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CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS DO PROFESSOR

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1 A FORMAÇÃO DOS INTELECTUAIS EM GRAMSCI

4.1 CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS DO PROFESSOR

A questão norteadora deste subitem é: Você acha que o professor tem uma ideologia específica? Qual seria: mérito, dom?”.

Quando buscamos compreender as concepções ideológicas dos professores, reconhecemos a necessidade de inserção dessa temática no debate sobre a posição de classe dos trabalhadores docentes.

Consideramos que a busca por uma identidade profissional dos professores como trabalhadores, sofre ainda hoje forte influência das ideologias do dom e do mérito, além de ter sido marcadamente representada pelo sacerdócio.

Assim, para apreensão das orientações ideológicas e políticas dos professores devemos, inicialmente, identificar o lugar ocupado por esses trabalhadores na estrutura de classes.

Se entendermos que os professores são trabalhadores não manuais, assalariados e que realizam um trabalho distinto do das classes operárias, poderíamos então inferir daí a sua inserção na classe média. Contudo, como a classe média se constitui por uma diversidade de práticas e orientações não pode ser entendida como um bloco homogêneo, portanto, não deve ser caracterizada exclusivamente pelo nível econômico.

A distinção entre trabalho manual e trabalho não manual aparece para os trabalhadores de classe média como uma hierarquia natural, fundamentada nos dons e méritos pessoais, que apaga de suas consciências o fato de serem explorados tanto quanto os assalariados produtivos. Essa contradição passa a ser substituída pelas diferenças, tais como o sentimento de superioridade, de preconceito e de muitas outras formas de segregação social que, na realidade, se configuram como uma forma de reação à igualização social dos trabalhadores.

Os assalariados não manuais enxergam as relações de trabalho como relações pessoais ou, no limite, como relações entre grupos profissionais, e também atribuem as desigualdades sociais às diferenças de capacidades, oportunidades, dons, vontade etc. Assim, a inserção dos assalariados não-manuais na classe média parte da existência de uma unidade ideológica entre eles: a ideologia da meritocracia.

No que diz respeito às orientações políticas assumidas pela classe média, constitui-se um equívoco derivar a inserção de classe, burguesa ou operária, dos assalariados não manuais das posições defendidas por eles, pois como afirma Saes (1984) o fenômeno da basculagem deve ser entendido como característico da classe média “recusa à igualização social é o limite dentro do qual os grupos médios podem oscilar à esquerda e à direita, sem perder por isso sua identidade”.

Ao indagarmos se o professor tem uma ideologia específica, dom ou mérito, percebemos que na visão das lideranças sindicais a questão ideológica de classe do professor está relacionada à militância e consequentemente ao posicionamento político ideológico assumido.

Para Saes (1980) um traço característico do sindicalismo da baixa classe média é a subpolitização, sendo difícil a caracterização de um elo regular entre a baixa classe média e os partidos políticos. Mesmo reconhecendo um avanço nas relações políticas dos sindicatos, isso parece estar circunscrito à ação de algumas lideranças e não ao conjunto dos professores.

A despeito disso, a professora entrevistada CG afirma: “Hoje temos

professores que estão articulados a correntes políticas de dentro do partido83 e acabam por levar o conceito de sua corrente, mas, muitas vezes, eles são tarefeiros.”

Em relação à possibilidade de os tarefeiros também estarem vinculados aos sindicatos, esta professora afirmou que:

Claro que sim, estou olhando mais para a Apeoesp, pensando no aligeiramento, até porque no Sinpro a gente tem uma outra realidade, é outra coisa. Na questão da Apeoesp, geralmente, cada corrente tem um quadro e este representa e sabe o que está fazendo. Entretanto, os que estão ao redor, estão muito mais articulados pela

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simpatia, pelo carisma de uma pessoa do que propriamente por uma concepção de mundo, por ideias. Acredito que isso empobreceu muito a luta política dentro da educação porque as pessoas precisam se articular a partir das ideias e não de pessoas. Ou seja, isso contribui muito para esse marasmo que vivemos hoje. (CG)

Quando a professora se refere ao aligeiramento da profissão está fazendo uma crítica contundente à falta de leitura, de tempo para estudar e, consequentemente, para refletir sobre questões políticas e ideológicas da profissão acarretando na ausência de professores com uma ideologia específica, como se teve no passado, pois “Essa necessidade de um professor autônomo com uma

ideologia própria, com uma concepção de mundo tem sido cada vez mais difícil.”

