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Industrialização da imprensa

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Com a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda19, instituído em 1939, a imprensa brasileira registrou um dos episódios mais marcantes na censura à sua liberdade de expressão e de informação. A expansão industrial, no entanto, não era afetada, porque os recursos governamentais empregados na publicidade dos atos oficiais beneficiavam as empresas de comunicação, fator de fortalecimento da indústria de comunicação de massa no Brasil.

A principal arma usada pelos países para a massificação de informação foi o rádio, com propagandas sobre o governo americano. No início das atividades do Birô Internacional no Brasil, os EUA tinham apenas 12 estações de rádio em ondas curtas na América Latina, com pouca potência se comparadas às rádios inglesas, alemãs e italianas. De forma planejada, os especialistas iniciaram uma pesquisa de opinião pública para montar o projeto de transmissões radiofônicas em duas frentes, com transmissões diretas dos Estados Unidos e por intermédio de estações locais. Uma estratégia que lhes rendeu a participação em 200 estações de rádio em toda a América Latina para transmissão de informações, sendo 92 delas brasileiras (MOURA, 1993).

O intercâmbio promovido e sustentado pelo Birô Internacional influenciava todas as áreas do conhecimento e refletia na economia, na administração das empresas, na medicina e na educação – com a expansão de escolas de inglês, por exemplo.

“Embora o intercâmbio sugerisse troca de experiência e de especialistas em bases igualitárias, o movimento assumiu duas características preocupantes, primeiro, o número de americanos que vieram para o Brasil durante a guerra era infinitamente superior aos brasileiros que iam aos Estados Unidos. Em 1942, já estávamos inundados de jornalistas, radialistas, editores,

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O DIP, criado por Getúlio Vargas, atuava como canal de controle da imprensa brasileira. Nos primeiros anos de sua existência empregava escritores e jornalistas renomados como Graciliano Ramos e Vinícius de Morais. (In: DUARTE, Maria de Souza - Pompeu. Brasília. 1992. Pág. 41). Após o golpe de 1964, o DIP transformou-se no órgão de censura e perseguição aos jornalistas. Com a publicação do AI-5, o governo impôs total controle dos meios de comunicação de massa. Muitos jornais foram invadidos, depredados ou fechados pela Polícia. O Correio da Manhã e o Jornal de Brasil deixaram de circular; os diretores foram presos e as redações ocupadas por forças policiais e militares. O Correio da Manhã desapareceu de circulação. (In: Jéferson de Andrade e Joel Silveira (colaborador). Um jornal assassinado. Rio de Janeiro. José Olympio Editora. 1991). O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde tiveram suas edições apreendidas. A Tribuna da Imprensa foi submetida a atos de violência, entre os quais oito anos de censura prévia. Última Hora sobreviveu até 1971, quando Samuel Wainer foi obrigado a vendê-lo. A imprensa alternativa nesse período sofreu um rigor da censura ainda maior que a grande e média imprensa. O Pasquim teve seus diretores e principais redatores presos. Só após o fim do AI 5, com a liberdade de imprensa, a abertura política, a anistia e as eleições, nos anos 80, os meios de comunicação fizeram o balanço da tortura, do terrorismo, da censura e do autoritarismo que durou quase duas décadas. In: RIBEIRO, José Hamilton. Jornalistas – 1937 a 1997. SP. Imprensa Oficial do Estado: S.A. IMESP. 1998. 240 p.

professores, cientistas, escritores, músicos, diplomatas, empresários, técnicos, estudantes, pesquisadores de mercado oriundos do norte – o que levou o ministro Osvaldo Aranha à tirada bem-humorada de que mais uma missão de boa vontade e declaramos guerra aos Estados Unidos! (...) Os especialistas americanos vinham à América Latina ensinar suas técnicas e exibir suas realizações, enquanto que os brasileiros (os latino-americanos em geral) eram favoráveis aos Estados Unidos, com um sentimento de amizade, de boa vontade. Em poucas palavras, os brasileiros iam aos Estados Unidos para aprender; os americanos vinham ao Brasil para ensinar” (MOURA, 1993, p.50).

