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A carreira profissional

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Pompeu de Sousa sempre se mostrou um apaixonado pelo Jornalismo e foi essa a imagem que passou para todos os amigos e profissionais com quem trabalhou, inclusive como professor e senador da República. Para ele, Jornalismo “é o sistema nervoso da sociedade. Então, o jornalista precisa ter sentimento da coisa pública. E, acima de tudo, é preciso paixão. Sem paixão não se faz nada de grande”.31

Em sua vida profissional, ele produziu grandes manchetes sobre a derrubada de duas ditaduras militares: a primeira sobre a queda do Estado Novo, de Getúlio Vargas, que durou oito anos; e, a segunda, sobre a queda da ditadura militar, que durou 20 anos e 11 meses “que pegou a minha geração de 40. A derrubada de ditaduras é sempre a manchete mais desejada e mais importante para um povo que luta pela liberdade32”. Teve ainda duas grandes decepções na profissão. A primeira foi ter que deixar a direção do Diário Carioca, em 1961, por causa da interferência do proprietário do jornal na linha editorial que imprimia ao periódico, contrário às ações de Jânio Quadros e a favor da posse de João Goulart na Presidência da República. Depois, em 1964, quando foi demitido na Universidade de Brasília, logo após o golpe militar.

Seu primeiro emprego como repórter aconteceu no Jornal Meio Dia33, de Joaquim Inojosa. Foi um dos fundadores do jornal, em 1939, ao lado de Oswald de Andrade, Jorge Amado e Rafael Correia de Oliveira, onde permaneceu pouco tempo. Ocorreu que o periódico, com problemas financeiros, aproximou-se da Embaixada Alemã, o que significou

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Entrevista “A história de um socialista apaixonado”, publicada por Cláudio Lysias e Luiz Augusto Gollo para Correio Braziliense edição de 16 de junho de 1991, uma semana após a morte de Pompeu de Sousa

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Declaração publicada na reportagem “Pompeu de Sousa: como o jornal pode ganhar da teve”, de Roberto Borges, Correio Brasiliense, edição de 27 de junho de 1986

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Declaração publicada na reportagem “Pompeu de Sousa: como o jornal pode ganhar da teve”, de Roberto Borges, Correio Brasiliense, edição de 27 de junho de 1986

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O jornal Meio-Dia foi fechado em 1940, por determinação do Departamento de Imprensa e Propaganda, na época dirigido por Lourival Fontes, simpatizante da política dos Estados Unidos e contrário ao nazismo. In: Lourdes Sola. O golpe de 37 e o Estado Novo. MOTTA, Carlos Guilherme (org. e introdução). Brasil em Perspectiva. 3a. edição. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1971 p. 256-282.

apoiar a política nazista da Alemanha. O jornal acompanhava atentamente as relações internacionais do Brasil com os Estados Unidos e com a Europa, principalmente da nação germânica. Na edição de quinta-feira, 09 de março de 1939, a manchete revelava que estava Estabelecido o acordo final - Entendimento entre EUA e Brasil, transmitida pela Agência de Notícias H, de Washington:

Informações coletadas junto ao Departamento de Estado ficou estabelecido acordo final entre o ministro Oswaldo Aranha e o sub-secretário de Estado Summer Wells durante reunião realizada na tarde de ontem. O texto do entendimento entre os dois paises será publicado logo depois do novo encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil com as autoridades federais. Embora a redação final do acordo seja conservada secreta, os ciclos responsáveis afirmam que as principais posições se referirão a concessão de crédito destinado a descongelar no Brasil as contas comerciais atrasadas dos exportadores dos EUA; a concessão de créditos destinado a facilitar o desconto sobre as vendas dos produtos dos EUA; o auxílio destinado para a formação do Banco Central do Brasil. Um dos pontos mais importantes do acordo será, sem dúvida, esperar a cooperação do governo americano na concessão e facilidades para a colocação de determinados artigos no mercado brasileiro. Dentro esses, é preciso destacar em primeiro lugar o material ferroviário, pois aqui não é segredo que um dos pontos principais do grandioso plano qüinqüenal, instituído recentemente pelo presidente Getúlio Vargas, é o aumento e o aperfeiçoamento da rede ferroviária no Brasil, tidos como um fator preponderante para mobilizar em grande escala as incalculáveis riquezas do hinterland brasileiro, para quais parece iminente uma fase de progresso sem paralelo na história do Brasil. Antecipa-se outros que o acordo ianque brasileiro prevê um auxílio dos EUA no caso do Brasil resolver a criação do Banco Central. É possível também que o acordo faça referência para a criação de uma cooperação brasileira - Cooperação Industrial Ianque Brasileira.

