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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO. MARA PAVANI DA SILVA GOMES. GRAMSCI E A EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO SINDICALISMO DOCENTE. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2017.

(2) MARA PAVANI DA SILVA GOMES. GRAMSCI E A EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO SINDICALISMO DOCENTE. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação. Orientador: Prof. Dr. Décio Azevedo Marques de Saes Linha de pesquisa: Políticas e Gestão Educacional. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2017.

(3) G 585g. Gomes, Mara Pavani da Silva Gramsci e a educação no Brasil: uma contribuição para o estudo do sindicalismo docente / Mara Pavani da Silva Gomes. 2017. 203 p. Tese (Doutorado em Educação) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2017. Orientação de: Décio Azevedo Marques de Saes. 1. Intelectuais - Aspectos sociais 2. Gramsci, Antônio, 1891-1937 - Crítica e interpretação 3. Educação - Brasil 4. Professores - Atividades políticas 5. Sindicalismo 6. Classe média I. Título. CDD 374.012.

(4) 2. A tese de doutorado intitulada “Gramsci e a educação no Brasil: uma contribuição para o estudo do sindicalismo docente”, elaborada por Mara Pavani da Silva Gomes, foi defendida e apresentada em 22 de junho de 2017, perante banca examinadora composta por Profa. Dra. Zeila de Brito Fabri Demartini (presidente/UMESP), Profa. Dra. Roseli Fischmann (UMESP), Prof. Dr. Roger Marchesini de Quadros Souza (UMESP), Prof. Dr. Almir Martins Vieira (UMESP) e Prof. Dr. Rômulo Pereira Nascimento (UNICSUL).. ____________________________________________ Profa. Dra. Zeila de Brito Fabri Demartini Presidente da Banca Examinadora. ____________________________________________ Profa. Dra. Roseli Fischmann Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação. Programa: Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo. Linha de pesquisa: Políticas e Gestão Educacional.

(5) 3. Por você Osmar Jacinto, Eu dançaria tango no teto, tomaria banho gelado no inverno, dormiria de meia pra virar burguês, aceitaria a vida como ela é....

(6) 4. AGRADECIMENTOS. Ao Prof. Dr. Decio Azevedo Marques de Saes, minha eterna gratidão, por possibilitar um constructo teórico que jamais teria conseguido sem seu auxílio. À Profa. Dra. Roseli Fischmann, pela delicadeza, solidariedade, amizade e competência com que conduziu minhas crises existenciais. À Profa. Ms. Marjô Russo, muito mais que revisora, uma presença constante, necessária e amiga em todos os momentos desta empreitada. À Universidade Metodista de São Paulo, pela concessão da bolsa para a realização do doutorado..

(7) 5. São orgânicos os intelectuais que, além de especialistas na sua profissão, que os vincula profundamente ao modo de produção do seu tempo, elaboram uma concepção éticopolítica que os habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representam. (ANTONIO GRAMSCI).

(8) 6. RESUMO. Considerando uma das mais instigantes reflexões realizadas pelo marxista italiano Antônio Gramsci acerca do intelectual orgânico, esta tese analisa se a ideia de proletarização do professor transforma-o em intelectual orgânico da classe trabalhadora e investiga como os professores reagem à ideia de se reconhecerem como intelectuais da classe média. Objetivando discutir as concepções ideológicas dos professores a partir das reflexões sobre a sua situação de trabalho e suas formas de atuação nos sindicatos, a investigação fundamenta-se nas análises sobre os conceitos de Gramsci feitas por alguns autores, entre eles, Jean-Marc Piotte (1972), Hugues Portelli (1977), Christinne Buci-Glucksmann (1980), além das análises e discussões relativas à classe média realizadas por Decio Saes (1977; 1980; 1984). A pesquisa inicia com uma abordagem dos conceitos gramscianos que subsidiam as análises posteriores sobre a ideia do professor como intelectual orgânico. Apresenta, também, um estudo da formação da classe média brasileira a fim de localizar aí a classe dos professores, investigando a presença de concepções ideológicas de classe média nos professores, a partir da análise de jornais e documentos, bem como de entrevistas com lideranças sindicais. Foi possível inferir, a partir dos estudos realizados, o não reconhecimento do professor como intelectual orgânico da classe trabalhadora, dadas as concepções ideológicas de classe média que permeiam o ideário dos professores. Palavras-chave: Intelectual orgânico. Classe média. Professores. Sindicalismo docente..

(9) 7. ABSTRACT. Taking into account one of the most intriguing reflections prompted by the Italian Marxist Antonio Gramsci, regarding the organic intellectual, this thesis questions if the teacher proletarianisation is associated with middle class organic intellectuals and focuses on how teachers react to the idea of picturing themselves as middle class intellectuals. Based on teachers‟ ideological concepts, emerging from their working conditions and their presence in unions, the research gains ground with Gramsci‟s concepts, from the perspective of a number of authors, namely Jean-Marc Piotte (1972), Hugues Portelli (1977), Christinne Buci-Glucksmann (1980), apart from some discussions related to the middle class, merited by Decio Saes (1977; 1980; 1984). The research sheds light on Gramscian concepts which pave the way for the teacher seen as an organic intellectual. It also highlights a study about the Brazilian middle-class formation in order to outline the teacher within the frame of a class, through documental analysis and interviews with union leaders. In the light of the present research, it is not viable to identify the teacher as a labor class organic intellectual, given the middle class ideological concepts underlying teachers‟ social background Key words: Organic intellectuals. Middle class. Teachers. Teacher Unions..

(10) 8. SUMÁRIO. APRESENTAÇÃO............................................................................................... 09. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12. 1 A FORMAÇÃO DOS INTELECTUAIS EM GRAMSCI.................................. 1.1 O INTELECTUAL ORGÂNICO.................................................................... 1.2 O INTELECTUAL TRADICIONAL............................................................... 1.3 BLOCO HISTÓRICO.................................................................................... 1.4 O CONCEITO DE HEGEMONIA EM GRAMSCI......................................... 1.5 A AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE INTELECTUAL E SUAS DIFICULDADES.................................................................................................. 1.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE INTELECTUAIS ORGÂNICOS........................ 24 30 39 47 48. 2 CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS DE CLASSE MÉDIA................................... 2.1 QUEM COMPÕE A CLASSE MÉDIA?......................................................... 2.2 CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA............... 82 82 85. 3 SINDICALISMO DE CLASSE MÉDIA............................................................. 3.1 SINDICALISMO DOCENTE.......................................................................... 3.2 LIDERANÇAS SINDICAIS............................................................................. 112 121 132. 4 O PROFESSOR COMO INTELECTUAL ORGÂNICO.................................... 4.1 CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS DO PROFESSOR.................................... 4.2 AÇÃO SINDICAL REIVINDICATIVA E O PROFESSOR.............................. 4.3 CONSCIÊNCIA PROFESSORAL E LUTAS REIVINDICATIVAS................. 4.4 O PAPEL DE VANGUARDA DO SINDICALISMO DOCENTE..................... 4.5 O PROFESSOR COMO INTELECTUAL ORGÂNICO?................................ 147 148 159 166 173 178. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 190. REFERÊNCIAS................................................................................................... 199. 59 69.