O tratamento intensivo ao Brasil durou entre os anos de 1940 e 1946, mesma fase em que se fortalecia a ditadura do Estado Novo, tendo como base a política de investimento dos Estados Unidos nas mais diversas áreas. O fim do Birô Internacional, porém, não encerrou o intercâmbio de informações oficiais e as conexões estabelecidas com os meios de comunicação e com as universidades, institutos culturais e empresas. A estratégia adotada era a de assegurar o espaço conquistado ao longo de seis anos de atuação sistemática sobre a imprensa brasileira, através das agências de notícias, dos filmes de "mocinhos e bandidos" e sobre a "perfeita" família americana traduzidas pela linguagem de Hollywood (MOURA, 1993).

Jacques Alkalay Wainberg (1997) avalia que o processo de industrialização da imprensa brasileira foi letárgico, se comparado com o sistema comunicacional norte- americano. “A partir de 1920, o Brasil caminha rumo à modernidade, realizando uma trajetória que os Estados Unidos começaram com intensidade a partir da segunda metade do século passado” (WAINBERG: 1997, 39). Para comprovar sua tese, o pesquisador aponta que em 1937 o Brasil tinha 220 publicações, 15 delas como veículos noticiosos; em 1954, somente no Rio de Janeiro circulavam 13 jornais matutinos e seis vespertinos e, em 1958, o país contava com 192 jornais matutinos e 76 vespertinos.

O Diário Carioca integrou esta referência histórica de transformações da imprensa brasileira e da política nacional, não apenas pelas posições editoriais que praticou durante os seus 37 anos de existência. Sua marca inconfundível deveu-se, sobretudo, ao corpo de jornalistas que se envolvia na produção jornalística inovadora e ousada.

O lado eminentemente jornalístico era formado por uma equipe coordenada por Pompeu de Sousa e composta por jornalistas como Luís Paulistano, Carlos Castelo Branco, Jânio de Freitas, José Ramos Tinhorão, Evandro Carlos de Andrade, Armando Nogueira e Gílson Campos. Do lado empresarial estavam Horácio de Carvalho Júnior, proprietário do

jornal, e José Eduardo de Macedo Soares, que dirigia a linha editorial do jornal e encampava os interesses da elite econômica nacional (DUARTE, 1992).

O Diário Carioca introduziu significativas inovações na imprensa brasileira, com o uso do lide e a presença de um corpo de copidesques em sua redação. Segundo Deodato Maia, secretário do jornal de 1949 até o momento em que este encerrou suas atividades, a qualidade de seu Jornalismo, se tomada em termos estritamente profissionais, podia ser atestada pela presença de jornalistas que se destacaram na imprensa como um todo20.

Além dos jornalistas já citados, passaram pelo Diário Carioca os cronistas Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Antônio Maria, Rubem Braga, Otávio Bonfim, Otto Lara Resende; os poetas Thiago de Mello e Vinícius de Morais; os cronistas sociais Jacinto de Thormes e Jean Pouchard; os críticos Antônio Bento, Paulo Francis, Ricardo Galeno, Francisco Pereira da Silva e Sábato Magaldi, além de Nilson Lage, Nilson Viana, Epitácio Timbaúba, Américo Palha, Hélio Fernandes, Carlos Lacerda e José Carlos de Oliveira; o comentarista internacional Newton Carlos e o redator político Hermano Alves, entre outros (DUARTE, 1992).

Na direção da redação estava o jornalista que pensou no processo de atualização da linguagem jornalística, Roberto Pompeu de Sousa Brasil. Sua ação pioneira teve como cenário a década de 50, propícia para as inovações que aconteciam em todo o país, com o processo de industrialização dos meios de comunicação.

O Diário Carioca foi o primeiro a aderir às técnicas norte-americanas, introduzindo contribuições que até hoje são reconhecidas pelo Jornalismo moderno. Na realidade, a época proporcionou um conjunto de modificações pelo estabelecimento definitivo da indústria cultural, com a massificação do rádio, o surgimento da televisão, o cinema e os discos. “O Brasil vai rompendo com as velhas estruturas, velhas relações de produção (...) O Brasil atravessava uma fase de expansão capitalista (...) Em todas as áreas regidas pelas relações capitalistas, a imprensa atingiu a etapa de empresa, a etapa industrial” (SODRÉ, 1983, p.392). O desenvolvimento da imprensa no Brasil esteve ligado ao desenvolvimento econômico do país, ou seja, houve condições específicas para aprimorar as técnicas utilizadas, mais especificamente a forma sobre como divulgar um fato, a apresentação da notícia (SODRÉ, 1983). É nesse momento que as redações exigiram investimentos tecnológicos, com a aquisição de máquinas mais sofisticadas para darem conta da produção dos periódicos, pelo

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Depoimento registrado no Dicionário de Verbetes da Fundação Getúlio Vargas – Centro de Pesquisa e Documentação Histórica – In: LEAL, Carlos Eduardo - Diário Carioca http, //www.cpdoc.fgv.br Acesso em 11 de novembro de 2003.

crescimento do número de leitores. A divisão de trabalho nas redações passou a ser uma necessidade intrínseca a este desenvolvimento empresarial, com a presença de profissionais mais qualificados, de intelectuais que conseguissem transitar por várias áreas do conhecimento para atender à demanda de um público sedento pelo saber e pela informação.

