NEON
AT
OLOGIA
MANUAL
PRÁTICO
Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais
Hospital de São Francisco Xavier
Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
1
NEONATOLOGIA
MANUAL PRÁTICO
Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais
Hospital de São Francisco Xavier
Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPEEDITORES
José Guimarães Maria José Carneiro
Pedro Loio António Macedo Constança Gouvêa Pinto
Madalena Lopo Tuna Anabela Salazar Edmundo Santos Marta Aguiar Mónica Marçal
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Neonatologia, Manual Prático Lisboa 2012
Direitos de autor reservados
Edição: Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 13
Reanimação neonatal 15
Obstetrícia para neonatologistas 17
Corticoterapia para indução maturativa fetal 20
Anestesia obstétrica e implicações neonatais 21
Interpretação das serologias na sala de partos 24
História clínica e exame do recém-nascido 26
RESPIRATÓRIO 31
Problemas respiratórios no recém-nascido 33
Displasia broncopulmonar 40
Radiografia de tórax 44
Interpretação da gasimetria 47
Princípios de ventilação mecânica 50
INFECIOSO 57
Infeção em neonatologia – definições 59
Risco infecioso e sepsis precoce 62
Streptococcus β hemolítico do grupo B 68
Sepsis tardia 74
Meningite 78
Toxoplasmose congénita 82
Rubéola congénita 86
Infeção congénita a citomegalovírus 90
Sífilis congénita 94
Infeções fúngicas em neonatologia 97
Prevenção da transmissão vertical do VIH 100
CARDIOVASCULAR 105
Choque 107
Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido 113
Recém-nascido com cardiopatia congénita estrutural 118
Prostaglandina E1 nas cardiopatias ducto-dependente 122
Persistência do canal arterial no recém-nascido prematuro 124
Interpretação do eletrocardiograma 127
Arritmias 133
HIDROELETROLÍTICO 139
Alterações hidroeletrolíticas 141
4
HEMATOLÓGICO 151
Anemia 153
Doença hemolítica imune do recém-nascido 159
Trombocitopenia 163
Neutropenia 167
Doenças hemorrágicas 171
METABÓLICO 177
Hiperbilirrubinemia indireta neonatal 179
Colestase 187
Hipoglicemia 191
Hiperglicemia 195
Alterações do metabolismo do cálcio, fósforo e magnésio 198
GASTROINTESTINAL / ALIMENTAR 203
Enterocolite necrosante 205
Necessidades vitamínicas e minerais em recém-nascidos prematuros 209
NEUROLÓGICO 211
Convulsões 213
Encefalopatia hipóxico-isquémica 218
Hipotonia 229
Enfarte isquémico perinatal 232
Síndrome de abstinência no recém-nascido de mãe toxicodependente 236
PREPARAÇÃO DA ALTA E SEGUIMENTO DO PREMATURO 239
Preparação da alta do recém-nascido prematuro 241
Seguimento do recém-nascido de muito baixo peso 244
Vacinação no recém-nascido prematuro 248
Prevenção da infeção por vírus sincicial respiratório 251
OUTROS 253
Displasia de desenvolvimento da anca 255
Risco perinatal – vigilância do neurodesenvolvimento 258
Enfermagem em neonatologia – cuidados para o neurodesenvolvimento 260
PROCEDIMENTOS 263
Procedimentos 265
Complicações associadas a cateteres centrais 272
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AUTORES
José Guimarães
Diretor do Serviço de Pediatria – Chefe de Serviço – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Alexandra Costa
Assistente hospitalar graduada – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Ana Caldeira
Assistente hospitalar – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Ana Nunes
Assistente hospitalar graduada – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE. Ex-officio
Ana Rita Araújo
Interna do internato complementar de Cardiologia Pediátrica – Serviço de Cardiologia Pediátrica – Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Ana Sofia Nicolau
Assistente hospitalar – Serviço de Pediatria – Hospital Beatriz Ângelo
Ana Teixeira
Assistente hospitalar – Serviço de Cardiologia Pediátrica – Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Anabela Salazar
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
António Macedo
Assistente hospitalar graduado – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
António Salgado
Interno do internato complementar de Pediatria - Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Constança Gouvêa Pinto
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Cristina Costa
Interna do internato complementar de Ginecologia-Obstetrícia – Serviços de Ginecologia e Obstetrícia – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
David Nora
Interno do internato complementar de Anestesiologia – Serviço de Anestesiologia – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Duarte Malveiro
Interno do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Edmundo Santos
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Eduarda Sousa
Chefe de Serviço – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Fernando Cirurgião
Diretor dos Serviços de Ginecologia e Obstetrícia – Assistente hospitalar – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
6
Filipa Marques
Interna do internato complementar de Pediatria - Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Filipa Vieira
Interna do internato complementar de Pediatria - Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Helena Vieira
Interna do internato complementar de Pediatria - Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Inês Mendes
Interna do internato complementar de Cardiologia Pediátrica - Serviço de Cardiologia Pediátrica – Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Inês Sousa
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Isabel Paz
Assistente hospitalar graduada – Consulta de Desenvolvimento – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Joana Osório
Assistente hospitalar – Serviço de Anestesiologia – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
José Carlos Ferreira
Assistente hospitalar graduado – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Liliana Franco
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Luís Saldanha
Chefe de Serviço - Serviço de Anestesiologia – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Madalena Lopo Tuna
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Margarida Valério
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Maria dos Anjos Bispo
Chefe de Serviço – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE. Ex-officio.
Maria José Carneiro
Assistente hospitalar graduada – Coordenadora da Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Marta Aguiar
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Marta Contreiras
Assistente hospitalar – Serviço de Pediatria – Hospital Beatriz Ângelo
Mónica Marçal
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Paula Nunes
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
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Paulo Paixão
Professor Auxiliar do Departamento de Microbiologia – Faculdade de Ciências Médicas – Universidade Nova de Lisboa
Pedro Cabral
Diretor do Departamento de Neurociências – Chefe de Serviço – Hospital de Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Pedro Loio
Assistente hospitalar graduado – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Rita Monteiro
Assistente hospitalar – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Rita Morais
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Rui Anjos
Diretor do Serviço de Cardiologia Pediátrica – Assistente hospitalar graduado – Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Sara Marcos
Interna do internato complementar de Pediatria – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Sara Noéme Prado
Assistente hospitalar – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – HPP Hospital de Cascais Dr. José de Almeida
Sofia Deuchande
Assistente hospitalar – Serviço de Pediatria – HPP Hospital de Cascais – HPP Hospital de Cascais Dr. José de Almeida
Thereza Vasconcellos
Enfermeira-chefe – Unidade de Neonatologia – Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
Vivian Gonçalves
Interna do internato complementar de Pediatria - Serviço de Pediatria – Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
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PREFÁCIO
Nos últimos 30 anos a saúde infantil mudou muito em Portugal. A melhoria das condições socioeconómicas, o apoio às políticas de saúde e a boa organização dos cuidados, colocaram os indicadores de saúde ao nível dos melhores do mundo.
Na área neonatal, a Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria tem desempenhado um papel muito relevante na obtenção destes resultados, nomeadamente através da sua ação na formação e investigação em neonatologia. As reuniões de consensos são da maior importância para o debate sobre os temas e para obter o maior proveito da sua discussão alargada. Este manual, adaptado à realidade da Unidade de Neonatologia do Hospital de São Francisco Xavier – Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE, resulta da revisão de bibliografia atual e pretende facilitar a abordagem prática de situações clínicas comuns em neonatologia.
