples, servem para as necessidades imediatas do cotidiano. Nesse sem tido, os inventários e testamentos nos dão informações sobre a cultura material de cada inventariado investigado.

O segundo capítulo, por sua vez, mostra a distinção das pessoas através da indumentária, que servia para identificar a classe a que cada pessoa pertencia ou queria pertencer, através de documentos como inventários e testamentos, fontes importantíssimas para a pesquisa. Trata-se de uma descrição íntima, porém nos revela sentimentos e possibilita perceber como se dava a relação dos indivíduos com seus bens, em especial com a roupa. Tanto as roupas de mulher como as de homem são objetos importantes que, ao longo da história, se tornaram necessários no cotidiano e passaram a representar a vida material dessas pessoas. Desse modo, mediante esses documentos, serão analisados os arrolamentos dos objetos em questão, os vestuários, item a item, para melhor compreensão sobre a quantidade de roupa dos sujeitos, as peças mais usadas tanto por homens como por mulheres e os valores desses objetos.

Durante alguns séculos a roupa foi deixada como herança para os herdeiros, devido à escassez de indumentárias na cidade de São Paulo. Por esse motivo, muitos ficavam devendo na praça para obter algumas peças, gastando o que não tinham para se vestir de sedas e rendas. Segundo Fernand Braudel, “o gosto pela frivolidade dita as leis da moda”, ou seja, os indivíduos querem se apropriar de um status que está além de suas condições, se subordinando a determinados

(27)

caprichos.13 Mas, embora o gosto pela moda seja algo frívolo, ele serve para distinguir, e separar, as classes, principalmente no século XVIII, período em que somente as pessoas mais ricas usavam roupas caras para se diferenciar dos menos abastados. A moda era segregadora, pois definia a que grupo cada indivíduo pertencia, uma vez que nem todos tinham condições de comprar roupas de tecidos mais requintados, como veludo, seda, tafetá etc.

Nos inventários dos mais pobres, não havia nenhuma descrição de bens, não deixavam absolutamente nada como herança para seus sucessores. Conforme destaca Maria Odila Leite da Silva Dias, em Quotidiano e poder, os mantos e baetas negras serviam para esconder a pobreza das moças pobres brancas, que, se não tivessem nenhum dote, acabavam indo para o concubinato,14 e muitas dessas mulheres acabavam se tornando mães solteiras. Essa vestimenta do manto e das baetas eram usadas tanto pelas mulheres pobres como pelas ricas.

Muitas mulheres andavam rebuçadas. Esse hábito veio com os portugueses, que por sua vez herdaram dos árabes o costume de cobrir o rosto, quando da invasão da Península Ibérica. A seguir podemos observar imagens que mostram trajes das mulheres do Rio de Janeiro e de São Paulo. A mulher da cidade de São Paulo aparece com o rosto e a cabeça cobertos, impossibilitando que as pessoas vejam sua face. Conforme demonstram os desenhos examinados no segundo capítulo, as mulheres do Rio de Janeiro representadas nas aquarelas de Carlos Julião têm o rosto menos coberto que as de São Paulo. Isso, no entanto, não quer dizer que elas não andassem rebuçadas, pois andavam, mas a vestimenta das paulistas, de acordo com as imagens analisadas, era mais fechada, dos pés à cabeça. Tal hábito fez com que o Capitão-General Martim Lopes Lobo de Saldanha decretasse, em 23 de setembro de 1775, a proibição do uso de capas de baeta para homens e mulheres, pois as mulheres se fechavam com as capas dos pés à cabeça, fazendo com que ninguém visse seus rostos.

13

BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo - séculos XV - XVIII. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.291.

14

DIAS, Maria Odila da Silva Leite. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX – Ana Gertrudes de Jesus. São Paulo: Brasiliense, 1984, p.83.

(28)

Figura 3 - Vestimenta - Rio de Janeiro, 1776.15

Na aquarela de Carlos Julião, a mulher aparece envolvida em um grande casaco azul, com saia estampada, sapato de salto com fivela, meias brancas, chapéu com ornato de plumas. Suas roupas são mais coloridas, ao contrário do traje da mulher de São Paulo, retratada com peças escuras, como se notar a seguir.