(11) 9. APRESENTAÇÃO. O presente trabalho se justifica porque discute e analisa se a ideia de proletarização do professor transforma-o em intelectual orgânico da classe fundamental do proletariado e ainda investiga como o professorado reage à ideia de intelectual de classe média. Objetivamos, portanto, explicar como as concepções ideológicas formadas no interior da situação de trabalho docente influenciaram ou podem influenciar a luta coletiva e a organização sindical dos professores, por meio do esforço de se colocar, no centro das discussões e reflexões relativas à situação de trabalho dos docentes e sua respectiva forma de atuação sindical, questões conceituais e teóricas que movimentam interesses políticos diversos, além de disputas militantes. Partindo da ideia corrente do trabalho docente como um trabalho intelectual, pretendemos verificar qual é o tipo de apreensão do conceito de intelectual orgânico existente nos sindicatos, considerando, de um lado, os sindicatos dos professores universitários e, de outro, o sindicato dos professores de educação básica. Será que a forma de interpretar o intelectual orgânico é a mesma nos dois sindicatos ou assim como se reconhece em Gramsci a oscilação entre uma interpretação que considera a visão institucional do intelectual e a visão que considera o tipo de atividade, também os agentes dos movimentos dos professores oscilam entre essas duas visões? Como caminho metodológico, esta pesquisa parte de um diálogo com autores renomados a fim de apreender os conceitos gramscianos aqui utilizados objetivando, com isso, adquirir um conhecimento prévio dos mesmos, bem como de um levantamento bibliográfico que permita uma expressiva compreensão do tema em discussão. Buscamos, desse modo, contribuir para as discussões e reflexões relativas à temática de maneira que se ampliem os horizontes educacionais. Tendo em vista o necessário aprofundamento das questões atuais sobre o tema da pesquisa, realizamos um estudo de campo para comparar as concepções ideológicas dos diferentes agentes dos movimentos dos professores e investigar como são apreendidos os conceitos gramscianos, especialmente, o conceito de intelectual orgânico..

(12) 10. O instrumento de pesquisa para a coleta de dados consistiu em entrevistas do tipo semiestruturadas, seguindo um roteiro inicial, mas com possibilidades de se enveredar por outras direções. Para Gil (2008), a entrevista é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. Este estudo entende que as especificidades assumidas pelo trabalho docente têm suas raízes no processo de formação e afirmação da identidade profissional dos docentes, que é um dos principais elementos constituintes da iniciativa de organização sindical. Historicamente a busca por essa afirmação identitária passa pela transformação do intelectual profissional para o intelectual assalariado. Esse processo de afirmação ideológica como integrante das camadas sociais médias foi se redefinindo em diferentes graus e níveis como intelectuais orgânicos das classes fundamentais. O resgate desse processo possibilita uma melhor compreensão dessa especificidade da categoria profissional, além do entendimento da sua organização e ação sindical. Cabe ainda destacar que o movimento docente contemporâneo pode ser considerado como um indício de proletarização da classe média e sua organização coletiva não significa o abandono dos preconceitos e resistências ao sindicalismo. O movimento sindical dos professores se diferencia dos demais movimentos de trabalhadores na proporção em que suas ações sindicais se fundamentam na relação entre o meritocratismo e as condições de trabalho dos docentes. Nesse contexto, uma questão instigante é pensar o conceito de intelectual orgânico em Antonio Gramsci e sua possível aplicação, ou melhor, em sua transposição para a área da educação na figura dos professores, considerados os intelectuais da educação. Diante dessa problemática, esta tese questiona: em que medida o conceito de intelectual orgânico se aplica aos professores da educação básica? Estruturamos esta tese por meio de discussões e reflexões que se encontram organizadas em quatro capítulos. O capítulo 1 – A formação dos intelectuais em Gramsci – apresenta a ideia de intelectual em Gramsci, discutindo e analisando os conceitos de intelectual.

(13) 11. orgânico, intelectual tradicional, a partir da colaboração de alguns estudiosos e pesquisadores das ideias de Gramsci. O capítulo 2 – Reconstituição das concepções ideológicas dos professores – aborda e discute a formação da classe média brasileira, baseada nas concepções marxianas de classe para, a partir daí, localizar as concepções ideológicas da constituição profissional do professor de educação básica. Nesse capítulo encontrase, também, a revisão bibliográfica das definições de “camadas médias” e suas formas de organização coletiva. O capítulo 3 – Sindicalismo de classe média – faz uma análise documental e bibliográfica do material do sindicato dos docentes, em especial, dos jornais da Apeoesp, a fim de observar as aproximações e distanciamentos resultantes das disposições ideológicas assumidas. Na sequência, a pesquisa caracteriza e situa os movimentos sindicais de professores do ensino superior e da educação básica, a fim de observar as aproximações e distanciamentos resultantes das disposições ideológicas assumidas. O capítulo 4 – Concepções dos representantes sindicais – realiza também análise de material empírico do sindicalismo docente. Apresenta entrevistas com lideranças sindicais objetivando apreender as concepções de intelectual orgânico. Esperamos que o presente estudo possa contribuir para as reflexões e questões suscitadas a partir do pensamento de Gramsci, de maneira a elucidar, pelo menos em parte, tais questões. Sabemos que essas discussões não se findam nos limites desta pesquisa e esperamos que ela possibilite novos e futuros estudos sobre o tema, que certamente demandam mais investigações, dada a necessidade de se compreender as disposições ideológicas gestadas historicamente na constituição do trabalho docente..

(14) 12. INTRODUÇÃO. Buscando encaminhar a reflexão relativa à questão desta tese, qual seja, em que medida o conceito de intelectual orgânico se aplica aos professores da educação básica, apresentamos nesta introdução uma visão preliminar de dois aspectos do problema: o conceito de intelectual orgânico em Gramsci e o sistema marxista de classes; a formação da classe média brasileira e a inserção do professorado no sistema de classes. Partimos do pressuposto de que os professores, em especial os de educação básica, fazem parte da classe média, categoria social criada e consolidada no sistema capitalista a partir das análises realizadas por Marx. Antes mesmo de Marx, o Duque de Saint-Simon, um aristocrata francês apaixonado pela ciência e filosofia, preconizava: “Mener la vie la plus originale et la plus active possible... Parcourir toutes les classes de la société, se placer personnellement dans toutes le positions sociales les plus différentes et même créer dês relations qui n‟aient point existe”. (ANSART apud WALTER, 2011, p. 23)1 Notamos, ainda, em Saint-Simon reflexões relacionadas a uma ciência positiva e prática do homem que o levaria a se libertar do clero e das castas feudais assumindo o verdadeiro papel que lhe cabia na sociedade. Fazemos, assim, referência a um período no qual, ao mesmo tempo em que a classe trabalhadora se desenvolvia, o crescimento da ciência. Período também que, em detrimento das reflexões teológicas anteriores, novas ideias propunham-se a libertar o homem de suas angústias religiosas, ao mesmo tempo em que o colocavam na produção. Sabemos que a revolução industrial não foi um incidente isolado de uma revolta de classes e sim, um profundo movimento que dá origem a uma nova era, a era industrial, cujas relações passam a serem marcadas pela não separação entre sistema político (pensamento) e econômico, surgindo aí o embrião da teoria marxista conhecida como materialismo histórico, que traz, em seu bojo, o conceito de “administração das coisas”, cuja ideia central seria a de que “A economia regeria a. 1. Citação extraída do Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Econômicas. O socialismo Utópico e a crítica à razão utilitária, de Carolina Palmer Walter..

