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PESQUISAS EM ANÁLISE DO DISCURSO, MULTIMODALIDADE & ENSINO: DEBATES TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

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Academic year: 2021

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PESQUISAS EM ANÁLISE DO DISCURSO,

MULTIMODALIDADE & ENSINO: DEBATES

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Francisco Jeimes de Oliveira Paiva

Ana Maria Pereira Lima

(organizadores)

PESQUISAS EM ANÁLISE DO DISCURSO,

MULTIMODALIDADE & ENSINO: DEBATES

TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

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Copyright © Autores e Autoras

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos dos autores e autoras.

Francisco Jeimes de Oliveira Paiva e Ana Maria Pereira Lima (Orgs.)

Pesquisas em análise do discurso, multimodalidade & ensino: debates teóricos e metodológicos. Volume 3. São Carlos: Pedro & João Editores, 2020. 236p.

ISBN 978-65-87645-97-1 [Digital]

1. Análise do discurso. 2. Multimodalidade. 3. Ensino. I. Título.

CDD – 410

Capa: Colorbrand Design

Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito

Projeto gráfico: Jeimes Paiva

Conselho Científico da Pedro & João Editores:

Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/ Brasil); Hélio Márcio Pajeú (UFPE/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil); Ana Cláudia Bortolozzi (UNESP/ Bauru/Brasil); Mariangela Lima de Almeida (UFES/Brasil); José Kuiava (UNIOESTE/Brasil); Marisol Barenco de Melo (UFF/Brasil); Camila Caracelli Scherma (UFFS/Brasil); Luis Fernando Soares Zuin (USP/Brasil)

Pedro & João Editores

www.pedroejoaoeditores.com.br 13568-878 - São Carlos – SP

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Os(as) organizadores(as)

Francisco Jeimes de Oliveira Paiva é aluno não regular do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA/UECE). Mestre pelo Programa de Mestrado Acadêmico Interdisciplinar em História e Letras na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC/UECE), campus da Universidade Estadual do Ceará (2017-2019). Especialista em Ensino de Língua Portuguesa e Literaturas e Administração de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas. Especialista em Gestão Escolar Integrada e Práticas Pedagógicas e Psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes/UCAM. Graduado em Letras (Língua Portuguesa e Literaturas) pela Universidade Estadual do Ceará. Atualmente é Professor efetivo de Língua Portuguesa/Literaturas da Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará. Revisor Ad hoc de alguns periódicos da área de Letras, Educação e Linguística. Editor de livros/e-books associado à Câmara Brasileira do Livro - CBL. Membro do grupo de estudo Práticas de Letramento, Gêneros Textuais,

Tecnologias e Formação Tecnológica do Professor

(PRAGENTEFORTE/FAFIDAM/UECE) e do Grupo de Pesquisa em Análise de Discurso Crítica: representações, ideologias e letramentos (GPADC/UECE). ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0073-5632. E-mail: jeimespaivauece@yahoo.com

Ana Maria Pereira Lima é Doutora e Mestra em Linguística, pela Universidade Federal do Ceará. Professora adjunta da Universidade Estadual do Ceará. Atua na área de Linguística e Formação de Professores. Coordenou o projeto: Leitura e escrita na produção do conhecimento linguístico e literário, integrante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID; coordena o Grupo de Estudos "Práticas de Letramento, Gêneros Textuais, Tecnologias e Formação Tecnológica do Professor" (PRAGENTEFORTE); atua na coordenação de projetos de extensão e de iniciação científica que versam sobre multiletramentos e novas tecnologias. Os temas mais frequentes na produção científica são: letramento, letramento digital, multiletramentos, novas tecnologias e formação tecnológica do professor. Professora categoria permanente do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras - MIHL, na UECE e do PROFLETRAS/UECE. Pós-doutora pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. ORCID: http://orcid.org/0000-0003-1015-476X. E-mail: ana.lima@uece.br

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Sumário

Prefácio...08 Capítulo 1

Uma análise semiótica da busca pelo poder nas narrativas de Voldemort e Hitler...17

Marion Lucena Cavalcante Mary Nascimento da Silva Leitão

Capítulo 2

Persuasão e multimodalidade na construção da identidade feminina na propaganda do esmalte colorama, com Giovana Antonelli: uma perspectiva sistêmico-funcional...38

Viviane Yamane da Cunha

Capítulo 3

A leitura da peça teatral na Pedagogia dos Multiletramentos: uma proposta interativa...53

Maria Lídia Martins da Silva Robson Santos de Oliveira

Capítulo 4

Configuração das unidades sociorretóricas em considerações finais de Dissertações de Mestrado da cultura disciplinar da área de Letras...63

Francisco Jeimes de Oliveira Paiva

Capítulo 5

O hipertexto no cotidiano escolar: novas práticas de leitura e de construção de sentidos...89

Ana Lorena dos Santos Santana Adriana dos Santos Pereira Marizita Saraiva Rabelo

Capítulo 6

O significado representacional na construção discursiva das personagens femininas de A

vision showed to a devout woman, de Julian of Norwich: notas sobre subversão e

submissão...98

Vanessa Rodrigues Barcelos

Capítulo 7

Facebook e ativismo político: o caso da Primavera Secundarista...113

Camila Belizário Ribeiro

Capítulo 8

O conto de autoria feminina em sala de aula: as contribuições dos estudos culturais e da estética da recepção para o ensino de literatura...124

Rafael Zeferino de Souza

Capítulo 9

O letramento multimodal crítico como uma vivência pedagógica...135

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Capítulo 10

Tecnologias da informação e comunicação e aprendizagem em contexto escolar inclusivo...147

Ana Maria Azevedo de Oliveira

Capítulo 11

Ensino Médio e novas tecnologias: a Olímpiada de Língua Portuguesa e a produção de documentários nas aulas de português...166

Rodrigo dos Santos Dantas da Silva

Capítulo 12

O ensino em língua inglesa no ensino médio rural: experiências e desafios contemporâneos...181

João Flávio Furtado Cruz

Francisco Jeimes de Oliveira Paiva

Capítulo 13

Leitura do Ensino Religioso na perspectiva da Igreja Católica...196

Ricardo Santos David

Capítulo 14

Identidades de gênero e sexualidade em livros didáticos de inglês...206

Jaeanne Fabian Guimarães da Silva Josibel Rodrigues e Silva

Regina Célia Ramos de Almeida

Capítulo 15

Estratégias argumentativas no discurso sobre diagnóstico e autodiagnóstico de pessoas com Transtorno do Espectro Autistas (TEA) em redes sociais...223

Adriana Turczinski Lorena Maria Pitombeira Lucineudo Machado Irineu

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Prefácio

A potência e a diversidade das Análises do Discurso

Bruno Deusdará Professor Associado Departamento Estudos da Linguagem Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O leitor tem em mãos o terceiro volume das Pesquisas em Análise do Discurso, Multimodalidade & Ensino – uma série de livros organizada por Francisco Jeimes de Oliveira Paiva, Mestre em História e Letras, e Ana Maria Pereira Lima, Professora adjunta da UECE e dos Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em História e Letras/UECE e do PROFLETRAS/UECE. A série é publicada por Pedro & João Editores e conta com a participação de autores em diferentes estágios de formação e de inscrição na carreira do magistério, destacando-se todos pela seriedade na condução das investigações e pelo compromisso ético-político com a promoção de uma perspectiva crítica.

Neste terceiro volume, o leitor encontrará articulações teórica variadas, encaminhamentos metodológicos que se desenvolvem nas análises de materialidade multimodal e em investimentos em pesquisa da campo e resultados que destacam a força e a atualidade das perspectivas que reivindicam o campo dos estudos discursivos – um campo de investigação cuja emergência, nos anos 60 do século passado, é marcada pela problematização das fronteiras disciplinares rígidas que faziam supor estarem os fenômenos da ordem da linguagem dissociados dos processos sociais e de constituição da subjetividade.

Todos esses aspectos, a saber a variedade das articulações teóricas e os percursos metodológicos dirigidos à pesquisa de campo e à multimodalidade – já seriam méritos conseguidos pelo empreendimento editorial que chega à sua terceira versão. Parece ainda ser possível dizer algo mais, especialmente relevante, em se tratando de pesquisas do campo discursivo, ressaltando alguns aspectos relacionados ao contexto histórico-social no qual estas pesquisas circulam.