15

BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Riscos illuminados de figurinhos de brancos e

negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio. Aquarelas por Carlos Julião. Rio de Janeiro,

(29)

Figura 4 - “Modello de modo de trajar das senhoras da cidade de S. Paulo” – Século XVIII. 16

O desenho representa uma mulher toda rebuçada pela roupa. Essa peça de vestuário é citada em muitos inventários de mulheres e de homens; quase sempre há capas, que podiam ser de tecidos como baeta, seda, droguete, veludo – as mulheres mais ricas usavam capas de veludo, enquanto as capas masculinas eram somente de baeta, um tecido mais encorpado. Porém, não importava qual era o tecido, o que de fato importava era que o item não ficasse de fora do guarda-roupa dessas mulheres.

Ainda nesse capítulo são examinadas imagens de escravas usando vestidos em festas em homenagem a rainhas negras. Os escravos em sua maioria usavam somente calção; os que vestiam roupas trabalhavam na casa-grande, ou acompanhavam seus senhores na rua, pois escravo bem vestido era sinônimo de status. Com base na obra de Glória Kok, O sertão itinerante: expedições da

Capitania de São Paulo no século XVIII, apresentam-se ainda várias aquarelas de

Joaquim José de Miranda (1771) em que índios são retratados vestindo roupas, oferecidas a eles como presentes pelos oficiais do Tenente-Coronel Afonso Botelho.

16

CAMARGO, Luís Soares de. Dom João VI e o cotidiano das mulheres em São Paulo: um reflexo na moda. Informativo - Arquivo Histórico Municipal. São Paulo, ano 3, n. 17, mar./abr. 2008.

(30)

No terceiro capítulo, os inventários post mortem permitem analisar a quantidade de material de um determinado grupo social.17 Essa análise minuciosa sobre os bens materiais arrolados nesses documentos, incluindo peças do vestuário e seus adereços (botões de vários tipos, fivelas, joias), além da descrição de variados tecidos das roupas deixadas pelo inventariado, pode ser usada para marcar e classificar categorias.18 Nesses objetos está toda a história da vida material do sujeito. Através dos inventários e testamentos é possível ainda separar as roupas masculinas, tais como casaca, sobretudo, camisa, calção, meias e ceroulas, das femininas: capa, capinha, colete, espartilho, mantô, meias, peitinho e saia.

Gilda de Mello e Souza, ao abordar os antagonismos entre homens e mulheres, afirma que:

A vestimenta acentuará esse antagonismo, criando, no século XIX duas “formas”, uma para o homem, outra para a mulher, regidas agora por princípios completamente diversos de evolução e desenvolvimento.19

Alcântara Machado, em Vida e morte do bandeirante, relata sobre a vida cotidiana do povo paulista, sendo que para isso examina objetos da cultura material, como roupas de homens e mulheres, como no capítulo VII (Fato de vestir, jóias e limpeza da casa)20 , a partir de informações tiradas de inventários. Ao apresentar as vestimentas, se preocupa não apenas com as roupas, mas também com os tecidos das peças tanto masculinas como femininas.

Os Mantos, de sarja, recamadilho, baeta, burato, sarjeta do senhor. Menos apreciadas, naturalmente, são a palmilhada, a reaxa e a raxeta. Ainda menos as fazendas de algodão: picote, picotilho, calhamaço, canequim.21

17

MARTINEZ, Claudia Eliane Parreiras Marques. Riqueza e escravidão: vida material e população no século XIX - Bonfim do Paraopeba - MG. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2007, p.71.

18

DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2013, p.121.

19

SOUZA, Gilda de Mello. O espírito das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p.59.

20

MACHADO, Alcântara. Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006, p.91.

21

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Os tecidos usados por esses homens e mulheres eram: a sarja, um tecido entrelaçado de lã, algodão ou seda, ou misto, com ligamento de sarja, apresentando estrias no sentido diagonal; recamadilho, tecido antigo de características desconhecidas; reaxa ou raxa, pano grosso de algodão, proveniente de Florença – havia também raxas de Segóvia, Inglaterra, Covilhã etc.; raxeta, nome de outro pano de lã; baeta, um tecido de lã pesada e grossa, mas por vezes feito de algodão; burato, pano de seda com que se faziam os mantos; palmilhada, tecido antigo de característica desconhecida; picote, eventualmente produzido de modo doméstico em São Paulo no início do século XVII, pano grosseiro e áspero de algodão, pica quem toca, tem cor cinza; picotilho, um picote fino; calhamaço, a estopa do cânhamo, ou estopa grossa do linho; canequim, lenço fino de algodão da Índia22. O autor percebe a importância desses objetos para a dinâmica da vida material dessas pessoas, assumindo valor simbólico ao diferenciar homens e mulheres e as roupas que cada um usa.

