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Agricultura camponesa, agronegócio e novas dinâmicas de (re)territorialização nas Microrregiões piauienses de Floriano, Picos e do Médio Parnaíba  

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DANIEL CÉSAR MENÊSES DE CARVALHO

AGRICULTURA CAMPONESA, AGRONEGÓCIO E NOVAS DINÂMICAS DE (RE)TERRITORIALIZAÇÃO NAS MICRORREGIÕES PIAUIENSES DE

FLORIANO, PICOS E DO MÉDIO PARNAÍBA

CAMPINAS 2019

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AGRICULTURA CAMPONESA, AGRONEGÓCIO E NOVAS DINÂMICAS DE (RE)TERRITORIALIZAÇÃO NAS MICRORREGIÕES PIAUIENSES DE

FLORIANO, PICOS E DO MÉDIO PARNAÍBA

TESE APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADOR: PROF. DR. VICENTE EUDES LEMOS ALVES

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO DANIEL CÉSAR MENÊSES DE CARVALHO E ORIENTADA PELO PROF. DR. VICENTE EUDES LEMOS ALVES

CAMPINAS 2019

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Marta dos Santos - CRB 8/5892

Carvalho, Daniel César Menêses de,

C253a CarAgricultura camponesa, agronegócio e novas dinâmicas de

(re)territorialização nas Microrregiões piauienses de Floriano, Picos e do Médio Parnaíba / Daniel César Menêses de Carvalho. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

CarOrientador: Vicente Eudes Lemos Alves.

CarTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Car1. Camponeses. 2. Agronegócio. 3. Territorialização. 4. Camponeses -revoltas. 5. Agricultura - Piauí. I. Alves, Vicente Eudes Lemos, 1967-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Peasant agriculture, agribusiness and new dynamics (re)territorialization in the Microregions of piaui Floriano, Picos and Middle Parnaíba Palavras-chave em inglês: Peasants Agribusiness Territorialization Peasant resistance Agriculture - Piauí

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Doutor em Geografia

Banca examinadora:

Vicente Eudes Lemos Alves [Orientador] Andre Cornetta

Fernando Cezar de Macedo Mota Antonio Joaquim da Siva

Erik Gabriel Jones Kluck Data de defesa: 16-08-2019

Programa de Pós-Graduação: Geografia

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-9945-6475 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4971192447726012

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AUTOR: Daniel César Menêses de Carvalho

AGRICULTURA CAMPONESA, AGRONEGÓCIO E NOVAS DINÂMICAS DE (RE)TERRITORIALIZAÇÃO NAS MICRORREGIÕES PIAUIENSES DE

FLORIANO, PICOS E DO MÉDIO PARNAÍBA ORIENTADOR: Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves

Aprovado em: 16 / 08 / 2019

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves - Presidente

Prof. Dr. Andrei Cornetta

Prof. Dr. Fernando Cezar de Macedo Mota

Prof. Dr. Erick Gabriel Jones Kluck

Prof. Dr. Antonio Joaquim da Silva

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no SIGA - Sistema de Fluxo de Tese e na Secretaria de Pós-graduação do IG.

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Sinto necessidade de fazer uma dedicatória um pouco mais extensa que o usual. Meu doutorado foi marcado pelo dom da vida e o terror da morte.

Logo em meu primeiro ano de pós fui surpreendido com a melhor notícia da minha vida: que seria pai, e de um menino. E no dia cinco do mês de abril de dois mil de dezesseis nasceu Daniel Otávio César de Oliveira Ribeiro, a pessoa mais incrível que já vi. Minha família diz que minha mulher deu à luz a meu melhor amigo. O empenho do doutorado ganhou outro sentido, e os objetivos traçados para minha vida mudaram...

Porém a vida não é feita somente de flores...

No dia seis de dezembro de dois mil e dezessete, minha mãe, Iramar César Menêses Carvalho faleceu em decorrência de um câncer de pulmão, descoberto somente cinco meses antes do fatídico dia. Foram cinco meses sem produzir direito. O empenho do doutorado perdeu um pouco a força, e os objetivos traçados para minha vida mudaram novamente...

Mesmo depois dessa perda irreparável, a vida deve seguir. E seguiu. Justamente por essa mulher que me ensinou a querer sempre o melhor e honrar minha vida e profissão, sempre com humildade e dedicação.

Portanto, eu dedico essa tese à minha inspiração, minha mãe Iramar César, maranhense orgulhosa de sua terra e piauiense de paixão. E ao meu filho, Daniel Otávio que veio na hora certa. Sua vida deu sentido à minha.

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Agradeço imensamente à minha mãe, Iramar César Menêses Carvalho, por tudo. Sem ela o geógrafo dentro de mim nunca teria aflorado. Ao meu pai Arlindo Carvalho Furtado da Silva, por ter orgulho do que faço e por me ensinar, a partir de suas qualidades e defeitos, a ser um homem justo, honesto e um bom pai. Agraço também às minhas irmãs Yanna Nádja César Menêses de Carvalho e Lyanna Camila César Menêses de Carvalho, por me darem forças nos momentos mais difíceis, e à Deusamar César Menêses, minha tia e segunda mãe.

Muito obrigado ao meu filho Daniel Otávio César de Oliveira Ribeiro e à minha companheira Emanuella Ribeiro dos Reis pelo convívio diuturno nesse doutorado e que me deram motivos para melhorar cada dia mais no meu ofício de educar. Também me sinto no dever de agradecer aos novos membros da minha família, minha sogra Sandra Maria e meu sogro Francisco Gomes pelas vezes que cuidaram do netinho quando Emanuella e eu estávamos atarefados, ou simplesmente quando precisávamos descansar.

Meu muito obrigado para a Universidade Estadual do Piauí – Uespi, campus Drª Josefina Demes, de Floriano, por fazer meu endereço residencial um segundo lar, onde sinto prazer de ficar confabulando até depois do expediente. Agradeço, em particular, os alunos que me auxiliaram na coleta de dados de campo, Daniel de Sousa Bueno, João Victor Barbosa de Macedo e Liliane da Conceição Walter e à minha querida amiga do peito, Leydiane Gleici Oliveira Medeiros, pelas horas e mais horas conversando pelo celular e por ter me hospedado uns cinco dias em sua casa quando estava rodando por esse Piauí na pesquisa de campo.

Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí – Fapepi, pela concessão da minha bolsa de doutorado, que foi de grande importância para a pesquisa.

Muito obrigado à Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, pela oportunidade de aprender como se faz uma universidade de verdade. Da administração superior aos discentes e docentes, o convívio ampliou o meu espectro sobre minha tarefa como professor da Uespi; espero levar todas as minhas percepções para dentro da sala de aula, contribuindo também para a melhoria do meu ambiente de trabalho.

Agradeço imensamente ao meu orientador e conterrâneo, o professor Vicente Eudes Lemos Alves. Sem sua compreensão inenarrável o doutorado teria sido bem diferente. Sua orientação certeira e conversas não culminaram somente nessa tese; espero levar seu espírito humano e sua fabulosa forma de fazer Geografia para toda a minha vida. Nenhum agradecimento seria grande ou justo o suficiente para expressar minha admiração por esse profissional.

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perspectiva de futuro. Considero-os a pedra fundamental que alicerça todo esse trabalho. Estes são os verdadeiros doutores do meio rural. Meus agradecimentos estendem-se aos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, em especial dos municípios de Regeneração, Itaueira, Oeiras e Floriano; as informações compartilhadas foram de grande valia para entender o que se passa no campo piauiense e quais os principais anseios dos lavradores.

Obrigado aos funcionários da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí – EMATER, que me acolheram quando estavam atarefados atrás de pilhas de folhas, tentando saber como trabalhar sem notebook, sem gasolina, sem armários, sem recursos. A esses bons homens e boas mulheres, meu total respeito de admiração.

