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OS RELATOS DE JEAN CAPELA E DE SEUS INTRÉPIDOS COMPANHEIROS (VOLUME II)

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Academic year: 2022

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OS RELATOS DE JEAN CAPELA E

DE SEUS INTRÉPIDOS COMPANHEIROS

(VOLUME II)

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ÍNDICE:

Mar Noturno...04

Gaijin...42

(3)

Para Tomás, Iur, Seixas e Santana lembrando-se daqueles maravilhosos fins-de-semana do RPG.

(4)

Introdução:

Esta saga foi uma das mais difíceis que escrevi até hoje, mas também foi uma das mais prazerosas.

Que agora chega ao fim (será mesmo?) com as duas últimas aventuras: Mar Noturno e Gaijin.

Nestas aventuras, novas verdades aparecem para o pistoleiro Jean Capela e seus companheiros, o clérigo Vareen Masiev, o paladino Caleb Montelach, o guerreiro Nikolai Von Zarovitch e o nobre clérigo William Weathermay.

E também novos perigos em mundos totalmente desconhecidos, longe de seus domínios habituais.

Qual será o destino final para estes cinco heróis que lutam com o objetivo de salvar o mundo da Grande Conjunção prevista em profecias?

Uma coisa eu sei, contudo.

Que Ezra e o Senhor da Manhã abençoarão vocês, leitoras e leitoras fieis.

Mário Amaral 26/06/2020

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Mar Noturno

Prólogo: Uma Nova Ameaça

Seis meses se passaram desde que derrotamos Radaga e vimos a guerra entre Baróvia e Gundarak terminar com a vitória dos barovianos e com a anexação de uma boa parte de Gundarak por eles.

Nesse meio tempo, cada um de nós se fortaleceu á sua maneira firmando-se ainda mais rumo a perfeição, se é que isso existe.

Um enclave dementliano foi formado em Mordent com a ajuda essencial de William e desde então, levas de dementlianos começaram a se estabelecer ali aumentando bastante nossa população dia após dia e sacramentando ainda mais nossas relações com este domínio para satisfação do lorde Dominic.

Bem que gostaria de ver a cara de Leclerc quando souber disso. Mal posso esperar pra acabar com ele, mas como Vareen sempre diz: a vingança deve ser servida fria e de forma paciente.

Estava muito feliz com Charlotte e assim que terminei meu relatório para colocar nos arquivos da sociedade Van Richten, encontrei na rua meu bom amigo Mounsel dizendo que Charlotte estava em trabalho de parto e que Suzanne e as irmãs Weathermay estavam lá para confortá-la.

Como fiquei nervoso, meu deus!! Estava com o coração aos pulos quando enfim Suzanne deu a notícia do nascimento de Nicolas e Jeannette.

Fiquei tão feliz que cheguei a chorar quando vi aquelas duas criancinhas tão frágeis, mas ao mesmo tempo tão fortes.

Saí aos pulos de lá e contei aos meus companheiros a novidade.

Todos me congratularam pelo ocorrido e depois disso, William nos convocou para uma reunião em sua casa cuja pauta era sobre lady Kazandra de Kargatane e as informações obtidas pela rede de espiões de Giovanni Attore.

Assim que entramos, vimos que todos os membros da sociedade já estavam lá.

E também o doutor Max.

Com dois pequenos frascos em uma mão e uma estranha pedra na outra.

Que seria de grande utilidade para nós.

* * *

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Nessa reunião ficamos sabendo da nova situação de Giovanni Attore que graças a uma enorme pedra de ouro que encontrou, tornou-se o maior acionista do banco mercante de Mordent sem falar que agora tornou-se o homem mais informado de toda a região bem como o mais respeitado e o mais temido graças a sua poderosa rede de espiões que montou com a ajuda de diversas pessoas das quatro torres, a maioria delas vinda de Borca.

Ficamos felizes pelo sucesso daquele borquiano e Vareen comentou sobre seu incrível talento de espião argumentando que sempre nos ajudou em nossas missões com suas boas informações.

O doutor Max pediu a palavra e nos mostrou a tal pedra.

Era a famosa pedra de Rosetta que era capaz de traduzir qualquer língua para que todos entendam o que nosso interlocutor estava falando sem depender de mim ou de Nikolai para isso.

Fiquei curioso ao saber o que tinha naqueles pequenos frascos trazidos pelo doutor Max e ele nos disse que era amostras de sangue dele e de Nikolai onde o baroviano e o doutor fizeram um experimento criando uma poção especial para Caleb e Vareen.

Eles já começaram a sentir os primeiros sinais de envelhecimento e essa poção seria capaz de retardar esse processo por mais alguns anos.

O paladino a bebeu sem problemas e ficou quatro anos mais jovem, mas o clérigo exagerou na dose, vomitou muito e acabou desmaiando.

Por sorte William o despertou e pediu a Laurie levá-lo a um dos quartos para que se recuperasse, mas o clérigo insistiu teimosamente em ficar dizendo que estava bem.

Tanto foi isso que Vareen sentiu uma forte tontura e quase caiu de novo sendo agora amparado por Laurie e levado para o quarto.

No entanto, notei algo diferente em Vareen.

As outras dores que sentia desapareceram.

A poção do doutor Max e de Nikolai funcionou.

Ele ficou cinco anos mais jovem.

* * *

A reunião foi transferida ao quarto onde Vareen estava para que também pudesse participar.

William nos explicou que alguns dias atrás, houve uma violenta briga de bar e um dos amigos de Attore havia matado o indivíduo que o havia ofendido.

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E Attore, para sua surpresa, acabou descobrindo através de seu amigo que o homem era na verdade um dos espiões de Lady Kazandra e a carta de recomendação que foi encontrada em seus despojos provam de que ela estava na cidade atrás de algo grande.

Ou até mesmo de nós, ou mais precisamente de Caleb.

Falou também a respeito de terras desconhecidas citando algumas ilhas onde existiam mortos enfaixados e outras que foram encontradas por comerciantes vindos do Mar das Mágoas.

E também do Mar Noturno, local onde apenas os mais corajosos (ou seriam imprudentes?) arriscariam a vida em busca de algo melhor.

Asher Badhir pediu a palavra e falou da situação de Sithicus, onde ainda estão muitos refugiados da guerra entre Baróvia e Gundarak e entre eles existiam certas pessoas com a estranha habilidade de controlar as águas.

Constam os relatos de que uma delas jogou-se no mar e voltou de lá sem sentir os efeitos que qualquer um de nós sentiríamos ao ficar muito tempo debaixo d´agua.

Essas pessoas eram chamadas de Filhos e Filhas do Mar e algumas delas estão até mesmo em Mordent a procura de um estranho mago arcano para que ajudasse a entender esses estranhos poderes.

O problema é que os mordentinos não são muito afeitos a esse tipo de magia dizendo que são os elfos que fazem isso e não as pessoas ditas normais.

É difícil convencer as pessoas do contrário quando a palavra elfo está envolvida no meio.

É o velho e bom preconceito dando as caras aqui, tenho que admitir.

Me pergunto por que as pessoas tem esse ódio tão forte pelos elfos e por qual motivo?

Só porque são diferentes no aspecto físico? Ou por serem pessoas que vivem sob suas próprias leis e tradições bem como ter sua própria cultura?

Bom, de qualquer forma outro bolo explosivo está se formando com ingredientes que variam bastante o tamanho dele.

Lady Kazandra e seus espiões, os elfos de Sithicus e o Mar Noturno.

O que sabemos é que ao menos temos um ponto de partida para nossa próxima missão.

Era hora de ir a Sithicus e obter mais informações com os elfos.

E através disso, explorar o Mar Noturno.

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Parte I – Rumo a Sithicus

Assim que a reunião terminou, nós nos despedimos e cada um dos membros da Sociedade Van Richten voltaram para suas buscas pessoais.

Aidan voltou para Blackburns Crossing e nós seguimos para Sithicus onde lá encontramos um velho conhecido nosso que abriu aquele sorriso quando nos viu.

Era Lucianinho. Mas não era mais o mesmo garoto mendigo que encontramos a dois anos atrás.

Estava feliz por dois motivos: entrou para a guarda de Steadwall depois de destacar-se em diversos combates e tornou-se noivo de uma elfa chamada Enja onde a conheceu em uma dessas missões.

Falou que seu casamento será no final do ano e fez questão de nos convidar para o matrimônio agradecendo-nos por ajuda-lo a se regenerar.

Dá para dizer que Vareen tem jeito pra bancar a fada-madrinha, só não precisava exagerar com aquele choque elétrico que quase matou o rapaz.

