• Nenhum resultado encontrado

Neuropsicologia Hoje Andrade, Vivian Maria Santos, Flavia Heloisa dos Bueno, Orlando F

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Neuropsicologia Hoje Andrade, Vivian Maria Santos, Flavia Heloisa dos Bueno, Orlando F"

Copied!
444
0
0

Texto

(1)

V IV IA N M ARIA ANDRAD E

FLAVIA HELOÍSA DOS SANTOS

(2)

www. f acebook. com/ groups/ livrosparadownload

(3)

A idéia de elaborar um livro sobre neuropsicologia surgiu pela primeira vez no final da década de 90, ouvindo as sugestões dos alunos dos cursos de especialização em neuropsicologia. Tínhamos, então, grande quantidade de ma­ terial produzido fora do país, a maioria em inglês, pouco em espanhol, e com instrumentos padronizados para uma população diferente da nossa. Por outro lado, uma série de trabalhos nacionais de alto nível em andamento ou prontos para serem observados e discutidos por colegas da área.

Foi idealizado a partir de algumas metas:

- A presentar a neuropsicologia para alunos de graduação desejosos de uma noção gera l dobre o assunto.

- A profundar alguns ternas, com vista*) a privilegia r alunos de especialização e pós-gra ­ duação, a pa rtir da apresentação de resultados de pesquisas realizadas por psicólogos e neurologistas, abordando ternas diversos (uso de drogas, traumatismo craniencefálico, doença de Park iruton, esclerose múltipla, doença de A lzheimer, entre outros). - D emonstrar a importância do vínculo clínica-pesquisa e da integração das áreas de

saúde e educação sob aspectos práticos (diagnóstico, reabilitação) e teóricos (concei­ tos, definições, históricos).

D esta constatação para a idéia do livro, realização de um projeto, contato com os autores, compilação dos capítulos, revisão, à entrega para a E ditora Artes Médicas foi um processo longo, mas agradável.

Neuropsicologia Hoje, está aí! É uma aquisição indispensável para profissio­ nais, professores e estudantes envolvidos com avaliação neuropsicológica, reabi­ litação cognitiva e os aspectos teóricos da neuropsicologia.

D e forma abrangente, aborda os principais momentos da evolução humana (infância, adultez e envelhecimento), fornecendo protocolos de avaliação, estudos de casos e um rol dos testes padronizados para a população brasileira.

A aquisição deste livro é para aqueles que desejam conhecer, aprofundar- se, atuar e produzir na área de saúde ou educação, em pesquisa ou clínica.

Servindo-nos da analogia do diretor cinematográfico e vinicultor F rancis F ord Coppola sobre as semelhanças entre a produção de um filme e de um bom vinho, podemos dizer o mesmo: “vivemos o sonho, os passos em direção à reali­ zação, o empenho de um grupo, o tempo necessário para vislumbrar o produto final”. Ver o livro pronto trouxe o prazer da degustação de um bom vinho e a emoção de uma avant première.

(4)

O R G A N IZ A D O R E S 1

A U T O R E S

Organizadores

V iv ia n M a r ia A n d r a d e - Psicóloga, Mestre em Psicobiologia e D outora em

(Neuro) Ciências pela Universidade F ederal de São Paulo (UN IF E SP- E PM). Pós-doutoranda do setor de Investigação de D oenças Neuromus- culares (U N IF E SP-E PM) - Pesquisadora do D epartamento de Psicobio­ logia (U N IF E SP-E PM).

E -Mail: viviand@ psicobio.epm.br

F lá v ia H e lo ís a D o s S a n t o s — Psicóloga, E specialista em Psicologia da Infân­ cia e D outora em (Neuro) Ciências pela Universidade F ederal de São Paulo (U N IF E SP-E PM). Professora da Universidade E stadual P aulista (UN E SP-Assis) e do Instituto APAE , Pesquisadora do D epartamento de Psicobiologia (UN IF E SP-E PM).

E -Mail: flaviahs@ psicobio.epm.br

O r la n d o F r a n c is c o A m o d e o B u e n o - Psicólogo, Mestre em Psicobiologia e

D outor em (N euro) Ciências pela Universidade F ederal de São Paulo (U N IF E SP-E PM). Livre D ocente do D epartamento de Psicobiologia da Universidade F ederal de São Paulo e Coordenador do Centro Paulista de Neuropsicologia (UN IF E SP-E PM).

E -Mail: ofabueno@ psicobio.epm.br

Autores

A le s s a n d r a M . F a b r íc io - Psicóloga do Centro P aulista de Neuropsicologia do

D epartamento de Psicobiologia da UN IF E SP-E PM. E -Mail: alessandrafabricio@ psicobio.epm.br

A le x a n d r e C a s t r o - C a ld a s — Médico, Professor D outor de Neurologia, D iretor

do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal.

(5)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

B e a t riz H W F L e fè v r e — Psicóloga, Coordenadora do atendimento neuropsico-

lógico infantil na D ivisão de Psicologia do Instituto Central, Hospital das Clínicas da F aculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP. E -Mail: blefevre@ terra.com.br

C la u d ia B e rlim D e M e llo — Psicóloga, Mestre em Psicologia do D esenvolvimento pela Universidade de B rasília. D outora em Neurociências e Comportamento pela USP. Professora da Universidade Ibirapuera. Membro do NANI (Núcleo de Atendimento em Neuropsicologia Infantil da UNIF E SP-E PM).

E -Mail: cberlim@ ib.usp.br

G ilb e r t o F e rn a n d o X a v ie r - Biólogo, D outor em Psicobiologia pela UN IF E SP- E PM, Pós-D outor pelo Instituto de P siquiatria da Universidade de Lon­ dres, Inglaterra, e no D epartamento de Neuroanatomia da Universidade de Aarhus, D inamarca, Professor de N eurofisiologia do Instituto de B iociências da Universidade de São Paulo.

E -Mail: gfxavier@ usp.br

J a c q u e lin e A b ris q u e t a - G o m e z - Psicóloga, D outora em (Neuro) Ciências pela U N IF E SP -E PM, pesquisadora do D epartamento de Psicobiologia da U N IF E SP-E PM na área de Neuropsicologia e Memória. Coordenadora Clínica do Serviço de Atendimento e Reabilitação ao Idoso (SAR I) do Centro P aulista de Neuropsicologia da UN IF E SP-E PM.

E -Mail: jacky@ psicobio.epm.br l

J o ã o C a rlo s A lc h ie ri - Psicólogo, D outor em Psicologia do D esenvolvimento pela

Universidade F ederal do Rio G rande do Sul, Mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela Pontifica Universidade Católica do Rio G rande do Sul, Professor Adjunto na Universidade F ederal do Rio G rande do Norte. Participa junto a entidades (IB AP, SB Ro, AD E IP e SIP) e é secretário da Associación Iberoamericana de E valuación Psicológica (AID E P).

E -Mail: jcalchieri@ brturbo.com

M a r ia C r is t in a M a g ila - Psicóloga, E specialista em Psicologia H ospitalar, Mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, D outoranda em (N euro) Ciências pela UN IF E SP-E PM.

E -Mail: mcmagila@ medscape.com

M a r ia E m ilia R o d rig u e s D e O liv e ir a T h a is - Psicóloga. Atua na área de neu­

(6)

de cooperação B rasil - Alemanha. Pesquisadora visitante do Physiologis­ che Psychologie, Universität B ielefeld, G ermany.

E -Mail: mariaemilia@ globo.com

M a r ia G a b r ie la M e n e z e s D e O liv e ir a - B ióloga, D outora em (Neuro) Ciências pela UN IF E SP-E PM, Professora Adjunta do D epartamento de Psicobio- logia da Universidade F ederal de São Paulo.

E -Mail: mgabi@ psicobio.epm.br

M a r ia J o a n a M ä d e r — Psicóloga do Serviço de Psicologia e do Programa de

Cirurgia de E pilepsia do Hospital de Clínicas da Universidade F ederal do Paraná. Período de F ormação no Minnesota E pilepsy G roup (E UA) e no Chalfont Centre for E pilepsy (Inglaterra). Mestre em Ciências pela U SP e D outoranda em Ciência pela USP.