À Saninter o nosso agradecimento especial pelo apoio a esta edição.
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ABREVIATURAS USADAS AO LONGO DO TEXTO
3TC – lamivudina A – anos
AAP – Academia Americana de Pediatria AB – antibiótico
Ac – anticorpo
AcHBs – anticorpo contra antigénio de superfície da hepatite B (marcador de seroconversão natural ou de resposta vacinal)
ACM – artéria cerebral média AD – aurícula direita ADN – ácido desoxirribonucleico
ADPM – atraso do desenvolvimento psicomotor AE – aurícula esquerda
aEEG – eletroencefalograma de amplitude integrada AF – antecedentes familiares
AgHBs – antigénio de superfície da hepatite B (marcador de infeção atual)
AIG – adequado à idade gestacional AINE – anti-inflamatório não esteróide ALT – alanina aminotransferase ALTE – adverse life threatening event Ao – aorta
AP – artéria pulmonar
aPTT – tempo de tromboplastina parcial ativada ARV – anti retrovírico
AST – aspartato aminotransferase ATP – adenosina trifosfato ATR – acidose tubular renal AZT – zidovudina BC – bilirrubina conjugada
BCG – vacina contra a tuberculose (bacillus Calmette-Guérin) BD – bilirrubina direta
BSIJ – boletim de saúde infantil e juvenil
BT – bilirrubina total Ca – cálcio CA – canal arterial
CAA – cromatografia dos aminoácidos cal – calorias
CAO – cromatografia dos ácidos orgânicos CAU – cateter arterial umbilical CDC – Center for Disease Control CE – concentrado eritrocitário CIA – comunicação interauricular CID – coagulação intravascular disseminada CIV – comunicação interventricular CK – creatina quinase CMV – citomegalovírus CoAo – coartação da aorta
CPAP – continuous positive airway pressure (pressão positiva contínua nas vias aéreas)
CTG – cardiotocografia CV – carga viral CVC – cateter venoso central CVU – cateter venoso umbilical d – dias
D – dias de vida d4T – estavudina
DBP – displasia broncopulmonar DC – débito cardíaco
DCSAV – defeito completo do septo AV DGS – Direção-Geral da Saúde DIP – doença invasiva pneumocócica DM – Diabetes mellitus
DMH – doença das membranas hialinas DP – desvio padrão
DPM – desenvolvimento psicomotor
DTPa – vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa (pertussis acelular)
EAM – enfarte agudo do miocárdio EB – excesso de bases
EBP – extremo baixo peso EBV – vírus Epstein Barr ECG – eletrocardiograma
ECMO – extracorporeal membrane oxygenation (oxigenação por membrana extracorporal)
EDTA – ethylenediamine tetraacetic acid (ácido etilenodiamino tetra-acético)
EEG – eletroencefalograma EET – entubação endotraqueal EHI – encefalopatia hipóxico-isquémica EMG – eletromiografia
EPC – cateter epicutâneo-cava ET – endotraqueal EV – endovenoso
EVHP – enfarte venoso hemorrágico periventricular FA – fosfatase alcalina
FC – frequência cardíaca Fe –fração excretada FiO2 – fração inspirada de oxigénio FL – fórmula para lactente FO – foramen ovale FR – frequência respiratória FSC – fluxo sanguíneo cerebral FSS – fluxo sanguíneo sistémico FT – fototerapia
G-CSF – fator de estimulação de colónias de granulocitos G6PD – glicose 6-fosfato desidrogenase
GABA– gamma-aminobutyric acid (ácido gama-aminobutírico)
GI – gastrointestinal
GIG – grande para a idade gestacional
GM-CSF – fator de estimulação de colónias de granulocitos e macrófagos GV – glóbulos vermelhos h – horas Hb – hemoglobina HbF – hemoglobina fetal HCO3 – bicarbonato HHV-6 – herpes vírus 6 humano
Hib – vacina contra a doença invasiva por Haemophilus
influenzae do serotipo b
HPIV – hemorragia peri-intraventricular HPV – vacina contra o vírus do Papiloma humano HTA – hipertensão arterial
Htc – hematócrito HTP – hipertensão pulmonar
HTPP – hipertensão pulmonar persistente do RN ICC – insuficiência cardíaca congestiva ICT – índice cardiotorácico
IECA – inibidores da enzima de conversão da angiotensina IG – idade gestacional
Ig – imunoglobulina IgG – imunoglobulina G IgM – imunoglobulina M IM – intramuscular
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica iNO – óxido nítrico inalado
IO – índice de oxigenação IRA – insuficiência renal aguda IRC – insuficiência renal crónica IU – infeção urinária LA – líquido amniótico LCR – liquido cefalorraquidiano
LDH – lactato desidrogenase (desidrogenase lática) LEC – líquido extracelular
LES – lúpus eritematoso sistémico LIC – líquido intracelular LIG – leve para a idade gestacional LM – leite materno
12 M – meses
MAP – mean airway pressure (pressão média das vias aéreas)
MBP – muito baixo peso MDI – metered dose inhaler
MenC – vacina contra a doença invasiva por Neisseria
meningitidis do serogrupo C
MFC – monitor de função cerebral Mg – magnésio
min – minutos
MSD – membro superior direito MV – murmúrio vesicular NA – não atribuível
NEC – necrotizing enterocolitis (enterocolite necrosante) NIRS - near infrared spectroscopy
NPT – nutrição parentérica total NVP – nevirapina ORL – otorrinolaringologia P – fósforo
PA – pressão arterial
PaCO2 – pressão arterial de dióxido de carbono PaO2 – pressão arterial de oxigénio PC – perímetro cefálico PCA – persistência do canal arterial PCAHS – PCA hemodinamicamente significativo PCO2 – pressão parcial de CO2
PCR – proteína C reactiva
PCR – polymerase chain reaction
PDF – post discharge formula
PEEP – positive end expiratory pressure (pressão expiratória positiva no final da expiração)
PETC – potenciais evocados do tronco cerebral PgE1 – prostaglandina E1, alprostadil
PIP – positive inspiratory pressure (pressão inspiratória positiva)
PL – punção lombar
PMA – post menstrual age (idade pós menstrual) PMN – polimorfonucleares
PN – peso ao nascer
PNV – programa nacional de vacinação PO – per os
PT – prematuro PTH – hormona paratiroideia
RCIU – restrição de crescimento intrauterino (ou restrição de crescimento fetal)
Rh – Rhesus RHA – ruídos hidroaéreos RM – ressonância magnética
RM CE – ressonância magnética cranioencefálica RN – recém-nascido
RNEBP –recém-nascido de extremo baixo peso RNMBP – recém-nascido de muito baixo peso RNPT – recém-nascido prematuro RNT – recém-nascido de termo ROT – reflexos osteotendinosos RPM – rotura prematura de membranas
RT-PCR – reverse transcription-polymerase chain reaction RVP – resistência vascular pulmonar
RVPAT –retorno venoso pulmonar anómalo total RVS – resistência vascular sistémica RX - radiografia
SAM – síndrome de aspiração meconial SC – subcutânea
SCEH – síndrome do coração esquerdo hipoplásico SDR – síndrome de dificuldade respiratória sem – semanas
SF – soro fisiológico
SGB – Streptococcus do Grupo B de Lancefield SIDA – síndrome de imunodeficiência adquirida SIHAD- secreção inapropriada de hormona antidiurética SNC – sistema nervoso central
SNG – sonda nasogástrica SOG – sonda orogástrica
SpO2 – saturação de hemoglobina medida por oximetria de pulso
SPP – Sociedade Portuguesa de Pediatria T – trimestre
TAR – trombocitopenia e ausência do rádio TARV – terapêutica anti-retrovírica TC – tomografia computorizada
TC CE – tomografia computorizada cranioencefálica TCCGA – transposição congenitamente corrigida das grandes artérias
Td – vacina contra o tétano e difteria (difteria em dose de adulto)
Te – tempo expiratório TEP – tromboembolismo pulmonar TET – tubo endotraqueal TF – transfontanelar TG – triglicéridos