Segundo Peter Stallybrass, a roupa recebe a marca humana23, pois o corpo que veste as roupas se vai, mas elas ficam eternizadas, resistindo à história. Elas sobrevivem como herança, outras vezes são expostas em museus, lembrando as pessoas que as usaram, e assim vão resistindo ao tempo, se transformando em história. É uma importante afirmação do poder simbólico atribuído a esses itens. Além do seu destino enquanto objeto de circulação cultural que tem uma identidade, as roupas se perpetuam como herança, passando para outras pessoas, como filhos, parentes, amigos e escravos, isso comprova sua grande importância simbólica. Assim, pode-se dizer que os inventários descrevem, de maneira sistemática e detalhada, atributos de fundamental importância para a análise do objeto desta pesquisa, possibilitando a percepção das despesas que uma parcela economicamente privilegiada da população tinha com seu guarda-roupa.

Para Daniel Miller, a cultura material foi impulsionada pelo advento da “perspectiva semiótica”, com o uso de signos e símbolos para nos representar no mundo exterior. Desse modo, a roupa é reduzida à função de significar algo mais

22

BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712 - 1728, p.518. Disponível em: <http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/edicao/1>. Acesso em: 15/04/2017.

23

STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memórias, dor. 4ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2012, p.11.

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material, faz com que o indivíduo represente aquilo que não é, ou seja, surge uma teatralização da vida social.24

Diante da importância da indumentária na cidade de São Paulo do século XVIII, podemos afirmar que as roupas talvez pudessem identificar as pessoas mais abastadas que moravam na capitania. Mesmo após a morte, havia uma preocupação em amortalhar os corpos, costumava ser esse o último desejo do defunto. Os que faziam inventário já definiam no documento sua mortalha, sendo que geralmente eram enterrados com a roupa da ordem do santo de sua devoção.

Essas informações se encontram no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, onde foram pesquisados registros de óbito de falecidos da região Central e de Santo Amaro, para que se pudesse fazer um estudo comparativo entre os bairros. A análise revela que os mortos da região Central em sua maioria eram amortalhados com o hábito da ordem a que pertenciam. Quanto aos escravos, no entanto, não há especificação sobre como eram amortalhados. Em contrapartida, no bairro de Santo Amaro as pessoas eram enterradas de pano branco. Independentemente de suas condições sociais, somente os que pertenciam a ordens, como São Francisco ou do Carmo, eram amortalhados com seu respectivo hábito. Isso de maneira geral são práticas e rituais que vão preenchendo uma carga simbólica25, ou seja, revelam sobre o comportamento diante da morte.

Por fim, no quarto capítulo apresentaremos os profissionais responsáveis pela aparência nesse período, ou seja, os responsáveis pelas vestes, sapatos, cabelos e tecidos – sem eles não seria possível vestir homens e mulheres com uniformes militares, vestidos, casacas, calções, capas, capinhas... Esses profissionais das “artes mecânicas”26

respondiam pelo embelezamento da população mais abastada da cidade, bem como das pessoas que queriam se vestir para serem aceitas pela sociedade.

Os sapateiros e os alfaiates ficavam na região central. Segundo pesquisa no Maço de População, não havia sapateiros nos bairros afastados, esses profissionais tinham estabelecimentos no centro da cidade. A maioria dos alfaiates, responsáveis

24

MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas. Estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p.21-22.

25

SCHMITT, Juliana. Mortes Vitorianas: corpos, luto e vestuário. São Paulo: Alameda, 2010, p.21.

26 LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero – A moda e seu destino nas sociedades modernas.

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pelas vestimentas da população, também trabalhava e morava na região central, mais especificamente na área do triângulo do centro: Rua Direita, Rua São Bento, Rua da Quitanda, Rosário, Rua do Carmo, Colégio, Travessa da Freira e Largo da Sé. Além desse, havia apenas um alfaiate em Santana; nos bairros mais afastados, como Pirajuçara, Santo Amaro, Pinheiros, Tremembé, Pari, entre 1765 e 1775, o Maço de População não indica a presença de alfaiates.

Com a falta desses profissionais nos bairros afastados, se vestir ficava mais difícil para os pobres, que talvez produzissem as próprias roupas; isso, porém, não se sabe ao certo, o que sabemos é que os bairros denominados rurais não abrigavam alfaiates. Mas nesses bairros, conhecidos ainda como região de bastardos, moravam os tecelões, distantes da região central, ao contrário dos alfaiates – apenas um tecelão ficava no centro da cidade. Todos esses sujeitos que cuidavam da aparência da população, no entanto, teriam profissão inferior: alfaiates, sapateiros, cabeleireiros e, por fim, o tecelão – em ordem decrescente.

