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Sexualidade : imaginário e realidade em um grupo de mulheres idosas

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Academic year: 2017

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Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Gerontologia

SEXUALIDADE: IMAGINÁRIO E REALIDADE EM UM GRUPO

DE MULHERES IDOSAS

Brasília - DF

2012

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SABRINA SOUSA FREIRE

SEXUALIDADE: IMAGINÁRIO E REALIDADE EM UM GRUPO DE MULHERES IDOSAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profª. Drª. Altair Macedo Lahud Loureiro

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

F866s Freire, Sabrina Sousa.

Sexualidade: imaginário e realidade em um grupo de mulheres idosas. / Sabrina Sousa Freire – 2012.

98f; .: 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Prof. Dr. Altair Macedo Lahud Loureiro.

1. Sexualidade. 2. Mulheres idosas. 3. Imaginário. 4. Gerontologia. I. Loureiro, Altair Macedo Lahud, orient. II. Título.

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Aos meus pais, Roberto e Jurema, pelo incentivo à educação e por sempre acreditarem no meu potencial. Sem o amor, compreensão e carinho deles eu não conseguiria alcançar esse título.

À minha irmã, Karina, que, com sua sensibilidade única e rara hoje em dia, sempre tem uma palavra que conforta e acalma meu coração.

À minha filha, Isabela, amor da minha vida e responsável pelo meu sorriso diário, pelos nossos momentos de mãe e filha, por me dar forças para crescer e me ensinar a ser uma pessoa melhor.

Ao meu amor, Glauco, pela nossa cumplicidade, amor verdadeiro, companheirismo e por me inspirar a ser uma grande batalhadora.

À minha sogra, Joselita, pela disponibilidade em ler a Dissertação depois de concluída.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Altair, pelos ensinamentos, paciência e por todo o carinho que teve comigo durante essa jornada. Obrigada por me conduzir tão bem ao Imaginário.

Aos membros da banca, Prof.ª Dr.ª Alessandra, Prof. Dr. Vicente Alves e Dr.ª Maria Cecília, pelas contribuições e por aceitarem o convite para compor as bancas de qualificação e defesa.

Às queridas D. Juju, D. Mimi, D. Dada, D. Vava, D. Nini e D. Dede, pela confiança e entrega ao falar de sua sexualidade. A elas que foram parte fundamental deste trabalho.

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Sentir-se jovem é sentir o gosto De envelhecer ao lado da mulher Curtir ruga por ruga de seu rosto Que a idade sem vaidade lhe trouxer O corpo transformar-se em escultura O tempo apaixonado é um escultor E a fêmea oculta na mulher madura Explode em sensuais formas de amor [...]

[...] Quem sorri de amor nunca envelhece Amar ou desamar sem sentir culpa Desafiando as leis do coração Não faça da velhice uma desculpa E nem da juventude profissão [...]

[...] Ser jovem é saber envelhecer Velho é quem se ilude

Que a idade é juventude.

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FREIRE, Sabrina Sousa. Sexualidade: imaginário e realidade em um grupo de mulheres idosas. 2012. 98 f.. Dissertação de Mestrado em Gerontologia – Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, 2012.

Esta dissertação teve como objetivo desvendar o imaginário de um grupo de mulheres idosas acerca de sua sexualidade. A pesquisa foi desenvolvida no Centro de Convivência do Idoso da Universidade Católica de Brasília com seis idosas. Os dados míticos foram coletados por meio do Arquétipo Teste de Nove Elementos – AT-9 – de Yves Durand e entrevistas não estruturadas. A análise fez-se à luz da Teoria Antropológica do Imaginário, de Gilbert Durand, e pelos pontos relevantes da entrevista acerca da sexualidade. Os dados míticos revelaram uma predominância do imaginário com estrutura sintética/disseminatória. Por meio dos depoimentos pode-se verificar fatores inibidores e libertadores da sexualidade das idosas sujeitos da pesquisa, tais como, religiosidade, menopausa, substituição de papéis, de parceiras por mães ou cuidadoras, e bloqueios culturais. Diante de tais resultados, é importante que o profissional da saúde se disponha a abordar questões da sexualidade com os idosos, oferecendo-lhes a oportunidade de expressarem, sem medo, o que não querem mais calar.

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This dissertation aimed to uncover the imaginary of a group of older women about their sexuality. The research was conducted in Elderly Community Centre of the Catholic University of Brasilia with six elderly women. The mythical data were collected through Archetype Test of Nine Elements - AT-9 - Yves Durand and unstructured interviews. The analysis was made based on the Anthropologic Theory of Gilbert Durand and the relevant points of the interview about sexuality. The mythical data showed a predominance of imaginary with synthetic structure. Through of the statements can be verified inhibitory factors and liberating sexuality of older research subjects, such as religion, menopause, replacement roles of partners by mothers or caregivers, and cultural blockages. Given these results, it is important that health professionals are available to discuss issues of sexuality with the elderly, offering them the opportunity to express themselves without fear.

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INTRODUÇÃO ... 11

JUSTIFICATIVA ... 15

PARTE I – QUESTÕES DE MÉTODO E DE TEMÁTICA ... 19

CAPÍTULO 1 – QUESTÕES DE MÉTODO ... 19

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETO DA PESQUISA ... 19

1.2 OBJETIVOS ... 19

1.2.1 Objetivo Geral ... 19

1.2.2 Objetivos Específicos ... 19

1.3 NATUREZA DA PESQUISA ... 20

1.4 SUJEITOS DA PESQUISA ... 20

1.5 INTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS ... 21

1.6 CUIDADOS ÉTICOS ... 22

CAPÍTULO 2 – QUESTÕES DE TEMÁTICA ... 23

2.2 SEXUALIDADE E VELHICE: POSSIBILIDADES E INIBIÇÕES ... 23

PARTE II – BASES TEÓRICAS ... 29

CAPÍTULO 3 - A TEORIA DO IMAGINÁRIO, DE GILBERT DURAND E O ARQUÉTIPO TESTE DE NOVE ELEMENTOS, DE YVES DURAND: APONTAMENTOS ... 29

3.1 SOBRE O IMAGINÁRIO: DEFINIÇÃO, TRAJETO ANTROPOLÓGICO, OS REGIMES DE IMAGENS E AS ESTRUTURAS ... 29

3.1.1 O que é o imaginário e do que trata a teoria durandiana? ... 29

3.1.2 Trajeto antropológico ... 30

3.1.3 Sobre os regimes de imagens e as estruturas ... 31

3.2SOBRE O AT-9: SEUS ELEMENTOS, ANÁLISES E OPERACIONALIZAÇÃO ... 34

CAPÍTULO 4 – A GERONTOLOGIA: A VELHICE, O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E AS REALIDADES DA PESSOA IDOSA ... 37

PARTE III – ANÁLISES ... 41

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE ESTRUTURAL: OS PROTOCOLOS DO AT-9 E PONTUAÇÕES DA FALA ... 41

5.1 PROTOCOLO AT-9: DONA JUJU ... 41

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5.4 PROTOCOLO AT-9: DONA VAVA ... 53

5.5 PROTOCOLO AT-9: DONA NINI ... 57

5.6 PROTOCOLO AT-9: DONA DEDE ... 60

CAPÍTULO 6 – QUADRO SÍNTESE COM OS DADOS CONTIDOS NOS SEIS PROTOCOLOS ... 65

7 – CONCLUSÃO ... 66

REFERÊNCIAS ... 70

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 74

APENDICE B – ENTREVISTAS NÃO ESTRUTURADAS ... 75

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INTRODUÇÃO

A viuvez tem sido apontada, em geral, como sinônimo de solidão (CAMARANO, 2002). Porém, pode significar, para algumas mulheres de hoje, autonomia e liberdade. Estas situações se refletem na sexualidade das mulheres idosas no país (DEBERT, 1994).

