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Modernização

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A cultura dos Estados Unidos estava ligada à modernização. Representou uma força paradigmática para a imprensa brasileira, retirando-a do estado letárgico, acomodado no espírito europeu, em que se encontrava desde seu nascimento no Brasil até a adoção e expansão do modelo norte-americano, que atraiu a atenção de vários brasileiros que pisaram o solo da América, como Gilberto Freyre e Monteiro Lobato.

No início do século XX, um dos primeiros jornalistas a se encantar com o estilo norte- americano foi Gilberto Freyre11, que esteve nos Estados Unidos entre 1918 e 1923 e escrevia regularmente para o Diário de Pernambuco. Ao pesquisar sua vida, José Marques de Melo aponta ter sido ele o responsável pela primeira tentativa de implantar um manual de redação na imprensa brasileira, quando dirigia o jornal A Província, em Pernambuco, entre os anos de 1928 e 1930 (MARQUES DE MELO, 2001).

A ousadia, para a época, possibilitou noticiário mais exato, com reportagens e entrevistas que enfatizavam o Jornalismo de campo e não o de gabinete. “Em 1929 dizia que faria de A Província um jornal diferente (...) nada de dizer progenitor ao invés de pai, nem genitora ao invés de mãe” (MARQUES DE MELO, 2001, p.52). Era a primeira iniciativa, em Pernambuco, para americanizar o estilo de fazer Jornalismo no Brasil, introduzindo no jornal uma linguagem mais objetiva. “Ninguém lia n’A Província lugares comuns gritantes, palavras gastas pelo uso indiscriminado que se fazia delas” (RABELLO, 1978, p.39).

Esta não seria, entretanto, uma ação isolada. No Rio de Janeiro, o jornalista José Carlos Rodrigues também se mostrava adepto da linha editorial menos opinativa e mais

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Gilberto de Melo Freyre nasceu em Recife em 1900. Bacharel em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade de Baylor, Texas, em 1920, fez pós-graduação em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais pela Universidade de Columbia, também nos Estados Unidos. Era professor de Sociologia da Escola Normal de Pernambuco entre 1928 e 1930, quando foi convidado a lecionar na Universidade de Stanford (EUA) como professor-visitante. Os dados estão disponibilizados no site da Fundação Getúlio Vargas – Centro de Pesquisa e Documentação Histórica.

informativa, utilizando notícias da agência Havas e de correspondentes nacionais e internacionais para o Jornal do Commércio12. Ex-correspondente nos Estados Unidos, Rodrigues assumiu a direção do periódico em 1891, quando iniciou as modificações editoriais - com repórteres e redatores publicando colunas fixas, notícias, reportagens e pequenas notas; - e administrativas, ao definir horário para fechamento da edição e distribuição nas ruas (BARBOSA, 2000).

Tais iniciativas demonstram que os jornalistas não estavam unidos em torno de um único estilo e que alguns, tendo como exemplo o estilo norte-americano, resistiam à padronização européia na imprensa brasileira, procurando novos conceitos jornalísticos. Nessa linha de inovadores está Monteiro Lobato que, ocupando o cargo de adido comercial do Brasil nos Estados Unidos, em 1927, onde morou durante quatro anos, se encantou com o progresso existente na América. Ele vibrou com o estilo american way of life e, imaginando o mesmo para o Brasil, concluiu que “o país necessita de investimentos para seu desenvolvimento industrial” (MARÇOLA e MARQUES DE MELO, 2003, p.60).

Monteiro Lobato, em seu livro América (1966), definiu que a Europa era o sinônimo do ontem e que os Estados Unidos preservavam o hoje e seria o único país a ter o amanhã, deixando claro seu entusiasmo pela civilização norte-americana e por sua política desenvolvimentista. Durante período que permaneceu nos EUA, o escritor brasileiro observou a vida do americano, os programas de rádio, o convívio nos restaurantes, nas bibliotecas e no cinema e descreveu que os jornais e a literatura “satisfazem uma solicitação do povo” (54), sempre em busca do novo.

