• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.3 número2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.3 número2"

Copied!
31
0
0

Texto

(1)

Int rodução

A m arca d e u m a e d itora com o e m p r e sa cu ltu ra l é m u ito m a is q u e u m n om e . É a firm a r u m lu g a r e m u m e sp a ço d e re la çõe s e m arcar d ife re n ças e d istân cias com p a ra tiva m e n te a ou tra s m a rca s. É a sín te se d e u m m od o e sp e cífico d e cla ssifica r livros, a u tore s e le itore s, te n d o com o p a râ m e tro ou tros m od os. Em re g ra , tod a lin h a e d itorial te m a fin id a d e com ou tra s lin h a s, p a re cid a s, im itá ve is, fa to q u e g e ra a d e fin içã o d e su b e sp a ços d e con corrê n cia . M a s, ob se rva m -se ca sos e m q u e a fu n d a çã o d e u m a e d ito-ra m arca é p oca p or con se g u ir im p or n ovos e sq u e m a s d e p r od u çã o, d e p e rce p çã o e d e a p r e cia çã o d o q u e é con sid e ra d o o “ b om livr o” . Essa s irru p çõe s tê m a p rop rie d a d e d e p rod u z ir o te m p o, com o con se q ü ê n cia d a le g itim a çã o d e n ovos p a râ m e tros p a ra e sta b e le ce r d istâ n cia s e m e d ir o n ovo e m re la çã o a o já e xiste n te . Sã o a s va n g u a rd a s, n o se n tid o sociológ i-co d e “ tom a r p osiçã o à fre n te d e ” , in sta u ra r e stilos e a titu d e s a p a rtir d os q u a is se a lin h a m e se d e fin e m ou tros p re te n d e n te s. O su rg im e n to d a m a rca q u e fa z é p orca p e rm ite id e n tifirca r u m p rin cíp io org a n iza d or fu n d a m e n -ta l d os ca m p os d e p rod u çã o cu ltu ra l (Bou rd ie u 1977) e re ve la r m e ca n is-m os d a e d içã o d e livros cois-m o is-m od o d e in stitu cion a liza çã o d a ord e is-m d os d iscu rsos (Fou ca u lt 1992).

O ob je tivo d e ste te xto é a n a lisa r u m m om e n to d a p rod u çã o d e te m -p o n o ca m -p o e d itoria l, a -p a r tir d e d ife re n ça s e o-p osiçõe s q u e coloca m fre n te a fre n te e d itora s d e lite ratu ra n o Bra sil.

O m a p e a m e n to d e ssa s p on tu a çõe s d o te m p o a ju d a a con stru ir u m e sta d o d o ca m p o e d itoria l e a d e m on stra r a in te rd e p e n d ê n cia n o e sp a ço e n o te m p o d e e m p re sa s com lóg ica s e con ôm ica s e cu ltu ra is op osta s, m a s com p le m e n ta re s. O s d a d os q u e con stitu e m a m a té ria p rim a d e ste tra b a -lh o fora m se le cion a d os a p a rtir d e d ois p la n os d e in ve stig a çã o1: o p rim e

i-ro con siste n o tra b a lh o d e ca m p o re a liza d o d e sd e 1991 n a s fe ira s in te

r-TEMPO E DISTÂN CIAS N A PRODUÇÃO

EDITORIAL DE LITERATURA

(2)

n a cion a is d e livros d o Rio d e J a n e iro e d e Sã o Pa u lo; o se g u n d o, p or m e io d e e n tre vista s, e tn og ra fia d e e m p re sa s, tra b a lh os d e a rq u ivo e b ib liog rá -fico2, e xp lora u m a p e rsp e ctiva com p a ra tiva q u e p e rm ite con trib u ir p a ra a

h istória socia l e cu ltu ra l d o ca m p o e d itoria l n o Bra sil3.

De n tro d e sse s lim ite s, o te xto a p re se n ta , e m p rim e iro lu g a r, a e xp re s-sivid a d e d a s d istâ n cia s m e d ia n te o con tra ste sin crôn ico e n tr e e d itora s a tu a is d e lite ra tu ra . Pa ra ta n to, sã o e xp osta s a s p ossib ilid a d e s d e a n á lise d e d istrib u içã o a p a rtir d a s fe ira s d e livros. Assim , é d e se n volvid a u m a p rim e ira lin h a d e a r g u m e n ta çã o q u e e stá a ssocia d a a u m p rin cíp io d e e stru tu ra çã o d a s r e la çõe s e n tre e d itore s, e xte n síve l p or h om olog ia a ou tra s e sfe ra s d a p rod u çã o cu ltu ra l. A se g u ir, a p re se n ta u m a d e scriçã o con tra sta n te d e trê s ca sos d e e d itora s d e lite ra tu ra (Ed iou ro, C om p a n h ia d a s Le tra s e Re lu m e -Du m a rá ), e sta b e le cid a a p a r tir d e se u s m od os d e a p re se n ta çã o n a s fe ira s.

Por u m la d o, tom a -se o ve tor lite ratu ra com o u m g ê n e ro e n tre ou tros — m a s com a ca p a cid a d e d e g e ra r, a ca u sa d a “ fu n çã oa u tor” (cf. Fou -ca u lt 1992; C h a r tie r 1994:33-65), u m p od e r sim b ólico e u m e sp a ço d e d ife re n ça s e d itoria is d e e xtre m a d ive rsid a d e —, a p a rtir d o q u a l sã o m e d i-d os os i-d e m a is4. Por ou tro, a s e d itora s se le cion a d a s corre sp on d e m à e

sco-lh a d e u m e ixo d e p ola rid a d e s e n tre ou tros, e m b ora ce n tra l, com o a q u e le form a d o p e la s d ife re n te s ê n fa se s cu ltu ra is ou e con ôm ica s im p rim id a s n o d e se n volvim e n to d e e stra té g ia s e d itoria is n o in ício d os a n os 905.

(3)

Este a rtig o b u sca re ve la r o lu g a r e sp e cífico e o re la cion a m e n to d a s a n á lise s e stru tu ra l e h istórica n a e xp lica çã o d a d in â m ica e d a e volu çã o d e u m ca m p o d e p rod u çã o cu ltu ra l sin g u la r. Pre te n d e forn e ce r d a d os e in te rp re ta çõe s q u e d ia log u e m com os tra b a lh os q u e in form a m a h istória socia l e cu ltu ra l d o ca m p o e d itoria l b ra sile iro, a ssim com o d e sm on ta r u m p rin cíp io d e e stru tu ra çã o d e u m tip o d e siste m a cu ltu ra l, com o é a q u e le org a n iza d o a o re d or d a a tivid a d e e d itoria l.

Feiras int ernacionais de livros. M anif est ação do campo do present e

N e sse tip o d e fe ira m a te ria liza m -se n ã o a p e n a s con ta tos d ir e tos e n tre a u tore s e le itore s. In te rm e d iá rios cu ltu ra is com o e d itore s, d istrib u id ore s, livre iros, críticos, a g e n te s lite rá rios ou b ib liote cá rios — fig u ra s a p a g a d a s p e la p rop rie d a d e sim b ólica d o ob je to-livro e p e la “ fu n çã o-a u tor” — tor-n a m -se visíve is, p ú b licos, a o se su b m e te re m à s lóg ica s d e e xib içã o p ró-p ria s d a s fe ira s-e xró-p osiçõe s. C otid ia n a m e n te a id e n tid a d e d e ca d a in te r-m e d iá rio e stá fra g r-m e n ta d a n os e sp a ços d a s livra ria s ou b ib liote ca s, ou con tid a n os lim ite s d os ca tá log os. N a s b ie n a is6su rg e a in d ivid u a lid a d e a

p a rtir d a com p e tiçã o e n tre a s m a rca s, q u a n d o ca d a e xp ositor b u sca m a xi-m iza r su a ixi-m a g e xi-m a tra vé s d a org a n iza çã o d e u xi-m a a xi-m ostra re p re se n ta ti-va (ta n to n o se n tid o e sta tístico com o sim b ólico) d o se u p a trim ôn io. A p ar-ticip ação d e u m e x p ositor e m u m a b ie n al re p re se n ta a atu aliz ação d e u m a h istória e u m re cu rso p ara lu tar p e la con se rv ação ou m e lh oria d e u m a p osição n e sse siste m a cu ltu ral.

Atu a lm e n te , a s fe ira s in te rn a cion a is re p re se n ta m u m d os e sp a ços m a is con sp ícu os d a con sa g ra çã o e d itoria l. C om o ritu a is, m ob iliza m for-ça s d a p u b licid a d e e d ifu n d e m té cn ica s e con ôm ica s, te n d ê n cia s cu ltu ra is e u m a m ora l p rofission a liza n te , p or m e io d e fórm u la s q u e e sta b e le ce m u m a m a triz p rá tica d e d istâ n cia s, d e lim ita d ora d o lu g a r q u e corre sp on d e a ca d a a u tor, livro e le itor, d istrib u in d o ca d a e xp ositor d e a cord o com o p a trim ôn io e con ôm ico e cu ltu ra l a cu m u la d o.

(4)

Am a d o a o la d o d e G a rcía M á rq u e z e m e sta n d e s se m p re loca liza d os b e m p e rto d a e n tra d a , a Re lu m e -Du m a rá la n ça u m n ovo a u tor a ca d ê m ico ca rio-ca e m se u e sp a ço situ a d o n o m e io d a fe ira , e n q u a n to d ois jove n s a n ôn i-m os p e ra i-m b u la i-m lá n o fu n d o, b e i-m n o fu n d o, n a p ra ça d e a lii-m e n ta çã o, te n ta n d o con q u ista r m e ia d ú zia d e le itore s com su a s p oe sia s fotocop ia d a s e e n ca d e rn a d a s a rte sa n a lm e n te . O s vu ltos lite rá rios p re cisa m d e u m n ovo p e d e sta l; o a u tor d e scon h e cid o, d e re con h e cim e n to; e os p oe ta s e rra n te s, d e d in h e iro p a ra u m a p u b lica çã o p or con ta d o a u tor. A p irâ m id e d a re p ú b lica d a s le tra s n ã o p á ra d e se con stru ir e e stá cim e n ta d a ta n to p or a q u e -le s g ra n d e s n om e s com o p or e sse s b oê m ios. En tre os d ois e xtre m os, osci-la m op osiçõe s tã o va ria d a s q u a n to com p le xo e a u tôn om o se ja o á p ice d a p irâ m id e ; tã o d ista n te s com o a s p ossib ilid a d e s e xiste n te s e m u m a é p oca d e se q u e stion a r a h ie ra rq u ia e e xp re ssa r m u d a n ça s d e ru m o sig n ifica ti-va s. C om o e m u m jog o, tod os a p osta m , se e xp õe m e im p õe m a o m e sm o te m p o, con fig u ra n d o u m cam p o d e d isp u tas com o cam p o d o p re se n te , “ com o o d e m on stra o fa to d e u m a u tor d o p a ssa d o e sta r p re se n te n o lu g a r e xa to on d e e stá e m jog o” (Bou rd ie u 1977:39).