Nas últimas décadas observou-se um nítido processo de envelhecimento demográfico. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) o período compreendido entre 1975 e 2025 é conhecido como a Era do Envelhecimento, sobretudo nos países em desenvolvimento cujo envelhecimento populacional foi ainda mais significativo e acelerado. Enquanto nas nações desenvolvidas, no período de 1970 a 2000, o crescimento observado foi de 54%, nos países em desenvolvimento atingiu 123% (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).

No Brasil, houve um aumento da participação da população idosa, no total da população nacional, de 4% em 1940 para 8% em 1996. A população considerada mais idosa, ou seja, com idade superior a 80 anos, também está aumentando, o que leva a uma heterogeneidade do segmento populacional chamado idoso (CAMARANO, 2002).

De acordo com dados recentes e projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a vida média do brasileiro chegará ao patamar de 81,29 anos em 2050, basicamente o mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong (82,20) e Japão (82,60).

Esse aumento do número de pessoas velhas na sociedade brasileira repercutiu e continua repercutindo nas diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que os idosos, da mesma forma que os demais segmentos etários (crianças, jovens e adultos), possuem demandas específicas para obtenção de adequadas condições de vida. Tais demandas fizeram da velhice tema privilegiado de investigação nas distintas áreas de conhecimento, elevando substancialmente o volume de obras publicadas nos últimos tempos (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).

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Debert (1994), a viuvez significa, para algumas mulheres de hoje, autonomia e liberdade. Estas situações se refletem na sexualidade das mulheres idosas no país.

As pesquisas da antropologia introduziram o conceito gênero no discurso teórico, na década de 1970. Desde então, diversos autores aprofundaram o tema e atualmente, em Psicologia Social, qualquer estudo sobre diferenças ou semelhanças entre homem e mulher precisa ser evocado sob o prisma de gênero (STREY, 1999).

As diferenças de comportamento social entre gêneros variam segundo circunstâncias históricas e culturais. De acordo com Alves (2010, p.6):

Homens e mulheres são ensinados através do processo de socialização para agirem conforme prescrições a cada um dos gêneros, como por exemplo, no que se refere à maneira de sentar, namorar, bem como à maneira de expressar ou ocultar seus sentimentos.

Gilbert Durand (1989, p. 29) se refere a estes códigos ou regras, como intimações do meio social e as amplia como “pressões do meio cósmico e social”.

Sexo e gênero são dois conceitos diferentes, inseridos na literatura científica em épocas distintas e abrangendo aspectos não idênticos da vida humana. Enquanto as diferenças entre os sexos são estabelecidas pelo físico, as diferenças de gênero são explicadas e entendidas como socialmente construídas (NEGREIROS, 2004).

As mulheres na velhice experimentam uma situação de dupla vulnerabilidade com o peso somado a dois tipos de discriminação: enquanto mulher e enquanto idosa.

Sendo a mulher em quase todas as sociedades valorizada exclusivamente por seu papel reprodutivo e pelo cuidado da família, desprezo e desdém marcariam sua passagem prematura à velhice. Essa passagem antes de ser contada pela referência cronológica seria marcada por uma série de eventos associados a perdas como, o abandono dos filhos adultos, a viuvez ou o conjunto de transformações físicas trazidas pelo avanço da idade (DEBERT, 1994, p. 33).

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supressão (pré-consciente) evita que ele enfrente o conflito entre suas pulsões e a norma social, conflito que ataca a sua auto-estima”.

Segundo Negreiros (2004, p. 81):

[...] duas descobertas dos últimos tempos, na área da psicologia, em termos de sexualidade foram revolucionárias: a sexualidade infantil, com os estudos de Freud, desde o final do século XIX; e a sexualidade em idade avançada, com as pesquisas de William Masters e Virgínia Johnson, em meados do século XX. Estas descobertas destruíram os mitos de infância e de velhice assexuadas, vigentes até então.

Para Masters e Johnson (1984) o sexo é o centro de preocupações entre homens e mulheres gerando angústia, desejos, traumas, injustiças e, consequentemente, aumento ou diminuição da libido. Na velhice ocorre uma gradativa falência das funções dos órgãos vitais, declínio da aparência física, do erotismo, além da própria atração. A expressão da sexualidade do idoso está diretamente relacionada ao seu desejo, às suas crenças, valores e tabus e ao seu imaginário. A cultura também deve ser levada em consideração, uma vez que determina padrões específicos de atividade sexual (SILVA, 2003), bem como a condição de saúde.

No gênero masculino, dentre outras alterações na função sexual, as ereções não acontecerão com a mesma rapidez e facilidade, e perderão parte da solidez da juventude (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007). No gênero feminino, além das mudanças da idade, a mulher experimenta a redução do hormônio sexual - o estrogênio - no momento da menopausa, enfrentando sintomas emocionais, como ansiedade, irritabilidade; e físicos, como ondas de calor, adelgaçamento das paredes vaginais, diminuição da lubrificação vaginal (SILVA, 2003), dor durante o ato sexual, urgência e incontinência miccional (LORENZI et al., 2005).

Para tecer considerações acerca da Teoria do Imaginário, para nela contextualizar o estudo da sexualidade em um grupo de mulheres idosas, torna-se necessário conceituar o imaginário que, segundo Gilbert Durand, é “[...] o conjunto das relações de imagens que constituem o capital pensado do homo-sapiens” (DURAND, 1989, p. 14) e a noção de trajeto antropológico, esposada pelo referido autor, como a “simbiose de exterior e interior” (DURAND, 1989, p. 30).

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Para Morin (2001), o ser humano marcado pela consciência da tragédia da morte cria mitos para negá-la ou para encontrá-la, pensando nos meios para entendê-la. Sendo assim, se dá conta de que o problema da consciência e do ser humano é atravessado pelo tempo e tornado trágico pela morte. Durante a velhice, essa ação comumente se traduz em medo para o indivíduo.

Este trabalho de dissertação está estruturado em três partes. A primeira contem dois capítulos. O capítulo um diz respeito às questões de método, aonde são apresentados o desenho metodológico e os objetivos da investigação. O capítulo seguinte refere-se à temática do trabalho, ou seja, nele contextualiza-se a sexualidade e a velhice abordando suas possibilidades e inibições.

As bases teóricas que nortearam o presente trabalho constituem a segunda parte, nos capítulos três e quatro. Estão apresentados no capítulo três, apontamentos resultantes do estudo da Teoria do Imaginário de Gilbert Durand e do instrumento da pesquisa, o Arquétipo Teste de Nove Elementos (AT-9), de Yves Durand. Esta teoria e este instrumento são fundamentais na investigação das representações imagético simbólicas acerca da sexualidade do grupo sujeito da pesquisa, mulheres idosas. A base teórica explicitada no capítulo quatro diz respeito à Gerontologia, com a investigação voltada para a velhice, o processo de envelhecimento e as realidades da pessoa idosa.

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JUSTIFICATIVA

O interesse em abordar a sexualidade de mulheres idosas surgiu a partir de minha atuação como fisioterapeuta, especialista em Saúde da Mulher, e na experiência em reabilitação da musculatura do assoalho pélvico de mulheres na pós-menopausa. É queixa comum no atendimento a dificuldade que essas mulheres encontram em exercer sua sexualidade nessa fase da vida. Há, ainda, uma barreira na relação profissional-paciente, já que este é um assunto pouco abordado pelos profissionais de saúde, o que impede que a mulher se sinta à vontade para conversar abertamente com o profissional que a atende.

Ouvindo-se mais atentamente a paciente, por meio de anamnese bem conduzida, muitas vezes nos deparamos com depoimentos como a diminuição do desejo sexual associada ao fim da menstruação; mulheres que muitas vezes usam a menopausa como escudo para não precisarem mais ‘servir’ seus parceiros sem a obtenção de algum prazer. Logo, é uma questão em que o peso cultural tem grande influência.