“O novo está acima da loucura imaginativa de Júlio Verne. O rádio, a ligação de todo o continente por telefone, o cinema falado, a televisão, o aeroplano e o dirigível, a mass production, a máquina de multiplicar-se com velocidade que mal permite a adaptação do homem... O passado não mede, não define, não traduz o que criamos de novo” (LOBATO, 1966, p.160). O encantamento de Monteiro Lobato foi desde o costume de se formar fila, demonstrando um jeito disciplinar de viver, à simplicidade dos americanos ricos, por não anunciarem a fortuna que possuem, “como certos indivíduos da minha terra, que, com apenas

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A pesquisadora Marialva Barbosa narra as tentativas de José Carlos Rodrigues em americanizar a imprensa carioca no início do Século XX, com modificações que implementou no Jornal do Commércio, uma história registrada no livro Os donos do Rio – imprensa, poder e público, Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 2000. 292 p. Parte desta história está no artigo José Carlos Rodrigues. Um jornalista que fez e desfez presidentes. Publicado na Revista Imprensa, edição de janeiro e fevereiro de 2002, em parceria com o Prof. Dr. Marques de Melo. P. 54-59

algumas centenas de contos empatados em hipotecas, cheiram ou fedem a dinheiro a vinte passos de distância” (LOBATO, 1966, p.220). Esta comparação, que chega a menosprezar o estilo de vida brasileiro, revela que estava completamente influenciado pela elite européia. Um exemplo a ser seguido, na opinião de Lobato, era Nelson Rockefeller13 que organizava e patrocinava “obras de socialização (...). Quem é Rockefeller hoje senão um redistribuidor para fins sociais?” (LOBATO, 1966, p.222).

Um encantamento que já se revelava no diário de viagem de Hipólito da Costa, quando esteve nos Estados Unidos, em 1798, para estudar a economia agrícola daquele país, atendendo solicitação de Portugal. O objetivo de sua viagem era verificar se as técnicas utilizadas nos EUA poderiam ser adotadas na então colônia, um trabalho que lhe possibilitou atuar como repórter, pesquisando, entrevistando e relatando suas experiências (MARQUES DE MELO, 2001).

Na realidade, como aponta Moniz Bandeira (1973), os brasileiros olhavam para os costumes, a política e o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos desde o século XVIII, país considerado como um modelo de governo, primeiro para a Independência brasileira e, depois, para a Proclamação da República.

Um modelo que despertou também a atenção do francês Aléxis de Tocqueville, quando esteve nos Estados Unidos entre 1831 e 1832 para conhecer o sistema penal e se impressionou com o pensamento político norte-americano, pela igualdade de condições, pelos direitos constitucionais, pela organização do poder judiciário e pelo fortalecimento do Estado de Direito. “Os Estados Unidos combatem o duvidoso para manter o espírito de nação, de interesse geral. Seu governante deve ter a visão do futuro” (TOCQUEVILLE, 1977, p.410).

Gilberto Freyre, quando analisou o desenvolvimento da sociedade brasileira em Ordem e Progresso (1959) admitiu que houve assimilação dos modelos norte-americanos e europeus, nos séculos XIX e início do século XX, “num desejo pelo progresso”. “Havia o espírito pelo progresso e o sentimento de vergonha por sermos um país atrasado em progresso técnico, científico e industrial” (FREYRE, 1959, p.62). Assim, se justificavam os intercâmbios com os Estados Unidos para jovens que voltassem aptos a transformar o Brasil num país industrial e comercial e de homens práticos.

Enquanto isso, os EUA olhavam o Brasil em termos comerciais (BANDEIRA, 1973, p.19). Uma relação de interesses diversos que dividia a elite brasileira, alguns com

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O empresário Nelson Rockefeller esteve no Brasil após a Segunda Guerra Mundial atendendo aos interesses dos Estados Unidos, amparado pela CIA, no combate ao comunismo e na conquista do território, principalmente da Amazônia, para a expansão comercial norte-americana. In: COLBY, Gerard e DENNETT, Charlotte. Seja feita a vossa vontade. São Paulo. Record. 1998.1060 p.

desconfiança da aproximação norte-americana pelas diferenças sociais e culturais e com severas críticas ao espírito mercantilista. Uma reação antiamericana que se fortaleceu, inicialmente, entre 1848 e 1855, contra a ocupação do Amazonas (BANDEIRA, 1973, p. 89) e que prosseguiu durante o século XX.

O sentimento antiamericano sempre encontrou resistência em homens como Rui Barbosa que pregava o progresso da democracia, da liberdade de imprensa e a industrialização, tendo como exemplo a política republicana dos Estados Unidos. Rui Barbosa esteve em Washington em 1876, quando conheceu o sistema político daquele país.

Depois da Proclamação da República14, o governo de Prudente de Morais se desentendeu, em termos comerciais, com os EUA e se reaproximou da Europa, quando a imprensa estrangeira noticiava que a Alemanha se preparava para apoderar-se da América do Sul (BANDEIRA, 1973, p.168).