As informações circulando pelo rádio, desde seu nascimento em 1922, davam o aspecto de modernidade que passou a mover a imprensa, que procurava agilizar o processo de impressão dos periódicos. Até 1925, nos maiores centros urbanos do país, a Marinoni era a rotativa usada para a impressão de jornais médios e pequenos. “Na época, as grandes tiragens oscilam entre 30 mil e 60 mil exemplares. De 1928 em diante, com rotativas Man, a imprensa diária e semanal generaliza a cor, os cadernos, os encartes e os suplementos” (BAHIA, 1990, p.201), agilizando a impressão com uma única matriz, com reprodução de alto padrão.

A expansão industrial da empresa de comunicação estava inserida no contexto nacional do fortalecimento do capital nas empresas brasileiras. A imprensa, para se firmar neste território industrial, passou a buscar “novos consumidores de leitura” (BAHIA, 1990, p.202). Dessa forma, estava sendo desenhado o caminho a ser trilhado pela imprensa a partir dos anos 50, quando o sistema de comunicação estava em pleno desenvolvimento com o funcionamento do telégrafo, dos correios, das ferrovias e rodovias, das linhas aéreas, além do telefone e do telex (COSTELLA, 2002).

“O Jornalismo entrara, ainda que timidamente, numa faixa de operação industrial que contrasta com a tradição boêmia, ativista, idealista nas fases anteriores. O jornal mito, identificado com a visão personalista do seu proprietário, cede lugar ao jornal-empresa. O progresso da imprensa reflete a do país, a retificação de concepções, teorias e práticas que rompem com velhas fórmulas e redescobrem valores, caminhos, objetivos, inspirados nas suas imensas potencialidades naturais. As reformas em andamento na sociedade afetam o Jornalismo, onde atuam a elite intelectual e a classe política” (BAHIA, 1990, p.203).

O passo seguinte a esta modernização empresarial seria o da qualificação editorial, para garantir as necessidades do novo perfil de leitor que a sociedade industrial produzia. Pompeu de Sousa, que ficou um ano nos Estados Unidos realizando programas para as rádios NBC (National Broadcasting Company) e CBS (Columbia Broadcasting System), trouxe na bagagem um cabedal cultural que revolucionou as técnicas jornalísticas brasileiras. Somado à prática redacional, adquirida no Diário Carioca durante a atuação como editor de internacional, com a publicação da coluna A Guerra Dia a Dia, que sistematizava informações fornecidas por várias agências de notícias sobre a Segunda Guerra Mundial,

Pompeu de Sousa reuniu seus conhecimentos e produziu um novo padrão jornalístico para o Jornalismo Brasileiro. Inicialmente, transformou o DC num jornal moderno na apresentação dos fatos, com uma linguagem mais dinâmica e objetiva.

Seu esforço estava em seguir e fazer seguir rigidamente as regras do lide, uma iniciativa que deu a Pompeu de Sousa o título do jornalista responsável pela reforma mais ousada na história da imprensa. Em 1950 apresentou o Style Book – considerado o primeiro manual de redação brasileiro, com indicações e padronizações técnicas da linguagem objetiva, concisa, direta que até hoje é a base para a construção da notícia.

Na direção do Diário Carioca estava Danton Jobim, também adepto da técnica norte- americana e um dos pais da objetividade jornalística na Brasil, com uma contribuição que ajudou a colocar a imprensa brasileira na modernidade (LINS DA SILVA, 1992, p.14). Jobim defendeu que o Style Book representava uma conseqüência das “condições impostas pelo desenvolvimento da indústria jornalística mais do que do temperamento americano ou da american way (JOBIM, 1992, p.83) e reconheceu as vantagens de adotar o manual de redação devido ao melhor desempenho do repórter, “quando ele escreve dentro da medida padrão, do cânone, imposto pelas exigências da tipografia e da paginação. O limite certo o obriga a esquematizar as idéias e os fatos a narrar” (JOBIM, 1992, p.47).