Na busca de um melhor entendimento da sexualidade da mulher idosa, de seu conhecimento sobre o assunto, dos vícios de uma educação repressora, de como enfrentam a presença constante de preconceitos, de como se ‘escondem’ de sua sexualidade, senti-me motivada a investigar suas necessidades internas, tensões, ou o desejo de verem resolvidas suas limitações.

Apesar do significativo aumento nas publicações acerca do envelhecimento, ainda são insuficientes estudos e pesquisas que contemplem a velhice no seu aspecto socioantropológico (LOUREIRO, 2000), que estudem e descubram as variadas dimensões que integram a heterogeneidade desta população, incluindo nestas a dimensão simbólica.

Esta foi uma das razões que justificou a pesquisa que teve como objetivo desvendar, com o auxílio do Arquétipo Teste de Nove Elementos de Yves Durand e de entrevistas não estruturadas, as representações imagético-simbólicas – o imaginário –, bem como identificar nas vozes das mulheres do grupo os aspectos psicossocioculturais e biofisiológicos que influenciam a sexualidade do grupo.

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A heterogeneidade é uma característica a ser considerada na dificuldade de se qualificar a velhice, considerando que a história de vida de cada indivíduo é diferenciada e que a longevidade acentua as diferenças entre pessoas idosas (GOLDSTEIN; SIQUEIRA, 2003).

No Brasil onde prevalece ainda uma desigualdade social, com diferenças acentuadas de oportunidades educacionais, empregatícias, de saúde, de justiça, de seguridade social e de acesso a bens e serviços, acentuam-se as dificuldades para o entendimento da velhice. Ou seja, a diversidade requer estudos e pesquisas nos diversos segmentos da sociedade (GOLDSTEIN; SIQUEIRA, 2003). Os textos, estudos e pesquisas acerca da velhice pouco mencionam a questão da sexualidade, daí a relevância de se desenvolver esta dissertação que se detém na sexualidade de mulheres idosas, buscando dados para orientar uma melhor qualidade de vida das mulheres idosas.

As Ciências Sociais vêm contribuindo de forma substancial para expandir o conhecimento de assuntos relativos à população idosa, mudando a visão universalista sobre o tema que se embasa na sua dimensão biológica onde o envelhecimento é associado à deterioração do corpo, “[...] à diminuição da vitalidade e das forças físicas e das aptidões” (D'EPINAY et al., 1984 apud LOUREIRO, 2000, p. 20) e, em consequência, tratado como uma etapa da vida caracterizada apenas pelo declínio físico e psíquico. Essa conotação depreciativa associada à visão orgânica do envelhecimento vem sendo contestada nos estudos atuais (DEBERT, 2004).

Bassit (2002), afirma que em função do campo de estudos sobre o envelhecimento apresentar predominância na relação com doença e morte, isso acaba dificultando as abordagens diferenciadas e a associação da velhice com saúde e qualidade de vida. Como forma de mudar isso propõe o estudo do envelhecimento na perspectiva de diferentes cursos de vida, que permitiria ampliar o referencial de análise. Assim, a inclusão de histórias de vida e depoimentos pessoais representa uma forma de apreender a maneira como as pessoas vivem seu próprio envelhecimento em diferentes contextos sociais, culturais e históricos. Esta dissertação ampliou tais contextos procurando desvendar como um grupo de idosas representa esta fase de suas vidas em imagens e símbolos, em representações imagético-simbólicas ou mítico-simbólicas.

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sujeito da pesquisa de fundo da Dissertação, proporcionar-lhes a oportunidade de refletirem sobre sua sexualidade e mais do que isso, romperem a barreira do silêncio, do preconceito, do recalque. Pretendeu-se, como recomenda G. Durand (1989, p. 259-260), não apenas descobrir a estrutura e o regime de imagens nos quais as representações imagético-simbólicas se enquadram, mas descobrir como estas mulheres idosas “carregam o mundo”, como sentem, entendem, aceitam, rejeitam a sexualidade na fase de vida que estão vivendo. Os conceitos e os preconceitos que das suas falas e do teste resultaram, servirão para a fisioterapia e gerontologia, poderem melhor encaminhar a questão, sempre tendo em vista a orientação e obtenção da qualidade de vida cada vez melhor desta população.

Apesar de ser nessa fase da vida que as mulheres atingem maior maturidade, não existindo mais a preocupação com a contracepção, existe uma série de fatores sociais, familiares e pessoais que perturbam o entendimento e o exercício da sexualidade. Vitiello e Conceição (1993, p. 57) lembram que “Socialmente falando, considera-se a pessoa idosa como assexuada. Chega-se a dizer, jocosamente, que existem três sexos: o sexo feminino, o sexo masculino, e o sexagenário”. Negreiros (2004, p. 81) ressalta que as mulheres idosas de hoje foram submetidas, no passado, a um padrão maniqueísta de educação, cujo código de sexualidade determinava “[...] o que é próprio ou impróprio; o que é natural, agradável, normal, ou ao contrário: danoso, excessivo, insultuoso; aquilo que é passível de admiração, aceitação ou, inversamente, de repulsa, negação”. Submeteram-se a padrões de sexualidade claros ou implícitos quanto à regulamentação das relações sexuais indesejáveis – entre camadas sociais, etnias ou faixas etárias diferentes. Às mulheres das décadas de 30/40 era imputado o desempenho de papéis determinados por padrões educacionais patriarcais e de cunho religioso, os quais lhe conferiam a condição de reprodutoras e cuidadoras da família. Nesse contexto, acredita-se que a prática sexual destas mulheres traduzia-se numa obrigação para com seus companheiros e igreja. Baseada nessa premissa supõe-se que a viuvez e o fim da fertilidade, para algumas mulheres, deva representar o fim de uma obrigação, o fim do desempenho de um papel, o fim da representatividade que lhes cabiam no âmbito de sua sexualidade.

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sexualidade considerando que as pessoas não se vêem de forma idêntica e que recebem influência do meio exterior, bem como têm conteúdo interior subjetivo, próprio, igualmente variável. Foi de interesse verificar o universo mítico do grupo partindo-se dos micro-universos míticos aflorados na pesquisa.

O exterior pressionante e o interior ativo, pleno de desejos e sonhos, expressam-se em imagens simbiotizadas de latência e patência [...]. Ao processo gerador dessa mistura, mais que mistura, desta síntese simbiótica, Gilbert Durand chama ‘trajeto antropológico’ (LOUREIRO, 2004a, p. 16).

A constante troca entre o interior e o exterior é dinâmica e organizadora e estas interações múltiplas e diferentes formam as imagens, que por sua vez se entrecortam, se misturam, se agrupam, resultando a possibilidade do estudo das imagens e de suas relações, das estruturas simbólicas e dos regimes nos quais elas se encontram imbricadas (LOUREIRO, 2004a).

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PARTE I – QUESTÕES DE MÉTODO E TEMÁTICA

CAPÍTULO 1 – QUESTÕES DE MÉTODO

1.1CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETO DA PESQUISA

O contexto em que as idosas dessa pesquisa foram localizadas foi o Centro de Convivência do Idoso da Universidade Católica de Brasília (UCB), Taguatinga, Distrito Federal. O imaginário de um grupo de mulheres idosas acerca de sua sexualidade foi o objeto do estudo.

1.2OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Desvendar o imaginário de um grupo de mulheres idosas acerca de sua sexualidade.

1.2.2 Objetivos Específicos

Identificar fatores inibidores e ou libertadores da sexualidade na fala da mulher idosa. Identificar os microuniversos míticos que compõe o universo mítico do grupo.

