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CAPÍTULO I – FESTA E FARDAMENTO: O EXTRAORDINÁRIO E O COTIDIANO

1.2 O FARDAMENTO

[...] eles vinham tão ridículos cada um por seu modo, que era gosto de ver a diversidade das modas, e das cores tão esquisitas porque havia casacas verdes com botões encarnados, outras azuis agaloadas por uma forma nunca vista e finalmente todas extravagantes, vinham alguns com as cabeleiras tão acima dos olhos, que se podia duvidar se tinham frente, traziam então o chapéu caído para trás, que faziam umas formosas figuras principalmente aqueles que abotoavam as casacas muito acima.87

Figura 5 - Conde de Assumar. 88

Nesta imagem que representa o Conde de Assumar, ele aparece vestido de armadura, segura o chapéu com uma das mãos e usa uma peruca, acessório introduzido lentamente nos países ibéricos, sendo aceito por volta de 1700.89 Em seu relato de viagem, com um tom jocoso90, quando chegou a São Paulo, em 1717, ficou horrorizado com a aparência dos soldados que compunham as tropas de São Paulo, pois tinham uma maneira muito estranha de se vestir, uma forma

87

Relato de viagem do Conde de Assumar. Cf.: ROMERO, Adriana. Paulistas e emboabas no

coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora

UFMG, 2008, p.235.

88

MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA. Os Condados de Portugal (I). 12 out. 2015. Disponível em: <http://marinhadeguerraportuguesa.blogspot.com.br/2015/10/os-condados-de-portugal-i.html>. Acesso em: 14/04/2016.

89

KÖHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p.352.

90

MNEME - REVISTA DE HUMANIDADES. Caicó, vol. 2, n. 3, Centro de Ensino Superior do Seridó - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fev./mar. 2001. Disponível em: <https://periodicos.ufrn. br/mneme/index>. Acesso em: 25/09/2015.

desordenada e caótica com certa prepotência que somente os paulistas do século XVIII tinham.

De acordo com o relato do Conde de Assumar, os soldados das tropas de 1717 se vestiam de maneiras diferentes, por exemplo, uns usavam casaca verde com botões vermelhos encarnados enquanto outros exibiam casaca azul, os cabelos caídos nos rostos, chapéus que caíam para trás da cabeça, alguns homens abotoavam inteiras as casacas. E foi dessa maneira que o Conde de Assumar descreveu as roupas dos soldados. Talvez essa vestimenta fosse condizente com o caráter dos paulistas, orgulhosos na sua maneira de ser, valentes e guerreiros. Pois, quando algo deixava de lhes agradar, se irritavam com muita facilidade e logo colocavam seus chapéus com abas caídas.91 Talvez sua preocupação fosse mostrar toda a sua coragem, e não suas roupas. Vestiam-se como podiam, de uma maneira policromática, não usual para uniformes, especialmente para uma tropa que estava representando a capitania. Essa forma de vestir dos paulistas causava certa estranheza para quem chegava a São Paulo, poderia demonstrar uma total falta de organização ao olhar do outro. Devido a essa aparência dos soldados, com um ar desleixado, os paulistas eram sempre depreciados por seus inimigos.

Segundo Adriana Romero, em Paulistas e emboabas no coração das Minas:

ideias práticas e imaginário político no século XVIII, o contexto de alteridade explica

em parte grandes tensões entre paulistas e forasteiros que culminaram na Guerra dos Emboabas. É um choque entre universos culturais distintos que se manifesta praticamente em todos os aspectos da vida, desde a indumentária até as concepções políticas.92 Essa distinção suscita dois mundos diferentes, o do colonizador e o do colonizado, a fim de que cada classe ou parte de uma classe – que se utiliza também de certas escolhas, isto é, modos de vestir, agir, para compor uma classe – não seja entendida apenas por critérios econômicos, por exemplo, mas também por suas práticas e consumos que simbolicamente colaboram para a diferenciação entre elas.

Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão achava que os paulistas eram dotados de brio e de dignidade, homens corajosos, grosseiros e mal-educados. Se

91

ROMERO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p.236.