E -Mail: mjmader@ onda.com.br

M a r ia G a b r ie la R a m o s F e r r e ir a - Psicóloga E specialista em Neuropsicologia;

Neuropsicóloga na Clínica Fazendo E u Aprendo; Psicóloga do Serviço de Reabilitação do Hospital D ona Helena e Ação E rgonômica - Joinville - SC. E -Mail: maria.gabriela.ferre@ terra.com.br

M a r ia S h e i la G u im a r ã e s R o c h a - Neurologista, D outora em M edicina pela Universidade F ederal de São Paulo. Membro da Movement D isorders Society. Chefe do Serviço de Neurologia Clínica do Hospital Santa Mar- celina.

E -Mail: msrocha@ uol.com.br

M a u r o M u s z k a t - Neuropediatra, D outor em Neurologia pela UN IF E SP-E PM, Coordenador do NANI (N úcleo de Atendimento em N europsicologia Infantil da U N IF E SP-E PM).

E -Mail: mauromuszkat@ uol.com.br

M ô n ic a C a r o lin a M ir a n d a — Psicóloga, Mestre em Psicobiologia, D outora em

(Neuro) Ciências pela UN IF E SP-E PM, Professora Universitária, Coor­ denadora do NANI (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil da UN IF E SP-E PM).

E -Mail: mcarol@ psicobio.epm.br

P a u la A. R . D e G o u v e ia - Psicóloga, Mestre em Psicobiologia pela UN IF E SP-

E PM. Neuropsicóloga da Unidade de Saúde Mental do Hospital Israelita Albert E instein.

E -Mail: pgouveia@ psicobio.epm.brJX

(7)

R a m o n M . C o se nz a — Médico, Professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

E -Mail: cosenza@ icb.ufmg.br

R o b e r t o C a b e z a — Pesquisador do Center for Cognitive Neuroscience, Uni­ versity of D uke. Professor Assistente do D epartamento de Psicologia e Ciências Cerebrais da University of D uke, D urham, USA.

E -Mail: cabeza@ duke.edu

S o n ia M a r ia D o z z i B ru c k i — Neurologista, D outora em M edicina pela UNI- F E SP-E PM. Pesquisadora do D epartamento de Psicobiologia (UNIF E SP- E PM). Pós-doutoranda do D epartamento de N eurologia da F M U SP . Preceptora do Hospital Santa Marcelina.

E -Mail: sbrucki@ uol.com.br

S u e ly L a it a n o D a S ilv a N a s s if — Pedagoga, Psicóloga, E specialista em Cinesio- logia Psicológica pelo Instituto Sedes Sapientiae, Professora Universitária, Mestre em D istúrbios da Comunicação Humana e D outora em (Neuro) Ciências pela UN IF E SP-E PM.

E -Mail: fnassif@ iiol.com.br

T a t ia n a R o d rig u e s N a h a s - B ióloga, E specialista em D ivulgação Científica pela E scola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Mestre em Ciências pelo Instituto de B iociências da Universidade de São Paulo, — área de concentração em F isiologia.

E -Mail: trnahas@ usp.br

Nota dos autores

1. Os testes psicológicos estão passando por constantes reavaliações por parte do Co n s e l h o Fe d e r a l d e Ps ic o l o g ia - CF P . Recomendamos ao leitor consultar regularmente as novas resoluções do C F P quanto à padroniza­ ção dos mesmos.

(8)

ÍNDICE

I - CON CEI TOS GERAIS

1. N e u ro p s ic o lo g ia h o je ... 3

V ivian Maria. A ndrade F iávia H eloíâa

D

ojSantod

(

2

) A sp ecto s instrum entais e m e to d o ló g ic o s d a a v a lia ç ã o

p s ic o ló g ic a ...13

Joã o Carlaj A lchieri

3. Bases estruturais d o sistem a n e rv o s o ... 37

Ramon M. Codenza

(

4

)

in te lig ê n c ia : um c o n c e ito a m p lo ...61

Maria. Joa na Mãder

Maria E milia R odrigues De Oliveira ThaL) M aria G abriela Ramod F erreira

5. A te n ç ã o ... 77

Tatiana R odrigues N abaj G ilberto F ernando X avier

6

.

N e u ro b io lo g ia d a A te n ç ã o V is u a l...101

Tatiana R odrigues N ahaj G ilberto F ernando X avier

(

7

)

F un ções e x e c u tiv a s ... 125

F iávia H eloúia

D

oj Santoj

8, M e m ó ria e a m n é s ia ... 135

Orlando F rancisco A modeo Bueno M aria G abriela Menezes De Oliveira

9, N e u ro p s ic o lo g ia d a lin g u a g e m ... 165

(9)

II - INFANTIL

10. N e u ro p s ic o lo g ia d o d e s e n v o lv im e n to ...211

M ônica CaroL ina Miranda M auro Mudzk at

11. M e m ó ria o p e ra c io n a l e e s tra té g ia s d e m e m ó ria

na infância... ...225

F iávia H eloúta Dod Santod Claudia B erlim De M ello

12. A v a lia ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a in fa n til... ...2 4 9

Beatriz H W F L efèvre

13. R e a b ilita ç ã o c o g n itiv a p e d iá tr ic a ... 265

F iávia H elüída Dod Santod

III - ADULTO

14. Epilepsia... 281

Maria CrL itina M agila

15. A v a lia ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a e m tra u m a tis m o

c r a n ie n c e fá lic o ... 297

Paula A. R. De G ouveia A leddandra M. F abrício

16. R e a b ilita ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a e m les ão

c e re b ra l a d q u ir id a ...307

Paula A. R. De G ouveia

17. A sp ecto s co g n itivo s d a esclero se m ú ltip la ...319

V ivian M aria A ndrade

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

18. R e a b ilita ç ã o : u m m o d e lo d e a te n d im e n to in terd iscip lin ar e m esclero se m ú ltip la ...337

(10)

.

U i

19. D o e n ç a d e Parkinson; a s p e c to s n e u ro p s ic o ló g íc o s ... 349

M aria Sheila GL iunarãed R ocha

20. A sp ecto s n e u ro p s íc o ló g ic o s a s s o c ia d o s a o uso

d e c o c a ín a ... 371

Siiely L aitano Da Silva N ajdif

IV - IDOSO

21. Envelhecimento e m em ória

... 389

Sonia Maria Dozzi Bruck i

22. A v a lia ç ã o e re a b ilita ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a n o id o s o ...403

Jacqueline A bruiqueta-G oniez

23. R e d u ç ã o d a assim etria h e m is fé ric a e m a d u lto s m ais velhos: o m o d e lo HA R O LD ... 419

R oberto Cabeza

(11)

1í'<; • v=--‘ í v

NEUROPSICOLOGIA

HOJE

:1.M ■M

m

Vivian Maria Andrade

Fldvia Heloúa Dod Santo**

constructos responsáveis pela fundamentação teórica da neuropsico- logia foram em grande parte constituídos a partir da convergência de várias ciências, para citar algumas: medicina (neurologia, neuroanato- mia e neuroquímica), fisiologia e psicologia. Os parágrafos introdutórios sobre o assunto, no entanto, relatam mais freqüentemente os acontecimentos que fizerem parte das origens da neuropsicologia vistos pela ótica das disciplinas médicas, estes relatos são menos comuns do ponto de vista da psicologia.

Uma síntese dos fatos nos mostra que, após ter transcendido às origens fi­ losóficas utilizando-se do experimentalismo — no sentido de submeter afirmações teóricas a testes pela observação sistemática e controlada dos fatos (D ’O liveira, 1984) — a psicologia foi reconhecida como ciência. A partir deste período e du­ rante todo o século X X , suas demais áreas de pesquisa também solidificaram-se, permitindo que esta conjunção de fatores e de conceitos psicológicos se somas­ sem aos de outras ciências e se constituísse a neuropsicologia.