Agradeço também às Prefeituras de Amarante, Regeneração, Francisco Ayres, Floriano, Guadalupe, Itaueira, Tanque do Piauí e Oeiras pelo pronto atendimento e elucidação de dúvidas.

Externo minha gratidão a todos aqui relembrados. Sem vocês nada disso seria possível.

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Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Sorrir pra não chorar Quero assistir ao sol nascer Ver as águas dos rios correr Ouvir os pássaros cantar Eu quero nascer Quero viver Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Se alguém por mim perguntar Diga que eu só vou voltar Depois que me encontrar (Cartola)

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No capitalismo, o lucro é o principal objetivo e o território desempenha um papel primordial para o avanço desse sistema. A partir desse movimento, principalmente no campo, há consequências para as comunidades tradicionais já instaladas nesse território, particularmente os camponeses. Diante da dicotomia existente entre agronegócio e camponeses, surgem alguns questionamentos: como o camponês reage (social e economicamente) à inserção do agronegócio em seu território e quais as consequências para o labor e modo de vida do homem no campo piauiense, que transformam seu modo de vida? Com o intuito de elucidar esses questionamentos, o estudo teve como objetivo principal analisar os processos de (re)territorialização que ocorrem nas microrregiões de Picos, Floriano e do Médio Parnaíba Piauiense a partir da convivência entre a o camponês e o agronegócio. Igualmente, a tese teve como hipótese que, com a inserção do agronegócio nessas microrregiões, há a reinvenção do camponês, em um processo involuntário e contínuo, mas que não o descaracteriza como tal, justamente por sua identidade e relação com sua terra. A referida tese também se baseou na ideia de que o camponês não perdeu sua identidade agrícola nem o apego à sua terra, buscando sempre novas atividades para manter-se em seu local de pertencimento, onde guarda íntima relação com a família e com sua comunidade. De modo a construir a tese, a metodologia teve caráter exploratório e assentou-se em procedimentos históricos, comparativos e etnográficos, pois as novas dinâmicas existentes no Piauí englobam variáveis que não são simplesmente quantificáveis. Como considerações finais, o estudo apontou que esse modus operandi do agronegócio no Piauí ainda segue os moldes que direcionaram as primeiras incursões de grandes produtores do sul do Brasil: o baixo preço das terras e os incentivos governamentais. As monoculturas de soja ganharam força nessas Microrregiões justamente pelo fraco comércio da madeira de eucalipto no Estado; ficou comprovado no estudo que os empresários mudaram sua base produtiva, pois a soja adequou-se satisfatoriamente às condições físicas e climáticas daquela região. A pesquisa também demonstrou que as principais dificuldades passadas pelos camponeses decorriam da falta de dinheiro para suprir algumas necessidades básicas, como compra de remédios e aquisição de produtos que os lavradores não produziam. Diante do exposto, é necessário realçar a necessidade de fortalecimento das Instituições Públicas de atendimento ao pequeno produtor rural, mais ao tocante ao seu modo de produção; por exemplo, a Emater do Piauí encontra-se carente de recursos logísticos, o que dificulta sua atuação em muitas comunidades. O Estado precisa estar atento às modificações territoriais impostas pelos empreendimentos de agronegócio e como políticas de comando e controle podem ser usadas para diminuir os impactos socioambientais no campo. Por fim, esse estudo visou discutir como os camponeses estão vivendo e resistindo em suas localidades com o avanço que parece ser irrefreável do agronegócio.

Palavras-chave: Camponês. Agronegócio. Territorialização. Resistência camponesa. Agricultura

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In capitalism, the profit is the main objective and the territory plays an essential role in the advancement of this system. From this move especially in the countryside, there are consequences for traditional communities already installed in that territory, particularly the peasants. Given the existing dichotomy between agribusiness and farmers, some questions arise: how the peasant responds (socially and economically) the insertion of agribusiness in your territory and what are the consequences to the work and lifestyle of the man in the field Piauí, which transform your way of life? In order to elucidate these questions the study had as main objective to analyze the processes of (re) territorialization that occur in the micro-regions of Picos, Floriano and the Middle Paranaíba Piauí from the coexistence between the peasant and the agribusiness. Also, the thesis had the chance, with the insertion of the agribusiness in these micro-regions, there is the reinvention of the peasant, involuntary and continuous process, but that detracts not as such, just for your identity and relationship with your Earth. This thesis also was based on the idea that the peasant did not lose your agricultural identity and attachment to your Earth, always seeking new activities to keep in your place of belonging, where he keeps close relationship with the family and with your community. In order to build the thesis, the methodology had exploratory and settled in historical and comparative procedures, because the new dynamics existing in Piaui include variables that are simply not quantifiable. As final considerations, the study pointed out that this modus operandi of agribusiness in Piauí is still the molds that directed the first incursions of large producers in southern Brazil: the low price of the land and the Government incentives; monocultures of soybeans have gained strength in these micro-regions for just the weak trade eucalyptus wood in the State; There's no doubt in the study that entrepreneurs have changed your productive base, because soy has adapted itself satisfactorily physical and climatic conditions of the region. The survey also showed that the main difficulties for peasants was passed from lack of money to meet some basic needs, such as buying drugs and acquisition of products that farmers don't produce. On the above, it is necessary to highlight the need for strengthening Public institutions to small rural producers, for your style of production; for example, Emater do Piauí is lacking in logistical resources, which hampers your performance in many communities. The State needs to be aware of the territorial changes imposed by agribusiness ventures and as command and control policies can be used to reduce the environmental impacts in the field. Finally, this study aimed to discuss how the peasants are living and fighting in their localities with what appears to be unstoppable advancement of agribusiness.

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Figura 1: Imagem de satélite do Sudoeste piauiense em 1986. ... 51

Figura 2: Imagem de satélite do Sudoeste piauiense em 2016. ... 52

Figura 3: Sistemática da cadeia produtiva da carnaúba. ... 108

Figura 4: Vereda de carnaubais em Campo Maior – PI ... 109

Figura 5: Quebradeira de Coco no município de Miguel Alves – PI. ... 110

Figura 6: Caprinocultura no município de Francisco Ayres – PI. ... 112

Figura 7: Ônibus escolar no Assentamento Nova Conceição ... 136

Figura 8: a) Caixa d’água do Assentamento Nova Conceição e b) Cisterna para captação de água pluvial no Povoado Salinas II ... 138

Figura 9: A) Plantação de banana no quintal do estabelecimento rural no Povoado Coco, Regeneração; B) Plantações de cebolinha, coentro e alface em horta no Povoado Coco, Regeneração; C) Colheita de milho no Povoado Barreiro, Regeneração; D) Plantação de arroz na encosta de morro no Povoado Coco, Regeneração. ... 144

Figura 10: A) Secagem da vagem do feijão em Barreiro, Regeneração; B) Lavradora debulhando o feijão após secagem, no Assentamento Morada Nova, Amarante; C) Secagem do arroz em casca no Assentamento Morada Nova, Amarante; D) Estocagem do feijão em tambor, no Assentamento Cachoeira, Floriano. ... 146

Figura 11: Mercados públicos municipais de Regeneração (A), de Oeiras (B) e de Floriano (C) ... 148

Figura 12: Plantação de eucalipto da Fazenda Coberta do Cipó (Agroflorestal) em Francisco Ayres ... 156

Figura 13: Galpão de tratamento da madeira de eucalipto. A) Armazenagem da madeira cortada e tratada; B) Máquina de descascamento da madeira; C) Trilho que conduz a madeira para o tanque de vácuo; D) Tanque de vácuo; E) Caixa de armazenamento de produtos químicos para tratamento da madeira. ... 156

Figura 14: Plantações de eucalipto em Regeneração (A), na estrada entre Regeneração e Tanque do Piauí (B), na estrada de Floriano a Itaueira (C) e entre Floriano e Guadalupe (D). ... 157

Figura 15: Plantação de soja na Fazenda Real, município de Regeneração ... 159

(12)

vendidos como complemento de ração animal. ... 161

Figura 18: (A) Povoado Coco, em Regeneração; (B) Assentamento Cachoeira e (C) Papa

Pombo, em Floriano e; (D) Povoado Salinas, em Itaueira. ... 165

Figura 19: Horta urbana comunitária Dona Betina ... 176 Figura 20: Informações de funcionamento da Horta comunitária Dona Betina ... 176 Figura 21: Comercialização de frutas e verduras na Feira Pública Municipal de Floriano – PI.