TGA – transposição das grandes artérias Ti – tempo inspiratório
ToF – Tetralogia de Fallot
TORCHS – Toxoplasmose, Outras infecções (VHB, VIH, Varicela-Zoster, Parvovírus B19, Coxsackie), Rubéola, Citomegalovírus, Herpes simplex vírus, Sífilis
TP – tempo protrombina
TSA – teste de sensibilidade a antibióticos UCIN – Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais UG1TA1 – UDP-glucuronosiltransferase UI – Unidades Internacionais VAF – ventilação de alta frequência VAS – vacina contra o sarampo
VASPR – vacina contra o sarampo, parotidite epidémica e rubéola
VCI – veia cava inferior VCS – veia cava superior VD – ventrículo direito
VDRL – venereal disease research laboratory test VE – ventrículo esquerdo
VEB – vírus Epstein Barr VGM – volume globular médio VHA – vírus da hepatite A VHB – vírus da hepatite B VHC – vírus da hepatite C VHD – vírus da hepatite D VHS – vírus herpes simplex VIH – vírus da imunodeficiência humana VM – ventilação mecânica
VS – volume sistólico VSR – vírus sincicial respiratório
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REANIMAÇÃO NA SALA DE PARTOS
Adaptado de:European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 Nascimento 30 s 60 s SpO2 pré-ductal aceitável: 2 min: 60% 3 min: 70% 4 min: 80% 5 min: 85% 10 min: 90% I N TR O D U Ç Ã O Secar o RN Retirar toalhas molhadas e cobrir Ligar o cronómetro ou marcar a hora
Avaliar (tónus), respiração e FC
Se gaspings ou apneia:
Permeabilizar via aérea Fazer 5 insuflações Considerar monitorização de SpO2
Reavaliar Se frequência cardíaca não aumentar
ver movimentos torácicos
Se o tórax não expande:
Reposicionar a cabeça Considerar controlo da via aérea com duas
pessoas ou outras manobras da via aérea
Repetir as insuflações Considerar monitorização de SpO2
Avaliar resposta
Se não melhora a FC verificar expansão torácica
Se há expansão torácica e se a FC é indetetável ou lenta (<60 bpm):
iniciar compressões torácicas 3 compressões por cada insuflação
Reavaliar FC a cada 30 segundos se a FC é indetetável ou lenta (<60 bpm)
considerar acesso vascular e fármacos
DURA
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RN < 28 sem:
Temperatura ambiente
26 ºC
Não secar e colocar dentro de
saco de plástico
Se eupneico, a chorar e tónus
normal – colocar em contacto
com a mãe, cuidados de rotina
Se LA com mecónio:
RN vigoroso - não aspirar via aérea
RN não vigoroso – aspirar traqueia
sob laringoscopia, antes de ventilar
Compressões torácicas:
Total de compressões e ventilações por min = 120. Frequência 3:1 Se suspeita de paragem por causa cardíaca primária (não no contexto de reanimação na sala de partos) - frequência passa a 15:2
Cabeça em posição neutra
Frequência de ventilação 30 c/min
Se respiração espontânea:
Reavaliar FC e monitorizar Considerar monitorização de SpO2
Se FC satisfatória ou a :
Continuar ventilação até respiração eficaz
Se esforço respiratório:
Considerar PEEP/ CPAP
Se tórax não expande:
O problema é a via aérea Verificar posição da cabeça Considerar TET se ainda não entubado
Se FC a :
Parar compressões torácicas Continuar ventilação até respiração eficaz
Se eupneico, a chorar e tónus normal Colocar em contacto com a mãe,
cuidados de rotina
Se LA com mecónio:
RN vigoroso - não aspirar via aérea RN não vigoroso – aspirar traqueia
sob laringoscopia, antes de ventilar
RN < 28 sem:
Temperatura ambiente 26 ºC Não secar e colocar dentro de saco de plástico
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ENTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL
Peso (g) TET (mm) Lâmina do laringoscópio reta Distancia TET comissura labial (cm) Distancia TET asa do nariz (cm) < 1000 2.5 00/0 6.5-7 7.5-8 1000-2000 3 0 7-8 8-9 2000-3000 3.5 0/1 8-9 9-10 3000-4000 3.5-4 1 9-10 10-11
Fórmulas para cálculo rápido:
Distância TET comissura labial = 6 + peso RN Distância TET asa do nariz = 7 + peso RN Calibre do TET= IG/10
Comprimento do TET de acordo com a IG
IG (semanas) Distância do TET à comissura labial (cm)
23-24 5.5 25-26 6 27-29 6.5 30-32 7 33-35 7.5 36-37 8 38-40 8.5 41-43 9
Adaptado de:European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 Compatibilidade TET/ sonda de aspiração
TET (mm) Sonda de aspiração (F)
3 6 ou 8
3.5 8
4 8 ou 10
FÁRMACOS Adrenalina
Via Diluição Preparação Dose
(mL/kg) Dose (µg/kg) Velocidade de administração EV (preferencial) Diluir 1 mL adrenalina 1:1000 em 9 mL SF (concentração obtida 1:10000) Preparar seringa de 1 mL da diluição 0.1 a 0.3 10-30 Rápida, o mais rápida possível ET
(se via EV não disponível)
Preparar seringa de 3 ou 5 mL da
diluição
0.5 a 1 50-100
Após administração fazer flush de soro fisiológico
A administração pode ser repetida após 3 a 5 min, se necessário Expansor da volemia
Fluido Via Preparação Dose
(mL/kg)
Velocidade de administração Soro fisiológico ou Sangue 0Rh
negativo
EV (CVU) Seringa de 40 mL
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OBSTETRÍCIA PARA NEONATOLOGISTAS
Cristina Costa, Fernando Cirurgião
VIGILÂNCIA PRÉ-NATAL
Elementos para datar a gravidez
Tempo de amenorreia (1º dia do último período menstrual) e altura uterina Ecografia antes das 22sem (preferencialmente 11-13sem+6d)
Data da conceção (técnica de procriação medicamente assistida) Primeiro teste imunológico da gravidez positivo/doseamento β-HCG Rastreio de infeções e vigilância ecográfica na gravidez
1º TRIMESTRE (≤14 sem) 2º TRIMESTRE (14-28 sem) 3º TRIMESTRE (≥28 sem) VDRL
Rubéola IgG, IgM Toxoplasmose IgG, IgM AgHBs4
AcVIH 1 e 2 AcVHC3 Urocultura
Rubéola IgG, IgM1 Toxoplasmose IgG, IgM1 Urocultura
VDRL Rubéola IgG, IgM2 Toxoplasmose IgG, IgM1 AgHBs5
AcVIH 1 e 2 AcVHC3 Urocultura
Pesquisa SGB (exsudado retovaginal às 35-37sem)
Ecografia 1º trimestre (11-13 sem+6d)
(idade gestacional, corionicidade, marcadores de cromossomopatias – ossos do nariz, translucência da nuca)
Ecografia morfológica (20-23 sem)
Ecografia desenvolvimento (32-34 sem)
(crescimento fetal e perfil biofísico)
1Se imunidade não estabelecida no 1º trimestre 2
Todas as puérperas não imunizadas deverão ser vacinadas com VASPR ainda no hospital ou na consulta de puerpério, não se perdendo assim oportunidades de vacinação
3
Considerar uma vez na gravidez, preferencialmente no 3º trimestre (não está incluído nos exames laboratoriais a realizar na vigilância de gravidez de baixo risco – norma da DGS 037/2011)
4
Todas as grávidas devem ser rastreadas no 1º trimestre, incluindo que as que têm história de vacinação prévia documentada
5
Apenas as grávidas não vacinadas e cujo rastreio foi negativo no 1º trimestre, devem repetir no 3º trimestre
Gémeos podem ser:
Monozigóticos ou uniovulares (gémeos idênticos) – resultam da divisão precoce de um zigoto, proveniente da fecundação de um óvulo por um espermatozoide. Se a divisão ocorre nas primeiras 72 h a gestação será bicoriónica biamniótica; entre 4 e 8 dias a placenta será única, mas cada feto terá a sua cavidade amniótica (gravidez monocorónica-biamniótica); se o zigoto se divide entre o 9º e 12º dia após a fertilização haverá uma placenta e uma cavidade amniótica para ambos os fetos (monocoriónica-monoamniótica); depois do 12º dia dará origem a gémeos
siameses.