Mas nem mesmo eu imaginaria que não seria a última vez que aquele clérigo usaria seus raios para resolver um momento crítico.

Que quase levou ao fracasso de nossa missão.

* * *

Ao chegarmos a Sithicus, achei que os elfos fossem jogar objetos ou simplesmente xingar-nos com palavrões obscenos.

A culpa dessa atitude agressiva dos elfos era nossa porque os tratamos da mesma forma quando nos visitam.

Passamos pela avenida dos ramos verdes e encontramos Gaudrin, o líder dessa comunidade falando a respeito dos tempos como comandante da fortaleza secreta de Vedragaard.

O local fica próximo de um pequeno riacho e havia na comunidade certas casas construídas estilo tenda oriental.

Gaudrin tinha uma imponência que nos impressionou e, após Vareen ativar a pedra de Rosetta dada pelo doutor Max, ficamos sabendo um pouco mais do líder dessa comunidade élfica.

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Ele tinha uma filha chamada Ilfa, considerada uma das elfas mais bonitas do local, que era motivo de orgulho pra ele.

Levou-nos a um lugar bem mais reservado para continuar nossa conversação.

Sua casa.

Que não era um mero casebre.

Era uma autêntica fortaleza como todo bom comandante que se preze deve ter.

* * *

Na entrada, vimos soldados fortemente armados e alguns empregados com variadas funções.

Um deles olhou feio pra nós e já se preparava para atirar um balde de água suja em nós quando Gaudrin, apenas com um olhar duro, o obrigou a parar.

O que chamou minha atenção na fortaleza foram os livros na estante que falavam sobre guerras e táticas militares e o retrato de família que mostra um elfo fardado com postura tão imponente como Gaudrin.

É bem provável que seja o pai ou até mesmo o avô dele.

Ao chegarmos no gabinete de Gaudrin, fomos bem tratados pelos empregados e notei que uma das serventes mostrou interesse especial por Nikolai.

Pode-se dizer que aquele baroviano safado era sem dúvida, o terror dos maridos.

Impressionante o quanto as mulheres são atraídas por ele, talvez por seu carisma ou por suas incríveis habilidades de “cavalgada”, se é que aquele que ler este diário vai entender estes termos.

Vareen perguntou a Gaudrin a respeito da magia arcana dos elfos mostrando preocupação com a reação dos mordentinos que relaciona a esse tipo de magia.

Enquanto olhávamos admirados com a casa sendo construída com rapidez impressionante, Gaudrin nos falou sobre seu filho Derron que viu seu amigo sentir-se mal e cuspir fogo entre outros casos estranhos ocorridos em Sithicus.

Falou ainda sobre os Filhos e Filhas do Mar que existem em boa quantidade em Sithicus onde inclusive alguns eram instrutores com aptidão incrível na água como, entre outras habilidades, virar pedra em barro.

Assim que mencionamos o Mar Noturno, notei que Gaudrin ficou sem reação como se tivesse receio de alguma coisa terrível.

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Duri logo o acalmou com um pouco de água e Vareen sugeriu que eu ficasse junto de Gaudrin enquanto que ele e Caleb seguiriam sua investigação falando com os outros elfos bem como tranquilizá-los a respeito do que houve com Gaudrin.

Já Nikolai resolveu, digamos, ter uma conversa mais reservada com Duri que se lembrava dos sombrios tempos que Sithicus atravessava devido as sequelas da guerra entre Gundarak e Baróvia e sonhava com a paz entre elfos e humanos.

Mas eu sabia que as conversas do baroviano com as mulheres na maioria das vezes acabavam na cama.

Enquanto tudo isso ocorria, a minha conversa com Gaudrin foi bastante interessante.

Ele me tranquilizou a respeito das relações entre Dementlieu e Sithicus e falou na busca por tempos de paz nessa época tão caótica que atravessamos.

Gaudrin alertou-me para tomar cuidado com os traidores internos e eu jurei em nome do lorde Dominic que os elfos serão bem tratados em Dementlieu.

Havia um problema, no entanto: aquele crápula do Leclerc.

Ele odiava elfos e não hesitaria em exterminá-los se uma guerra ocorresse entre os dois domínios.

Mas acredito firmemente que o lorde Dominic sabe o que está fazendo ao manter Leclerc em sua alça de mira.

* * *

Depois de sairmos da fortaleza de Gaudrin, fiquei sabendo por Caleb e Vareen que os Filhos e Filhas do Mar vieram de outro local pelo fato de Sithicus não ter saída para o mar.

Já era duas da tarde e nossos estômagos estavam ávidos por comida.

Nikolai estava alegre demais quando distribuiu o almoço para nós e caímos na risada quando o baroviano disse que colocou Strahd de vigia na porta para garantir que ninguém perturbasse sua “cavalgada” com Duri e contou suas novas histórias amorosas com um sorriso no rosto.

Fiquei feliz por Nikolai ter voltado a ser o que era antes do trauma que sofreu em Forlorn.

Vareen, por sua vez, escreveu uma carta formal ao governador George Weathermay e aos doutores Max e Van Richten informando sobre a atual situação.

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Na parte noroeste, ouvimos um galope ligeiro enquanto Vareen entregava sua carta a um mensageiro elfo.

Era William.

E estava com uma carta de Giovanni Attore em suas mãos.

Onde dizia que seus espiões haviam conseguido importantes informações nos bares do porto de Mordent e que estava nos esperando no Banco Mercante.

Era hora de voltar a Mordent.

E fazer o que mais aprecio.

Espionar.

Parte II – Um Pouco de Espionagem

Assim que chegamos a Mordent, vimos que em um dos bancos da praça próxima ao Banco Mercante uma jovem e um idoso estavam nos observando com muita atenção.

No entanto, encontramos nosso velho amigo Giovanni Attore. Aquele sorriso e o sotaque de Borca eram indefectíveis e ficamos surpresos quando disse que aquela jovem e o idoso na verdade eram agentes da KGT, a polícia secreta de Darkon, e nos confirmou o que nós já desconfiávamos.

Lady Kazandra estava atrás de algo grande relacionado ao Mar Noturno.

Falou que o doutor Van Richten foi expulso de Borca por “atividades subversivas” e nos alertou a tomar cuidado com grande parte das pessoas aparentemente inocentes que na verdade são também espiões de Lady Kazandra que objetivam conseguir barcos para desvendar os segredos do Mar Noturno.

Foi então que Vareen teve uma ideia simples e genial.

Ele comprou comida e bebida no bar de Attore com o objetivo de atrair os mendigos da praça para uma reunião amigável.

Eram oito mendigos ao todo e Nikolai não perdeu tempo em distribuir farta cerveja a todos eles.

Sete deles beberam como se não tivesse amanhã e ficaram bastante felizes, mas o oitavo não bebeu e saiu em disparada.

Era nosso espião.

Enquanto isso acontecia, minha atenção era para outro casal suspeito que estava em mais um dos bancos com a mulher nos observando mais atentamente.

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Ela usava trajes lamordianos e era bastante atraente. Tanto que Nikolai usou mais uma vez seu charme baroviano ao conceder uma dança com ela que prontamente aceitou.

E por incrível que pareça, o plano da dança foi um sucesso.

Até demais.

Falou sobre os segredos do Mar Noturno e sobre os planos de Lady Kazandra bem como nos ajudou a localizar um dos espiões que era o marinheiro bebendo em uma das mesas.

De repente, a mulher começou a passar mal e a se sentir febril quando Vareen e Nikolai a tiraram dali.

O baroviano falou do marinheiro e logo o cercamos de todos os lados para impedir qualquer tentativa de fuga.

Após um breve interrogatório, descobrimos que havia mais agentes em nosso caminho.

Depois de comprarmos mais algumas provisões no bar de Attore, fomos finalmente ao nosso destino.

A cozinha do barco.

E a surpresas nada agradáveis.

* * *

Chegando a cozinha, ouvimos um grito horrível seguido de um barulho de corte.

A cena era assustadora. Na fresta da porta de saída, encontramos um homem inconsciente e a mulher gritando de dor, mas ainda resistindo a tortura imposta.

Nikolai abriu a porta e viu o homem todo ensanguentado e a mulher com as unhas arrancadas a alicate.

Soltamos a pobre mulher e Caleb investigou a porta mais ao sul dando de cara com um agente da KGT em plena sessão de tortura em outro homem.

Nikolai não perdeu tempo e usou mais uma vez seus poderes de comando para fazê-lo falar tudo o que sabia.

Contou que seu nome era William Hooksberg e era um dos 60 agentes de confiança de Lady Kazandra.