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Quadro 1 : Ordem e grandes grupos de solos das Microrregiões do Médio Parnaíba

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Tabela 1: Área colhida e quantidade produzida das lavouras temporárias no Brasil, Nordeste

e Piauí ... 53

Tabela 2: Área plantada (em hectares), rendimento médio (quilogramas por hectare) do arroz,

feijão, mandioca, milho e soja no Brasil, Nordeste e Piauí, de 1990 a 2015. ... 55

Tabela 3: Produção do Brasil e Piauí das safras de arroz, feijão, milho, soja e mandioca, anos

2016 e 2017. ... 57

Tabela 4: Área colhida (em hectares) de produtos da lavoura permanente no Brasil, Nordeste

e Piauí, de 1990 a 2015. ... 59

Tabela 5: Quantidade produzida na extração vegetal e silvicultura no Brasil, Nordeste e Piauí

de 1990 a 2015. ... 60

Tabela 6: Produção bovina, suína caprina e ovina no Brasil, Nordeste e Piauí, de 1975 a

2015. ... 62

Tabela 7: Quantidade de estabelecimentos agropecuários por grupos de área total, de 1980 a

2006. ... 76

Tabela 8: Área dos estabelecimentos agropecuários, em hectares por grupos de área no

Brasil, Nordeste e Piauí de 1980 a 2006 ... 78

Tabela 9: Número de estabelecimentos agropecuários e Área (em hectares) no Brasil,

Nordeste e Piauí, 2006 ... 81

Tabela 10: População total, urbana e rural, do Piauí em 2001 e 2015 e crescimento

percentual... 94

Tabela 11: Número de filhos nascidos vivos (mil pessoas) no meio rural piauiense por grupos

de idade, em 2001 e 2015 ... 95

Tabela 12: Anos de estudo da população rural no Piauí (mil habitantes), por sexo, em 2001 e

2015. ... 96

Tabela 13: Rendimento mensal no meio rural no Piauí por domicílio e variação percentual,

entre 2001 e 2015 ... 97

Tabela 14: Grupos de anos de estudo, por sexo e condição de atividade no meio rural

piauiense (mil pessoas) em 2001 e 2015. ... 98

Tabela 15: Condição do produtor não familiar e de agricultura familiar no Piauí em 2006. .. 99 Tabela 16: Tipo de utilização de terras, por quantidade de estabelecimentos e tipo de

(15)

Tabela 18: Número de estabelecimentos rurais no Piauí em que o produtor declarou ter

atividade fora do estabelecimento em 2006. ... 103

Tabela 19: Grupos de pessoas associadas ou não a sindicatos, por sexo e situação de

domicílio no Piauí em 2001 e 2015. [esses números são em milhares?]... 104

Tabela 20: Número de estabelecimentos agropecuários por finalidade do financiamento e tipo

de estabelecimento no Piauí em 2006... 105

Tabela 21: Número de estabelecimentos agropecuários por motivo da não obtenção do

financiamento no Piauí em 2006. ... 105

Tabela 22: População estimada das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano

e de Picos. ... 126

Tabela 23: Situação domiciliar (população urbana e rural) das microrregiões do Médio

Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos. ... 127

Tabela 24: Divisão da população por sexo nas microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense,

de Floriano e de Picos. ... 127

Tabela 25: Percentual da população com rendimento nominal mensal per capita de até meio

salário mínimo nas microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos. .... 128

Tabela 26: Área dos estabelecimentos (em hectares) por tipo de lavoura, nas microrregiões

do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos. ... 129

Tabela 27: Quantidade de estabelecimentos agropecuários nas microrregiões do Médio

Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos ... 130

Tabela 28: Municípios investigados e suas respectivas microrregiões ... 133 Tabela 29: Área plantada (em hectares) e quantidade produzida (em quilos) do arroz, milho e

feijão dos camponeses entrevistados. ... 145

Tabela 30: Média de área plantada por cultura, em hectares, média de produção dos

entrevistados (quilograma por hectare) e média de produção do Piauí em 2006. ... 147

Tabela 31: Discriminação e quantidade de implementos e bens da Fazenda Terra Roxa, em

(16)

Gráfico 2: Produção, em toneladas do arroz, feijão, milho, soja e trigo nos anos de 1920,

1950, 1980 e 2006 no Brasil ... 74

Gráfico 3: Escolaridade dos camponeses entrevistados ... 135

Gráfico 4: Tipo de abastecimento de água nas comunidades rurais investigadas ... 137

Gráfico 5: Rendimento familiar (em reais) dos camponeses investigados... 138

Gráfico 6: Principais bens dos camponeses entrevistados ... 140

Gráfico 7: Área total dos estabelecimentos (em hectares) dos camponeses entrevistados. .. 141

Gráfico 8: Área plantada (em hectares) do camponeses entrevistados. ... 143

Gráfico 9: Destino da produção dos camponeses entrevistados. ... 147

Gráfico 10: Percentual de utilização de agrotóxicos na lavoura por parte dos camponeses investigados ... 149

Gráfico 11: Origem das sementes utilizadas pelos camponeses entrevistados. ... 150

Gráfico 12: Percentual da quantidade de pessoas que trabalham na lavoura, mas que não moram na residência dos camponeses entrevistados. ... 151

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no Estado do Piauí. ... 27

Mapa 2: Localização dos municípios investigados na pesquisa. ... 29 Mapa 3: Mapa das Mesorregiões do Piauí e localização das microrregiões do Médio Parnaíba

Piauiense, de Floriano e de Picos. ... 116

Mapa 4: Mapa da vegetação das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e

de Picos. ... 118

Mapa 5: Mapa da pedologia das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de

Picos ... 120

Mapa 6: Mapa da malha hidrográfica e ottobacias hidrográficas das microrregiões do Médio

Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos ... 123

Mapa 7: Mapa de atividade agrícola nas microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de

Floriano e de Picos ... 125

Mapa 8: Localização das comunidades rurais visitadas na pesquisa de campo. ... 134 Mapa 9: Localização dos empreendimentos de agronegócio nas Microrregiões do Médio

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BNB Banco do Nordeste

CAIS Complexos Agroindustriais

CEPRO Superintendência de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí

CMN Conselho Monetário Nacional

COAVI Cooperativa Agrícola Virtual

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

CPT Comissão Pastoral da Terra

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FINOR-AGROPECUÁRIO

Fundo de Investimento do Nordeste Agropecuário

FISET Fundo de Investimento Setorial

ha Hectare

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MICQB Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco

MMA Ministério do Meio Ambiente

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NE Nordeste

PET Politereftalato de etileno

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(20)

INTRODUÇÃO ... 22

1 O RURAL PIAUIENSE E A QUESTÃO TERRITORIAL ... 31

1.1 Conceito de território e disputas territoriais ... 33

1.2 Piauí: características históricas e econômicas da ocupação do território ... 39

1.3 Avanço de novas forças econômicas no rural piauiense e a valorização do “novo território” ... 44

1.4 Consequências produtivas de atração do agronegócio – fundos territoriais ... 48

2 CAMPONESES E AGRONEGÓCIO: CONCEITO, RELAÇÃO COM A TERRA E CONFLITOS ... 65

2.1 Conceito de camponês ... 66

2.2 Conceito de agronegócio ... 72

2.3 Tensões territoriais entre camponeses e agronegócio ... 75

2.4 Dominação do território e expropriação no campo ... 82

2.5 Resistência camponesa ... 85

3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO CAMPONÊS PIAUIENSE ... 88