Os conflitos de interesses dos Estados Unidos, Europa (especialmente a Alemanha e a Inglaterra) para com o Brasil foram intensamente discutidos por historiadores que buscavam entender os acontecimentos da época.

“O Brasil atravessava, àquele tempo, uma fase de progresso, sob o impacto dos capitais que as nações imperialistas, como a Inglaterra, começavam a exportar. Os avanços da tecnologia e da ciência, promovidos nos Estados Unidos pelo capitalismo, contribuíram, decisivamente para a renovação do Rio de Janeiro e de São Paulo. O grupo Light & Power (canadense) implantou a eletricidade, invenção de Thomas Edison, utilizando, amplamente, o concurso de engenheiros americanos. Oswaldo Cruz, apoiado na doutrina e nos métodos americanos sobre a transmissão da febre amarela, empreendeu a tarefa de saneamento da capital do país. A crescente internacionalização da economia obrigava o Brasil a caminhar, igualava-o nas suas necessidades, mas, ao mesmo tempo, criava novos desníveis, reforçava o poder da oligarquia latifundiária, produtora de matérias primas e compradora de produtos manufaturados, e apertava os vínculos da servidão nacional ao capital financeiro” (BANDEIRA, 1973, p.184).

Para enfrentar as resistências internas, o avanço dos Estados Unidos sobre o Brasil era meticuloso, paulatino. A política era comprar produtos brasileiros para mostrar a boa vontade com o país. Tanto que em 1912, absorviam 36% das exportações do Brasil e compravam 60% da produção do café e da borracha procedente da Amazônia.

No Brasil, os homens das décadas de 30 e 40 olhavam essas mudanças propostas com desconfiança, resistindo a elas para salvaguardar a tradição européia. Os Estados Unidos

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Gilberto Freyre afirma que mesmo antes da Proclamação da República, a cultura brasileira era influenciada pelos Estados Unidos, sempre sob o símbolo do Progresso. Tanto que os jovens que nasceram após 1889, principalmente em São Paulo, começam a estudar nos EUA, em detrimento das escolas européias. In: Ordem e Progresso. Rio de Janeiro. Editora José Olympio. 1959. 793 p.

apresentavam-se como aliados comerciais, enquanto influenciavam culturalmente o povo, introduzindo conceitos culturais, políticos e militares com o auxílio do cinema, que proporcionava a propaganda de massa do american way of life e com o jazz nos programas de rádio.

“O cinema introduziu a mentalidade da guerra, a idéia do heroísmo individual, sempre encarnado pelo americano, soldado, detetive ou cow boy. Apareciam os comics, as histórias em quadrinhos, o Super-homem e o Capitão América, símbolos do bem, do american way of life, consagrado, com a sua aparente pureza lúdica, fantástica, a ideologia da violência e da brutalidade, a mitologia do imperialismo. As crianças mascavam chicletes e bebiam coca-cola; as filhas fumavam e trocavam as saias pelos shorts e pelas calças; homens e mulheres ouviam jazz, dançavam swing e blues. O rádio divulgava a música americana; Hollywood, os ideais de beleza. A mercadoria americana ganhou prestígio. O cinema divulgava a literatura americana, as empresas de publicidade se instalavam no Brasil (T.W.Thompson, em 1930; Mc Cann Erickson, em 1935 e Grant, em 1941) e influenciavam nas opiniões dos jornais com anúncios e novas necessidades (de consumo)” (BANDEIRA, 1973, p.309).

Para essas ações, os Estados Unidos contaram com o apoio do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP15, do Estado Novo, um instrumento de censura aos meios de comunicação, que tinha por meta manter uma imagem positiva do presidente Getúlio Vargas junto à população. A troca de favores, nesse sentido, era evidente e se fortaleceu a partir de 1941, principalmente após o rompimento diplomático do Brasil com a Alemanha, Itália e Japão, em 1942 (MOURA, 1993, p.43).