Disse ainda que o mendigo que escapou era seu superior e que as regras da KGT eram implacáveis com quem falhasse em suas tarefas.

Resgatamos o homem torturado e tivemos uma surpresa e tanto.

Era um dos Filhos do Mar.

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E aquele casal que Nikolai resgatou também era.

Realmente o pessoal da KGT não estava pra brincadeiras.

* * *

William teve uma ideia muito boa em ajudar os Filhos e Filhas do Mar a superar esse trauma da tortura usando sua magia de esquecimento e levando-os de volta para o mar.

Assim que foi feito esse procedimento, ouvimos um violento bate-boca seguido de um tiroteio entre os espiões da KGT e os de Attore com muita gente correndo e gritando.

No meio da confusão encontramos nosso mendigo fujão que estava mais sujo do que antes e com um ferimento de bala na perna.

Aí foi fácil para Nikolai usar novamente seus poderes para dominá-lo.

Enquanto isso, reencontramos Lucianinho que havia nos ajudado a capturar o

”mendigo” que se identificou como Gustaf, outro agente da KGT que era o superior citado pelo seu colega William Hooksberg.

E nos contou coisas bem interessantes.

Eles estavam atrás de um certo capitão de Mordentshire chamado Garvin, que ouviu rumores dele já ter navegado o Mar Noturno e ganhando lucros exorbitantes em cada uma dessas incursões.

Na cartola de Gustaf, encontramos uma pequena folha com uma estranha frase que nos intrigou:

“Criança morta e mãe severa irão se encontrar e os arautos do tempo farão uma noite de mar desfeito”

Será que era mais uma das profecias anunciando a Grande Conjunção?

No entanto, não tínhamos tempo pra filosofias.

Era hora de irmos ao covil do lobo para conseguir mais informações sobre Garvin e resgatar um ou outro Filho do Mar pelo caminho.

O núcleo da KGT em Mordent.

* * *

Assim que chegamos a sede, pegamos os agentes quase sem resistência e os amarramos dentro da sala com Nikolai usando mais uma vez o olho vermelho para obter novas informações a respeito do Mar Noturno ou de Garvin, mas não tivemos muitos progressos

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e o máximo que conseguimos saber foi que esses agentes da KGT tentaram ajudar os gundarakitas na guerra contra Baróvia e falharam.

Ficamos atônitos quando o agente começou a rir desbragadamente dizendo que éramos cordeiros do sacrifício antes de morrer de forma súbita.

Mas algo estava estranho.

E de estranho passou a perigoso.

Havia sangue na volta do agente morto.

Nikolai sentiu o cheiro de sangue e perdeu a cabeça.

E se voltou contra nós com os dentes caninos a mostra.

* * *

A cena foi bizarra. Caleb conseguiu agarrar Nikolai pelo pescoço com o baroviano parecendo um touro brabo. Vareen não teve escolha e mandou seu relâmpago na tentativa de acalmar Nikolai, mas a descarga foi forte demais e os dois barovianos ficaram inconscientes.

William e eu fomos ver a situação de Caleb e Nikolai e ficamos aliviados quando o olho de Nikolai voltou ao normal, mas ainda havia sangue no chão.

Enquanto Vareen ainda se recuperava do esforço sobre-humano de usar seus poderes e William apenas balançava a cabeça com o ocorrido, eu fui investigar aquele agente pra saber como morreu.

E o que vi foi estarrecedor.

O agente da KGT tinha uma pequena lâmina em uma das mangas de seu uniforme que ao ser acionado automaticamente cortava a veia do pulso, fazendo o sangue escorrer pelo chão.

Os outros que capturamos tinham o mesmo dispositivo e estavam todos mortos com um pequeno corte nas veias de seus pulsos.

Depois de Caleb também se recuperar do choque que levou, fomos as docas de Mordent e entramos em outro bar.

Lá vimos um homem bastante estranho que falava a respeito de uma nova rota de comércio que dava lucros quatro vezes maiores do que a rota do Mar das Mágoas. Vimos também que as poucas pessoas que estavam lá o debochavam achando que era um louco qualquer que contava historias de pescador.

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Aquilo me interessou e resolvi falar diretamente com aquele homem, que para nossa surpresa e satisfação, era o capitão Garvin.

Depois de usar as técnicas de negociação que aprendi com o lorde Dominic, o acordo para a viagem pelo Mar Noturno foi selado não sem antes Vareen fazer mais uma de suas patetadas e quase colocar tudo a perder ao dizer sem querer quem nós éramos.

Sorte que consegui convencer Garvin de que meus companheiros estavam entusiasmados pela viagem e que aquilo que Vareen disse foi apenas uma gafe. Ele então nos disse que existem duas ilhas com 1000 habitantes e estufou seu peito com orgulho ao falar do casal Basil e Janice Sturm, considerados os melhores tripulantes que um capitão pode ter.

Após isso, voltamos para nossas casas a fim de nos prepararmos para a viagem ao Mar Noturno que começaria no dia seguinte.

E no meu caso, enfrentar a fúria de Charlotte e convencê-la de que essa missão era muito importante para garantir um futuro tranquilo a nossos filhos.

Parte III – Heróis a Bordo

Depois de revigorarmos nossas forças, fomos a mansão da Sociedade Van Richten para relatar os últimos acontecimentos ao Doutor Max.

Ele entregou a nós quatro frascos cujo conteúdo é uma poção que nos impede de ser seduzidos pelo canto das sereias e ninfas do mar sendo levados como consequência ao fundo do oceano.

William sugeriu cartografar o local para que os futuros membros da sociedade saibam onde o Mar Noturno está situado servindo como ponto de referência para aventuras futuras.

Após isso, cada um voltou a sua casa para despedir-se de suas famílias. Caleb reencontrou sua esposa que estranhou um pouco sua nova aparência.

Disse a ela que os dois foram convidados para o casamento de Lucianinho e que seriam os padrinhos do noivo.

Vareen também fez o mesmo e se emocionou ao ver seu filho um pouco mais crescido.

Sua esposa estranhou a princípio seu novo visual um pouco mais jovem, mas ficou muito feliz pelos sucessos do marido.

Nikolai, por sua vez, dormiu bem tranquilo certamente tendo sonhos picantes com Duri, a elfa de Sithicus.

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Quanto a mim, foi muito difícil convencer Charlotte da importância dessa missão. A briga foi feia e ela se queixava de minhas constantes ausências temendo que Nicolas e Jeannette nunca conhecerem seu pai.

Depois de exasperar-se e descarregar sua raiva jogando pratos em mim, eu a acalmei dizendo que era o preço a se pagar por ser membro da Sociedade Van Richten.

Ainda chorando, ela disse para eu ir embora e cumprir a tal missão no mar. Não sei se ela persuadiu-me com seus poderes ou se estava mesmo chateada comigo, mas isso não vem ao caso agora.

Porque havia algo bem pior que a raiva da minha mulher.

A de ter que aguentar piadinhas dos meus companheiros.

* * *

Menos mal que William entendeu minha situação e até falou sobre sorte em casamentos.

Ao menos, Suzanne era bem mais calma que Charlotte e sempre ficou ao lado de William nos momentos mais difíceis.

Era outono e o dia amanheceu com céu de brigadeiro quando vimos pela primeira vez o navio do capitão Garvin.

Fiquei impressionado com o tamanho do navio bem como seu respeitável espaço no convés.

O Resilient, como era chamado, faz, sem dúvida, jus ao nome que tem.

Encontramos o capitão Garvin que apresentou a nós seus imediatos Johann, Heinrich e William bem como o cozinheiro Basil Sturm e sua esposa Janice citados naquela reunião que tivemos com o capitão.

O navio, em minha opinião, tinha uma falha fatal que é a pouca quantidade de armamentos existentes. Meu trabalho sem dúvida seria dobrado.

Após o rito contratual de jogar uma moeda na água para dar sorte, finalmente o barco zarpou.

A moral da tripulação estava alta e que por um instante, achamos que a viagem ao Mar Noturno seria bem tranquila.

Mas nenhum de nós adivinharia o sem-número de perigos a ser enfrentados.

E nem tampouco imaginaria que essa viagem teria um caminho praticamente sem volta.

* * *

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O vento estava bem forte naquele momento, mas o tempo seguia firme.

Vareen sentiu uma força anormal em Janice e Basil contou ao clérigo que ela era capaz de levantar com facilidade um cavalo de porte médio.

Contou também que o barco foi dado a ele por seu tio citando sua participação na guerra travada séculos atrás entre Dementlieu e Mordent.