3.1 Novas formas de reprodução do camponês ... 89

3.2 Caracterização socioeconômica do novo camponês piauiense ... 94

3.3 Principais práticas econômicas do novo camponês piauiense ... 106

4 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS MICRORREGIÕES DE PICOS, FLORIANO E DO MÉDIO PARNAÍBA PIAUIENSE ... 114

4.1 Características físicas ... 115

4.2 Características econômico-sociais ... 126

5 MODO DE VIDA E PRODUÇÃO AGRÍCOLA DO CAMPONÊS E LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NAS MICRORREGIÕES DO MÉDIO PARNAÍBA PIAUINESE, DE FLORIANO E DE PICOS ... 131

5.1 Estrutura familiar e modo de vida do camponês na área estudada ... 132

5.2 Gestão produtiva e dados agrícolas do camponês ... 141

5.3 Novas características e logística do agronegócio nas microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Picos e de Floriano ... 153

6 PROCESSO DE (RE)TERRITORIALIZAÇÃO DO CAMPONÊS PIAUIENSE E SUA CONVIVÊNCIA COM O AGRONEGÓCIO ... 163

6.1 Percepção do camponês do seu território e transformações no seu modo de vida 164 6.2 Reinvenção e complementos do trabalho camponês na região investigada ... 169

(21)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 184 APÊNDICES ... 191 ANEXOS ... 199

(22)

INTRODUÇÃO

Na lógica de reprodução do capital, um território que apresente capacidade de ampliação do lucro torna-se foco para modernas condições de exploração; como defendeu Harvey (2011), o capitalista necessita de espaço abertos para se mover, mas com isso destrói lugares, recompondo uma forma de organização territorial.

Esse desajuste no campo deveu-se principalmente pelo aumento da demanda por terras, o que agravou as disputas territoriais em nível global. Com isso, surgiu a estrangeirização do território nacional, garantindo o controle dos recursos naturais visando a interesses externos à nação (CASTRO, HERSHAW e SAUER, 2017).

No tocante a esse fluxo de “land grabbing” (estrangeirização de terras), há de se exaltar que o mercado de commodities é o que mais se beneficia nesse comércio mundial de latifúndios. Cultivares como o milho e a soja estendem-se em terras que outrora eram cultivadas somente pelas populações autóctones. Por mais que existam políticas de comando e controle do Estado para regulamentar a compra de terras por estrangeiros, as tensões não deixam de existir (PEREIRA, 2014). Ou seja: a partir desse movimento do capital no meio rural, surgem consequências para a produção tradicional do campo e conflitos incessantes entre agronegócio e o camponês.

Essa indisposição entre duas formas tão diferentes de produzir muda a estrutura agrícola e familiar no rural brasileiro, como, por exemplo, quando há a ruptura da unidade familiar entre pais e filhos, como destacou Martins (2012), pois o dinheiro é cada vez mais necessário para a constância da vida das novas gerações. Com o início dessa nova unidade familiar, há também o surgimento de novas formas de trabalho agrícola tensionadas sempre com os grandes produtores.

Mesmo diante dessa relação permeada de incompatibilidades, o camponês resiste, mesmo com a influência empresarial no campo; contudo, o que se observa no rural brasileiro, e em particular o piauiense (foco da pesquisa) são movimentos de adequação e reajuste, em meio ao agressivo mercado sob o comando do agronegócio. No Piauí, essas novas relações sociais culminaram com a reinvenção do camponês, sujeito à exploração e expropriação. Nesse contexto, o agronegócio teve como principal representante os produtores de soja (que se instalaram a partir da década de 1990), e mais recentemente os produtores de eucalipto.

No princípio da exploração do cerrado pelo agronegócio, o sudoeste piauiense foi o território indispensável para se explorar, mas, devido à mobilidade do capital, a necessidade de propagação fez surgir novos pontos de interesse no Estado. Nesse sentido, observou-se que

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municípios de três microrregiões piauienses estão sofrendo uma modificação na sua produção agrícola a partir da ocupação de terras por grandes produtores. Esse processo, em quase sua totalidade destrutivo, prejudica o tecido social pois, como pontuou Polanyi (2000), o progresso desconsidera o apego que o homem pobre tem em relação à sua terra.

De acordo com o exposto, surgem alguns questionamentos: como o camponês reage (social e economicamente) à inserção do agronegócio em seu território e quais as consequências para o labor e modo de vida do homem no campo piauiense, que transformam seu modo de vida?

Para sanar esses questionamentos, este estudo teve como objetivo principal analisar os processos de (re)territorialização que ocorrem no Piauí, particularmente nas microrregiões de Picos, Floriano e do Médio Parnaíba Piauiense a partir da convivência entre o camponês e o agronegócio.

Como objetivos específicos, a investigação focou em caracterizar historicamente a agricultura e suas formas de expressão no Brasil, no Nordeste e particularmente no Piauí; identificar os aspectos físicos do território do Piauí, particularmente nas Microrregiões de Floriano, de Picos e do Médio Parnaíba Piauiense e relacioná-los com a atividade produtiva do agronegócio e do camponês no Estado; verificar os tipos de dinâmicas sociais existentes no Piauí e as consequências para a reinvenção do espaço agrário; analisar a reprodução econômica e territorial do camponês piauiense e discutir acerca dos novos fluxos de reterritorialização do espaço agrário do Piauí.

Ademais, a tese teve como hipótese que, com a inserção do agronegócio nas microrregiões de Picos, Floriano e do Médio Parnaíba Piauiense, há reinvenção do camponês, em um processo involuntário e contínuo, mas que não o descaracteriza como tal, justamente por sua identidade e relação com sua terra e formas culturais. Este processo é alcançado pelos camponeses no Piauí com a busca por novas maneiras de reprodução econômica, como a revenda de produtos originados principalmente em Pernambuco, tornando-os também comerciantes.

O estudo baseou-se também na concepção de que o camponês não perdeu sua identidade agrícola nem o apego à sua terra, buscando sempre novas atividades para manter-se em manter-seu local de pertencimento, onde guarda íntima relação com a família e com sua comunidade.

Dessa maneira, a tese ficou estruturada em seis capítulos. No primeiro, há a discussão do conceito de território e suas consequências para o meio rural. Por conseguinte, há a abordagem do processo de ocupação do Piauí, a partir de suas características históricas e

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os processos econômicos decorrentes das atividades capitalistas desenvolvidas no campo, para que assim se possa abordar o processo de ocupação do território rural com mais intensidade a partir dos anos 1970, com a valorização do “vazio”.

No segundo capítulo, serão abordados conceitos de camponês e suas principais características. Além do mais, são apresentados atributos particulares do agronegócio como forma de compreender a contraposição existente entre essas duas maneiras distintas de trabalhar na terra e as consequências dessa convivência desarmoniosa que culmina no processo de resistência camponesa.

No terceiro capítulo, são apresentadas as novas formas de reprodução camponesa que surgem para combater as adversidades no campo. O debate se encaminha para uma análise socioeconômica do camponês piauiense, principalmente a partir da década de 1990 e as principais práticas econômicas que explicitam a realidade do Piauí.

No quarto capítulo, caracteriza-se as microrregiões de Picos, Floriano e do Médio Parnaíba Piauiense, a partir das particularidades físicas e econômico-sociais. Esse momento é necessário para entender de que maneira o avanço do agronegócio vem ocupando territórios dos municípios constituintes dessas microrregiões.