Na página 2 da edição de 9 de março de 1939, Meio Dia destacava a informação de que Brasil e EUA permanecem unidos para a defesa contínua da paz, tendo em vista o conflito europeu. O acordo político era traçado por Carlos Martins Pereira e Sousa, embaixador do Brasil, junto ao governo do presidente Franklin Roosevelt. A notícia mostrava a intenção dos dois países em “em manter os ideais e aspirações pelos quais os EUA e Brasil procuram manter o rigor do Direito Internacional para o estabelecimento da ordem e da paz”.

Este acordo, com repercussão no noticiário do jornal Meio Dia, de 10 de março de 1939, explicava que havia a promessa do Brasil que “assumiu o compromisso de estabelecer o pagamento de suas dívidas de 357 milhões de dólares em moeda ianque (...) e a virtuosa soma de quase 20 milhões para a disposição da representação sul-americana pelo Banco de Exportações e Importações”, para que o governo brasileiro “controlasse o movimento de moedas estrangeiras no seu território”.

O Jornal Meio Dia se intitulava um jornal do povo e falava tanto para os homens intelectuais do Rio de Janeiro quanto para a elite que administrava o país. Cobria desavenças

trabalhistas, eleições de sindicatos, esportes, campeonatos locais de natação, futebol, hóquei, os acontecimentos do meio artístico, programações nos cinemas e teatros, assim como questões políticas e econômicas que envolviam o desenvolvimento do Brasil. Dava orientações sobre saúde pública, como a matéria que saiu no dia 14 de março de 1939, página 05, com o título: Não beba o primeiro jato da torneira – “Cólicas intestinais, hepáticas, vômitos e equitericeas, cefaléia etc são as graves conseqüências deste soluto, são de chumbo, são venenos musculares”. O jornal explicava que a intoxicação no Rio de Janeiro era causada pelos encanamentos de chumbo e recomendava à população que não bebesse “água do cano de chumbo”.

As notícias sobre a Segunda Guerra Mundial eram oferecidas pela agência United Press para o Meio Dia. No dia 25 de março de 1939, a manchete foi: Começou a guerra. Aviões húngaros bombardearam a cidade de Zipeneutorf. Porém, aos poucos, o jornal passou a dar mais espaço para as ações alemãs. Na edição de 20 de abril de 1939, página 3, a prioridade foi o aniversário de Hitler, com o título: O povo alemão celebra hoje o aniversário de seu Führer, com o subtítulo “Marcar-se-ão de grandiosidade inédita as homenagens que serão prestadas hoje a Adolph Hitler”, com uma foto do líder nazista no meio da página:

“A grande Alemanha tributa hoje oficialmente excepcionais homenagens a Adolph Hitler, chanceler do Riech e Führer do povo alemão. Sobressaindo entre as grandes figuras de seu tempo pela impetuosidade de as decisões com que vem agindo no cenário internacional, por mais infesso que se seja a ideologia que ele criou, a sua personalidade é dessas que atraem (...) O sr. Adolph Hitler completa hoje 50 anos e a efemeridade está sendo festejada com diversas manifestações em toda Alemanha. Os germanos gostam do kolossal e é compreensível que a ele recorram em se tratando de exaltar um homem que os vai conduzir no consenso deles para destinos pessoalmente magníficos. Lançando um olhar através da campina alpestre de Berchtesgaden, dizia o senhor Hitler em recente discurso: a sua emoção toda a vez que divizava a vizinha paisagem austríaca, onde seu pai vivera e lhe guiara os primeiros passos na vida. Que vertiginosa ascensão depois disso. A infância humilde, a adolescência sonhadora e a mocidade decorrida entre o estudo e a modesta profissão de pintor de portas e paredes e agora na maturidade como chefe supremo da grande Alemanha. Devemos convir que ao sr. Hitler só há razões para orgulhar-se e os alemães com ele (...)”.