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1.3NATUREZA DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa que segundo Minayo e Sanches (1993, p. 245)

[...] trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões e adequa-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e capazes de serem abrangidos intensamente.

A pesquisa não desprezará dados quantitativos, se necessários, “[...] objetivando trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis” (SERAPIONI, 2000, p. 188).

1.4SUJEITOS DA PESQUISA

O grupo sujeito da pesquisa constituiu-se de seis idosas frequentadoras do Centro de Convivência do Idoso da UCB.

De acordo com Ferrarotti (1983, p. 50):

A questão de qual número de pessoas a serem ouvidas não se coloca neste tipo de pesquisa, já que toda prática individual é uma atividade sintética, uma totalização ativa de um contexto social (das estruturas sociais) que está interiorizada nas relações humanas de cada indivíduo. [...] A síntese social está inteiramente em nossos atos, sonhos, obras, comportamento e na história de um sistema inteiro que se mistura a nossa vida individual.

A seleção das idosas deu-se por conveniência, ou seja, pertenceram à pesquisa aquelas mulheres com mais de sessenta anos de idade que se dispuseram a participar voluntariamente. Os critérios de inclusão foram idosas com idade igual ou superior a sessenta anos, frequentadoras do Centro de Convivência do Idoso da UCB e que aceitaram participar da pesquisa.

Foram excluídas da pesquisa as idosas que não se enquadraram na idade estabelecida e as que não aceitaram participar do estudo.

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Para bem caracterizar os sujeitos da pesquisa, foram adicionados dados preliminares ao AT-9 e à entrevista, tais como: idade, naturalidade, estado civil, escolaridade, religião e convívio familiar.

1.5INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS

Para se obter os dados mítico-simbólicos do grupo sujeito da pesquisa foi utilizado o Arquétipo Teste de Nove Elementos, o AT-9 (DURAND, 1988) – ANEXO A. Foram realizadas entrevistas não estruturadas, a escuta, na intenção de explorar as queixas e desejos de cada uma das idosas do grupo, confessados nas suas próprias falas. A observação foi constantemente exercida uma vez que para o detectar do imaginário a postura do sujeito é importante. É preciso saber escutar até o inaudível e ver o invisível. Ou seja, é preciso exercer uma observação acurada para captar os detalhes que, aparentemente mínimos, podem se transformar em importantes na constatação mítica.

As seis idosas foram reunidas em grupos para receber os esclarecimentos acerca da realização do AT-9, e nesta ocasião dirimiram dúvidas ou quaisquer resistência que surgiram sobre o teste. O teste é composto de quatro folhas que foram entregues individualmente, uma de cada vez, e recolhidas uma a uma logo após o seu preenchimento. A primeira folha contém o pedido das informações preliminares com os dados relativos à pessoa que responderá ao teste. A segunda folha apresenta os nove elementos que deverão aparecer em um desenho imaginado e estruturado pela participante da pesquisa. Na folha seguinte a solicitação é que o sujeito conte a história imaginada e por ele desenhada. Uma última folha foi entregue à idosa após ela ter preenchido as folhas antecedentes, contendo as seguintes perguntas:

Sobre que ideia você centrou sua composição? Você foi eventualmente inspirado? Entre os nove elementos do teste de sua composição indique: os elementos essenciais em torno dos quais você construiu seu desenho; os elementos que você teria vontade de eliminar. Por quê? Como acaba a cena que você imaginou? Se você tivesse que participar da cena composta onde você estaria? O que faria? No final desta última folha aparecerá um quadro síntese que o sujeito autor do protocolo completará colocando as representações, as funções e os simbolismos que atribuiu a cada um dos nove elementos (DURAND, 1988, p.71).

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ventura expressadas foram suprimidas pela pesquisadora responsável, sempre com o cuidado de não contaminar as respostas dos sujeitos.

O criador do AT-9 alerta para a importância de se utilizar lápis para o preenchimento do teste, porém o uso de borracha não é permitido.

Considerando que não foi observado caso de analfabetismo, o teste foi realizado em sua íntegra por todas as mulheres participantes da pesquisa, sem a necessidade de intervenção para escrever os dados informados pela pesquisadora, como havíamos pensado.

A entrevista não estruturada foi realizada individualmente e, com três idosas, foi necessário mais de um encontro para que se estabelecesse uma maior confiança entre a pesquisadora responsável e a idosa participante da pesquisa, contribuindo, assim, para que estas rompessem a barreira do silêncio e da inibição. O intuito foi perceber na fala dos sujeitos as pontuações da história de vida e nela entender como a sexualidade habitou e como habita na velhice. A vantagem da entrevista não estruturada é a possibilidade de obtenção de respostas surpreendentemente diferentes, em um grupo com características similares, considerando a liberdade de expressão individual construída com a pesquisadora.

Foi utilizado, com o consentimento delas, um gravador de modo a facilitar a transcrição das histórias por elas narradas.

1.6CUIDADOS ÉTICOS

As idosas receberam orientações quanto ao objetivo da pesquisa e, aquelas que aceitaram participar voluntariamente deste estudo, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – APÊNDICE A –, garantindo-lhes privacidade e sigilo das informações. O TCLE foi apresentado em duas vias, uma permaneceu com a entrevistada e a outra ficará com a pesquisadora responsável por até cinco anos, assim como os instrumentos de coleta de dados.

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CAPÍTULO 2 – QUESTÕES DE TEMÁTICA

2.2 SEXUALIDADE E VELHICE: POSSIBILIDADES E INIBIÇÕES

Sendo inerente à condição humana, a sexualidade transforma-se, conforma-se ou deforma-se ao longo da vida, tendo em vista as experiências vivenciadas no âmbito individual e coletivo. Assim, a forma de ser para o outro e com o outro e de ser no mundo estão estreitamente ligadas na formação da sexualidade humana (OLIVEIRA et al., 2008, p. 525).

Na definição de Laplanche (1995, p. 619):

Sexualidade não designa apenas as atividades e o prazer que dependem do funcionamento do aparelho genital, mas de toda uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância, que proporcionam um prazer irredutível à satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental e que se encontram a título de componentes na chamada forma normal do amor sexual.

A sexualidade pode ser pensada também a partir da articulação entre o nível mais amplo, societário e a trajetória individual e biográfica dos sujeitos. Parte-se do pressuposto de que a sexualidade é objeto de um processo de aprendizagem e este, por sua vez, é pautado tanto pelas concepções de gênero como pelo sexo anatômico do indivíduo (HEILBORN, 2006).

Para Freud (1905/1972 apud MUCIDA, 2006), o desejo e a libido não têm idade, assim como a sexualidade também está presente durante toda a vida do sujeito e é marcada por pulsões parciais, pois não existe uma pulsão genital que une os dois sexos. Portanto,

[...] não é a idade que determina a ausência do desejo e, muito menos, a ausência ou a presença de relações sexuais, mesmo que estas possam ser inscritas na velhice sob tecidos diferentes daqueles encontrados na adolescência. [...] A sexualidade do idoso pode encontrar caminhos inéditos nos quais o desejo, que não morre, encontra outras maneiras de inscrição (MUCIDA, 2006, p. 157).

Fraiman (1994) afirma que, para compreender a sexualidade dos idosos, é necessário entender a época em que eles foram criados, sob normas de condutas morais, sociais e sexuais extremamente rígidas e diferentes das que orientam o comportamento dos jovens atuais.

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A revolução sexual nos anos 60 determinou importantes mudanças no comportamento sexual de nossas sociedades. Entretanto, por mais que pareçam ultrapassados os valores morais, sociais e sexuais de nossos idosos, estes ainda estão vivos dentro deles e precisam ser respeitados (VIEIRA, 1996).