Eu sinceramente não acredito que essa guerra foi travada mesmo, afinal, o lorde Dominic não é muito afeito a guerras.

Garvin falou ainda que devemos passar por um lugar chamado Vortse, nas Províncias Unidas a fim de comprar mantimentos para a viagem.

De repente, William foi a seus aposentos para descansar e notei que estava um pouco pálido.

Ao menos, a tripulação parou de importunar Strahd graças ao olhar intimidador de Nikolai como se dissesse: “se continuarem fazendo isso com meu cachorro, mato vocês”

Fomos aos aposentos de William preocupados em saber o que tanto o afligia.

Ele nos disse que sentiu magias profanas no barco e pediu para nós ficarmos de olho em um dos tripulantes que agia de modo suspeito, provavelmente um dos espiões da KGT.

Resolvemos iniciar nossas investigações na cozinha do navio onde encontramos um rapaz de 12 anos ajudando Basil a preparar o almoço da tripulação e dos passageiros que era ensopado de batata e uma carne de ovelha no ponto.

Vareen foi conversar com o garoto e descobriu com seus poderes que ele estava dizendo a verdade a respeito dos problemas que teve com a lei e do seu trabalho em outros navios.

No entanto, Caleb sentiu algo estranho na faca do garoto que repentinamente mudou de cor.

O que significaria problemas para nós.

E havia apenas uma coisa a fazer.

Nikolai precisava entrar em ação.

* * *

Após o baroviano utilizar seu olho vermelho no “garoto”, logo descobrimos a verdade.

William estava certo.

Ele era um espião de Lady Kazandra, o agente número 31, que foi mandado pelo seu superior para observar nossos movimentos e nos matar se tivesse oportunidades, mas não

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conseguiu devido ao medo de ficar congelado. (ou seria medo de ficar torrado pelos relâmpagos de Vareen?)

Confiscamos as armas dele e logo em seguida saímos para o convés alarmados com as palavras do espião kargathiano: “Vocês serão os cordeiros do sacrifício”.

Quatro horas já se passaram e após um bom desjejum, a noite caiu bem como a temperatura e logo adormecemos.

Não consegui dormir direito ainda pensando nas palavras do espião e logo ouvi uma estranha canção.

Chamei os outros e estava contando a eles sobre a misteriosa canção quando a neblina se fechou e um estranho casal apareceu a nossa frente.

Os rostos dos dois caíram revelando serem barqueiros das brumas. Disseram que nós seríamos protegidos enquanto estivéssemos dentro do barco e alertaram para não sair deles em hipótese alguma.

De súbito, o frio aumentou de intensidade.

E notei que Caleb, William, Nikolai e Vareen começaram a sentir tontura e exaustiva fraqueza no corpo.

Foi então que tudo aconteceu.

Os quatro desmaiaram quase ao mesmo tempo e Strahd latia desesperadamente a volta de Nikolai.

Perguntei a mim mesmo por que não desmaiei naquela hora e a resposta havia sido dada pelo próprio mar em forma de icebergs.

Depois de muito esforço, Strahd e eu conseguimos fazer com que despertassem e notei o pânico que se instalava neles quando tentaram usar seus poderes.

Tinham perdido o contato com as divindades e, por consequência, seus poderes.

Só havia uma explicação plausível pra tudo isso.

Tínhamos atravessado as brumas e deixado o Mar Noturno.

Era um problema terrível.

E a longo prazo, selaria nossa própria morte.

Parte IV – Descobertas em Um Novo Mundo

Naquele momento, só havia uma coisa a fazer para resolvermos essa situação crítica.

Ir ao porto mais próximo e perguntar a algum marinheiro onde estamos.

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O debate foi acalorado. Vareen foi contra a ideia de descer do barco lembrando-se das palavras do barqueiro, mas Caleb disse furiosamente que tudo isso perdeu o sentido pelo fato de deixarmos o Mar Noturno.

Ficou decidido então que William, Caleb e eu sairíamos em busca de informações enquanto Vareen e Nikolai ficariam no barco até terem seus poderes de volta.

O baroviano, no entanto, bateu o pé e quis ir conosco de qualquer jeito argumentando que agora poderia agir a vontade como um humano comum.

Achei pertinente a ideia de Nikolai. Embora não tenha mais o poder do olho vermelho, a força dele não poderia ser ignorada sendo bastante útil para ajudar-nos a enfrentar o desconhecido.

Ordenou a seu cão Strahd que ficasse com Vareen e imediatamente fomos ao porto mais próximo.

O tempo estava cinzento e uma chuva fina começava a fustigar nossos corpos assim que pisamos em terra firme e logo notei que um homem de uniforme laranja e um chapéu esquisito estava nos observando.

Ele parecia ser o capitão de um dos barcos que estavam ancorados no cais e logo notou meu sotaque dementliano dizendo que eu era um francês vindo de uma cidade chamada Paris ou de outra chamada Montpellier.

Apesar de dizer que vim de Dementlieu, ele quase riu de mim e quis perguntar-me de que parte desse domínio chamado França eu pertencia e se era partidário de um certo duque chamado Francisco de Anjou.

De nada adiantou dizer que eu era “partidário” do lorde Dominic d´Honaire. Achou que eu e meus companheiros éramos um bando de malucos.

Ainda assim, se identificou como Pieter Van Diessen e era originário de um domínio chamado Holanda onde era o local que desembarcamos. Falou que esse domínio que ele o chama de país fazia parte de um grande núcleo chamado de Velho Continente ou Europa.

O ano que estávamos era 1560, época em que o lorde deste local é um certo Guilherme d´Orange que lutava pela independência de seu domínio contra outros domínios como França e Espanha.

Pieter ficou ainda mais espantado com meus companheiros. Achou que William era de um domínio chamado Inglaterra, considerado o mais poderoso de todos, que Caleb era de um império distante chamado Império Otomano e que Nikolai vinha de um império

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chamado Rússia com leves traços de um romeno da província chamada Transilvânia, considerado por Pieter a terra dos vampiros.

Se bem que o baroviano talvez se sentisse em casa como um conde vampiro de provável mestre lembrando-se de seu velho “amigo” Strahd Von Zarovich.

Assim que entramos no que os locais chamam de taberna, ouvimos relatos confirmando exatamente o que Pieter nos disse a respeito dos vampiros dessa Transilvânia e alguns comensais assustaram-se com o tamanho de Nikolai fugindo e gritando que ele era um vampiro.

E os pobres coitados nem desconfiavam de que estavam certos.

Caleb comprou mapas para nós e em uma estante rústica, vi algo que chamou minha atenção.

Era um livro antigo escrito por um árabe chamado Rashid Al-Zarkawi onde contava as aventuras de um grupo de heróis que tornaram-se lendas de um tempo distante.

Mostrei o livro a Caleb e a William e o paladino sorriu quando leu a respeito do lendário guerreiro Albert Walker dizendo-me que um dia seria um grande guerreiro como ele.

E até William se emocionou quando leu a respeito de Baltazar.

No entanto, voltamos rapidamente a nossa realidade quando William abriu um dos mapas na mesa para tristemente descobrir o óbvio.

Estávamos na Europa.

E tínhamos de voltar ao Mar Noturno o mais rápido possível.

Só havia uma maneira de resolver esse problema.

Atravessando novamente as brumas.

* * *

Assim que voltamos ao barco, não sem antes quase levar Nikolai de arrasto pelo fato dele estar cortejando uma das empregadas da taberna, este voltou a zarpar e pouco tempo depois ouvimos gritos assustadores dos tripulantes que corriam de um lado para o outro feito baratas tontas.

Perguntamos a Vareen o que aconteceu e ele nos disse que Basil o levou a frente do barco e apontou para os implacáveis icebergs que estavam a nossa frente.

E para nosso azar, o barco estava prestes a se chocar com um deles.

O pessoal estava com medo.

E eu mais ainda.

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Perdi o controle e gritei desesperadamente feito uma donzela em perigo.

Porque iriamos morrer.

* * *

Estava tão fora de mim que por pouco não me joguei no mar.

Vareen conseguiu agarrar-me pelos pés e depois fomos jogados ao convés graças a uma onda criada por Janice.

Sobrevivemos a um iceberg, mas minha reputação de pistoleiro sangue-frio foi literalmente por água abaixo.

Ao menos, descobrimos o segredo de Janice.

Ela era uma filha do mar.

* * *

A moral da tripulação havia baixado após esse incidente, mas tivemos boas notícias.

O barco tinha atravessado as brumas e voltado ao Mar Noturno com meus companheiros tendo seus poderes de volta.

