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(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. ROSEMARY BARS MENDEZ. POMPEU DE SOUSA O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006.

(2) 2. ROSEMARY BARS MENDEZ. POMPEU DE SOUSA O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Comunicação Social.. Orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo.. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006.

(3) 3. 079.81 MENDEZ, Rosemary Bars Pompeu de Sousa: o jornalista que mudou o jornalismo brasileiro São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2006. 339p. 1. Sousa, Pompeu. 2. Jornalismo. 3. Brasil, Roberto Pompeu de Sousa I. Título..

(4) 4. FOLHA DE APROVAÇÃO A tese: POMPEU DE SOUSA. O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro, elaborada por Rosemary Bars Mendez como requisito para a obtenção do grau de doutor em Comunicação Social, na Universidade Metodista de São Paulo, área de concentração Processos Comunicacionais, foi defendida dia _____, ______, ________ tendo sido: ( ) Reprovada ( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações sugeridas pela banca examinadora. ( ) Aprovada ( ) Aprovada com louvor. Banca Examinadora: Presidente: Nome. Examinador(a):. Examinador(a):. Examinador(a):. Examinador(a):. titulação. assinatura. instituição.

(5) 5. Para os pequenos Matheus, Allan Yuri, Felipe, Luiz Henrique e Ana Luiza.

(6) 6. “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” Fernando Pessoa, 1980. “Sem paixão não se faz nada” Pompeu de Sousa 1916/1991.

(7) 7. AGRADECIMENTOS. Muitos caminhos me trouxeram até aqui. Em todos, os familiares, amigos e alguns conhecidos acompanharem os passos que dei para escrever este trabalho. O apoio que recebi possibilitou amenizar as dificuldades e permitir que a solidão, durante horas em frente ao computador, fosse esquecida com momentos de descontração. Assim, quero agradecer a todos que compartilharam comigo e me ajudaram a cruzar a linha de chegada, em especial ao Prof. Dr. José Marques de Melo que sempre me incentivou a progredir na carreira acadêmica e na pesquisa científica; a Othília Pompeu de Sousa, que me recebeu de braços abertos, e a todos que permitiram a pesquisa em arquivos públicos e privados, concederam-me entrevistas e se lembraram dos acontecimentos envolvendo Pompeu de Sousa, contribuições importantes para a construção de sua trajetória na história do Jornalismo Brasileiro..

(8) 8. SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 013 1.1 Metodologia.............................................................................................................. 018 2 CAPÍTULO I - A IMPRENSA NO BRASIL .............................................................. 029 2.1 Influência dos Estados Unidos ................................................................................. 034 2.2 Modernização ........................................................................................................... 041 2.3 Industrialização da imprensa .................................................................................... 050 3 CAPÍTULO II – A VIDA NO RIO DE JANEIRO..................................................... 056 3.1 A carreira profissional .............................................................................................. 060 3.2 Intercâmbio Cultural ................................................................................................ 068 3.3 Campanhas no DC .................................................................................................... 072 4 CAPÍTULO III – A EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA ................................... 078 4.1 A produção do manual de redação .......................................................................... 083 4.2 A reação às novas técnicas ...................................................................................... 088 4.3 A reforma do Diário Carioca ................................................................................... 099 5 CAPÍTULO IV – A MUDANÇA PARA BRASÍLIA ................................................ 108 5.1 Na UnB ..................................................................................................................... 119 5.2 Demissão da UNB .................................................................................................... 131 5.3 A favor da arte .......................................................................................................... 140 6 CAPÍTULO V – DE VOLTA PARA A REDAÇÃO ................................................. 147 6.1 Fases na Veja ............................................................................................................ 163 6.2 Como senador ........................................................................................................... 167 7 CONCLUSÃO................................................................................................................ 184 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 194 9 APÊNDICES .................................................................................................................. 220 9.1 Entrevista com Eliane Catanhêde ............................................................................. 221 9.2 Entrevista com Nilson Lage .....................................................................................227.

(9) 9. 9.3 Entrevista com Othília Pompeu, esposa de Pompeu de Sousa. ................................ 228 9.4 Entrevista com Ana Arruda Callado......................................................................... 234 9.5 Entrevista com o jornalista Armando Nogueira ....................................................... 238 9.6 Entrevista com o jornalista Hélio Marcos Prates Doyle........................................... 242 9.7 Entrevista com Orlando Cariello Filho..................................................................... 245 9.8 Entrevista com José Roberto Bassul, ex-assessor parlamentar. ............................... 248 9.9 Entrevista com o jornalista Armando Rollemberg. .................................................. 255 10 ANEXOS ...................................................................................................................... 262.

(10) 10. RESUMO. A proposta desta pesquisa é resgatar a trajetória do jornalista Pompeu de Sousa que, ao introduzir a técnica do lide no Diário Carioca (1950), revolucionou o texto jornalístico de sua época, sendo o responsável pelo primeiro Manual de Redação – Style Book – da imprensa brasileira. Trata-se de uma experiência profissional que lhe abriu portas para a vida acadêmica, primeiro na Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, no Rio de Janeiro, e para estruturar a Faculdade de Comunicação de Massa na Universidade de Brasília. Cassado após o golpe militar de 1964, o jornalista retornou para a redação, desta vez como diretor da Editora Abril, responsável pela sucursal da revista Veja entre 1968 e 1978. Senador Constituinte, no mandato de janeiro de 1987 a janeiro de 1991, autor do parágrafo 1º, do artigo 220, da Constituição Federal que prevê a liberdade de imprensa. O trabalho visa mostrar a importância de Pompeu de Sousa na transformação do Jornalismo Brasileiro, pesquisa histórica, com suporte na história oral.. Palavras–chave: Midiologia Comparada, Jornalismo Brasileiro, Ensino de Jornalismo..

(11) 11. ABSTRACT. The projects main goal is an historical research about journalist Pompeu de Sousa's career, who introducing the lead's technique at Diário Carioca newspaper, made a big revolution in his time’s journalistic style. He was the first responsible for a Style Book in brazilian press. This professional experience did opened wide doors for his academic life: first at university Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, in Rio de Janeiro, and then for a remake at structuring the University of Communication of Mass at the Universidade de Brasilia. With his civil rights lost after 1964 's brazilian military coup d'etat, journalist Pompeu de Sousa went back to newsrooms, this time as director at publishing house Editora Abril, where he was chair at Veja magazine's newsroom in Rio, between 1968 and 1978. He was a congress man at Senate, from January 1987 to January 1991, author from the first paragraph, article 220, from brazilian Federal Constitution, wich estipulates press freedom. This work entends to show Pompeu de Sousa's importance in brazilian journalism transformation, using historical research based at oral history.. Key words: Compared Midiologia, Brazilian journalism, Teaching of Journalism.

(12) 12. RESUM. Los proyectos la meta principal es una investigación histórica sobre periodista Pompeu Sousa que introduciendo la técnica de la primacía al Diario Carioca, hecho una revolución grande en el estilo periodístico de su tiempo. Él fue el primero responsable para un Libro de Estilo en la prensa del brazilian. Esta experiencia profesional hizo las puertas anchas abiertas para su vida académica: primero a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, en Río de Janeiro, y entonces para un rehaga el La universidad de Comunicación de Masa al Universidade de Brasília. Él ha perdido sus derechos del polytical después del 1964 golpe militar, periodista Pompeu de Sousa regresó a la escritura como director de Editora Abril, como Veja revista rama gerente entre 1968 y 1978. Él estaba un hombre del congreso en el Senado, de january 1987 al 1991 de enero, el autor del primer párrafo, artículo 220, del brazilian la Constitución Federal, qué preve la prensa libre. El trabajo apunta la exhibición Pompeu de Sousa el papel principal el periodismo brasileño cambiante, la investigación histórica, basado en la historia oral.. Palabras de la llave: Midiologia comparado, Periodismo Brasileño, Maestro de Periodismo.