Observamos nesse estudo que a repressão limitou o comportamento sexual de algumas das mulheres entrevistadas no passado, com repercussões na velhice. D. Vava assim se expressa sobre suas experiências na juventude

[...] além de eu ter nascido na roça, onde tudo era proibido, eu fui estudar em colégios de freiras e lá você sabe que a religião há mais de 50 anos, era uma coisa meio repressora. [...] com 25 anos eu estava intacta, virgem [...] a minha iniciação sexual não foi aquele best sellers, aquela maravilha, porque além dos medos ainda tinha esses bloqueios, essas coisas.

Há no depoimento de D. Juju, uma outra componente do grupo sujeito da pesquisa, o traço da formação reprimida que teve e da desinformação a respeito da sexualidade humana, marcada pelo silêncio e preconceito.

[...] a idade da minha primeira menstruação foi aos 14 anos, eu fiquei muito assustada porque não era conversado isso antes, não era explicado o que ia acontecer e eu fiquei assustada com a quantidade de sangue porque minha menarca foi muito volumosa. Minha mãe me criticou muito porque achava que eu estava me sujando, tava sujando tudo porque eu não sabia me arrumar, não sabia me ajeitar [...] eu fui saber o que estava acontecendo através do médico.

Ainda com relação ao diálogo interfamiliar sobre a sexualidade, ela assim se expressa: não se falava nesse assunto dentro de casa, só com as amigas que se falava.

Para D. Nini a rigidez de sua educação é evidenciada no seguinte trecho da entrevista. Nossa, pra mim tirar a roupa era muito difícil, eu tinha vergonha . Tirar a roupa pra estar com ele foi difícil. Devido à criação que a gente tinha, né? No meu tempo se a pessoa saiu de casa, teve isso, era expulsa de casa. Não é virgem mais, não vivia com os pais. Expulsava, caía no mundo. Então por isso que minha mãe foi muito rígida. Então, como eu já disse as primeiras vezes foram muito doloridas, ficava inchada.

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amor e da sexualidade podem estar relacionadas às pessoas idosas, quer dizer, como podem fazer parte da vida dos velhos.

Segundo Vasconcellos et al. (2004, p. 414):

Acuados entre as múltiplas exigências adaptativas que as alterações do envelhecimento comportam, os indivíduos enfrentam dificuldades para preservar a identidade pessoal e a integridade de alguns papéis e funções, sobretudo àqueles relativos à sexualidade que a sociedade atentamente vigia e sanciona.

Dessa forma, a crença relacionando a idade com o declínio da atividade sexual poderá contribuir com uma diminuição da qualidade de vida, já que esta se encontra intimamente relacionada à sexualidade (ALMEIDA; LOURENÇO, 2008).

Simone de Beauvoir (1990, p.10) é enfática ao fazer uma análise sobre as imagens sociais dos idosos. Para a autora se os velhos manifestam o mesmo desejo, sentimentos e reivindicações dos jovens, eles escandalizam; “[...] neles, o amor, o ciúme parecem odiosos ou ridículos, a sexualidade repugnante, a violência irrisória”.

O climatério é uma das fases do ciclo vital feminino caracterizado como a passagem da vida reprodutiva para a não reprodutiva, ajustando a mulher a meios hormonal e emocional diferentes. Já a menopausa, diz respeito à interrupção permanente da menstruação, após um ano sem qualquer sangramento (ALMEIDA, 2003).

De acordo com Mori e Coelho (2004), a relação da mulher climatérica com o desejo sexual é influenciada por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. A ausência do hormônio, a história de vida pessoal e familiar, as experiências afetivas, o espaço social que a mulher ocupa, são alguns aspectos relevantes que constituem a experiência subjetiva da velhice feminina.

Nos relatos de D. Juju e D. Mimi, duas das idosas sujeitos da pesquisa, percebeu-se que estas atribuem à menopausa as dificuldades que estão vivenciando no exercício de sua sexualidade.

Observa-se ainda pelas falas a diferente forma de enfrentamento da dificuldade apontada. Para D. Juju:

[...] a menopausa foi drástica porque é uma coisa dolorosa, é uma coisa que não me dá prazer, não me dá conforto, me dá até rejeição por conta da dor mesmo.

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daqui a pouco vou ter que tomar remédio é para não ter vontade, porque o homem (marido) já não está mais dando conta! (risos).

De acordo com Gradim et al. (2007), depois da interrupção da menstruação, muitas mulheres se sentem menos sedutoras e vigorosas, menos mulheres. O sentimento da perda da feminilidade está relacionado com a estética e com a juventude, o que na cultura atual é extremamente valorizado para o gênero feminino. A sociedade valoriza a juventude física, e as mulheres se sentem inferiorizadas por receio de parecerem mais velhas e por não se encaixarem dentro desse padrão, como se pode verificar no depoimento de D. Vava:

[...] eu acho que a chegada da velhice toda mulher acha triste, porque você perde o corpo, você perde a cintura, você ganha peso, as rugas aparecem, aí você fala: Não, envelheci! Então tudo aquilo que você tinha antes de charme, que você conquistava com o charme, aí você sabe que não tem mais.

Segundo Santos (2006), o idoso não pode ser visto como um ser assexuado em consequência da perda fisiológica dos hormônios sexuais. Muito embora a andropausa no homem e a menopausa na mulher sejam responsáveis por dificuldades sexuais, como a frequência da ereção e alteração na lubrificação vaginal, estes podem encontrar formas compensatórias e sublimatórias de realização.

De acordo com Santos (2006), verifica-se uma mudança na forma de encarar a sexualidade na velhice, no passado o erotismo e a sexualidade sofreram influência das Igrejas na desvalorização considerando-se algo de que o velho deveria envergonhar-se ou, no mínimo, calar-se. Nessa perspectiva, sexualidade e erotismo pareciam ter valor apenas para procriação. Mais recentemente, com o crescimento do individualismo no nosso estilo de vida e a consequente capacidade dos velhos de formarem seu próprio juízo, evidenciam-se as possibilidades destes cultivarem conscientemente sua sexualidade e um erotismo específicos da velhice, seja com relação ao próprio relacionamento de casal ou de pessoas sozinhas com disposição para recomeçar outros relacionamentos.

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[...] se eu tiver um relacionamento com uma pessoa, que eu não tenho (com ênfase, mostrando que não tem outro relacionamento), meu esposo faleceu tem vários anos e eu não tenho, não me interessa outro, porque eu sou evangélica e eu sei que se eu tiver relacionamento é prostituição e eu sei que são coisas que não agradam a Deus e nem a mim.

[...] eu sinto, é claro, como mulher eu sinto a necessidade, eu nunca tive esse problema que as pessoas falam que as mulheres fazer masturbação, essas coisas. Não! Deus me livre! Eu acho isso uma baixaria, eu acho uma tristeza. Eu acho que mulher que tem Deus, a pessoa que tem suas orações, que confia em Deus pode superar, suprir com outras coisas, como por exemplo, trabalho na igreja.

[...] Então, eu estou bem, estou muito feliz, estou alegre. Sozinha eu nunca estou porque eu tenho Deus comigo e homem não é tudo na vida. Deus sim! Ele é a prioridade em tudo na minha vida. Mas, assim se um dia for da vontade Dele eu ter uma pessoa, aí eu vou dedicar primeiro a Deus e depois ao esposo.

Há que se considerar outros aspectos relevantes no cenário da sexualidade da mulher idosa. A conquista do mercado de trabalho, a independência financeira e o receio de perder a liberdade tão duramente conquistada exercem influência na sexualidade feminina. Para algumas é possível se realizarem como cuidadoras ou exercendo atividades culturais, de lazer, religiosas. Diante disso, não é de se surpreender que muitas mulheres não manifestem insatisfação ante a ausência do relacionamento sexual. D. Dede revela em seu discurso essa realidade.