Vareen não hesitou em usá-los e descobriu que o tempo melhoraria logo enquanto William examinava o mapa daquele núcleo estranho chamado Europa na gávea.

Já eu fiquei sozinho no lado oposto do barco ainda envergonhado com o comportamento infantil que tive no incidente do iceberg.

Percebi que só pioraria minha situação se ficasse ali e fui procurar Caleb e Nikolai para uma conversa amigável quando ouvi estranhos sussurros vindos do fundo do mar.

Seria um dos monstros marinhos citados nas lendas do Mar Noturno?

Logo teríamos a resposta para essa pergunta.

E certamente não seria nada agradável.

* * *

Uma semana se passou desde que embarcamos nessa viagem ao Mar Noturno e não conseguimos nada de produtivo até agora a não ser aquela visita ao núcleo chamado Europa e eu estava ansioso em pisar novamente em terra firme.

(22)

De repente, vi um membro da tripulação passar por mim e se jogar no mar como se estivesse hipnotizado.

Ouvi uma risada feminina e a frase: “jogue-se na água”!!

Sorte nossa que éramos imunes a essas canções graças ás poções do bom doutor Max.

E Nikolai havia expulsado aqueles, ou melhor, aquelas que se atreveram a invadir o barco.

O baroviano explicou-me depois que eram as temidas ninfas do mar, cujas canções podem levar a pessoa a morte por afogamento.

Graças aos seus esforços, a moral da tripulação se elevou e o resto do dia foi bem agradável.

A noite, tivemos um jantar suculento para os padrões do barco. Uma massa com salsicha daquelas de dar água na boca.

Enquanto jantávamos, Caleb ouviu passos estranhos vindos do corredor e um grito terrível de dor.

E ele então viu o espirito de uma mulher gritando pelos filhos.

Nikolai também percebeu isso e resolveu ajudar o paladino na busca.

William, no entanto, nada sentiu, mas ainda assim resolveu ir atrás dos dois por desencargo de consciência.

Vareen e eu ficamos de guarda no barco jogando dados de osso que William havia encontrado pra driblarmos o tedio mortal de só ver água e nada mais.

Foi então que ouvimos um grito e um baque seco como se alguém fosse jogado contra a parede.

Era Caleb.

Tinha visto o espírito da mulher de novo.

E tomado um forte golpe dela.

* * *

Caleb e Nikolai nos avisaram sobre a presença do espírito da mulher no barco e rapidamente nos separamos para vasculha-lo em busca dela que acabou sendo infrutífera.

Depois que Caleb fez seu relato minucioso, William nos chamou a um canto do convés e falou que se existe espíritos no barco, é porque houve um incidente não resolvido no passado.

Uma coisa era certa.

(23)

Garvin tinha algo a ver com isso.

Esse mistério estava mais intrincado do que nunca.

Era hora de resolver todas essas questões.

Antes que o Mar Noturno resolva por nós.

Parte V - Espíritos, Diários e Uma Verdade Aterradora

Mais um dia começou e vi que a tripulação estava mais inquieta do que de costume.

O dia estava nublado e ventoso. A frente encontramos um bando de gaivotas voando pelos céus indicando que estamos próximos de terra firme.

Um bom sinal, diga-se de passagem, porque já estávamos cansados de ver água, água e mais água.

William nos convocou para uma rápida reunião no convés a fim de traçar a estratégia baseada nos relatos de Caleb.

Estávamos a quatro dias de chegar ás ilhas e a tripulação estava inquieta demais.

Enquanto isso, tínhamos visto uma espécie de unicórnio do mar e seguíamos fazendo a ronda no convés.

Mal a noite caiu, o frio aumentava repentinamente forçando-nos a usar nossos casacos para não ficarmos congelados.

Depois de rendermos o último tripulante, Vareen usou seus poderes de observação para abarcar toda a região sentindo dois polos de energia a noroeste.

O que significava terra firme a frente.

Pra ser mais exato, Vareen encontrou duas ilhas.

Não detectei nenhuma ameaça iminente, mas Nikolai ouviu um sussurro e uma risada de criança.

E quase caiu para trás.

Porque a criança estava exatamente a sua frente.

Era outro espírito.

* * *

A criança só faltou botar a língua pra Nikolai e fugiu assim que o baroviano atirou uma pedra nela.

William e eu fomos atrás dele enquanto Caleb e Vareen ficaram de guarda no convés.

(24)

A perseguição não demorou muito e encontramos Nikolai parado diante de um barril pesado e cheio de arenque.

O baroviano nos disse que o espírito da criança passou por essa parede e William desconfiou de que havia algo de estranho em colocar um barril ali, mas era hora de voltar a nossos postos e preparar um plano melhor.

Para descobrir o que aconteceu com esses espíritos.

E para exigir explicações do capitão Garvin a respeito de tudo isso.

* * *

Bem, como já falei inúmeras vezes nesse diário, se existe alguém bom de estratégia, este é Vareen.

O plano do clérigo era bem simples. Ele falaria com Garvin sobre essa situação sobrenatural no barco enquanto Caleb e Nikolai tentariam remover o barril da parede.

Já William e eu ficaríamos de guarda no convés e caso algum tripulante enxerido aparecesse, faríamos de tudo para impedir que isso ocorresse.

O clérigo foi até a porta do aposento do capitão Garvin e para seu espanto, a porta estava entreaberta.

O aposento estava bem organizado e aquecido graças as ventilações, deixando Vareen impressionado com o que viu.

Logo encontrou o capitão Garvin ainda meio sonolento e irritado com a visita inesperada.

Vareen o acalmou contando toda a situação e ele aceitou relutantemente seu pedido de vasculhar a parte de baixo do barco.

O clérigo ficou ainda mais surpreso assim que averiguou o restante do aposento.

Tinha encontrado Janice em trajes mínimos.

Ela estava traindo Basil com o capitão Garvin.

Vareen entendeu o porquê da irritação de Garvin.

Tinha estragado sua grande “cavalgada”.

* * *

(25)

Depois do mal-entendido, Vareen voltou a seu posto com a cara mais vermelha que um pimentão. William e eu perguntamos o que aconteceu lá e o clérigo apenas confirmou que Garvin concordou com nosso pedido notando nele uma estranha reação.

A noite estava calma.

Mas nós estávamos muito agitados.

E rezando para que nada saísse errado com Caleb e Nikolai.

* * *

Os dois barovianos observaram o barril e tentaram removê-lo ao mesmo tempo, no entanto o barril rachou com o movimento brusco e uma parte do caldo de arenque caiu, fazendo com que Caleb escorregasse e caísse de cara no chão ficando todo impregnado com o cheiro de peixe fresco.

Nós ouvimos o impacto do barril e William praguejou antes de ir para a parte inferior do barco.

Ali vi outra cena bizarra.

O barril estava rachado de fora a fora com arenque espalhado por todos os lados e Caleb e Nikolai fedendo a peixe.

Basil lamentou o ocorrido falando que terá que fazer um almoço diferente no dia seguinte.

Nem todos estavam tristes, entretanto. Três dos tripulantes foram mais espertos e pegaram alguns arenques pra fazer uma pequena festinha regada a uma boa cerveja.

Nikolai aproveitou a confusão pra ver o que havia atrás daquele barril e ficamos estupefatos quando vimos que era uma porta.

O baroviano chutou-a com a delicadeza de um elefante e o que viu foi de impressionar.

Era um quarto de aspecto impecável.

Tinha chegado o momento de tirar alguns esqueletos do armário.

E trazer a tona tudo o que ocorreu.

* * *

Havia no quarto três camas e também baús, roupas e livros que chamaram nossa atenção.

(26)

Caleb acendeu as velas e teve uma surpresa e tanto ao encontrar também roupas masculinas em um dos baús o que nos levou a crer que eram um casal ou até mesmo uma família inteira onde foi comprovado em um dos livros, que na verdade era um diário.

O homem chamava-se Jacob Skundatter, a mulher se chamava Madeleine Stein e a menina chamava-se Charlotte Tarvikssen.

Nesse momento, me lembrei da minha Charlotte que certamente deve estar preocupada (e zangada) comigo.

O diário revela que Charlotte estava com saudades de sua família relatando ainda que sua tia Madeleine estava muito doente assim como ela e seu tio Jacob e que esperava ser curada dessa doença por um médico da ilha de Graben.

Cura essa que infelizmente não aconteceu.

Vasculhamos um pouco mais o quarto e não encontramos nada de especial a não ser uma faca de curtidor e um ursinho de pelúcia.

Depois de investigar todo o quarto, Nikolai entregou-me os diários e saímos ainda encontrando arenques pelo chão.