(13) 13. 1 INTRODUÇÃO. Este trabalho é resultado de uma intensa peregrinação em arquivos públicos e particulares para recuperar documentos, artigos de jornais, cartas pessoais, discursos, fotos e memórias de amigos e familiares sobre a vida de Roberto Pompeu de Sousa Brasil. Materiais espalhados em três estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, recolhidos em várias viagens, contatos telefônicos, horas a fio folheando livros, edições empoeiradas de jornais das décadas de 40 a 90, conquistando fontes para as entrevistas que ajudaram a reconstruir a trajetória de Pompeu na imprensa brasileira. Aos poucos descobri um homem que tinha o espírito do jornalista, dono de uma personalidade irrequieta, ousada, alegre, sempre em busca do novo, fosse no texto ou nas ações de quem sempre se envolveu com os fatos da política nacional e que influenciaram a sua vida profissional. Uma história rica em ações pragmáticas que alteraram padrões estabelecidos pela imprensa e transformaram o Jornalismo Brasileiro, servindo de modelo para o ensino universitário e beneficiando a imprensa na Constituição Federal. Uma história que começa com um sonho, a de cursar Direito no Rio de Janeiro, como todo jovem que vivia no interior do Brasil em sua época. Pompeu de Sousa era do Ceará e descobriu o Brasil ao ser jornalista, profissão que lhe ajudou a caminhar sempre em frente. A inexistência de documentos, ou de qualquer outro registro histórico, sobre a infância no Ceará, deixa uma lacuna nesta trajetória. Nem as pessoas que conviveram de perto com Pompeu, nem a esposa Othília Pompeu de Sousa, têm informações sobre seus primeiros 18 anos de vida, o que restringiu a construção de sua biografia a partir da vida profissional. Seus filhos, principalmente as filhas do primeiro casamento, resistiram a falar sobre o jornalista. Apenas Sonia Pompeu, que também é jornalista e trabalha na Rede Globo, no Rio de Janeiro, contribuiu com este trabalho, ao encaminhar pelos Correios o livro Bilhetinhos a Jânio. A construção desta trajetória mostra as ações de Pompeu de Sousa no Jornalismo Brasileiro: sempre ágil, dinâmico, rápido e objetivo, um estilo próprio e único, de alguém inquieto, intranqüilo com a realidade vivida, sempre procurando mudanças. Um perfil composto por depoimentos de personagens que trabalharam ou conhecerem Pompeu de Sousa, recortes de jornais com entrevistas que concedeu ou sobre eventos e movimentos que participou, documentos sobre sua atuação parlamentar e política e a pesquisa nos arquivos do.

(14) 14. Diário Carioca e da revista Veja. Um quebra-cabeças difícil de ser recomposto pelo tempo em que a pesquisa deveria ser concluída, pressionada pelo tempo acadêmico. Muitos dos entrevistados e dos amigos que deram depoimentos publicados em livros de memória, editados após sua morte em 1991, guardam a lembrança de Pompeu pelos cabelos brancos, outros pelas gargalhadas, outros pela voz alta e firme que determinava como deveria ser a matéria jornalística, as regras técnicas para a produção de texto informativo, sem nunca perder a ternura dos gestos e o tom da voz. Ele esbravejava quando sabia de uma repressão política, de algo que não concordasse, sem nunca ter sido agressivo com os repressores. Tinha liderança e espírito de equipe e consagrou-se na política como senador da República, o quarto do Ceará, seguindo a tradição de seu avô. Pompeu de Sousa marcou a história do Jornalismo Brasileiro ao introduzir na imprensa técnicas para a construção do texto com base na tradição norte-americana, rompendo com os costumes europeus que imperavam nas redações até a década de 40. A primeira pessoa a contar sua história para este trabalho foi sua esposa Othília Pompeu de Sousa. Ela me recebeu em sua casa, pela primeira vez, no dia 14 de julho de 2004. Foram cinco horas de conversa, entre o almoço na Praia de Copacabana e o chá da tarde, em seu apartamento. Encontrei uma mulher se preparando para passar as férias de julho em Paris, pois queria rever as obras de Monet. Aos poucos foi revelando tudo que poderia se lembrar sobre Pompeu. De sua memória apenas as datas foram esquecidas, não os fatos, nem as pessoas que conheceu e com quem conviveu. Dona Othília falou sobre o passado como se tudo tivesse acontecido recentemente, ontem ou há algumas horas, apenas. Tudo o que vez na vida foi por Pompeu de Sousa. Tudo o que viveu está em sua memória, presente em cada frase que pronuncia, em seu apartamento em Copacabana, nos objetos que preserva. Tudo lembra o homem com quem viveu durante 41 anos. Eles se conheceram na Confeitaria Colombo, onde sempre ia tomar o lanche da tarde, comer doces ou simplesmente para ver Pompeu. Ela tinha 17 anos quando se encontraram pela primeira vez no ano de 1949. Ele já era o editor do Diário Carioca e estava iniciando a revolução nas técnicas jornalísticas. O sentimento foi mais forte do que as convenções sociais e um ano depois estavam juntos. O casamento no civil aconteceu após a Lei do Divórcio, n° 6.515, de 26 de dezembro de 1977; e no religioso, depois que Pompeu ficou viúvo. Othília Pompeu de Sousa lembra-se quando o marido, nos dias do carnaval de 1950, produzia em casa o primeiro manual da imprensa brasileira – Regras de Redação do Diário Carioca. Em sua pequena biblioteca no apartamento em Copacabana, guarda três exemplares,.

(15) 15. um deles doado para esta pesquisa. Ao lado do manual, estão discos, CDs e livros de escritores admirados por Pompeu de Sousa. Um dos poetas que mais gostava era Manuel Bandeira, com quem conviveu durante a juventude nas noites cariocas. Um dos versos que sempre lia está no livro Itinerário de Pasárgada: “Conversando a sós contigo Desfruto o prazer imenso De não pensar no que digo E de dizer o que penso E mais uma vez Afirmo Sem receio de que seja desmentido: - a maior felicidade É ser-se compreendido”. Pompeu de Sousa era assim: dizia o que pensava, escrevia o que acreditava, mas morreu sem ser compreendido. Depois de dedicar 55 anos de sua vida ao Jornalismo, e parte deles ao ensino superior e ao mandato de senador constituinte, foi aposentado compulsoriamente em 1991, pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, que ajudara a implantar em 1961, ao lado de Darcy Ribeiro. Ele tinha 77 anos, uma idade considerada avançada demais para retornar às salas de aula. A importância de suas ações para o Jornalismo Brasileiro começou na década de 50, quando fez a reforma editorial no Diário Carioca, priorizando o texto informativo, ao hierarquizar a importância das informações e ao eliminar dos textos as opiniões de seus autores. Para esta reformulação, apoiou-se em dois eixos técnicos que transformaram o texto do Jornalismo Brasileiro, adotado durante todo o século XX e ainda presente na imprensa diária. Ele acabou com o nariz-de-cera, ao implantar a técnica do lide1, e definiu a atuação do copidesque² nas redações. Esta transformação resultou numa reforma gráfica no Diário Carioca, pela preocupação com a apresentação da mensagem jornalística, com um novo formato, com 1. Na época se grafava lead, que foi aos poucos sendo incorporada a linguagem jornalístico, sendo aportuguesada para lide, segundo consta no dicionário Houaiss, como "linha ou parágrafo que apresenta os principais tópicos da matéria desenvolvida no texto jornalístico; cabeça; seção introdutória de uma reportagem". In: HOUAISS. Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa . Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, 1755 p. A grafia aportuguesada, lide, será a escolha adotada neste trabalho, excetuando-se as transcrições, mantidas fiéis à grafia originalmente usada. ² Na época se escrevia copy-desk, até que a palavra foi aportuguesada pelo uso constante, copidesque, tornandose um chavão nas redações. Consta no dicionário Aurélio como sendo a “redação final de um texto com vistas à sua publicação; correção, aperfeiçoamento e adequação de um texto escrito às normas gramaticais, editoriais”. In: FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa – 2a. edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, 1838 p. Neste trabalho será utilizada a forma consagrada pelo uso no Brasil, copidesque, exceção feita às citações que permanecerão conforme o original..