Em sequência, no capítulo cinco, são analisados o modo de vida camponesa e a produção decorrente do seu trabalho. A caracterização construiu-se a partir da pesquisa in loco nas comunidades rurais previamente escolhidas. Dentre as variáveis analisadas, destacam-se a estrutura familiar, o modo de vida e a gestão produtiva dos lavradores.

No sexto capítulo, analisa-se a percepção que o camponês possui da chegada do agronegócio em seu território e como isso impactou a sua vida. A partir dos relatos, faz-se uma abordagem do processo de reterritorialização decorrente dessa inserção do capital agroindustrial nas microrregiões abordadas. Logo após, apresenta-se as conclusões do estudo.

De modo a construir a tese, a metodologia teve caráter exploratório e assentou-se em procedimentos históricos e comparativos, pois as novas dinâmicas existentes no Piauí englobam variáveis que não são simplesmente quantificáveis. A abordagem etnográfica foi necessária para tratar dos dados qualitativos relativos aos camponeses.

Marconi e Lakatos (2010) explicam que o método histórico se desenvolve a partir da investigação de acontecimentos pretéritos com o intuito de analisar suas influências na sociedade atual, ou seja: para a melhor compreensão do contexto do espaço rural piauiense, foi necessário conhecer o âmbito cultural, econômico, físico e social do passado do camponês e seu desenvolvimento ao longo do tempo.

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Já o método comparativo serviu para analisar semelhanças e diferenças dos distintos grupos que são o foco da pesquisa (camponeses e agronegócio). Dessa forma, construiu-se uma base sólida para verificar similitudes e discutir divergências. Esse método também permitiu que o estudo comparasse, por exemplo, a organização dos grupos de camponeses do passado com os do presente. Portanto, “analisando o concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e gerais” é que se cria uma verdadeira experimentação (MARCONI E LAKATOS, 2010, p.89).

Outrossim, a abordagem etnográfica, que não segue padrões metodológicos rígidos dessa ciência, adequa-se à realidade da pesquisa de campo e dos interpelados, pois diante das desigualdades sociais existentes no meio rural, é de extrema importância considerar as diferenças econômicas, sociais e culturais que compõem o campo. Dessa maneira, o pesquisador consegue dar dinamicidade e coloca o público-alvo da pesquisa como sujeito ativo e modificador das estruturas sociais (MATTOS, 2011).

Assim, é necessário destacar que a etnografia é um esforço de descrever e analisar algumas manifestações do que foi visto em campo. Quanto mais observações, conversas, interações ocorrerem com os camponeses, melhor a imagem científica formar-se-á.

Com a intenção de basear teoricamente a pesquisa, foi realizada, na fase de gabinete, uma revisão bibliográfica, construída a partir de livros e artigos voltados para a temática. Além disso, foram consideradas fontes censitárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística1 (IBGE) disponíveis publicamente na internet para auxiliar no processo de análise da nova realidade de reterritorialização do Piauí a partir do avanço do agronegócio; assim, dados como distribuição da população, quantidades de produtores, características econômicas e sociais da região foram de suma importância no processo de pesquisa.

Já a fase de campo teve como base a avaliação da situação em que a sociedade rural se encontrava e quais os possíveis problemas existentes. Como afirma Kaiser (1949, p. 98), “a análise da sociedade é análise da luta de classes, [...] o que pode ser traduzido de modo mais nuançado: a dinâmica social é revelada pelos conflitos”. Portanto, a fase de campo serviu para identificar os possíveis embates, operacionalizados a partir de técnicas de observação direta extensiva e de entrevistas com grupos de camponeses.

1 Necessário salientar que a referida tese assentou-se no conceito de camponês, e não de agricultor familiar,

conforme o IBGE traz em sua metodologia; não obstante, a escolha dessa fonte oficial foi importante por ser o maior acervo estatístico do rural brasileiro e os dados analisados, tanto do agronegócio quanto do campesinato, coadunam com a pesquisa de campo realizada.

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As entrevistas com os camponeses foram livres (não diretivas). Nelas, o pesquisador expôs o tema da investigação e deixou o entrevistado discorrer livremente, sem forçá-lo em uma determinada direção, visando analisar as condições econômicas e sociais dos trabalhadores rurais (BARROS E LEHFELD, 2007). Também foi na pesquisa de campo onde foram realizados registros fotográficos, filmagens e gravações de voz do público interpelado. Dessa maneira, os anseios, as percepções do modo de vida rural e os problemas enfrentados diariamente pelo público-alvo foram melhor apurados na interpretação qualitativa das informações.

Ao final, na fase de laboratório, as entrevistas concedidas foram analisadas e subsidiaram os resultados da pesquisa junto com os dados conseguidos no IBGE. Também nessa fase foram construídos mapas que referenciaram os locais de crescimento e inserção do agronegócio em territórios outrora ocupados somente por famílias rurais tradicionais.

O universo apresentado na pesquisa foi o montante de empreendimentos de agronegócio e a quantidade de agricultores familiares localizados nos municípios integrantes das Microrregiões de Floriano, de Picos e do Médio Parnaíba Piauiense. Estas microrregiões podem ser identificadas no Mapa 1:

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Mapa 1: Localização das microrregiões de Floriano, do Médio Parnaíba Piauiense e de Picos, no Estado do Piauí. Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

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A região escolhida como recorte da pesquisa conta com quarenta e oito municípios2; no entanto, para operacionalizar a pesquisa, foi realizada uma primeira pesquisa in loco para identificar os municípios que apresentavam a instalação de empreendimentos de agronegócio recentes, além de uma maior concentração de povoados e assentamentos rurais. Dessa maneira, foram averiguados os territórios rurais de oito municípios: Amarante, Floriano, Francisco Ayres, Guadalupe, Oeiras, Regeneração, Tanque do Piauí e Itaueira (Mapa 2).

2 Microrregião de Floriano: Canavieira, Flores do Piauí, Floriano, Guadalupe, Itaueira, Jerumenha, Nazaré do

Piauí, Pavussu, Rio Grande do Piauí, São Francisco do Piauí, São José do Peixe, São Miguel do Fidalgo. Microrregião de Picos: Aroeiras do Itaim, Bocaina, Cajazeiras do Piauí, Colônia do Piauí, Dom Expedito Lopes, Geminiano, Ipiranga do Piauí, Oeiras, Paquetá, Picos, Santa Cruz do Piauí, Santa Rosa do Piauí, Santana do Piauí, São João da Canabrava, São João da Varjota, São José do Piauí, São Luís do Piauí, Sussuapara, Tanque do Piauí, Wall Ferraz. Microrregião do Médio Parnaíba Piauiense: Agricolândia, Água Branca, Amarante, Angical do Piauí, Arraial, Barro Duro, Francisco Ayres, Hugo Napoleão, Jardim do Mulato, Lagoinha do Piauí, Olho d'Água do Piauí, Palmeirais, Passagem Franca do Piauí, Regeneração, Santo Antônio dos Milagres, São Gonçalo do Piauí, São Pedro do Piauí.

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Mapa 2: Localização dos municípios investigados na pesquisa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

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Após a seleção dos municípios, a amostragem para as entrevistas foi probabilista, permitindo uma escolha aleatória dos investigados. A seleção foi realizada considerando cada trabalhador rural apto a ser escolhido probabilisticamente (MARCONI E LAKATOS, 2010).

Após a coleta das informações no campo, o cruzamento dos dados quantitativos e o tratamento dos resultados foi realizado através de programas eletrônicos, como o Pacote Estatístico para Ciências Sociais (SPSS) e o Microsoft Office Excel 2013, sendo que a análise qualitativa foi efetivada a partir da comparação dos dados coletados na investigação de campo e nas informações oficiais, alicerçada nas revisões bibliográfica e documental. Para a elaboração dos mapas, utilizou-se preponderantemente as bases de dados cartográficos do IBGE.