(15) 13. política e uma gestão econômica saudável aliviaria o peso governamental”. (WALTER, 2011, p. 23, grifo da autora) A formulação sobre classes sociais, em uma perspectiva marxista, foi se constituindo durante um processo de desenvolvimento humano, historicamente construído, resultante da divisão social do trabalho no modo capitalista, que separa trabalhador manual de trabalhador intelectual e tendo como consequência a oposição de classes. Essa cisão caracteriza a formação das classes sociais como um processo histórico de lutas por posições econômicas e políticas. É, pois, a relação que o capitalista e o proletariado têm com o trabalho e a situação deste trabalho a raiz do muro divisório que separa as duas classes geradas no modo de produção capitalista, por essa razão, em luta desde o seu início. (PESSANHA, 2001, p. 21). A divisão do trabalho leva o trabalhador a uma perda do controle do processo, separando concepção de execução e homens que sabem daqueles que não sabem. Nesse contexto, certa especificidade e uma frequente caracterização como trabalho intelectual é reconhecida no trabalho docente. Para Pessanha (2001), na descrição de Marx, o modo de produção capitalista não estacionou, mas adquiriu fôlego novo nas novas maneiras de relações trabalhistas, introduzindo complicadores para a análise das relações trabalhistas e das classes sociais. “Uma das características do capitalismo monopolista é o aumento do trabalho „não produtivo‟ para que o capital sobreviva, embora decadente, apesar das crises cíclicas” (p. 22) Os setores não produtivos introduzem uma nova forma de relação com o trabalho, havendo entre eles aqueles socialmente úteis como é o caso da educação. Assim, considero que o trabalho de professor, na forma em que se apresenta hoje, é um trabalho não manual, assalariado, num setor não-produtivo embora, socialmente útil, da atividade humana. Sendo necessário também lembrar o fato de ser assalariado, funcionário do Estado ou de um serviço que, embora mantido por empresas privadas, é considerado um serviço “público”. (PESSANHA, 2001, p.28).

(16) 14. A produção de excedentes no sistema capitalista promove a cisão entre trabalho manual e trabalho intelectual permitindo o aparecimento daqueles que se dedicam exclusivamente ao trabalho intelectual, fazendo surgir, assim, a primeira divisão de classe. Identificamos nos grupos intermediários formados, principalmente pelos trabalhadores não manuais, a dificuldade de análise da abordagem teórica das classes sociais. Podemos observar, na sociedade capitalista em que vivemos atualmente, que existem setores de trabalho não manuais onde alguns trabalhadores exercem funções propriamente intelectuais, ou seja, realizam trabalho criativo e inovador. No entanto,. há. também. trabalhadores. que. exercem. funções. eminentemente. reprodutivas, de repetição. Desta forma, o intelectual é uma figura difusa dentro da instituição, diferentemente da ideia de que o intelectual tem inserção num certo lugar e exerce uma função dentro dessa classe específica. De acordo com Gramsci, o intelectual orgânico desenvolve algo considerado como a defesa de uma classe específica. Na fábrica, por exemplo, o engenheiro de produção com seu trabalho criativo e inovador, aumenta o lucro para o capitalista podendo, assim, ser considerado um intelectual orgânico em defesa de uma classe específica. Podemos mencionar, também, no partido de esquerda, aquele estrategista político que sabe calcular o melhor momento de uma ação, como no caso de Mao Tsé Tung e Lênin. Marx formulou o conceito de modo de produção como um objeto teórico abstrato, ou seja, modo de produção seria a articulação das relações de produção e forças produtivas. Todavia, em nossa sociedade observamos que não há somente um modo de produção, mas sim, um conjunto muito mais abrangente que envolve infraestrutura (estrutura econômica), sistema de classes sociais, superestrutura (Estado + ideologias). Em outras palavras, trata-se de um conceito muito mais amplo que o conceito de modo de produção marxista. Gramsci amplia ainda mais este conceito inserindo também o bloco histórico: sistema de classes, infraestrutura, superestrutura e dentro desta o bloco intelectual que tem a função de “soldar” tudo isso. Utiliza, para tanto, a denominação de bloco histórico do capitalismo, bloco histórico do feudalismo etc. E ainda, confere importante utilidade ao conceito de bloco intelectual por meio do seu papel relevante na disseminação da ideologia do bloco histórico, pois, são os intelectuais que.

(17) 15. mantêm a integridade do conjunto, destacando, dessa forma, o papel de alguns agentes (os intelectuais) no plano da superestrutura. Este autor rejeita a ideia do grande intelectual como o grande pensador, uma vez que para ele o intelectual deve agir dentro de um grupo e fazer interlocução com diversas áreas: o Estado, a economia etc, mas ele apresenta também, entre os intelectuais, a figura do “criador”, alguém com a função de criar coisas novas e alavancar o pensamento. Porém, na análise de algumas instituições, percebemos que Gramsci acaba localizando o intelectual no topo da instituição. Um exemplo disso é o General que, na hierarquia militar, é o responsável por elaborar as estratégias de luta e, portanto, é o intelectual nessa hierarquia. Isso não seria o reconhecimento de que dentro das instituições há pessoas que, de fato, exercem a função intelectual e outras que não exercem essa função. Ou seja, isso não seria dizer que Gramsci, ao se dirigir para uma análise prática, utiliza o tipo de atividade como critério para definir o intelectual? Partindo da questão “Quem é intelectual?”, observamos que na distinção entre trabalhador intelectual e trabalhador manual, os primeiros são os que efetivamente colocam em movimento a sociedade. Se analisarmos esses intelectuais, veremos que exercem funções nos locais onde existe trabalho intelectual de fato: trabalho editorial, trabalho científico, ou seja, trabalhos burocráticos e de pesquisa. Cabe então uma segunda questão: quem é orgânico ou não? Existem lugares mais propícios à formação de alguns tipos de intelectuais orgânicos em atividade diferentes e em diferentes classes sociais. A classe média, pela sua expansão, tende a fazer um número maior de intelectuais de classe média. O fato de o professor ser de classe média poderia fazer dele um intelectual orgânico? Embora a condição de trabalho do professor esteja bastante deteriorada, a sua situação de classe – posição em relação à produção e, especialmente, suas concepções ideológicas – localiza-o na classe média. Mas seria o professorado passível de ser identificado como constituído por intelectuais orgânicos? Um estudo sobre o conceito de intelectual orgânico em Gramsci, trazendo contribuições de autores reconhecidos, de modo especial, como estudiosos do.