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As funções do Departamento de Imprensa e Propaganda eram as de coordenar, orientar e centralizar as propagandas interna e externa, censurar o teatro e o cinema, além das funções esportivas e recreativas, organizar manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, concertos, conferências e dirigir o programa de radiodifusão oficial do governo. Na imprensa, a uniformização das notícias era garantida pela Agência Nacional. Elas eram distribuídas gratuitamente pelo DIP, que monopolizava o noticiário. O órgão atuou para difundir o rádio nas escolas e nos estabelecimentos agrícolas e industriais, com a organização do programa oficial Hora do Brasil. Em agosto de 1941, foi criado o Repórter Esso, jornal radiofônico inspirado no modelo norte-americano com notícias procedentes da United Press International (UPI). Um dos reflexos da Segunda Guerra Mundial no Brasil foi uma campanha cultural do governo norte-americano destinada a barrar a influência alemã no país. O DIP colaborou nessa campanha, que marcou a presença dos Estados Unidos no Brasil, apoiando e desenvolvendo de projetos conjuntos com a agência norte-americana criada para esse fim. Foi nesse contexto que vieram ao Brasil artistas famosos como o cineasta Orson Welles, Walt Disney e o empresário Nelson Rockefeller. Entre 1939 e 1942, o DIP esteve sob a direção de Lourival Fontes, que já dirigira o DPDC e o DNP. Seus sucessores foram o major Coelho dos Reis, de agosto de 1942 até julho de 1943, e o capitão Amílcar Dutra de Menezes, que atuou até a extinção do DIP, em maio de 1945. In: CHAGAS, Carlos. O Brasil sem Retoques 1808-1964. A história contada por jornais e jornalistas. Volumes 01 e 02. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2001. 1215 p. e CARONE, Edgard. A Terceira República (1937 –1945) São Paulo. Editora Difel, 1974. 585 p.

Para a imprensa brasileira, a estratégia era o fornecimento de notícias, monopolizando as informações, através das agências internacionais United Press e Associated Press16. Tal situação incomodava os jornalistas da América Latina e foi registrada no Primeiro Congresso Pan-Americano de Jornalistas, realizado em 1926, em Washington. O encontro da imprensa livre das Américas contou com a presença de 130 jornalistas latino-americanos, representando 20 nações, e reclamou da “má cobertura sobre a América Latina”17, indicando a necessidade de se criar uma agência noticiosa na América Latina, com jornalistas locais, para a cobertura dos acontecimentos (GARDNER, 1968).

Os sinais de americanização no estilo de vida do brasileiro se acentuaram na década de 30, com a política de boa vizinhança dos Estados Unidos com os demais países do continente americano. Essa prática levava as idéias de democracia, de liberdade, de direitos individuais e de independência, componentes ideológicos aliados a uma atuação sistemática para conquistar o Brasil. A meta dos norte-americanos era estruturar um programa político contra a presença dos alemães na América Latina, ao mesmo tempo em que fortalecia as relações comerciais: um intenso aparato para a divulgação de sua ideologia (SOUSA, 2004). Neste processo, as concepções de progresso, sustentavam-se no racionalismo, na abundância e na capacidade crítica para o trabalho, a produção e o consumo (TOTA, 2000).

Moniz Bandeira (1973) descreve esse período como de lealdade aos Estados Unidos, tendo Getúlio Vargas nutrido simpatia pelos acordos comerciais, uma situação acompanhada de perto pela imprensa desde 1927, quando o Diário da Noite, de São Paulo, anunciava que os EUA queriam assinar com o Brasil tratado de comércio sem privilégios, mas com reciprocidade.

Para que esse acordo saísse do papel, o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt fez defesas públicas, procurando eliminar os restos de simpatia que alguns

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A Associated Press, resultado de um acordo entre os principais jornais de Nova York, se fortaleceu como uma das principais agências de notícias dos Estados Unidos em 1900, enquanto que a United Press mantinha os serviços de informações desde 1882, com o trabalho de jornalistas independentes, representando a principal concorrência para AP. A competição aumentou com a cobertura da Segunda Guerra Mundial, com a aquisição de novos e modernos equipamentos para a transmissão da informação pelas agências. As duas agências representavam as principais fontes de informações sobre o conflito internacional para os países da América Latina e desempenharam os papéis de monopólio da informação e de combate às notícias produzidas pelos jornalistas de países aliados a Alemanha. In: EMERY, Edwin. História da Imprensa dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Editora Lidador Ltda. 1965, p. 585-59.

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Nos Congressos de Imprensa Pan-Americana, realizados nos anos de 1943 e 1946, os jornalistas latino- americanos reforçaram a necessidade de se contratar jornalistas locais para a cobertura dos acontecimentos na América Latina, numa crítica ao trabalho realizado pelas agências estrangeiras, em especial as dos Estados Unidos, definindo que a cobertura realizada era “inadequada”. Apenas no congresso de 1942, realizado no México, houve uma proposta para a unidade continental e para contra-atacar a propaganda nazista, num movimento que visava afastar os regimes totalitários. Nesse ano, houve a proposta para que o Instituto Pan- Americana de Imprensa realizasse troca de notícias entre os jornais do continente. In: GARDNER, Mary A. The Inter American Press Association – Its fight for freedom of the press. 1926 – 1960. Austin: Texas. 1968. p.55

brasileiros ainda nutriam pela Alemanha18, principalmente no sul do país, em razão da comercialização de arroz, carne, couro e algodão.