(CG)

A falta de uma concepção de mundo e de envolvimento em lutas políticas sindicais pode ser entendida gramscianamente no âmbito das funções dos intelectuais, ou melhor, na distância existente entre a compreensão objetiva do exercício da função sindical e a percepção do professor como intelectual orgânico.

Para Antonio Gramsci “todos os homens são filósofos”, porém essa “filosofia” denominada “espontânea” está contida em uma concepção de mundo (linguagem), no senso comum, no bom senso e na religião. O autor aponta para a necessidade de formação de uma nova filosofia que desenvolva a elaboração de uma concepção de mundo de forma ativa, crítica e consciente que possibilite aos indivíduos, por meio de um grupo social, participarem da produção da história do mundo.

Uma das funções dos intelectuais é a de atuar neste processo de formação de uma consciência crítica na direção de um mundo unitário e coerente dos “simples”, ou seja, é estabelecer uma relação orgânica entre eles. Desse modo, pode surgir uma elaboração superior dos grupos subalternos, no sentido de fazer parte de uma força hegemônica, isto é, a formação de uma consciência política.

Os processos históricos de produção da hegemonia são signatários das funções organizativas e conectivas desenvolvidas pelos intelectuais tanto na sociedade civil como na sociedade política. Gramsci considera como fundamental, nesse processo, a relação orgânica entre o intelectual e o grupo social que representa. Todavia, é no campo da sociedade civil que o partido se constitui como o instrumento que realiza a soldadura entre intelectual orgânico e intelectual tradicional para transformá-los em “intelectuais políticos qualificados, dirigentes,

organizadores de todas as funções inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma sociedade integral, civil, política”. (GRAMSCI apud DURIGUETTO, 2014, p. 288)

Essa função é conexa com a função mais geral do partido, que para Gramsci, consiste na elevação do nível econômico-corporativo ao ético-político. Importa salientar que cabe ao partido a superação dos momentos econômico-corporativos dos grupos sociais “que encontram nos sindicatos a sua expressão” e se tornam “agentes de atividades gerais, de caráter nacional e internacional.” (ibid., p. 288)

Nesse sentido, o papel atribuído por Gramsci aos sindicatos, que são a expressão do partido, seria de, por meio dos intelectuais orgânicos, elaborar uma nova filosofia que promovesse uma concepção de mundo ativa e crítica, mas a falta de uma visão de mundo, percebida pela professora entrevistada denuncia a distância entre as lideranças sindicais e os demais membros do sindicato, no sentido das lideranças atuarem nesse processo de formação de uma consciência crítica na direção de um mundo unitário e coerente.

Para um dos professores entrevistados a militância é marcada por dois tipos de professores: um militante, mas não atuante, e o outro representado por aquele que, desde sua época de estudante, já se envolvia em lutas reivindicativas e por isso mesmo é hoje um atuante do movimento.

Têm duas dimensões, acho que tem aquele professor que é militante e não se generaliza, dentro da rede ele é uma minoria. Ele pode ter iniciado sua militância no movimento sindical dos professores, como pode ter vindo do movimento estudantil, ainda quando estudante. Eu, por exemplo, me considero um professor militante, porquanto vim do movimento estudantil, ingressei na rede e me tornei um atuante do movimento e hoje estou aqui na direção do sindicato, na comunicação. (RG)

Entretanto, ao se referir ao conjunto dos professores e se estes têm uma ideologia específica, o entrevistado afirmou que:

De maneira alguma o professor médio ou o grande, a grande massa dos professores, por exemplo, nós somos duzentos e vinte mil no Estado, não me parece que tem uma ideologia, você tem professores também com uma ideologia política, mas na maioria das vezes eles não se expressam. Pelo menos, não se expressavam até um tempo atrás, começaram a se expressar mais quando a sociedade começou a se posicionar mais. (RG)

O professor aponta ainda para a enorme diversidade de concepções ideológicas que permeiam o posicionamento político-sindical-educacional do professor. A ausência de uma visão ideológica única pode ser resultante da fraqueza organizacional do próprio sindicato que ainda sofre a forte influência de um sindicalismo de Estado.