Fechamos o turno de vigia com Nikolai e Caleb indo tomar um banho pra tirar o cheiro de peixe impregnado em seus corpos.

Assim que os barovianos voltaram, William nos reuniu ao convés a fim de discutir nossas descobertas.

Uma coisa era certa.

Houve um incidente no barco.

E o capitão Garvin estava envolvido nele até a medula.

* * *

Dessa vez, foi Nikolai que apresentou o plano de obrigar Garvin a dizer sobre o que aconteceu com aquela família em seu barco.

Simplesmente, ele pretendia usar seu olho vermelho nele pra fazê-lo falar.

Achei o plano do baroviano arriscadíssimo temendo que repetisse o incidente com os espiões da KGT.

Mas se não estivesse com sangue, as chances de êxito seriam enormes.

E foi o que aconteceu.

Após ser submetido aos poderes de Nikolai, Garvin finalmente revelou o segredo.

Que era terrível demais.

(27)

* * *

Ele nos contou que a família havia morrido doente durante a viagem e que havia feito um acordo com os Graben cujo objetivo era levar cadáveres para as ilhas de Graben que seriam repassados para Meredoth, o lorde negro do Mar Noturno, fazer suas macabras experiências.

Contudo, os cadáveres deles não foram aprovados pelos Graben e ele os desovou no Mar Noturno, como sempre fazia.

Ao ouvir tudo aquilo, Caleb revoltou-se e queria esmurrar o capitão ali mesmo. William, Vareen e eu conseguimos acalmá-lo a muito custo e o paladino saiu do convés com uma raiva que eu nunca tinha visto.

Nikolai foi conversar com Caleb e Vareen pediu a Janice que confirmasse suas suspeitas usando suas habilidades.

Depois dessa verdade aterradora, dormimos um pouco e Nikolai não teve problemas pra dormir dessa vez.

No dia seguinte, Janice usou suas habilidades para confirmar o que Vareen já suspeitava.

Encontramos dezenas de cadáveres no fundo do oceano e entre eles estavam os três membros daquela família.

Vareen foi até o capitão Garvin e disse estar decepcionado com as atitudes dele.

Mas não temos mais tempo para lamentos.

Tínhamos finalmente avistado nosso destino.

A ilha de Graben.

Com um mistério a resolver.

E provavelmente um Lorde Negro a enfrentar.

Parte VI – Os Mistérios da Ilha de Graben

Assim que avistamos a ilha de Graben, a tripulação ficou bastante alvoroçada e o capitão Garvin teve que ser bem mais enérgico do que de costume para acalmá-los.

Também pudera, uma forte tempestade tinha balançado o barco e achei que não aguentaríamos o tranco.

E aguentou firme o bastante para chegarmos a ilha.

(28)

Mal podíamos esperar em botar os pés em terra firme depois de muito tempo no mar Noturno.

A tempestade havia passado e o frio aumentou muito forçando-nos novamente a usar aqueles pesados sobretudos.

E só pra garantir que não tentasse fugir, levamos o agente da KGT conosco.

As vezes, me dava vontade de meter uma bala na cabeça daquele filho da puta, mas Vareen e Caleb me convenceram que ele era mais útil vivo.

O clérigo usou seus poderes para detectar alguma magia nas redondezas e nada de anormal aconteceu.

No caminho encontramos três pessoas que nos recepcionaram de uma forma muito fria, com o perdão do trocadilho.

Notei que William estava muito pálido e achei que desmaiaria ali mesmo morrendo congelado.

No entanto, ele havia descoberto o que aconteceu com estas pessoas e o porquê de uma recepção tão indiferente conosco.

Estavam mortos há tempos.

E precisavam de um enterro digno.

William fez questão de encarregar-se do enterro.

* * *

Em Graben, havia apenas três lugares para ir: a prefeitura, o porto e a mansão Graben.

Caleb sugeriu que fossemos a prefeitura. Achei plausível o plano do paladino pelo fato da prefeitura ser o melhor lugar para ir naquele momento.

Assim que chegamos, os guardas nos pararam e ameaçaram nos expulsar de lá, mas aquietaram-se assim que Vareen ameaçou usar seus relâmpagos se não deixassem ver o prefeito Thomas Petersen.

Chegando ao gabinete do prefeito, Nikolai usou novamente seu olho vermelho e descobrimos que ele também recebia os cadáveres transportados pelo capitão Garvin e ajudava a selecionar os melhores corpos para os experimentos de Meredoth.

Para o porto não podíamos ir devido a forte nevasca.

Então só havia apenas um lugar para ir.

A mansão Graben.

(29)

* * *

No caminho, encontramos William que já tinha feito seu ritual de exorcizar os espíritos antes de enterrar os mortos nos dizendo que eles já estavam em paz.

Um problema a menos para nós.

Contudo, Vareen detectou uma estranha energia vinda da costa e aquilo nos alarmou.

Caleb sugeriu falar com os membros da família Graben que provavelmente estariam por trás do plano de desovar os cadáveres imperfeitos.

Pelas informações que conseguimos, havia ainda vivos seis membros da família e Marino Graben era seu patriarca.

Ao chegarmos á entrada da mansão, o fiel mordomo Linus nos deixou entrar.

A mansão não tinha nada de espetacular. Era pequena e alguns corredores eram um pouco estreitos.

A nossa frente havia um enorme retrato do patriarca com os outros membros da família, sinal de que houve tempos felizes neste lugar tão inóspito e sufocante.

Percebi que William novamente estava inquieto e temi que ele desmaiasse de novo.

O motivo era óbvio.

Nosso homem finalmente apareceu.

E aumentou a esperança de desvendar o mistério dos cadáveres o mais depressa possível.

* * *

Ele se identificou como Marcus Graben, um dos descendentes dos fundadores da ilha.

Pouco conseguimos dele a não ser que a ilha foi pacificada após 10 anos e que Meredoth fez seus experimentos com o próprio povo, jogando os que não serviam para o mar.

Nikolai não conseguiu influenciar Marcus Graben com seu olho vermelho, mas Vareen resolveu a situação com bom tato.

Marcus falou dos “povos bárbaros” da ilha vizinha de Knemmen que atacam no inverno acrescentando que o próprio Thomas Petersen é um descendente destes mesmos nativos.

Descobrimos também que Meredoth morava na ilha de Todstein onde lá o inverno é rigoroso o tempo inteiro.

William continuava inquieto e perguntei a ele o que se passava.

Pegou-me pela manga e falou que Marcus não respirava.

(30)

Se não fosse pela incrível habilidade de Vareen em negociação, a situação seria crítica para nós.

A família toda apareceu para nos agradecer e prometeram nos ajudar, a medida do possível, em nossa empreitada.

Em troca, deixamos o agente da KGT aos cuidados deles.

Assim que saímos da mansão, Vareen relatou rapidamente a respeito deles confirmando o que William já suspeitava.

Toda a família era composta de mortos-vivos e provavelmente servos de Meredoth.

Mas ainda havia algo a desvendar em um local onde Vareen detectou vida.

Os campos de pedra na costa de Graben.

* * *

Ao chegarmos lá, encontramos uma estátua gigante de um grande pescador tombada de lado.

Encontramos ainda estranhos símbolos em uma das redes de pesca e uma corneta.

Vareen e Caleb usaram seus poderes e descobriram energias nos túmulos abaixo que vieram tanto de magia religiosa como de magia negra.

O nosso grupo tem um problema incorrigível: a curiosidade extrema.

E em algumas situações, esse problema fica mais nítido.

Nikolai cavou uma das tumbas em busca de pistas e no processo todas as outras tumbas se abriram.

E nove esqueletos gigantes chamados barghers surgiram armados de machados prontos pra nos trucidar.

Isso é o que acontece quando profanamos o túmulo de alguém perturbando seu sono eterno.

Era hora de lutar.

* * *

Felizmente, nosso grupo é bem calejado em batalhas e posso dizer que essa luta contra os esqueletos gigantes foi relativamente tranquila.

Usei meu velho e bom rifle para abater um deles e Vareen usou o poder do relâmpago abatendo o segundo esqueleto e despedaçando outros dois.

(31)

Caleb, por sua vez, arrancou o braço de outro esqueleto com um golpe de espada e Nikolai estraçalhou o esqueleto a sua frente com um golpe de sua chaskar.

Os outros três esqueletos partiram pra cima de nós com nossos machados obcecados em acabar conosco e cometeram o erro fatal de ignorar William.

Ele aproveitou isso para usar sua poderosa magia clerical dizimando não só os três esqueletos que o ignoraram, mas também todo o restante deles dando-nos uma fácil vitória.