[...] Eu sempre tive carro, eu sempre tive casa, sempre tive meu emprego público e eu pensava que se alguém viesse atrás de mim é pra explorar o que eu tenho. Depois veio meu pai que morreu com quase 100 anos e agora tem minha mãe que tem 94 anos. Então minha vida é correndo de Brasília para São Paulo (onde reside sua mãe), quer dizer, então eu desisti desse negócio (relacionamento amoroso).

[...] os caras pra passear não estão querendo, eles estão querendo tirar o dinheiro da gente, tirar tudo da gente.

[...] eu não tenho filho, mas não tenho do que me queixar. Eu vou pra onde eu quero, eu faço o que eu quero.

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Considerando que a sexualidade não está presa apenas a aspectos biológicos, que é uma construção biopsicossocial e cultural e que esta é forjada nos processos de identificação com os objetos amorosos, nas primeiras experiências de vida, é possível que cada um construa suas formas preferenciais de satisfação em relação a esses objetos ou substituindo-os a outras formas de manifestação e realização para além do biológico, como por exemplo, formas sublimatórias por meio de atividades criativas, artísticas ou na convivência com grupos de amigos, familiares, em que a ternura, o toque, as fantasias dão vazão ao erotismo (SANTOS, 2006). Em decorrência disso, alguns autores têm demonstrado que não existem razões fisiológicas que impeçam a pessoa idosa, em condições satisfatórias de saúde, de apresentarem uma vida sexual ativa, de exercerem sua sexualidade (MASTERS; JOHNSON, 1984; KAPLAN, 1990).

A sexualidade muda no decorrer do tempo porque as pessoas mudam, e com os idosos não é diferente. Pode-se dizer que com relação a atividade sexual na velhice, se perde em quantidade, mas pode-se ganhar em qualidade. As alterações observadas na sexualidade, com os anos, proporcionam aos homens e mulheres oportunidades para se compreender melhor o sexo oposto, sendo, então um momento de se viver a sexualidade plenamente (BUTLER; LEWIS, 1985). Nessa mesma visão, Monteiro (2006) relata que é fato que a paixão e o vigor sexual, com o passar do tempo, perdem o calor, o entusiasmo, havendo em contrapartida mais afeto, cumplicidade, carinho e intimidade. Amor e sexo, embora arrefecidos, permanecem por toda a vida, exigindo na velhice sabedoria para sair do círculo da cronologia para vivenciar o círculo do amor e da sexualidade.

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PARTE II – BASES TEÓRICAS

CAPÍTULO 3 – A TEORIA DO IMAGINÁRIO, DE GILBERT DURAND E O ARQUÉTIPO TESTE DE NOVE ELEMENTOS, DE YVES DURAND: APONTAMENTOS

Yves Durand (1988) esclarece – no capítulo nº 7, incluído na obra organizada por Joel Thomas (1998, p. 281) – que “ser um indivíduo é notadamente tomar consciência de uma condição existencial feita do ‘destino mortal’ [...]” e que por tal

G Durand coloca na origem do imaginário estas realidades que são o Tempo (que passa) e a morte. Nesta perspectiva o imaginário simbólico tem por função resolver a angústia ligada aos dados precedentes. Segundo Gilbert Durand não há somente uma modalidade de resposta à angústia, mas muitas que se definem precisamente no quadro da teoria SAI ¹ e que ele designa por estruturas esquizomorfas (ou heróicas), místicas e sintéticas (ou disseminatórias).

3.1SOBRE O IMAGINÁRIO: DEFINIÇÃO, TRAJETO ANTROPOLÓGICO, OS REGIMES DE IMAGENS E AS ESTRUTURAS

3.1.1 O que é o imaginário e do que trata a teoria durandiana?

O termo imaginário pode ter diversos significados entre aqueles que o utilizam. Geralmente nas ciências humanas e nas letras, está relacionado aos fantasmas, lembranças, sonhos, devaneios, crenças, mitos, romance, ficção, mostrando uma oposição ao real.

Nesses termos, imaginário seria o que é irreal, que pode ser entendido em um sentido relativo – como o que não está atualmente presente (caso de um fantasma) – como também em um sentido absoluto – como imagem representativa de algo que não poderá jamais se colocar na ordem dos fatos “reais” no campo do perceptível, como por exemplo, uma ficção _______________

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irrealizável (WUNENBURGER, 1997, 2003 apud TEIXEIRA, 2004).

Ao longo da exposição de sua teoria, Durand (1989, p. 14) define o imaginário como: O conjunto das imagens e das relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens. [...] O imaginário é esta encruzilhada antropológica que permite esclarecer um aspecto de uma determinada ciência humana por um outro aspecto de uma outra.

Ainda de acordo com Durand (1989), para entender o imaginário não podemos ficar restritos apenas à imaginação pessoal, necessitamos de conhecimento do imaginário em todas as camadas culturais que a história, as mitologias, a etnologia, a lingüística e as literaturas nos propõem.

Para Durand (1989), o mito está sempre presente na capacidade que o ser humano tem em simbolizar, seja pelas imagens propriamente simbólicas ou pelos motivos arquetípicos. Ou seja, o imaginário é o centro da habilidade do homem para transcender e que, com pouca variância, se realiza na forma de imagens simbólicas e de narrativas arquetípicas.

Durand (1989, p. 15) identificou-se com os estudos de Gaston Bachelard para quem “[...] a imagem só pode ser estudada pela imagem”. Por esse pressuposto só se pode falar e compreender as leis do imaginário com conhecimento de causa.

Loureiro (2004a, p. 16) reportando-se à preocupação inata do ser humano acerca do passar do tempo e do medo da morte lembra que isso provoca “[...] a necessidade alienada de se pensar imortal e de vencer o tempo”. O meio e a cultura influenciam as diversas maneiras do homem demarcar o tempo na tentativa de driblar sua finitude. O imaginário é, portanto, a condição dada ao homem para vencer o tempo e o medo da morte.

Outra referência acerca da teoria do imaginário é a de Teixeira (2004, p. 43-44) para quem “O imaginário é um sistema dinâmico organizador de imagens e de símbolos que tem por função colocar o homem em relação de significado com o mundo, com o outro e consigo mesmo, constituindo-se como o referente fundamental da evolução humana”.

3.1.2 Trajeto antropológico

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social, G. Durand (1989) manifesta-se à condição mais ampla envolvendo o cosmo, não somente ao meio terrestre mais próximo e mais distante, mas amplia a visão referindo-se ao cosmo em geral, em que o indivíduo recebe influências, as pressões cotidianas que modificam as vontades individuais e do grupo: os desejos e aspirações, as pulsões internas.

Loureiro (2006, p. 4-5) afirma que:

Não se pode considerar o homem uma entidade fechada, separada, radicalmente alheia à natureza [...] Para se encontrar o imaginário se torna necessário tocarmos esse trajeto antropológico, a simbiose de interior ativo e de exterior – amálgama da natureza humana com o natural do meio ambiente.

De acordo com Loureiro (2004a), essa simbiose entre interior e exterior é dinâmico e organizador com expressões de interações múltiplas e díspares que formam os arquétipos que se misturam, se entrecortam e se agrupam resultando na possibilidade do estudo das imagens e suas relações, onde as estruturas simbólicas e os regimes noturno e diurno se encontram.

É no trajeto antropológico que se pode buscar as indicações imagético-simbólicas para a organização, pois as constelações de imagens, segundo Durand (1989), convergem em torno de núcleos organizadores.