(18) 16. teórico e ativista italiano, como indicado a seguir. Entre eles podemos destacar Jean-Marc Piotte, que propõe um estudo das formas sociológicas que determinam a categoria dos intelectuais, limitando-as com o estudo das formas históricas. Igualmente destacado Hugues Portelli que discute o papel dos intelectuais no seio do bloco histórico, por meio do estudo das relações estrutura-superestrutura e do vínculo que realiza sua unidade, complementando com o estudo de como o bloco histórico deve ser considerado o ponto de partida para a análise da maneira pela qual um sistema de valores penetra um sistema social. Por outra vertente do pensamento de Gramsci, Christinne Buci-Glucksmann que realiza uma leitura teórico-política dos Cadernos do Cárcere, partindo do Estado como lócus das práticas políticas militantes em suas relações. Complementando o quadro de teóricos que são referência desta tese, valemo-nos de Maria Antonieta Macchiochi que expõe os conceitos-chave de Gramsci e Giuseppe Vacca, que apresenta a vida e o pensamento de Gramsci abordando os dramas pessoais e os dilemas políticos, de maneira que a cisão entre trajetória pessoal e reflexão teórica sejam superadas. Para Piotte (1972), Gramsci delimita sociologicamente o conceito de intelectual pelo lugar e pela função que ocupa no seio de uma estrutura social, isto é, o intelectual orgânico. Uma segunda definição, do tipo histórica, determina o caráter do intelectual pelo lugar e pela função que ocupa no seio de um processo histórico, qualificado de tradicional e unido organicamente a classes desaparecidas ou em vias de desaparecer. Necessário se faz, inicialmente, esclarecer a distinção entre intelectuais e não intelectuais. Segundo Piotte, para Gramsci, essa definição se situa no complexo geral das relações sociais e não no interior do trabalho intelectual (trabalhador manual e trabalhador intelectual). Isso porque todo trabalho manual exige um mínimo de conhecimento técnico ou atividade intelectual, portanto, essa dicotomia não permite encontrar a especificidade do intelectual. Daí que, o intelectual se define pelo lugar e pela função que ocupa no conjunto das relações sociais e não na noção corrente que se refere aos grandes intelectuais. Assim, os intelectuais que uma classe produz cumprem tarefas que são especializações de atividades intelectuais implicadas na função que esta classe exerce, considerando o lugar que ela ocupa no modo de produção..

(19) 17. As classes, que produzem amplas camadas de intelectuais em nível hegemônico,. limitam-se,. geralmente,. aos. grupos. sociais. essenciais. ou. fundamentais, ou seja, são aquelas que, pelo lugar que ocupam no modo de produção historicamente determinado, estão em posição de assumir o poder no modo de produção capitalista. Trata-se da burguesia e do proletariado. O caráter orgânico do intelectual depende, pois, dos laços mais ou menos estreitos que unem a organização da qual ele é membro com a classe que ele representa. Por isso depende também do lugar que ocupa o intelectual nas organizações de classe da sociedade civil (organizações hegemônicas ou econômico-corporativas). É preciso, também, colocar em relevo a hierarquia que se estabelece entre estes diferentes tipos de intelectuais, considerando o modo de produção capitalista, evidenciando que é a hierarquia que articula os intelectuais de um mesmo tipo. Os tecnocratas, por exemplo, têm uma função intelectual mais importante que os técnicos, estando ligados mais estritamente à burguesia. É necessário distinguir diferentes graus na atividade intelectual. Esse ponto de vista “intrínseco” não se fundamenta na distinção intelectualmanual, mas sim, unicamente na função que os indivíduos devem exercer para serem intelectuais. Gramsci, segundo Piotte (1972), nunca definiu de maneira precisa e definitiva o sentido e os limites do conceito de intelectual tradicional. Concedeu, apenas, uma grande distinção entre intelectual orgânico e intelectual tradicional. Para ele: “A formação do intelectual tradicional é o problema histórico mais interessante”. (p. 43) Assim, cada grupo social essencial, Ao surgir na história, a partir da estrutura anterior, e como expressão de um desenvolvimento desta (estrutura), tem encontrado, ao menos na história ocorrida até este momento, categorias intelectuais preexistentes e que até então pareciam representar uma continuidade histórica ininterrupta apesar das trocas mais complicadas e radicais das formas sociais e políticas (PIOTTE. 1972, p. 43-44). Desta maneira, a burguesia, que pelo mercantilismo nascia e se desenvolvia nos porões da sociedade feudal, foi destruindo pouco a pouco – segundo.

(20) 18. modalidades que variam com as condições concretas dos diferentes países – a estrutura feudal, estabelecendo progressivamente o modo de produção capitalista. Na classe aristocrática, o clero se apresenta ideologicamente como independente das classes sociais e como representante de uma continuidade histórica que tem sua origem em Jesus. Entretanto, o clero é a intelectualidade orgânica da aristocracia. Durante toda a Idade Média, exerceu, para proveito dessa aristocracia, a função hegemônica na sociedade civil, controlando os meios de educação, de investigação e de difusão. Compartilha também com essa aristocracia o exercício da propriedade feudal e dos privilégios estatais ligados a elas. A autodefinição do clero, como independente das classes sociais, esconde uma origem de classe (intelectualidade orgânica da aristocracia) e uma posição de classe que varia segundo as diferentes épocas históricas, sendo que na Idade Média assumem posição de classe aristocrática e progressivamente depois se aliam com a burguesia. Uma das características visíveis de todo grupo em desenvolvimento em direção ao poder é sua luta por conquistar e assimilar “ideologicamente” o intelectual tradicional, e isto se produz com maior rapidez e eficácia quando o grupo existente, pronta e simultaneamente cria seus próprios intelectuais orgânicos. (PIOTTE, 1972, p. 45). Utilizando o conceito de intelectual tradicional para analisar as diferentes estratificações no seio de um mesmo modo de produção, Gramsci dá grande amplitude a esse conceito de modo a vincular aí todos os intelectuais ligados às classes desaparecidas ou em vias de desaparecimento.. Intelectual tradicional. serve, assim, para determinar as camadas intelectuais que a classe historicamente progressista deve assimilar para exercer a hegemonia sobre o conjunto das classes sociais constitutivas da sociedade. Gramsci afirma que o clero sobreviveu por causa da potência de sua organização e porque se adaptou “molecularmente” à sociedade burguesa. O clero passou de uma posição de classe burocrática para a de classe burguesa, transformando-se profundamente em nível organizativo e ideológico, de uma maneira lenta e prudente. Se entendermos que os professores são sociologicamente considerados como os intelectuais orgânicos da classe média na estrutura capitalista, notaremos.