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lapidados, ficariam do jeito que se espera: homens robustos, fortes, sadios e capazes de sofrer os mais intoleráveis trabalhos.93 Entretanto, para Dom Luís os paulistas tinham o vício da presunção, do ódio, da vingança e da preguiça. Mas havia entre eles um grande temor da prisão, e se valendo disso o Morgado de Mateus estava disposto a tirar todos esses vícios dos paulistas e fazer com que se armassem e se fardassem às suas próprias custas, e marchassem onde o Capitão- General determinasse esses paulistas tão rústicos e cheios de maneirismo94 como demonstravam ser.

No edital de 20 de abril de 1767, Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão ordenou que todos os moradores – tanto nobres como plebeus, brancos, mestiços, pretos e libertos – se alistassem para as tropas auxiliares, cada um em suas referidas classes. Para Cristiane Figueiredo Pagano de Mello, esse sistema portava a concepção de uma ordem social que busca integrar os povos, tornando todos igualmente súditos, considerando que todos “são depositários das leis e da ordem”95

.

Dom Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Governador e Capm. General da Captª de S. Paulo, e Amigo. Eu El Rey vos envio mtº saudar e sendo informado da irregularidade, e falta de disciplina, a que se achão reduzidas as tropas Aux.es dessa Captª e attendendo ao que nellas sendo reguladas e disciplinadas como deve ser consiste hua das principais forças q’ tem a mesma Captª para se defender: Sou servido ordenar- vos que logo que receberes esta, mandeys alistar todos os moradores das terras da vossa jurisidição, que se acharem em estado de poderem servir nas Tropas Aux.es, sem exepção de Nobres, Plebeus, Brancos, Mistiços, Pretos, ingenuos, e libertos, e a proporção dos q’ tiver cada hum das referidas classes, formeis terços de Aux.es e ordenanças, assim de Cavallaria, como Infantaria, que vos parecerem mais proprios para a defeza de cada hua das comarcas dessa Capitania, creando os Officiaes competentes: e nomeando para disciplinar cada hum dos ditos terços, hum Sargtº mor escolhido entre os Officiaes das tropas pagas, que vos parecerem mais capazes de exercerem o d.º posto, com o qual vencerão o mesmo Soldo que vencem os outros Sargt.ºs mores, das tropas regulares dessa Capitania, pago na mesma forma, pellos rendimentos

93

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 73, 1952, p.66.

94

ROMERO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p.236.

95

MELLO, Cristiane Figueiredo Pagano de. Os Corpos de Ordenanças e auxiliares. Sobre as relações militares e políticas na América Portuguesa. História: Questões & Debates. Curitiba, n. 45, Editora UFPR, p.38.

das Cameras dos respectivos destrictos. E por esperar da fidelidade dos Sobreditos officiaes e Soldados dos terços de Aux.es e ordenanças, que me servirão mtº a minha satisfação, em tudo o que forem encarregados, pertencente ao meo Real Serviço, e a defeza dessa Capitania.96

Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, foi nomeado governador da capitania de São Paulo para proteger o sul contra os castelhanos com o objetivo de militarizar a capitania. Com isso, surgiu a preocupação com os uniformes dos soldados, então escreveu para o Capitão Miguel Ribeiro ordenando sobre os padrões do fardamento. Sua tropa tinha 200 homens e somente 3097 seriam escolhidos para fazer parte da companhia. O uniforme era para distingui-los dos demais, e torná-los mais eficientes e funcionais – a indumentária militar que se destaca das demais impõe ordem e respeito perante o inimigo. Por isso, foi instituído um padrão para as roupas dos soldados que iriam compor o exército do governador na batalha contra os castelhanos.

O mais importante era a militarização e, para isso, os soldados deveriam ser uniformizados para se embrenhar mata adentro. Esperava-se que as fardas ficassem prontas o mais rápido possível, o Capitão começava a reclamar devido à demora da resolução sobre as fardas e as cores, porque esse era um assunto sem muita importância naquele momento – tinha algo mais importante para fazer e não poderia perder tempo com esse assunto menor.