(16) 16. títulos diretos e objetivos, com a diagramação do texto e o uso da fotografia. Uma história de vida recuperada nesta tese de Doutorado, cujo objetivo central foi o de traçar a trajetória de Pompeu de Sousa na imprensa brasileira, ao mesmo tempo em que analisa a importância das modificações realizadas por ele no Jornalismo. O trabalho traz à tona, para o conhecimento de pesquisadores, estudiosos e profissionais da área, a vida do jornalista, suas realizações, seus altos e baixos (VILAS BOAS, 2003, p.11). A atuação de Pompeu de Sousa na chefia de redação, respaldado por dois jornalistas que dirigiam o Diário Carioca – Danton Jobim, na direção do jornal, e Luís Paulistano, na chefia de reportagem –, colocou os jornais brasileiros na era da modernidade, deixando de lado o texto enfadonho, panfletário e repleto de nariz-de-cera, para uma linguagem mais dinâmica, concisa, objetiva e informativa. O Diário Carioca é considerado pelos historiadores da área como um jornal inovador por ter sido o primeiro veículo brasileiro a usar a técnica do lide, o primeiro a contar com uma equipe de copidesque e a desempenhar papel de formador de novos quadros na imprensa (ABREU, 1996, p.15). Essa reforma completa e ousada na apresentação da notícia passou a ser copiada pelos demais veículos de comunicação do país, num movimento contínuo que marcou uma fase de transição da imprensa. Uma mudança que se espelhou na atuação da imprensa norteamericana (LINS DA SILVA, 1991), estabelecendo novos parâmetros textuais para quem escrevia nos jornais daquela época. No final da metade do século XX, a imprensa brasileira viveu uma ampla reformulação. Passou da imprensa artesanal à imprensa industrial (SODRÉ, 1983, 391) e estabeleceu novos traçados para seu desenvolvimento. Porém, esse processo não esteve ligado apenas aos equipamentos introduzidos nas redações dos jornais, agilizando a impressão dos periódicos, por exemplo. Essas modificações aconteceram porque homens da imprensa passaram a ter uma nova visão sobre o fazer jornalístico. Nesse cenário está Pompeu de Sousa que iniciou um trabalho diferenciado já nos primeiros anos de sua vida como jornalista. Traçar historicamente a sua trajetória, esquecida no passado, trazendo-a para o tempo presente, permite que sua memória preencha um capítulo da história sobre a imprensa. Pela amplitude da influência de Pompeu sobre o mundo da Comunicação, fio condutor deste trabalho científico, foi possível mapear o momento da transformação da linguagem jornalística na imprensa brasileira e analisar sua atuação como o jornalista que inovou também no ensino universitário, voltado para o mercado. Para transformar a linguagem jornalística, Pompeu de Sousa adotou um style book - um folheto de 16 páginas, que se tornou referência nacional pelas regras que foram estabelecidas e até hoje são referências básicas.

(17) 17. para a produção de um texto informativo, para a produção da notícia. Desta forma, estão estabelecidas as fronteiras que delimitaram as ações do jornalista Pompeu de Sousa com sua contribuição às modificações sofridas pelo Jornalismo Brasileiro nos anos 50, no momento histórico da expansão dos meios de comunicação de massa no Brasil. Uma história de vida a ser conhecida com este trabalho. Um território que tem espaço no meio acadêmico, pelo esforço de se produzir conhecimento sobre o desenvolvimento do Jornalismo no Brasil, com ênfase nos personagens que participaram de forma ativa na constituição de novos paradigmas comunicacionais, já que esta produção se insere num quadro maior, que procura resgatar a memória do Jornalismo Brasileiro. Um projeto iniciado em 1992, pelo professor José Marques de Melo para analisar comparativamente os processos jornalísticos e “verificar como os modos de produção da notícia e dos seus comentários fluem dos centros metropolitanos internacionais para o Brasil e como internamente os padrões difundidos são assimilados, adaptados e reproduzidos" (MARQUES DE MELO, 2003, p. 9). Nos anos 50, no pós-guerra, o Jornalismo buscava adquirir uma identidade própria, “uma fisionomia singular, que se manifesta nos gêneros cultivados pelos seus produtores, mas que transparece ainda na forma de organização do trabalho dos jornalistas dentro das empresas” (MARQUES DE MELO, 1992, p.25), uma situação histórica que levou o professor a definir um projeto para construir essa identidade, numa ação única para recuperar da história eventos que possam explicar a prática jornalística contemporânea. Com essa preocupação, as linhas do projeto elaborado por Marques de Melo foram publicadas no Anuário Brasileiro da Pesquisa em Jornalismo, pela ECA/USP, visando estabelecer o cenário do desenvolvimento da imprensa no Brasil, através de resgate e estudos biográficos, num esforço acadêmico para se reconstituir a memória da imprensa. Este Doutorado é uma das fatias desse empreendimento científico, que busca analisar as “histórias de vida de personalidades para verificar a contribuição para a configuração dos processos informativos dominantes em cada época” (MARQUES DE MELO, 2003, p.26). O resultado imediato é o de preservar a memória da própria imprensa e desvendar para pesquisadores e estudiosos da área os bastidores das transformações ocorridas no Jornalismo e na história do ensino em Comunicação no Brasil. Pompeu de Sousa foi um dos homens que se rendeu às técnicas da imprensa norteamericana e, como profissional, se destacou em três fases importantes na história. Em 1950, foi o reformulador das técnicas jornalísticas, tendo como instrumento de aplicação, de experimentação, o Diário Carioca. Em 1960, envolvido pelo ritmo da expansão capitalista do.