Bizigóticos ou biovulares (não idênticos) – resultam da fecundação de dois óvulos por diferentes espermatozóides. As gestações são sempre bicoriónicas biamnióticas, existem duas placentas (mesmo que fundidas) e tecido corial interposto entre as duas cavidades amnióticas.
Ameaça de parto pré-termo (APPT) – ocorrência de contractilidade uterina frequente, regular e dolorosa antes das 37sem de gestação com formação do segmento inferior uterino, dilatação cervical <3cm e/ou apagamento <80%. I N TR O D U Ç Ã O
18
Rotura prematura de membranas (RPM) – rotura das membranas corioamnióticas com perda de líquido amniótico mais de uma hora antes do início do trabalho de parto. Se ocorre antes das 37 sem designa-se por rotura prematura pré-termo de membranas (RPPM).
Corioamnionite – infeção corioamniótica, geralmente associada a rotura de membranas e trabalho de parto prolongados.
Febre materna (temperatura axilar ≥ 38 ºC) + pelo menos 2 dos seguintes critérios: Taquicardia materna (>100 bpm) LA fétido ou purulento
Taquicardia fetal (>160 bpm) Leucocitose materna ( >15000/ µL)
Útero doloroso à palpação PCR aumentada
Ausência de foco extrauterino que justifique os sinais de infeção materna
Restrição de crescimento intrauterino (RCIU) – feto com estimativa ponderal inferior ao percentil 10 para a idade gestacional.
Placenta prévia – implantação da placenta total, ou parcialmente, na zona correspondente ao segmento inferior do útero.
Hipertensão arterial (HTA) – PA sistólica ≥140 mmHg ou PA diastólica ≥90 mmHg em duas determinações separadas de 4h.
HTA crónica – HTA que surge antes da conceção, ou antes das 20 sem de gravidez, ou pela 1ª vez na
gravidez e que não desaparece após a 6ª sem pós-parto.
HTA gestacional – elevação da PA pela 1ª vez após as 20 sem, ou nas primeiras 24 h pós-parto, sem proteinúria.
Pré-eclâmpsia – elevação da PA gestacional associada a proteinúria (≥300 mg/urina 24 h ou ≥1,0 g/L ou ≥2+ em amostra ocasional, na ausência de sinais de infeção urinária) que ocorre depois das 20sem. Na ausência de proteinúria, a probabilidade do diagnóstico aumenta se sintomas: cefaleias, alterações visuais, epigastralgias ou alterações analíticas, principalmente trombocitopenia e alteração das enzimas hepáticas.
Eclâmpsia – ocorrência de uma ou mais convulsões generalizadas e/ou coma na grávida com pré-eclâmpsia, na ausência de outras condições neurológicas.
Síndrome de HELLP (Hemolysis, Elevated Liver Enzymes, Low Platelets) – aparecimento de anemia hemolítica microangiopática, disfunção hepática e trombocitopenia. Considerada, por alguns autores, uma variante das formas graves de pré-eclâmpsia.
Diabetes gestacional – desequilíbrio do controlo da glicemia perante uma sobrecarga de glicose. Critérios de diagnóstico:
Glicemia plasmática em jejum no 1º trimestre ≥92 mg/dL e ≤126 mg/dL
Prova de tolerância à glicose com 75 g às 24-28 sem, se um ou mais valores alterados com 3 determinações:
≥ 92 mg/dL – 0 h ≥ 180 mg/dL – 1 h ≥ 153 mg/dL – 2 h
19
AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR FETAL
Cardiotocografia – registo da frequência cardíaca fetal (FCF) e da contratilidade uterina em simultâneo e de maneira contínua, permitindo avaliar a capacidade de transferência de oxigénio da unidade feto-placentária.
Non stress test - são considerados reativos os fetos com traçados que exibam uma FCF basal (FCFb) entre 120-160 bpm, 2 acelerações da FCF de amplitude ≥15 bpm e com duração mínima de 15 s, em resposta a movimentos fetais e ausência de desacelerações.
Contraction stress test – avaliação da reserva oxigenativa do feto quando submetido a pelo menos 3 contrações em 10 min, com duração 40-60 s cada. Geralmente a FCF aumenta em resposta à contração e não ocorrem desacelerações durante ou após a contração.
Desacelerações da FCF tendo em conta a sua relação cronológica com as contrações que as desencadeiam podem ser:
Precoces - geralmente associadas a compressão do pólo cefálico, sem significado patológico; Tardias com FCFb e variabilidade normais - geralmente de origem reflexa, sugerem instalação
recente ou gravidade moderada do fenómeno hipoxémico;
Tardias com FCFb anómala e variabilidade reduzida - podem representar hipóxia fetal grave ou prolongada, associando-se geralmente a acidose fetal;
Variáveis - associadas a compressão, oclusão ou prolapso, patente ou oculto (laterocidência) do cordão umbilical.
Taquicardia fetal – FCFb ≥160 bpm mantida durante o mínimo de 10 min. Se não ultrapassa 180 bpm classifica-se como taquicardia ligeira, acima deste limiar considera-se taquicardia grave. Causas: infeção materna ou fetal, ansiedade materna, hipotensão materna, terapêutica materna com agentes β-miméticos ou parassimpaticolíticos, hipertiroidismo materno, imaturidade do SNC fetal, hipóxia crónica, anemia fetal, arritmias fetais ou movimentos fetais repetidos.
Bradicardia fetal - FCFb <120 bpm durante um período superior a 10 min, considera-se ligeira quando não inferior a 100 bpm ou grave se <100 bpm. Causas: hipoxemia, bloqueio A-V congénito, hipertonia uterina, hipotensão materna, uso de β-bloqueantes ou anestésicos locais.