Há, portanto, no pensamento humano, um fator externo – um sentido fora do psiquismo, na sociedade, no meio tecnológico ou ambiental – que empresta significado à imaginação, que, dentro de si, no interior, traz uma possibilidade latente que, com o meio exterior, permuta sempre, se simbiotiza, daí resultando o símbolo (LOUREIRO, 2004a, p. 17)

3.1.3 Sobre os regimes de imagens e as estruturas

Durand identifica as estruturas do imaginário tendo por base a reflexologia betchereviana, com a noção de gestos dominantes, observados em recém-nascidos. Betcherev (apud DURAND, 1989) refere-se, inicialmente, à dominante de posição – na qual Durand identifica estrutura heroica do imaginário – e à dominante de nutrição – que leva a identificar a estrutura mística; posteriormente é tratada por Oufland a terceira dominante, a dominante copulativa ou de movimento, descoberta em rãs adultas, a qual Durand identifica com a estrutura denominada disseminatória, sintética ou dramática (LOUREIRO, 2004a).

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noturno), identificação esta comprovada por Y. Durand com o teste projetivo por ele criado: o AT-9 (LOUREIRO, 2004a, p. 17).

De acordo com Loureiro (2004a), baseada em Durand (1988), pode acontecer de não se formar nenhuma das estruturas, nesse caso, ocorre uma desestrutura do imaginário, ou imaginário desestruturado verdadeiro ou pseudo desestruturado.

Gilbert Durand (1989, p. 45), define estrutura como “uma forma transformável, desempenhando o papel de protocolo motivador para todo um agrupamento de imagens e susceptível ela própria de se agrupar numa estrutura mais geral”. Esta estrutura mais geral Durand chama de regime de imagens. As imagens podem se agrupar em dois regimes, o Regime Diurno de imagens e o Regime Noturno de imagens, que por sua vez abarcam as três estruturas: heróica, mística ou disseminatória.

Segundo Pitta (2005, p.22):

Gilbert Durand percebe no material que estuda duas intenções fundamentalmente diversas na base da organização das imagens: uma dividindo o universo em opostos (alto/baixo, esquerda/direita, feio/bonito, bem/mal, etc.), outra unindo os opostos, complementando, harmonizando. O primeiro é o regime diurno, caracterizado pela luz que permite as distinções, pelo debate. O segundo é o regime noturno, caracterizado pela noite que unifica, pela conciliação.

O regime diurno da imagem é definido, de modo geral, como o regime das antíteses, e está relacionado com a dominante postural, a tecnologia das armas, com o elemento paterno, com as implicações sociológicas relativas ao guerreiro e ao soberano, os rituais da elevação e da purificação. Seus principais símbolos são o simbolismo animal (teriomorfia), o simbolismo das trevas (nictomorfia), os símbolos da queda (catamorfia), os símbolos ascencionais, os símbolos espetaculares e os símbolos diairéticos (DURAND, 1989). Este regime se divide em duas grandes partes antitéticas, “a primeira [...] consagrada ao fundo das trevas sobre o qual se desenha o brilho vitorioso da luz; a segunda manifestando a reconquista antitética e metódica das valorizações negativas da primeira” (DURAND, 1989, p. 49).

O regime noturno caracteriza-se por estar constantemente sob o signo da conversão e do eufemismo. Ele apresenta uma organização de imagens que une os opostos. A preocupação com a morte, enfocada na passagem do tempo, não é atacada buscando-se a transcendência do humano e busca-se a eufemização dos medos brutais e mortais (DURAND, 1989).

Segundo Loureiro (2004a, p. 17):

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Finalmente, pode-se concluir que o regime diurno da imagem – regime da luz, da dialética, da claridade – agasalha as estruturas heróicas/esquizomorfas, enquanto que pertencem ao regime noturno da imagem, as estruturas sintéticas/dramáticas e místicas/antifrásicas do imaginário. E esses dois regimes apresentam como ponto fundamental a questão de como o homem e os grupos entendem a mortalidade e a angústia do passar do tempo que, para Y. Durand (1988), resultará em três atitudes: a heróica em que o monstro será destruído pela arma; a mística na qual a arma pode aparecer, mas não servirá para matar o monstro que poderá aparecer eufemizado em seu tamanho ou poder, de maneira que possa ser despistado; a sintética em que as duas atitudes anteriores são conciliadas em uma estrutura sintética ou disseminatória com uma visão cíclica do tempo onde toda morte é renascimento.

De acordo com Loureiro (2004a), baseada em Y. Durand (1988), as três estruturas apresentadas por G. Durand podem ser subdividas. Sendo assim, a estrutura heróica se divide em quatro níveis:

- super-heróico em que o enfrentamento é realizado por todos os elementos; - heróico integrado, o combate existe, porém pode-se vislumbrar o refúgio;

- heróico impuro representado pela ausência de lógica ao se colocar alguns elementos; - heróico descontraído nos quais símbolos místicos se agregam aos heroicos, diminuindo a tensão heroica.

A estrutura mística é subdividida em:

- super-mística, pois o personagem goza a paz da natureza e monstro e espada (elementos esquizomorfos) não aparecem;

- mística integrada no qual há traços de esquizomorfia na história;

- mística impura em que o monstro aparece caricaturado, porém está presente a angústia da morte;

- mística lúdica, o sujeito cria uma situação de brincadeira que exige a luta. Segundo Loureiro (2004a, p. 27):

A estrutura disseminatória, ou sintética, pode se expressar de maneiras diferentes: bipolar (os temas anteriores se atualizam, ao mesmo tempo, numa sincronia), e polimorfa (a ação acontece no correr do tempo, historicamente, diacronicamente, numa trama histórica).

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estar misticamente relaxado dormindo. Por vezes aparece a impureza nas estruturas heroicas ou místicas, mas por vezes esta impureza se agiganta e deixa de ser considerada impureza de uma das estruturas e deixa ver a síntese das duas (heróica e mística) e assim ocorre a disseminação. Isto acorreu nesta pesquisa em pauta, em um dos protocolos, o da Dona Vava. No entanto em outros quatro protocolos a impureza se faz presente não chegando a disseminatória: protocolos da Dona Juju, Dona Mimi, Dona Nini e Dona Dede.

O imaginário sem estrutura, de acordo com Y. Durand (1989), pode se apresentar em: - desestruturado verdadeiro, quando aparece um desenho “explodido”, ou seja, cada elemento desenhado separadamente, e por um discurso apenas descritivo (analítico) dos elementos, não exprimindo nenhum cenário ou agrupamento dos elementos;

- pseudodesestruturado, o desenho aparece igualmente “explodido”, porém, no discurso, mesmo que seja apresentada uma forma analítica do desenho, obriga a reconhecer a existência de uma coerência mítica subjacente ao desenho. Esta falta de estrutura, ou estrutura defeituosa ocorreu no imaginário da Dona Dada, nesta pesquisa.

3.2 SOBRE O AT-9: SEUS ELEMENTOS, ANÁLISES E OPERACIONALIZAÇÃO

Baseados nos escritos e experiências de Loureiro e do próprio criador do teste, Yves Durand, assim como de Rocha Pitta, Maria Cecília Teixeira, entre outros, apresenta-se aqui algumas considerações sobre o teste AT-9.

O AT-9 trata-se de um teste projetivo, criado por Yves Durand (1988) sobre a teoria do Imaginário de Gilbert Durand. Trata-se de um instrumento capaz de levantar/conhecer imagens individuais ou grupais e que permite “tornar evidente dados profundos relacionados com a interferência externa” (LOUREIRO, 2004a, p. 23).

G. Durand (apud LOUREIRO, 2004a, p. 29), ao se referir sobre o AT-9, diz:

[...] este teste não apenas constitui um diagnóstico psiquiátrico excelente como confirma os resultados teóricos que havíamos criado pessoalmente para as “estruturas” do imaginário: todo imaginário humano articula-se por meio de estruturas plurais irredutíveis, limitadas a três classes que gravitam ao redor dos processos matriciais do “separar” (heróico), incluir (místico) e “dramatizar” (disseminador), ou pela distribuição das imagens de uma narrativa ao longo do tempo.