P S I CO LO G I A EXPERIM ENTAL

A tentativa de aprimoramento e uso do método ex perimentai vinha ocorrendo de forma rudimentar desde os séculos X VII e X VIII pela física e pela química, respectivamente. E nquanto a psicofísica de H. W eber e G. F echner no século X IX serviu de base para que W. Wundt utilizasse o mesmo método em experi­ mentos, envolvendo a mente e as sensações, surgindo destes princípios aplicados, o primeiro laboratório de psicologia — psicologia experimental —, na Alemanha de 1879 (Vaissère, 1938). Vale ressaltar que a psicologia, além de um método, buscava clarificar também seu objeto de estudo, resvalando entre mente e com­ portamento e sobre as questões pertinentes às influências da hereditariedade e do meio (inato x aprendido) sobre estes fenômenos1 (Morgan, 1977).

A formação de W undt perpassava pela filosofia, fisiologia e pela medicina, mas foi ele o precursor da primeira escola de psicologia — o eótruturaliâmo — in­

(12)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

teressada em investigar a mente, utilizando para este fim, estudos controlados e o método de análise introspectiva, semelhante ao experimental — a partir deste marco, estava traçado um caminho novo para a psicologia2 (Vaissiere, 1938).

Nos E stados Unidos do início do século X X surgiram outras correntes de pensamento, entre elas o funcionalismo e o comportamentalidmo. N a ótica fun- cionalista de W . Jam es et aL, o objeto de estudo ideal seria formado por mente e comportamento (como funcionam, se relacionam e favorecem a adaptação do indivíduo ao meio). Mas, na visão comportamentalista de J . Watson e demais colaboradores, só o comportamento observável seria adequado como objeto de investigação científica. O uso do método experimental — caracterizado como rigoroso, capaz de mensuração e descrição clara e precisa, de maneira que os ex­ perimentos pudessem ser replicados e os fenômenos a serem estudados pudessem ser manipulados e controlados pelo experimentador — passou a ser utilizado nes­ tes trabalhos. A psicologia, então, se estruturou como ciência definitivamente.

E dlruturalijtaj e funcionaliitad, interessados ainda na díade mente e com­ portamento, mas utilizando-se do método experimental em suas pesquisas, inspi­ raram o surgimento da psicologia cognitiva, responsável por estudos relacionados à percepção, intelecto, memória, originando outra forte vertente da psicologia experimental, o cognitivutmo (B orkowski & Anderson, 1977).

As premissas comportamentais de J . Watson, B. Skinner, dentre outros famosos behavioristas, não permitiam inserir em suas teorias estruturas ou pro­ cessos internos para explicar o comportamento. Pelo contrário,, enfatizavam as relações estabelecidas com o meio ambiente e a utilização do paradigma S-R (estímulo-resposta — importante para a explicação de uma série de processos psicológicos). E stas lacunas deixavam espaço para outras idéias. As teorias pas­ saram a levar em conta a mediação cerebral para o comportamento, bem como a existência de células e fibras nervosas interagindo entre si e formando redes complexas. E mbora nesta época a compreensão destes fenômenos fosse difícil e limitada, estes grupos mostravam-se cada vez mais engajados na busca de respostas. E ra o caso dos psicólogos que encaminharam suas pesquisas para a psicologia da forma, G estalt, salientando as leis e princípios perceptuais; daqueles que incrementaram a psicologia fisia lógica s; e dos que passaram a utilizar metáforas e modelos de caixas (box ologia) para explicar o funcionamento cognitivo, solidifi­ cando outras áreas da psicologia cognitiva.

O funcionamento do computador e o uso de terminologia relacionada à informática (processamento de informação, codificação, decodificação, entre ou­ tros) levaram ao uso de analogias para a compreensão do cérebro. Modelos de atenção e de memória de curto prazo, respectivamente apresentados por Broadbent

- N a seqüência, outras escolas alemãs também tiveram papéis importantes - W ürzb urg de K ulpe e G estalt de W ertheimer, K õkler e K offka, elas surgiram em reação ao estruturalismo — utilizavam o método introspec­ tivo em seus experimentos, com o objetivo de análise de fenômenos mentais. No caso da G estalt, estavam mais próximos do método experimental, frente à investigação física da percepção (M organ, 1977).

(13)

N E U R O P S I C O L O G I A H O J E

(1958) e Atkinson & Shiffrin (1968), exemplificam as tendências mencionadas. A psicologia cognitiva passou a ser definida como um ramo da psicologia que busca explicar cientificamente o processamento da atenção, da memória, das funções vísuo-motoras, da linguagem, o pensamento, entre outras funções com­ plexas. N esta área de pesquisa encontravam-se, além dos psicólogos cognitivos, os cientistas cognitivos — dispostos a trabalhar conceitos matemáticos, lógicos e estatísticos — ; e um terceiro grupo — interessados em ocupar-se da localização do substrato anatômico destas funções cognitivas, a partir do desempenho observado em indivíduos acometidos por danos cerebrais — os neuropsicólogos.

N EUR OP SI COLOGIA COGN I TI V A E NEUROCIENCIAS

E mbora oriundos das mesmas raízes filosóficas, até por volta de 1970, psicólogos cognitivistas não tinha ainda um entrosamento com a neuropsicologia. E les continuavam utilizando modelos computacionais para explicar o processa­ mento de informações cognitivas (incluindo nesta designação também percepção e controle motor), embora com premente necessidade de ampliar sua metodo­ logia em virtude do tempo cada vez maior para alcançar novas respostas. Além disso, estavam expostos tanto ao reconhecimento acadêmico pelo corpo teórico construído, quanto às críticas por câusa da “boxologia” e ausência de um mo­ delo humano. E ntão, não demorou para que a psicologia cognitiva fosse levada a unir seu modelo computacional à investigação da organização funcional das habilidades cognitivas, por meio de elaboração de testes em indivíduos normais, no entanto, sem um caráter clínico.

T alvez por ser o resultado da convergência de várias ciências, a neuropsi­ cologia tardou em oferecer formação direcionada aos profissionais interessados, bem como em reunir e organizar um corpo teórico específico4. Aliás, a cons­ trução de conceitos imprescindíveis à prática clínica foi enriquecida a partir do desenvolvimento de pesquisas científicas. Por exemplo: a ) agregando questões relacionadas às dissociações observadas entre pacientes com lesões cerebrais distintas; e b) a partir da construção de testes neuropsicológicos voltados à inves­ tigação de pacientes com acometimentos múltiplos ou de pessoas provenientes de diferentes culturas. Seguindo o pressuposto de que processos psicológicos po- dejn ser investigados por exames não-invasivos — testes, inventários, questionários (procedimentos padronizados e capazes de descrever, com certa fidedignidade como capacidades e habilidades mentais se comportam após algum tipo de lesão cerebral), ou mesmo assessorando estudos comparativos transculturais.

Por outro lado, ao longo dos anos, a neuropsicologia esteve estruturada sobre o estudo de casos únicos (Leborgne de B roca; H M de Scoville e Milner; K F de W arrington e Shalice), dependente de uma observação cuidadosa do comportamento exibido pelo paciente, e, muitas vezes, guiada pelas estruturas provenientes da psicologia cognitiva.

(14)

Nos anos 80, tornou-se insustentável que neuropsiclogia e psicologia cognitiva se mantivessem distantes e alheias. O encontro entre as duas áreas proporcionou que se abrisse um canal de comunicação, como decorrência sur­ giram eventos, publicações e pesquisas em conjunto. D esde então, a parceria denominada N europsicologia C ognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir das trocas de informações, material teórico e experiência clínica. Sem perder o perfil tradicional, a neuropsicologia mantém-se estudando a localização e organização funcional, bem como a ação dinâmica de seus componentes. A psicologia cognitiva, mais do que o nível de análise teórica, ganhou maior clareza e agilidade na comprovação de suas hipóteses.