A publicação da matéria marcou a mudança da linha editorial do jornal Meio Dia, envolvendo-se favoravelmente às ações da Alemanha, com a divulgação das fotos de Hitler para mostrar a ascensão da Alemanha sobre a Europa. Uma ação editorial que pode ser percebida pela origem do material publicado. Na primeira página do dia 20 de abril de 1939, o jornal anunciava que as notícias vinham “diretamente de Berlim” e, com o título Força!,

mostrava as festas comemorativas do aniversário do Füher e o poder militar do Riech, produzidas especialmente para o Meio Dia:

“O aniversário do Fürher está sendo comemorado com brilho extraordinário. As ruas de Berlim estão profusamente enfeitas com bandeiras da cruz gamada, com retratos do chanceler de todos os formatos e todas as cores. Esses retratos estão geralmente cercados de flores e folhagens e ontem à noite estiveram rodeados de velas acesas. As primeiras horas na Alemanha a circulação era dificultada por destacamentos de tropas e grupos de nazistas uniformizados que e dirigiam aos lugares das diversas manifestações e verdadeira multidão está seguindo desde as 8 horas da manhã para o lugar onde às 11 horas deve se realizar a grande parada. Muita gente carrega caixas e escadas para ver melhor e com mais comodidade o desfile das tropas. A guarda pessoal do Fürher, que encerrou as cerimônias de ontem, inaugurou também as de hoje. Às 8 horas, a banda da guarda tocou alvorada embaixo da janela do chanceler e às 9 horas realizou-se diante de Fürher o grande desfile. Após a guarda pessoal, seguiu-se o batalhão da honra da polícia. As cerimônias oficiais e as felicitações começaram logo em seguida”.

Todas as edições de maio de 1939 referem-se à Segunda Guerra Mundial, com notícias e fotos produzidas em Berlim e encaminhadas para a redação pela agência Transocean. O material era publicado sempre na primeira página, com destaque de que era exclusividade para o Meio Dia. Na edição do dia 8 de junho de 1939, primeira página, há uma foto de soldados nazistas sendo cumprimentados pelo alto escalão alemão. O marechal Goiring, ministro do ar do Reich, distribuía condecorações aos voluntários da legião Kondor, que combateram pela vitória de Franco, na Espanha, após a sua volta ao Reich. Na edição de 12 de julho de 1939, também na primeira página, as fotos mostram o poderio bélico da Alemanha, com uma vista interna “da cabine do ultramoderno” avião de combate alemão DOG 215. Mostra ainda uma foto do primeiro ministro da Bulgária, Kjosseivanoff, depois de fazer uma visita ao Fuher Adolph Hitler.

A linha editorial, porém, estava vinculada à necessidade financeira que o jornal de Inojosa enfrentava. A aproximação à Embaixada Alemã no Brasil permitiu ao Meio Dia anunciantes alemães, principalmente os bancos. Na edição de 17 de novembro de 1939, página 3, foi publicada a publicidade do Banco Germânico da América do Sul, com destaque para o fundador: Dresdner Bank, anúncio conseguida com o apoio da Diplomacia Alemã do Brasil. O mesmo anúncio foi repetido na edição de 21 de novembro de 1939; na edição de 21 de novembro, na página 5, novo anunciante: Banco Alemão Transatlântico, Deutsch Ueberseeieshe Bank; na edição do 22 de dezembro de 1939, página 3, nova publicidade do Banco Germânico.

Meio Dia era favorável à política alemã, em plena Segunda Guerra Mundial, o que afastou Pompeu de Sousa de sua redação, o que lhe abriu oportunidade para trabalhar no

Diário Carioca. Sua contratação aconteceu em junho de 1940. Nessa época, o jornal já tinha disposição diferenciada para as matérias, com nova formatação gráfica, sem o joelho (matérias quebradas, que continuam na página seguinte), alinhadas em colunas com começo, meio e fim.

O Diário Carioca era um jornal com a aparência clara, com a impressão nítida das matérias. Suas páginas tinham alinhamento, diagramação harmoniosa e as matérias principais eram acompanhadas por boxes. Na década de 40, ensaiava a modificação gráfica e editorial que passou a ser sua marca registrada a partir de 1950, uma forma de preparar o terreno para o leitor, para as mudanças mais significativas na linguagem, com seus títulos mais fortes e mais diretos.