(21) 19. que a análise realizada por Gramsci permite inferir a existência da lacuna relativa à formação do intelectual orgânico da classe média. Para Gramsci, os intelectuais são incluídos em duas categorias de classes sociais: burguesia e proletariado, considerados por ele como revolucionários no modo de produção capitalista e na divisão social do trabalho que separa trabalho intelectual de trabalho manual. Para a análise deste estudo, porém, é importante considerar a formação da classe média no sistema capitalista vigente, uma vez que, a nosso ver, os professores fazem parte dessa categoria social que pode ser inferida das análises realizadas por Marx. As classes sociais, a partir de então, formam-se historicamente, num processo de luta por posições econômicas e políticas. As lutas de classe passam a ser, também, uma luta das forças produtivas. Identificamos nos grupos intermediários formados principalmente pelos trabalhadores “não manuais”, a dificuldade de análise da abordagem teórica das classes sociais. Para Gramsci, o intelectual orgânico tem inserção num certo lugar e exerce uma função dentro dessa classe, todavia, o autor entende que a distinção existente entre trabalho intelectual x trabalho manual não se justifica porque todo trabalho manual guarda em si alguma atividade intelectual. A nosso ver, o trabalho não manual possui um setor que é o trabalhador propriamente intelectual, com trabalho criativo e não de reprodução, mas em qualquer setor, existe ao mesmo tempo, trabalho repetitivo e, portanto, não propriamente intelectual. Ou seja, o que caracteriza o trabalho intelectual é ser criativo e inovador, isso pode acontecer em qualquer lugar onde o intelectual esteja trabalhando. Na escola podemos apontar a categoria docente como portadora de clara distinção: de um lado, os docentes, sujeitos incluídos na categoria de trabalhadores não manuais, porém, considerados como repetidores por executarem sempre um mesmo tipo de aula vista como de repetição do que foi trabalhado; de outro, temos o magister, considerado um elaborador de ideias próprias e isso certamente não tem a ver com o lugar que o indivíduo ocupa na sociedade. Já o professor universitário é.

(22) 20. mesmo tido como um intelectual porque, por força do seu trabalho, acaba sempre tendo que criar e elaborar reflexões próprias. Em um segundo momento, considerando a necessidade de uma abordagem sobre a classe média, uma vez que esta representa a classe dos professores, sujeitos desta pesquisa, este trabalho procura desvendar as concepções ideológicas da classe média brasileira por meio da análise política do processo de transição para o capitalismo – passagem de uma economia agrário-exportadora para economia industrial. A apreensão das concepções ideológicas da classe média brasileira é uma tarefa difícil, tendo em vista que a conduta política dessa classe sempre se pautou pela conjuntura vivida em diferentes momentos da sociedade brasileira. Com a entrada do café nacional no mercado mundial ocorreu no Brasil o desenvolvimento de grandes cidades com “[...] um novo aparelho urbano burocrático e de serviços, composto pelos agentes do Estado, bancos, empresas exportadoras e importadoras e organismos de financiamento.” (SAES, 1984, p. 4). Criou-se, assim, uma base para a expansão do aparelho urbano de serviços que evolui com a industrialização brasileira. O desenvolvimento da industrialização tornou necessária a adaptação dos serviços urbanos ao crescimento acelerado. Dentre eles, interessanos examinar os serviços de consumo coletivo que tiveram um crescimento contínuo devido à expansão dos serviços governamentais resultante do fato de o Estado ter assumido, a partir da década de 1930, a função de alavancar a industrialização no Brasil. Desse modo, com a industrialização surgem, portanto, as classes sociais antagônicas (burguesia x classe operária), mas também os trabalhadores que, segundo a tradição marxista, formam o conjunto dos trabalhadores improdutivos porque não contribuem diretamente com a produção de mercadorias e que irão compor o conjunto de trabalhadores heterogêneos do setor terciário, ou seja, que constituirão a classe média, porém [...] uma posição comum no processo social de produção não pode levar o conjunto dos trabalhadores improdutivos à idêntica orientação no plano ideológico e político. Mais ainda, aceitamos implicitamente a ascendência da estrutura ocupacional sobre as relações sociais de produção, enquanto fator de aglutinação ideológica e política dos trabalhadores improdutivos. (ibid., p. 9).

(23) 21. Diferentemente dos operários – que pela posição de classe fundamental na organização social da produção se opõem radicalmente aos proprietários do capital e por isso mesmo possuem uma sólida e inabalável consciência de classe –, os trabalhadores improdutivos, apesar de concederem um sobretrabalho aos capitalistas, não participam diretamente da produção da mais valia e constituem-se em um grande conjunto de trabalhadores dos serviços urbanos, da administração das empresas, de funcionários civis e de militares do Estado e de profissionais liberais que, pela ausência de oposição aos proprietários do capital, acabam por reforçar a dominação de classe por estes exercida. O não posicionamento claro nas relações sociais de produção impede que a classe média se manifeste diretamente no plano político e ideológico. Desta forma, e a partir da divisão do mundo do trabalho, representado pela distinção entre trabalho manual e trabalho não manual, vai se consolidando um tipo de organização social capitalista que, em proveito do capital, impõe aos trabalhadores a especialização e a fragmentação da sua capacidade produtiva. Nesse contexto, observamos a necessidade de uma operação ideológica que explique “[...] a fragmentação de toda atividade humana e a especialização forçada em função de um imperativo „racional‟” (SAES, 1984, p.11), responsável pela hierarquia do trabalho. Em outras palavras, a distinção entre trabalho manual e trabalho não manual é decorrente de atributos naturais de dons e méritos resultantes de diferentes graus de capacidade. Portanto, essa diferença é responsável pela criação de uma classe média com uma consciência média que se afasta do operariado e dos trabalhadores improdutivos manuais. [...] a sociedade capitalista impôs uma “condição media” à fração “não manual” dos trabalhadores improdutivos e, ao fazê-lo, afastou-a, seja da classe operária, seja dos trabalhadores improdutivos “manuais” (por exemplo, os vendedores ambulantes ou os trabalhadores do transporte). (SAES, 1984, p. 4). A ideologia dominante, ao promover a estratificação social, possibilita a identificação dos trabalhadores improdutivos manuais com a classe operária. Já os grupos médios se diferenciam pelo trabalho improdutivo não manual e, além de não se integrarem à classe operária, afastam a possibilidade de estabelecer com ela alianças políticas ou fusões. Mesmo adotando orientações políticas semelhantes às.