Enquanto ás fardas dos Tambores, já resolvi serem da côr das divisas, mas embargo disso, como eu nunca me embaracey muito com essas bagatellas fardem-nos da côr que quizerem, o ponto hé que se fardem, q’ o mais não hé do caso.98

No que toca aos Quarteis, hé precizo que Vmcê procure concluidos com toda a brevidade, e do mesmo modo os fardamentos dos Soldados, por ser muito precizo o ficarmos

96

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 65, 1940, p.149-151.

97

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 67, 1943, p.18-19.

98

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 67, 1943, p.31-32.

desembaraçados dessas cousas miudas, para darmos expedição a outras mayores.99

O Capitão-General estava ficando nervoso quanto à demora da resolução das fardas. Precisava resolver logo essa questão para dar início à sua expedição, pois havia assuntos mais importantes a tratar. Enfim o padrão foi definido:

Vay o Padrão para o fardamento da Compª dos Campos Geraes, dentro da Carta q’ vay com esta, que VM.cê a remeterá ao Cap.m Francisco Carneiro Lobo.

O Padrão para as duas Compªs dessa Villa pode ser a farda que leva feita o Ten. Jeremias de Lemos Conde, q’ hé como a dos Dragoens desta Cidade e só com a diferença que se lhe devem mandar fazer as casas direitas pª se destinguirem dos sobreditos Dragoens q’ as tem inclinadas, e também para a mesma diferença devem ser brancos os tópes dos chapéos e pª o dos Campos Geraes amarellos. Deos guarde São Paulo a 12 de Dezembro de 1766 100

Foram feitos alguns desenhos a pedido de Dom Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, cujos croquis estão nos Documentos interessantes para a história e

costumes de São Paulo, no volume 72, para padronizar o exército da capitania de

São Paulo. Esses desenhos têm as características do traje militar do exército português.

Em Portugal, os uniformes da Infantaria portuguesa foram acompanhando as evoluções da moda durante todo o século XVIII. No princípio do século, no reinado de Dom João V, seguiam os uniformes das potências católicas – França, Espanha, Áustria –, usando fardas de cor cinzenta clara de corte amplo, normalmente sem abas, com chapéus tricórnios grandes, e os granadeiros usavam barretes de pele. Em 1762, os uniformes continuavam a seguir o modelo das potências católicas, sobretudo o do exército da coroa austríaca, sendo que as fardas tinham passado a

99

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 67, 1943, p.22.

100

Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo, vol. 67, 1943, p.19.

ser brancas e as casacas, a ter todas as abas de cor que permitisse distinguir mais facilmente os regimentos.101

Daniel Roche, em A cultura das aparências, descreve a funcionalidade dos uniformes:

A estética ganhou terreno, mas a funcionalidade persiste. E é esta que explica o triunfo da casaca, cujas caudas alongadas liberam as pernas do soldado quando ela está aberta, mas cobre completamente a frente quando fechada.102

Figura 6 - Uniformes dos oficiais granadeiros da guarda francesa (1760).103

101

PORTAL DA HISTÓRIA. O exército português em finais do Antigo Regime. Disponível em: <http://www.arqnet.pt/exercito/principal.html>. Acesso em: 16/02/2017.

102

ROCHE, Daniel. A cultura das aparências. Uma história da indumentária (séculos XVII-XVIII). São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007, p.246.

103

LA SABRETACHE. Officiers de grenadiers des Gardes Françaises vers 1760. Disponível em: <http://lasabretache.fr/nos-confreres-peintres-et-dessinateurs/attachment/5/>. Acesso em: 20/02/2017.

A imagem representando os oficiais franceses segue a definição de Daniel Roche, exibindo farda com as seguintes características: casaco azul alongado com vários botões, meias brancas que cobrem as botas com botões laterais, colarinho amarelo, o punho do casaco vermelho com vários botões, calção na cor vermelha, camisa branca, chapéu tricórnio, cinto, um dos soldados está com uma bolsa vermelha e branca e ambos estão segurando uma espingarda e uma espada e usam peruca. Nesse período, a França inspirava outros países a copiar a sua moda, e os uniformes dos soldados franceses.