Não podemos perder de vista que esta obra vem a público no contexto em que a pandemia da COVID-19 ainda é um desafio para as políticas públicas, para a pesquisa científica, para a vida cotidiana em todo o planeta. Dados históricos e a experiência concreta nos apontam para o fato de que esta é a pandemia com maior impacto sobre a humanidade dos últimos cem anos e alguns elementos indicam a sua rápida e intensa propagação: trata-se de um vírus de alto potencial de contágio e uma expressiva taxa de letalidade, que impõe desafios relevantes na constituição de sua história natural, no planejamento de estratégias imediatas e eficazes de prevenção, na urgente disponibilização de equipamentos de saúde específicos para o tratamento e cuidado com os desdobramentos na evolução da doença.

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Esses são os contornos conferidos ao fenômeno que marca decisivamente o ano de 2020 em perspectiva biológica. Note-se que Latour e Woolgar (1997[1979]) já alertavam para o fato de que as descobertas não apenas nas ciências humanas, mas também nas ciências da natureza não provêm da relação direta entre o pesquisador e os fatos a que se dedica investigar. De acordo com os autores, sob a aparência de uma observação pretensamente direta, a vida de um laboratório se inscreve em debates científicos, normas de funcionamento que passam pela formação da equipe, pelo domínio das técnicas, da disponibilização de instrumentos, dos recursos para adquiri-los.

Desse modo, mesmo nas práticas científicas ditas exatas o que se dá é uma rotina que pode ser inscrita na ordem da discursividade. Tais reflexões contribuem decisivamente com fragilização de paradigmas que pretendem circunscrever as práticas de linguagem na condição de algo que se realiza depois dos eventos empíricos, de um mundo que existiria previamente à linguagem. Aqui reside uma outra conquista relevante do campo dos estudos do discurso: a afirmação de que a linguagem não apenas representa um mundo que lhe seria exterior, mas é parte dos seus processos de constituição. É bastante claro o modo como Rocha (2014) formula tal concepção de linguagem, afirmando seu potencial interventivo. Segundo o autor, ao estabelecer com o mundo certa relação de referência, a linguagem “congela o tempo, altera distâncias, oferecendo-nos um retrato – sempre parcial – de um dado momento, o retrato de uma realidade passada e/ou de uma nova paisagem” (2014, p. 624).

Nessa perspectiva, o momento atual é particularmente desafiador para a observação da produção simultânea linguagem/mundo.

Com efeito, a crise sanitária que assola o planeta encontra, no Brasil, um contexto de ascensão do pensamento ultraconservador e da implementação de políticas neoliberais ortodoxas, que se expressam, dentre outras formas, em uma guerra cultural contra as universidades públicos, o financiamento público das pesquisas, a autonomia e a democracia interna das instituições de ensino, enfim, ao conhecimento e aos coletivos que se dedicam a produzi-lo. Dessa forma, muito do que se tem produzido como conhecimento fomentando estratégias de prevenção fundamentalmente baseadas no isolamento social e em orientação ao uso constante de equipamentos de proteção individual tem sido contestado no debate público, especialmente por alguns atores governamentais.

Desde as primeiras notícias acerca da identificação do vírus com essas caraterísticas, ainda no final de 2019, até os primeiros casos de contaminação local no Brasil, temos recebido diariamente um conjunto diverso, complexo, fragmentado e dissonante de informações, sustentando posicionamentos que ora afirmam a necessidade de empreender uma luta em defesa da vida, ora contrapõem essa luta a uma indicação de que a “economia não pode parar”. Tais discursos circulam tanto nas mídias empresariais quanto nas redes sociais e nos demais suportes tecnológicos de produção/circulação de textos.

Do ponto de vista da vida social, tal cenário de contestações e disputas tem efeitos perversos e profundamente danosos, como a alta taxa de letalidade, a desagregação no comportamento diário, o desgaste do tecido social, o aprofundamento das desigualdades. Parece evidente que os fenômenos da ordem do discurso não podem ser reduzidos ao plano da superestrutura, fazendo crer que se tratasse de meros reflexos daqui que se produz em outra esfera – a da economia, a da política. Pronunciamento públicos que menosprezam o potencial de contágio do vírus qualificando-o como uma “gripezinha” contribuem com comportamentos pouco solidários no trato diário, bem como com

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convocações ao trabalho sem todos os cuidados necessários à proteção coletiva, por exemplo.

Se, em momentos históricos anteriores, foi possível apostar em contornos mais nítidos de separação das esferas pública e privada, na contemporaneidade, a ação de dispositivos multimodais tem possibilitado a exposição da individualidade, a manutenção do vínculo social, uma militância engajada e também a disseminação de discursos pautados pela indiferença e o ódio. Assim, os discursos não podem ser apreendidos tão somente como um plano em que se refletem processos que se realizariam fora dele. Os discursos compõem a vida cotidiana, explicitam engajamento, fazem circular sentidos de solidariedade ou de individualismo, de orientações de cuidado ou de relaxamentos descuidados. É por meio de discursos também que se convoca a funcionar a economia, fazendo supor que pudesse prescindir das vidas que lhe dão corpo e movimento.

Essas considerações me parecem necessárias, na medida em que o projeto editorial potente levado a cabo por Francisco Jeimes de Oliveira Paiva e Ana Maria Pereira Lima ganha especial relevância. Trata-se do terceiro volume de uma série que demonstra a força e a diversidade da interlocução teórica, conceitual e temática proporcionada pelo encontro entre os organizadores e os autores envolvidos nesse empreendimento.

Como o título da obra já antecipa, são apresentadas experiências de pesquisa dedicadas à perspectiva discursiva, aos desdobramentos contemporâneos da multimodalidade e suas implicações com as práticas de ensino e os desafios da atualidade ao universo escolar. Pude ressaltar na caracterização do contexto de emergência desta obra a necessidade da investigação da multimodalidade, dado o modo como os sentidos circulam e compõem os encontros, desde os debates públicos à manutenção do vínculo no contexto de isolamento por meio de mensagens, ligações de vídeos entre outros suportes que demandam um contato cotidiano com o verbal e o visual, em diferentes inscrições.

Eu não deixaria de destacar o fato de os estudos presentes neste volume ganharem consistência por meio de gestos múltiplos, tais como a diversidade de abordagens sustentadas, as articulações teóricas promovidas, as entradas de análise promovidas, as materialidades submetidas à investigação. Essa enorme e intensa variedade não poderia deixar de ser confrontada com as imagens do fazer científico que ainda compõem o senso comum e algumas expectativas conservadoras vinculadas aos ideais de neutralidade, de imparcialidade e de homogeneidade. Tal como é demonstrado ao longo das leituras possibilitadas aqui, a diversidade de entradas, percursos e diálogos não apenas favorece oferecer uma resposta contundente aos ataques sofridos pela pesquisa científica, como afirma um gesto epistemológico fundado na diversidade de entradas, de interesses, de desdobramentos.

Entre as diversas indicações que o referido projeto editorial fornece, uma delas parece merecer destaque já desde a leitura preliminar do sumário. Refiro-me especialmente à interlocução teórico variada, possibilitada pelo interesse conferido ao fenômeno da língua em uso, avançando em perspectiva discursivas. Os diálogos passam por abordagens como a sistêmico-funcional, a interativa, a sociorretórica, a pragmática, comparecendo, em diversos estudos, a perspectiva dos multiletramentos, o interesse pelos gêneros discursivos.

Eu destacaria também o forte interesse pelas práticas de ensino de leitura, que mobiliza diversos capítulos da obra. O destaque se justifica não apenas pela quantidade de textos, mas especialmente pelo compromisso com o direito à educação e à escola pública de qualidade, inclusiva e socialmente referenciada. Eu seu texto, Ana Maria

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Pereira Lima afirma: “A escola é o espaço de construção do homem enquanto ser único, repleto de especificidades, desejos e necessidades, seja de caráter físico, intelectual e/ou social”. Fragmento que me parece sintetizar as preocupações e compromissos manifestados pelos autores, ao longo de seus textos.