Perfil biofísico – NST complementado com ecografia
Variável biofísica Normal (2 pontos)
NST Movimentos respiratórios Movimentos somáticos Tónus fetal Líquido amniótico Reactivo ≥1 episódio >30 s em 30 min ≥3 movimentos em 30 min
≥2 episódios de extensão ativa com retorno à flexão do tronco ou membros/flexão e extensão da mão
≥1 bolsa LA >2 cm no eixo vertical
8-10 – normal; 4-6 – possível compromisso fetal; 0-2 – elevada mortalidade perinatal
Fluxometria doppler fetal e cordo-placentária – particularmente da artéria umbilical, útil na abordagem das situações de risco, nomeadamente, restrição de crescimento intrauterino. Perante alterações nas ondas de fluxo - índices de pulsatilidade/resistência aumentados para a idade gestacional ou fluxo ARED (Absence/Reversed End-Diastolic - recorre-se ao estudo da artéria cerebral média (procurando sinais de centralização circulatória/distribuição hemodinâmica) e, eventualmente, à exploração do Ductus Venosus (avaliando a função cardíaca direita).
I N TR O D U Ç Ã O I N TR O D U Ç Ã O
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CORTICOTERAPIA PARA INDUÇÃO MATURATIVA FETAL
Cristina Costa, Fernando CirurgiãoCorticosteróides antenatais estão associados a diminuição de síndrome de dificuldade respiratória, mortalidade neonatal e outras complicações da prematuridade como hemorragia intraventricular.
INDICAÇÕES ESQUEMAS TERAPÊUTICOS
Gravidez uni ou plurifetal com ameaça de parto pré-termo (APPT) às 24-34 sem+6d
Iniciar protocolo mesmo quando se prevê que não se complete o ciclo
Nas situações de APPT 23-23 sem+6 d – decisão de iniciar ciclo deve ser partilhada entre chefes de equipa de Obstetrícia e Neonatologia Repetição do ciclo: ponderar se completou ciclo antes das 26 sem
Nas situações de corioamnionite o ciclo pode ser iniciado mas não deve atrasar o parto se indicado por condição materna ou fetal
Restrição de crescimento intrauterino com indicação para parto ou APPT às 24sem - 35sem+6d Cesariana eletiva realizada preferencialmente após 39 semanas. Se realizada antes das 38 sem+6d por indicação materna ou fetal proceder a indução maturativa fetal. A cesariana deve ser realizada 24 h depois da última administração de corticosteróide
Esquemas terapêuticos de 1ª linha (usar um ou outro em função da disponibilidade): - Betametasona 12mg IM 24/24 h (2 administrações) ou
- Dexametasona 6mg IM 12/12 h (4 administrações)
Parto pré-termo iminente (esquemas terapêuticos alternativos): - Betametasona 12 mg IM 12/12 h (2 administrações) ou
- Dexametasona 6 mg IM 6/6h h (4 administrações)
Assegurar 24 mg de cada um dos fármacos em 24-48 h.
Maior eficácia se parto 24 h a 7 dias depois da última administração.
O ciclo poderá realizar-se em regime de ambulatório.
EFEITOS SECUNDÁRIOS A CURTO PRAZO CONTRAINDICAÇÃO RELATIVA
Fetais – diminuição da atividade, variabilidade da frequência cardíaca e episódios de movimentos respiratórios
Maternos – leucocitose, hiperglicemia, redução cortisol plasmático, edema agudo pulmão (se associação com β-miméticos, hiper-hidratação, corioamnionite)
Infeção sistémica (tuberculose ou sepsis)
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ANESTESIA OBSTÉTRICA E IMPLICAÇÕES NEONATAIS
David Nora, Joana Osório, Luís Saldanha INTRODUÇÃO
A preocupação com a segurança fetal e neonatal tem acompanhado a evolução da anestesia obstétrica. Já em meados do século XIX foi reconhecido o efeito potencial dos agentes anestésicos no fetoe demonstrada a sua transmissão placentar, tendo começado a defender-se a importância da monitorização da frequência cardíaca fetal no decorrer do parto. No início do século XX, com a evidente associação entre o crescente número de depressões respiratórias neonatais e a analgesia endovenosa no trabalho de parto com morfina e escopolamina, chegou o reconhecimento clínico das repercussões neonatais das técnicas anestésicas. O índice de Apgar, descrito por Virginia Apgar, uma anestesiologista de Nova Iorque, em 1953, possibilitou a aferição das repercussões neonatais das diferentes técnicas anestésicas e constituiu um instrumento de afirmação das técnicas regionais, que a partir de 1960 começaram a evidenciar maior eficácia e segurança materno-fetal, tendo prevalecido, até aos dias de hoje, na primeira linha da intervenção anestésica em Obstetrícia.
ANESTESIA OBSTÉTRICA
A prática anestésica com potenciais repercussões fetais e/ou neonatais engloba: Procedimentos anestésicos periparto:
Analgesia do trabalho de parto:
Técnicas regionais (1ª linha); analgesia endovenosa com opióides (2ª linha); Anestesia para cesariana;
Técnicas regionais e anestesia geral;
Anestesia para intervenções cirúrgicas no decurso da gravidez: Técnicas regionais e anestesia geral.
O conceito de técnica regional em anestesia obstétrica é sinónimo de abordagem do neuroeixo a nível lombar por uma de três técnicas:
Bloqueio epidural – administração de fármacos no espaço epidural através de cateter previamente colocado;
Bloqueio subaracnoideu ou raquianestesia – administração de fármacos no espaço subaracnoideu; implica punção da duramáter; o tempo para início de efeito é menor; tem maior risco de repercussão hemodinâmica do que o bloqueio epidural; as doses e os volumes eficazes são significativamente menores quando comparados com os utilizados no bloqueio epidural; Bloqueio sequencial – técnica que, numa intervenção única, possibilita a realização de um
bloqueio subaracnoideu, seguido da colocação de um cateter epidural, para administração posterior de fármacos.
Outros dados importantes para uma melhor compreensão das técnicas regionais em Obstetrícia: Os fármacos utilizados são os anestésicos locais e os opióides;
Todas as técnicas descritas são válidas para analgesia do trabalho de parto ou anestesia para cesariana ou outra intervenção cirúrgica;
A concentração (dose total) e o volume do(s) fármaco(s) administrado(s) diferenciam um procedimento analgésico de um procedimento anestésico;
O bloqueio simpático inerente a qualquer das técnicas – um dos responsáveis pela potencial hipotensão materna – é mais acentuado na intervenção anestésica do que na analgésica. MECANISMOS DE LESÃO FETAL
Podem definir-se duas formas de lesão fetal: Direta ou primária:
Transmissão placentar de fármacos/teratogenicidade farmacológica;
Efeito dose-dependente determinado pela duração e idade gestacional à altura da exposição; I N TR O D U Ç Ã O
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Mecanismo de lesão classicamente associado à anestesia geral na gravidez;
As estratégias de minimização da lesão primária incluem a ponderação cuidada da relação benefício/risco materna e fetal de todos os procedimentos anestésicos, em concordância com o risco de toxicidade de cada fármaco.