A formação de grupos interdisciplinares parece ser uma tendência viável para a ciência do novo milênio. Por exemplo, as neurociências englobam: o estudo da neuroanatomia; neurofisiologia; neuroquímica e as ciências do com­ portamento (psicofísica, psicologia cognitiva, antropologia, e lingüística). E stas áreas de estudo tiveram um período de isolamento maior entre si, até por volta de 1970 (K andel, Schwartz, Jessel, 2000). Atualmente, poucas mudanças ocor­ reram em termos de objetos de estudo, contudo, os neurocientistas têm atuado de forma mais sincronizada e harmoniosa, “monitorando” os resultados entre as áreas. E sta mudança de atitude tem gerado maior rapidez e aumento do conhe­ cimento sobre o cérebro e do controle que ele exerce sobre o comportamento (B eatty, 1995).

No livro N europjychology tbe neural bcuu o f cognitive function (1992) foram discutidos temas acerca das funções cognitivas e suas desordens, sobre plastici­ dade neuronal, os avanços da bioquímica, o desenvolvimento de novas drogas; a ação de neurotransmissores, além de técnicas de neuroimagem. E sta estrutu­ ração ilustra que a neuropsicologia tem colaborado amplamente para a evolução efetiva das neurociências, na medida em que instrumentaliza outras áreas de investigação.

N EUR OP SI COLOGIA HOJE

O livro N europsicologia H oje buscou resgatar aspectos históricos, teóricos e práticos acerca da neuropsicologia, tendo como uma das principais preocupa­ ções apresentar estudos realizados por profissionais que representem centros de excelência voltados para o avanço das neurociências, no B rasil e no exterior.

A publicação desta obra não poderia ocorrer em momento mais oportuno, pois culmina com um grande marco da neuropsicologia brasileira: A Resolução n° 002/2004 do Conselho F ederal de Psicologia. E sta. resolução regulamenta a prática da neuropsicologia — diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e pesquisa — como especialidade em psicologia e reconhece, através de registro e titulação, os profissionais especializados nestes campos de atuação.

Com o objetivo de ressaltar semelhanças e diferenças entre áreas afins, aspectos teóricos e históricos da neuropsicologia são tratados nos capítulos:

(15)

-5|E

■ :

N E U R O P S I C O L O G IA H O J E

p e c to s in s t ru m e n t a is e m e to d o ló g ic o s d a a va lia ç ã o p s ic o ló g ic a ” e no presente capítulo “N e u ro p s ic o lo g ia h o je ”. O livro dedica capítulos para algumas funções

cognitivas específicas:

L in g u a g e m

)

Muito tempo se passou entre os relatos sobre a afasia na G récia Antiga e a compreensão de como se explicam e comprovam que determinadas áreas cerebrais estão de fato relacionadas com a fala. Alguns pesquisadores tiveram participação decisiva nesse processo — médicos franceses e alemães, tais como B ouillaud, M arc D ax, Paul B roca e Cari Wernicke. E nvolvidos também na conceituação da afasia, classificação em diferentes tipos e no estudo das regiões cerebrais relacionadas à linguagem e seus distúrbios. O capítulo " N e u ro p s ic o lo ­ g ia d a L in g u a g e m ” traz outros aspectos sobre esse assunto, além do histórico,

aborda achados da neuroimagem, quadro com principais baterias de testes para avaliação desta função e temas afins.

M e m ó r ia

Mesmo tendo seu trabalho prejudicado pelas parcas possibilidades da época, o psicólogo K arl Spencer L ashley5 passou muitos anos buscando locali­ zar respostas motoras específicas, a partir de lesões no cérebro de animais. De maneira frustrante, as centenas de experimentos não foram capazes de eviden­ ciar a existência de locais específicos para memórias específicas (por exemplo, memória para hábitos). No entanto, seus esforços estimularam e abriram espaço para outros pesquisadores com objetivos similares: o estudo da neuroanatomia da memória, o aperfeiçoamento dos procedimentos e técnicas em animais de laboratório, entre outros. Menos de uma década se passou até que o estudo de caso do paciente H M — fim de 1950 — revelasse muito sobre o modo como esta função depende do funcionamento eficiente de determinadas estruturas, tor­ nando o hipocampo essencial para a compreensão do funcionamento de alguns tipos de memória. Os esforços de neurocirurgiões como Penfield6 e Scoville e da psicóloga B renda M ilner resultaram em um novo marco para a evolução dos conceitos cerebrais. O s capítulos “M e m ó r ia e A m n é s ia ” e " E p ile p s ia ” tratam exclusivamente destes assuntos, fatos históricos, alterações e tipos de memória, bem como trazem aspectos de neuroimagem e avaliação neuropsicológica do paciente epiléptico.

As modificações da memória de acordo com a idade do indivíduo também são amplamente estudadas nos seguintes capítulos: “M e m ó r ia o p e r a c io n a l e e s

-6 L ashley, embora tenha sido aluno de J . W atson, demonstrou urna posição divergente, tornando-se uma figura fundamental para a psicologia co gnitiva (E ysenck & K eane, 1994; Sternb erg, 2000 ).

(16)

t r a t é g ia s d e m e m ó r ia n a in fâ n c ia / ’ que aborda conceitos do desenvolvimento humano, estruturas cerebrais envolvidas, testes para avaliar cada componente da memória operacional, e ainda as estratégias de memorização utilizadas pela crian­ ça, conforme sua idade; e " E n ve lh e c im e n to e m e m ó r ia ”, redigido de forma clara

e ilustrada, com exemplos do cotidiano, discute o que é esperado com o passar dos anos em relação às funções mnemónicas.

In te le c to

As teorias e técnicas provenientes da escola russa e seus expressivos inter­ locutores, tais como Vygotsky, Luria e seus colaboradores, também se mostraram fundamentais para a consolidação da neuropsicologia no meio científico. Passa­ ram-se anos até que a avaliação psicométrica de Cattel, Spearman, entre outros (final do século X IX e início do século X X , respectivamente), dessem lugar a uma avaliação que abordasse também os aspectos qualitativos (Pasquali, 1999). De modo mais sofisticado do que havia proposto a psicologia cognitiva, a avaliação realizada nos moldes de Luria privilegiou a influência dos fatores socioculturais sobre o desempenho e a análise dos erros; e desta maneira favoreceu o estudo e a compreensão dos mecanismos e estratégias envolvidas na execução da resposta. A literatura proveniente dos achados deste neuropsicólogo possibilitou ainda o refi­ namento da noção de rede, "o cérebro agindo em concerto, dinamicamente”, em contraposição às idéias de um localizacionismo mais estanque.

As unidades funcionais de L uria são abordadas no capítulo: " I n t e li­ g ê n c ia : u m c o n c e it o a m p lo ”, o qual retoma os mais variados conceitos de

inteligência, por exemplo, de Piaget, G ardner, Wechsler; discute de forma crí­ tica o conceito de Q uociente Intelectual (Q I) e algumas baterias que avaliam inteligência. O capítulo " B a s e s e s t r u t u r a is d o s is t e m a n e r v o s o ” cita também a organização cortical proposta por L uria; mas trata especificamente da o rga­ nização e das porções que constituem o sistema nervoso de forma didática e ricamente ilustrada.

O capítulo “A t e n ç ã o ” traz um visão crítica dos múltiplos conceitos, teorias e modelos relacionados a esta função. No capítulo “N e u ro b io lo g ia d a a te n ç ã o v is u a l”, testes comportamentais e os paradigmas mais utilizados em estudos com roedores, primatas e humanos são discutidos; e, ainda, a interação funcional com outras habilidades cognitivas como a memória operacional.

(17)

O mérito como precursor da neuropsicologia poderia ser reclamado por vários cientistas desde os primórdios do localizacionismo, ainda na G récia. E ste conjunto de idéias, que teve em F ranz J o sef G all um de seus principais expoen­ tes — entre os séculos X VIII e X IX -, ainda hoje tem seus adeptos, embora mais flexíveis e mais bem equipados.

A localização de regiões cerebrais é objeto de muitos estudos de neuroimagem, utilizando técnicas como T omografia por E missão de Pósitron (PE T scan) e Imagem por Ressonância M agnética funcional (IR Mf), as quais possuem magni­ tude de resolução espacial suficientemente alta para visualizar ação de massa relacionada à função cerebral. Mas ainda não possuem resolução temporal e oferecem apenas limitada informação quanto à dinâmica da atividade cortical. Por esta razão, alguns estudos complementam os dados de neuroimagem fun­ cional com outras técnicas, por exemplo, Potencial E vocado e E letrofisiologia Cognitiva (Clark et a i, 2001).