Cult ura e economia edit orial:

as f eiras, a dinâmica dos gêneros e a f orça do lit erário

As e m p re sa s d e d ifu sã o, com o os a u tore s e os le itore s, p od e m ca ra c-te riza r-se p or ciclos d e vid a : m od os d e su r g im e n to, a m a d u re cim e n to e e n ve lh e cim e n to. Essa re la çã o com o te m p o p od e se r a n a lisa d a a p a rtir d a s form a s d e cla ssifica çã o d e livros, a u tore s e le itore s, q u e sin te tiza m a titu d e s p a ra com o sim b ólico e o e con ôm ico. As d istâ n cia s q u e os e d ito-re s con stroe m e m ito-re la çã o a o “ e m p ito-re sa ria l” e a o “ cu ltu ra l” g e ra m u m d os p rin cíp ios d e d ife re n cia çã o in e re n te s a os su b e sp a ços d e con corrê n cia , e se m a n ife sta m n os g ê n e ros tra ta d os, n a s con ce p çõe s d e a u tor, n a s tira -g e n s, n os e stilos d e la n ça m e n to d e títu los, n os circu itos d e d ifu sã o u tili-za d os, n a s e stra té g ia s d e re e d içã o e , fu n d a m e n ta lm e n te , n a s form a s d e a d q u irir te xtos, d e se r e la cion a r com os e scritor e s, com se u s le itor e s e com os le itore s q u e p re te n d e m a lca n ça r. Em se u con ju n to, e sse s ite n s p e r-m ite r-m ca ra cte riza r a s e d itora s e r-m e r-m p re sa s orie n ta d a s p or in ve stir-m e n tos se g u ros a cu rto p ra zo — con h e cid a s com o e m p re sas com e rciais — e e m p re sa s orie n ta d a s p or in ve stim e n tos a r risca d os a lon g o p ra zo — a s ch a m a d a s e m p re sas cu ltu rais.

(5)

s-ta b e le cid a s, e sp e ra m b e n e fícios e sse n cia lm e n te e con ôm icos, fa ze n d o g ira r ra p id a m e n te e ssa e sp é cie d e ca p ita l se m a s d e m ora s d e te m p o q u e o ca p ita l cu ltu ra l e xig e . As se g u n d a s — com u m ciclo d e p rod u çã o lon g o —, a ce ita n d o o risco in e re n te à s a p osta s cu ltu ra is ou “ com b in a n d o p ru -d ê n cia e con ôm ica com a u -d á cia in te le ctu a l” , p e rse g u e m b e n e fícios p ro-p ria m e n te cu ltu ra is e re a liza m os a tos ro-p rofission a is com o “ a tos in te le tu a is” , q u e re d u n d a m e m a va lia çõe s e g ra tifica çõe s típ ica s d os “ in te le c-tu a is” : p re stíg io, d e b a te s, re n om e (Bou rd ie u 1977:23-27).

Essa form a d e d ife re n cia çã o corre sp on d e à se p a ra çã o d os d ife re n te s p ú b licos e m te rm os d os u sos d a s le itu ra s e d os livros com o p rá tica s e b e n s a p tos a for n e ce r b e n e fícios d e d istin çã o cu ltu ra l e socia l. Por u m la d o, e d itora s p a ra le itor e s se le tos, se p a ra d os p e lo a lto ca p ita l e scola r e / ou socia l (p rod u tore s p ote n cia is); p or ou tro, e d itora s p a ra o g ra n d e p ú b lico, e m p e n h a d a s n a vu lg a riza çã o. Alé m d isso, e sse e sq u e m a d e d ife r e n ça s corre sp on d e a d ive rg ê n cia s n os e stilos d e a u tore s p u b licá ve is e m re la çã o a os ca p ita is d e con sa g ra çã o, su a s p osiçõe s n os r e sp e ctivos e sp a ços d e cria çã o e ou tra s ca ra cte rística s q u e os le va m a p rod u zir te xtos p a ra ciclos cu rtos e te xtos p a ra ciclos lon g os. Esse p rin cíp io d e h om olog ia q u e corre -la cion a c-la sse s d e e scritor e s, te xtos, e d itor e s, livros e le itore s, e m b ora e stru tu re tod os os su b e sp a ços d e con corrê n cia , é m a is cla ro e e vid e n te n a s ca te g oria s d e livros acad ê m icos e d e lite ratu ra, g ê n e ros e stru tu ra d os e m torn o d a fu n çã o-a u tor, e torn a -se m a is e u fe m iza d o n os livros té cn i-cos, d id áticos e re lig iosos.

(6)

r-p re ta d a s a se g u ir, é n a r-p u b lica çã o d e lite ra tu ra q u e o e d itor a ce n tu a su a a tivid a d e com o se le cion a d or cu ltu ra l, cú m p lice d a con sa g ra çã o d o cria-d or, re con h e ce cria-d or q u e é r e con h e cicria-d o e m u m n om e e e m u m e stilo cria-d e a p re se n ta çã o.

A lit erat ura ent re volumes e linhas.

Das coleções de clássicos ao int elect o bem t emperado

Ediouro

C om o tod a e d itora d e g ra n d e p orte e ca tá log o e xte n so, e la é d ifícil d e se r re su m id a e m u m g ê n e ro. N o e n ta n to, p e lo volu m e d e p rod u çã o e p or su a lin h a m a is e stá ve l, é a u to-re fe re n cia d a e re fe re n cia d a p or tod os com o e d itora d e lite ra tu ra . A Ed iou ro é u m ca so “ lim ite ” e n tre a s e m p re -sa s d e vu lg a riza çã o ou d e ciclo cu rto. Fu n d a d a n o in ício d os a n os 40 p or J org e e An ton io G e rtu m C a rn e iro com o Te cn op rin t, form ou e sse p e rfil a p a rtir d e su a cole çã o liv ros d e ou ro, p ion e ira n a in trod u çã o d o e stilo p oc-k e t b oooc-k s n o Bra sil. Procu ra com p e tir com a Re cor d , a in d a q u e e m su a lon g a tra je tória te n h a sa b id o e n con tra r se u lu g a r ve n d e n d o e d içõe s m u i-to sim p le s, a “ p re ços p op u la re s” .

Ta n to e m se u s g ra n d e s e sta n d e s com o e m se u s livros, tu d o é e xp lícto p a ra q u e o le ilíctor sa cie su a s n e ce ssid a d e s, a com e ça r p e la s e con ôm i-ca s. C a d a livr o tra z n a lom b a d a o p r e ço cod ifii-ca d o p or u m siste m a d e sím b olos e , a o a b rir a s in con fu n d íve is ca p a s d e ca rtã o m ole , fle xíve is, b ri-lh a n te s, com d e se n h os colorid os, e n con tra -se n a fa lsa fori-lh a d e rosto u m a m e n sa g e m d os e d itore s, id ê n tica e m tod os os e xe m p la re s:

“ Um livro Ed iou ro é in com p a rá ve l!! Fa ze m os tu d o q u e é p ossíve l p a ra ofe -re ce r livros d a m a is a lta q u a lid a d e . N osso p a p e l é d e p rim e ira . A com p osiçã o e le trôn ica e com p u ta d oriza d a g a ra n te le tra s se m d e fe ito e u m a ca b a -m e n to p e rfe ito. O siste -m a d e e n ca d e rn a çã o é o -m od e rn o -m é tod o d e p e rfe ct

b in d in g . Tod o e ste e sforço é re com p e n sa d o: só ofe re ce m os livros d e a lto

p a d rã o, p or u m p re ço m ín im o.”

(7)

c-tiva d o g ra n d e p a rq u e g rá fico d a Ed iou ro, in sta la d o e m Bon su ce sso, b a ir-ro d a p e rife ria in d u stria l d o Rio d e J a n e iir-ro.

Essa im a g e m é a m p lia d a e m se u s a sse m e lh a d os e sta n d e s d e b ie n a l p a ra b ie n a l: m u ito g ra n d e s, com p a re d e s d e vid ro e a rre m a te s su p e riore s e m a crílico ve rm e lh o e a m a re lo, com u m e xé rcito d e ve n d e d ore s con tra -ta d os p a ra a fe ira , p ote n te s lu ze s flu ore sce n te s e e n orm e q u a n tid a d e d e ca rta ze s p la stifica d os q u e a n u n cia m u m a in fin d á ve l re la çã o d e ca te g o-ria s d e livr os. Aq u i, tod o livr o te m su a cole çã o e a g a m a d e g ê n e r os é e n orm e : p assate m p os, b rin cad e iras, re lig ião, liv ro-jog o, RPG , te ste s, au to-aju d a e y og a, d icas p ara o lar, h oróscop o, e sp orte s, g in ástica, arte s m arciais, g u ias p rofission ais, fotog rafia, clássicos, e sote rism o (com u m a g ra n -d e q u a n ti-d a -d e -d e títu los), au tom óv e is, sab e -d oria e p e n sam e n to, tricô e croch ê , p in tu ra, saú d e , arte san ato, d e se n h o, lite ratu ra, in fan tis, folclore , filosofia, ju v e n is, d id áticos, m itolog ia, d icion ários. En tre se u s la n ça m e n -tos p a ra a VI Bie n a l d o Rio d e J a n e iro (1993), d e sta ca va m -se os livros Por De u s, p e la Pátria e p e la Coca-Cola, d e M a rk Pe n d e rg ra st, e d ois livros d o jog a d or d e b a sq u e te Ervin “ M a g ic” J oh n son : M in h a Vid a e O q u e Você Pod e Faz e r p ara Ev itar a A IDS — e ste s ú ltim os la d e a d os d e fotog ra fia s e m ta m a n h o n a tu ra l d o jog a d or. N a com p ra d os d ois livros, o con su m id or e ra a g ra cia d o com u m a fotom on ta g e m a o la d o d o íd olo. Alé m d isso, p or ca d a com p ra fe ita g a n h a va -se u m e xe m p la r d e Coq u e te l, a p ion e ira re vis-ta d e p a ssa te m p os e p a la vra s cru za d a s. Ta m b é m n ã o fa lvis-ta va m livros e m p rom oçã o.