Indireta ou secundária:
Disfunção materna primária; Principais causas:
Hipóxia materna
Dificuldades na abordagem da via aérea e/ou na ventilação; Hipoperfusão útero-placentar
Compressão aorto-cava pelo útero gravídico, significativa a partir das 18 a 20 semanas de gestação e maximizada em decúbito dorsal;
Bloqueio simpático não-compensado induzido por uma técnica regional; Hemorragia pré-parto;
Efeitos cardiodepressor e vasodilatador dos anestésicos gerais. IMPACTO NEONATAL
As limitações éticas inerentes aos estudos clínicos prospetivos em grávidas condicionam a evidência científica do impacto da anestesia no período neonatal. Como consequência, são os estudos animais e os trabalhos retrospetivos e epidemiológicos que têm complementado a experiência clínica na aquisição de novos conhecimentos sobre o tema.
Dentro dos vários grupos farmacológicos de utilização comum na prática anestésica, merecem destaque os anestésicos inalatórios, os anestésicos endovenosos, os opióides e os relaxantes musculares para anestesia geral e os anestésicos locais e opióides para as técnicas regionais. A tabela mostra uma súmula dos efeitos fetais e neonatais destes grupos farmacológicos.
Fármaco Efeito fetal/neonatal Outros dados
A n e st é si co s in al ató ri o s Sevoflurano Desflurano
Sem efeitos nocivos documentados
Estudos epidemiológicos sugerem aumento da incidência de abortos espontâneos e malformações fetais em profissionais de saúde
expostas a concentrações subanestésicas de agentes inalatórios durante a gravidez, efeito
não corroborado por estudos animais controlados A n e st é si co s e n d o ve n o so
s Benzodiazepinas Hipotonia neonatal Hipotermia neonatal Depressão respiratória neonatal
Índice de Apgar baixo Acidose fetal/neonatal Lesão neurológica fetal com
efeitos comportamentais a longo prazo(investigações em
curso)
Dismorfias orofaciais Síndrome de abstinência neonatal
(se terapêutica materna crónica) Doses sedativas, conjugadas ou não com opióides, utilizadas como adjuvantes numa
técnica regional não se associam a efeitos nocivos.
Barbitúricos
Dismorfias orofaciais Síndrome de abstinência neonatal
(se terapêutica materna crónica) Propofol
Maior hipotensão maternae associação mais forte com depressão respiratória, apneias e síndrome de morte súbita no recém-nascido do
23 Efeitos fetais e neonatais dos principais grupos farmacológicos de utilização anestésica.
Opióides
Sem teratogenicidade estrutural Bradicardia e menor variabilidade da frequência
cardíaca fetal Índice de Apgar baixo Depressão respiratória neonatal
↓ SpO2 neonatal que pode chegar até às 12h pós-parto
Síndrome de abstinência neonatal (se terapêutica materna crónica) Quando associados a anestésicos locais em
técnicas regionais, têm menor risco de bradicardia fetal e otimizam o efeito analgésico
ou anestésico, permitindo redução de dose de anestésico local e consequente bloqueio simpático menos intenso com menor incidência
de hipotensão materna Relaxantes musculares
Sem efeitos nocivos diretos documentados em doses
terapêuticas Anestésicos locais
Sem efeitos nocivos diretos documentados em doses
terapêuticas
Risco de lesão secundária se hipotensão ou hipóxia materna
As estratégias de minimização dos riscos de lesão fetal e neonatal associados aos procedimentos anestésicos incluem:
Indução anestésica apenas com um anestésico endovenoso e um relaxante muscular de rápido início e curta duração de ação, complementando a anestesia geral com opióides, anestésicos inalatórios e doses subsequentes de relaxante muscular apenas após o nascimento e a laqueação do cordão umbilical;
Intervalo de tempo curto (inferior a 3 minutos) entre a indução anestésica e a extração fetal com laqueação do cordão umbilical:
Limita o tempo de exposição placentar aos agentes anestésicos no contexto de anestesia geral;
Limita o tempo de hipoperfusão placentar por hipotensão materna provocada por compressão aorto-cava e pelos efeitos cardiodepressor e vasodilatador dos anestésicos gerais ou pelo bloqueio simpático provocado pelas técnicas regionais;
Administração de doses e volumes mínimos eficazes para reduzir o risco de hipotensão e a possibilidade de compromisso ventilatório por bloqueio excessivo nas técnicas regionais; Fluidoterapia e recurso a vasopressores para contrariar a hipotensão;
Otimização da oxigenação e ventilação maternas.
No cumprimento destes pressupostos, as técnicas regionais promovem o aumento do fluxo placentar, otimizando o bem-estar fetal e o prognóstico neonatal, com índices de Apgar mais elevados, aleitamento mais precoce e menor necessidade de intervenção médica pós-natal, quando comparados com anestesia geral.
CONCLUSÃO
Apesar das condicionantes éticas relativamente aos estudos em Obstetrícia, a evidência das vantagens associadas às técnicas regionais do ponto de vista neonatal é inequívoca, com risco mínimo de lesão direta, tanto no contexto de analgesia do trabalho de parto como de anestesia da grávida. Não é consensual qual a técnica regional ideal em nenhum dos casos, devendo a escolha ser adaptada às circunstâncias.
A anestesia geral, não obstante os riscos a ela associados, constitui a única alternativa válida às técnicas regionais.
Independentemente da técnica anestésica ou analgésica utilizada são fundamentais a prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoces das complicações que podem induzir lesão fetal secundária. É neste mecanismo de lesão que a intervenção do anestesiologista tem maior impacto na melhoria do prognóstico neonatal.
A investigação em curso sobre os potenciais efeitos neurocognitivos e comportamentais dos agentes anestésicos gerais e o desenvolvimento de novas metodologias inalatórias e endovenosas para a analgesia do trabalho de parto prometem, num futuro próximo, introduzir novos dados na discussão científica sobre o real impacto neonatal da anestesia obstétrica.
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INTERPRETAÇÃO DAS SEROLOGIAS NA SALA DE PARTOS
Helena Pragosa, Mónica Marçal, Madalena Lopo Tuna25 I N TR O D U Ç Ã O
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HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME DO RECÉM-NASCIDO
Maria dos Anjos Bispo, Ana NunesOBJETIVOS
Detetar fatores de risco Detetar malformações congénitas Avaliar o estado geral do recém-nascido
DEFINIÇÕES
Em função da idade gestacional
Pré-termo: RN cuja idade gestacional é inferior a 37 semanas completas; Termo: RN com idade gestacional compreendida entre 37 e 41 semanas + 6 dias; Pós-termo: RN com idade gestacional de 42 semanas completas ou mais.
Em função do peso ao nascer
Baixo peso: RN com peso ao nascer 2500 g; Muito baixo peso: RN com peso ao nascer 1500 g; Extremo Baixo Peso: RN com peso ao nascer 1000 g; Macrossómico: RN com peso ao nascer 4000 g.
Relação Peso/idade Gestacional
Leves para a idade gestacional (LIG)- RN cujo peso se encontra abaixo do percentil 10 para a respetiva idade gestacional, numa curva representativa da população.
Adequados para a idade gestacional (AIG)- RN cujo peso se encontra entre o percentil 10 e 90 para a respetiva idade gestacional, numa curva representativa da população.
Grandes para a idade gestacional (GIG)- RN cujo peso se situa acima do percentil 90 para a respetiva idade gestacional, numa curva representativa da população.
Estas definições não são consensuais. Por exemplo, relativamente aos RN LIG alguns autores consideram como valores de corte, o percentil 5, o percentil 3, ou dois desvios padrão abaixo da média.
Na avaliação inicial do recém-nascido é indispensável valorizar a história obstétrica, os antecedentes maternos e familiares e o exame clínico do RN.