E m um estudo clássico com PE T scan, Paulesu et a i, (1993) mediram o fluxo sangüíneo cerebral em voluntários saudáveis em duas tarefas de ativação e suas respectivas condições-controle. N a primeira tarefa, os participantes foram instruídos a estudar os estímulos silenciosamente, após cada seqüência, a con- soante-alvo - letra B - aparecia e os participantes julgavam se a mesma estava presente na seqüência previamente apresentada ou não. A condição controle seguiu o mesmo procedimento, mas com letras coreanas. N a segunda tarefa, era solicitado aos participantes o julgamento de rimas de consoantes em relação à consoante-alvo. A condição-controle era a similaridade de formas entre letras coreanas e a letra-alvo coreana. Os resultados deste estudo demonstraram pela primeira vez a neuroanatomia do componente verbal da memória operacional em voluntários sadios, isto é, como armazenador fonológico, o giro supramarginal esquerdo (lobo parietal), enquanto o ensaio subvocal foi associado com a área de B roca (lobo frontal).

O s neuropsicólogos têm contribuído para avanços no uso das técnicas de neuroimagem funcional, d e s en vol v e n d o ( p ar adi gm as pelos quais funções cognitivas como memória, percepção e controle inibitório, entre outras, são investigadas.

Uma vez que a IRMf é uma técnica de mapeamento cerebral não-invasiva, tem se mostrado apropriada até para o uso em crianças. G uardadas as restrições éticas e o controladas as variáveis comportamentais, a aplicação da I R M f em amostras pediátricas, recentemente, vem sendo empregada para localização de funções críticas (Logan, 1999), avaliação de correlatos neurais da plasticidade cerebral (H ertz-Pannier et aL, 2000), bem como para examinar a relação entre função e estrutura no decorrer do desenvolvimento cognitivo cerebral (Nelson

(18)

N E U R O P S I C O L O G I A H O J E

Resultados mais aprofundados a partir da neuroimagem funcional foram largamente discutida no capítulo " R e d u ç ã o d a a s s im e t ria h e m is fé r ic a e m a d u l­ t o s m a is v e lh o s : o m o d e lo H A R O L D ”, neste capítulo uma série de teorias fo­

ram abordadas com o intuito de compreender as mudanças na atividade cerebral decorrentes da idade.

-i- A neuropsicologia tem como preocupação constante se especializar cada vez mais para atender as necessidades do organismo, mesmo mediante as altera­ ções originadas a partir do processo evolutivo.

O E S O S O E N S M IU R O P S 1 C O L Ó G IC A S IN F A N T IS

O estudo da criança exige formação especial, levando-se em conta os pro­ cessos de crescimento e maturação cerebral, o desenvolvimento neuropsicomotor, bem como as variáveis críticas que determinam e interferem nestas habilidades, tais como as ambientais. Portanto, abrange a compreensão do desenvolvimento normal e a intervenção nas funções cognitivas alteradas. Assuntos referentes à neuropsicologia infantil foram tratados por especialistas nos capítulos: " N eu­ r o p s ic o lo g ia d o d e s e n v o lv im e n t o ”, “M e m ó r ia o p e r a c io n a l e e s t ra t é g ia s d e m e m ó r ia n a in fâ n c ia ”, e “A v a lia ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a in fa n t il”.

B > IS © iO E N S N IU IO P S IC O L Ó G IC A S EM A D U LT O S

A adultez representa um período em que as habilidades e capacidades gerais do indivíduo devem estar mais definidas do que no período infanto-ju- venil. D esordens neuropsicológicas em adultos são consideradas anormalidades específicas do comportamento apresentadas pelo indivíduo, anteriormente sadio, enquanto um resultado de uma disfunção (de natureza neuroanatômica, neu- rofisiológica ou neuroquímica). E ste assunto foi amplamente abordado por um conjunto de capítulos, os quais trataram sobre a avaliação neuropsicológica de doenças específicas, tais como a " E p ile p s ia ”, “A s p e c to s c o g n it ivo s d a e s c le ro s e m ú lt ip la ”, “A v a lia ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a e m t ra u m a t is m o c r a n ie n c e fá lic o ” e “D o e n ç a d e P a r k in s o n : a s p e c t o s n e u ro p s ic o ló g ic o s . Alterações cognitivas em

conseqüência do abuso de substâncias foram abordadas no capítulo “A s p e c to s n e u ro p s ic o ló g ic o s a s s o c ia d o s a o u s o d e c o c a ín a ”.

D E S O R D E N S N IU R O P S IC O L Ò G IC A S EM ID O S O S

Com o aumento da expectativa de vida das populações, o interesse e o número de estudos geriátricos têm aumentado. O envelhecimento é um processo natural e inevitável do ser vivo. Uma série de fatores diminui a adaptação dos diferentes órgãos e como conseqüência ocorrem modificações morfológicas, fisio­ lógicas e bioquímicas em uma cascata de eventos conheci d os e outros ainda não

(19)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

desvendados pela ciência. A neuropsicologia estuda a influência destes processos sobre o sistema nervoso e suas implicações funcionais, e tem como metas avaliar o funcionamento cognitivo do idoso; determinar o tipo e o grau de incapacidade funcional (se houver) e estabelecer um programa de reabilitação. P ara tanto, os capítulos “E n ve lh e c im e n to e m e m ó r ia ”; “A v a lia ç ã o e r e a b ilit a ç ã o n e u ro p s ic o ­ ló g ic a n o id o s o ” e “R e d u ç ã o d a a s s im e t ria h e m is fé r ic a e m a d u lt o s m a is v e ­ lh o s : o m o d e lo H A R O L D ” discutem o funcionamento cerebral na senescência, suas alterações e modelos teóricos.

REABILITAÇÃO COGN I TI V A

A reabilitação neuropsicológica objetiva a adaptação do indivíduo ao seu ambiente. Tem um caráter “artesanal”, no sentido de que cada paciente tem prejuízos cognitivos específicos e demandas ambientais próprias, por exemplo re­ lacionadas a sua idade, profissão, tipo de acometimento cerebral, vínculos e res­ ponsabilidades sociais. Modelos e estratégias para programas de (re)habilitação de funções cognitivas são apresentados nos capítulos: “R e a b ilit a ç ã o c o g n it iva p e d iá t r ic a ”, “R e a b ilit a ç ã o e m le s ã o c e r e b r a l a d q u ir id a ”, “R e a b ilit a ç ã o : u m m o d e lo d e a te n d im e n t o in t e r d is c ip lin a r e m e s c le ro s e m ú lt ip la ”, e “A v a lia ç ã o n e u ro p s ic o ló g ic a e r e a b ilit a ç ã o c o g n it iva n o id o s o ”.

O conjunto de informações contidas em N e u ro p s ic o lo g ia H o je é atua­ lizado, porém, intencionalmente reduzido, uma vez que não tem a pretensão de abranger todos os temas da área. Um dos intuitos deste livro é incentivar a investigação científica, bem como contribuir para a formação e a prática clínica de profissionais em neuropsicologia, os quais escreverão futuros capítulos nas Neurociências.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. PARK IN A J (1996) — E xplorations in Cognitive Neuropsychology. Black well Publishers.

2. ATK INSO N RC & SHIF F RIN RM. The control of short-term memory. Science American. 1971; 225:82-90.

3. BE ATTY J (1995) — Principles of behavioral neuroscience. Brown tí> Benchmark .

A. B RO AD BE NT D E (1957) — A mechanical model of human attention and immediate me­

mory. Psychological Review, 64, 205-15

5. CLARK D., et aL, (2001) — Cortical network dynamics during verbal working memory

function. International Journa l o f Psychophysiology 42, 161-176.

6. CO D E , C; WALLE SCH, CW, JO ANE T T E , Y and LE CO URS, RA (1996) - Psychology

Press.