Enquanto recuperávamos nossas forças, Vareen investigou a estátua detectando energia nela.

Provavelmente esse lugar foi um local de sacrifício e essas magias foram usadas várias vezes em rituais macabros.

A nossa investigação foi interrompida quando vimos alguém vindo em nossa direção.

Era uma garota que aparentava ter 17 anos e estava com uma rede de pesca na mão parecendo uma daquelas maltrapilhas que vi tantas vezes em Dementlieu.

Ela se identificou como Skab, a filha do sacerdote e para nossa surpresa, se ofereceu para nos guiar rumo ao vilarejo dos pescadores.

E lá fomos nós em busca de mais informações para resolver esse mistério.

Bem como de ouvir o outro lado da história.

* * *

Depois de uma curta e agradável viagem, chegamos a vila de pescadores onde fomos recebidos pelo sacerdote e por um jovem rapaz que se identificou como Torstein Graben.

A primeira vista, ele parecia normal como a nós e isso se confirmou.

Ele nos explicou que era um artista notável bem como um grande cientista e que diferentemente dos outros membros da família, não aceitou o acordo com Meredoth e fugiu com o livro da família chamado Grimório das Raízes da Vida cujos segredos salvaram-no de um cruel destino de se tornar uma espécie de zumbi “pensante” que chamam de Lebentod.

Disse ainda que os outros trabalham para Meredoth nas minas de carvão e ouro da família.

Baseado nas informações de Torstein, traçamos nosso plano de ação onde Skab poderia nos ajudar.

O plano era simples. Iríamos a Todstein, lar do lorde negro, acabaríamos com ele de uma vez por todas e libertaríamos os espíritos presos nos corpos reanimados por ele.

(32)

Juntamos tudo o precisamos para nossa empreitada mais perigosa até agora.

Empreitada essa que não sabemos onde isso levará.

Durante a visita ao outro núcleo, li aquele livro onde conta as aventuras de Rashid e seu grupo e num dos trechos tinha uma frase escrita em uma língua desconhecida que impressionou-me bastante.

Alea jacta est.

Não sei muito bem o que isso significa, mas só sei de uma coisa.

Nossa hora finalmente havia chegado.

Parte VII – A Fúria de Meredoth

Assim que terminamos nossos preparativos, voltamos a Graben onde estava um frio de rachar e para piorar ainda mais as coisas, a chuva fina transformou-se em um verdadeiro temporal.

Por sorte, chegamos ao barco do capitão Garvin para avisá-lo que precisávamos ir a Todstein o mais breve possível, o que ele achou um ato de irresponsável loucura.

Vareen, no entanto, ignorou as opiniões do capitão e a viagem foi feita assim mesmo no meio de uma tempestade terrível e com uma temperatura de 20 graus abaixo de zero capaz de matar de frio até mesmo os mais corajosos.

E se alguém ler um dia este diário descobrirá que nosso grupo era um bando de malucos determinados a fazer justiça de acordo com nossas crenças.

Apesar de todos os percalços, a viagem corria bem e logo encontramos uma ponte de gelo.

Preparamos tudo que fosse necessário e passamos com certa tranquilidade por baixo da ponte de gelo a não ser Caleb que escorregou e quase caiu no mar sendo salvo por Vareen e William.

A tempestade havia piorado ainda mais e com os problemas na vela do barco, a previsão de chegada a Todstein seria de três dias.

Sorte nossa que Torstein resolveu nos guiar até a ilha talvez impulsionado por seus próprios interesses.

(33)

E pra aumentar ainda mais nossa sorte bem-abençoada, o barco navegava com boa velocidade e segundo William, o tempo de viagem caiu para 30 minutos.

Foi aí que tivemos um susto grande. Ouvimos um solavanco no barco e ficamos ansiosos para saber o que tinha ocorrido, mas felizmente foi apenas uma curva errada feita pelo timoneiro e logo voltamos ao curso.

Vareen não conseguiu suportar o enjoo e vomitou no mar tudo o que comeu.

Isso é o que acontece quando temos “velhinhos” inexperientes na arte marítima.

Depois de nos divertirmos ás custas do pobre clérigo, observamos algumas pedras a sudoeste.

O que significava uma coisa.

Tínhamos chegado a costa de Todstein.

* * *

Assim que chegamos a Todstein, Vareen usou novamente seus poderes descobrindo uma enorme parede de pedra.

O vento estava diminuindo lentamente e assim que tivemos um pouco de visibilidade, conseguimos identificar uma pessoa congelada.

Vareen e eu o observamos um pouco mais e identificamos como um homem na casa dos 30 anos e forte fisicamente.

O clérigo detectou magia arcana nele e ficamos surpresos quando levantou-se de costas para nós e caminhou sem mais nem menos, como se estivesse tão vivo como nós.

Pediu que o acompanhássemos dizendo que o mestre dele nos aguardava ansiosamente.

Que só podia ser Meredoth.

Notei algo estranho naquele homem. Seu olhar apático e distante, seu andar mecânico e seu semblante indiferente lembram muito as de um zumbi.

E meu palpite estava certo. Era um dos Lebentods reanimados por Meredoth.

Vareen chegou a mesma conclusão e atacou aquele homem pelas costas, derrubando-o.

Logo em seguida Nikolai o decapitou com sua chaskar e o clérigo queimou o resto do corpo liberando para sempre o espírito que estava aprisionado nele.

Isso fez lembrar-me de uma das conversas que tive com lorde Dominic.

Numa tarde, após um dos meus treinos puxados em Dementlieu, o lorde Dominic me chamou a seu gabinete para uma conversa amigável.

Fiquei surpreso quando ele começou a falar a respeito de seus colegas que governam os domínios deste núcleo e foi aí que ouvi falar de Meredoth.

(34)

Embora nunca tenham se encontrado pessoalmente, tinha ouvido falar de sua habilidade de criar servos para seu domínio sem se importar com o sofrimento das pessoas e que para ele, Meredoth é um dos lordes negros mais terríveis de todos os domínios, com uma crueldade de dar inveja ao próprio Vlad Drakov e uma extrema frieza que nem mesmo o conde Strahd Von Zarovich possui.

E depois que vi o que Vareen fez, passei a acreditar ainda mais nas palavras do lorde Dominic.

Mas não tinha mais tempo pra reflexões.

Era hora de ir as escadarias.

* * *

Ao subir as escadarias, ficamos perplexos com o que vimos.

Era uma espécie de catedral onde uma missa era realizada com os fiéis orando por seus deuses.

Parecia normal demais.

E a perplexidade aumentou mais ainda quando avistamos um lindo jardim do lado de fora da catedral com bancos incrustados em todos os cantos lembrando uma praça.

Vimos algumas pessoas sentadas e conversando como se nada estivesse acontecendo de anormal.

No entanto, assim que chegamos perto delas para pedir informações, percebemos o mesmo olhar apático e distante do homem que Vareen atacou e exorcizou.

Todos os que estavam ali eram Lebentods reanimados por Meredoth e fugiram alarmados pela nossa presença.

Caleb não perdeu tempo e atacou-os com bolas de fogo, atingindo um deles que rolou de dor dando tempo suficiente para Nikolai decapitá-lo e Vareen libertar seu espirito usando seu exorcismo.

Assim que adentramos a catedral, o que vimos apenas confirmou o que suspeitávamos.

Havia famílias inteiras nas bancadas assistindo uma missa onde o sacerdote fazia mais um de seus sermões a respeito dos deuses.

Nikolai, Caleb e eu ficamos de guarda na entrada da catedral enquanto Vareen e William foram falar com o sacerdote que não tinha muito a dizer sobre o que estava acontecendo.

E nem poderia mesmo porque o sacerdote também era um Lebentod assim como todos os outros que estavam ali.

(35)

Assim que o clérigo deu o sinal, Nikolai, Caleb e eu fechamos todas as portas e esperamos o momento de William entrar em ação.

Notei que as pessoas em todas as bancadas se abraçaram e começaram a chorar.

De início, pensei que eram por medo acreditando que iríamos massacrá-los.

Mas estava errado.

Os espíritos, ao menos alguns deles, queriam se libertar de seus corpos reanimados.

Era hora do exorcismo.

E isso eu deixo pros Calebs, Vareens e Williams da vida.

* * *

O exorcismo foi tranquilo embora William tenha ficado um pouco impaciente na ânsia de conseguir informações sobre Meredoth.

A catedral começou a se desfazer com o exorcismo e logo as almas se libertaram de seus corpos reanimados que se desmanchavam.

Como agradecimento, um dos espíritos revelou que Meredoth está no subsolo fazendo experimentos com alguns cadáveres.