HISTÓRIA OBSTÉTRICA/MATERNA
Inclui a história social, pessoal e reprodutiva. Importa saber da vigilância da gravidez.
Idealmente deverá ter feito no mínimo 6 consultas. A gravidez é não vigiada quando houve 3 ou menos consultas.
São indispensáveis os seguintes exames laboratoriais: grupo de sangue e Rh, teste de Coombs indireto, glicemia, serologias, que deverão ser seriadas ao longo dos 3 trimestres, em função do risco. Saber do resultado do rastreio do estreptococo grupo B e do resultado dos controlos ecográficos efetuados.
Saber da duração da rotura das membranas, tipo de parto, características e quantidade do líquido amniótico e da placenta. Se há história de hidrâmnios, deve ser verificada a patência do esófago no RN pela entubação nasogástrica.
27 Existem patologias maternas e fármacos que podem afetar o feto, ou ser responsáveis por complicações pós-natais: hipertensão arterial, diabetes, infeção urinária, trombocitopenia, hipertiroidismo, tuberculose, VIH, miastenia gravis, distrofia miotónica, LED, anti-tiroideus, citostáticos, ansiolíticos, antidepressivos, etc..
Conhecer o ambiente social: nível socioeconómico, mãe adolescente, tabagismo, consumo de drogas ilícitas, etc. Ficar atento neste último caso aos sinais de abstinência no RN. Abandono/adoção. Nesta altura já estamos na posse de dados que nos permitem classificar o RN em relação à idade gestacional, saber se é adequado, se há algum fator de risco que obrigue a uma vigilância mais apertada.
ÍNDICE DE APGAR
Pontuação 0 1 2
FC Ausente < 100 bpm > 100 bpm
Respiração Ausente Irregular Regular, choro
Tónus muscular
Hipotonia Flexão das extremidades Ativo
Resposta aos estímulos
Ausente Gemido Choro vigoroso
Cor da pele Palidez/ cianose central
Cianose periférica Rosado
OBSERVAÇÃO DO RN NA ENFERMARIA
Requisitos: Lavar as mãos!
Sempre que possível na presença da mãe Ambiente aquecido
RN despido
O RN deve ser pesado e medido o comprimento e o perímetro craniano. A relação entre o peso e o comprimento deve ser avaliada. Nos RN GIG e LIG há risco de hipoglicemia.
Devem ser registadas a frequência respiratória (40-60 cpm), a frequência cardíaca (120-160 bpm) e temperatura (37ºC).
Não é necessário medir a pressão arterial, hematócrito ou glicemia se o RN não tem alterações das variáveis anteriores, e tem boa cor e boa perfusão, esta última avaliada pelo tempo de reperfusão capilar que deve ser ≤3 s.
A simples observação do RN dá-nos muitas informações:
Postura e atividade motora:
Predominantemente em flexão (toda e qualquer assimetria é considerada patológica), com atividade motora espontânea verificada pelos movimentos de lateralização da cabeça, flexão e extensão dos membros.Decúbito dorsal: braços e pernas semifletidas, com a cabeça virada para um dos lados. Decúbito ventral: pernas mais fletidas, colocadas sob o abdómen. Suspensão ventral: postura em semiflexão, podendo a cabeça ficar intermitentemente alinhada com o tronco.
Cor da pele:
Eritrose ou plétora pode ser normal, mas exige por vezes a determinação do hematócrito. Palidez ocasionada por vasoconstrição cutânea ou por anemia.
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Icterícia ou icterícia/palidez, esta última sugestiva de hemólise. Consultar o organigrama de atuação. Cianose central está normalmente associada a doença cardíaca ou pulmonar. A periférica nas mãos e pés (acrocianose) pode ser normal.
A máscara equimótica ocorre por circular do cordão ou apresentação de face e caracteriza-se por petéquias confluentes na cabeça e pescoço.
Pele marmoreada pode estar relacionada com o frio ou traduzir síndrome hipovolémica e obriga a vigilância.
Máculas, erupções ou outras anomalias: São situações benignas e de resolução espontânea: a) Milia ou miliária: pequenos quistos do tamanho de cabeça de alfinete dispersos pelo nariz e queixo; b) Eritema tóxico: maculopapuloso com centro pálido ou amarelo, predominando no tronco; c) Angiomas capilares planos: localizados preferencialmente nas pálpebras, fronte, raiz do nariz ou nuca; d) Mancha mongólica: de cor azulada em geral na região lombossagrada, em regra desvanece até aos 5 anos de idade.
Observação sistematizada:
Começando pela cabeça, com a palpação das suturas e fontanelas. Na face verificar a transparência dos meios oculares, a inserção dos pavilhões auriculares, a boca, palato, língua, úvula, freio da língua (verificar limitação de movimento da língua), se há presença de dentes deciduais (1/2000 nascimentos - incisivos inferiores).
Na região cervical não esquecer de palpar o esternocleidomastoideu e as clavículas. De seguida a auscultação pulmonar e cardíaca. Palpar as glândulas mamárias, cujo ingurgitamento nas duas primeiras semanas de vida é habitual. Ficar atento ao afastamento intermamilar que é suspeito de outras anomalias congénitas. O abdómen é globoso, move-se de modo síncrono com os movimentos respiratórios. Fazer a palpação abdominal, avaliar o coto umbilical (2A+1 V). Não esquecer a palpação dos pulsos femorais, a integridade dos órgãos genitais, e excluir a imperfuração anal. De seguida fazer a manobra de Ortolani. Colocar o bebé em posição ventral, verificar a integridade da região dorsal e lombar e membros inferiores.
Exame neurológico:
A vitalidade do RN já foi avaliada pela postura e atividade motora espontânea. Devem ser elicitados os reflexos arcaicos: pontos cardeais, preensão palmar e plantar, resposta à tração dos membros superiores (a flexão dos cotovelos, quando a criança é puxada para a posição sentada, reflete o desenvolvimento do tónus flexor, pelas 37 semanas), reflexo tónico assimétrico do pescoço (posição de esgrima), reflexo de Moro, reflexo de extensão cruzada (estimulação da planta do pé, leva a flexão, seguido de extensão da perna oposta), marcha automática. Por fim pesquisar os pares cranianos: II par- reação pupilar à luz, fixa objeto brilhante a 20-30 cm; III-IV-VI pares- segue objetos; V-VII pares- reflexo da glabela; IX-X-XII pares- reflexos de sucção, deglutição.
Inquirir sempre das dejeções e micções: o limite aceitável para a não emissão de urina pode prolongar-se até às 48h de vida. Cerca de 20% urinou em plena sala de partos, 70% fazem-no até às 24 h e 10% entre as 24 e 48 h. Durante os 3 primeiros dias de vida, o débito urinário do RN de termo situa-se entre 1-3 ml/kg/h aumentando depois para 5 ml/kg/h, sendo o nº de micções a partir do 3º dia, no mínimo 6-8 por dia.
No final devemos conseguir responder às seguintes questões: 1. Há alguma malformação congénita óbvia?
29 Filtro longo? Síndrome alcoólica-fetal.
Palato ogival? Fenda palatina isolada ou associada a fenda labial? Macroglossia? Síndrome de Beckwith- Wiedemann; hipotiroidismo.
Cianose central, sopro cardíaco? Cianose que não reverte com O2 associada a sopro cardíaco sugere
malformação cardíaca.
Abdómen escavado? Sugere hérnia diafragmática.