Passemos agora a uma breve apresentação dos capítulos que o leitor encontra nesta obra. O primeiro deles, intitulado “Uma análise semiótica da busca pelo poder nas narrativas de Voldemort e Hitler”, é de autoria de Marion Lucena Cavalcante e Mary Nascimento da Silva Leitão. Nele, as autoras investigam a busca pelo poder em estudo comparativo entre o personagem Voldemort, da saga Harry Potter, e a personalidade histórica Hitler, indicando proximidade entre a política antissemita e a crença na supremacia dos bruxos de puro sangue. Para construir essa aproximação, as autoras recorrem a estudos sobre a personagem no campo da Teoria Literária, nas leituras de Anatol Rosenfeld e Massaud Moisés, e de aproximações entre História e Literatura, com base nas reflexões de Paul Ricoeur e Pesavento. Nas análises, o percurso gerativo do

sentido é acompanhado pelos estudos semióticos de base greimasiana, com especial

ênfase para os trabalhos de Diana L. P. de Barros e J. L. Fiorin. O percurso construído se constitui de três níveis: fundamental, narrativo, discursivo. As autoras concluem suas análises apontando diferenças baseadas em “objetivos e conquistas, pois por serem de universos diferentes” e semelhanças, que dizem respeito a “temáticas de hierarquia, segregação e ideologia, bem como os mecanismos de manipulação através da capacidade exímia de impressionar com o discurso e a efetividade da propaganda como meio de convencimento”.

A problematização do crescimento de produtos de beleza para o público feminino é gesto marcante de Viviane Yamane da Cunha, em “Persuasão e multimodalidade na construção da identidade feminina na propaganda do esmalte colorama, com Giovana Antonelli: uma perspectiva sistêmico-funcional”. Nele, a autora investiga a persuasão que percorre a propaganda de esmaltes destinados ao público feminino. Nas análises, são considerados aspectos relativos à relação verbo-visual, às ideologias implícitas e explícitas e as metáforas ideológicas relevadas por esses aspectos. O quadro teórico é composto da articulação da Linguística sistêmico-funcional, de Halliday, da teoria da Linguística Crítica, de Fowler, da teoria da avaliatividade, de Martin, da multimodalidade, de Kress e Van Leeuwen, associada a Linguística Sistêmico-Funcional, de Macken-Horarik. Entre as entradas linguísticas observadas na análise, destacasse o interesse pela transitividade e pela avaliatividade, demonstrando ainda escolhas lexicais que indicam julgamento positivo. A autora conclui suas análises apontando para contribuições à compreensão crítica do mundo textual construído nas práticas de consumo, afirmando que “O que a propaganda sugere é que usando o esmalte, a compradora se igualaria à atriz, ou, em resumo, leva o produto como se levasse a própria atriz”.

Maria Lídia Martins da Silva e Robson Santos de Oliveira se pautam por preocupações com a formação escolar do leitor, no terceiro capítulo “A leitura da peça teatral na Pedagogia dos Multiletramentos: uma proposta interativa”. Baseando-se na perspectiva da Pedagogia de Mutiletramentos, de pesquisadores como os do Grupo de Nova Londres (GNL) e Cope e Kalantzis, os autores formulam uma proposta de trabalho com o gênero peça de teatro nas aulas de Língua Portuguesa, dirigida a alunos do 3º ano do Ensino Fundamental. Como o interesse que se estabelece nessa formulação se dirige ao campo da realização de ações efetivas e de transformação do campo social, os autores se orientam por uma abordagem de pesquisa-ação em diálogo com André e Lüdke e uma metodologia interventiva, fundamentada em Thiollent. No texto, os autores avançam

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numa reflexão sobre a leitura, compreendida como atividade interativa entre autor-texto-leitor, abordando aspectos levantados por Cagliari, Solé, Koch e Elias, Marcuschi, entre outros. Os autores concluem sua investigação, considerando que “Por meio do teatro a criança será levada a ler a si mesma, ao outro e ao mundo, refletindo sobre o que recebe e como pode doar para termos um mundo cada vez mais oportuno e igualitário”.

Francisco Jeimes de Oliveira Paiva, que organiza a obra, é também autor de “Configuração das unidades sociorretóricas em considerações finais de Dissertações de Mestrado da cultura disciplinar da área de Letras”, dedicando sua reflexão à escrita acadêmica, demonstrando a diversidade de pesquisas relacionadas à língua inglesa em vários gêneros do campo universitário. Nesse campo de discussões, o autor sugere que sejam destacados os esforços de compreensão dos gêneros dissertação de mestrado e tese de doutorado, dado seu funcionamento como condição para inserção dos pesquisadores na pós-graduação. Para isso, o autor apresenta uma vasta diversidade de reflexões, em diálogo com Araújo, Swales, Paiva e Duarte, Miller, Muniz-Oliveira e Barricelli, Paiva, Pacheco, Bernardino e Freitas, entre outros. A partir dessa circunscrição teórica em múltiplos diálogos, o autor analisa práticas discursivas e movimentos retóricos na seção de considerações finais de dissertações de mestrado. Na análise do material submetido à investigação, o autor privilegiou a identificação dos propósitos comunicativos, seguida da aplicação do modelo retórico de análise. Entre as diversas considerações que apontam para a relação entre a investigação e o campo de estudo as práticas discursivas acadêmicas, o autor destaca que “a configuração retórica das sete seções de considerações finais/conclusões provenientes de dissertações da área de Letras, possibilitou evidenciar quais as práticas discursivas recorrentes desses(as) pesquisadores(as) na produção escrita do gênero dissertação de mestrado na cultura do saber (inter)disciplinar”.

No capítulo 5 “O hipertexto no cotidiano escolar: novas práticas de leitura e de construção de sentidos”, as autoras Ana Lorena dos Santos Santana, Adriana dos Santos Pereira e Marizita Saraiva Rabelo constatam que o avanço das tecnologias tem efeito sobre o universo escolar, modificando a relação dos alunos com esse universo. Definindo hipertexto a partir de Marcuschi, as autoras defendem seu uso no cotidiano escolar, com o propósito de ampliar a interatividade e a participação ativa do aluno no processo de construção do conhecimento, já que seu uso demanda escolhas. Com base nessa reflexão preliminar, as autoras formulam o objetivo de discutir novas maneiras de ler e de escrever por meio do hipertexto, orientada por uma ação mais colaborativa e menos individualizada. A entrada no campo se dá por meio de pesquisa exploratória. O quadro teórico se amplia, ao longo do texto, abarcando autores como Koch e Elias, Xavier, Antunes, Rojo, entre outros. De acordo com as autoras, “é notório que o hipertexto possibilita diversificadas formas de ler e de escrever, práticas essas que, como já foi dito anteriormente, propõem-se a tornar leitura e escrita mais colaborativas”.

A constatação de que há poucos estudos sobre a história, a cultura e a produção literária de mulheres antes do século XV é o ponto de partida de Vanessa Rodrigues Barcelos, em “O significado representacional na construção discursiva das personagens femininas de A vision showed to a devout woman, de Julian of Norwich: notas sobre subversão e submissão”. Com o intuito de contribuir com a desconstrução de crenças sobre a Idade Média, a autora propõe investigação acerca da produção literária de Julian of Norwich, a primeira escritora em inglês de que se tem notícia, conforme registra Barcelos a partir de Watson. No exame de A vision showed to a devout woman, a pesquisadora se concentra especialmente nos trechos em que atuam participantes do gênero feminino. Como quadro teórico, opera-se uma articulação entre o interesse pelo

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enfoque sobre o significado representacional, a partir da Análise Crítica do Discurso, de Fairclough, e discussão sobre subversão e submissão ao gênero, de Butler. As conclusões da pesquisadora apontam para uma tarefa importante: “Em vez de simplesmente renegar o texto medieval como puramente discurso religioso, cabe a nós mergulhar na tessitura textual e nela descobrir as vozes das mulheres que abriram os caminhos para a liberdade pela qual hoje ainda persistimos em luta, e que, em nenhum período, deve ser silenciada”. Interessando-se pelo contexto do movimento chamado Primavera Secundarista, abrangendo manifestações de ocupação das escolas em diversos estados brasileiros, em 2016, Camila Belizário Ribeiro investiga postagens de alunos de um Instituto Federal, no sétimo capítulo “Facebook e ativismo político: o caso da Primavera Secundarista”. A autora inicia o capítulo contextualizando o movimento de ocupação das escolas em reação à reforma do Ensino Médio e à Proposta de Emenda à Constituição que propunha o congelamento dos investimentos em Educação e Saúde. Como pista de acesso aos debates promovido em torno do movimento protagonizado pelos estudantes, a pesquisa destacou o papel conferido às redes sociais. O material analisado é composto por postagens de 20 alunos, sendo 10 favoráveis e 10 contrários ao movimento, realizadas na página do Facebook intitulada OcupaIfes. Em suas conclusões, a autora destaca que “o movimento Primavera Secundarista contribuiu fortemente para a conscientização e participação política de estudantes do Ensino Médio, assim como seu desenvolvimento para a cidadania, e os alunos a favor do movimento e que se consideram mais engajados politicamente tiveram participação muito mais ativa na rede virtual”.

