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4 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS MICRORREGIÕES DE PICOS,

4.1 Características físicas

A divisão brasileira entre mesorregiões e microrregiões foi proposta pelo IBGE (1990), sendo que a mesorregião foi definida como uma área organizada geograficamente a partir de suas características sociais, naturais e espaciais (redes de comunicações). Já as suas subdivisões (microrregiões) levam em consideração somente a organização do espaço dos municípios.

O IBGE (1990) também sublinhou que as microrregiões não são sinônimo de uniformidade; ao contrário, elas exprimem interações entre características naturais ou relações socioeconômicas e estruturais distintas entre os municípios formadores desse espaço microrregional.

Diante do exposto, o Piauí conta com quatro mesorregiões e quinze microrregiões. Nesse estudo, como dito anteriormente, foram escolhidas três microrregiões, identificadas no Mapa 3:

Mapa 3: Mapa das Mesorregiões do Piauí e localização das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Como demonstrado no Mapa 3, as microrregiões de Floriano, Médio Parnaíba Piauiense e Picos localizam-se nas mesorregiões do Sudoeste Piauiense, do Centro-Norte Piauiense e do Norte Piauiense, respectivamente. Portanto, elas abrigam características físicas e socioeconômicas diversas.

De acordo com os dados do IBGE (2014), a população total das três microrregiões era de aproximadamente 512.046 habitantes (121.544 na Microrregião de Floriano, 130.502 na Microrregião do Médio Parnaíba Piauiense e 260.000 na Microrregião de Picos), o que corresponde a cerca de 16,0% da população do estado.

Essa população, de acordo com a Cepro (2017), distribuía-se em quarenta e nove municípios, que somados possuíam uma área de 37.005,234 km² de um total de 251.611,929 km² do Piauí, representando 14,7% da área da Unidade Federativa. Pela extensão territorial destas microrregiões, tem-se uma baixa densidade demográfica (13,76 hab/km²).

Um dos principais aspectos físicos do Piauí é sua heterogeneidade de clima regional. Conforme Brasil (2006), o estado tem três climas regionais com duas áreas de transição (que ilustram também as microrregiões estudadas). São eles: Semiárido, semiárido a subúmido, subúmido, subúmido a úmido e úmido. Este perfil é verificado de acordo com os índices médios mensais da pluviometria piauiense, que oscilam de menos de 700 mm mensais (região do semiárido) a mais de 1500 mm mensais (regiões úmidas).

Tem-se, portanto, um maior índice pluviométrico nas Microrregiões de Floriano e do Médio Parnaíba Piauiense, enquanto na de Picos observou-se os menores índices de precipitação, pois uma fração dos seus municípios fica na faixa de clima do semiárido. Esse fator aponta para uma forte tendência do desenvolvimento de práticas agroindustriais mais próximas às áreas localizadas perto do Rio Parnaíba e de seus principais afluentes.

Com médias pluviométricas bastante diversificadas, a vegetação também segue esse padrão. O Mapa 4 apresenta a vegetação que compõe as microrregiões estudadas:

Mapa 4: Mapa da vegetação das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos. Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Consoante o Mapa 4, as formações vegetacionais encontradas na região examinada são: Savana, Savana-estépica, Floresta Estacional Decidual e Floresta Estacional Semidecidual, com suas respectivas áreas de ecótonos (áreas de transição).

A classificação dessas vegetações seguiu o estudo do Projeto RadamBrasil: Fitogeografia Brasileira: classificação fisionômico-ecológica da vegetação neotropical, que levou em consideração uma série de variáveis que podem ser azonais (diferentes do todo). Ross (2011) complementa que um domínio de vegetação é construído, portanto, pelos efeitos climáticos que se acumulam com o passar do tempo.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2017, p.1), as Florestas Estacionais Semideciduais possuem duas estações climáticas e apresentam indivíduos florísticos “por fanerógamos com gemas foliares protegidas da seca por escamas, têm folhas esclerófilas deciduais e a perda de folhas do conjunto florestal (não das espécies), situa-se entre 20 e 50%”. Igualmente às Semideciduais, as Florestas Estacionais Deciduais são marcadas por estação chuvosa e um longo período seco, que fazem com que cerca de 50,0% da vegetação perda suas folhas.

Já a Savana pode ser também denominada de Cerrado. Diferentemente do Sudoeste do estado do Piauí, esta vegetação não é a predominante na região das microrregiões avaliadas, porém é necessário destacar suas principais características, uma vegetação xeromórfica herbácea, também contendo indivíduos lenhosos (pequeno porte). A Savana Estépica, por outro lado, é a conhecida caatinga (no semiárido nordestino) e, igualmente às demais vegetações, apresenta duas estações (EMBRAPA, 2017).