7. D ’O LIVE IRA, M.M.H. (1984) — Ciência e pesquisa em Psicologia uma introdução. E ditora

(20)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

8. E YSE NCK , M W & KEANE MT. (1994) — Psicologia Cognitiva. E ditora A rted Mediccu.

9. FARAH, M J & FE INB E RG , TE (1997) — B ehavioral Neurology and neuropsychology. Mc

Graw-Hill.

10. F idia Research Foundation (1992) — Neuropsychology the neural basis of cognitive function.

Costa, E & B rocklehurst, K. — Preface — Thie me Medicai Pubtiàheré.

11. HE BB DO (1949) — The organization of the behavior. New Y ork: Wiley.

12. HE RT Z-PANNIE R L, CHIRO N C, JAMB AQ U É I, RE NAUX -K IE FFE R V, VAN D E MO O RT E LE PF, D E LALAND E O, FO HLE N M, B RUNE LLE F and LE B IHAN D (2000) Late plasticity for language in child with non-dominant hemisphere. The pre- and post-surgery fMRI study.

13. LO G AN W J (1999) — Functional magnetic resonance imaging in children Seminars in Pediatric Neurology 6, 78-86.

14. K AND E L E, SCHWART Z J H and JE SSE L L T M (2000) - Principles of neural science.

Me Graw- Hiii.

15. MO RG AN, CT (1977) — Introdução à Psicologia. Mc G raw — Hill.

16. NE LSO N CA, MO NK CS, LIN J , CARVE R L J , T HO MAS K M and T RUWIT CL

(2000) — Functional neuroanatomy of spatial working memory in children. D evelopmental

Psychology 36, 109-116.

17. PASQ UALI L (1999) — Instrumentos Psicológicos: M anai Prático de E laboração. LabPAM/ IBAPP.

18. PAULE SU E, F RIT H CD, FRACK O WIAK R S J (1993) — The neural correlates of verbal

component of working memory. N ature 362, 342-344.

(21)

ASPECTOS

INSTRUM ENTAIS E

M ETODOLÓGICOS

DA AV ALIAÇÃO

P SI COLÓGI CA

João Cario** AlchLeri

A

valiação psicológica é uma atividade realizada pelo profissional da psi­cologia e pode ser considerada uma das atividades precursoras da prá­ tica psicológica desta ciência. Sua origem remonta ao início do século X IX , a partir da confluência da psicofísica e da psicologia clínica, orientada por uma corrente funcionalista (Alchieri, 1999).

Atualmente não é possível referir-se à avaliação psicológica sem caracte­ rizar sua finalidade (avaliação clínica, psicoeducacional, psicodiagnóstico, neu- ropsicológica, seletiva), restringindo-a a determinada atividade, sem contudo distinguir o procedimento em si. Neste sentido, pode ser que esta posição pa­ reça distinta à de outros autores, como, por exemplo, Cunha (2000); a autora representa a avaliação psicológica subdividida segundo a finalidade utilizada, colocando-a como atividade mais ampla e genérica.

(22)

FUNDAM ENTOS DA AV ALI AÇÃO P SI COLÓGI CA

No cotidiano, têm-se diferentes representações conceituais sobre o tra­ balho do psicólogo e do médico na neuropsicologia, diagnóstico neurológico, avaliação neuropsicológica, psicodiagnóstico, avaliação psicológica e psicotécni­ cos. Não raro, até mesmo alguns profissionais podem confundir-se pela multipli­ cidade de sinonímia e de termos aparentemente tão próximos. Um..aspecto em comum nestas várias práticas investigativas eslá na ação de identificar e caracte­ rizar o entendimento que as diversas manifestações comportamentais podem assumir/ Ao tomarmos a necessidade de definir uma prática profissional e suas características como parte de um processo de conhecimento, a primeira questão a ser colocada está em representar suas especificidades distintas e, logicamente, entendermos suas limitações.

Se buscarmos definições dos termos acima descritos, podemos identificar algumas raízes comuns da nomenclatura, na maioria das vezes referente a uma modalidade e/ou finalidade do exercício profissional. A fim de não adentrarmos por um caminho enviesado, ou seja, repetindo os mesmos aspectos da questão, proponho rever a idéia de avaliação psicológica pelo prisma da sua composição, de sua constituição e estrutura. E ntendo a composição como a maneira de redu­ zirmos o processo às suas partes funcionais mais elementares e, assim, reconceituar o todo, delas resultante.

Represento a avaliação psicológica como a resultante de três aspectos isolados e interdependentes, a saber: a medida, o in s t ru m e n t o e o p ro c e s s o d e a va lia ç ã o . Cada um deles possui uma representação teórica e metodológica pró­ pria e que concebe assim, de forma constitutiva, uma via própria de compreensão do seu objeto de investigação, denominada fenômeno psicológico. E stes pontos são o eixo principal que a avaliação segue, incrementada pela qualidade que o agregar de cada aspecto em particular faculta.

(23)

A S P E C T O S IN S T R U M E N T A IS E M E T O D O L Ó G IC O S D A A V A L IA Ç Ã O P S IC O L Ó G IC A

suas representações empíricas, mas não pode limitar ou mesmo determinar a ciência como decorrente dos seus resultados. O s dados obtidos não são nada mais que novas observações, e o fato de serem extraídos de instrumentos não necessariamente lhes confere credibilidade.

E xiste a necessidade de se ter uma base teórica que permita significar o sentido da busca, do fato e de sua impressão, relacionando-os com o obtido por outras idéias sobre o fenômeno à medida que o contextualiza. E ste terceiro ponto significa o processo, apoiado pela faculdade da medida e de suas propriedades, mediante a coleta de dados por meio de instrumentos planejados para a visuali­ zação do fenômeno. E ste processo possibilita a interpretação e a significação dos resultados obtidos mediante uma sintaxe própria.

Q ualquer um destes aspectos citados pode ser realizado em separado e ter um fim em si mesmo, mas não será avaliação psicológica, pois ela é uma resul­ tante, uma nova constituição destes pontos isolados.

1) M e d id a

Tomamos como ponto de partida que qualquer avaliação é uma forma de comparação entre um e outro objeto, e como tal é uma mensuração, deve claramente representar a validade entre o fenômeno e os pressupostos do uso da linguagem matemática. D esde o início da linguagem, a representação matemática se manifestou desenvolvida e aperfeiçoada como forma paralela de expressar o mundo. Com o passar do tempo e pelas diversas culturas, simbolizou um avanço do pensamento e da possibilidade de abstração. T odas as ciências valem-se de uma forma de análise e representação de suas idéias, mediante o uso da representação matemática de seus fenômenos. Assim, po­ dem, além de representar, verificar sua expressão pelo prisma da equação matemática, testando sua pertinência como observação válida ou não, sob determinadas condições.

[O s tedted são medidas de processos psicológicos, operações empíricas, isto é, científicas, pelas quais a psicologia investiga o seu objeto de estudo, os pro­ cessos psíquicos e os comportamentos deles decorrentes/ D esta forma, Pasquali

(1996) coloca que os instrumentos psicológicos fazem a suposição de que a me­ lhor maneira de observar um fenômeno psicológico é por intermédio da medida. Portanto, é lícito representar os fenômenos psíquicos com base na linguagem numérica se atendidas suas definições operacionais (axiomas). E stes foram ca­ tegorizados em três grandes grupos axiomáticos: o s a x io m a s d a id e n tid a d e , d a o r d e m e d a a d itivid a d e .

(24)

tar a expressão nominal às variáveis.

Por sua vez, od ax iomaJ da ordem preconizam que os números não somente são distintos entre si (identidade), mas que esta diferença é expressa também em termos da quantidade, da grandeza e da magnitude. D esta forma, os números, diferentes entre si, podem ser organizados nesta distinção em uma seqüência in­ variável, hierarquicamente definida pelos seus atributos, ao longo de uma escala crescente. A representação deste axioma possibilita as operações de ordem nas variáveis.

Od ax iomad da aoitlvidade postulam que os números podem ser somados de modo a permitir que de dois números a operação resulte num terceiro número e que este seja exatamente a soma das grandezas dos dois números anteriores somados.