N os livros, a ca te g oria m a is re d u n d a n te e ra a d e clássicos. Este g ê n e -ro, n a s e sta n te s loca liza d a s n o fu n d o d o e sta n d e , ocu p a va q u a tro ve ze s m a is e sp a ço q u e os livros d e ou tra s ca te g oria s e com p re e n d ia a s cole çõe s clássicos d e b olso , p re stíg io e u n iv e rsid ad e d e b olso . Alu ísio Affon so, g e re n te e d itoria l, p re fe ria fa la r d e clássicos p op u lare s.

A p rim e ira cole çã o e ra a n u n cia d a com o clássicos d e tod os os te m p os e con ta va com u m a ce n te n a d e títu los, e n tre os q u a is sob re ssa ía m os d e N ie tzsch e , Sch op e n h a u e r, Pla tã o e Ka n t, com n ove , cin co, q u a tro e trê s títu los, re sp e ctiva m e n te , ca d a u m , e ou tros cin q ü e n ta a u tore s d o p a n te ã o d a filosofia u n iv e rsal.

(8)

sob re ssa ía m on ze títu los d e Eça d e Q u e ir oz, cin co d e C a m ilo C a ste lo Bra n co e q u a tro d e Ale xa n d re H e rcu la n o e J ú lio Din iz.

Por ú ltim o, d a te rce ira cole çã o fa zia m p a rte , com o títu los d e b olso, O Cap ital d e M a rx (u m volu m e p e q u e n o), G u e rra e Paz d e Tolstoi, O Pro-ce sso d e Ka fk a e d e ze n a s d e títu los d e a u tor e s q u e vã o d e Volta ire a O sca r Wild e , d e C e rva n te s a Da rw in .

De ssa s cole çõe s, a m a ior cor re sp on d ia à d e clássicos d a lite ratu ra b rasile ira. O s p re ços d a e d itora , ta lve z os m e n or e s d o m e rca d o, e su a e xte n sa re d e n a cion a l d e livra ria s C u rió fa ze m com q u e su a s cole çõe s se ja m a s m a is u tiliza d a s n os cu rsos d e lite ra tu ra e ciê n cia s socia is, d e 5ª a 8ª sé rie d a e scola p rim á ria , n a e scola se cu n d á ria e n os cu rsos u n ive rsi-tá rios7.

O ca tá log o d a Ed iou ro é e scolh id o, se g u n d o Alu ísio Affon so, “ a com -p a n h a n d o a s e d itora s e stra n g e ira s e ob se r va n d o a con cor rê n cia ” , -p or isso, ca tá log os e p e riód icos b ib liog rá ficos sã o o in stru m e n to q u a se e xclu -sivo d e ca p ta çã o d e títu los. O re su lta d o é u m ca tá log o e q u ilib ra d o e n tr e a u tore s b ra sile ir os e e stra n g e ir os, com m u itos títu los d e ca d a a u tor. A Ed iou ro m a n té m u m d os ín d ice s m a is a ltos d e p u b lica çã o a n u a l d e livros (ce rca d e 120): n u m p ólo, clássicos q u e ca íra m n o d om ín io p ú b lico (d e p ois d e se sse n ta a n os d a m orte d o a u tor); n o ou tro, u m a g ra n d e q u a n tid a d e d e livros “ se m a u tor” , livr os com títu los e xte n sos p a ra r e sp on d e r à s n e ce ssid a d e s d o le itor (g u ia s p rá ticos, té cn ica s, con se lh os, a ju d a s, p a ssa -te m p os) e n os q u a is o n om e d o a u tor p a re ce m e ra d e cora çã o d a ca p a . A in te n sa p u b lica çã o d e clássicos, e m q u e p re va le ce m os d e filosofia , lite -ra tu -ra e se u s su b g ê n e ros, é a a rm a a t-ra vé s d a q u a l os e d itore s a va lia m a m u d a n ça d e ru m o d a Ed iou ro, d e u m a lin h a p op u la r e d e m a ssa à con q u ista d e “ fa ixa s d e p ú b lico e xtre m a m e n te e xig e n te s” . Ain d a q u e Affon -so e xa lta sse a e sp e cificid a d e d a e m p re sa , n a q u e le m om e n to a te n d ê n cia e scolh id a a a p roxim a va d e su a m a ior con corre n te , a Re cord , q u e , se g u n -d o e le , “ n ã o p op u la riza ta n to e te m m e lh or q u a li-d a -d e e va rie -d a -d e ” . Por op osiçã o, e xiste m e d itora s q u e su b lim a m os n ú m e r os a tra vé s d e jog os sim b ólicos.

Companhia das Let ras

(9)

ti-g a ; sp ots; ve n d e d ore s u n ive rsitá rios; e sta n te s sób ria s d e m a d e ira ou d e m e ta l p re to. N a b ie n a l d e 1994 o clim a d o a m b ie n te e ra com p le ta d o p e la voz e a s im a g e n s d e in te le ctu a is d e re n om e , q u e a p a re cia m e m e n tre vista s re p rod u zid a s e m víd e o, e m a lg u n s ca sos n o id iom a orig in a l. N o e svista n -d e , se m p re com p a rtilh a -d o com a J org e Za h a r E-d itora , o ca sa l -d e e -d itore s Lu iz Sch w a rcz e Lilia M oritz a com p a n h a va d e p e rto e ssa m ovim e n ta çã o.

Sch w a rcz con ce b e su a e d itora com o d e lite ratu ra, já q u e e sta n oçã o fu n cion a com o u m p rin cíp io d e se le çã o d e títu los. Se g u n d o o d ir e tor, “ m e sm o n a s ob ra s d e n ã o-ficçã o, e u con sid e ro q u e a g e n te e stá fa ze n d o n ã o-ficçã o lite rá ria , q u e r d ize r, com p re ocu p a çõe s lite rá ria s [...], m e sm o q u e a s ob ra s se ja m h istórica s, d e ciê n cia p olítica , ou tra b a lh o in te r d isci-p lin a r n a á re a d e n ã o-ficçã o, tod os os tra b a lh os tê m u m cu id a d o lite rá rio com o te xto”8.

Ta n to vu lg a rm e n te com o e n tre os p rofission ais d o liv ro, os ju ízos q u e p re va le ce m sob re e ssa e d itora se m p re com e ça m p e la m e n çã o à q u a lid a -d e -d a s ca p a s, à e sté tica -d o ob je to-livro. Re con h e cíve is à -d istâ n cia , se u s livros tê m m u d a n ça s d e e stilo ca ra cte rística s, fe ita s à m e d id a q u e vã o se n d o im ita d os p or ou tra s m a rca s9. Se u ca tá log o, já e xte n so, te m a d in â

-m ica d e tod a e d itora q u e cre sce . A d ive rsifica çã o n e ce ssá ria d a su a lin h a e d itoria l le vou à e n tra d a n o g ra n d e filã o d o p rin cíp io d os a n os 90, os liv ros in fan tis, cria n d o o se lo C om p a n h ia d a s Le trin h a s.

Até 1991, os a u tore s m a is p u b lica d os e ra m Ru b e m Fon se ca , com se te títu los; Au g u sto d e C a m p os, Pe te r G a y e C a rlo G u in zb u rg , com q u a tro títu los ca d a u m ; e Ross M a cDon a ld , Ed m u n d Wilson , Rob e r t Da rn ton , Bru ce C h a tw in , Eve lyn Wa u g h , J e a n Sta r ob in sk i, V. S. N a ip a u l, J osé Sa ra m a g o, Ad a u to N ova e s, com trê s títu los. O u tros a u tore s p u b lica d os e ra m Ra ym on d Willia m s, Flora Sü sse k in d , Íta lo C a lvin o, Pe te r Bu rk e , Wa n d e rle y G u ilh e rm e d os Sa n tos, J osé M u rilo d e C a rva lh o, An th on y Bu r-g e ss, Sé rr-g io P. Rou a n e t, J . C . O n e tti, H a n n a h Ar e n d t, O sca r Wild e , Rich a rd M orse , M a rsh a ll Be rm a n , Vin íciu s d e M ora is, Did ie r Erib on , G . Du b y, C h ico Bu a rq u e . N ove n ta p or ce n to e ra m cla ssifica d os com o ficção e e n saio. O u tra s ca te g oria s com p re e n d id a s e sta va m d iscrim in a d a s com o p oliciais, p oe sia, v id a cotid ian a, e sp e ciais e b iog rafia.

Sch w a rcz a d m ira J org e Za h a r10, q u e o a com p a n h a com su a tra d

icion a l m a rca e sp e cia liza d a e m livros a ca d ê m icos icion a á re a d e ciê icion cia s h u m a -n a s. Za h a r d istrib u i os livros d a C om p a -n h ia d a s Le tra s -n o Rio, e Sch w a rcz d istrib u i os livros d a J org e Za h a r e m Sã o Pa u lo. C a d a u m a p óia a ou tra m a rca e a m b os se re troa lim e n ta m sim b iotica m e n te .

(10)

rom p e r com a s m e d ia çõe s d o crítico, d o livre iro, d o d istrib u id or, d o jorn a -lista e se n tir a p u lsa çã o d e se u p ú b lico. M e sm o d irig in d o u m a e m p re sa e m con sta n te e xp a n sã o, o e d itor, p re so à lóg ica cu ltu ra l com a q u a l con -q u istou p re stíg io, d e d ica a te n çã o e te m p o p e ssoa l a o re con h e cim e n to d os a u tore s d e se u ca tá log o. A C om p a n h ia d a s Le tra s se rá m e lh or ca ra cte ri-za d a a p ós a d e scriçã o d e u m a e d itora m a is re ce n te d o Rio d e J a n e iro.