Os tecelões atuavam na produção caseira de tecidos, inicialmente para abastecer os familiares e os escravos – isto é, somente panos grosseiros eram usados na confecção das roupas dos moradores da casa e agregados. Todavia, essa produção caseira, durante o século XVIII, estava se desenvolvendo e atraindo cada vez mais moradores da colônia, levando à diminuição da mão de obra nas lavouras. Isso fez com que, em 1785, D. Maria I decretasse um Alvará proibindo o uso de teares na colônia. Ficariam proibidos os teares de galão, bordados de ouro ou prata, os de veludo, brilhantes, cetins, tafetás e outras qualidades de seda. Somente os teares de panos grossos de algodão seriam permitidos, para as roupas dos escravos. O que Portugal queria era estimular a fabricação de tecidos na metrópole, isso impediria que a Inglaterra vendesse seus tecidos na colônia.

Os tecidos são matéria-prima de suma importância na confecção da indumentária, tanto as roupas da população mais pobre como das pessoas ricas e os uniformes. No governo do Capitão-General Morgado de Mateus, tecelões e alfaiates foram encarregados de confeccionar os uniformes dos oficiais, mais especificamente soldados que exerciam a função de oficial de alfaiate na região central da cidade.

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Esta pesquisa busca compreender, a partir do estudo das roupas, formas de identificação de grupos sociais, como os negros, que queriam se vestir como seus senhores, os índios, para os quais a roupa era uma maneira de domesticar e civilizar, e os brancos, que as usavam como forma de distinção, sendo os uniformes a indumentária que mais identifica a que grupo a pessoa que a veste pode pertencer. Tudo isso é possível através de fontes, bibliografias, sites e iconografias que serão apresentados nos decorrer desta dissertação.

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CAPÍTULO I – FESTA E FARDAMENTO: O EXTRAORDINÁRIO E O COTIDIANO NA SÃO PAULO DO MORGADO DE MATEUS

1.1 O COTIDIANO À ÉPOCA DO MORGADO

Minha Srª todo o meo amor nas cartas que lhe tenho escrito nestes tempos e vão justamente com esta lhe lembro os meos despachos, e lhe explico o q’ quero q’ se faça para engrandecer, cismar de graças espirituais a mª Capela para Salvação das almas peça lhe que entre nestes dous projectos com todo o empenho, faça valer os meos trabalhos q’ não tem sido poucos por estes remotos climas não falo nas saudades da Pátria, no cuidado e amor de D. Leonor e dos filhos tenho padecido muito, e ainda que a saúde me não té faltado, tenho curado mtª sarna, muito leicenço, mtª mazela, sustos do mal de Lazaro e perigo das picadas das cobras, que estão onde quer, estou mtº cançado de lidar cõ esta multidão de negocios e de gentes em que tenho gastado todo o meo vigor e actividade vou me enchendo de brancas e declinando na idade, e vespera de N. Srª dos Prazeres estive muito mal, e ainda vou agora apelando.

Já não temos senão do Srº Conde e ele só sabe o que tenho obrado o mtº que tenho escrito: vou por se tens resmas de papel e vinte e tanto libros de registro, não tenho sido infeliz nos meos projectos, e tenho posto esta Capitania morta em termos de augmentos, e percebo todos os inconvenientes do serviço de Sua Magestade neste Brazil; cousa que pode ser ainda não chegasse aos ouvidos do Srº Conde, e eu lhe pertendo explicar, pois só assim terá remédio.27

Em 20 de junho de 1770, Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, escreveu para a sua esposa, Dona Leonor, para lhe dar notícias sobre o que ocorria na capitania e saber o que estava acontecendo na metrópole. Ela o mantinha informado sobre o reino e o representava em Portugal. Suas correspondências primeiramente chegavam até ela, que logo em seguida as levava ao Senhor Conde. Na correspondência supracitada, Dom Luís reclamava para sua esposa que havia trabalhado muito para lidar com tanta gente durante todos esses tempos. Sua vida na capitania era de muito trabalho, conforme contava

27

Livros de registro das cartas particulares de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus, enquanto governador da capitania de São Paulo, 13 de maio de 1769 – 27 de setembro 1775. Originais 4V1806, doc. 1484 MS 553, vol. 1, documento 156. Acervo da Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro.