(18) 18. governo Juscelino Kubitschek, partiu para Brasília onde ajudou a fundar a Universidade de Brasília2, “resultado da intelectualidade brasileira projetando sua vivência pessoal” (ALENCAR, 1975, p. 271). E, por último, na década de 80, como senador constituinte que defendeu a liberdade da imprensa.. 1.1 Metodologia Ao mergulhar nos bastidores desta história, entendemos não apenas o indivíduo, mas também suas interfaces, suas relações políticas e sociais para, assim, rever parte de nossa cultura social, ampliando as informações que sustentam o universo do Jornalismo. A importância desta pesquisa está na restauração das ações e realizações de Pompeu de Sousa, ao narrar os eventos que participou para poder compreender o universo de sua vida e como influenciou a prática jornalística no Brasil. Uma metodologia que normalmente não recebe da academia brasileira a mesma atenção que nos Estados Unidos. Enquanto há falta de prestígio para a história de vida no âmbito científico no Brasil, por não apresentar dados convencionais da ciência social (HAGUETTE, 2001), os norte-americanos a utilizam como principal instrumento de pesquisa. A origem da produção biográfica está nas obras gregas que retratavam a vida de seus heróis, como uma reverência aos grandes indivíduos inicialmente apresentados em mármores e bronzes e, depois, perpetuados em livros, como A Ilíada e a Odisséia, réplicas de histórias das vidas dos heróis gregos. Um gênero literário que se expandiu e se consagrou aos poucos na história. A palavra biografia foi usada pela primeira vez pelo historiógrafo real John Dryden, em 1683, na introdução inglesa de Plutarco. Depois, o reconhecimento da importância em realizar uma biografia veio dos alemães em 1709, seguidos pela academia francesa a partir de. 2. A iniciativa de Darcy Ribeiro em fundar a Universidade de Brasília é apontada por José Marques de Melo como “um fator decisivo para criar no Planalto Central um pólo intelectual arrojado e inovador”. A organização da Faculdade de Comunicação de Massa coube a Pompeu de Sousa “amadurecido pela experiência profissional no país e no exterior (...) com um perfil consentâneo com a modernidade globalizante, ou seja, inspirado no modelo midiático emergente testado pela Universidade de Stanford (EUA)” In: MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional São Paulo: Paulus, 2003c. p. 260-262. O curso de Comunicação Social é entendido por seus autores como uma faculdade profissionalizante, preparando o aluno para o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que se respeita a diversidade de conhecimento da área. Na estrutura acadêmica, foi pensada no campo das Letras e das Artes, prevendo que “a formação profissional destes especialistas deve ser feita em curso de Comunicação Social cujo ensino prático seja proporcionado pelos órgãos complementares da universidade, como a editora e o Centro de Teledifusão”. In: RIBEIRO, Darcy. A Universidade Necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1975. 213 p..

(19) 19. 1762. Até 1975, a maioria dos pesquisadores biográficos americanos estava ligada exclusivamente às universidades (VILA BOAS, 2002, p.27), uma realidade que se ampliou gradativamente em outros centros de pesquisas pela importância que este tipo de trabalho vem alcançando. Tornou-se, nos dias de hoje, uma prática principalmente de jornalistas que se debruçam para definir, na linha do tempo, o trabalho de seus biografados. Essa tendência, que se mostra híbrida, em fase de consolidação no meio científico brasileiro, representa um método de pesquisa em busca de espaços que a reconheçam e compreendam a relação estreita entre a história de vida e o contexto social em que está inserido o personagem. No Brasil, o trabalho biográfico foi realizado inicialmente por Simão de Vasconcelos que escreveu a vida dos padres João de Almeida e José de Anchieta, sem despertar interesse dos leitores pelo conteúdo árido e repleto de fábulas e crendices populares. No século XIX voltou a ser produzido pelo Conselheiro Pereira da Silva, também sem a devida valorização, porém foi uma linha que se fortaleceu em direção à biografia política. Este Doutorado mostra uma fatia dos acontecimentos de uma época, retratando-o de forma isenta, ao mesmo tempo em que mantém um diálogo entre o passado e o presente, mesclando a descrição dos eventos e sua contextualização. Para isso, dois pontos metodológicos fundamentais sustentam este projeto que tem como vértice a biografia de Pompeu de Sousa. Em primeiro lugar está o campo da Comunicação, especificamente o Jornalismo, com ênfase para a Escola Latino-Americana (MARQUES DE MELO, 2003c, p.48), teoria defendida em pesquisas científicas que a referendam e a legitimam no espaço acadêmico. “Não obstante ocupe um lugar privilegiado nas universidades latinoamericanas em que existem estudos regulares de Comunicação, ao nível de graduação ou pós-graduação, a Escola Latino-Americana ainda não conquistou a hegemonia. O processo de sua difusão se faz lentamente, enfrentando barreiras do modismo teórico ou o preconceito de quantos seguem valorizando exclusivamente as metodologias que trazem o selo dos países metropolitanos” (MARQUES DE MELO, 1999, p.23).. Um cenário que vem se modificando aos poucos, com projetos de pesquisa que reconhecem a teoria latino-americana, pensando questões próprias à realidade que envolve os processos comunicacionais, no caso, brasileiro. Um cenário propiciado, principalmente, pela criação do Ciespal, com apoio da Unesco, para incentivar o desenvolvimento dos países latino-americanos. “O Ciespal exerceu papel preponderante na conformação de nosso campo acadêmico” (MEDITISCH, 1999, p.129), possibilitando a consolidação de um novo status para a Comunicação nas instituições de ensino. Nasce, assim, uma visão singular para as.

(20) 20. investigações científicas, com metodologias específicas que valorizam o conhecimento produzido por pesquisadores da América Latina. Dentro dessa perspectiva metodológica está o resgate da memória de personagens importantes para a História da Comunicação na América Latina, propiciando a criação do Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano, com o apoio da Cátedra Unesco de Comunicação, instalada em 1996, na Universidade Metodista de São Paulo (MARQUES DE MELO, 2001, p.17). “As ciências da comunicação na América Latina, particularmente no Brasil, ganham cada vez mais reconhecimento internacional pela sua inovatividade e criatividade. Isso vem propiciando um colóquio em igualdade de condições acadêmicas com os nossos colegas de países que possuem maior tradição no campo. Trata-se agora de difundir esse espírito em nossas universidades” (MARQUES DE MELO, 1997, 21).. A perspectiva básica dessas pesquisas é levar em conta as singularidades da América Latina, sua condição histórica, política, econômica e social que a distingue de outros continentes, tendo como ponto de partida os conhecimentos paradigmáticos herdados de correntes teóricas norte-americana e européia. “Mostra-se evidente a hegemonia européia sobre o nosso embrionário pensamento comunicacional até a primeira metade do Século XX. No período pós-guerra, cresce a influência norte-americana. Ela reduz, mas não elimina o fascínio que as nossas elites intelectuais sempre demonstraram pelas idéias oriundas de metrópoles como Paris, Roma, Londres ou Berlim” (MARQUES DE MELO, 2003c, p.134).. Um espaço que vai se modificando aos poucos com as pesquisas realizadas por cientistas latino-americanos, com atenção voltada especialmente para a realidade de seus países. “Os pesquisadores ensaiam pouco a pouco caminhos alternativos para superar a dependência (teórica e metodológica) a que se achavam submetidos. Imersos numa cultura marcada pela mestiçagem, não hesitam em praticar o sincretismo metodológico, combinando procedimentos herdados das Escolas de Chicago, Paris, Moscou, Roma ou Frankfurt” (MARQUES DE MELO, 1998, p.131).. Desta forma, o parâmetro metodológico leva em consideração que a iniciativa se insere no campo que busca a consolidação das pesquisas fundamentadas na Escola LatinoAmericana, num esforço que visa contribuir para o crescimento dessa raiz teórica. Para este.