Em “O conto de autoria feminina em sala de aula: as contribuições dos estudos culturais e da estética da recepção para o ensino de literatura”, Rafael Zeferino de Souza apresenta discussão das representações de gênero no contexto contemporâneo, em suas repercussões nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio. De acordo com a autora, o trabalho com o texto literário ainda é apresentado em livros didáticos por meio de fragmentos das obras e com defasagem de atualização, podendo tornar esses saberes inacessíveis aos estudantes. Ao compor as referências teóricas do trabalho, a autora propõe articulação entre a perspectiva da Estética da recepção, com Jauss, Bordini e Aguiar, Zappone, da inserção dos Estudos Culturais, com Culler, Guisnki, Santos e Wielewicki e da Crítica Feminista, Zolin e Almeida. A articulação dessas perspectivas possibilita conduzir um trabalho que parta dos conhecimentos prévios dos estudantes, construindo expectativas que serão postas em análise e contribuirão para a composição de comentários críticos. Em suas conclusões, a autora considera que essa perspectiva teórica contribui com um trabalho “intertextual e interdisciplinar, possibilitando assim uma comparação com diversos gêneros textuais que liguem a mesma temática”.

No nono capítulo, intitulado “O letramento multimodal crítico como uma vivência pedagógica”, Ivonildo da Silva Reis adota perspectiva discursiva do letramento, articulando análises em torno dos fenômenos da ideologia e hegemonia segundo Fairclough, dos multiletramentos, com Street, Kleiman, Oliveira, Cope e Kalantzis, Rojo e Moura. Comparecem ainda referências a Hodge, Kress e van Leeuwen. Os procedimentos metodológicos se orientam pelo viés da pesquisa-ação. Em relação às etapas de pesquisa, o autor elaborou um questionário de sondagem, identificando temas presentes no cotidiano dos estudantes e a sua percepção sobre as categorias de análise. Tal etapa teve papel relevante na produção das atividades interventivas. O autor oferece ainda um detalhamento das atividades elaboradas e de seu processo de realização no nono ano. Em suas conclusões, o autor demonstra a importância da perspectiva de pesquisa adotada, considerando o rápido retorno dos estudantes às questões propostas. “Quando

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isso não ocorreu, interviemos no sentido de oferecer outros caminhos teórico-práticos, sempre pautados no processo interativo, o qual acreditamos estar em consonância com a concepção crítica de ensino de língua materna que advogamos”, afirma.

A organizadora Ana Maria Azevedo de Oliveira afirma o potencial criativo e democrático da escola de qualidade como um direito social imprescindível, em “Tecnologias da informação e comunicação e aprendizagem em contexto escolar inclusivo”. Na perspectiva da inclusão social a ser possibilitada pela escola, a pesquisadora destaca as inovações proporcionadas pela inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Com base nessa articulação, a pesquisadora constitui investigação para conhecer os desafios de aprendizagem dos alunos com deficiência e as possibilidade de criação de oportunidades de aprendizagem com uso das TIC, “enquanto ferramenta de viabilização de aprendizagens satisfatórias, que potencializem no aluno com deficiências seus aspectos sociais, comunicativos e cognitivos, gerando também uma reflexão por parte dos professores em relação as suas práticas, mudanças de posturas e atitudes diante da realidade educacional local”. A partir da abordagem qualitativa, a autora desenvolve uma pesquisa de campo, com aplicação de questionário com professores que atuam na educação especial. Em suas conclusões, a autora destaca que, com a inserção das TIC, a atuação de profissionais “possibilitará a consolidação de um cenário escolar apto à promoção de oportunidades que ampliem as potencialidades e habilidades, os limites, os ritmos e as necessidades de cada envolvido no processo de ensino e aprendizagem”.

Em “Ensino Médio e novas tecnologias: a Olímpiada de Língua Portuguesa e a produção de documentários nas aulas de português”, Rodrigo dos Santos Dantas da Silva discute as práticas de leitura e produção de textos no contexto das novas tecnologias e seus impactos sobre o ensino. A discussão se expressa em um relato de experiência em torno da prática do gênero discurso documentário com uma turma de Ensino Médio, no âmbito da Olímpiada de Língua Portuguesa. A participação dos estudantes na Olimpíada é pensada como forma de discutir e problematizar seu contexto de inserção social e cotidiana. A reflexão sobre gêneros discursivos e as textualidades emergentes com os novos suportes tecnológicos está fundamentada nos trabalhos de Bakhtin, Marcuschi, Maingueneau e Rojo. Em suas conclusões, o autor destaca que a prática de produção de vídeo possibilita “contribuir para a construção da proficiência leitora dos sujeitos participantes dela e propiciaram a reflexão por meio da semiótica, uma outra forma de fomentar a compreensão de textos que pode contribuir positivamente para o entendimento de textos escritos seja em sala de aula ou em plataformas digitais, onde várias linguagens se fundem”.

João Flávio Furtado Cruz e Francisco Jeimes de Oliveira Paiva propõem investigação acerca do ensino de Língua Inglesa em escolas rurais, em “O ensino em língua inglesa no ensino médio rural: experiências e desafios contemporâneos”, com o objetivo de apresentar metodologias consideradas lúdicas para esse contexto de ensino. Com isso, os autores pretendem problematizar os estereótipos relacionados à aula de inglês. No percurso da discussão, os autores retomam a constituição histórica da língua inglesa, seu estatuto atual de língua franca e vinculam essa discussão ao papel do universo escolar no debate a respeito do monolinguismo e seus efeitos sobre a aprendizagem de línguas. A proposta se organiza a partir de uma pesquisa de campo, coletando dados por meio de questionário aplicado aos alunos de uma escola pública. Os dados oriundos dos questionários encontram-se detalhadamente analisados, demonstrando um cenário bastante favorável para a aprendizagem, desfazendo imagens cristalizadas. Esses resultados são destacados nas conclusões, quando os autores afirmam que esse retorno “é

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um grande avanço tendo em vista que, ainda nos deparamos com discursos de professores os quais reclamam que não tem apoio para trabalhar essa disciplina”.

Em “Leitura do Ensino Religioso na perspectiva da Igreja Católica”, Ricardo Santos David apresenta pesquisa qualitativa e documental com o intuito de reconhecer os sentidos atribuídos ao ensino religioso, que se interessa explicitamente pela superação de preconceitos. Essa reflexão é vinculada ao desafio de promover o direito à educação pautado pela igualdade de condições e pluralidade de ideias. Em seu percurso, o autor debate a educação como cenário de diálogo e procura reconstituir o contexto atual do catolicismo no Brasil. A respeito do ensino religioso, o autor retoma elementos de sua constituição nos documentos oficiais. Em suas considerações finais, o autor destaca o seguinte: “O Ensino Religioso por meio do seu conhecimento específico e, articulando religião e cultura, tem como desafio diante da incerteza, da contradição, da descontinuidade dos fatos, da quebra dos valores e das normas sociais que vivemos na sociedade contemporânea contribuir na reconstrução das utopias e dos horizontes dos seres humanos”.