Você tem uma diversidade muito grande, tem professores conservadores, progressistas, militantes, sem ideologia nenhuma, com uma forte vinculação religiosa, progressista com uma prática conservadora, como você pode ter professores conservadores sob o ponto de vista da politica que tem uma prática didática avançada. Eu não diria que não há uma ideologia, pelo contrário, há uma multiplicidade. A tarefa do sindicato é compreender isso, é trabalhar naquilo que pode ser unificado. (RG)

A Revolução de Trinta modificou a forma de ação política das classes médias, que passaram de manifestações espontâneas e informais à ação sindical. Apesar da inércia político-partidária o sindicalismo reivindicativo começou a tomar forma com o reconhecimento do sindicato pelo Estado que representa uma proteção sindical contra as ameaças do patronato.

O reconhecimento do sindicalismo de Estado significa para a baixa classe média um incentivo à participação e ao desenvolvimento da ação sindical. Significa também para essa classe acreditar na capacidade do Estado de desenvolver o bem- estar material, pela via do progresso, por meio de uma ação justa em favor do povo. A aspiração a um Estado industrializante e assistencial é traduzida de diferentes modos na prática. De um lado, “reivindicações profissionalmente localizadas: redução da jornada de trabalho, melhores salários, previdência social, etc.” (SAES, 1980, p. 37); de outro, categorias que se opõem à política do Estado reclamando por “reformas (distribuição da terra, reforma bancária, nacionalização das empresas estrangeiras, antecipação dos trabalhadores no lucro das empresas)” (ibid., p. 38, parênteses do autor). Porém, essa oposição não pode ter sucesso sem vencer a resistência da classe dominante: “[...] o seu apoio a um programa de reforma coexiste com a sua fraqueza organizacional (sindical, partidária) diante do Estado”. (ibid., p. 38) Essas categorias se acomodam a um sindicalismo dependente do Estado e não procuram formas de apoio a um partido de classe média e nem participam de organizações politicas populares. “Essa dupla fraqueza evidencia os obstáculos que o seu estatismo opõe ao seu reformismo.” (ibid., p. 38)

Se entendermos que a situação de trabalho da baixa classe média se caracteriza pelo trabalho assalariado, pela exploração do capital, pelas baixas remunerações e qualificações e pelo baixo poder de decisão, podemos então compreender a sua aspiração a um Estado-Desenvolvimento, industrializante e assistencial.

Apresentamos algumas passagens das entrevistas realizadas que corroboram essa percepção da persistência desta propensão ideológica ainda hoje.

Quando questionado sobre as intenções dos professores na busca desta profissão, um dos entrevistados apontou para a influência de professores sobre a escolha profissional de muitos colegas e assinala ainda que a situação de desemprego “empurra” algumas pessoas para a docência.

Nos últimos tempos tenho observado que há também um conjunto de professores que vêm para a rede por conta de outra atividade, por problema de ordem material desemprego, baixo salário e acabam optando pela profissão de professores. Isso é um problema de percurso e não de opção. De qualquer maneira, não é uma coisa só que determina a escolha, a opção pela carreira. (RG)

Observamos ainda situações em que ficam claros os problemas de baixa remuneração e qualificação. Sobre o fato de o professor se sentir uma pessoa diferenciada, a professora entrevistada ressaltou:

Acredito que o professor anda se sentindo muito resignado, tem perdido essa capacidade de se colocar no mundo como intelectual, através dessa precarização do trabalho que ocorreu nestes últimos vinte anos, a luta pela sobrevivência...mas no fim esse nível de precarização do trabalho é um nível de precarização intelectual também. Tem relação com uma formação deficitária, mas que na verdade esse professor não tem o aprofundamento teórico a ponto de se constituir em um sujeito crítico...Chegou ao ponto que, por exemplo, nas ruas em manifestações você vê pessoas com muito desejo de mudança, mas, é visível a falta de teoria. É aquela velha história de Marx: a arma da crítica não substitui a crítica das armas, chegamos ao ponto que não temos mais a arma da crítica e com isso nunca teremos a crítica das armas, acho esse um dilema. (CG) A meritocracia é ainda uma questão muito presente no ideário dos professores. É importante lembrar que a meritocracia apaga das consciências a exploração capitalista possibilitando o sentimento de superioridade, o preconceito, a marginalização social e inúmeras formas de segregação social, que são, na realidade, reações à igualização social aos trabalhadores manuais.

Além disso, esse sentimento promove a visão de que as desigualdades sociais são resultantes de diferenças de capacidade, oportunidades, talento, dons, vontade, esforço, enfim, diferenças individuais. A ideologia da meritocracia se presta também aos interesses específicos da classe média, isto é, à valorização do trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual. Devemos ainda destacar que o apego à ideologia meritocrática promove a rejeição à participação no movimento sindical, pois se considera que este seja apropriado aos trabalhadores manuais, que precisam compensar a falta de méritos pessoais recorrendo ao uso da força.

Quando questionado sobre o fato de o professor ter uma ideologia de classe média um dos entrevistados respondeu que, a seu ver, esse é um fato muito presente em escolas particulares de classe média ou média alta (de elite). Explica que como líder sindical faz visitas regulares às escolas e que isso permite coletar impressões sobre essas questões.

Notamos que nos colégios destinados à elite o nosso discurso é mais complicado de penetrar. Nas escolas particulares os professores têm um pouco, não diria de resistência, pois temos um bom número de associados, mas existem algumas escolas em que o professor é refratário, essa é uma coisa que levamos para discussão. (NB) Quando questionado sobre em que termos os professores são refratários, se em termos de luta, de reivindicação, o entrevistado respondeu que sim, são refratários em termos de luta. Destacamos aqui a presença da ideologia do mérito, própria da classe média e muito presente nas falas dos professores.

A greve é uma palavra, que não vou dizer que é proibida, pois agora (os professores estão em período de greve) vamos lá para falar em greve, existe um receio em falar em greve, causa certa repulsa e ela é um instrumento legítimo, você não está sendo um agitador quando fala em greve. (NB)

Mas, a que se deve essa repulsa dos professores com relação à greve? Notamos aqui também a mesma questão ideológica, pois a luta salarial da categoria docente é uma luta no sentido de, no mínimo, manter as posições relativas entre a classe média e a classe trabalhadora manual. Ou seja, as pessoas reclamam dos salários não só porque ele está baixo, mas porque, muitas vezes, ele está diminuindo em relação ao salário das categorias inferiores. A percepção do entrevistado sobre a conduta dos professores demonstra como essa ideia perpassa o ideário docente.

Em parte o professor não deve se achar um assalariado como os demais trabalhadores. Usamos o nosso material (material do sindicato para divulgar a greve), uma linguagem, um discurso classista, são trabalhadores e trabalhadoras, professores e professoras, mas nós trabalhamos com todos esses substantivos. Nós sentimos um pouco dessa dificuldade de eles entenderem que são assalariados como todos os demais trabalhadores que dependem dos seus trabalhos. (NB)

É claro que há um elemento de reinvindicação quanto à perda absoluta de poder de consumo, mas, na verdade, a categoria docente está sempre monitorando a distância relativa entre ela e as categorias de trabalhadores manuais, ou seja, a manutenção ou a melhoria de sua posição relativa com relação aos que estão abaixo. Portanto, é uma luta contra a proletarização porque seria a igualização, o desconhecimento do mérito, uma vez que o trabalhador intelectual tem um mérito superior ao do trabalhador braçal. Então, a luta salarial do professorado é conduzida pela ideologia do mérito.