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1 O RURAL PIAUIENSE E A QUESTÃO

TERRITORIAL

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As transformações as quais o meio rural brasileiro vem sofrendo desde o período colonial é uma das peças-chave para compreender a configuração territorial que ocorre no país.

Um dos primeiros dispositivos que intentou regulamentar a questão fundiária do país foi elaborado no período imperial. A Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras, tratava das terras devolutas e das que foram possuídas por título de sesmaria que não preenchiam condições legais. A lei determinava que terras seriam “cedidas a titulo oneroso, assim para empresas particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionais e de estrangeiros, autorizado o Governo a promover a colonização estrangeira na forma que se declara” (BRASIL, 1850, p.1).

Mais de trinta anos após a criação da Lei de Terras, outro fato histórico contribuiu para a ocupação territorial no Brasil, principalmente em áreas fora dos núcleos urbanos. Em 1888, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, extinguia a escravidão em toda área nacional (BRASIL, 1888). Com os negros libertos, as lavouras de camponeses aumentaram exponencialmente.

Contudo, foi a partir dos anos de 1970, especialmente, que se observou o avanço de uma rotina do capital na qual o camponês, personagem recorrente na história do país, não estava familiarizado. Do tempo contado sem relógio e da labuta medida pelo cansaço, o pequeno produtor viu-se dividindo espaço com grandes monocultivos, caracterizados pelo uso de maquinário pesado e por grandes metas produtivas, que visam à geração de lucro. Essa relação entre indústria agrícola capitalista e lavradores alcançou o território piauiense com mais velocidade justamente na década de 1990, período em que as plantações de soja surgiram no Estado (ALVES, 2006).

A partir do sudoeste, os grandes produtores alteraram profundamente o Cerrado, transformando a paisagem a partir das vastas plantações monocultoras. Nessa incursão capitalista, houve, portanto, uma nova roupagem: o “campo” piauiense, particularmente no Cerrado, que era tido como um fundo territorial3, foi vendido como a última grande fronteira agrícola do Brasil.

Assemelhando-se ao modus operandi dos primeiros colonizadores piauienses, o agronegócio seguiu ocupando as terras de outros municípios, tornando-se parte da realidade rural. Percebeu-se, assim, uma territorialização capitalista no campo piauiense; o camponês,

3 Entende-se que o fundo territorial é o oposto de território usado, conceitos estes propostos por Moraes (2013).

Enquanto o território usado é a integração de núcleos produtivos, o fundo territorial são áreas a serem exploradas. Destaca-se, portanto, que esses fundos fortaleceram o caráter centralizador do Estado brasileiro, que legitimou no decorrer dos anos o discurso modernizador nas áreas rurais.

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antes personagem que mantinha certo protagonismo no interior do Estado, tornou-se sinônimo de “atrasado”, o que subsidiava o argumento de que o agronegócio devia ser incentivado com o intuito de aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) piauiense.

Assim, a agricultura capitalista avança rumo ao norte do Estado, em sua busca por terras a preços convidativos e incentivos fiscais. Concomitante a esse processo, a expropriação dos camponeses toma corpo e engrossa o êxodo para os centros urbanos.

Diante dessa teia de eventos, é de suma importância analisar as questões territoriais existentes nessa relação entre o avanço do capitalismo e o modo de vida tradicional; para tanto, é necessário resgatar discussões acerca do conceito de território. Por conseguinte, será abordada a histórica formação do rural piauiense e seus aspectos socioculturais, com o intuito de dar subsídio para a realização de uma discussão sobre a valorização do fundo territorial do campo e os diversos aspectos territoriais de atração do agronegócio, para que dessa maneira tenhamos um aporte para compreender a venda de terras piauienses e o constante processo de territorialização no rural do Estado. É por esse caminho que o capítulo seguirá.

1.1 Conceito de território e disputas territoriais

Com o crescimento populacional exponencial na década de 1950, a população brasileira tornou-se em sua maioria urbana, o que gerou novas formas de territorialidade, com o crescimento horizontal e vertical das cidades. Mesmo com o fenômeno da urbanização, o Brasil continua abrigando heterogeneidades de crenças, modos de vida e sentimentos.

Ao nos voltarmos para a realidade rural, o camponês resiste e reinventa-se no seu espaço de vida, de onde tira o seu sustento e perpetua sua família. A terra torna-se o seu território econômico, social e, acima de tudo, espaço de íntima relação com a natureza. Entretanto, qual o significado de território aplicado ao campo e quais são as questões territoriais existentes quando o capital avança sobre o meio rural, territorializando-se e, por consequência, desterritorializando os antigos donos?

Primeiro há de se entender que o território é o suporte para a convivência social, como exalta Castro (2006). É esse território, portanto, a expressão de simbolismos alimentados pelas relações do homem com o meio, o que gera distintas organizações socioespaciais. O território do camponês é assim resultado do seu trabalho, da convivência familiar e da concretização do seu imaginário na sua terra: o elo deste homem do campo é tão forte que o faz criar raízes no seu pedaço de chão.

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Como expôs Marques (2006), o camponês tem uma complexa trajetória e comprometimento com sua terra. Existe um senso de comunidade e de trabalho agrícola particulares que caracterizam a ruralidade desses indivíduos, que prezam pelas relações sociais e o fortalecimento da inscrição local.

Marques (2002) ainda destaque que o lavrador e sua comunidade devem ser entendidos pelas suas particularidades, pois o meio rural comporta relações que são complexas e diversificadas.

Ademais, essas dicotomias existentes no campo criam novas “economias” ou formas de lidar com a vida local. Com isso, Escobar (2005) exaltou que os conhecimentos adquiridos na prática valem mais em comunidades rurais, por exemplo, do que um sistema formal de conhecimentos compartilhados. A natureza, nesse ponto, é fator decisivo na evolução dos grupos sociais que dela dependem.

Certifica-se dessa maneira que a comunidade camponesa é um aglutinado de histórias, de vivências, de medos e de sonhos, concretizado através de ações que esses indivíduos executam na natureza.

Escobar (2005, p.9) adverte que esses ideários populares são constantemente invadidos por outras formas modernas de conhecimento. No caso dos camponeses, isso pode ser contextualizado, por exemplo, com a chegada de máquinas e empresas capitalistas no ambiente rural.

Certamente, o “lugar” e “o conhecimento local” não são panacéias que resolverão os problemas do mundo. O conhecimento local não é “puro”, nem livre de dominação; os lugares podem ter suas próprias formas de opressão e até de terror; são históricos e estão conectados com o mundo através de relações de poder, e de muitas maneiras, estão determinados por elas [...]. Será necessário, porém, estender a investigação ao lugar, para considerar questões mais amplas, tais como a relação do lugar com economias regionais e transnacionais; o lugar e as relações sociais; o lugar e a identidade; o lugar e os limites e os cruzamentos de fronteiras; o híbrido; e o impacto da tecnologia digital, particularmente a Internet, no lugar. Quais são as mudanças que se dão em lugares precisos como resultado da globalização? Por outro lado, quais formas novas de pensar o mundo emergem de lugares como resultado de tal encontro? Como podemos compreender as relações entre as dimensões biofísicas, culturais e econômicas dos lugares?

Ou seja, é importante rememorar que, muito anterior à mecanização da agricultura, o camponês já vivia em seu tempo lento e praticando agricultura de acordo com conhecimentos passados de pai para filho. Como assinalaram Santos e Silveira (2013, p.30), quando a necessidade de produção de alimentos em grande escala não se fazia aparecer no campo brasileiro, “o reino da necessidade balizava a reprodução harmoniosa com a natureza”

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e o tempo da natureza sobrepujava o humano, acompanhado pelos ponteiros do relógio. Nessa perspectiva, o território rural demonstrava peculiaridades, diferenças estas mais evidentes se comparadas às características territoriais presentes nas cidades.