Em contraponto, a colonização norte-americana avançou sobre São Paulo, introduzindo técnicas de mecanização da lavoura, fundando cidades e vilas no interior do estado, a exemplo de Santa Bárbara d´Oeste e de Americana, lugares povoados pelos confederados em 1875. A condição de vida desses americanos foi narrada pelo jornal The Saturday Evening Post, em 1940, em reportagem sobre as fábricas de carroças, as plantações de algodão e sobre como introduziram a máquina de costura na vida dos brasileiros. Os americanos mostravam “o ânimo progressista, a capacidade de ação e a competência técnica” (MOOG, 1959, p.57).

Vianna Moog, em livro Bandeirantes e Pioneiros (1959), fez uma análise comparativa entre o espírito do europeu (o bandeirante) e o do norte-americano (o pioneiro), mostrando a superioridade dos Estados Unidos, por não estarem ligados ao passado e sempre voltados para “a inventividade, a novidade e a adaptabilidade ao mundo em que vive” (MOOG, 1959, p.178), enquanto que o europeu mantinha o espírito do conquistador, dilatando fronteiras em nome do Império, num esquema predatório e de exploração.

“Nos Estados Unidos um capitalismo progressista, cada vez mais cônscio de suas responsabilidades sociais. No Brasil, um capitalismo do tipo europeu, que ainda acredita em trustes e cartéis, em pequena produção e preços altos e em que as relações com os trabalhadores ainda se nutrem nos conceitos feudais e paternalistas do Século XIX” (MOOG, 1959, p.284).

Esta comparação também realizada pelos brasileiros adeptos da teoria desenvolvimentista norte-americana. Tanto que nos anos 40, os Estados Unidos apareciam como o paradigma do liberalismo e da democracia e ganhavam o apoio da Divisão de Imprensa e Publicações – DIP – do governo de Getúlio Vargas, para difundir informações positivas sobre a política norte-americana, num contra-ataque à propaganda dos países do Eixo. O sistema de comunicação brasileiro era o ponto principal para a difusão desta

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Moniz Bandeira relata que o embaixador Oswaldo Aranha tinha especial simpatia pelos Estados Unidos, enquanto que o ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa, apoiava a Alemanha, principal rival dos EUA, desde a Primeira Guerra Mundial, na conquista dos países da América Latina. O Brasil, em 1934, importava 23,67% dos produtos norte-americanos; 17,14% ingleses e 14% alemães. Em 1938 assinou acordo com a Alemanha e importou 25%, contra 24,2% dos EUA, 11,8% da Argentina e 10,4% da Inglaterra. Em 1939, com a guerra iniciada por Adolph Hitler, os alemães perdem espaço no Brasil. Nessa época, os produtos dos EUA representavam 33,5%, em 1940, 51,8% e em 1941, 60,3%. Enquanto isso, as importações de produtos brasileiros pelos EUA passaram de 32,2% em 1913 para 47,1% em 1927; de 53% em 1944 para 49,3% em 1945. In: Presença dos Estados Unidos no Brasil – dois séculos de história. São Paulo: Civilização Brasileira, 1973, páginas p.247-249.

ideologia, enfrentando todas as resistências contrárias à mudança cultural que se apresentava desde então.

O cenário da Segunda Guerra Mundial era propício para que os norte-americanos angariassem apoio não só de brasileiros contrários à política dos alemães, mas também daqueles preocupados com o enfraquecimento de países da Europa diante do avanço da Alemanha. O Brasil rompeu com esse país em 1942, quando Getúlio Vargas se aproximou de Roosevelt. “A penetração econômica e militar atingiu a superestrutura da sociedade, modificou hábitos e costumes, padrões de comportamento, consciência e linguagem” (BANDEIRA, 1973, p.309).

Neste período, o DIP mantinha sedes em Nova York e em Washington, tendo funcionários como John M. Clark, editorialista da Washington Post, e depois Francis A. Jamieson, da Associated Press. A função era emitir notícias sobre os Estados Unidos para o rádio, para o cinema e para os jornais impressos da América Latina. “Os profissionais da área tinham de contra-atacar o serviço de propaganda da Alemanha, presente na América Latina com a Agência Transoceânica Alemã que fornecia notícias e fotos a preços insignificantes” (TOTA, 2000, p.55).

O pesquisador Pedro Tota (2000) aponta que entre as publicações patrocinadas pelo

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