(24) 22. dos operários, os grupos médios se caracterizam pela recusa ao nivelamento entre manuais e não manuais. Saes (1984) evidencia as manifestações dessa consciência média por meio da leitura histórica de algumas manifestações politicas dos grupos médios. Como exemplo, cita o movimento tenentista de 1920, contrário à dominação oligárquica, que, apesar de ser uma luta também adotada pela classe operária, recusa-se a alianças com os operários pelo medo da igualização e da proletarização social. O temor do nivelamento social também contribui à aceitação, pelos trabalhadores “de escritório”, de 1930 aos nossos dias, de uma legislação sindical que divide o mundo do trabalho mediante a interdição de toda organização “horizontal”; a organização dos trabalhadores por “setor econômico” (indústria, comércio, agricultura, bancos, etc.) e a impossibilidade legal de uma confederação geral dos trabalhadores isolam a classe operária das outras categorias de trabalhadores e situam a luta sindical num contexto muito favorável à classe dominante. (ibid., p. 16 ). Essa estrutura sindical segmentada representa, na realidade, a enorme cisão entre trabalhadores manuais e trabalhadores não manuais, além de conceber, por parte dos trabalhadores improdutivos não manuais, certa consciência média preocupada com a perda de status e com o medo da proletarização. Dessa forma, a visão de mundo dos grupos médios passa a ser determinada pela situação de trabalho (relações de trabalho, forma de remuneração, nível de remuneração, nível de formação) em diferentes conjunturas politicas, ou seja, a situação de trabalho é responsável pela diferenciação ideológica no interior das camadas médias. A compreensão dessa consciência média depende diretamente da compreensão das orientações políticas assumidas historicamente na sociedade capitalista brasileira. “Os grupos médios se dividem entre as políticas das classes em oposição; a „consciência média‟ não chega a assegurar-lhes a unidade ideológica e política.” (ibid., p. 20) Notadamente, a integração política de qualquer grupo social passa, obrigatoriamente, pelo reconhecimento de sua capacidade de influenciar o processo nacional de tomada de decisão. No caso das camadas médias brasileiras, sua integração política sofre modificações que vão da integração política no período da industrialização à sua.

(25) 23. exclusão política no período da consolidação do capital monopolista brasileiro, lembrando ainda que “[...] o conteúdo concreto da prática política de cada camada média urbana sempre se definiu em função do encontro entre a conjuntura política e as disposições ideológicas engendradas por sua „situação de trabalho‟.” (ibid., p. 24) Na sequência, este estudo busca identificar de que maneira as concepções ideológicas formadas em função da situação de trabalho docente influenciam seus sindicatos e suas lutas..

(26) 24. 1 A FORMAÇÃO DOS INTELECTUAIS EM GRAMSCI. O pensamento de Gramsci está profundamente “[...] condicionado pela sua biografia política e sentimental que só pode ser entendido em sua historicidade”. (VACCA, 2012, p. 37) Segundo Vacca (2012) a leitura dos Cadernos é definitivamente validada pelo critério cronológico sugerido por Palmiro Togliatti, que considera que “Gramsci foi um teórico da política, mas sobretudo foi um político prático [...]” (p. 27). Por essa razão, só podemos estudar sua obra por meio das ações realizadas em determinados momentos de sua vida e de como estas se conectam com sua doutrina. Em 31 de outubro de 1914, no artigo denominado “Neutralidade ativa e operante” publicado no jornal Il Grido del Popolo2 posicionou-se declaradamente contrário à “neutralidade absoluta”, defendida por seu amigo Angelo Tasca e pela maioria da direção socialista em relação à entrada na Guerra. Gramsci era a favor da ideia de “neutralidade ativa e operante” proposta por Mussolini em oposição à ideia de tal “neutralidade absoluta” defendida pelos socialistas. Dessa forma, para ele Aquele momento histórico era, para a classe trabalhadora, “de uma inegável gravidade”, e “porque tanto sangue versa e tantas energias são destruídas”, era “preciso agir” sobre todas as questões fundamentais (GRAMSCI, 1973, p. 7). Sua primeira intervenção pública apontava para a importância de localizar corretamente os socialistas naquele contexto de guerra, como um “Estado em potência que amadurece antagonista ao Estado burguês” (idem, p. 7). (MUSSI, 2015, p.18). Contrário à cultura do Partido Socialista, cujos membros “faziam uma leitura naturalista e até racial dos meridionais, tidos como „poltrões, incapazes, criminosos, bárbaros‟” (LOSURDO, 2006, s/p), Gramsci rejeitava a estigmatização desse seu povo tão sofrido que bem conhecia e, se alinhava com o pensamento neo-idealista, que vinculava o atraso do Mezzogiorno às condições históricas reais, opondo-se à leitura naturalista dos conflitos sociais. Gramsci, crítico do espontaneísmo e atento aos riscos de certo personalismo e burocratismo no núcleo do PSI, deixa claro que a participação ativa dos trabalhadores era de fundamental importância 2. Semanário ligado ao Partido Socialista Italiano..

(27) 25. para o sucesso da revolução socialista. Para ele, o trabalho de formação política, além de contribuir para o engajamento consciente e crítico dos militantes, deveria auxiliar a classe operária a superar uma visão meramente econômico-corporativista.(OLIVEIRA; FELISMINO; s/d, p. 2). Nessa época, seu pensamento se alinhava com os filósofos italianos Croce e Gentile, que mesmo liberais, representavam um referencial mais moderno e mais progressista sobre a Itália. Em 24 de dezembro de 1917, ano da revolução Russa, publicou no Avanti de Milão, um artigo intitulado “A revolução contra O Capital”,. no qual questionou a. necessidade da passagem pelo capitalismo para se chegar ao socialismo, afirmando que foram os revolucionários que criaram as condições necessárias para a realização completa e plena do seu ideal e não o capitalismo. O capitalismo não poderia fazer jamais imediatamente na Rússia mais do que poderá fazer o coletivismo. Faria hoje muito menos, porque teria imediatamente contra ele um proletariado descontente, frenético, incapaz de suportar por mais tempo e para outros as dores e as amarguras que o mal-estar econômico traz consigo. Mesmo dum ponto de vista absoluto, humano, o socialismo imediato tem na Rússia a sua justificação. Os sofrimentos que virão após a paz só poderão ser suportados se os proletários sentirem que está na sua vontade e na sua tenacidade pelo trabalho o meio de o suprimir no menor espaço de tempo possível.3. É então que durante o período (1919) à frente do semanário L‟Ordine Nuovo e como membro da Comissão Executiva do Partido Socialista Italiano – PSI – emerge o pensamento gramsciano voltado para a importância dos conselhos de fábrica o “conselhismo”, caracterizado pelas propostas de transformação das “comissões internas” em “conselhos de fábrica”, nos quais todos poderiam ser eleitos, tendo como propósito a destruição e a substituição da sociedade burguesa. “[...] com o artigo “Democracia operária” (L‟Ordine Nuovo, 21 de junho), Gramsci coloca o problema das comissões internas de fábrica como „centros de vida proletária‟ e futuros „órgãos de poder proletário.‟” (GRAMSCI, 2014, p. 52) A oficina com suas comissões internas, os círculos socialistas, as comunidades camponesas são os centros de vida proletária nos quais é necessário trabalhar diretamente. As comissões internas são órgãos de democracia operária que é necessário libertar das 3. Extraído do Avanti: A Revolução Contra o Capital. António Gramsci. 24 de Abril de 1917. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm Acesso em: 07/09/2016..