Relume-Dumará

C om u m p e q u e n o e sta n d e , e str e ou e m b ie n a is e m 1993. N a q u e le a n o, a s d ificu ld a d e s p a ra p a g a r a p a rticip a çã o n a fe ira d o Rio re fle tira m -se n a e stru tu ra p a d ron iza d a d o p e q u e n o e sta n d e , re ve stid o d e te cid o ve r-m e lh o p ú rp u ra q u e ca ía d o te to. Da r-m e sr-m a cor e ra o p a in e l d e r-m a d e ira com a rre m a te tria n g u la r q u e , cob rin d o tod a a la rg u ra d o e sta n d e e ilu m in a d o p or re fle tore s, tra zia o lite rá rio in om e d a e d itora . C om e stilo se m e lh a n te a o d a C om p a n h ia d a s Le tra s, o n om e Re lu m e Du m a rá d istin g u ia -se p or u m a vin h e ta à a n tig a d e u m ca va le iro com ch a p é u le n d o a g a lop e . Tod o o se u p e q u e n o ca tá log o e sta va n o e sta n d e . En tr e os 64 títu los, a p e n a s q u in ze e ra m d e a u tore s e stra n g e iros e e x clu siv am e n te lan çam e n tos. O s livros e ra m d e form a s e d e sig n va ria d os, com ca p a s b e m d ife re n -te s. Em u m a m e sa n a e n tra d a re lu zia o b e st se lle r Con fissõe s d e A d ole s-ce n te d e M a ria M a ria n a , a n u n cia d o com o “ o livro cu lt d e u m a g e ra çã o” , a lé m d e ou tr os títu los d e n arrativ a, com o Um a S om b ra Log o S e rás d e O sva ld o Soria n o, Um M on arca d a Fu z arca d e Pom p é ia , Aze ve d o e d o Pa trocín io, De v olta à Estação Fin lân d ia d e Aa rã o Re is e m a is se te títu los, m istu ra d os com e n saios d a á re a d e ciê n cia s h u m a n a s, d e n tre os q u a is se d e sta ca va m trê s d e H a n n a h Are n d t e ou tros d e re con h e cid os in te le ctu a is d o m e io a ca d ê m ico ca rioca , com o Rob e rto Da M a tta , Ru b e m C e sa r Fe r-n a r-n d e s, Lu iz Ed u a rd o Soa re s, H é lio Silva . A m a ioria d os títu los corre s-p on d ia à s-p sican álise e à saú d e . Ao la d o d a e n tra d a , u m te le visor e xib ia a p e ça d e te a tr o V iag e m a Forli, in clu íd a n a Trilog ia d e M a u ro Ra si. N o in te rior e sta va m e xp osta s a s cole çõe s d e p sica n á lise , u m a cole çã o com títu los d e Sh a k e sp e a r e e a s e d içõe s d e a lg u n s p e riód icos a ca d ê m icos (RBCS, BIB-A N PO CS, Ph y sis, A n u ário d e Psican álise ). Ap e n a s p e q u e n os ca rta ze s fe itos e m com p u ta d or m e n cion a va m d u a s ou trê s ca te g oria s. O s livros se re p e tia m n o fu n d o, e m p ou ca q u a n tid a d e , coloca d os e m e sta n-te s forra d a s d e n-te cid o.

(11)

q u e p re te n d ia re tra ta r “ u m m om e n to d e re fle xã o com u n ica tiva n a h istória d os livros” . As ca p a s fora m cu id a d osa m e n te e m old u ra d a s, ilu m in a -d a s, in tro-d u zi-d a s p or u m te xto te oriza n te -d e C a ssol e im p r e ssion a ra m fa vora ve lm e n te a crítica jorn a lística . N e ssa e xp osiçã o, re p e tid a n a s fe ira s se g u in te s com n ova s ve rsõe s, p od ia se p e rce b e r a in te n çã o d os e d itore s d e re p e n sa r e a u m e n ta r a s p ossib ilid a d e s d e com u n ica çã o e e xp r e ssã o d os livros.

A b ie n a l n ã o re p re se n ta va p ou co p a ra se u s e d itore s: u m d e le s a ch ou fan tástico te r p a rticip a d o, n ã o p or te r con se g u id o u m in u sita d o r e torn o e con ôm ico d e 30% , m a s p or “ te rse a p re se n ta d o à socie d a d e ” . As m e tá -fora s e scolh id a s p e lo e d itor com p a ra va m a Re lu m e -Du m a rá a u m a m e n i-n a d e q u ii-n ze a i-n os: d e b u ta ra m , p e r d e ra m a virg ii-n d a d e , se m ostra ra m , “ a g ora é u m a viã o q u e d e colou e voa sozin h o” . Exib ir o n om e e o ca tá lo-g o n a s fe ira s in te rn a cion a is re p re se n ta , p a ra os p e q u e n os e d itore s, tod o u m rito d e in stitu cion a liza çã o. Em com p e n sa çã o, ou tra s m a rca s a ca d ê m i-ca s tra d icion a is, com o Bra silie n se ou Pa z e Te rra , p od e m d a r-se a o lu xo d e n ã o p a rticip a r d a s b ie n a is, p e lo m e n os d a s b ie n a is d o Rio d e J a n e i-ro11.

En tre a s p re se n ça s p e r m a n e n te s n o e sta n d e d a Re lu m e -Du m a rá e sta va Alb e rto Sch p re je r, d ire tor e d itoria l e fu n d a d or, ju n to com Ari Roitm a n , d e sta e d itora ca rioca n a scid a n o fin a l d e 1989. Sch p re je r p e rRoitm a n e ce u tod o o te m p o n a VI Bie n a l d o Rio. C om e n tu sia sm o e d e slu m b ra m e n -to a te n d ia o p ú b lico, ju n -to com su a cu n h a d a — u m a “ d os q u a tro d a e d i-tora ” loca liza d a n a Zon a Su l d o Rio d e J a n e iro. N u tria m u m m isto d e fa s-cin a çã o e m e d o d e ve r a e m p re sa cre sce r, d e se n tir q u e d e colou p a ra o m u n d o d os livros e q u e já n ã o d e p e n d ia d e le s, p ois a té e n tã o se u ca tá lo-g o e ra fe ito d e lo-g ê n e ros e a u tore s p rove n ie n te s d os m e ios cu ltu ra is q u e a m b os d om in a va m p e ssoa lm e n te . Sch p re je r, cie n tista socia l, com p a ssa -g e m p e lo m e stra d o e m filosofia d a PUC -Rio, e Roitm a n , com o p sica n a lis-ta , form a d o e m Bu e n os Aire s e p a rticip a n te d o g ru p o Le tra Fre u d ia n a , te ce ra m u m a d e n sa re d e e n tre se u s con g ê n e re s u n ive rsitá rios, p a ra la n -ça r u m a m a rca e sp e cia liza d a e m a m b a s a s á re a s, sin te tiza d a n a ru b rica e n saio e a b e rta à p u b lica çã o d e n arrativ a e te atro. Pa ra e xp lica r o p e rfil d a e d itora , Sch p re je r ta m b é m e n fa tiza va su a in se rçã o p e ssoa l n o m ovi-m e n to d e e sq u e rd a d o fiovi-m d os a n os 60. Escolh ia os livros coovi-m cu id a d o, n ã o a tra vé s d e ca tá log os, m a s p or “ g osto p e ssoa l” e r e com e n d a çã o d e se u círcu lo d e con su lta s:

(12)

s-m a n , Sé rg io G ois. Se você p e g a os livros e vê os a u tore s, cru za s-m os o ca s-m i-n h o a lg u m d ia : i-n a m ilitâ i-n cia p olítica , i-n a p risã o, i-n o e xílio, i-n a p sica i-n á lise , i-n a u n ive rsid a d e . En tã o é isso o q u e a e d itora m a is tra n sb ord a , o q u e m a is e xp li-ca e la .”12

Ta l ca m in h o se g u ira m , p or e xe m p lo, os livros d e H a n n a h Are n d t, tra -d u zi-d os p or re com e n -d a çã o -d e u m se u a n tig o orie n ta n -d o, ou a Re v ista -d e Psican álise d o Rio d e Jan e iro, org a n iza d a p or u m a m ig o d e Ari Roitm a n .

Esse círcu lo e ra a tivo, a ca u sa d a re ce n te cria çã o d a e d itora . Alb e rto com e çou a se in te re ssa r p e lo m e rca d o d e livros e n tre 1986 e 1987. A p ri-m e ira id é ia foi a d e in sta la r u ri-m a livra ria , ri-m a s o Pla n o C r u za d o in via b ilizou a a q u isiçã o d e u m loca l: “ e n tã o e u , com o já e sta va p e sq u isa n d o, e sta -va com e ça n d o a e n te n d e r, já tin h a con ta tos, e u m e p re p a re i p a ra m on ta r u m a d istrib u id ora ” . A p a rtir d a Distrib u id ora Du m a rá (d e M a rá , a p e lid o d e Alb e rto), q u e d istrib u ía livros d e e d itora s d e e xtra çã o in te le ctu a l, com o os d a Escu ta , d e Sã o Pa u lo, livr os d e a rte e im p or ta d os, foi a d q u irin d o e xp e riê n cia e m d ivu lg a çã o e a m p lia n d o se u s con ta tos n o m u n d o d os livros. As re d e s a ca d ê m ica s o in ce n tiva ra m à e d içã o d e u m p rim e iro livro, n o fim d e 1989: Fre u d , 50 A n os De p ois. Te ve e ssa id é ia ju n to com Ari e , p a ra con cre tizá -la , ch a m a ra m J oe l Birm a n , q u e org a n izou u m a cole tâ n e a d e a u tore s b ra sile iros e fra n ce se s. C om o te m p o, su rg iu a op ortu n id a d e d e p u b lica r u m a cole çã o d e p sica n á lise e d e p ois ou tra d e a n u á rios d e p si-ca n á lise . Tive ra m su ce sso, e Ari in sp irou -se e m G ran d e S e rtão: Ve re d as, d e G u im a rã e s Rosa , p a ra cria r o n om e Re lu m e , q u e foi in te rp r e ta d o, se g u n d o Alb e rto, “ p a ra tra ze r m a is lu z; ta m b é m n ã o e sta m os e m N ova York p a ra se r Sim on & Sch u ste r” . Sch p re je r, n a ve rd a d e , n ã o re con h e ce a e xistê n cia d e u m p roje to m u ito e la b ora d o d e livros, e sim q u e a lin h a d a e d itora “ foi se fa ze n d o. É a ca d a p roje tin h o q u e a g e n te con strói. Ve m u m ou tro livro q u e já n os coloca n u m a b ifu rca çã o, n u m a ou tra d ire çã o” .

Se m e lh a n te à C om p a n h ia d a s Le tra s d e Sã o Pa u lo, e ssa e d itora com e ça va a ca p ta r in te n çõe s d e p u b lica çã o d om in a n te s n o ca m p o in te -le ctu a l d o Rio. Esse p a d rã o e ra m a n tid o p a ra -le la m e n te a u n s p ou cos p ro-je tos d e títu los d e g ra n d e ve n d a g e m . Ain d a q u e os e d itor e s n ã o te n h a m p la n e ja d o o e str on d oso ê xito ju ve n il d e Con fissõe s d e A d ole sce n te , já h a via ce rta e stra té g ia d e b e st se lle r a g re ssivo e m A s Pon te s d e M ad ison d e Rob e rt J a m e s Wa lk e r13. Q u a n to à C om p a n h ia d a s Le tra s, ca d a se m a

-n a e la m a -n té m títu los -n a re la çã o d e os m ais v e -n d id os d os su p le m e -n tos lite rá rios.