Jaeanne Fabian Guimarães da Silva, Josibel Rodrigues e Silva e Regina Célia Ramos de Almeida investigam os sentidos construídos em livros didáticos de ensino de inglês acerca das identidades de gênero e sexualidade, bem como os modelos familiares apresentados ou silenciados nesse material no capítulo “Identidades de gênero e sexualidade em livros didáticos de inglês”. A perspectiva teórica que sustenta a reflexão é a Análise/Teoria Dialógica do Discurso. A coleção escolhida para empreender as análises demonstra esforços pontuais no sentido de incorporar temas com o da violência de gênero, colocando o estudante em contato com ideologias diversas, avançando em debates sobre as identidades de gênero com diversos movimentos de deslocamento frente à lógica binária. Em suas conclusões, as autoras destacam um silenciamento: “uma vez que os livros didáticos necessitam dar visibilidade para as diferentes identidades sociais, combatendo toda forma de violência, discriminação e preconceito, conclui-se que faltam elementos consistentes na coleção a respeito da realidade da comunidade LGBTQ+ no país, bem como, manifestações que possam combater mais profundamente a homo e transfobia”.

Capítulo 15 Em “Estratégias argumentativas no discurso sobre diagnóstico e autodiagnóstico de pessoas com Transtorno do Espectro Autistas (TEA) em redes sociais”, Adriana Turczinski, Lorena Maria Pitombeira e Lucineudo Machado Irineu destacam o papel desenvolvido pelas redes sociais na promoção da polêmica e do uso de estratégias discursivas e argumentativas. Tratando especificamente do debate em torno dos sentidos e experiência em ser autista, os autores ressaltam o embate travado entre defensores do modelo médico de diagnóstico e grupos de autodiagnóstico, investigando as estratégias argumentativas que versam sobre a discussão acerca do serviço de saúde especializado no diagnóstico e das formas de autodiagnostico. O quadro teórico é composto de referências à Análise Crítica do Discurso, de Fairclough, aos estudos da argumentação, de Perelman e Tyteca. Nas conclusões, os autores destacam que “a respeito da identificação das estratégias argumentativas nas redes sociais Facebook e Twitter referentes ao diagnóstico e autodiagnostico no contexto do Transtorno do Espectro Autismo, o estudo apontou que os discursos dos usuários compreenderam nos Argumentos Quase- Lógicos e nos Argumentos Baseados na Estrutura do Real”.

Recomendo fortemente a leitura de cada um dos textos, compartilhando a potência dos estudos discursivos e dos variados investimentos teóricos e metodológicos propostos.

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Referências

LATOUR, B.; WOOLGAR, S. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Trad. de Angela Ramalho Vianna. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.

ROCHA, D. Representar e intervir: linguagem, prática discursiva e performatividade. Linguagem em (Dis)curso, v. 14, p. 619-632, 2014.

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17

Capítulo

1

Uma análise semiótica da busca pelo poder nas

narrativas de Voldemort e Hitler

Marion Lucena Cavalcante

1

Mary Nascimento da Silva Leitão

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Considerações iniciais

Não existe o bem e o mal, só existe o poder e aqueles que são fracos demais para consegui-lo. (ROWLING, 2000, p. 161).

Este trabalho tem como principal objetivo realizar um estudo comparativo das narrativas do personagem Voldemort e da personalidade histórica Hitler, tomando como base os livros da saga Harry Potter e a biografia Hitler, escritas por J. K. Rowling e pelo professor e historiador Ian Kershaw, respectivamente. O foco é a busca pelo poder do personagem e da personalidade histórica e pelas ideologias que se assemelham, como a política antissemitista e a crença da supremacia dos bruxos de sangue puro.

Com o fito de atingir nossa finalidade, foram abordadas questões teóricas sobre a personagem com o aporte teórico de Anatol Rosenfeld (1976) e Massaud Moisés (2007), bem como as aproximações entre História e Literatura apresentadas por Paul Ricoeur (1997) e Pesavento (2003). A metodologia traçada para nos respaldarmos durante a análise semiótica consistiu nas três etapas do percurso gerativo do sentido, a partir dos estudos greimasianos, utilizando como apoio Barros (2005) e Fiorin (2002). E foi a partir disso que pudemos compreender como que apesar das diferenças já esperadas pela separação entre história e literatura, o personagem e a figura histórica, de fato, assemelham-se na jornada incessante pelo poder.

A saga Harry Potter foi escrita pela britânica J.K. Rowling, sendo o segundo livro mais vendido do mundo, perdendo apenas para a Bíblia3. A história tem Harry Potter

1 Mestranda em Linguística Aplicada – POSLA/UECE. Bolsista (FUNCAP). E-mail:

marion.cavalcante@aluno.uece.br

2 Doutora em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: maryepoesia@gmail.com. 3 Informação disponível em: <https://blog.saraiva.com.br/livros-mais-lidos-do-mundo/>.

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como personagem principal e Lord Voldemort – conhecido também como Tom Riddle, aquele que não deve ser nomeado, Lorde das Trevas ou Você-sabe-quem – como vilão.

Voldemort foi o responsável por inúmeras mortes, entre elas as de Lilian e Tiago Potter, que são os pais do protagonista. O conflito central da saga se dá quando o antagonista tenta matar Harry, que na época era apenas um bebê. Contudo, Lilian dá a própria vida para salvar a do filho. Este ato constrói uma espécie de proteção que faz o feitiço voltar e atingir Voldemort, que desaparece sem maiores explicações. À medida que a história acontece, o Lorde das Trevas e seus seguidores, intitulados Os Comensais da Morte, praticam inúmeras crueldades, não só contra Harry Potter, mas contra todos aqueles que não estão de acordo com seus princípios.

Rowling, no entanto, não criou apenas um universo novo e totalmente atrativo. Por meio de Voldemort, ela nos transmite mensagens sobre coisas que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial, mostrando que eventos que marcaram tão fortemente a sociedade não desaparecem, mas permanecem e se reinventam, retratados na literatura, de forma atemporal e sensível, destinada principalmente ao público infanto-juvenil.

Hitler é lembrado até hoje por ter marcado o mundo com suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Principal difusor das ideias do antissemitismo, é frequentemente comparado a políticos com discursos autoritários e segregacionistas. Mostra da força da ideologia antissemitista é que durante o período em que o Nazismo governou a Alemanha, foram mortos mais de um milhão de judeus num período de três meses4.

Nesse sentido, é relevante apontarmos a importância de Harry Potter para a sociedade, conforme afirma o presidente da Câmara Brasileira de Livros, Luís Antonio Torelli. Muitas pessoas só começaram a ler por conta do interesse pela história da saga que foi capaz de cativar um grande público5 e, além disso, a obra aborda diversos temas,

um deles é a sua relação com o Nazismo. Ter uma série de livros e filmes que mostre de maneira lúdica os perigos da intolerância e da “fome” pelo poder é de extrema relevância e é importante que a academia consiga mostrar de maneira profunda as conexões dessas temáticas.

A necessidade de uma análise mais interna das obras, “ou seja, de descrição e explicação dos mecanismos e regras que engendram o texto” (BARROS, 2003, p. 20) justifica a escolha da semiótica greimasiana como a teoria que melhor poderia explicar as produções de sentido presentes nos textos, pois ela apresenta um percurso estrutural que nos dá segurança para identificar as relações semânticas das narrativas analisadas.

Portanto, o objetivo geral deste trabalho é mostrar de que forma o percurso de Lord Voldemort e Adolf Hitler se assemelham nessa jornada que os leva ao poder. E como os objetivos mais específicos, pretendemos abordar também as semelhanças da ideologia, dos processos de manipulação e do modo como ambos pensaram seus objetivos e atingiram suas conquistas.

4 Informação retirada do site: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/01/em

apenas-tres-meses-132-milhao-de-pessoas-morreram-no-holocausto.html >

5 Informação retirada do site:

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Representações literárias

A literatura e a história desde sempre andam lado a lado, visto que um texto precisa de um contexto para existir e se fazer compreender. Nos livros III e X de A

República, Platão (2004) afirma que toda obra artística é uma imitação do que já existe

no mundo, corroborando, dessa maneira, com a concepção de que a ficção representa algo já vivido na História.

Paul Ricoeur (1997, p. 323) pondera que “a história imita em sua escrita os tipos de armação da intriga herdados da tradição literária.”. Ora, notamos através desse excerto o que poderia se comprovar por meio do senso comum, que a nossa história, bem como os grandes eventos mundiais, é dotada de todas as emoções que a literatura retrata: amor, ódio, surpresas, reviravoltas, guerras, dramas, entre outros. Dessa forma, concordamos com o autor quando ele afirma que, “não somos menos leitores de história do que de romances” (RICOEUR, 1997, p. 316).