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para sua esposa. Nessa época, tinha 48 anos, achava-se velho, com os cabelos brancos sobressaindo, a idade avançando e pesando ao seu corpo.

Entre as agruras citadas na carta, existia o perigo das picadas de cobras, espalhadas por todo canto da cidade. Reclamava que estava sem vigor e sentia muitas saudades dos filhos e da esposa, que se encontravam no reino, mas tinha suas obrigações e se colocava à total disposição de Sua Majestade. Na época em que escreveu para Dona Leonor, havia ficado doente, com muitas mazelas, como sarna e leicenço (furúnculos). Segundo Saint-Hilarie, no século XIX, moléstias de pele eram comuns em São Paulo, principalmente a sarna, além das doenças venéreas, bastante difundidas na região.28 Todas essas malignidades ocorriam devido às más condições que havia na capitania e à falta de higiene, os miasmas29 da época. E em virtude de tudo isso Dom Luís, o Morgado, sentia-se como Lázaro.

Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, fiel vassalo30, como ele mesmo se definia para sua esposa, achava que a maior dificuldade enfrentada era a situação precária e decadente da capitania, caracterizada na carta escrita à sua esposa como uma “capitania morta”. Ele acreditava que a população de São Paulo, na maior parte do tempo, vivia na vadiagem, sem emprego, sem nenhum tipo de ocupação, sem moradia, vivia em plena liberdade, ociosidade e miséria sem fim, sem contar a falta de religião e de leis.

Estabeleceu que se incentivasse a propagação da lavoura, dando ordem para a Câmara expandir a plantação do algodão e da farinha.31 Acreditava que, se houvesse grandes plantações de algodão, a cidade ficaria mais povoada e

28

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem à província de São Paulo. Vol. 18. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976, p.134.

29

Os miasmas seriam gerados pela sujeira encontrada nas cidades insalubres e também por gases formados pela putrefação de cadáveres humanos e de animais, isso ocorria no século XVIII. Estavam nas águas, no ar que originava as emanações fétidas e pútridas, sendo os maiores causadores de doenças. Com a chegada do Morgado de Mateus, a Câmara pediu para que seus moradores caiassem as casas e endireitassem as ruas, entulhando todos os buracos. Os moradores haveriam de limpar e preparar a cidade para a vinda do Morgado. Isso era uma forma de higienizá-la contra os miasmas da época, no período de 1765 a 1776. Ver: ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei. Legislação política urbana e territórios na cidade de São Paulo. Coleção Cidade Aberta. São Paulo: Studio Nobel/ Fapesp, 1997, p.40. MATROMAURO, Giovana Carla. Surtos epidêmicos, teoria miasmática e teoria bacteriológica: instrumentos de intervenção nos comportamentos dos habitantes da cidade do século XIX e início do XX. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH. São Paulo, julho 2011, p.1.

30

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 23, 1896, p.185.

31

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 73, 1952, p.89.

(37)

aumentaria a rotatividade do comércio. E, com o aumento do consumo, seriam maiores os rendimentos que iriam para Portugal. Para o Morgado, era necessário que se praticasse a lavoura.

Mas, além do plantio, o Morgado de Mateus também quis dinamizar o comércio para que as pessoas nele pudessem trabalhar.

Ilmº e Exmº Snr: Desejando de algum modo dar Providência para remediar a pobreza desta Capitania, tenho procurado por todos os modos por em execução das ordens de S. Magestade, introduzir nella comércio, para que mediante a conveniencia dos lucros, se convide a trabalhar o Povo, tenhão que fazer as mulheres, que não achão em que se ocupem, e se possão enriquecer as Alfandegas, por ser certo que nestas terras se não consome muito mayor quantidade de fazendas por não haver com que ellas se comprem, e se o povo tivesse que vender tão bem teria meyos para comprar, e importaria grossissimo cabedal o seu vestuário.

Esta falta hé tão grande, que me affirmou o Pe. Me. Fr. Joaquim de S. Jozé e Sª, Religiozo Capucho, e fidedigno, que indo a Quaresma passada dezobrigar ao bairro de S. Roque, que hé Freguezia da Cutia, se vierão confessar com elle 30, ou 40 homens, ou ainda mais, nº muito avultado sò com huma única vestia, que hião vestindo sucessivamente huns depois outros.32

Devido à carência de muitos moradores, segundo a afirmação do Padre Joaquim de S. José, religioso capucho do bairro de São Roque e Freguesia de Cotia33, reclamava que muitos homens não tinham roupas para o sacramento da confissão – havia uma única veste para mais ou menos 30 ou 40 homens, que ia passando de mão em mão. Para diminuir a falta de roupas na capitania, segundo o documento supracitado, o Morgado de Mateus buscou introduzir o comércio de fazendas (tecidos), assim o povo compraria, aumentando o lucro da Coroa.