(21) 21. suporte teórico é preciso referendar os estudos relacionados ao Jornalismo Brasileiro (MARQUES DE MELO, 2003), já que este trabalho resgata a trajetória de um jornalista com papel fundamental nas transformações vividas pela imprensa na década de 50, com marcantes influências no ensino e na prática jornalística, tendo como pressuposto a técnica norteamericana. A finalidade é “entender igualmente as diferenças do Jornalismo peculiar a determinadas conjunturas brasileiras em relação às estruturas predominantes em países latino-americanos ou naquelas sociedades de expressão cultural portuguesa, cotejando-as com parâmetros hegemônicos no mercado internacional” (MARQUES DE MELO, 2003, p.09).. Uma perspectiva descrita nesta tese, pela posição de Pompeu de Sousa ao adotar os princípios dos Estados Unidos para a imprensa brasileira. Isso, levando em consideração que os norte-americanos definem Jornalismo como utilidade pública, com informações de interesse público, tendo como pressuposto a teoria funcionalista (MARQUES DE MELO, 2003a, p.27), o que explica a utilização dos jornais diários como instrumentos de atualização do conhecimento diário para o cidadão comum. “A instituição jornalística assume o papel de observadora atenta da realidade, cabendo ao jornalista proceder como vigia, registrando os fatos, os acontecimentos e informando-os à sociedade” (MARQUES DE MELO, 2003, p.29). Esse suporte teórico tem sintonia com a História, segundo eixo metodológico, para entender as ligações do passado e do presente e interpretar todo o contexto social ao descrever o cenário nacional que marcou as modificações e o desenvolvimento do Jornalismo, “numa ação articulada de modo a registrar sistematicamente a história imediata do Jornalismo praticado no Brasil” (MARQUES DE MELO, 2003, p.13), para entender o processo de assimilação do modelo norte-americano à tradição brasileira, através da construção de uma história de vida. “Para compreender as características fundamentais de certos problemas históricos, é necessário observar e analisar a paisagem atual, porque só ela dá as perspectivas de conjunto, das quais deveríamos partir para nosso estudo. As ligações profundas do passado e do presente exigem a eterna busca e compreensão da mudança, pois a História é a ciência da mudança” (RODRIGUES, 1969, p.36).. O recurso à metodologia histórica é importante por reunir os dados do passado que possam explicar as ações do presente, num diálogo constante entre as duas temporalidades,.

(22) 22. permeando os sentidos objetivos e subjetivos existentes no processo da investigação e que vêm à tona no momento de apresentar os acontecimentos recuperados desse processo até então oculto. A história serve para aclamar o sentido do presente, oferecendo material para entendermos a realidade. Para isso, a opção é pela chamada História Pragmática3 “pela fidelidade do método e pela pesquisa dos motivos que (se) observa entre os acontecimentos, assim como pelo raciocínio severo e imparcial das questões políticas, (...) seja ele (o acontecimento) reconhecido como útil por aqueles que desejam conseguir um claro conhecimento dos sucessos passados e, graças a ele, compreender bem aqueles processos que, segundo curso das coisas humanas, possam repetir-se no futuro do mesmo modo ou de modo semelhante” (RODRIGUES, 1969, p.48).. Por esta linha de raciocínio, a História ensina e edifica; valoriza os aspectos sociais, para compreender os motivos, os pensamentos e os fins destes acontecimentos sociais. Com este modelo, o projeto de pesquisa irá recuperar não apenas os eventos que marcaram a vida de Pompeu de Sousa, mas ajudará a compreender as ações humanas no campo da filosofia e da historiografia, com ênfase no historicismo que procura abordar toda a vida histórica. “O historicismo não é só uma concepção do mundo, uma teoria do conhecimento filosófico, uma historização da vida. Significa que a vida é história (não historiografia) e não natureza, e só conhecemos através da História (passado e vida presente). (...) O historicismo procura estudar o mundo próprio da História, isto é, a estrutura íntima das operações e transformações das nações no tempo” (RODRIGUES, 1969, p.82).. Assim, é necessário levar em conta que a História é eterna mudança: pressupõe transformações, evoluções, num curso contínuo, sem paradas nem retornos. É uma ciência que segue em frente e faz amarrações entre os fatos, entre o tempo passado e o tempo presente, entre o individual e o coletivo, entre o espaço privado e o espaço público. Concepções que nortearam a vida de personagens importantes para a História, como a de Pompeu de Sousa, pela singularidade de suas ações no mundo da Comunicação Social. “Nenhum fato ou ato histórico existe isolado; eles aparecem sempre no 3. A definição é dada por José Honório Rodrigues, que recupera três linhas diferenciadas para o desenvolvimento da idéia de História, a narrativa, a pragmática e a genética. A narrativa é a descrição mais antiga e procura registrar os acontecimentos, a exemplo das narrativas de Heródoto, considerado pai da História. A genética, desenvolvida na Alemanha, no Século XIX, tem ligação com as ciências naturais e sofre a influência do Positivismo. Rompe com a evolução do pensamento histórico e reduz a pesquisa à colheita dos fatos para estabelecer as relações de causa e efeito, num mundo esquematizado com idéias gerais empiricamente fundamentadas. In: RODRIGUES, José Honório. Teoria e História do Brasil – introdução metodológica. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969. 494 p..

(23) 23. conjunto do processo histórico. Podem ser vistos e examinados isoladamente, mas funcionam em relações estruturadas, articulam-se com todos os componentes da realidade, conformam-se ao todo do sistema real” (RODRIGUES, 1969, 31).. Estas relações serão conhecidas no decorrer destas páginas. Uma operação complexa que priorizou a análise de documentos que ajudaram na reconstrução desta história de vida por trabalhar com dados que reconstruíram a atividade jornalística a partir da atividade humana. A narrativa biográfica pressupõe, como José Honório Rodriguez aponta, uma construção de crenças, sentimentos, decisões, erros e virtudes do biografado, mas também reflete uma limitação pela própria dificuldade em compreender todo o universo em que o biografado está inserido, próprio do método da História Social. “Quando o biografado chefiou homens, dominou, esteve a serviço do poder ou contra ele lutou, influiu pela sedução de sua conduta e de suas idéias sobre a história de sua época, então estamos diante de um fato não só biográfico, mas também histórico, cuja descrição ajuda a compreender o curso histórico, dentro, naturalmente, das condições restritivas da unilateralidade e do fato de tratar-se de um objeto finito, porque tudo é feito em torno da pessoa” (RODRIGUES, 1969, p.147).. A biografia tem o caráter da retrospectiva, com uma avaliação crítica dos acontecimentos narrados, sem o tributo ou a predominância dos fatos oficiais. “A biografia é uma das mais difíceis tarefas. Estabelecer a relação entre a personalidade e o mundo que o rodeia, dizer o que aquela deve a este e este àquela, sem atenuar, sem maliciar, como queria Shakespeare, pressupõe grandes qualidades. Talvez se possa dizer que na biografia, mais que em qualquer outro campo da historiografia, o conhecimento histórico se aproxima muito da arte. E talvez em razão dos elementos artísticos ou estéticos que contém, porque apela para a imaginação e torna o passado mais concreto, mais real e mais vivido, a biografia é mais lida que a própria história, porque humaniza o passado e enriquece a experiência do presente...” (RODRIGUES, 1969, p.209).. Para a realização desta pesquisa, levando em conta a visão de Pompeu de Sousa sobre Jornalismo, foram analisados documentos pessoais, documentos oficiais – publicados no Senado Federal, pela imprensa oficial – reportagens, artigos e entrevistas, depoimentos de familiares, amigos e profissionais que trabalharam com ele e ajudaram na construção de sua trajetória. Esta busca permitiu a construção de uma parte da história da sociedade brasileira, tendo a vida de Pompeu de Sousa como foco desse universo, numa tentativa de interpretação sociológica, seguindo “os símbolos, os valores em vigor entre os que a viveram, um conjunto.