Além disso, a aproximação entre a História e a Literatura também acontece mediante a narratividade que consegue reconstruir os fatos, mesmo com alterações que são necessárias para que a arte seja transgressora da realidade e não apenas uma cópia. Sobre isso Pesavento (2003, p. 33) afirma que “História e Literatura são formas distintas, porém próximas, de dizer a realidade e de lhe atribuir/desvelar sentidos”, ou seja, podemos dizer que a ligação entre ambas é muito forte, já que é através delas que os sujeitos podem se reconhecer dentro das suas existências, atuando ou refletindo o próprio ser na vida real. Ademais, Pesavento (2003, p. 33) ainda salienta que “a Literatura e a História teriam o seu lugar, como formas ou modalidades discursivas que têm sempre como referência o real, mesmo que seja para negá-lo, ultrapassá-lo ou transfigurá-lo.”.

Nenhuma literatura será cópia fidedigna da realidade, primeiramente porque uma diferença basilar entre história e ficção se encontra no processo da narratividade, posto que segundo Rosenfeld (1976), na vida, o historiador segue um ponto de vista e narra um episódio a partir de vestígios que o auxiliam na reconstrução dos fatos, diferentemente do narrador fictício que pode ser onisciente, sabendo tudo o que a personagem pensa, quer e sente. Em segundo lugar, o autor ao escrever uma obra, coloca nela suas impressões sobre o mundo, além de fornecer para aquela história características bem específicas que comporão o enredo. Nesse sentido, Ricoeur (1997, p. 331) explicita que, “a imitação, no sentido vulgar do termo, é aqui o inimigo por excelência da mimese. É justamente quando uma obra de arte rompe com essa espécie de verossimilhança que ela desenvolve sua função mimética.”. Assim, podemos asseverar que Harry Potter desenvolve satisfatoriamente sua função mimética.

De um lado temos um vilão que foi inspirado em Hitler, como afirma a própria autora em entrevista concedida à BBC Newsround:

Lizo Mzimba: Voldemort também é mestiço.

JK: Assim como Hitler! Viu! Eu acho que este é o caso onde o valentão reúne seus próprios defeitos e os coloca em outra pessoa, e então tenta destruí-los. E é isso o que ele – Voldemort – faz. Isso foi muito consciente – eu queria criar um vilão que você pudesse entender como a mente dele funciona, e não

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apenas ter um vilão bidimensional vestido de preto, e queria explorar isso e ver de onde vinha (POTTERISH, 2000, online).6

Por outro, a autora adapta o vilão para um contexto fictício, adicionando a ele suas particularidades, que é justamente o que afirma Rosenfeld (1976, p. 20) quando diz que, “notar-se-á o esforço de particularizar, concretizar e individualizar os contextos objectuais”. J.K. cria um universo totalmente imaginário e dentro dele cria um vilão que, como será visto posteriormente, atende a objetivos que são peculiares dentro do mundo

Harry Potter, por isso, concede à saga toda a beleza de uma obra de arte que de acordo

com Rosenfeld (1976, p. 48) “nos restitua uma liberdade – o imenso reino do possível – que a vida real não nos concede.”, conseguindo, destarte, unir a história real ao mundo fantástico, eternizando inúmeras temáticas, inclusive a história de Hitler. Por esse motivo, dentre inúmeros elementos da narrativa possíveis, decidimos trabalhar com a comparação do personagem literário que, como coloca a própria criadora da saga, retrata uma personalidade histórica, o que justifica nossa explicitação das proximidades entre História e Literatura.

Na prosa ficcional, o narrador se vale da tipologia descritiva para situar o leitor dentro do cenário que ambienta a obra, assim, ele tenta retratar, através dos signos, impressões que são necessárias para a constituição da história, como os móveis, uma paisagem, um local específico. “É, porém, a personagem que com mais nitidez torna patente a ficção, e através dela a camada imaginária se adensa e cristaliza” (ROSENFELD, 1976, p. 21), ou seja, é através da ação dos personagens na obra que tomamos conhecimento do enredo, e que somos imergidos na situação imaginária.

Sendo os personagens elementos tão cruciais para as obras, inúmeros críticos literários se propuseram a sugerir métodos de análises que fossem capazes de entendê-los em sua totalidade. Massaud Moisés (2007), por exemplo, fala em seus estudos sobre personagens que são redondos e planos, conceituando-os e dizendo de que maneira poderiam ser estudadas no decorrer do enredo. Ele postula que: “Estas (planas) seriam bidimensionais, dotadas de altura e largura, mas não de profundidade: um só defeito ou uma só qualidade. Quanto às personagens redondas, ostentariam a dimensão que falta às outras, e, por isso, possuiriam uma série complexa de qualidades ou/ e defeitos” (MOISÉS, 2007, p. 110). Ou seja, as personagens planas seriam aquelas que não se desenvolvem no decorrer da narrativa, elas começam com suas características já traçadas pelo narrador e não é possível ver qualquer evolução, apenas constatar o que já foi dito no início da história.

Dito isso, valemo-nos da voz da autora da saga Harry Potter quando afirma que a figura vilanesca da obra não é bidimensional, sendo assim, já sabemos que a personagem literária é alguém que muda durante a história. Apesar de começar e terminar como um vilão, em nossos estudos, percebemos que, ao longo da vida, interferências externas foram responsáveis por uma mudança de comportamento. Partindo do pressuposto de que esse trabalho irá comparar Voldemort a uma personalidade histórica, cabe mencionar aqui também que o mesmo acontece com Hitler, que passa por uma série

6 Citação disponível em: <https://conteudo.potterish.com/transcricao-da-entrevista-com-jk-rowling/>.

“Transcrição da entrevista com J. K. Rowlling”. Traduzido por: Ana Feitosa. Transcrição original disponível em: <http://www.accio-quote.org/articles/2000/fall00-bbc-newsround.html>.

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de mudanças psíquicas até se tornar uma das figuras históricas mais conhecidas pelos seus feitos durante a 2ª Guerra Mundial.

Cabe salientar que, além das considerações já feitas, nosso trabalho visa observar as narrativas a partir de um ponto de vista semiótico com base na teoria de A.J. Greimas. Todavia, para trabalhar a teoria greimasiana, é necessário compreender o avanço da teoria semiótica e suas contribuições para a forma como a Linguística passa a entender os textos, desse modo, o tópico a seguir visa delinear o percurso histórico do surgimento e desenvolvimento da semiótica.

Literatura e semiótica

Por volta de 1916, com a publicação da obra póstuma Curso de Linguística Geral, Saussure deu início aos estudos que mais tarde seriam responsáveis pelo desenvolvimento da semiologia como uma ciência geral encarregada pelos estudos dos signos. Segundo Nöth (1996, p. 19), para Saussure, “a semiologia ainda não existia e necessitava, primeiramente, ser elaborada”. Nessa elaboração, é possível notar a relação existente entre a Linguística e a Semiologia: “primeiro, as leis da semiologia geral são aplicáveis à ciência dos signos linguísticos; segundo, as leis da linguística são um guia heurístico na elaboração da ciência dos signos em geral” (NÖTH, 1996, p. 19), caracterizando uma compatibilidade simbiótica entre ambos. Entretanto, Saussure, apesar de suas imensas contribuições, é ainda hoje alvo de muitas críticas, por conta, principalmente, de algumas definições usadas para tentar explicar o que é língua.

O primeiro percalço se encontra no fato da concentração dos estudos saussurianos terem focado principalmente na língua falada, deixando de lado a língua escrita que segundo Nöth (1996, p. 43), “não conseguiu descobrir nenhuma autonomia semiótica”. O segundo ponto, refere-se à “natureza arbitrária e puramente diferencial do signo que culminou com sua tese da nebulosa “massa amorfa e indistinta” fora do sistema sígnico” (NÖTH, 1996, p. 43). A terceira dificuldade é o caso da imutabilidade da língua relacionada a uma de suas dicotomias: sincronia e diacronia; sendo a diacronia um estudo da evolução de um sistema linguístico e sincronia um recorte no tempo. Percebemos que a ideia da imutabilidade da língua se deve principalmente ao fato de que Saussure focou nos estudos sincrônicos de tal modo que postulou que os atos de cada indivíduo não seriam capazes de gerar mudanças em um sistema sígnico.