32

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 23, 1896, p.383.

33

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 23, 1896, p.383.

(38)

Diante desse cenário, em 1768, o próprio Morgado de Mateus procurou fazer sociedade com alguns comerciantes da capitania. Mas qual era a finalidade dessa proposta do Morgado de Mateus? A sociedade visava incentivar que os mercadores comprassem entre si as lavouras de algodão, pois havia mais ou menos quatro mil arrobas34 estocadas nas casas dos lavradores. Isso fez o Morgado de Mateus procurar os comerciantes da capitania para comprar as plantações de algodão desses produtores, por isso quis fazer sociedade com os paulistas, para comprar o algodão e depois carregá-lo para o Reino por preços vantajosos.

Somente os homens de negócio de Santos aceitaram essa sociedade; os da cidade de São Paulo não quiseram se aliar ao Morgado de Mateus. Como consta em

História colonial de São Paulo, obra organizada por Maria Beatriz Nizza da Silva,

talvez os mercadores de São Paulo já fizessem seus negócios por terra com o Rio de Janeiro.35 Para Amílcar Torrão Filho, o governador não pôde contar com o apoio dos paulistanos para essa sociedade juntamente com os santistas talvez porque quisessem ter maiores lucros e pagar menos taxa; com isso, não precisariam dividir seus lucros com os santistas.36

Os negociantes de Santos se prontificaram a fazer parte dessa empreitada, mas tiveram que desembolsar uma determinada quantia em dinheiro para entrar na tal sociedade. Foram estes os negociantes que aceitaram a proposta do Morgado de Mateus e a soma que todos os comerciantes desembolsaram:

34

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 23, 1896, p.384.

35

SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Org.). História de São Paulo Colonial. São Paulo: Editora Unesp, 2009, p.190.

36

TORRÃO FILHO, Amílcar. Paradigma do caos ou cidade da conversão? São Paulo na administração do Morgado de Mateus (1765 - 1775). São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2007, p.208.

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Tabela 1 - Sociedade proposta pelo Morgado aos comerciantes de Santos – 176837

Negociantes Quantia em dinheiro

Sargento-Mor João Ferreira 1:200$000

Sargento-Mor Angelo Figueira 200$000

Capitão José Bonifácio de Andrade 800$000

Capitão José Corrêia de Oliveira 800$000

Tenente Antonio José de Carvalho 800$000

Carlos Ferreira Gomes 400$000

Domingos Pereira Viegas 400$000

Sebasitão de Alvarenga Braga 400$000

Pedro Machado de Carvalho 400$000

Manuel de Freitas Mattos 200$000

Manuel de Souza Pereira 600$000

Francisco Carvalho Guimarães 400$000

João Francisco Gomes 200$000

Silvestre Cerqueira Lima 200$000

José Anastácio de Oliveira 400$000

Caetano Francisco Santiago 200$000

Ignacio Francisco Lustosa 200$000

Antônio Gonçalves Ribas 400$000

Total 8:200$000

A quantia arrecadada pelos negociantes santistas foi de 8:200$000, valor muito abaixo do que esperava Morgado de Mateus, inclusive fez com que o próprio reclamasse da quantia irrisória. Para ele, era muito pouco cabedal que havia nesta terra. Mas os mercadores de Santos, antes de liberar o dinheiro para a sociedade, apresentaram sete condições ao Morgado, que para ele eram impraticáveis.38 As condições eram:

→ 1º. Fundar uma casa da moeda na Praça de Santos, mas os camaristas39

de São Paulo queriam que a casa da moeda se localizasse em São Paulo, pois possuíam uma casa de fundição. Além disso, para eles São Paulo era a cabeça da Capitania,

37

Actas da Câmara da Cidade de São Paulo - 1765 -1770. São Paulo, vol. 15, 1765 - 1770, p.334.

38

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 23, 1896, p.385.

39

TORRÃO FILHO, Amílcar. Paradigma do caos ou cidade da conversão? São Paulo na administração do Morgado de Mateus (1765 - 1775). São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2007, p. 208.

Referências

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