(24) 24. de fatos como expressão de uma época” (FREYRE, 1959, p.31), valores que definiram o passado que se quer compreender, reconstituir, utilizando métodos qualitativos e quantitativos. Um fenômeno que auxiliou no procedimento de “identificar a correspondência entre um fato social determinado e as condições necessárias de existência dentro do organismo social, ao qual pertence” (MARQUES DE MELO, 2003b, p.28). Ou seja, identificar o momento da transição da imprensa brasileira, a partir da biografia de Pompeu de Sousa, dentro do processo de redemocratização e modernização do país, no período posterior a Segunda Guerra Mundial. Para esta construção, houve o respaldo do método da História Oral4 que utiliza a técnica da entrevista, como forma de produzir conhecimento (FREITAS, 2002, 18), ao recuperar lembranças de amigos, familiares e conhecidos que conviveram com o jornalista. “A História Oral se descobre um processo de socialização de uma visão do passado, presente e futuro que as camadas populares desenvolvem de forma consciente/inconsciente (...) a capacidade de falar, de comunicar idéias é elemento determinante dessa historicidade” (MONTENEGRO, 1994, p.40).. O privilégio dessa capacidade é a de “narrar uma história, um fato, uma experiência ou mesmo um sentimento”, condição associada à “descrição dos detalhes, dos elementos que são projetados de forma tão viva e rica que se assemelha a um quadro, que vai sendo redesenhado às nossas vistas (...) à capacidade de recuperar o lado imaginário do que era vivenciado individual e coletivamente em relação ao acontecimento narrado” (MONTENEGRO, 1994, p.152).. Sônia Maria Freitas reconhece que a História Oral, enquanto método, recebe críticas de pesquisadores pela “falibilidade das fontes orais” (2002, p.35), legitimando apenas as construções históricas concentradas em documentos oficiais, uma tradição historiográfica do século XIX. Para a autora, essa resistência existe pelo desconhecimento da academia 4. Em 1888, Fustel de Coulanges, na obra La Monarchie Franque, defendeu a tese de que a oralidade deveria ser considerada como fonte para regaste dos acontecimentos.. Porém, a sua maior contribuição foi no movimento coordenado por Marc Bloch e Lucien Febvre, em 1929, com a revista Annales, sendo mais tarde conhecidos como O Grupo dos Annales. Estes historiadores falavam da necessidade de se alterar a metodologia histórica, reconhecendo que todas as atividades humanas são histórias a serem reveladas, e não apenas a história política, por isso deveria contar com a colaboração de outras áreas do conhecimento. Com esse debate, a historiografia passou a reconhecer a história do cotidiano, a história econômica como procedimentos historiográficos, assim como a utilização da tradição oral e vestígios arqueológicos como novas fontes historiográficas. In: FREITAS, Sônia Maria. História Oral – possibilidades e procedimentos. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP e Imprensa Oficial. 2002, p. 39-43..

(25) 25. brasileira sobre a sofisticação teórica e diversidade temática existente nos Estados Unidos e na Inglaterra. “A partir dessas experiências, a História Oral atingiu um nível de credibilidade nos meios acadêmicos, tornando-se um campo de estudo com suas associações e revistas próprias, de caráter inclusive internacional e multidisciplinar” (FREITAS, 2002, p.38). Levando-se em consideração que a história oral limita-se pela parcialidade com que os fatos são lembrados, mas sem deixar de seguir o caminho da História Oral, foi elaborado um roteiro para a coleta dos depoimentos, com entrevistas planejadas e semi-estruturadas, porém transformadas num diálogo (MEDINA, 2001) pela flexibilidade para se conseguir as informações que ajudaram a traçar os passos do biografado5. “A história oral pode captar a experiência efetiva dos narradores, mas destes também recolher tradições e mitos (...). A história de vida constitui uma espécie de outras formas de informação, também captada oralmente, dada a sua especificidade, pode também encontrar um símile em documentação escrita. Assemelham-se às histórias de vida as entrevistas, os depoimentos pessoais, as autobiografias, as biografias; fornecem todas elas material para a pesquisa sociológica” (QUEIROZ, 1983, p.6).. A metodologia desta tese se enquadra na pesquisa qualitativa, por representar um trabalho que se debruçou sobre a investigação para identificar a realidade social. Uma metodologia que pode ser considerada um avanço, já que a tradição da pesquisa científica condenava a pesquisa qualitativa, acusando-a de ser impressionista, não objetiva e não científica (MOREIRA, 2002, p. 152). “Os dados coletados nas pesquisas qualitativas são predominantemente descritivos. O material obtido nessas investigações é rico em relatos de pessoas, em situações e acontecimentos, incluindo transcrições de entrevistas e de depoimentos, além de fotografias, desenhos e vários outros tipos de documentos” (DENCKER & VIÁ, 2001, p.186).. O trabalho mantém ainda um olhar na estrutura sociológica para entender o contexto social do qual estava inserido Pompeu de Sousa, tendo como base a necessidade de entender o momento vivido, seu cotidiano, para esclarecer os fenômenos que o levaram a transformar o Jornalismo Brasileiro, para que possamos ter a elucidação da realidade. O método que permite essa abrangência é o qualitativo, pela abordagem sistemática para descrever a experiência de vida do jornalista, ao mesmo tempo em que lhe dá significado diante do mundo científico. Isso, porque, é a partir do conhecimento adquirido sobre as ações de Pompeu que se pode 5. Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas e estão em anexo, na íntegra, para a avaliação da banca..

(26) 26. descrever sua experiência e entender as razões de suas ações, de suas decisões e posturas que adotou, tornando-o uma referência no mundo da Comunicação. Com isso, os sentidos de seu cotidiano se materializam, pois revelam o movimento da sociedade, no caso o movimento que levou às transformações do Jornalismo, sempre tendo como apoio a história. Para garantir a cientificidade deste método, a busca pela informação histórica foi sistemática, organizada e racionalmente analisada, um trabalho metódico para a interpretação dos dados coletados, com ênfase para os procedimentos etnográficos, visto a realização de entrevistas semi-estruturadas e de profundidade, próprias da pesquisa sobre história de vida (MOREIRA, 2002). Com esse método, a pesquisa esteve respaldada na vida cotidiana, procurando entender Pompeu de Sousa a partir de suas realizações como jornalista, dando sentido a elas a partir da descrição dos acontecimentos e com a interpretação de seus discursos, das idéias que defendeu e dos atos que praticou. “É o estudo da experiência vivida de cada um e a experiência humana estriba-se nos sentidos, interpretações, atividades e interações das pessoas” (MOREIRA, 2002, p. 46). Desta forma, esta tese apresenta a trajetória do jornalista Pompeu de Sousa em cinco capítulos. Os três primeiros têm como cenário principal o Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira profissional ao lado de personagens importantes da história da imprensa, como Danton Jobim, Nelson Rodrigues, Carlos Lacerda. Na imprensa carioca fez história como o profissional que transformou o Jornalismo Brasileiro. Os dois últimos capítulos focam sua atuação como o jornalista que se envolveu na política partidária, defendeu princípios constitucionais e participou de movimentos da esquerda contra a ditadura militar, atuações que desenvolveu em Brasília. No primeiro capítulo está a contextualização histórica da época, para mostrar as mudanças que aconteceram no Brasil entre as décadas de 40 e 50, período marcado pela Segunda Guerra Mundial, e os reflexos na imprensa brasileira, influenciada pelo processo de industrialização. Uma fase em que os jornais passaram por intensas reformulações, gráficas e editoriais, como o Diário Carioca tendo como protagonista desta história Roberto Pompeu de Sousa Brasil, ao estabelecer parâmetros técnicos para a linguagem jornalística. Uma ação que não se dá isolada, mas com o respaldo de Danton Jobim, diretor do DC, e com o envolvimento de Luis Paulistano, chefe de redação. É o momento em que a imprensa tem o contato com a padronização do texto, que deixa de ser adjetivado para priorizar a informação de forma clara, concisa, concatenada, objetiva, seguindo a tendência norte-americana para se fazer Jornalismo. Este capítulo apresenta os profissionais da imprensa brasileira, que pensavam o Jornalismo nosso de cada dia e os acontecimentos nacionais, ao mesmo tempo em.