Sendo uma ação empírica sobre a realidade, a medida, ao se valer de números para descrever os fenômenos, deve representar pelo menos um dos três axiomas expostos acima, o que caracterizaria como logicamente legítima. Mantendo o mesmo raciocínio, quanto mais axiomas forem representados no processo da medida, mais úteis se tornam para a representação e a descrição da realidade empírica.

T ais pressupostos guiam o processo de avaliação, embasados pela com­ preensão que a teoria fornece. E sta é uma questão extremamente fundamental: os pressupostos da medida, embora importantes no contexto da aplicabilidade da mensuração, são características per de, não devem ser tomados como o sentido da medida.

São as teo rias explicativas do comportamento que justificam e conse­ quentemente, revestem de sentido a necessidade da medida sobre este ou em outro fenômeno. Se este ponto for descuidado por um profissional, a m edida tom ada po derá ser interpretada em si mesma, e então o resultado de um procedimento qualquer po derá valer mais que os sentidos teóricos, subjacentes ao entendimento do fenômeno. Conhecer os axiomas da me­ dida é relevante para dar ao seu uso uma orientação em seus resultado s, bem como poder circunscrever seus limites e ter desenhado sua abrangência (P asquali, 1996).

2 ) I n s tr u m e n to

(25)

A S P E C T O S I N S T R U M E N T A I S E M E T O D O L Ó G I C O S D A A V A L I A Ç Ã O P S I C O L Ó G I C A

Na avaliação psicológica, os testes são instrumentos objetivos e pa­ dronizados de investigação do comportamento, que informam sobre a o rga­ nização normal dos comportamentos desencadeados a partir de sua execu­ ção (por figuras, sons, formas espaciais, etc.), ou de suas perturbações em condições patoló gicas. V isam assim avaliar e quantificar comportamentos observáveis, por meio de técnicas e metodologias específicas, embasadas cientificamente em constructos teóricos que norteiam a análise de seus re­ sultados (Aiken, 1996).

-A inve&tigação- do comportamento por intermédio dos testes se dá com a aplicação de diversas técnicas, apoiadas no tipo de avaliação que se preten­ de fazer, ou seja, no que se pretende investigar. Cada teste tem uma descrição metodológica específica, com a finalidade de controlar e excluir quaisquer variáveis que venham a interferir no processo e nos resultados, para que se obtenha um resultado preciso das reais condições do avaliando. P ara que es­ tes testes possam ser utilizados, devem ter a qualidade de sua ação verificada pelos procedimentos metodológicos que assegurem sua eficácia e eficiência. Uma das especialidades psicológicas que busca aperfeiçoarias_ qualidades_ dos testes é denominada pdicometriaje tem origem em diversas disciplinas, tais como estatística, psicologia experimental, 'metodológica e computacional.

N a preparação de um instrumento ou teste psicológico, quatro con­ dições são necessárias para garantir a sua qualidade e possibilidade de uso segurojí a e lab o raç ão ean áiise deiten S jestudQ sda v a lid a d e , d a p r e c is ã o e d e

C-—--- ■—--- " ~ “... ...

p a d r o n iz a ç ã o y

Inicialmente, num processo chamado elaboração e análL ie ?od itenj, são elaboradas e avaliadas as questões individuais (itens) de um teste. E ste pro­ cesso tem início com a preparação dos itens para a representação do compor­ tamento (atributo de medida). É necessário poder representar no item todas as possíveis variações que o atributo medido possa assumir, sob pena de não contemplar a diversidade das respostas, e com isto, deixar de medir um ponto do comportamento.

N a análise dos itens, a compreensão de leitura e resposta do item, sua capacidade de avaliar certo atributo (comportamento), a eficácia da avaliação das questões e a capacidade dos itens em abarcarem todas as possíveis manifes­ tações comportamentais do fenômeno em questão são investigadas. N esta etapa, é possível ter um grande número de itens que serão avaliados e sua permanência condicionada à satisfação das necessidades técnicas do teste. Não é incomum que muitos itens não sejam aproveitados e, conseqüentemente, sejam descartados nesta etapa ainda introdutória do trabalho.

(26)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

respostas dos sujeitos. É um ponto crucial da elaboração de um teste ter asse­ gurada a verificação desta qualidade, expressa nas características do conceito do comportamento a ser avaliado, nas diversas manifestações que ele pode expres­ sar, na equivalência de sua medida com outras formas similares de avaliação e na possibilidade de esta mensuração ter um caráter preditivo na avaliação do comportamento.

Numa etapa posterior à verificação da análise dos itens e à validade do teste, é necessário identificar se a medida efetuada pelo instrumento pode ser tomada como consistente e não passível de sofrer modificações alheias à ma­ nifestação do comportamento. O processo denominado precldão ou fidedignida.de tem como objetivo verificar a consistência das respostas obtidas pelos sujeitos no teste. E uma maneira de se calibrar o instrumento, ajustá-lo especificamente à forma da avaliação. Com auxílio da estatística e de procedimentos metodoló­ gicos, é possível comparar o instrumento dentre outras formas semelhantes de ver aquele comportamento, as respostas de grupos de respondentes com outros testes similares, obtendo uma forma de estabilidade das respostas (Pasquali, 2001; Muniz, 1996).

E stando satisfeitas todas as condições anteriores, inicia-se um último pro­ cedimento, que tem como objetivo o estabelecimento de norma,) para a utilização do teéte. A primeira norma está na constituição do instrumento (como deve ser apresentado, qual o número de páginas, que tipo de papel e qual a disposição dos itens). Uma outra necessidade da normatização está na elaboração da forma de aplicação do teste, para que idade e escolaridade ele é indicado, se deve ser apli­ cado em grupo ou individualmente. Por fim, um último grupo de normas refere- se à classificação dos resultados obtidos pelos respondentes. D entre os diversos tipos de normas de resultados (percentil, escores padronizados ou classificação dos comportamentos), qual é a mais indicada e como se pode obtê-la. E sta última ainda tem um caráter temporário na manutenção de suas condições, necessitando de atualização de tempos em tempos, de forma a garantir, por exemplo, a medida das variações culturais (Anastasi & Urbina, 2000).

Atendidas as condições psicométricas do instrumento, este então é capaz de ser um teste psicológico e de ser utilizado com toda a segurança para poder tomar as medidas do fenômeno psicológico.

3 ) P ro c e s s o d e a va lia ç ã o

Uma vez atendidos os requisitos anteriores, temos então condições de rea­ lizar o processo de avaliação psicológica, já que a base da medida psicológica e seus instrumentais encontram-se agora respaldados e em condições de o p e r a -b ilid a d e . E nquanto um processo de avaliação, este terceiro e último aspecto compreende também os seguintes pontos: a indicação e condução, i os motivos do encaminhamento, qs objetivos, a elaboração das hipóteses e as estratégias de abordagem terapêuticas.

(27)

AV ALI AÇÃO N EUR OP SI COLÓGI CA ^

A s p e c to s h is tó ric o s

A neuropsicologia é uma ciência voltada para a expressão do comporta­ mento por meio das disfunções cerebrais e ampara-se na avaliação de determi­ nadas manifestações do indivíduo para a investigação do funcionamento cerebral £ Lezak-139ê)rJPara alguns autores, a neuropsicologia é uma confluência entre áreas das neurociências, ou seja, da neurologia, neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e as ciências do comportamento (Hécaen & Albert, 1 9 78 ).-Para L uria (1973), a neuropsicologia envolve o estudo das relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento.

Proposta como uma disciplina por O sler no início do século X X , a neu­ ropsicologia tem sua história imbricada na medicina desde a Antiguidade, tendo registros históricos relacionados ao estudo do cérebro e das funções motoras já nos séculos X VI e X VII antes de Cristo, no E gito. T odavia, somente com os grandes avanços científicos observados em meados do século X IX , tanto na medicina quan­ to na emergente ciência psicológica, é que foram criadas as condições de comple­ mentaridade no estudo do comportamento humano (Mader, 1996).