A apresentação gráfica do DC demonstrava a preocupação de Danton Jobim com a leitura do jornal, com o espaço e com a quantidade de informações que deveriam ser publicadas. Danton Jobim procurava alternativas para que a imprensa priorizasse seu papel informativo, com notícias curtas, concisas e objetivas para os leitores da década de 40. Uma lição apreendida pelo aluno Pompeu de Sousa, que assimilou todo o ensinamento dado por seu professor, superando-o na iniciativa de inovação técnica ao defender a transformação do Jornalismo Brasileiro.

Entrar para a equipe do Diário Carioca representou uma guinada em sua carreira jornalística. Pompeu de Sousa chegou à redação com o respaldo do dono do jornal, Horácio de Carvalho Júnior, apresentado por seu contraparente Augusto Frederico Schmidt34, que tinha como iniciativa patrocinar jovens que julgava talentosos.

“Quando entrei no Diário Carioca o Jornalismo era feito à base do nariz-de- cera, que era a introdução à notícia. Ninguém publicava em jornal nenhuma notícia que um garoto foi atropelado aqui em frente sem antes fazer considerações fisiológicas e especulações metafísicas sobre o automóvel, as autoridades do trânsito, a fragilidade humana, os erros da humanidade, o urbanismo do Rio. Fazia-se primeiro um artigo para depois, no fim, noticiar

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O poeta Augusto Frederico Schmidt trabalhou, no começo da década de 1920, como balconista na Livraria Garnier, no Rio de Janeiro, e foi caixeiro viajante da Casa Carlos V. Pinto, fabricante de aguardente e álcool. Em 1928 publicou as obras poéticas Canto do Brasileiro e Cantos do Liberto. Conviveu com autores modernistas, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Em 1931 fundou a editora Schmidt, que publicou obras como Caetés, de Graciliano Ramos, e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Entre 1948 e 1964 foram publicados seus livros O Galo Branco, Paisagens e Seres, Discurso aos Jovens Brasileiros, As Florestas, Antologia de Prosa e Prelúdio à Revolução. De 1956 a 1966, foi representante do Brasil na Operação Pan- Americana, delegado do Brasil na ONU e embaixador na Comunidade Econômica Européia. Publicou inúmeros livros de poesia, entre os quais Estrela Solitária (1940), Mensagem aos Poetas Novos (1950) e O Caminho do Frio (1964). Faleceu em 1965. Os dados sobre o poeta estão em BANDERIA, Manuel Bandeira - "Soneto em Louvor de Augusto Frederico Schmidt" In: Poesia completa e prosa. 4a. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. p 745 e BANDERIA, Manuel Schmidt, poeta e economista. In: ANDRADE, Carlos Drummond (Seleção e coordenação de). In: Andorinha, andorinha. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1966. .385 p.

que um garoto tinha sido atropelado defronte a um hotel” (ANDRADE, MACHADO E AZEDO, 1978, p.24).

O processo de construção do texto jornalístico representava a remanescência das origens do Jornalismo, como reflexo da prática européia de comentar, explicar o fato e não apenas noticiar.

“Uma das marcas do Jornalismo dos anos 50 foi a paixão política. O debate político conduzido pelos partidos de maior penetração nacional – de um lado o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de outro a União Democrática Nacional (UDN) – dominou o espaço de todos os jornais de grande circulação do período, o que os levou muitas vezes a ter papel ativo nas crises que sacudiram o país" (ABREU, 2002, 12).

Além da forma como o texto era produzido, Pompeu de Sousa revelou que havia um desnível de qualidade do texto jornalístico e desorganização nas páginas dos jornais. Para fugir destas formatações desequilibradas “o leitor acabou arranjando um processo de burlar o nariz-de-cera: se ele queria se informar, lia o último parágrafo, fazia o lead, o lead às avessas” (1978, p.24).

A tarefa de Pompeu na redação do DC era cuidar das notícias internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Escrevia a seção A Guerra Dia a Dia, estimulado por Danton Jobim para produzir um noticiário “concatenado, ordenado, sistemático e coerente”35. Nesse momento, o jornalista percebeu as diferenças dos textos jornalísticos utilizados pelas agências de notícias e o texto produzido pelos brasileiros.