(13)

os e d itore s d e Ilu m in u ra s a p on ta m a s e d itora s Ars Poe tica , N ova Ale xa n -d ria e Arte s e O fícios -d e Porto Ale g re ; e ste s -d e sig n a m a s e -d itora s Scritta , Esta çã o Lib e rd a d e , Se tte Le tra s, C on tra p on to e O p e ra N ostra , e a ssim va i se te ce n d o u m a re d e d e a fin id a d e s e n tre e d itora s com u m d e te rm in a -d o p e rfil. Por trá s -d e sta s, u m fe n ôm e n o m arcan te , u m ju ízo com u m , q u e p od e se r sin te tiza d o n e sta s p a la vra s d e Sch p re je r: “ Va m os d ize r q u e o su rg im e n to e o su ce sso d a C om p a n h ia d a s Le tra s n os in sp ira a tod os, p orq u e é u m a b e la e d itora e ilu m in ou u m p ou co o ce n á rio e d itoria l, in for -m a n d o q u e e ra p ossíve l fa ze r b o-m livro e te r -m e rca d o co-m b o-m livro”14.

O porvir: a invenção do prest ígio

A se u te m p o, Lu iz Sch w a rcz e xp lica va q u e n ã o é q u e n o Bra sil n ã o h ou ve sse e d itoras d e b oa q u alid ad e , e sim q u e e m se u p r oje to te n tou ra d ica liza r e sse a sp e cto e m on ta r u m a e d itora a p e n a s com livros d e q u a -lid a d e . Su a “ visã o” p a rtiu d o p re ssu p osto d e q u e n o Bra sil o p ú b lico le i-tor é p rop orcion a lm e n te m a is e litiza d o q u e e m ou tr os p a íse s, on d e os livros d e p re stíg io sã o e d ita d os p or e d itora s m ista s, q u e p u b lica m b e st se lle rs con ve n cion a is e , p a ra a s e lite s cu ltu ra is, livros “ q u e n ã o ve n d e m ” . A cria çã o d a C om p a n h ia d a s Le tra s foi cu id a d osa m e n te p la n e ja d a . Sch w a rcz form ou -se n o ofício a p a rtir d a Bra silie n se , on d e ch e g ou e m 1978 com o e sta g iá rio d a Escola d e Ad m in istra çã o d e Em p re sa s d a Fu n d a çã o G e tu lio Va rg a s. Ele p e n sa va se u fu tu ro n o m u n d o a ca d ê m ico, m a s foi a tra íd o p e la e d içã o d e livros. N a Bra silie n se ch e g ou a d ire tor e d itoria l, cu id a va d a p a rte g rá fica e foi re sp on sá ve l p e la b e m -su ce d id a cole çã o “ En ca n to Ra d ica l” . N e ssa é p oca , a Bra silie n se e sta va e n tr e a s trê s m a io-re s e d itora s d o p a ís e Lu iz e ra con sid e ra d o o b ra ço d iio-re ito d e C a io G ra co d a Silva Pra d o15. Em m a rço d e 1986, e m Sã o Pa u lo, criou a e d itora , isto é ,

(14)

s-so d e m od o p rofission a l, e n a á re a d e ciê n cia s h u m a n a s, Lilia Sch w a rcz, h istoria d ora e a n trop ólog a , e ra u m im p orta n te e le m e n to d a se le çã o.

A con tra p a rtid a e con ôm ica d e sse d e sa fio cu ltu ra l foi “ su b sta n cio sa ” . A e xe m p lo d a s m a iore s e d itora s, já n o in ício d os a n os 90 fa zia m g ra n -d e s tira g e n s e in icia ra m cole çõe s -d e a u tor e s16. M a s, p a ra firm a r-se com o

e d itora d e p re stíg io, p re cisa va m cu id a r d e su a lin h a . Por m e io d a e stiliza -çã o con tín u a d a s ca p a s, d o cu id a d o com o te xto, d a s n ova s con ce p çõe s d e e d itora çã o e d e se le çã o, d o tra b a lh o ju n to à crítica jorn a lística e a ca -d ê m ica , -d e n ova s in te rp re ta çõe s -d a “ h istória e -d itoria l” e -d e con trib u i-çõe s à cu ltu ra b ra sile ira , e m su m a , d o jog o com u m ca p ita l sim b ólico, e s-ta b e le ce u -se a via d o g ra n d e su ce sso com e rcia l. Ta lve z isso e xp liq u e p or q u e n o com e ço d os a n os 90, a n te o in e vitá ve l im p u lso d e cr e scim e n to, op ta ra m p e la a b e rtu ra d a C om p a n h ia d a s Le trin h a s, e m ve z d a m e ra a cu m u la çã o d e títu los lite rá rios a tra vé s d o re cu rso a os clássicos ou a os títu -los “ p rá ticos” ou “ p op u la re s” .

Sacerdot es e prof et as

Volumes e linhas

Se a ca te g oria u sa d a p a ra ca ra cte riza r o e sp e ctro d e p u b lica çõe s d e u m a e d itora é a lin h a, e sta n oçã o p od e fu n cion a r com o u m d e scritor id e a l d a d in â m ica d e p u b lica çã o e m e m p re sa s com o a C om p a n h ia d a s Le tra s ou a Re lu m e -Du m a rá , a o p a sso q u e a ca te g oria v olu m e se a p lica m e lh or a o e stilo “ d e m a ssa ” d a Ed iou ro ou d a Re cord . O con tra ste e n tre a s im a -g e n s d a s ca p a s d e se u s ca tá lo-g os -g e ra is é u m a p rova e vid e n te d isso. Se u m ca tá log o d a C om p a n h ia d a s Le tra s a p re se n ta a p e n a s u m a p in tu ra e o n om e d a e d itora , e o d a Re lu m e -Du m a rá , o d e se n h o d e u m tra ço sob re fu n d o b ra n co com g u a r d a s tê n u e s, e m q u e o n om e e o a n o a p a r e ce m com o u m toq u e , o ca tá log o d a Ed iou ro tra z in ú m e ra s in form a çõe s sob re os p re ços, a re d e d e livra ria s, os d istrib u id ore s, o p a rq u e g rá fico, in d ica n -d o q u e p ossu e m “ m a is -d e q u a re n ta re vista s, m a is -d e 3 m il títu los p u b lica d os e 4 m ilh õe s d e u n id a d e s p or m ê s” . As “ lin h a s” sim b oliza m con -ce p çõe s d e le itor e a m b ie n te s d e le itu ra ; os “ volu m e s” , livros com o m e r-ca d oria e r-ca p a cid a d e e m p re sa ria l.

(15)
(16)

re s (n o e sp a ço e n o te m p o d e su rg im e n to d e se u s n om e s), os e d itore s d e e m p re sa s d e vu lg a riza çã o a d m in istra m os títu los con sa g ra d os, cu id a m d o p a n te ã o e se a lim e n ta m d e le . O s re sp on sá ve is p e la s n ova s e d itora s su rg e m com o “ d e scob rid ore s in sp ira d os” , se m p re ju n to d e a u tore s e m la n -ça m e n to, q u e m u ita s ve ze s con h e ce m p e ssoa lm e n te , p e ssoa s n a lu ta p a ra con q u ista r u m lu g a r n o m u n d o d a s id é ia s. N a q u e le s, o g osto p re e sta b e le cid o e a cu ltu ra le g itim a d a e in d iscu tid a ; n e ste s, os d e b a te s e m ovim e n tos d e le g itim a çã o cu ltu ra l, d isce rn íve is n os n ovos e sq u e m a s d e p rod u -çã o, e stiliza -çã o e p e rce p -çã o d o livro. Essa d in â m ica se e vid e n cia ta n to n a org a n iza çã o d a s e m p re sa s e n o com p orta m e n to d os e d itore s17, com o n os

u sos d a s re p re se n ta çõe s clássicos e Brasil.

De n tre a s ca ra cte rística s se m e lh a n te s d a Re cor d e d a Ed iou ro, é a b u n d a n te o u so d a s n oçõe s clássicos e lite ratu ra b rasile ira18. Am b a s

m on op oliza m a e d içã o d os g ra n d e s vu ltos d a h istória d a s id é ia s e os d ifu n-d e m e m la rg a e sca la . Q u a se se m p re e n-d ita m títu los “ tra n-d icion a is” q u e caí-ram n o d om ín io p ú b lico ou a u tore s e m a tivid a d e con sa g ra d os p or m ovi-m e n tos in te le ctu a is d e lon g a d a ta . É iovi-m p orta n te n ota r q u e n os te ovi-m p os d e form ação d o n om e d e sse s a u tore s, n ã o fora m e ssa s su a s e d itoras d e lan ça-m e n to. J org e Aça-m a d o, p or e xe ça-m p lo, e n trou n a Re cord e ça-m 1974, d e p ois d a crise d o p e tróle o q u e a fe tou o p re ço d o p a p e l e , com isso, a e d itora M a r-tin s, q u e ve n d e u os d ir e itos d e e d içã o d e sse a u tor e os d e G ra cilia n o Ra m os. O m e sm o su ce d e u n os a n os 80 com C a rlos Dru m m on d d e An d ra -d e , G ilb e rto Fre yre e m u itos ou tros a u tore s e -d ita -d os p e la J osé O lym p io (H a lle w e ll 1985:558)19. Em b ora n a Re cord e Ed iou ro a s ca te g oria s lite

ra-tu ra e b rasile ira se con fu n d a m com m u ita s ou tra s, sã o fu n d a m e n ta is n a id e n tid a d e d a e d itora , q u e a s e xp õe m com o u m e m b le m a (“ som os os e d i-tore s d e J org e Am a d o” , ou “ te m os d e sd e M a ch a d o d e Assis a té Pla tã o” ). M a s, se m d ú vid a , a re g ra é u m ca tá log o m u ito e xte n so, com in ve stim e n -to te m p orá rio e m filõe s m a is lu cra tivos. N o in ício d os a n os 90 p od ia se tra ça r e sse p e rfil p a ra a s e d itora s q u e , com o a Rocco, N ova Fron te ira ou Fra n cisco Alve s, com b in a va m títu los d e lite ra tu ra e e sote rism o20.

(17)

o-a u tor. Por ou tro lo-a d o, costu m o-a m e d ito-a r o-a p rod u çã o o-a co-a d ê m ico-a e lite rá rio-a d e va n g u a rd a d os p a íse s ce n tra is ou clá ssicos a in d a “ n ã o d e scob e rtos” n o Bra sil.