Por fim, a dicotomia mais conhecida de Saussure também foi alvo de muitas observações. O modelo diádico de signo é problemático, pois se este é a relação entre um significante e um significado, o referente é excluído. E isso é complexo dentro da própria teoria, pois Saussure considera a língua como um corpo social e deixa de lado as individualidades. Ele não poderia garantir que os conceitos e imagens acústicas seriam os mesmos para cada falante. Além disso, toda essa discussão causa divergências dentro da linguística e, por conseguinte, na literatura, pois ambos necessitam de referenciais para construírem sentido dentro de uma situação comunicativa.

Portanto, é somente na década de 30, com o surgimento da semiótica funcionalista, que se definiu uma relação entre signo e contexto, considerando a linguagem como um instrumento de comunicação. Essas ideias se opõem ao estruturalismo postulado por Saussure, pois agora os agentes do processo comunicativo

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são tão importantes quanto o próprio texto. Surge, então, o Formalismo Russo, uma corrente de análise literária que vê o texto como um conjunto de elementos que o constitui, preocupando-se com as formas que são os elementos de caracterização da obra dentro de suas possibilidades estruturais. Nesse ponto de vista, Brait (2006, p. 44) afirma que “os formalistas se preocupam com os elementos que concorrem para a composição do texto e com os procedimentos que organizam esse material”, isto é, os estudos ainda não estão voltados para o indivíduo.

Os estudos saussurianos, em parte, foram os grandes responsáveis para que, durante muito tempo, as pesquisas relacionadas à Literatura fossem baseadas na questão estrutural, definindo, por exemplo, os gêneros, não pela sua funcionalidade e pela relação com os sujeitos no processo dialógico do discurso, mas pela prototipicidade estrutural que eles apresentam. Embora esses estudos tenham sido questionados, Saussure contribuiu inegavelmente para o desenvolvimento dos estudos linguísticos das eras posteriores.

É Greimas, no entanto, que rompe um pensamento muito difundido de que a semiótica estuda os signos. Para ele, a semiótica vai além, estuda sentidos, significações e desenvolve uma série de estudos dentro da semântica gerativa, geral e discursiva. Nessa perspectiva, entendemos o texto em sua totalidade, analisando o que se diz e porque se diz. No que concerne ao percurso gerativo do sentido, o nível narrativo é o mais explorado. Na narrativa de um texto, os personagens podem assumir uma perspectiva de estado ou ação. Estão constantemente se transformando em busca de um objeto. Portanto, a semiótica narrativa greimasiana consegue, de maneira explícita, fazer uma análise bem estruturada dos percursos narrativos aqui trabalhados. Além disso, a ideia de que um texto não se fecha em si e a necessidade da análise dos pormenores para conseguir a totalidade da interpretação, foi uma das motivações que nos levou a escolher a teoria semiótica greimasiana que nos subsidia de maneira completa.

Análise dos percursos de Voldemort e Hitler

É indiscutível o fato de que a semiótica tem como objetivo explicar como e porque se diz algo em um texto. Levando isso em consideração, ao longo do nosso trabalho, definimos a biografia escrita por Ian Kershaw (2010) como o texto necessário para entendimento da construção da trajetória de Hitler e como base para os nossos estudos semióticos e comparativos com o texto que narra a jornada do vilão da saga

Harry Potter, Voldemort. Neste tópico, portanto, tomaremos como ponto de partida os

estudos postulados por A. J. Greimas em que trabalharemos os níveis, fundamental, narrativo e discursivo que estão atrelados ao conteúdo de um texto. Para isso, utilizaremos a Teoria do discurso: Fundamentos semióticos (2003) e Teoria semiótica

do texto (2005), ambos de Diana Luz Pessoa de Barros, Elementos da análise do discurso, de José Luiz Fiorin (2002) e Caminhos da semiótica literária, de Denis

Bertrand (2003). A análise será dividida em três partes principais, a primeira abordará o nível fundamental, o segundo o nível narrativo e o terceiro o nível discursivo, encerrando assim o percurso gerativo do sentido.

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Para entendermos os sentidos do texto, utilizaremos o Percurso gerativo do

sentido em que conseguimos visualizar a própria organicidade do texto. Segundo Barros

(2005, p. 13), “a noção do percurso gerativo do sentido é fundamental para a teoria semiótica” e é basicamente dividida em três etapas que podem ser explicadas individualmente, porém, o sentido do texto só se dará com a relação dos três níveis. Semanticamente, acontece um adensamento com a passagem das camadas e a mais superficial e simples é o nível fundamental em que delimitamos as oposições que constroem o sentido do texto.

Barros (2005, p. 73) ainda afirma que “a ordem de apresentação deve-se ao fato prático de que é mais fácil examinar as estruturas fundamentais”, para isso, devemos observar o sentido a partir do qual o discurso se constrói e estipular as oposições que se determinam a partir de um “traço comum em que se estabelece uma diferença” (FIORIN, 2002, p. 22). Por uma questão de organização, as oposições aqui demonstradas serão apresentadas por meio do quadrado semiótico que serão preenchidos com os conteúdos semânticos principais das narrativas aqui analisadas.

Personagem literário

Lord Voldemort ambicionava o poder e imaginava uma vida de glória, em que seria reconhecido por ter conseguido ir até onde nenhum bruxo jamais imaginaria ter chegado. Um elemento que afirma a sua auto concepção de ser um bruxo especial e marca a ambição do vilão da saga é a escolha de alguns dos objetos que são utilizados para serem suas horcruxes, como a taça de HufflePuff, o medalhão de Slytherin, o diadema de Ravenclaw que pertenciam a três dos quatro fundadores da Escola da Magia

e Bruxaria de Hogwarts. Em uma conversa com Harry, observada no livro O enigma do príncipe, Dumbledore afirma que alguém que se acha tão importante como Voldemort

não escolheria objetos comuns para partilhar sua alma, selecionaria elementos notáveis, pois estava decidido a marcar de uma vez por todas o mundo da magia.

Analisando o trecho aqui abordado, o primeiro quadrado semiótico será preenchido semanticamente da seguinte forma:

Figura 1 – Quadrado semiótico 1

Poder Fracasso

Não - fracasso Não - poder Fonte: BARROS, 2005 (Adaptado)

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Figura 2 – Legenda

A representação acima permite a visualização de uma das temáticas principais da obra. O poder e a busca por ele é algo que move o vilão da saga e é nessa jornada que ele acaba traçando seu destino quando escolhe Harry Potter como seu oponente, além disso, é em cima desse fato, principalmente, que toda a história se constrói. Em oposição ao poder, temos o fracasso que é o que Voldemort acredita que uma pessoa alcance quando não consegue atingir o ápice.

Em Harry Potter outro tema que prevalece é a ideologia de “sangue-puro”, nome dado àqueles que são filhos de bruxos legítimos, em oposição ao “sangue-ruim”, que designa os que são filhos de trouxas. Conhecemos essa terminologia já no primeiro livro em um diálogo entre Harry Potter e Draco Malfoy7, em que Malfoy afirma que, “- Você

não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins eu posso ajudá-lo nisso” (ROWLING, 2000, p. 82). Este possui uma família cuja linhagem é toda composta por bruxos e, geralmente, bruxos de sangue-puro consideram que há uma espécie de hierarquia no mundo da magia em que a mais baixa casta seria a dos sangues ruins. Mas não só isso, bruxos mestiços, que possuem em sua família algum parentesco trouxa, também estão abaixo dos sangues puros, nessa perspectiva.

A expressão, que é considerada uma ofensa, é melhor explicada no segundo livro da saga, num primeiro momento quando Malfoy, no meio de uma briga no campo de quadribol, chama Hermione8 de sangue-ruim e, posteriormente, quando Rony9 acaba

tendo que explicar para Harry que desconhece o porquê do termo ser tão ofensivo: Sangue ruim é o pior nome para alguém que nasceu trouxa, sabe, que não tem pais bruxos. Existem uns bruxos, como os da família de Malfoy, que se acham melhores do que todo mundo porque têm o que as pessoas chamam de sangue puro (ROWLING, 2000, p. 90).