Com todas essas particularidades, é comum que o conceito de território aplicado ao campesinato tenha diversas perspectivas. Diante de todos esses tipos de abordagens que existe sobre território, Haesbaert (2016) alerta para a necessidade de se encontrar uma proposta integradora que leve em consideração tanto o espaço material quanto o “imaginário geográfico”, de forma indissociável. Assim, entende-se que o “habitar” não é a parte principal do “territorializar”. Há diversas implicações que regem a organização espacial dos territórios: as aspirações dos que lá habitam, como acontecem as reproduções econômicas e políticas entre distintos territórios e qual o valor material e simbólico da terra para o homem.

É importante perceber também que no meio rural há a existência de territórios que se sobrepujam. Esse fenômeno dá-se mais particularmente com o avanço do capital do agronegócio em território camponês. Sobre essa questão, Santos e Silveira (2013, p. 31) destacam que:

[...] a invenção e difusão das máquinas e a elaboração de formas de organização mais complexas permitiram outros usos do território. Novas geografias desenham-se, sobretudo a partir da utilização de prolongamentos não apenas do corpo do homem, mas do próprio território, constituindo verdadeiras próteses. O período técnico testemunha a emergência do espaço mecanizado. São as lógicas e os tempos humanos impondo-se à natureza, situações em que as possibilidades técnicas presentes denotam conflitos resultantes da emergência de sucessivos meios geográficos, todos incompletamente realizados, todos incompletamente difundidos.

A tecnologia surge, igualmente, pela necessidade de atender à crescente necessidade de consumo da sociedade, o que transforma o modo de vida tradicional, justamente por essa pressa escalar de ocupação do território por parte do capital. Ainda sobre essa questão, Santos e Silveira (2013, p.31) exprimem:

Poderíamos assim reconhecer diversos momentos em um processo de evolução que é permanente. No primeiro podemos falar do território brasileiro como um arquipélago, contendo um subsistema que seria o arquipélago mecanizado, isto é, o conjunto de manchas ou pontos do território onde se realiza uma produção mecanizada. Depois, a própria circulação se mecaniza e a industrialização se manifesta. É somente num terceiro momento que esses pontos e manchas são ligados pelas extensões das ferrovias e pela implantação de rodovias nacionais, criando-se bases para uma integração do mercado e do território. Essa integração revela a heterogeneidade do espaço nacional e de certo modo a agrava, já que as disparidades regionais tendem, assim, a tornar-se estruturais.

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Destarte, a industrialização surge como um aparato interligado por uma grande rede que atende à logística da produção, mas aprofunda o abismo entre o “arquipélago mecanizado” e a sociedade que não faz parte desse território.

Nessa relação conflituosa que se instala nos territórios (e no caso particular do campo), a materialidade do território e os anseios da indústria mecanizada e do camponês devem ser mediados pela política. Castro (2006) é bem pontual ao assinalar que há uma inseparabilidade entre o imaginário social, a política e o território, portanto, o espaço geográfico deve ser sinônimo de espaço da política. O território não é somente uma instância onde os indivíduos se instalam e aplicam suas vontades; eles são regidos por uma instância política que deve evitar a fricção entre os territórios. É preciso adotar uma abordagem que considere a indissociabilidade entre política e formação territorial.

Por muitas vezes, entretanto, o agente que move as ações políticas (o Estado) trabalha a serviço da desterritorialização: a política estatal, geralmente, não é uma condição para a territorialização, pois esta já acontecia pela vontade de comunidades pré-capitalistas (como os indígenas, por exemplo). Com a formação das primeiras fronteiras, limites estaduais e municipais, o território é a expressão da soberania do Governo sobre o espaço geográfico.

Nesse quesito, Haesbaert (2016) explica que há, corriqueiramente, o entendimento de que o Estado desterritorializa a partir de divisões administrativas, fundiárias e residenciais. A própria fundação das ações estatais é iniciada pela destruição de territórios desses povos pré-capitalistas, negando-os o direito a terra que estes habitavam muito antes das primeiras incursões capitalistas. O povo tradicional, mesmo após a ocupação do território por forças capitalistas regidas por políticas que promovem a desterritorialização, tem em sua organização uma condição natural a territorializar-se, já que os indivíduos que dependem da terra alimentam-se, vestem-se e habitam-na a partir dos recursos da primeira natureza4.

A situação do campesinato exprime muito bem essa condição de desterritorilização. Com o avanço das formas do capital, as políticas governamentais advogam primeiramente pela expansão da propriedade privada sobre a terra. Sobrinho (2015) comenta que a forma de apropriação tradicional da natureza é barrada pela reprodução capitalista. A retirada de populações tradicionais da sua terra é por muitas vezes baseadas em fraudes (respaldadas pelo Estado) ou por meio da violenta e expulsão.

4 Vários autores da filosofia, como o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, solidificaram o conceito de

primeira e segunda natureza, e no campo da Geografia essa discussão considera que a primeira é o espaço natural “intocado” pelo homem, ou seja, a natureza não transformada, sendo a segunda natureza aquela transformada, personificada por construções, vestimentas, enfim, objetos e bens duráveis e não-duráveis postos para satisfazer às modernas necessidades dos indivíduos (UTZ et al, 2010).

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Essa massiva territorialização do capital pode ser entendida como uma corrente que visa atender aos anseios de uma economia globalizada que altera o perfil da produção e consumo mundialmente; um produto que outrora não era necessário para o bem-estar social pode ser objetivo de consumo desenfreado de boa parte da população. Becker (2006) pontua que o perfil de consumo reorganiza o mercado, modificando toda a estrutura de trabalho e da sociedade capitalista. A produção em grande escala também é geradora de pessoas que não conseguem se inserir nessas novas territorialidades, já que as formas de gestão trabalhista produzem também uma crescente exclusão dos indivíduos e engrossam as estatísticas de migração campo-cidade. Sobre essa questão, Santos e Silveira (2013, p. 52) expressam:

Uma autonomia relativa entre lugares é substituída por uma interdependência crescente e sobretudo a interdependência “local” entre sociedade regional e natureza, fundada em circuitos locais, é rompida por circuitos mais amplos, em mãos de poucos produtores. Tal evolução é geral, embora a superposição de nexos múltiplos, diferentes segundos os lugares, defina as diversidades regionais. Graças à propaganda, à industrialização, ao crédito e à urbanização, ampliam-se o consumo ao mesmo tempo que há uma transformação mais rápida de valores de uso em valores de troca, acelerada pela especialização territorial da produção, pelo novo patamar de urbanização e pela valorização da terra. É uma fase de nova integração, mas com especialização geográfica da produção material e imaterial. De um tempo lento, diferenciado segundo as regiões, passamos a um tempo rápido, um tempo hegemônico único, influenciado pelo dado internacional: os tempos do Estado e das multinacionais.

É percebido que, com o avanço do capital sobre os territórios, há a mudança do modo de vida tradicional. Essa tradicionalidade baseia-se, sobretudo, em pressupostos divinos ou naturais, que explicam o porquê da ligação de tal comunidade com a terra. A territorialização e o sentimento de pertencimento ao lugar são algo imaterial e não compreendido pelo atual sistema de mercado.

Sobre essa tradicionalidade, Harvey (2011) concorda que a territorialização ditada pelo capitalista e pelo aval das políticas dos Estados nacionais em nada tem a ver com o território do povo tradicional, como o indígena ou o camponês. O lugar da “casa” e a construção de vida em uma comunidade podem ser reconhecidos como uma arte pertencente aos indivíduos e que o capital não consegue replicar. Exemplo disso são as cidades planejadas que necessitam de toda uma infraestrutura para viabilizar a acumulação do capital.