A publicação da primeira coluna aconteceu no dia 21 de maio de 1940, em primeira página do jornal, edição 3658, terça-feira, dia de São Marcos. A proposta apresentada por Danton Jobim era que Pompeu divulgasse os resumos das principais informações do dia, fazendo uma síntese de todo noticiário recebido das agências de notícias, como descreve a apresentação da coluna aos leitores:

“Iniciamos hoje a publicação diária da seção “A Guerra Dia a Dia” na qual procuraremos resumir e coordenar nosso amplo noticiário sobre as operações militares. Os nossos eleitores terão, assim, uma visão do conjunto dos principais acontecimentos da Frente, além do serviço normal de informações das agências telegraphicas nos enviam”.

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Depoimento de Pompeu de Sousa a Aristélio Andrade, Luiz Paulo Machado e Maurício Azevêdo publicado inicialmente no jornal da Associação Brasileira de Imprensa, reproduzido no livro Pompeu, organizado por Maria de Souza Duarte, editado pelo Senado Federal, em 1992. O livro reúne uma série de textos com depoimentos de Pompeu de Sousa, de jornalistas e outros profissionais que o conheceram ou trabalharam com ele.

Publicar as informações mais importantes sobre a Segunda Guerra Mundial representava um processo, ainda incipiente, de edição das notícias recebidas pelas diversas agências internacionais. Diante da quantidade de informações recebidas diariamente e da forma como os jornalistas internacionais escreviam, teve a iniciativa, única, de editar as matérias antes de serem publicadas pelo Diário Carioca. Despertava em Pompeu de Sousa a sensibilidade do editor que burilava o texto jornalístico para deixá-lo mais fluente para os leitores. E, assim, nasceu o espírito do jornalista preocupado com a qualidade da mensagem a ser transmitida para o público. Pompeu de Sousa conta que:

“A guerra estava recém-começando, havia uma multiplicidade de informações tumultuadas e até contraditórias, porque vinham de várias frentes de luta e de várias procedências. A complexidade era tão grande que deixava o leitor em certa perplexidade. Danton queria que A Guerra Dia a Dia fosse um apanhado do noticiário do dia, mas concatenado, ordenado, sistemático e coerente. Comecei então a fazer essa coluna, lia os telegramas das agências, de todas as procedências, e extraía o principal, para desenvolvê-lo e apresentar o acontecimento do dia de forma ordenada, coerente” (DUARTE, 1998, p.38).

A coluna A Guerra Dia a Dia substituía a publicação da coluna Situação Mundial, que era editada pelo próprio Danton Jobim. Era constituída por pequenas notas sobre a Segunda Guerra Mundial, com intertítulos informativos para introdução aos fatos cotidianos, algumas com fotos, como a apresentada no dia 21 de maio de 1940:

“De acordo com o que anunciara Reynald sobre seu propósito de mudar de métodos e para prosseguir a luta e ‘também como preconizou em seu discurso Winston Churchill sobre fazer uma guerra de assaltos ao invés de defensiva’, o governo dos maiores países aliados concordaram em alterar o comando supremo de seus exércitos e acertar a nova frase da guerra: a ofensiva invés de defensiva. E, assim, na noite do 10o. dia da gigantesca ofensiva alemã, as colunas motorizadas germânicas foram finalmente detidas pela vigorosa contra ofensiva iniciada pelas tropas francesas. As forças galegas sob novo comando do general Weygand refeitas já da surpresa dos primeiros momentos da tática adotado pelo inimigo, começaram a fazer sentir o seu forte potencial militar em defesa do território pátrio e nos primeiros passos de sua contra ofensiva”.

No dia 22 de maio de 1940, a coluna ressaltava que o objetivo era “resumir e coordenar o nosso amplo noticiário sobre as operações militares”, o que possibilitaria ao leitor “uma visão do conjunto dos principais acontecimentos da frente”. A apresentação era, na realidade, uma forma de convencer o leitor que o resumo das notícias não iria interferir na qualidade do material publicado, pois havia a garantia da qualidade do texto, priorizando a informação, como na nota que compõe a coluna deste dia:

“A ameaça da mancha

Retidas no seu avanço sobre o território francez, as columnas motorizadas no exercito do Reich atiram-se, desesperadamente, rumo aos portos do canal da Mancha, visando

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