Perto dali, descobrimos outra escadaria que leva para as catacumbas.

E para os aposentos de Meredoth.

Não sabemos o que vamos encontrar, mas uma coisa era certa.

Meredoth pagaria pelas atrocidades cometidas contra pessoas inocentes.

* * *

Ao passarmos pelas catacumbas, ouvimos passos leves de uma jovem tentando escapar de algo ou alguém.

Tivemos um bocado de sorte em capturá-la e levá-la conosco, quem sabe forçar Meredoth a sair de seus aposentos para lutar contra nós usando a jovem como refém ou talvez usá- la como moeda de troca.

Um pouco mais a frente, havia uma cúpula com alguns quartos a esquerda e a direita com uma porta enorme no fim do corredor.

Não havia nenhuma armadilha montada para nós e Caleb e Nikolai foram para a porta observar o que havia atrás dela.

E ficaram espantados com o que viram.

(36)

Era um laboratório gigante com cadáveres espalhados por toda a parte e Vareen reconheceu um desses cadáveres como o agente da KGT que deixamos na mansão Graben.

Havia vastas estantes com pilhas de livros e anotações a respeito do estado dos corpos.

Na mesa mais ao sul, havia um homem fazendo anotações de seu mais novo experimento.

Era barbudo e se vestia como um mago eremita.

E aquele cajado repousado em uma das cadeiras adjacentes confirmou aquilo que esperávamos.

Era Meredoth.

* * *

Vareen logo traçou um plano enquanto eu já preparava meu rifle para mirar a cabeça de Meredoth e acabar com tudo o mais depressa possível.

No entanto, o tiro não saiu como deveria e a bala alvejou o ombro do lorde negro fazendo- o sacolejar na cadeira.

O clérigo ainda atacou Meredoth com seus relâmpagos antes que milagrosamente escapasse das nossas vistas.

Antes de irmos atrás dele, sentimos um forte tremor na sala que nos fez parar.

Meredoth não era um lorde negro a toa.

Ele havia deixado um presente nada agradável para nós.

Em forma de quatro golens.

* * *

O golem gigante tomou a iniciativa e tentou derrubar Caleb com um soco, mas o paladino desviou do ataque e conseguiu chegar a porta que Meredoth havia aberto pra fugir.

Nikolai ordenou seu cão Strahd atacar a mão do monstro enquanto ele golpeava a perna para fazê-lo se desequilibrar e cair.

Mas, mesmo com a incrível combinação de homem e animal, o golem nada sentiu.

No corredor oposto, Meredoth bateu seu cajado no chão fazendo a terra tremer novamente e então o rumo da batalha mudou.

Estávamos em seu mundo de ilusões.

(37)

Ainda assim não vacilamos em nenhum instante porque a raiva e a vontade de fazer justiça eram maiores que o medo.

Atiro no primeiro golem com minhas pistolas e o monstro recua para trás dando tempo suficiente para Nikolai cortá-lo com sua chaskar e o derrotar.

Vareen usou seus poderes para abrir um enorme buraco embaixo do segundo golem que tropeça e cai.

O terceiro estava pronto para atacar e o quarto agarra uma mesa tentando acertar Nikolai.

Eu havia sacado minha rapieira e a espada goblin quando aquele golem que havia acertado com meu rifle tentou atacar-me.

No momento em que o soco seria desferido onde certamente me mataria, ouvi tiros que fizeram o monstro ajoelhar-se.

Era William.

E o show dele ainda nem havia terminado.

Tirou sua espada e fez um verdadeiro picadinho de golem acertando quatro golpes. Um na cabeça, outro no olho, um terceiro na têmpora e o último bem no peito, matando-o instantaneamente.

Sempre achei que William era muito subestimado pelos outros por ser nobre e um mero político que raramente suja suas “mãozinhas”.

Mas depois do que vi, notei que ele era um tremendo espadachim e um atirador muito melhor do que eu.

William é um trunfo valioso para nosso grupo e achei melhor acompanhá-lo em busca do próximo golem.

Enquanto isso, Caleb e Nikolai planejaram arriscar uma carga tripla junto com o cão Strahd para derrubar o quarto golem.

Achei essa manobra muito arriscada pelo fato do golem ser bem mais forte do que os três combinados e caso falhassem, eles seriam estraçalhados pela força do impacto.

E por incrível que pareça, a ousada manobra dos dois barovianos havia funcionado.

Strahd pulou e mordeu o golem e Nikolai e Caleb combinaram ataque e defesa em um único movimento usando a chaskar e o escudo respectivamente fazendo o suficiente para anular o golpe do golem, feri-lo gravemente e deixa-lo exposto para novo ataque.

Foi exatamente isso que aconteceu.

Caleb atacou com o escudo a cabeça do monstro e Nikolai deu o golpe de misericórdia com a chaskar.

(38)

Ainda restava um golem e Vareen e William combinaram seus poderes para abrir outro buraco enquanto o monstro movia-se para tentar outro ataque.

Nosso movimento de pinça havia funcionado e logo cercamos o golem, que devido a expansão da parede provocada pela magia de Meredoth acabou caindo no buraco feito pelos dois clérigos.

Dei dois golpes no monstro que nem fizeram cócegas, mas a distração que provoquei deu tempo suficiente para Caleb dar o golpe fatal e aniquilar o último golem.

A porta que Meredoth havia trancado se abriu.

O lorde negro do Mar Noturno estava nos esperando.

Era hora da batalha final.

* * *

Infelizmente tenho um problema quase insolúvel. Não gosto muito de leniência e parto pra cima dos inimigos como um touro brabo.

Logo senti os efeitos de minha tolice levando uma rajada mágica de Meredoth e ser jogado contra a parede.

Nikolai e William não tiveram muita sorte também e recuaram devido a sua magia de envelhecimento.

Ali o corpo-a-corpo era inútil e a batalha teria que ser magia contra magia.

E a batalha era sob medida para Vareen e Caleb.

Os dois atacaram o lorde negro com tudo o que tinha de magia atingindo-o em cheio.

Vareen então teve tempo suficiente para superar a magia de envelhecimento de Meredoth e dar o golpe fatal.

Caleb conseguiu fechar a porta de entrada e chegamos até onde Vareen estava sem problemas.

Lá fora, estava ventando demais e a nevasca aumentava.

Era o vento glacial que atingia a ilha de Todstein com força total.

Meredoth estava morto.

Tínhamos derrotado o lorde negro do Mar Noturno.

Mas o preço seria alto demais.

Parte VIII – Armadilha Fatal

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Assim que derrotamos Meredoth, verificamos a sala dos escribas e vimos algo interessante.

Alguns copistas continuavam compilando livros de magia e praticamente faziam isso ignorando nossa presença. Um daqueles livros, no entanto, chamou-me a atenção.

Era um tratado a respeito dos experimentos de Meredoth e o entreguei a Vareen.

O clérigo então tomou uma decisão drástica de simplesmente queimar o local com os copistas dentro já que todos eram Lebentods.

Fiquei triste mais pela perda do conhecimento do que pela “morte” dos copistas, mas Vareen me disse que esses conhecimentos poderiam cair em mãos erradas e logo pensei em Leclerc liderando um exército de Lebentods para tomar o poder em Dementlieu.

No entanto, tenho que admitir, o clérigo sabe o que faz.

Fomos ao andar superior e encontramos a menina que tínhamos liberada.

Ela tentou falar alguma coisa e caiu no chão já decapitada por Nikolai e exorcizada por Vareen.

Foi então que descobrimos algo que nos aterrorizou.

Todos aqueles corpos que estavam nesse andar eram a extensão de Meredoth e aquele que nós derrotamos era apenas um mero corpo reanimado.

Subimos as ruínas da catedral e Caleb tomou a decisão radical de queimar todos os corpos restantes e as escadarias para que Meredoth jamais retornasse.

E foi exatamente isso que o paladino fez após Vareen libertar os espíritos restantes.

De repente, William ainda sentiu uma forte energia emanada na ilha e suspeita que Torstein Graben deva estar por trás disso.

Era hora de pegar o barco e voltar a ilha de Graben para exigir explicações de Torstein a respeito do Grimório.

No entanto, essa viagem jamais chegou ao fim.

* * *

Na metade do caminho, Vareen usou seus poderes descobrindo um enorme paredão de pedra que bloqueava nossa passagem.

Arriscamos uma estratégia suicida de tentar atravessar o paredão rapidamente usando a única brecha existente a noroeste de nossa posição, mas ouvimos um forte solavanco no barco que nos jogou no chão.

Referências

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