(28) 26. limitações impostas pelos empreendedores, e nos quais é necessário infundir vida nova e energia. Hoje, as comissões internas limitam o poder do capitalista na fábrica e desenvolvem funções de arbitragem e disciplina. Desenvolvidas e enriquecidas, deverão ser amanhã órgãos do poder proletário que substituirá o capitalista em todas suas funções úteis de direção e de administração. (GRAMSCI, 2006, s/p)4.. Alguns autores consideram a formulação do conceito de hegemonia como a maior contribuição teórica de Gramsci porque permite a compreensão da correlação de forças existentes na sociedade capitalista atual. A importância central deste conceito poderá ser vista mais adiante junto com a formulação do conceito de intelectual orgânico, objeto desta pesquisa. Gramsci5(1978) faz um estudo minucioso da formação do intelectual analisando como ele se constituiu ao longo das mudanças sociais ocorridas, principalmente na Itália, seu país de origem, mas também na França, país de referência para análises e comparações, em função de tais mudanças nos períodos das revoluções socialistas no mundo. Na organização desse conceito, Gramsci trabalha intensamente com a compreensão de intelectual e, consequentemente, cria uma forma própria de designar e identificar os intelectuais, sobretudo, por ser ele um intelectual militante. O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloquência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das paixões, mas num imiscuir-se ativamente na vida prática, como construtor, organizador, “persuasor permanente”, já que não apenas orador puro – e superior, todavia, ao espírito matemático abstrato; da técnicatrabalho, eleva-se à técnica-ciência e à concepção humanista histórica, sem a qual se permanece “especialista” e não se chega a “dirigente” (especialista mais político). (GRAMSCI, 1978, p. 8). O autor apresenta o problema da formação dos intelectuais a partir da questão: “Os intelectuais constituem um grupo social autônomo e independente, ou cada grupo social possui sua própria categoria especializada de intelectuais?” (ibid., p. 3). Afirma ser esse um problema complexo em função dos vários modos de formação das categorias de intelectuais assumidas durante o processo histórico real. Destas, as duas mais importantes seriam:. 4. Extraído do artigo “Democracia Operária”. 2006. [1919]. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1919/06/21.htm Acesso em: 07/09/2016. 5 Excertos de A formação dos intelectuais, item presente no capítulo Contribuições para uma história dos intelectuais, da obra de Gramsci “Os intelectuais e a organização da cultura”..

(29) 27. 1) Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político [...] (p. 3) 2) Cada grupo social “essencial”, contudo, surgindo na história a partir da estrutura econômica anterior e como expressão do desenvolvimento desta estrutura, encontrou – pelo menos na história que se desenrolou até os nossos dias – categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam, aliás, como representantes de uma continuidade histórica que não fora interrompida nem mesmo pelas mais complicadas e radicais modificações das formas sociais e políticas. (p. 5). A primeira forma de intelectuais foi designada por Gramsci de “intelectuais orgânicos”, ou seja, criados a partir do surgimento de uma nova classe e ligados organicamente a ela. No mundo capitalista, o autor toma como exemplo o empresário, considerado por ele como um “intelectual” já que possui certa capacidade dirigente e intelectual para organizar e comandar massas de homens que cria consigo “o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito etc.” (ibid., p. 3-4) Desse modo, o que caracteriza um capitalista é ser proprietário dos meios de produção e monopolizador da mais valia e não o fato de ser um intelectual. Decorre daí a não aceitação de Gramsci à definição de intelectual em oposição aos trabalhadores manuais. A segunda forma, denominada como “intelectuais tradicionais”, toma como típica a categoria dos eclesiásticos que pode ser considerada ligada organicamente à aristocracia fundiária com a qual “divide o exercício da propriedade feudal da terra e o uso de privilégios estatais ligados à propriedade”. (ibid., p. 5) Para Gramsci (1978), o critério de distinção das atividades intelectuais deve ser buscado “no conjunto do sistema de relações no qual estas atividades (e, portanto, os grupos que as personificam) se encontram, no conjunto das relações sociais”. (p. 7) Na verdade, para ele, mesmo nos trabalhos mais mecânicos existe um mínimo de atividade intelectual. “Todos os homens são intelectuais, poder-se-ia.

(30) 28. dizer então; mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”. (ibid., p. 7) A questão que ele apresenta é que ao fazer a distinção entre intelectuais e não intelectuais considera-se somente a “imediata função social da categoria profissional dos intelectuais” (ibid., p. 7), se o peso maior da atividade profissional específica está na elaboração intelectual ou se no esforço muscular-nervoso. Todavia, para Gramsci (1978), não existe atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, o que existe de fato são graus diversos de atividade específica intelectual. O problema da criação de uma nova camada intelectual, portanto, consiste em elaborar criticamente a atividade intelectual que existe em cada um em determinado grau de desenvolvimento, modificando sua relação com o esforço muscular-nervoso no sentido de um novo equilíbrio e conseguindo-se que o próprio esforço muscular-nervoso, enquanto elemento de uma atividade prática geral, que inova continuamente o mundo físico e social, torne-se o fundamento de uma nova e integral concepção de mundo. (ibid., p. 8). Gramsci (1978) considerava que, a partir da industrialização, a educação técnica constituir-se-ia na base do novo tipo de intelectual, portanto, o tipo tradicional conhecido como o verdadeiro intelectual literato, filósofo, artista, não encontra lugar no mundo moderno. Esse novo intelectual “persuasor permanente” eleva-se da técnica-trabalho à técnica-ciência. e. à. concepção. humanista. histórica,. transformando-se. em. especialista mais político, formando, assim, as novas categorias de intelectuais em conexão, especialmente, com o grupo social dominante. Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se desenvolve no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista “ideológica” dos intelectuais tradicionais, assimilação e conquista que são tão mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão elaborar simultaneamente seus próprios intelectuais orgânicos. (GRAMSCI, 1978, p. 9). O alto desenvolvimento das escolas levou ao aparecimento, desde a Idade Média até o mundo moderno, das categorias e funções intelectuais, que promoveram o desenvolvimento individual da intelectualidade e a multiplicação e aperfeiçoamento das especializações..

(31) 29. A quantidade e a qualidade da criação de instituições escolares de graus diversos e organismos de promoção da “alta cultura” são determinantes na complexidade da função intelectual dos Estados. Quanto mais escolas e mais níveis de especialização, tanto mais complexo o mundo cultural e a civilização do Estado. A relação entre os intelectuais e o mundo da produção é “mediatizada” pelo conjunto das superestruturas, do qual os intelectuais são precisamente os “funcionários”. Existem dois grandes planos superestruturais: o da “sociedade civil” e o da “sociedade política ou Estado”, que correspondem à função de “hegemonia” que o grupo dominante exerce sobre a sociedade como um todo. Esta função exercida pelos intelectuais garante a orientação dada pelo grupo dominante à vida social e também, do aparato de coerção estatal que assegura a disciplina da sociedade, principalmente, nos momentos de crise no comando e na direção. Este modo de colocar a questão possibilita a aproximação do conceito de intelectual com a realidade concreta e a “função organizativa da hegemonia social e do domínio estatal dá lugar a certa divisão do trabalho e, portanto, a toda uma gradação de qualificações” (ibid., p. 11), ou seja, a atividade intelectual é diferenciada em graus que nos extremos estabelece uma relativa diferença qualitativa (no mais alto grau os criadores das ciências e nos mais baixos os “administradores”). No mundo moderno os intelectuais do tipo urbano cresceram junto com a indústria, mas não possuem nenhuma iniciativa autônoma, na realidade articulam a massa instrumental com o empresariado elaborando o plano de produção estabelecido pelo estado-maior da indústria. Já os intelectuais “tradicionais” ligados à massa social camponesa e pequenoburguesa das cidades ainda não elaborada pelo sistema capitalista põem em contato a massa camponesa com a administração estatal ou local, ou seja, a mediação profissional não se separa da mediação política. Para Gramsci (1978), o ponto central é a distinção entre intelectuais como categoria orgânica de cada grupo social fundamental e intelectuais como categoria tradicional, decorrendo daí o problema mais interessante, que é a relação entre os.