(27) 27. que são identificados os personagens que atuaram como coadjuvantes neste cenário de modificações dos padrões para o fazer Jornalismo antes e depois de Pompeu de Sousa. Ressalta ainda a importância do DC e as ações do governo Getúlio Vargas que se aproximou dos Estados Unidos, por interesses econômicos, e acabou por assinar um convênio de cooperação envolvendo os dois países, respaldado pelo Office for Coordinaton of Commercial and Cultural Relations between the American Republics. Uma decisão de governo que refletiu nos costumes brasileiros. Pompeu de Sousa foi um dos jornalistas a se integrar a este intercâmbio cultural, a partir de um convite recebido pelo DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda. Ele permaneceu nos EUA durante 22 meses. A vida de Pompeu de Sousa, no segundo capítulo, mostra os passos dados por ele na vida profissional como jornalista, sua apreciação pela literatura e pela música. Recupera memórias de sua esposa Othília Pompeu de Sousa sobre as ações que teve na imprensa brasileira. Pompeu começou a trabalhar em O Jornal, em 1939, mas afastou-se porque não concordava com a linha editorial do periódico, oportunidade para que fosse contratado pelo Diário Carioca, em 1940, e iniciasse a edição da coluna Guerra Dia a Dia. Neste período, ele vai para os Estados Unidos e trabalha nas rádios NBC (National Broadcasting Company) e CBS (Columbia Broadcasting System) e produz programas que eram retransmitidos para o Brasil. Durante o intercâmbio, começou a comparar o Jornalismo praticado pelos norteamericanos e, ao retornar, iniciou as modificações na linguagem utilizada pelos brasileiros, oportunidade para fazer a transformação do Jornalismo Brasileiro. O cenário da hegemonia americana foi fonte da inspiração jornalística para Pompeu. O terceiro capítulo relata sua ascensão no Jornalismo carioca, com os primeiros momentos de sua vida acadêmica, iniciada na Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras, ligada à Universidade do Brasil, como professor de Técnicas do Jornal e do Periódico, ao lado de Danton Jobim. Foi o processo acadêmico que o levou a sistematizar seu conhecimento na área jornalísticas, para que pudesse ensinar Jornalismo. A reforma que realizou no Diário Carioca, com a introdução do lide e do copidesque, a partir da produção do primeiro manual de redação da imprensa brasileira – Regras de Redação do Diário Carioca –, é recuperada neste capítulo, assim como o impacto que causou, as mudanças internas na redação do jornal, a transição da imprensa tendo em vista o processo de industrialização. Além do papel de Pompeu de Sousa como jornalista, há sua performance como político, que começa a ser desvendada em posturas políticas que adota à frente da direção do DC. A mais contundente deixou-lhe uma marca histórica, como um dos.

(28) 28. responsáveis pelo suicido de Getúlio Vargas, pela pressão que fez ao participar da investigação, ao lado dos militares da Força Aérea Brasileira, sobre o crime na rua Toneleros. Sempre voltado para o novo, o moderno, Pompeu de Sousa não hesitou em apoiar Juscelino Kubitscheck na construção de Brasília. Envolveu-se de corpo e alma na transferência da capital brasileira e, com problemas editoriais no Diário Carioca, também se transferiu definitivamente para o Distrito Federal, onde começou uma nova vida. Este é o cenário do quarto capítulo desta tese, que acompanha o giro dado por Pompeu na região central do país. Sua última cartada jornalística no DC foi contra o presidente Jânio Quadros, a quem criticava diariamente em sua coluna Bilhetinhos a Jânio. Em Brasília, iniciou um novo projeto, desta vez voltado para o ensino superior, ao participar da fundação da Universidade de Brasília, ao lado de Darcy Ribeiro. Sempre inovador, implantou a primeira Faculdade de Comunicação de Massa, com currículo específico para os cursos de Jornalismo, Tevê, Rádio e Cinema e Publicidade e Propaganda. Um projeto que não foi concluído por causa do golpe militar de 1964, quando Pompeu foi cassado, junto com outros 15 professores, o que gerou uma crise na universidade. Pompeu foi secretário de Imprensa do primeiro-ministro Tancredo Neves e integrou o Conselho Superior de Censura, como representante da ABI, e foi integrante da bancada anticensura. O quinto capítulo mostra os últimos anos de vida de Pompeu, que voltou às redações, depois de ter sido cassado pelo regime militar e demitido da Universidade de Brasília, em 1961. Ele transitou entre Rio de Janeiro e São Paulo, com projetos alternativos, até fixar-se na Editora Abril e tornar-se diretor da sucursal da revista Veja, que ajudou a implantar com Mino Carta. Como editor da Veja tornou-se uma referência política importante em Brasília, vivendo sob a égide da ditadura. Integrou o Cebrade - Centro Brasil Democrático, o Comitê Brasileiro pela Anistia, a ABI – Associação Brasileira de Imprensa, ajudou a democratizar o Sindicato dos Jornalistas, com a eleição de Carlos Castello Branco, ajudou jornalistas perseguidos pelos militares e foi preso, por uma noite, por causa da capa da edição número 05 da revista Veja, de 18 de dezembro de 1968, logo após a publicação do AI-5, que mostrava o ministro de Guerra do governo Castelo Branco e futuro presidente da República, Costa e Silva, na Câmara dos Deputados, com o plenário vazio. Quando deixou a Veja, em 1978, voltou-se inteiramente para a política, primeiro como secretário de Educação e Cultura do governo de José Aparecido, depois como senador da República, um curto mandato de quatro anos que deixou, porém, novamente sua marca de ousadia, renovação das idéias e defesa de seus ideais: o artigo constitucional que estabelece o direito de liberdade da imprensa..