Na chefia de reportagem, Luís Paulistano que, envolvido nesse espírito inovador, acrescentou ao lide, o sublide. O resultado imediato se deu nas bancas: o jornal passou a vender de 30 a 45 mil exemplares nos dias úteis e 70 mil aos domingos, um recorde para a época (SODRÉ, 1983).

O Diário Carioca foi impresso por uma rotativa Marinoni durante toda sua existência. Até a adoção do Style Book imperava em suas páginas o nariz-de-cera, assim como em todo jornal brasileiro. Pompeu de Sousa, em depoimento aos jornalistas Aristélio Andrade, Luiz Paulo Machado e Maurício Azevedo, em 1978, explicou o motivo que o levou a modificar os padrões da imprensa brasileira. “O jornal inicial foi um panfleto em torno de dois ou três acontecimentos que havia a comentar, mas não a noticiar. (...) Quando a complexidade dos acontecimentos foi obrigando o jornal a se transformar num veículo de notícias (...) com a ocupação e o dinamismo que foram tomando conta da vida, ninguém mais tinha tempo de ler este tipo de noticiário (...) o leitor queria se informar”, (DUARTE, 1992, p.44).

A avaliação de Pompeu de Sousa sobre a expectativa do leitor e a necessidade de transformar o Jornalismo numa linguagem mais informativa, a fim de acompanhar as mudanças vivenciadas pela própria sociedade, comprova seu espírito inovador, sempre atento às novas idéias e propostas. Tal percepção, aprimorada por sua experiência na redação do

Diário Carioca e durante sua estadia nos Estados Unidos, criaram as condições que marcaram sua trajetória profissional na imprensa brasileira.

3 CAPÍTULO II - A VIDA NO RIO DE JANEIRO

A família de Pompeu de Sousa era preeminente no Ceará. Oligárquica, dominava a política naquele estado, onde possuía uma fazenda. O bisavô, Tomás Pompeu de Sousa Brasil (PLIB), nasceu em 1818, em Santa Quitéria. Foi deputado geral entre 1845 e 1847; deputado geral federal, em 1848; e senador entre 11 de fevereiro de 1864 e 2 de setembro de 1876: foram 15 anos de mandato público. Além de ter sido sacerdote, foi professor e, como jornalista, ajudou a fundar o jornal liberal O Cearense, em 1846. Assumiu a direção de Instrução Pública do Ceará e fundou o Liceu Cearense, sendo seu primeiro Doutor. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Societé de Geographie de Paris. Como político, votou a favor da Lei do Ventre Livre. Quando assumiu a cadeira de senador do Império, abandonou o sacerdócio, época em que teve o filho Antonio Pompeu de Sousa Brasil, médico que também foi eleito deputado provincial do Ceará, pai de Roberto Pompeu de Sousa Brasil.

Pompeu de Sousa nasceu em 22 de março de 1916. Chegou ao Rio de Janeiro com 15 anos, carregando na mala o sonho de fazer o curso de Direito. Um sonho que trouxera de sua terra natal, o município cearense de Redenção21, o primeiro a libertar os escravos, quatro anos antes do resto do Brasil. Foi educado em casa, pelo pai que, em função dos exames probatórios, avançou a idade dele em dois anos. Quando morreu, tinha 75 anos biológicos e 77 anos oficiais.22

Aos 18 anos de idade, o filho de Antônio e Olímpia Pompeu de Sousa Brasil foi professor interino de Língua Portuguesa no Colégio Pedro II23, considerado o colégio padrão do país (DUARTE: 1992), entre 1936 a 1938. Na Escola Amaro Cavalcanti, da Prefeitura do Distrito Federal, lecionou História da Civilização, no mesmo período. Aos 22 anos pisou, pela primeira vez, na redação do Diário Carioca, onde ajudaria a construir parte da história da imprensa e teria o estímulo para participar da política brasileira.

Era amigo de Assis Chateaubriand, que sempre lhe cobrava o fato de não ter ido trabalhar nos Diários Associados.

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Redenção é o seu nome, em homenagem à cidade que serviu de exemplo como primeiro município brasileiro a abolir a escravatura, cinco anos antes da princesa Izabel assinar a Lei Áurea. A cidade era conhecida como "Rosal da Liberdade", com uma área de 240,70 quilômetros quadrados, limitando-se ao norte com Palmácia e Guaiúba, ao sul com Aracoiaba, à leste com Acarape e Barreira e à oeste com Pacoti e Baturité.

