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2 CAMPONESES E AGRONEGÓCIO: CONCEITO, RELAÇÃO COM A TERRA E

2.2 Conceito de agronegócio

Com o avanço do capitalismo e a globalização da economia, as bases produtivas no campo passaram por profundas modificações; o setor primário experimentou inovações tecnológicas que prometiam um maior desenvolvimento na colheita, a partir da seleção e/ou desenvolvimento de sementes, de fertilizantes e agrotóxicos em prol do aprimoramento produtivo. Iniciava-se, portanto, a chamada Revolução Verde, período no qual o agronegócio despontou fortemente no planeta, mudando profundamente os paradigmas da agricultura convencional.

Esse boom produtivo no meio agrícola foi proporcionado ainda no século XVIII, período onde a Revolução Industrial iniciou a modificação dos territórios e aprofundou as diferenças entre meio urbano e rural. De acordo com Mendonça (2015), a expansão das cidades, o significativo crescimento da expectativa de vida, a elevação da taxa de natalidade e o êxodo rural (que culminou em menos pessoas disponíveis nas lavouras) fizeram com que a produção alimentícia procurasse alternativas para produzir cada vez mais em menos espaço (eficiência produtiva), e assim abastecer a população.

Sobre o termo agronegócio, Mendonça (2015) destaca que este surgiu em publicação na Escola de Administração de Negócios da Universidade de Harvad8 e que significava a transformação do campo por conta de mudanças de bases tecnológicas que deveriam ser pautadas por políticas públicas. A grande exploração do agrobusiness, portanto, necessitava de subsídios do Estado para sustentar os custos de produção e de toda a cadeia de distribuição.

Nesse caso, Karnopp e Oliveira (2012) concordam quando caracterizam o conceito de agronegócio como uma aproximação entre campo e cidade, através da expansão do mercado industrial para além das cidades urbanizadas, transformando, portanto, o meio rural também consumidor de produtos característicos do meio urbano/industrializado.

8 O conceito de agronegócio é trabalho pioneiramente no livro intitulado de A concept of agrobusiness, dos

Sobre essa questão, Mendonça (2015, p. 376) explica como se dá o funcionamento logístico do agronegócio:

A principal mudança observada nas “fazendas modernas” é que deixaram de ser autossustentáveis e passaram a ter função comercial, com sua produção baseada em monocultivos. Atividades como armazenamento, processamento e distribuição foram transferidas para outras empresas, que também passaram a produzir produtos industriais utilizados neste modelo agrícola, como tratores, caminhões, combustível, fertilizantes, ração, pesticidas, entre outros. Surge então a proposta de se utilizar o termo “agronegócio”, pois, segundo os autores, “nosso vocabulário não acompanhou o ritmo do progresso”. Este “progresso”, descrito no livro, significaria que “nossas fazendas não poderiam operar nem por uma semana se estes serviços fossem cortados”

Ou seja, cada vez mais o agronegócio depende de inovações tecnológicas para manter o ritmo de produção frente à perda de fertilidade do solo e de uma cadeia industrial para dar suporte às suas atividades nas lavouras. Com cada vez mais montantes de recursos dispendidos para a industrial agrícola, houve uma elevação sem precedentes na produtividade na chamada Revolução Verde.

Assim, observou-se que, na primeira metade do Século XX, a Revolução Verde tinha na modernização da agricultura a solução de escassez alimentícia, principalmente para a população mundial mais pobre. Segundo Mendonça (2005), o intuito era maximizar a produção nas lavouras com o foco no barateamento alimentício e distribuição mais equitativa da comida, o que geraria uma erradicação da fome em médio prazo.

Diante do exposto sobre a elevação da produção, foi constatado que o planejamento realmente ocorreu como o esperado quando se trata do caso brasileiro, pois é de fácil constatação os saltos produtivos da área colhida. A seguir, o gráfico apresenta a quantidade produzida (em toneladas) do arroz, feijão, milho, soja e trigo no Brasil, de 1920 a 2006.

Gráfico 2: Produção, em toneladas do arroz, feijão, milho, soja e trigo nos anos de 1920, 1950, 1980 e 2006 no Brasil

Fonte: Adaptado de IBGE, Censo Agropecuário (2006).

É notável que, com o advento da mecanização agrícola a partir dos anos de 1950 no Brasil, há o aumento exponencial dos cultivares aqui apresentados até a década de 1980, com exceção do feijão e do trigo, que registraram queda de 1980 e 2006. A produção de grãos foi o carro-chefe dessa Revolução agrícola, principalmente na produção de arroz, feijão e soja. Mesmo assim, esse desempenho não promoveu de fato uma alteração da qualidade e acesso global dos alimentos, pois, no caso brasileiro, este excedente serviria preponderantemente para a exportação. Em escala global, o agronegócio não erradicou a fome e, sim, criou novos problemas no campo.

Segundo Oliveira (1986), o caráter monopolista da agricultura capitalista trouxe novas formas de conflitos no campo brasileiro, como os movimentos grevistas dos boias-frias na década de 1980, especialmente no corte da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Assim, de acordo com o autor, uma das principais mudanças que essa agricultura capitalista proporcionou foi a alteração nas relações produtivas quando há o fracionamento do processo produtivo, no qual, por exemplo, o agricultor não tem mais controle da etapa final.

Mesmo com o aumento expressivo da industrialização no campo, o camponês ainda é importante para as grandes empresas agrícolas, já que é a pequena unidade familiar que disponibiliza maior parte do contingente de força de trabalho. Esse fenômeno, conforme Oliveira (1986), repetiu-se em vários países, como nos EUA e em boa parcela da Europa.

Karnopp e Oliveira (2012) complementam que essa industrialização criada no meio agrícola pelo sistema capitalista gerou uma imposição de ritmo de produção e de

expansão espacial do mercado agrícola. Essa elaborada forma de evolução do agrobusiness transforma todo o ciclo econômico, criando uma relação de troca entre o primeiro e o segundo setor; essa relação começa a partir, por exemplo, da comercialização do maquinário usado na lavoura das sementes e na outra ponta há o beneficiamento e posterior transporte dos produtos.

Portanto, o agronegócio é mais do que uma nova forma de produzir no campo; ele envolve uma rede mercadológica que exige uma produção cada vez mais potencializada, que incorre em expansão e busca incessante por inovações tecnológicas a fim de garantir um crescimento exponencial do lucro das empresas envolvidas. A indústria, nesse caso, invade o setor primário e nele reorganiza toda essa economia primária.

Nesse sentido, a própria essência do agronegócio exclui da sua lógica de lucro o camponês, que passa agora a ser não mais um produtor, e sim um consumidor de mão de obra barata. Destarte, há a criação de uma realidade conflituosa, que gera uma tensão no campo. Se levarmos em conta a realidade brasileira, é consenso que na história não há um momento que passe incólume, sem algum conflito gerado pela expansão da fronteira do agronegócio e, sobretudo, pela luta camponesa.