Assim, o significado de território é muito mais profundo para as pessoas que o fazem movidas pela paixão e pelos ideais; seu território tradicional não está em consonância com o mercado de terras e com o sentido de propriedade privada do mundo moderno. Dessa forma, mesmo com a forte ligação das populações tradicionais no meio rural, é possível

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afirmar que o maior mérito do avanço capitalista é a recriação de territórios, o que convém chamar de reterritorialização.

Como afirma Harvey (2011), essa drástica reorganização espacial da produção não é tão somente uma aniquilação das tradicionalidades através das décadas: ela pode ser entendida como uma destruição criativa, ao passo em que promove a substituição dos valores simbólicos agregados a terra por valores de especulação do capital. Ou seja: a terra ganha valor de mercado e inicia-se uma especulação sobre as terras que outrora não tinham valor para o capitalismo.

A partir dessas constatações, Harvey (2011, p.157) traz o seguinte questionamento:

Então, nossas cidades são projetadas para as pessoas ou para os lucros? O fato de tal questão ser colocada com tanta frequência nos leva imediatamente para o terreno da grande variedade de lutas sociais e de classe na formação do lugar. Estas são as paisagens em que a vida diária tem de ser vivida, as relações afetivas e solidariedades sociais são estabelecidas e as subjetividades políticas e os significados simbólicos são construídos. Os interesses da classe capitalista e dos desenvolvedores são conscientes dessa dimensão e procuram mobilizá-lo por meio do apoio à comunidade ou à cidade e da promoção deliberada de um sentido de identidade local ou regional, fundamentando-se às vezes com sucesso sobre as sensibilidades populares derivadas das fortes relações com a terra e o lugar.

Ou seja, a reterritorialização gerada pela modernidade que o capitalismo traz transforma até as relações afetivas que a população tem com seu território, impelindo-as a internalizar que as “benesses” da transformação do espaço são o melhor para o crescimento social. No entanto, todo o esforço do capitalista para unir a sociedade no entorno da industrialização e da modernização das cidades tem como objetivo alicerçar a acumulação capitalista.

Essa dicotomia é justamente a que gera questões territoriais conflituosas entre população camponesa tradicional e o modo capitalista de se territorializar / produzir é muito sentida no campo. O camponês, de fato, avançou pelas terras brasileiras não com o intuito de expandir sua produção ou especular sobre os seus domínios. Impelidos pelo simbólico, suas moradias seguiam ou rumo natural (margeando o rio, por exemplo) ou cultivando onde o grande fazendeiro permitia.

Mesmo nas primeiras incursões coloniais, os pequenos roceiros (negros escravos, por exemplo) já se estabeleciam em pequenas vilas levantadas com técnicas passadas de geração para geração. Isso pode ser percebido ao analisarmos as moradas de pequenos

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produtores ou negros escravos no período colonial. Até mesmo no século XXI, essa arquitetura mantém-se no meio rural brasileiro.

Em suma, a territorialização camponesa remete ao tradicional modo de vida e sua íntima relação com a terra. Com um tempo não cronometrado, o homem convive na natureza e nela produz para sua subsistência e de sua família. Os conflitos territoriais são gerados justamente pela oposição que a territorialização capitalista faz junto ao camponês. A movimentação da modernização no campo brasileiro é geradora de intensos conflitos (muitas vezes violentos), o que impele o camponês a deixar suas terras e a proletarizar-se. O meio rural sofre um processo de reterritorialização, no qual há a sobreposição, por meio da força, do novo território capitalista.

O que é necessário entender primeiramente é como essas disputas territoriais existentes a partir do avanço do capital sobre as terras camponesas interferem na vida rural, nas condições naturais, na situação social e econômica da sociedade, particularmente no Piauí, foco do estudo.

1.2 Piauí: características históricas e econômicas da ocupação do território

Um grande domínio morfoclimático que intercala floresta densa, de vegetação lenhosa, com uma paisagem savanoide. O Cerrado piauiense, que caracteriza principalmente o sul do Piauí, foi palco das primeiras incursões do capital do agronegócio com expressiva força no final de 1990. Um dos principais perfis dos municípios que atraíram os primeiros empreendimentos, além das terras a preços irrisórios, foi a extensão territorial das áreas verdes, grandes fundos territoriais, que se tornaram foco do capital agroindustrial.

Essas grandes extensões de terra dos municípios ao sul do Piauí têm justificativa histórica e para contextualizar a conjuntura agrícola do Estado é necessário, portanto, resgatar o processo de ocupação de seu território. O carro-chefe, neste caso, foi a pecuária, deslocada do litoral nordestino, por entrar em conflito com as áreas de plantio de cana. Em princípio, a população que se deslocou para o Piauí era constituída de poucos indivíduos, pois a criação extensiva não necessitava de muita mão de obra.

Nesse início de exploração das novas terras para pecuária, o foco era escolher locais onde havia água em abundância e navegabilidade para o escoamento de produtos. Assim, o principal rio piauiense, o Parnaíba, acolheu em suas margens grandes propriedades, justamente por se estender do extremo sudoeste até o oceano Atlântico e facilitar o transporte

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da produção, que seguia de barco a vapor e posteriormente era carregada em transatlânticos que aportavam nos portos de Amarração e Tutóia (MIRANDA, 2015).

Portanto, seguindo o curso dos rios, na segunda metade do século XVII, um rendeiro da família Ávila5 se destacou entre tantos: o “capitão do sertão” Domingos Afonso Mafrense que, segundo Silva (2016), foi o maior arrendatário das terras piauienses e, por conseguinte, também um dos maiores genocidas indígenas da região.

Por volta de 1670, os vales do Rio Canindé e Piauí já estava quase inteiramente ocupados por fazendas de gado, sob domínio de vaqueiros da confiança de Domingos Afonso Mafrense. O arrendatário, que possuía em torno de trinta fazendas de gado e tinha sócios (dentre eles seu irmão Julião Afonso), ganhou juntamente com herdeiros diretos da Casa da Torre as primeiras outorgas de terras no Piauí; esse seleto grupo detinha o poder em quase todo o território, e o mantinha através da violência e do autoritarismo (ALVES, 2003).

Contudo, muitas outras incursões surgiram. As principais criações extensivas de gado eram preponderantemente comandadas por criadores oriundos de Salvador e Olinda; nesse passo, conforme Andrade (1975), as regiões com maiores concentrações de criações de gado margeavam os maiores cursos d’água do sul/sudeste piauiense. Cabe ressaltar que esse processo ocorria também impulsionado pelo ímpeto em expandir o domínio de novas terras da sesmaria antes inexplorada.

Araújo et al (2006) e Lima (2016) concordam que, com o passar do tempo, a população piauiense possuía indivíduos suficientes para que as terras ocupadas se tornassem uma província; esta constatação veio da incursão de jesuítas pela sesmaria e, como resultado da reunião entre vários fazendeiros, foi escolhida a primeira sede da província do Piauí, sediada em área central do povoamento, às margens do riacho Mocha, onde se localizava uma das fazendas de Mafrense. Assim, como marco principal da freguesia de Nossa Senhora da Vitória, foi criada, em 1697, uma igreja de mesmo nome. Esta freguesia viria a se tornar, posteriormente, Oeiras, a primeira capital do estado.

Dessa maneira, é possível destacar que a ocupação com feições econômico-exploratórias da pecuária extensiva em território piauiense é reconhecidamente a principal atividade do estado do período colonial até meados do século XIX. Contudo, Moraes (2006) lembra que mesmo a criação de gado sendo a principal atividade da época, não se deve considerá-la um ciclo econômico, justamente pela falta de dinamismo da atividade. Ela só se

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Segundo Alves (2003), esta família baiana tinha uma instituição intitulada de Casa da Torre, que injetava recursos financeiros em aventureiros, caçadores indígenas, visando ocupar terras para praticar a pecuária extensiva.

Referências

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