Cair e lançar: os t empos do reconheciment o

Alg u m a s e d itora s se a p r op ria m e m g ra n d e e sca la d e títu los q u e , d é ca d a s d e p ois d e la n ça d os, cae m n o d om ín io p ú b lico21. O u tra s fa b rica m

u m a p osiçã o, fa ze m -se d istin g u ir p rioriza n d o o lan çam e n to d e au tore s e / ou títu los in é d itos ou tid os com o in é d itos. C a ir n o d om ín io p ú b lico e la n ça m e n to d e a u tore s sã o d u a s m e tá fora s q u e con d e n sa m lite ra lm e n te a e xte n sã o d e se u s sig n ifica d os. O títu lo q u e ca iu fa z su b e n te n d e r a ob ra d e u m a u tor q u e com p rovou h a ve r sob re vivid o a se sse n ta a n os d e re co-n h e cim e co-n to e m e re ce u m lu g a r co-n o p a ra d oxa l re ico-n o d o p a co-n te ã o lite rá rio, a o m e sm o te m p o q u e ob je to d e cu ltos ritu a liza d os e d og m a s d e le itu ra e a p rop ria çã o. O p a n te ã o p ovoa -se a ssim d os p e rson a g e n s e b e n s com u n s, p u b licá ve is e a p rop riá ve is p or tod os, d e va lore s com p rova d os, im p ostos com o u n ive rsa is p e la e scola . O a u tor la n ça d o, com o u m a fle ch a , b u sca u m a lvo, o d a for m a çã o d e u m p ú b lico q u e lh e d á va lor a p ós a e xp e rm e n ta çã o d e a lg o n ovo, a rrisca d o, p rovoca tivo, p a rticu la r. M a s sã o os e d i-tore s os q u e m a n ip u la m e g a n h a m força com a ca p a cid a d e d e se a p ro-p ria r d a q u e le s q u e ca e m ou “ d a q u e le s q u e m e re ce m se r la n ça d os” ; ro-p or isso, a ob se rva çã o d e sse m e ca n ism o a tivo é u m a sp e cto p rivile g ia d o p a ra d im e n sion a r a s lóg ica s p rá tica s d a e d içã o e o lu g a r d o e d itor n o ca m p o e d itoria l.

(18)

e sse s a tos se m old a m n a p rática e , e n tre a p la n ifica çã o a n u a l e a im p ro-visa çã o con ju n tu ra l, sã o vivid os com a a n g ú stia d os lim ite s d ifu sos, a s p ossib ilid a d e s d a e con om ia e a p e rig osa ord e m d os d iscu rsos e su a s in s-titu içõe s d e d e lim ita çã o e con trole . M a s con vé m con sid e ra r d e n ovo q u e a “ a çã o d o te m p o” e o te m p o d a a çã o “ d e ve m su a e ficá cia a o e sta d o d a e stru tu ra d e re la çõe s n a q u a l in te rvê m ; o q u e n ã o im p lica q u e o m od e lo d e ssa e stru tu ra p ossa fa ze r a b stra çã o d e le ” (Bou r d ie u 1991:180). A a çã o d o te m p o com o se n tid o p rá tico e a e str u tu ra d o te m p o com o e sp a ço d e con corrê n cia , n o q u a l se d istin g u e m “ p or é p oca s” a s e d itora s in ova d o-ra s, p e rm ite m a m p lia r os sig n ifica d os d e com o a C om p a n h ia d a s Le to-ra s e su a lin h a g e m m a rca ra m é p oca , in corp ora n d o à a n á lise a lg u n s vín cu los g e n e a lóg icos, d os q u a is e xtra e m re la çõe s p e ssoa is, sím b olos, m od e los e ou tros in stru m e n tos p a ra con stru ir su a le g itim a çã o com o e d itora s h e rd e i-ra s d e u m a or d e m cu ltu i-ra l n a cion a l. Pr od u zii-ra m u m n ovo te m p o, m a s e stã o su b m e tid a s à coe rcitiva e irre ve rsíve l ord e m d o te m p o.

Dois modos de envelhecer

A Ed iou ro se m e d e p e la Re cord , e a Re lu m e Du m a rá p e la C om p a n h ia d a s Le tra s. As tra je tória s q u e le va m d e u m a s à s ou tra s sã o p a ra le la s, n ã o se cru za m . O s ciclos d e vid a e a s m a n e ira s d e e n ve lh e ce r a ssu -m e -m d u a s -m od a lid a d e s p a ra le la s -m a rca d a s, n a s e d itora s p a ra a “ g ra n d e d ifu sã o” , p e lo in e vitá ve l cr e scim e n to d o ta m a n h o d a e m p r e sa23, e n a s

e d itora s “ cu ltu ra is” , ou p or u m a re cu sa a cre sce r, d e fin içã o e sse n cia l n a s e m p re sa s d e p rod u çã o cu ltu ra l com o d e “ n e g a çã o d a e con om ia ” , ou p or u m a tra n sform a çã o d a s re la çõe s com a e con om ia , q u e a ca rre ta a a ce ita -çã o d o cre scim e n to d a e m p r e sa e d os g a stos, u m a p r e ocu p a -çã o com a p rocu ra d e lu cr o e a d ivu lg a çã o, “ se m p r e ju n to à d e sva loriza çã o q u e im p lica tod a vu lg a riza çã o” (Bou rd ie u 1977:4, 32)24. É p or isso q u e a lin h a

g e n e a lóg ica e d itoria l a trib u íd a a ca d a ca so é d ife re n te .

Re cord e Te cn op rin t n a sce ra m e n tre o fim d os a n os 30 e o in ício d os a n os 40, n o p e ríod o d e con solid a çã o d o m e rca d o n a cion a l d e livros. As d u a s fora m , a se u m od o, p ion e ira s e , com o se p od e ob se rva r e m ou tra s e m p re sa s d e p op u la riza çã o d a é p oca (C ia . Bra sil Ed itora , Fa g u n d e s, M a n -d a rin o), o p e rfil -d e su a s p u b lica çõe s va ria p ou co, o q u e n ã o ocorre com o a p e rfe içoa m e n to d a s té cn ica s d e p rod u çã o e m sé rie q u e p on tu a m a h is-tória d e ssa cla sse d e e m p re sa s25, m a rca d a p e los m om e n tos d e in corp ora

(19)

N a s e d itora s “ cu ltu ra is” a rotin iza çã o d o ca rá te r “ va n g u a rd ista ” é in e vitá ve l p e la p róp ria lóg ica d e “ te m p ora liza çã o” d o ca m p o e d a p a rti-cip a çã o n o m e r ca d o. C om o e m q u a lq u e r p r oce sso d e cre scim e n to e d e se n volvim e n to, os a con te cim e n tos n o ciclo a n u a l d e u m a e m p re sa su b -m e te -m e d itora s e se u s d ire tore s a con sta n te s tra n sfor-m a çõe s: la n ça -m e n to in ce ssa n te d e títu los, se d im e n ta çã o d e u m ca tá log o, form a çã o d e u m p e r-fil, u m a p e rson a lid a d e q u e se in stitu cion a liza n a d ia lé tica d o r e con h e ci-m e n to d e u ci-m se g ci-m e n to e sp e cífico d e p ú b lico, críticos e e scritor e s q u e cin g e m a e d itora com se u s ju ízos e e le içõe s.

O cre scim e n to d a C om p a n h ia d a s Le tra s foi ve rtig in oso e su a loca li-za çã o com o d om in a n te fe z su rg ir u m ca tá log o q u e , se m u m con trole tota l ou p la n ifica çã o d e g ra n d e a n te ce d ê n cia , foi se m old a n d o d e a cord o com u m e sq u e m a d e p ola rid a d e s p re e xiste n te s q u e lh e p e rm itiu , com o ve re -m os, in se rir-se e -m u -m a lin h a g e n e a lóg ica p a rticu la r d a h istória e d itoria l e in te le ctu a l d o p a ís. Em m e a d os d os a n os 90, a p e sa r d e a lg u n s títu los “ d e m a ssa ” q u e ch e g a ra m a se r ve n d id os a té e m b a n ca s d e jorn a l (Bill G a te s, J ô Soa re s, C h ico Bu a rq u e ), os títu los d e “ va n g u a rd a in te le ctu a l” n ã o p a ra va m d e a p a r e ce r (Ru sh d ie , Rou d in e scu , Da r n ton , M ice li) e a s cole çõe s com u m a te n d ê n cia d e vu lg a riza çã o (cole çã o p olicia l, b iog ra -fia s) n ã o se d irig ia m à e scola , m a s sim a u m p ú b lico já form a d o, con ce b i-d o com o cu lt. C on tu i-d o e ssa s op çõe s te m p ora is p a ssa m , e n q u a n to a os p ou cos a e d itora re a liza a b rasilian a “ Re tra tos d o Bra sil” , u m tip o d e cole -çã o q u e a coloca “ n a h istória ” d a e d i-çã o n a cion a l26. Este b ra sã o d e h e

r-d e ira a ob rig a a u m con ju n to fin ito r-d e op çõe s q u e se com p le ta com ou tros títu los fora d a cole çã o: b iog ra fia s d e p e rson a g e n s-ch a ve d a h istória cu l-tu ra l e p olítica , re e d içã o d e clá ssicos d o p e n sa m e n to n a cion a l, com o Sé rg io Bu a rq u e d e H olla n d a , e d e te xtos e sq u e cid os d o sé cu lo XIX. O ca tá -log o cre sce , se le cion a e d á lu g a r a u m re ord e n a m e n to d e te xtos e a u tore s d o p a ssa d o e d e in te rp r e ta çõe s d o p r e se n te , q u e p e r m ite m com p or e im p or n ova s m e n sa g e n s e le itu ra s q u e re in ve n ta m a tra d içã o lite rá ria e o p e n sa m e n to socia l d o Bra sil.

M issão, compromisso e prof issão

A C om p a n h ia d a s Le tra s é o re fe re n cia l q u e d e fin iu n o fin a l d os a n os 80 n ovos e sq u e m a s d e p e rce p çã o e a p re cia çã o d o b om liv ro, n ã o a p a rtir d a im p osiçã o d e u m m ovim e n to lite rá rio, e scola ou corre n te d e id é ia s p a r-ticu la r, m a s in ve n ta n d o con ce p çõe s e d itoria is p rofission ais27, q u e e n

(20)

só com p le tou su a irru p çã o ou le g itim a çã o com o a p a re cim e n to p oste rior d e u m con ju n to d e e d itora s a sse m e lh a d a s q u e se re con h e ce m e sã o re co-n h e cid a s p or re fe rê co-n cia à C om p a co-n h ia d a s Le tra s e a se u e stilo lite rá rio-e n sa ístico. En trrio-e os rio-e d itorrio-e s d rio-e ssa “ com u n id a d rio-e ” , é com u m ju lg a r Lu iz Sch w a rcz com o e d itor p arad ig m ático, p rofission al. Esta id é ia d ife re n cia e g e ra a p e rce p çã o d e u m e stilo d e tra b a lh o n o q u a l o e d itor p od e se r “ in o-va d or e re a lista ” , se m p re d ivid in d o e cria n d o os lim ite s d a a tivid a d e , à m e d id a q u e a e m p re sa cre sce , e n tre os n e g ócios e a cu ltu ra , cu id a n d o d e u m lu g a r p re ciso n a ca d e ia d e p od e re s e d e in te rm e d ia çã o q u e p e rm ite torn a r p ú b lica s a s m e n sa g e n s d e u m a u tor.