Nesse caso, uma parte do estado tem várias características florísticas distintas, mas que se ligam através de extensas áreas de transição. É necessário evidenciar que a vegetação mantém relação direta com os tipos de solos do local. Assim, o Mapa 5 apresenta as variadas formações geomorfológicas das microrregiões:

Mapa 5: Mapa da pedologia das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

Observou-se a partir da Figura anterior que nas microrregiões existem sete ordens de solos (Argissolo, Chernossolo, Latossolo, Luvissolo, Neossolo, Plintossolo e Vertissolo), com seus respectivos grandes grupos. A Embrapa (2014) pontuou as principais características destes solos:

Quadro 1 : Ordem e grandes grupos de solos das Microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos.

ORDEM GRANDES GRUPOS DAS MICRORREGIÕES CARACTERÍSTICAS Argissolo  Argissolo Vermelho- Amarelo Distrófico;  Argissolo Vermelho- Amarelo Eutrófico;  Argissolo Vermelho Eutrófico

São formados por material mineral, com horizonte B textural abaixo do A ou E, com argila de atividade baixa ou com argila de atividade alta conjugada com saturação por bases baixa e/ou caráter alítico na maior parte do horizonte B.

Chernossolo  Chernossolo Argilúvico Órtico

Tem horizonte A chernozêmico com horizonte B incipiente ou B textural, em todos os casos com argila de atividade alta e saturação por bases alta, ou horizonte cálcico, petrocálcico ou caráter carbonático coincidindo com o horizonte A chernozêmico e/ou com horizonte C, admitindo-se, entre os dois, horizonte Bi com espessura < 10 cm, ou também contato lítico, desde que o horizonte A chernozêmico contenha 150 g kg-1 de solo ou mais de carbonato de cálcio equivalente.

Latossolo  Latossolo Amarelo- Distrófico

Solos que apresentam horizonte B latossólico precedido de qualquer tipo de horizonte A dentro de 200 cm da superfície do solo ou dentro de 300 cm, caso o horizonte A apresenta mais que 150 cm de espessura.

Luvissolo  Luvissolo Crômico Órtico

Tem horizonte B textural com argila de atividade alta e saturação por bases alta na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B (inclusive BA), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A (exceto A chernozêmico) ou sob horizonte E. Neossolo  Neossolo Litólico Distrófico;  Neossolo Quartzarênico Órtico;  Neossolo Flúvico Ta Eutrófico.

Solos pouco evoluídos e têm em sua constituição material mineral ou orgânico com menos de 20 cm de espessura, não apresentando qualquer tipo de horizonte B diagnóstico. Horizontes glei, plíntico, vértico e A chernozêmico, quando presentes, não ocorrem em condição diagnóstica para as classes Gleissolos, Plintossolos, Vertissolos e Chernossolos, respectivamente.

Plintossolo  Plintossolo Pétrico Concrecionário;  Plintossolo Pétrico Litoplínico;  Plintossolo Argilúvico Distrófico

Apresentam horizonte plíntico ou litoplíntico ou concrecionário em uma das seguintes condições:

a) Iniciando dentro de 40 cm da superfície; ou

b) Iniciando dentro de 200 cm da superfície quando precedidos de horizonte glei ou imediatamente abaixo do horizonte A, E ou de outro horizonte que apresente cores pálidas, variegadas ou com mosqueados em quantidade abundante.

Quando precedidos de horizonte ou camada de coloração pálida (acinzentadas, pálidas ou amarelado-claras), estes deverão ter cores centradas nos matizes e cromas conforme os itens (a) e (b) definidos abaixo, podendo ocorrer ou não mosqueados de coloração desde avermelhadas até amareladas.

Quando precedidos de horizontes ou camadas de coloração variegada, pelo menos uma das cores deve satisfazer às condições dos itens (a) e (b) definidos abaixo. Quando precedidos de horizontes ou camadas com matriz de coloração avermelhada ou amarelada, mosqueados deverão ocorrer em quantidade abundante (> 20 % em volume) e apresentar matizes e cromas conforme itens (a) e (b) definidos abaixo.

Quadro 1 : Ordem e grandes grupos de solos das Microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos. b) Matizes 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma menor ou igual a 4.

Vertissolo  Vertissolo Háplico Órtico

Tem como característica horizonte vértico entre 25 e 100 cm de profundidade e relação textural insuficiente para caracterizar um B textural. Além disso, devem atender aos seguintes requisitos:

a) Teor de argila, após mistura e homogeneização do material de solo, nos 20 cm superficiais, de no mínimo 300 g kg-1 de solo;

b) Fendas verticais no período seco com pelo menos 1 cm de largura, iniciando na superfície e atingindo, no mínimo, 50 cm de profundidade, exceto no caso de solos rasos, onde o limite mínimo é de 30 cm de profundidade;

c) Ausência de material com contato lítico, horizonte petrocálcico ou duripã dentro dos primeiros 30 cm de profundidade;

d) Em áreas irrigadas ou mal drenadas (sem fendas aparentes), o coeficiente de expansão linear (COLE) deve ser igual ou superior a 0,06 ou a expansibilidade linear é de 6 cm ou mais; e

e) Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do horizonte vértico.

Fonte: Adaptado de Embrapa (2014).