Essa ideologia começou quando um dos fundadores de Hogwarts, Salazar Slytherin, consternado por ser o único dos quatro que pensava que apenas os sangues puros deveriam ter acesso à educação de magia, saiu da escola deixando uma câmara

7 Filho de Lucio Malfoy, um Comensal da Morte, e Narcisa Malfoy é um bruxo de sangue-puro que

pertence à casa da Sonserina e se apresenta como um dos antagonistas de Harry durante a saga.

8 Melhor amiga de Harry Potter, bruxa de extrema inteligência e filha de pais trouxas.

9 Melhor amigo de Harry Potter, um bruxo extremamente leal e é filho dos Weasley que é uma linhagem

de sangues puros.

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secreta habitada por um monstro que no segundo livro da saga acaba matando uma personagem que é sangue-ruim.

Sendo assim, temos então nosso segundo quadrado semiótico referente a esse trecho, em que as temáticas giram em torno das ideologias que são base para o filme:

Figura 3 – Quadrado semiótico 2

A segunda oposição representa um tema base para a história, já que essa ideologia foi responsável pela tortura de inúmeros personagens ao longo da saga, como Hermione Granger. Ao longo da série ela sofre diversos ataques verbais, e no último livro, quando sequestrada para a casa dos Lestrange, é torturada por Belatriz Lestrange10. A Comensal

da Morte tortura a jovem bruxa com a maldição crucio para saber o paradeiro de alguns artigos que supõe terem sidos roubados de seu cofre11, e escolhe Hermione justamente

por ser a sangue-ruim. Nesse trecho do livro, Belatriz volta-se para Rony Weasley dizendo: “- Se ela morrer no meu interrogatório, você será o próximo. No meu caderninho, traidor do sangue vem logo abaixo de sangue-ruim” (ROWLING, 2007, p. 362), demonstrando que, os bruxos que pensam que sangues ruins, trouxas e bruxos podem viver em harmonia também, devem ser igualmente menosprezados. Prova disso, é a tortura seguida de morte que vemos no início do último livro da professora de Estudo

dos trouxas, Caridade Burbage, que acredita que trouxas e bruxos podem conviver em

harmonia e até mesmo se relacionarem. Perceberemos a seguir, que apesar de ser um personagem literário, as temáticas vistas na história de Lord Voldemort se assemelham bastante com a de Hitler.

Personalidade histórica

Hitler, além de ser um mau aluno em Linz, foi rejeitado por duas vezes na Academia de Artes de Viena. É improvável pensar como um sujeito avesso à disciplina e regras tenha atingido um patamar tão alto dentro de um país. Kershaw (2010) usa o termo “autoridade carismática”, criado por um sociólogo alemão chamado Max Weber, para tentar explicar como esse fenômeno aconteceu. Apesar do termo ter surgido bem antes do próprio Hitler, Kershaw diz que:

10 Comensal da Morte fiel ao Lorde das Trevas.

11 Cofre do banco de Gringotes, onde os bruxos guardam seus bens preciosos. Um lugar descrito como

seguro que é cuidado por duendes e muitos feitiços. Sangue-puro

Não – sangue-puro Sangue-ruim

Fonte: BARROS, 2005 (Adaptado) Não – sangue-ruim

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A “autoridade carismática”, tal como definida por Weber, não deriva de qualidades importantes e demonstráveis de um indivíduo, mas sim da percepção dessas qualidades por um “séquito” que, em meio a condições de crise, projeta sobre um líder escolhido atributos “heroicos” e nele vê grandeza pessoal, a encarnação de uma “missão” salvífica (KERSHAW, 2010, p. 21). Mostrando que em sistemas de governo é normal que haja uma espécie de ciclos e que o surgimento dessas “autoridades” é instável, ou seja, uma situação de crise unida a um sentimento de querer ser grande podem levar ao surgimento de um ditador como Adolf Hitler.

O fracasso alcançado na sua juventude o deixava cada vez mais inconformado com o mundo a sua volta. Ainda não era o Hitler que comandou a Alemanha na 2ª Guerra Mundial, mas ele estava em constante ascensão. O futuro Füher12 possuía habilidades e

características que foram primordiais para que ele conseguisse alcançar o poder e isso não pode ser tratado com indiferença, pois seria um grande equívoco, mas claro que isso não foi o suficiente. Foi a personalidade dele junto a um sentimento que vinha crescendo bastante na sociedade alemã que deram origem ao princípio do desejo de liderança. Em 1919, Hitler ainda “era um ninguém. Mas, em três anos, ele receberia uma cascata de cartas adulatórias, seria mencionado nos círculos nacionalistas como o Mussolini da Alemanha e até comparado a Napoleão” (KERSHAW, 2010, p. 112). Ele se considerava um grande orador, capaz de convencer pessoas em situações específicas, capaz de fazer com que:

[...] uma plateia que compartilhasse seus sentimentos políticos básicos, pelo modo como falava, pela força de sua retórica, pelo próprio poder de seu preconceito, pela convicção, que transmitia, de que havia uma maneira de a Alemanha sair de sua situação difícil, e que somente o caminho apresentado por ele era a estrada para o renascimento nacional. [...] sua mensagem captava exatamente o sentimento irrefreável de raiva, temor, frustração, ressentimento e agressão reprimida. E seu modo compulsivo e persuasivo de falar devia sua força a uma combinação de diagnósticos e receitas sedutoramente simples para os problemas que afligiam essas plateias (KERSHAW, 2010, p. 113). O seu ódio conseguia atrair os demais. Ian Kershaw fala em seu livro que uma biografia sobre Hitler deve ser uma biografia sobre poder, sobre como alguém igual a ele conseguiu ir tão longe e como esse poder foi capaz de ultrapassar todas as barreiras de humanidade que pudessem existir e como toda uma sociedade se manteve durante anos lado a lado com a crueldade que ali se passou. Ele afirma também que Hitler não passou por uma espécie de processo em sua vida pessoal, seja na personalidade ou em pormenores relacionados a mudanças particulares, basicamente todos os aspectos de sua personalidade consistem na vida pública e política e, embora, as pessoas tentem buscar em suas origens explicações para tudo que se passou desde o fim da 1ª Guerra13 o papel

de um biógrafo deve ser concentrar-se “no caráter de seu poder – o poder do Füher” (KERSHAW, 2010, p. 30). Dessa forma, temos o primeiro quadrado semiótico da personalidade histórica que como perceberemos tem como temática principal, as mesmas ideias do personagem fictício, que pode ser vista na figura 5 abaixo:

12 Uma das nomenclaturas para Hitler.

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Figura 4 – Quadrado semiótico 3

Algo comum entre os dois personagens, dentro dessa mesma temática, é o modo como eles se viam: sempre como uma pessoa que estaria destinada a grandes feitos. E para atingir isso, pautaram-se nos ideais que compartilhavam e que vigoravam entre grande parte da população da época em que viveram.

Outro aspecto em que Hitler se assemelha ao personagem literário, e que está ligado ao conteúdo semântico do poder, é a ideologia da raça superior. Não se sabe exatamente qual o marco inicial ou qual a explicação levou Adolf a ter aversão aos judeus. Quando se mudou para Viena, aos 20 anos, estava nascendo lá um forte sentimento antissemitista, justificado pelo grande sucesso dos negócios judeus que deveriam ser eliminados segundo a concorrência vienense. Hitler, com mais ou menos dois anos vivendo na cidade, começou a se sentir atraído por esse sentimento e, ao mesmo tempo em que ingressava no partido antissemita, se deixava ajudar pelo dinheiro judeu, colocando-se contra aqueles a quem deveria ser grato. Ele utilizava justificativas como “a falta de limpeza [...] sujeira [...] doença” (KERSHAW, 2010, p. 72) para se referir aos judeus como um povo que não pertencia aquele lugar e começou a ligar todos os males que aconteciam a eles.

Dessa forma, o preconceito contra os judeus, costumeiramente de conotação religiosa, assumia agora um cunho político nos anos que antecediam a Segunda Guerra Mundial. Diante do exposto, temos nosso último quadrado de oposições semânticas que se assemelha à segunda oposição do primeiro texto, diferenciando-se apenas pelas terminologias, que aqui se referem à ideologia de puro sangue da vida real.

Poder Fracasso

Não - fracasso Não - poder

Referências

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