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Nesta tese, a idade de Pompeu de Sousa sempre estará respaldada no registro oficial de seu nascimento

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O ensino no Colégio D. Pedro II era apontado como de primeira linha; teve em seu quadro docentes personalidades como Benjamin Constant e ajudou a formar a elite intelectual brasileira. In: FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1959. 352 p.

“Nós mantivemos, ao longo de um período muito extenso da nossa vida, um namoro que nunca chegou em casamento, porque eu me tornara, de foca, primeiro em chefe de redação, depois diretor do Diário Carioca; mas Chateaubriand jamais me perdoou por não ter ido para os Diários Associados. Cada vez que nós nos encontrávamos, ele me exprobava com aquela sua voz característica: “Seu Pompeu, você é um comandante de longo curso, não pode comandar o Diário Carioca, tem que comandar um transatlântico, porque o Diário Carioca é uma falua, o Diário Carioca é uma falua!” (POMPEU, 1988, 25).

Quando Pompeu de Sousa conheceu Othília, ele já era pai de Ana Elizabete Pompeu de Sousa e Luciana Pompeu de Sousa, filhas de seu primeiro casamento. Os amigos não sabiam do romance que ele mantinha com Othília. Era um segredo. Com ela teve mais quatro filhos: Sonia Regina Pompeu de Sousa, Roberto Pompeu de Sousa, Ricardo Pompeu de Sousa e Ana Lúcia Pompeu de Sousa. Quando morreu, em 1991, tinha oito netos.

O romance começou em 1949, quando Pompeu tinha 33 anos e ela 17. Eles se conheceram na Confeitaria Colombo, que ficava na rua Gonçalves Dias. Ela era professora de datilografia na Escola Remington, que ficava na área central do Rio de Janeiro, se recorda Othília Pompeu de Sousa. “O casamento foi por amor. Eu tinha uma admiração muito grande por ele, pela inteligência dele, pelo que ele sabia, sabia tudo. Ele me dizia: ‘Meu amor, o jornalista tem que saber de tudo um pouco’. E ele me dava livros para ler. Ele era bem gordinho e eu não gostava de homem gordo. Primeiro foi a admiração intelectual”24. Um ano depois, estavam vivendo juntos, um casamento que durou 41 anos.

Homem das artes e da cultura, Pompeu era apaixonado por literatura, cinema e música, com um gosto especial por Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Apreciava Chico Buarque, Cartola e Noel Rosa. Adorava os clássicos, principalmente Mozart, Beethoven e Bach. Mozart 40 era a sua sinfonia preferida, mas sempre ouvia o Adágio, de Romasco Abbinoni, e as Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos. Quando via a televisão questionava: “Por que tanta violência?"25

Nas páginas do Diário Carioca escrevia críticas de teatro, que eram publicadas na primeira página e assinadas como Roberto Brandão. O pseudônimo era usado para que o homem que apreciava o mundo das artes não fosse confundido com Pompeu de Sousa, o jornalista político que acompanhava os passos do governo federal. Os leitores desconheciam esta faceta literária e apenas a redação sabia a verdadeira identidade de Roberto Brandão.

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Entrevista de Othília Pompeu a autora, em entrevista realizada em 14 julho de 2004, em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro.

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Entrevista de Othília Pompeu a autora, em entrevista realizada em 14 julho de 2004, em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro.

Com os amigos se encontrava na Confeitaria Colombo, no centro do Rio de Janeiro. Neste círculo de amizades, Prudente de Morais Neto e Castelo Branco, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ziraldo, Nelson Rodrigues e Augusto Frederico Schmidt.

A amizade que nutria por Nelson Rodrigues não o impedia de discutir com ele sobre futebol, sua terceira paixão. Nelson torcia pelo Fluminense e Pompeu, para o Botafogo. Como jornalistas, tinham credencial para entrar no campo de futebol. Nelson, que havia perdido o documento, emprestou a credencial de Pompeu e a perdeu. “Houve um desentendimento entre eles”26, que acabou por separá-los. Pompeu conheceu Nelson Rodrigues em 1943, quando ele publicou Vestido de Noiva. “Eu fiquei fascinado pelo teatro dele. Eu estava recém-chegado dos Estados Unidos, onde tinha descoberto o teatro universal e, até então, o Brasil tinha um

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