(32) 30. intelectuais e o partido político, isto porque o partido promove a fusão entre os intelectuais orgânicos do grupo dominante e os intelectuais tradicionais. [...] esta função é desempenhada pelo partido precisamente em dependência de sua função fundamental, que é a de elaborar os próprios componentes, elementos de um grupo social nascido e desenvolvido como „econômico‟, até transformá-lo em intelectuais políticos qualificados, dirigentes, organizadores de todas as atividades e funções inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma sociedade integral, civil e política. (p.14). O autor afirma ainda que todos os membros de um partido devem ser considerados intelectuais porque exercem funções diretivas e organizativas, isto é, educativa, intelectual. No partido político, os elementos de um grupo social econômico superam este momento de seu desenvolvimento histórico e se tornam agentes de atividades gerais, de caráter nacional e internacional. (ibid., p.15) A complexidade dos conceitos elaborados por Gramsci em “Os Intelectuais e a Organização da Cultura”, requer análises diferenciadas com autores que discutem e aprofundam essas ideias, as quais apresentamos a seguir.. 1.1 O INTELECTUAL ORGÂNICO. Iniciamos o estudo do conceito de intelectual orgânico em Gramsci por meio das discussões realizadas por Jean-Marc Piotte no capítulo 1. “L‟ intellectuel. organique” e no capítulo II, L‟ intellectuael traditionnel”, do livro “El pensamento politico de Gramsci”. Trata-se de excertos da obra desse autor. Como assinala Gramsci (2001): (Essa pesquisa sobre a história dos intelectuais não será de caráter “sociológico”, mas dará lugar a uma série de ensaios de “história da cultura” (Kulturgeschichte) e de histórias da ciência política. Todavia, será difícil evitar algumas formas esquemáticas e abstratas que recordem as da “sociologia”: será preciso, portanto, encontrar a forma literária mais adequada para que a exposição seja “não sociológica”. A primeira parte da pesquisa poderia ser uma crítica metodológica das obras já existentes sobre os intelectuais, que são quase todas de caráter sociológico. Portanto, coletar a bibliografia sobre o assunto é indispensável.). (p.17-18).

(33) 31. Como mencionamos na Introdução desta pesquisa, para Piotte (1972), Gramsci delimita o conceito de intelectual em dois sentidos. O primeiro, uma definição de tipo sociológica que consiste em definir os intelectuais pelo lugar e pela função que ocupam no seio de uma estrutura social, que dá o nome de orgânico. A segunda definição, de tipo histórica, consiste em determinar o caráter do intelectual pelo lugar e pela função que ocupa no seio de um processo histórico, que qualifica de tradicional unido organicamente a classes desaparecidas ou em vias de desaparecer. Na análise histórica, o termo orgânico assume um novo significado, sendo precisado e limitado pelo termo tradicional. Essa é uma distinção metodológica que se supera na medida em que o esquema de interpretação histórica recupera, integra e completa o esquema sociológico. Segundo Piotte (1972), para Gramsci o erro metodológico mais comum na distinção entre intelectuais e não intelectuais foi buscar explicações no interior do trabalho intelectual e não situá-la no conjunto das relações mais gerais da sociedade. Ou seja, ele não aceita como critério a adoção da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual porque, para ele, em todo tipo de trabalho existe um mínimo de atividade intelectual e também de atividade mecânica. A elucidação desta regra apresenta problemas insolúveis, tais como: ¿Cómo, con esta regla, se puede dilucidar si tal tipo de trabajo comprende más atividade intelectuales que manuales? En la gradación insensible que va del trabajo menos intelectual al más intelectual, ¿cómo determinar el umbral diferencial que estabelece el passo de la cantidad a la calidad, de lo manual a lo intelectual? 6 (BON; BURNIER apud PIOTTE, 1972, p.19). Desta forma, não se pode encontrar o que há de específico no intelectual com base na dicotomia: todo trabalho possui aspectos intelectuais e manuais. Assim, Gramsci emprega outro critério: el intelectual se definirá por el lugar y por la función que ocupa em el conjunto de las relaciones sociales (p. 20). Portanto, no capitalismo, o que caracteriza o operário não é o caráter manual do seu trabalho, mas sim, o fato de não ser proprietário dos meios de produção e ser produtor de mais valia; por sua vez, o capitalista caracteriza-se por explorar a força de trabalho e. 6. Citação da obra de Frederic Bon e Michael-Antoine Burnier “Les nouveaux intellectuels”, de 1966..

(34) 32. exercer a função de organizador da produção, o que exige qualificações técnicas, administrativas etc. A distinção entre intelectuais e não intelectuais situa-se no conjunto das relações sociais gerais e, se, cada um utiliza em um grau mais ou menos elevado sua capacidade cerebral, todos os homens podem ser considerados intelectuais, porém nem todos exercem a função de intelectual, ou seja, “a própria relação entre o esforço de elaboração intelectual-cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre igual; por isso existem graus diversos de atividade específica intelectual”. (GRAMSCI,1978, p. 7) Para identificar o lugar e a função dos intelectuais, Piotte (1972) parte das seguintes questões: se nem todos exercem a função de intelectual, qual seria essa função e qual o lugar do intelectual nas relações de produção? De acordo com o autor, para Gramsci: Todo grupo social que surge sobre la base original de una función essencial en el mundo de la producción económica, estabelece junto a él, orgánicamente, una o más capas intelectuales, que le dan homogeneidad y consciencia de su própia función, no sólo en el campo económico, sino también en el social y en el político [...]7(GRAMSCI apud PIOTTE, 1972, p. 21). Esta definição aplica-se somente às classes fundamentais e Gramsci retira seus exemplos das classes trabalhadora e capitalista. Piotte (1972), no entanto, busca adaptá-la às classes não fundamentais. Conforme mencionamos na introdução, os intelectuais que uma classe cria no curso de seu desenvolvimento cumprem tarefas que, na maioria das vezes são especializações de atividades intelectuais implicadas por sua origem na função que exerce esta classe pelo lugar que esta ocupa no modo de produção. Assim, os empresários devem ter capacidade técnica no campo que lhes é próprio, ser os organizadores da divisão técnica do trabalho e ter a confiança dos acionistas e dos compradores. Uma elite de empresários deve ser a organizadora da hegemonia da classe burguesa e da coerção exercida por meio do Estado sobre as outras classes trabalhadoras. Contudo, estas distintas atividades intelectuais não. 7. É importante esclarecer que, para Gramsci, grupo social que exerce função essencial é o mesmo que classe social. Este foi um artifício utilizado para burlar os carcereiros à época da prisão..

Referências

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