Alguns destes solos são mais suscetíveis à agricultura, como afirmam Santos et al (2017). Dentre os que formam a área de estudo, os que apresentam menor fertilidade natural são os Latossolos e Argissolos, por serem profundos (com elevado grau de intemperização) e comumente ácidos. Já os Neossolos, Luvissolos e Chernossolos (e por vezes também os Argissolos), por terem sofrido pouco intemperismo, possuem baixa profundidade e são considerados de fertilidade média.

Quando o solo tem boa capacidade de retenção de água (como Argissolos, Chernossolos e Latossolos), a plantação pode depender das médias de chuvas (caso a precipitação seja regular) sem a utilização de irrigação. Ademais, as melhores condições para os plantios irrigados são em áreas sedimentares baixas, de várzeas ou em terraços. No caso da área de estudo, os solos mais propensos para cultivos irrigados são os Chernossolos, Plintossolos, Vertissolos e Neossolos Flúvicos (SANTOS et al, 2017).

Em relação à disponibilidade aquífera, todo o Piauí faz parte da Bacia do Parnaíba. Segundo dados do IBGE (2017), a referida Bacia representa 3,9% do território nacional, sendo a sétima maior Bacia do Brasil e a segunda mais importante do Nordeste. O Rio Parnaíba é o principal rio do estado, sendo possível também destacar outros principais cursos d’água. O Mapa 6 apresenta a malha hidrográfica e as sub-bacias hidrográficas das microrregiões estudadas:

Mapa 6: Mapa da malha hidrográfica e ottobacias hidrográficas das microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

O Mapa 6 demonstrou que a região destacada tem doze rios principais, mas os maiores e mais importantes corpos d´agua para os municípios são: Parnaíba, Itaueira, Piauí, Fidalgo, Berlengas e Sambito.

O rio Parnaíba, principal rio do Piauí, nasce na Chapada das Mangabeiras (alto curso) no sul do Estado. Em Guadalupe é barrado e forma a Barragem de Boa Esperança, para geração de energia elétrica (MMA, 2006). Além do mais, é nessa região que houve o desenvolvimento do polo frutífero irrigado, principal fornecedor de alguns produtos frutíferos para a região circunvizinha. Também localizado no Alto Parnaíba, o rio Itaueira nasce no município de Caracol, tendo aproximadamente 290 km de extensão até desaguar no Parnaíba. Tal qual o principal rio do estado, tem uma barragem em seu curso (Barragem de Poços, município de Flores).

No Médio Parnaíba, ainda segundo MMA (2006), o rio Piauí tem uma extensão de 380 quilômetros, sendo eles tributários de aproximadamente dezessete municípios em seu curso, abastecendo também lagoas que são voltadas para consumo humano, animal e para a agricultura. O rio Piauí desemboca no Canindé, já próximo ao Parnaíba. O Fidalgo, por sua vez, também faz parte do Médio Parnaíba e tem 150 km de extensão; alimenta doze lagoas em seu curso, sendo importante fornecedor hídrico para a população.

Por fim, os rios Berlengas e Sambito, constituintes do Médio Parnaíba, têm orientações para oeste e noroeste, respectivamente. Ambos desembocam no rio Poti (que nasce na Serra dos Cariris Novos, em Quiterianópolis, estado do Ceará) (MMA, 2006).

Destarte, a relação entre os aspectos físicos contribui para a instalação de comunidades rurais, centros urbanos, pequenas produções agrícolas camponesas e grandes empreendimentos de agronegócio. Nas microrregiões estudadas, tanto o solo agricultável quanto a disponibilidade de rios intermitentes permitem o planejamento e a distribuição de água de forma regular por boa parte do ano.

Desse modo, para ilustrar a relação citada acima, o Mapa 7 demonstra a localização das atividades agrícolas na região delimitada para o estudo:

Mapa 7: Mapa de atividade agrícola nas microrregiões do Médio Parnaíba Piauiense, de Floriano e de Picos Elaborado pelo Autor (2018).

Como ficou constatado no Mapa 7, há maior concentração de atividades agrícolas nas margens de rios e riachos, onde se pode destacar as atividades nas sub-bacias do rio Fidalgo e do Itaueira.

A agricultura desenvolvida nas microrregiões do Médio Parnaíba, de Floriano e Picos teve, por muitos anos, prevalência da forma camponesa de produzir, por isso tanto as atividades agrícolas cíclicas (temporárias) quanto permanentes seguem os cursos d’água. Contudo, como pontuou Araújo et al (2006), as novas inter-relações entre agricultura e indústria impulsionam o agronegócio modernizador e especializado em monocultivos.

Ainda em relação à agricultura camponesa, Araújo et al (2006) assinalou que, em áreas de vazantes, há o aproveitamento das terras para produzir culturas com ciclo curto (milho, feijão e arroz). A denominada cultura de vazante serve para garantir o sustento das famílias em período de estiagem.

Portanto, percebe-se que há uma inter-relação entre a dinâmica econômica e o perfil físico da região investigada. Não obstante, faz-se necessário abordar as características econômico-sociais a fim de compreender mais a fundo a dinâmica populacional em seu território.