Esse h ab itu s é d e cisivo n a fu n d a çã o d e u m n ovo e stilo q u e d e slocou e d itora s q u e , com o a Bra silie n se , C iviliza çã o Bra sile ira , Pa z e Te rra e Za h a r, ocu p a ra m u m a p osiçã o h om ólog a à d a C om p a n h ia d a s Le tra s e su a lin h a g e m . Essa s e d itora s re p re se n ta m u m a va n g u a rd a já con sa g ra d a p e los m e ios in te le ctu a is com o p u b lica d ora s d a s lin h a s d e p e n sa m e n to d om in a n te s n o p e ríod o im e d ia ta m e n te a n te rior. N os te m p os d a d ita d u ra , fora m a p ê n d ice s im p or ta n te s p a ra con solid a r u m a a u ton om ia r e la tiva d o ca m p o in te le ctu a l, la n ça n d o — a té su a a firm a çã o com o p a ra d ig m a d om i-n a i-n te — o m a rxism o i-n ã o ortod oxo d a s d iscip lii-n a s socia is u i-n ive rsitá ria s d o com e ço d os a n os 70. As m e n sa g e n s d e riva d a s d e ssa com b in a tória se e xp re ssa va m e m u m a lin g u a g e m p róp ria , té cn ica , ríg id a , d e p re te n sã o cie n tífica , q u e , “ n o se u te m p o” , op u n h a p rod u tore s e e d itore s à lin g u a g e m e n sa ísticolite rá ria p róp ria d a s m e n sa g e n s d e in te rp re ta çã o d o Bra -sil, d om in a n te s e n tre o fim d os a n os 20 e o in ício d os 5028.

Em b ora a tu a lm e n te a s e d itora s re p re se n ta tiva s d e ssa s d u a s “ g e ra -çõe s e d itoria is” p o ssa m se r m u it o a t iv a s, re n ova n d o con sta n t e m e n te se u s e sq u e m a s d e p ro d u ç ã o e se u p e rfil e d itoria l (sob re tu d o q u a n d o ocorre u m a su ce ssã o d e h e rd e iros), u m a h istória fe ita n om e já as m ar-cou com o p rota g on ista s d e p e ríod os a n te rior e s. M on te iro Lob a to, O cta l-le s M a rcon d e s, J o sé O ly m p io, M a rtin s e ou tros e d ito re s c on sa g ra d os e n tre 1920 e 1950 d e fin ia m se u p a p e l com o u m a m issão, e se u s ca tá lo-g os e ra m vistos, d o m e sm o m od o q u e a in d ú stria e d itoria l, com o u m m ila-g re29. C a io Pra d o J r., Ên io Silve ira , G a sp a ria n , Za h a r, J a cob G u in sb u rg ,

(21)

ito-ria is e d ire tore s d e re v ista s, p a rt icip a n d o d e d e b a te s e a tos cu lt u ra is. Tra ta v a - se q u a se se m p re d e e d it o r a s q u e , a o con trá rio d os ca tá log o s m u ltifa ce ta d os d e p e rfil lite rá rio d a s n ova s p u b lica d ora s d a cla sse in te le ctu a l — ou e m a lg u n s ca so s lit e r á r io e p o lítico, com o os d a Re lu m e Du m a rá ou d a Arte s e O fícios —, se ca ra cte riza va m p or p ossu ir ca tá lo -g os d e lin h a s m a is r í-g id a s, co m u m a t e n d ê n c ia p olítica d e e sq u e rd a . N e ssa s e d itora s p rolife ra va , ob rig a toria m e n te , o u so d a ca te g oria Brasil com o crité rio d e ord e n a m e n to d os d iscu rsos e livros, e h a via u m in te re s-se e xp lícito e m ca d a a t o e d it o r ia l d e in t e r v ir n a lu t a p e la le g it im a ç ã o d e ssa p a la vra30.

M a s os re p re se n ta n te s d e ca d a g e ra çã o, os líd e re s d a s e d itora s q u e p e rd u ra ra m , n ã o se su ce d e m d e scon tin u a m e n te e , e xce tu a n d o p ou cos ca sos d e cola p sos e m p re sa ria is, coe xiste m a té h oje . Volta m os a tra b a lh a r com u m a p e rsp e ctiva h orizon ta l, e scla re ce n d o q u e a s e d itora s — com o os e scritore s e os le itore s — se d istrib u e m a ca d a m om e n to se g u n d o e s-q u e m a s d e p e rce p çã o e d e a p re cia çã o le g ítim os, d e a cord o com o m od o d e p rod u çã o e d itoria l e o g ra u d e ca n on iza çã o ou se cu la riza çã o d e sse s e sq u e m a s g e ra d or e s d e p rá tica s q u e sã o a s for m a s d e cla ssifica çã o. A cad a m om e n to, o cam p o d o p re se n te con té m , e m u m a m e sm a lu ta, e d ito-ras con te m p orân e as e te m p oralm e n te d iscord an te s. M a s e ssa lu ta q u e sin cron iza só a con te ce p or q u e a s e d itora s q u e n e la se e n fr e n ta m n ã o e stã o p re se n te s n o m e sm o p r e se n te : “ e stã o se p a ra d a s p e los te m p os e p e la re la çã o com o te m p o” (Bou rd ie u 1977:40). As e d itora s d a lin h a g e m d a C om p a n h ia d a s Le tra s sã o con te m p orâ n e a s a p e n a s p e lo fa to d e se re con h e ce re m e m re la çã o a e sta e e m d ire çã o a o fu tu ro, u m te m p o m a r-ca d o p e la te n d ê n cia d e e d itore s p rofission a is, p a trocín io d e e m p re sa s, le g itim a çã o via jorn a lism o, ca tá log os d e “ g ê n e ros con fu sos” , re -a lia n ça s e n tre lite ra tu ra e p e n sa m e n to socia l, ciê n cia e filosofia , re lig iã o e cu ltu ra , e colog ia e lite ra tu ra . As va n g u a r d a s já con sa g ra d a s r e con h e ce m se u s con te m p orâ n e os n o p a ssa d o, u m a “ ou tra é p oca ” , a p a rtir d a q u a l e sse s e d itore s p od e m d e fin ir-se d e m a n e ira sim ila r a J or g e Za h a r: “ olh e , e u sou p a rte d o m ovim e n to d e su b stitu içã o d e im p orta çõe s” . Esse s a g e n te s, p a ra q u e m “ tod o o te m p o p a ssa d o (q u a n d o n ã o h a via xe rox) foi m e lh or” , com fre q ü ê n cia fa la m d e crise : “ crise u n ive rsitá ria , crise a ca d ê m ica . A u n ive rsid a d e d e h oje n ã o te m com p a ra çã o com o q u e e la e ra a n te s d e e u se r e d itor, o q u e é u m a d a s ra zõe s d a m in h a fr u stra çã o p r ofission a l. A u n ive rsid a d e b ra sile ira e ra m e lh or q u a n d o tin h a 150 m il a lu n os, d o q u e h oje , q u a n d o te m , sa b e -se lá , d ois m ilh õe s, trê s m ilh õe s”31.

(22)

-tu ra a ca d ê m ica d a p ós-g ra d u a çã o. Alé m d a s e d itora s d e e stilo lite rário con sid e ra d a s, e ste su b ca m p o se com p le ta com a con solid a çã o d e u m se g -m e n to d e e d itora s u n ive rsitá ria s co-m “ p re te n sõe s d e -m e rca d o” , isto é , q u e b u sca m sa ir d o e sp a ço fe ch a d o d o cam p u s p a ra con q u ista r u m lu g a r n a s vitrin a s d a s livra ria s32.

A hist ória f eit a nome

O s n om e s d a s e d itora s sã o, p a ra tod os os ca sos, p od e rosos in d ícios d a con stru çã o d a id e n tid a d e “ d a ca sa ” e d e ve m se r in te rp re ta d os com o a p osta s com sig n ifica d os a ju sta d os à s d isp u ta s d e u m a é p oca . Em su a n a tu ra lid a d e , e scon d e m se e scolh a s q u e d e scre ve m , d e m a n e ira con d e n -sa d a , a s r e strita s com b in a tória s d e lóg ica s cu ltu ra is e e con ôm ica s q u e ca d a a g e n te p od e a ssu m ir p a ra se fa ze r r e con h e ce r e m u m e sp a ço d e re la çõe s e p ossib ilid a d e s. A a n á lise d os n om e s d a s e d itora s p e rm ite con clu ir e ste a rtig o, a o a m p lia r a com p re e n sã o sob re a s d ife re n ça s e stru tu -ra is g e -ra d a s p e la s e d ito-ra s d o fim d os a n os 80 e m re la çã o à s e d ito-ra s “ p io-n e ira s” e à s d e coio-n solid a çã o io-n o m e rca d o e d itoria l.

As g e ra çõe s a n te riore s e stã o b a liza d a s p or e d itora s q u e tra zia m e a in d a tra ze m e m su a s d e sig n a çõe s o n om e d o h e róico fu n d a d or ou fór-m u la s n a cion a lista s. Civ iliz ação Brasile ira , José O ly fór-m p io , Brasilie n se , M artin s, Paz e Te rra, Jorg e Z ah ar ca rre g a m n os n om e s a n a çã o ou o e d i-tor ca rism á tico, h istória s d e com p rom issos e p roje tos d e in te rve n çã o n os d e stin os d o Bra sil. Em q u a se tod os e ste s ca sos, se u s ca tá log os m a te ria li-za ra m u m a g ra n d e q u a n tid a d e d e tra d u çõe s “ p ion e ira s” d e a u tore s n ã o tra d u zid os n o Bra sil e d e ou tra s d e scob e rta s, m u ita s ve ze s vivid a s p e lo e d itor com o re ve la çõe s tid a s p e ssoa lm e n te e m via g e n s a o e xte rior. Em ou tros ca sos, a s d e scob e rta s se d a va m d e n tro d a s p róp ria s fron te ira s, e m clim a d e e fe rve sce n te n a cion a lism o cu ltu ra l q u e , som a d o a o fre q ü e n te d e scon h e cim e n to d e ou tros id iom a s e à e sca ssa e scola riza çã o d e a lg u n s e d itore s, g e ra va m a cre n ça n a e d içã o d e , p or e p a ra os b ra sile iros, p rop i-cia n d o ca tá log os e stru tu ra d os sob re tu d o e m a u tore s loca is.