Na entrevista o professor NB comenta que as lideranças sindicais tentam mostrar que o trabalho deles (dos professores) não é apenas intelectual, mas que “é

também algo que exige esforço físico tanto quanto o trabalhador que está no chão da fábrica”. Entretanto, parece que isso é distante da realidade dos professores. Não

que seja algo que esteja longe, mas parece com a mesma situação do filme Titanic “em que as pessoas estão ali, são náufragos boiando, a morte está ali e tem uma

pessoa viva. Às vezes eu tenho um pouco essa impressão de que eles (os professores) sabem e têm consciência daquilo, mas pensam: vou tocar o meu apito, vou tentar me salvar”. (NB)

Perguntamos ao professor se essa ideia de “vou me salvar” está associada a um sentimento de possuir um trabalho diferenciado, no sentido de pensar “eu não vou fazer greve porque sou diferenciado”. Esse entrevistado acredita, sim, que essa postura está associada ao fato de exercerem um trabalho intelectual, mas na sua maneira de pensar não classificaria esse, “como um trabalho intelectual, mesmo que

seja um trabalho que envolva reflexão, leitura, construção de um discurso, uma tese, uma dissertação.” (NB). Completa dizendo que “É importante ressaltar que ele teve um trabalho intelectual para chegar aonde chegou.” (NB)

Consideramos oportuno lembrar, mesmo que de forma suscinta, as condições históricas para a construção desta ideologia.

Vivemos em um país de tradição feudal aristocrática que nos seus primórdios deu origem à intelectualidade nacional. Como descreve Micelli (2001):

Até meados da República Velha, a Faculdade de Direito era a instância suprema em termos de produção ideológica, concentrando inúmeras funções políticas e culturais. No interior do sistema de ensino destinado à reprodução da classe dominante, ocupava posição hegemônica por força de sua contribuição à integração intelectual, política e moral dos herdeiros de uma classe dispersa de proprietários rurais aos quais conferia uma legitimidade escolar. (p.115)

A forte ligação com a aristocracia, especialmente pelos laços sanguíneos, promoveu nos intelectuais brasileiros o sentimento de diferenciação, de uma casta com dons especiais e que, por isso mesmo, ia bem na escola, assumindo postos políticos e altos cargos no governo.

O que queremos apontar é que, mesmo se reconhecendo como intelectuais, a ideologia da vocação jamais conseguiria incitar os professores para um tipo de luta pela manutenção da posição salarial relativa.

Podemos até entender que a questão da ideologia vocacional, da excepcionalidade e do dom força a entrada dos professores em outros espaços da vida social, nos quais ele pode apontar para o fato de optar por essa profissão pelo dom, pela vocação. Isso não significa, no entanto, que essa ideologia possa se apoderar da prática docente no espaço educacional, pois levaria o professor a pensar que não trabalha por dinheiro e sim, por vocação.

Assim, entendemos que a ideologia reinante no interior da escola é a ideologia do mérito, a ideologia do esforço pessoal que possibilita o sucesso escolar pela dedicação e pela força de vontade.

Para Durkheim (apud FILLOUX, 2010) “A sociedade só pode viver „se existir entre seus membros uma suficiente homogeneidade‟. A educação perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando, antecipadamente, na alma da criança as alianças fundamentais exigidas pela vida coletiva.” (p.15). No entanto essa é uma homogeneidade relativa porque, nas sociedades capitalistas, com a divisão do trabalho, as profissões são diferentes e solidárias exigindo uma certa

heterogeneidade. Em outras palavras, a educação “[...] tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais, que requerem dela, tanto a sociedade política em seu conjunto, quanto o meio especial ao qual ela é mais particularmente destinada [...]” (FILLOUX, 2010, p. 16)

Émile Durkheim, como ideólogo da escola pública, tinha como função ajudar a criar a ideologia da escola pública “do esforço pessoal”; possuía total consciência da necessidade de o professor se desvincular da ideologia aristocrática “do dom”, a qual seria altamente prejudicial à escola.

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