Massa abdominal palpável? Nota: mais de 50% das massas palpáveis no abdómen, no período neonatal, são de origem renal.
Malformação renal? O contributo da ecografia pré-natal é decisivo para o diagnóstico das doenças renais. Se na ecografia fetal houve referência a dilatação pielocalicial deverá realizar ecografia pós-natal de acordo com as recomendações da SPP.
Pulsos femorais palpáveis? A sua não palpação deve fazer pensar na coartação da aorta. Cianose que desaparece com o choro? – Atresia das coanas.
Palpam-se testículos? A criptorquidia bilateral por regra ocorre associada a outras síndromes tais como: defeitos tubo neural, trissomia 21, Klinefelter, Noonan, De Lange, Fanconi.
Hipospadias? Hipertrofia do clítoris? Ambiguidade genital? Todo o RN com genitais ambíguos deve ser monitorizado para sódio, potássio, glicose e 17OH progesterona, até se excluir a síndrome adreno-genital.
Ânus imperfurado? Ter em atenção que a eliminação de mecónio não exclui a imperfuração anal. Excluir anomalias anorretais.
Sinal de Ortolani e Barlow presente? De notar que estas manobras devem ser efetuadas em todas as
observações durante os primeiros 3 a 4 meses de vida (ver Displasia de desenvolvimento da anca).
Polidactilia, sindactilia? Pé boto ou equinovarus.
O rastreio de malformações congénitas tão precoce quanto possível é essencial, permitindo em alguns casos a sua correção atempada (atrésia do esófago, hérnia diafragmática, ânus imperfurado, malformações cardíacas) ou o início precoce do tratamento diminuindo a incidência de possíveis sequelas (displasia da anca, pé boto).
Anomalias minor tais como mamilos supranumerários; apêndices pré-auriculares; fosseta sacrococcígea, sem outras anomalias cutâneas associada, localizada na prega interglútea, <5 mm de diâmetro, menos de 2,5 cm da margem do ânus com orientação caudal, em regra não requerem intervenção.
2. Há sinais de traumatismo de parto? Correm risco elevado de traumatismo de parto os fetos grandes para a IG, com extração difícil, os submetidos a forceps e ventosa.
Na pele procurar abrasões, lacerações, petéquias.
Céfalo-hematoma- coleção hemática subperióstea, uni ou bilateral, que respeita as suturas.
Caput succedaneum ou bossa serossanguínea– mole e mal delimitada, ultrapassa as suturas e é resultante do edema do couro cabeludo. Desaparece em poucos dias.
Desvio da comissura labial, por vezes só visível com o choro (paralisia do VII par). Fratura da clavícula? Crepitação ou saliência óssea, Moro assimétrico.
Paralisia de Erb – membro superior em extensão, adução e rotação interna. Preensão presente. Moro assimétrico. Significa lesão do plexo braquial a nível da 5ª-6ª raiz cervical.
Paralisia de Klumpke - mão pendente, preensão ausente, por lesão da 7ª e 8ª raiz cervical e 1ª torácica.
3. Há sinais de infeção ou alterações metabólicas? Dificuldade respiratória? Palidez? Cianose? Localizada ou generalizada? Desaparece com O2 ou com o choro? Plétora? Icterícia? Sopro cardíaco? Hipotermia? Letargia? Irritabilidade? Tremores? Hipotonia? Hipotermia? etc.
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Nota: A inespecificidade dos sinais, mesmo em situações graves, obriga a um elevado índice de suspeição, perante todo o RN que aparenta “não estar bem”.
4. Há fatores de risco infecioso? (ver Risco infecioso e sepsis precoce) 5. Foi feita a profilaxia da doença hemorrágica do RN?
6. Foi pedido o grupo sanguíneo e teste de Coombs direto se mãe Rh negativa?
Na alta:
- Verificar sempre:
que se alimenta bem;
que as dejeções e micções estão bem estabelecidas; que não há sopros cardíacos;
peso e % de perda em relação ao peso de nascimento (perda fisiológica < 7%, 7-10% avaliação caso a caso);
se foi feita imunização com vacina BCG e anti-Hepatite B; se fez rastreio auditivo.
- Recomendar o diagnóstico precoce entre o 3º-6º dia de vida. - Recomendar reobservação clínica nas duas 1as semanas de vida. - Ensinar cuidados para evitar a síndrome de morte súbita:
dormir sempre de costas, numa cama apropriada, de grades, com colchão firme; os pés do bebé devem tocar o fundo da cama;
não usar almofada;
a roupa não deve ultrapassar os ombros; temperatura ideal do quarto entre 18-21ºC.
- Avaliar o risco biopsicossocial e eventual necessidade de apoios específicos. - Recomendar contenção adequada no transporte do RN em automóvel.
- Entregar o Boletim de Saúde Infantil e Juvenil e o Boletim Individual de Saúde corretamente preenchidos.
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PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS NO RECÉM-NASCIDO
Duarte Malveiro, Mónica Marçal, Madalena Lopo Tuna INTRODUÇÃO
A transição para a vida extrauterina requer alterações cruciais dos sistemas respiratório e circulatório do RN, para que se mantenham trocas gasosas adequadas sem a intervenção da circulação placentar. Na maioria dos casos esta transição ocorre de forma suave, podendo a adaptação ser mais rápida ou mais lenta. Por vezes, nos primeiros 20 minutos de vida, estão presentes alguns sinais respiratórios que podem ser uma variante do normal: respiração irregular; FR de 60 a 80 ciclos/minuto; tiragem intercostal; gemido e adejo nasal. Aos 20 minutos de vida a FR deve ser inferior a 60 ciclos/min e a SpO2 deve ser superior a 90%. A persistência de sinais de dificuldade respiratória obriga a vigilância clínica e eventual investigação diagnóstica e terapêutica, consoante a evolução.
A patologia respiratória no RN é uma importante causa de morbilidade e mortalidade, com incidência entre 2,9 e 7,6%.
FATORES DE RISCO PARA PATOLOGIA RESPIRATÓRIA NO RECÉM-NASCIDO Mecanismo
Prematuridade Défice de surfatante (inversamente proporcional à IG) Caixa torácica demasiado complacente, que não consegue gerar
pressões ventilatórias suficientes Diabetes materna Atraso na maturidade pulmonar
Cesariana Atraso na absorção do líquido amniótico pulmonar (não houve compressão torácica; ausência de passagem pelo canal de parto) Stress fetal Associado à síndrome de aspiração meconial
Mecónio Preenchimento alveolar por mecónio aspirado
Asfixia preexistente exacerba a agressão causada pelo mecónio Frio / Hipotermia Diminuição da produção de surfatante
Analgesia materna com opiáceos
Depressão respiratória
Diminuição da capacidade residual funcional Colonização materna por SGB Pneumonia, sepsis e meningite
SINAIS RESPIRATÓRIOS NO PERÍODO NEONATAL
Definição Taquipneia neonatal FR > 60 ciclos/minuto
Apneia Pausa respiratória > 20 segundos ou qualquer pausa acompanhada de cianose e bradicardia
Cianose central Coloração azulada dos lábios, mucosas e tronco Gemido Ruído audível durante a expiração
Adejo nasal Movimentação das asas do nariz com alargamento das narinas durante a inspiração
Tiragem Retração da pele acima das clavículas (supraclavicular), nos espaços intercostais (intercostal) ou abaixo do esterno (infracostal) durante a inspiração
R ES P IR A TÓ R IO