(29) 29. 2 CAPÍTULO I – A IMPRENSA NO BRASIL Na década de 50, o Brasil sentia as profundas transformações econômicas e políticas no mundo. Partiu para a industrialização, solidificou o processo democrático e, ao mesmo tempo, desenvolveu a indústria cultural.. Foi uma década frutífera, com a presença de. intelectuais que pensavam, discutiam e apresentavam propostas políticas e econômicas para o país. Obviamente a imprensa não poderia fugir deste movimento, utilizando os espaços jornalísticos para os debates e propondo mudanças para o próprio sistema de funcionamento. “Foram tempos do ISEB (1955)6, tempos de ESG (1948), ambas instituições voltadas para a formulação de projetos de desenvolvimento para o Brasil. Foram tempos de renovação do pensamento católico, com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (1952), grande responsável pela orientação nas questões político-sociais. Foi uma década de concretizações de muitas idéias e projetos elaborados durante ou após a guerra, de realizações nos campos político, econômico, social e cultural. Período do funcionamento do regime democrático, o que evidentemente permitiu a livre expressão de idéias e o desabrochar da criatividade em todas as áreas do conhecimento” (ABREU, 1996, p.14).. Os anos 50 foram de transformação para eliminar os empecilhos ao crescimento da produção e acumulação de riqueza para melhoria da qualidade de vida no Brasil: momento em que se buscava a construção do novo – na cultura, nas artes plásticas e na poesia, no teatro e na música. Foram os anos que abriram as portas para a modernidade. “A imprensa, antes dos anos 50, dependia dos favores do Estado, dos pequenos anúncios populares ou domésticos – os classificados – e da publicidade das lojas comerciais. Foi exatamente a partir daí, no segundo governo Vargas (1950 - 1954), que o processo de industrialização do país se. 6. O ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – influenciou a sociedade brasileira nas décadas de 50 e 60, sendo o responsável pela formulação e divulgação das ideologias nacional-desenvolvimentista, subordinado ao Ministério da Educação e Cultura, com “autonomia e plena liberdade de pesquisa, de opinião e de cátedra. (...) Os isebianos, ao proclamarem a ideologia nacional-desenvolvimentista como a ideologia de toda a nação e endossaram - durante certo período – os padrões de desenvolvimento que se realizavam no país, não deixavam de se mover dentro dos quadros de pensamento da classe hegemônica (burguesia industrial, ainda que sob o controle do capital estrangeiro). Pode-se reconhecer – através das formulações (ou, mais propriamente, das intenções) de certos isebianos – que havia firme convicção no sentido de se realizar um desenvolvimento capitalista em bases estritamente autonomistas. Para tanto, julgava-se que significativas parcelas da burguesia industrial eram movidas por interesses nacionais autóctones. À ideologia, a ser forjada, caberia a função de esclarecer e de organizar tais setores (torná-los classes dirigentes) e convencer outras frações da classe dominante acerca de seus interesses objetivos para a efetivação de uma prática econômica e política mais racional e lúcida. Daí, criaram os isebianos a viabilidade e a necessidade histórica da ideologia nacionaldesenvolvimentista”. In: TOLEDO, Caio Navarro. ISEB – Fábrica de ideologias. São Paulo: Ed. Da Unicamp, 1997. 197 p..

(30) 30. tornou mais visível e, no governo Juscelino Kubitschek (1956-1960), mais acelerado e irreversível” (ABREU, 2002, p.09).. O Brasil de 1950, com 50 milhões de habitantes, iniciou um processo de enriquecimento após a Segunda Guerra Mundial. “Devemos ao imperialismo dos Estados Unidos a importação do capitalismo entre nós, não como idéia, ou até prática, porque existia em ambas as formas, embrionariamente, desde o Século XIX (...) a contribuição dos Estados Unidos foi a mística do acesso às benesses da produção em massa e a proposição de que esse acesso poderia ser geral, popular, que nós, pelo que Hollywood nos transmitiu poderíamos ser iguais às inúmeras cinderelas daquele país” (FRANCIS, 1985, p.83).. Em sua análise, Paulo Francis concluiu que o capitalismo entrou no Brasil de forma clássica, importando barato e exportando caro. Em 1964, o Brasil contava com 78 milhões de habitantes. “Nos anos 60 ninguém mais reconhecia as cidades brasileiras de 1945, não só pelo aumento populacional, como no que refletiam da expansão das forças produtivas do país” (FRANCIS, 1985, p.87).. Acompanhando o desenvolvimento industrial do país, a imprensa brasileira começava a eliminar a resistência ao abandono de suas raízes e às influências européias no modo de fazer Jornalismo mais opinativo e reflexivo do que informativo. Nesse. período,. os. jornais. brasileiros. passaram. por. reais. transformações.. Primeiramente na estrutura administrativa para a organização da empresa comercial, momento crucial para a consolidação da indústria cultural. Em segundo lugar, foram introduzidas inovações técnicas, gráficas e editoriais para uma nova formatação do jornal, tanto em sua aparência gráfica quanto em seu conteúdo editorial. Uma verdadeira ebulição que envolveu jornalistas preocupados com a linguagem panfletária, apaixonada, utilizada pela maioria dos que escreviam nos jornais brasileiros, formados na prática da redação diária, mas sem o conhecimento específico, especializado e aprimorado que o mercado editorial passaria a exigir com a indústria de comunicação de massa. Na imprensa, a transformação se dava através da linguagem e do design (FERREIRA, 1993). Neste contexto, o jornal Diário Carioca se destacou pela iniciativa de três jornalistas – Pompeu de Sousa, Danton Jobim e Luís Paulistano - que se envolveram na reformulação.

(31) 31. interna do periódico, propondo a apresentação de um conteúdo jornalístico mais dinâmico e objetivo: a introdução do lide e a presença de uma equipe de copidesque que revisava os textos antes de serem publicados, para que estivessem de acordo com o manual de redação – style book – que ditava as normas técnicas que deveriam ser seguidas. Tal mudança era estimulada em parte pela influência da imprensa norte-americana (LINS DA SILVA, 1991) através da experiência de jornalistas que viveram nos Estados Unidos, entre eles Pompeu de Sousa, Danton Jobim, Samuel Wainer e Alberto Dines. Pompeu e Danton levaram seus conhecimentos para o Diário Carioca; Wainer para a Última Hora e Dines, para o Jornal do Brasil. Aos poucos, a imprensa brasileira foi deixando de lado sua herança européia, principalmente francesa, do Jornalismo de combate, de crítica, de doutrina e de opinião para priorizar a linguagem objetiva, clara, concisa, dinâmica e informativa, separando-a da opinião do autor da notícia, que passou a ganhar mais espaços em detrimento dos artigos e comentários. “A década de 50 constitui um verdadeiro marco na história de nossa imprensa, marco que assinalaria a virtual superação, entre nós, daquilo que autores como Habermas chamariam de fase do Jornalismo literário, e a entrada em definitivo nos quadros do chamado Jornalismo empresarial”. (LATTMAN-WELTMAN, 1996, p.158). O pesquisador Fernando Lattman-Weltman ao fazer uma análise comparativa sobre as publicações do Rio de Janeiro nos anos 50, aponta que as páginas da imprensa carioca passaram por profundas modificações, com caráter mais dinâmico e com o desenvolvimento do padrão da objetividade jornalística (LATTMAN-WETTMANN, 1996, p.180). Nos anos 50, uma nova mentalidade empresarial se formou no Brasil. Ao lado das mudanças editoriais havia o incentivo aos investimentos publicitários e, com a implantação das agências nacionais e internacionais de publicidade, os anúncios tornaram-se a nova fonte de receita para os jornais. Os anunciantes passaram a representar 80% da receita publicitária das empresas de comunicação e ajudaram no desenvolvimento tecnológico da imprensa (BAHIA, 1990). O aporte financeiro deu os ajustes necessários para a aquisição de equipamentos que modernizaram a parte gráfica e permitiram às empresas jornalísticas o suporte técnico apropriado para a criação de um jornal massivo. O período pós-guerra foi fundamental para a reestruturação das empresas jornalísticas e marcou a transição da imprensa ideológica para a empresa de comunicação de massa. Os.

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