Para Sandra Pesavento104, a história cultural é representada por instituições, imagens que formam a representação. A história cultural deve ser entendida como o estudo dos processos com os quais se constrói um sentido.105 Para isso, há de se levar em conta as especificidades do espaço próprio das práticas culturais. Somente assim é possível compreender as práticas complexas, múltiplas e diferenciadas que constroem o mundo como representação.

Nas representações destacadas a seguir estão os soldados portugueses do Regimento de Cascais. As imagens, disponíveis no Arquivo Histórico Militar de Portugal, permitem observar os soldados portugueses e como eram seus uniformes no século XVIII. A farda dos soldados portugueses era parecida com a dos soldados franceses, somente as cores eram diferentes, mas o estilo da casaca alongada era o mesmo.

A história de Cascais como sede de unidades militares pode ser dividida em três períodos principais. O primeiro se iniciou em 1703, quando em Cascais se fixaram três companhias de Infantaria, que dariam origem ao Regimento de Infantaria 19, e acabou em 1834, quando esse Regimento foi extinto pela Convenção de Évora-Monte.106

104

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. 2ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.39.

105

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa/ Rio de Janeiro: Difel/ Bertrand, 1990, p.27.

106

Foi a assinatura que pôs fim à guerra civil e ao governo do Rei Dom Miguel, que era considerado como Rei legítimo pelos seus partidários após a sua aclamação pelas Cortes, mas era visto como usurpador do trono da sobrinha Dona Maria da Glória. Aos vencidos foi concedida a anistia geral de todos os crimes políticos. Com isso D. Miguel foi para o exílio, mas lhe era concedida uma pensão anual. Para compreender o que foi a Convenção de Évora, segue um trecho da carta estabelecida entre os Comandantes dos Exércitos de D. Maria II e de D. Miguel em 26 de maio de 1834: “Illmº e Exmo. Snr. Tenho a honra de acusar a recepção do officio de V.Exc.ª que acompanhava duas cópias

Figura 7 - Uniformes do Regimento de Infantaria da Praça de Cascais (1762).107

das ordens que Exc.ª recebeu do Governo de Lisboa, bem como um masso de Proclamações, assignadas pelo Senhor D. Pedro, Duque de Bragança; e em resposta cumpre-me dizer-lhes que para evitar o derramamento de mais sangue Portuguez, se aceitam as Proposições que V.Excª me remeteu por cópia. Como se permite ao Senhor D. Miguel ao embarcar em qualquer Porto, embarcação das quatros Nações coligadas, ele escolhe o porto de Sines, ou outro qualquer Algarve, e um Vaso Inglez; e espera saber a Sereníssima Senhora Infanta D. Isabel Maria, que se acha na Praça d’Elvas, o quer acompanhar. [...] Deus guarde a Exc.ª Évora, 26 de maio de 1834” Ver: MALOMIL. As unidades militares de Cascais. 17 fev. 2013. Disponível em: <http://malomil.blogspot. com.br/2013/02/as-unidades-militares-de-cascais.html>. Acesso em: 22/02/2017. PARQUES DE SINTRA-MONTE DA LUA. Biografia cronológica - 1798-1834 - 26 de maio de 1834. Disponível em: <http://dpedroiv.pt/cronologia/1834/maio/26/assinatura-do-tratado-de-evoramonte--no-alentejo/124>. Acesso em: 24/02/2017.

107

Figura 8 - Uniformes do Regimento de Infantaria da Praça de Cascais (1777).108

Nos desenhos do Regimento de Infantaria da Praça de Cascais, observa-se que os uniformes representados não mudaram entre os anos de 1762 e 1777, continuaram com as mesmas cores e modelos. Os soldados usavam casacas alongadas azuis com vários botões (como as casacas francesas), calção azul, botas pretas, camisa branca, chapéu tricórnio e cinto; o que mudou foram os canhões azuis, os ombros com dragonas amarelas e a peruca branca. Presente em ambas as imagens, o soldado com tambor era como abre-alas para os demais soldados; vestia farda na cor amarela com vários botões, botas pretas, chapéu tricórnio e camisa branca.

108

MALOMIL. As unidades militares de Cascais. 17 fev. 2013. Disponível em: <http:// malomil.blogspot.com.br/2013/02/as-unidades-militares-de-cascais.html>. Acesso em: 22/02/2017.