(23)

n e g ócios com o u n ive rso lite rá rio, a ca d ê m ico, a rtístico; a ra zã o d e m e rca -d o e o a m or à a rte ; e con om ia e cu ltu ra (Bou r-d ie u 1992:25). C om o fórm u la ce rte ira , e ssa com b in a tória tã o m á g ica q u ã o re a lista é im ita d a p or ou tra s n ova s e d itora s ou e m p re sa s cu ltu ra is (M e rcad o d as A rte s, M e rcad o A b e r-to, A rte s e O fícios), e m u m a a n g u stia n te p rocu ra d o e xa to p e rfil d o p ro-fission al d o liv ro.

N e ssa s e m p re sa s “ cu ltu ra is” , p rota g on ista s d a s m u d a n ça s d os n ovos te m p os, a con corrê n cia p e lo n a cion a l n ã o se d issip a , m a s é m a is su til. As a lia n ça s cu ltu ra is d e sloca m -se d a p olítica p a ra o m e r ca d o, d a crítica e d a s b e la s-a r te s p a ra a p u b licid a d e e o d e sig n , p a ra con ce p çõe s “ m a is le ve s” a ce rca d a s id é ia s d e b e st se lle r e e m p re sa . O vín cu lo com a s n ovid a ovid e s ovid o e xte rior con cre tiza se p or m e io ovid a in form á tica e , p rin cip a lm e n -te , a tra vé s d e u m a re d e d e e sp e cia lista s n o tra n sp or-te in -te rn a cion a l d e b e n s e d itoria is (a g e n te s lite rá rios, scou ts, a d vog a d os e sp e cia lista s e m p rob le m a s re la tivos à p rop rie d a d e in te le ctu a l e m te m p os d e m u ltim íd ia ). A p re se n ça d os e d itore s n o m e rca d o in te rn a cion a l se d á m e d ia n te a p a r-ticip a çã o e m fe ira s, com su a s p rá tica s or d e n a d a s, r e g u la d a s, ritu a is d om e stica d ore s d a fu n çã o e p osiçã o d o e d itor. H oje , a m ora l d a a tivid a d e tra n sform a a p a ixã o m a n ife sta d os ag itad ore s cu ltu rais e m u m m a ior con -trole d a s e m oçõe s d os e d itore s p rofission ais.

Re ce b id o e m 6 d e ou tu b ro d e 1996

Re a p re se n ta d o e m 24 d e ju n h o d e 1997

Ap rova d o e m 1 d e ju lh o d e 1997

Not as

1 Este a rtig o n a sce d e in te rp re ta çõe s e sb oça d a s e m m in h a d isse rta çã o d e m e stra d o e foi re form u la d o com b a se n a in ve stig a çã o e m cu rso p a ra a te se d e d ou -tora d o. De se jo a g ra d e ce r a os p rofe ssore s Afrâ n io G a rcia J r. e Lu ís d e C a stro Fa ria , m e u s orie n ta d ore s, e a os p rofe ssore s Fe d e rico N e ib u rg e J osé Se rg io Le ite Lop e s p or se u s com e n tá rios críticos e su g e stõe s.

2 O s e stu d os q u e tra ta m d a a tivid a d e e d itoria l n o Bra sil já for m a m u m con -ju n to a p re ciá ve l. De n tre e ste s, p od e m se r d ife re n cia d os trê s g ru p os: a ) “ d ia g n ós-ticos d o se tor” (p . e x., Fá b io Lu ca s, Cre p ú scu lo d os S ím b olos. Re fle x õe s sob re o

Liv ro n o Brasil, C a m p in a s, SP, Pon te s, 1989; G ilb e rto Ba rb osa Sa lg a d o, O Im a g

(24)

(1960-1994), Disse rta çã o d e M e stra d o, IUPERJ , 1995 e tc.); b ) tra b a lh os q u e p r o-b le m a tiza m a p rod u çã o e a circu la çã o d e livros com o u m d os a sp e ctos d e e stu d os m a is a m p los sob re “ e lite s” , “ cu ltu ra ” , “ lite ra tu ra ” ou “ p e n sa m e n to socia l” b ra si-le iros (p . e x., Sé rg io M ice li, In te si-le ctu ais e Classe Dirig e n te n o Brasil (1920-1945), Sã o Pa u lo, Dife l, 1979; An ton io C a n d id o, Lite ratu ra e S ocie d ad e , Sã o Pa u lo, C om -p a n h ia Ed itora N a cion a l, 1980 e tc.); c) e stu d os e s-p e cia lm e n te ce n tra d os e m a n á li-se s sob re a p rá tica e d itoria l e os e d itore s (p . e x., Pon te s 1988; Alice Kosh iya m a ,

M on te iro Lob ato: In te le ctu al, Em p re sário, Ed itor, Sã o Pa u lo, T. A. Q u e iroz, 1982;

Pe d ro B. M ora e s, Fid a lg os d o C a fé e Livros d o Bra sil. M on te iro Lob a to e a C ria -çã o d e Ed itora s N a cion a is, Disse rta -çã o d e M e stra d o, PPG AS-M N -UFRJ , 1995 e tc.). Em u m a cla ssifica çã o m a is a m p la , p od e r-se -ia cita r u m con ju n to d e e stu d os q u e e n fa tiza m a le itu ra com o p rá tica cu ltu ra l. N o e n ta n to, n ã o ca b e e m u m a rtig o d e sta n a tu re za d e te r-m e e m u m a a n á lise d e ta is te xtos ou n a con te xtu a liza çã o d a m in h a p róp ria con trib u içã o n e ssa á re a . Pa ra os fin s d e ste a rtig o, p rocu re i d a r ê n fa -se a os d a d os ob tid os n o tra b a lh o d e ca m p o, q u e fora m com p le m e n ta d os com in form a çõe s e xtra íd a s d o livro d e H a lle w e ll (1985), a form a is coform p le ta fon te h istoriog rá -fica sob re a a tivid a d e e d itoria l b ra sile ira a té a a tu a lid a d e . N a te se d e d ou tora d o, p re te n d o a p re se n ta r u m a sín te se m a is a p rofu n d a d a d e ssa “ tra d içã o d e e stu d os e m form a çã o” .

3 O p rim e iro p la n o con stitu iu o te m a ce n tra l d e m in h a d isse rta çã o d e m e s-tra d o (Sorá 1994). O se g u n d o n orte ia a s in ve stig a çõe s e m cu rso p a ra a te se d e d ou tora d o. Assim , e ste a rtig o re p re se n ta u m vín cu lo e n tre os d ois m om e n tos. As fe ira s in te rn a cion a is sã o u m re fe re n cia l rico e , a lé m d e p e rm itire m visu a liza r re la -çõe s e te ce r h ip óte se s sob re a con fig u ra çã o d e d ife re n te s e sta d os d o ca m p o e d itoria l n o Bra sil, ta m b é m sã o con sid e ra d a s m e io p rivile g ia d o p a ra e stu d a r a s d im e n -sõe s d a in te rn a cion a liza çã o d os m e rca d os n a cion a is e lin g ü ísticos d e livros (Sorá 1996). O s a tu a is p rofission ais d o liv ro, ca te g oria m old a d a a p a rtir d os p roce ssos d e re la tiva in te rn a cion a liza çã o d o m e rca d o e d itoria l, sã o d e sig n a d os d e u m a p e rs-p e ctiva socioh istórica q u e rs-p rivile g ia o con tra ste com e d itore s tírs-p icos d o rs-p e ríod o d e d e fin içã o d o m e rca d o n a cion a l d o livro e n tre os a n os 35 e 60.

4 C om o d e m on stra re i n o d e corre r d a a n á lise , é a a tivid a d e d a fu n çã o-a u tor – con sid e ra d a a p a rtir d e C h a rtie r e Fou ca u lt com o “ fu n çã o cla ssifica d ora m a ior d os d iscu rsos” , q u a n d o se re ve la com m a ior força a a ssocia çã o d e u m te xto a o n om e d e u m in d ivíd u o com o “ p rin cíp io d e u n icid a d e e coe rê n cia d o d iscu rso” (C h a rtie r 1994:57) – q u e e stru tu ra a s op çõe s e d itoria is q u e re ú n e m lite ra tu ra e filosofia , p e n sa m e n to ou ciê n cia s socia is. É fr e q ü e n te e m ce rtos ca sos – com o se ve rá n a Re lu m e Du m a rá e com o ocorre u com a C iviliza çã o Bra sile ira – q u e a lite -ra tu -ra , m e sm o ocu p a n d o u m se g m e n to m e n or d o ca tá log o, fu n cion e com o u m id e a l cu ltu ra l d os e d itore s, d e “ d ifícil” a ce sso, m a s g a ra n tia m á xim a d e p re stíg io cu ltu ra l e d e con trib u içã o p a ra a cu ltu ra n a cion a l. É p or isso q u e , e m q u e p e se a o ca rá te r h íb rid o d a s con fig u ra çõe s cla ssifica tória s d os ca tá log os a q u i con sid e ra d os, a p a la vra lite ra tu ra e stá in scrita n o títu lo d e ste a rtig o.

Referências

Documentos relacionados

Este artigo é um exame crítico de três premissas que dominaram e viciaram o debate recente sobre divisão racial e pobreza urbana nos Estados Unidos: a) diluir a noção de gueto

Disse rta tion in An th rop olog y, Sta n ford Un ive rsity... Be rk e le y: Un ive rsity of C a liforn ia

O encanto de La Souffrance à Distance reside em primeiro lugar no fato de que Boltanski se detém aí, justamente, em uma sutilíssima recu- peração das condições de emergência

Como eu dizia, a nova geração de alunos de Park constituiu o corpo do- cente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago: Hughes, Blumer, Wirth e Redfield, que estava

[r]

[r]

A Fabricação do Imort al: M emória, Hist ória e Est rat é- gias de Consagração no Brasil.. Rio de

Novos investidores, no tadamente representantes da indústria de capital de risco e grandes cor porações internacionais, munidos de capital cultural, no sentido indicado por Bo