No século X IX , a medicina foi impulsionada pelos constantes desenvol­ vimentos da fisiologia e da fisiopatologia na compreensão dos diversos quadros nosológicos, especialmente em neurologia, e sua atenção dirigiu-se mais para o estudo dos aspectos patológicos das desordens, tanto na diagnose quanto na terapêutica, do que propriamente aos mecanismos funcionais normais relegados à fisiologia. Por outro lado, a psicologia, que almejava o dtatw) de ciência desde sua origem, voltava-se às dimensões da fronteira fisiológica, especificamente na psicofísica, para compreender as determinações do comportamento por suas pro­ priedades reacionais aos estímulos do meio. A proximidade das investigações no campo fisiológico e psicofísico permitiu o desenvolvimento paralelo de métodos e técnicas destinados ao estudo das manifestações comportamentais utilizadas pelas duas especialidades.

Um outro ponto de confluência desta relação foi o desenvolvimento dos instrumentos psicométricos, os precursores dos atuais testes psicológicos, ori­ ginários de uma vertente psiquiátrica, pelos estudos de G alton, Cattel, B inet e Pearson, bem como de seu franco desenvolvimento em solo americano, desde então, amparados pela escola funcionalista.

M é t o d o s e T é c n ic a s d e in v e s t ig a ç ã o

A neurologia do início do século possuía métodos de investigação, como raios-X , punções e exames físicos, cuja característica invasiva dificultava as ava­ liações, não permitindo confirmar os achados anatomopatológicos. A necessidade

(28)

N E U R O P S IC O L O G IA H O J E

de avaliações funcionais levou alguns médicos como K raepelin, E bbinghaus e W ernicke a proporem em seus estudos a utilização de instrumentos psicológicos, para ampliar e aprimorar suas avaliações, ao mesmo tempo em que podiam con­ firmar a evolução do quadro. Por sua vez, a psicologia adquiriu em pouco tempo um conjunto metodológico de conhecimentos que impulsionaram sobremaneira o desenvolvimento da prática avaliativa, principalmente com a sua utilização requisitada inicialmente nos E stados Unidos, pelo funcionalismo (B oring, 1995). Atualmente, a influência de três aspectos metodológicos caracterizam a avaliação neuropsicológica (Alvoeiro, 2003), sendo estes os métodos E statístico-Psicomé- trico, Clínico-T eórico e do Processo E specífico.

M é t o d o E s t a t ís t ic o - P s ic o m é tr ic o : é geralmente usado em procedimen­

tos médicos, pois sua principal função é identificar anomalias orgânicas, o grau e a possível localização destas, e se os danos advindos destas patolo­ gias são de natureza estática ou dinâmica. Seu principal obietivo é idenfi- fiçar_a possibilidade de pacientes que tenham anomalias cerebrais daqueles que não a têmyA maior problemática deste método é que os instrumentos podem fornecer uma análise muito específica e limitada dos problemas cognitivos, motores e comportamentais.

M é t o d o C lín ic o - T e ó ric o : é baseado numa série de situações experimen­

tais capazes de eliminar todos os comportamentos considerados normais e desenvolver diagnósticos gerais, cada vez mais precisos, das anomalias encontradas£ ~ Pode-se verificar a necessidade de um conhecimento apro­ fundado quanto à estrutura e ao funcionamento dos sistemas cognitivos, neurológicos e comportamentais .Jj

M é t o d o d o P r o c e s s o E s p e c ífic o : relacionado aos métodos estatístico-

psicométrico e clínico-teórico, propõe que cada faceta de cada função cognitiva pode ser afetada por meio de uma doença ou trauma cerebral, mesmo quando os sistemas cognitivos trabalhem em conjunto. O conjunto de instrumentos normalmente usado neste método deve analisar as ativi­ dades cognitivas mais importantes, como: índice de inteligência, atividade de desempenho, atenção, concentração, memória, fala, funções perceptivas e vísuo-motoras, solução de problemas e raciocínio. O uso de um conjunto de testes permite avaliar o comportamento do paciente de uma maneira mais precisa e focalizada e, assim, identificar mais concretamente a função cognitiva e suas possíveis alterações.

(29)

pa-A S P E C T O S IN S T R U M E N T pa-A IS E M E T O D O L Ó G IC O S D A A V A L IA Ç Ã O P S IC O L Ó G IC A

drões .mais constantes da reação da personalidade, como formas diferenciadas de verificar a expressão de entendimento e a compreensão do paciente nas suas atividades pregressas e atuais.

As composições instrumentais típicas são: as B ateriad fix a s e as Baterixut flex íveid. As primeiras usam um determinado grupo de testes que avalia uma va­

riedade de competências e que parece indicar deficiências pós-danos cerebrais. As mais conhecidas e usadas são as baterias H alstead-R eitan, L uria-N ebraska e B arcelona (Lezak, 1995). Como desvantagem, algumas medidas podem não ser as mais aptas para avaliar um certo tipo de reação do paciente ou uma certa anomalia, ou mesmo a b ateria não consegue avaliar todas as funções. Por sua vez, as segundas (flexíveis) permitem a avaliação aprofundada das funções cognitivas, como atenção, linguagem, memória e desempenho, pois podem incorporar modelos novos, novas técnicas e novas medidas de ativida­ de cognitiva. A maior questão em relação a este tipo de metodologia é que o conjunto de instrumentos pode não ser normatizado em relação às populações em estudo.

São diversos os métodos de administração dos testes, e, para se ter uma idéia do número de instrumentos à disposição da comunidade internacional, Lezak (1995) aponta como recursos, na última edição de seu livro, 435 técnicas e/ou instrumentos destinados à avaliação neuropsicológica.

M âder (2002) coloca que a maioria dos instrumentos disponíveis são adaptações de outras culturas, e a correta interpretação exige o exercício de raciocínio clínico do avaliador. Neste sentido, é importante uma indicação cui­ dadosa dos instrumentos a serem empregados. E stes devem estar de acordo com as características do paciente e do contexto socioeconômico e cultural a que ele pertence. P ara Andrade (2002), essas dificuldades levam a outras questões abor­ dadas e discutidas pela neuropsicologia transcultural, ressaltando a influência da cultura sobre os resultados dos testes cognitivos — “[...] diferentes grupos não podem ser avaliados como se fossem idênticos, superiores ou inferiores, como querem induzir alguns resultados (p.20)”. Porém, em recente trabalho, consta­ tamos o escasso número de instrumentos disponíveis no país para a avaliação de características psiconeurofisiológicas (Alchieri, 2003).

A v a lia ç ã o n e u r o p s ic o ló g ic a

E ntão, a avaliação dos aspectos comportamentais faz-se via entrevista e testes, que podem ser agrupados em baterias fixas ou flexíveis, e exames psico- fisiológicos, além de inventários e questionários que possam avaliar o humor, as condições socioculturais, a qualidade de vida, entre outros.

Imagem

Diagram a  da  inervação  visceral  pelo  Sistema  Nervoso  Sim pático  e  Parassim pático
Figura  da  bateria  de  Boston  para  avaliação  da  afasia  (G oodglass  e  Kaplan,  1 9 7 2 ).

Referências

Documentos relacionados

A ginástica aeróbica foi a primeira atividade aeróbica a merecer destaque. Praticamente foi esta a responsável pela popularização dos exercícios aeróbicos de

Outros hormônios de crescimento dos vegetais Dúvidas de como são sintetizados nas plantas Pólen,folhas,flores, sementes, brotos e caules Crescimento e desenvolvimento

 Para os agentes físicos: ruído, calor, radiações ionizantes, condições hiperbáricas, não ionizantes, vibração, frio, e umidade, sendo os mesmos avaliados

No caso da Educação Musical, seu objeto de estudo integra pedagogia e música para ocupar-se das interações das pessoas com a música ou nas palavras de Kramer (2000, p. Ao seu

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

A decomposição da variância do erro de previsão mostrou que o mercado da soja foi o que sofreu maior influência dos demais mercados, com destaque para o preço do

Identificar a pessoa lendo a “pulseira” de identificação - dirigir-se à pessoa pelo nome Verificar as outras quatro certezas… Medicamento certo, dose certa, hora