Figura 9 - Uniformes do Regimento de Infantaria de Cascais (1783).109

A ilustração do ano de 1783 mostra que não houve mudança nos uniformes: casacos continuam azuis e alongados, canhões na cor amarela com vários botões, chapéu tricórnio com galões amarelos, botas pretas. O primeiro soldado usa um cinto vermelho e colarinho amarelo e os demais, cinto claro e colarinho vermelho. O soldado do tambor usa casaca amarela com vários botões, botas pretas, o seu chapéu tricórnio tem galão amarelo e os canhões do casaco também são amarelos.

Os uniformes em Portugal seguiram o mesmo padrão de 1762 a 1783, tanto nos modelos como nas cores: azul e amarelo, e para os Capitães-Generais a farda era vermelha. Além desses documentos que ilustram as vestimentas dos soldados portugueses, há também outro, o “Regimento de Infantaria de Cascais, 1128 Praça”, com uma lista de compras de itens para confeccionar os uniformes dos soldados da tropa de Cascais.

109

MALOMIL. As unidades militares de Cascais. 17 fev. 2013. Disponível em: <http://malomil. blogspot.com.br/2013/02/as-unidades-militares-de-cascais.html>. Acesso em: 20/02/2017.

Figura 10 - Regimento de Infantaria de Cascais - Fardamento.110

Esse documento, conservado no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, nos ajuda a compreender como se dava a produção dos objetos. Era de acordo com a lista de materiais do fardamento expedida que se produziam as fardas, com tecidos, botões e outros acessórios determinados. E esses objetos eram consumidos pelos oficiais e soldados que usavam tais uniformes padronizados conforme as cores dos regimentos.

110

MALOMIL. As unidades militares de Cascais. 17 fev. 2013. Disponível em: <http://malomil. blogspot.com.br/2013/02/as-unidades-militares-de-cascais.html>. Acesso em: 20/02/2017.

Adilson José de Almeida111 insere o uniforme militar entre os elementos da cultura material, o que significa afirmar o mesmo sobre suas técnicas de manufatura, a maneira como se comercializa, enfim, toda forma de consumo e desenvolvimento da sociedade. O Regimento de Infantaria de Cascais tem a preocupação com a produção do fardamento das tropas, segundo a relação de dados desse documento, os tecidos eram resistentes para a confecção desses uniformes e os materiais eram de primeira linha: pano azul-ferrete, pano branco, pano cor de ouro, sarafina azul- ferrete, linhagem para forro, dúzias de botões de latão para casaca, dúzias de véstias e calções, dúzias de botões para polainas, linhas de cores para casear as fardas, chapéu de galão amarelo, pano de linho para calções, pescocinhos encarnados, pentes de ouro, camisas de pano de linho, pares de meias de linha, pares de sapatos, pares de selas e tacões, brim para polainas, e fita preta para livros e cabelos.

Segundo Daniel Roche112, o senso de hierarquia se fazia presente nas roupas dos oficiais mediante a qualidade dos tecidos e da modelagem. Um tecido de boa qualidade faz toda a diferença na elaboração de uma roupa, melhora o caimento da peça e as cores são mais nítidas, enquanto um tecido de má qualidade deixa as roupas sem forma, não valoriza o corpo de quem as veste.

Na imagem apresentada a seguir, encontrada na obra “Uniformes do Exército Brasileiro, 1922”, de J. Wasth Rodrigues e Gustavo Barroso, estão detalhados todos os itens da vestimenta desses soldados. No século XVIII, o uniforme dos oficiais compreendia chapéu tricórnio com laço à esquerda e presilha, casaca com forro e canhões das cores regimentais, os canhões amplos cheios de casas e botões, camisa com bofes e punhos de renda (que desapareceram no século XIX, menos na França), bandas da cor do forro enchendo a frente da casaca do pescoço à cintura, com abas longas e abertas. A véstia tinha os mesmos galões da casaca e sobre ela se abotoava o talim. O calção com botões, galão e fivela logo abaixo do joelho, aberto na frente em alçapão, mais tarde foi substituído pela calça que se usa nos dias de hoje.