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nortear a construção de uma história imaginada pelo indivíduo, sujeito-autor do teste. Estes elementos são: queda, espada, refúgio, monstro devorante, alguma coisa cíclica, personagem, água, animal e fogo. A história imaginada deverá ser, primeiramente, desenhada e logo após narrada/contada, seguida de um pequeno elenco de questões e de um quadro síntese onde o sujeito, com quem se realiza o referido teste, coloca as representações, as funções e os simbolismos atribuídos, por ele, a cada um dos nove elementos – estímulos arquetípicos – do teste.

Yves Durand (1988) selecionou estes elementos conforme os seus significados mais profundos. Cada elemento possui assim um significado próprio, e serve no teste para estimular o surgimento, o desabrochar de determinado arquétipo. São, portanto estímulos arquetípicos. O elemento personagem é o protagonista da história imaginada no qual o sujeito-autor se projeta. O monstro estimula o aparecimento da idéia de morte enquanto a espada sugere luta e o refúgio aconchego e paz. A presença do personagem, da espada e do monstro, em um mesmo protocolo do teste, leva a identificar a presença de um universo mítico com imagens do regime diurno das imagens, a estrutura heróica ou esquizomorfa. A presença do personagem junto ou dentro do refúgio leva a possível identificação do regime noturno das imagens, a estrutura mística/antifrásica. O elemento cíclico se relaciona a temporalidade e geralmente deixa ver uma estrutura disseminatória sintética do imaginário, do regime noturno de imagens. Os elementos água, animal e fogo são elementos complementares e servem para dar a liga na dramatização imaginada.

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Durand, o monstro de suscitar imagens da morte e o refúgio de representar, paz, aconchego e tranquilidade.

As questões que completam o teste servem para esclarecer o imaginário encontrado. Conforme Yves Durand (1988), os registros míticos nos protocolos do teste poderão ser analisados pela análise estrutural, elemencial, funcional e actancial. Nesta pesquisa valemo-nos das análises elemencial ou morfológica, funcional e estrutural.

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CAPÍTULO 4 – A GERONTOLOGIA: A VELHICE, O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E AS REALIDADES DA PESSOA IDOSA

O envelhecimento da população é uma realidade que vem recebendo destaque em diversos campos, gerando, por conseguinte, debates e inovação e desafios no que se refere à gestão dos problemas sociais. No que diz respeito ao campo dos estudos acerca da velhice, esforços têm sido empreendidos com o intuito de analisar, problematizar e propor novas formas de compreensão do fenômeno da velhice e do processo de envelhecimento. Tais esforços procedem de várias áreas do conhecimento como, a medicina, a psicologia, a sociologia, a educação e a antropologia, sem deixar de mencionar a emergência da gerontologia como um campo multi e interdisciplinar, já que integra todas as áreas do conhecimento. (SILVA, 2008).

Para Papaléo Netto (2006), o século XX marcou os grandes avanços da ciência do envelhecimento, fruto, de um lado, do crescimento do interesse nas pesquisas e estudos sobre o processo de envelhecimento e, por outro lado, o aumento da população idosa em todo o mundo exerceu pressão massiva sobre o desenvolvimento desse campo. O termo gerontologia foi evidenciado em 1903 por Elie Metchnikoff, que propôs um campo de investigação dedicado ao estudo exclusivo do envelhecimento, da velhice e dos idosos, em vez de aceitar a inevitabilidade da decadência e da degeneração do ser humano com o avançar dos anos. Seis anos depois, surgiu a especialidade médica denominada geriatria – estudo clínico da velhice -, introduzido em 1909 pelo médico Ignatz Nascher, considerado o pai da geriatria, por ter estimulado pesquisas sociais e biológicas sobre o envelhecimento, Nascher também fundou a Sociedade de Geriatria de Nova York em 1912.

A geriatria e a gerontologia foram os saberes emergentes que se debruçaram, respectivamente sobre o corpo velho e sobre os aspectos sociais da velhice, determinando em grande parte o estabelecimento desta como categoria social (SILVA, 2008).

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(envelhecimento secundário a processos fisiológicos), entre envelhecimento saudável ou bem-sucedido e envelhecimento comum (SILVA, 2008).

Nas décadas de 1950 a 1970, foram criados grupos de pesquisa sobre a velhice e a vida adulta, destacando-se os realizados em Bonn (1951, 1969), Kansas City (1964), na Pensilvânia (1958) e em West Virginia (1972). Foram os trabalhos desses grupos que lançaram as bases do paradigma de desenvolvimento ao longo da vida (life-span). Em apenas nove anos – entre 1950 e 1959 – foram publicados mais estudos sobre a velhice do que nos 115 anos anteriores. E entre 1969 e 1979 a pesquisa na área aumentou em 270 % (NERI, 2001a; PAPALÉO NETTO, 2006).

Ver o envelhecimento simplesmente pelo prisma biofisiológico é desconhecer a importância dos problemas ambientais, psicológicos, sociais, culturais e econômicos inerentes aos idosos. Ao contrário, é relevante a visão global de envelhecimento como sendo um processo e do idoso como um ser humano. Assim, define-se gerontologia como “uma disciplina científica multi e interdisciplinar, cujas finalidades são o estudo das pessoas idosas, as características da velhice enquanto fase final do ciclo de vida, o processo de envelhecimento e seus determinantes biopsicossociais” (PAPALÉO NETTO, 2006, p. 7).

O processo de envelhecimento, a velhice e o velho constituem um conjunto, cujos componentes estão intimamente relacionados. Portanto, envelhecimento pode ser conceituado, de acordo com Papaléo Netto (2006), como a fase de todo um continuum que é a vida, que começa com a concepção e termina com a morte. É um processo dinâmico e progressivo, no qual se estabelece modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, onde há uma perda da capacidade de adaptação ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levar o indivíduo à morte.

Para Beauvoir (1970, apud LOUREIRO, 2000, p.19-20), a velhice é como “[...] um fenômeno biológico com reflexos profundos na psique do homem, perceptíveis pelas atitudes típicas da idade não mais jovem nem adulta, da idade avançada”. Para Loureiro (2004b, p. 41), “Ser idoso significa apenas estar vivendo outra fase da vida; ter outros ideais, diferentes das aspirações juvenis, mas também com possibilidades, se considerados os limites recolocados pela idade”.

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desenvolvimento e aos 65 anos em países desenvolvidos. Para fins didáticos é comum que se estabeleça uma idade como marco de ingresso à velhice, mas convém lembrar que a velhice “é uma fase da existência diferente da juventude e da maturidade, mas dotada de um equilíbrio próprio, deixando aberta ao indivíduo uma ampla gama de possibilidades” (BEAUVOIR, 1970 apud LOUREIRO, 2000, p. 21).

De acordo com Goldstein e Siqueira (2003), heterogeneidade traduz as diferenças entre as pessoas em razão de suas distintas histórias de vida e a diversidade está associada à posição que as pessoas e grupos ocupam na sociedade e em suas instituições. Os fatores de diversidade, como as questões de gênero, etnia, classe social, exercem influência na historia de vida das pessoas, sobretudo do idoso com maior construção do seu ciclo de vida, refletindo-se na heterogeneidade de experiências na velhice.

As diversas formas de viver a velhice devem ser analisadas por critérios combinados de gênero e classe social. Para Motta e Debert (1999 apud NERI, 2001b), mulheres de classe baixa e média costumam afirmar-se pela atividade e participação em espaços de lazer e convivência usando esses espaços como símbolos de liberdade. As de classe mais elevada tendem a ir para as universidades, que lhes permitem aprenderem sobre o mundo e si próprias, num contexto a que sempre sonharam pertencer. Em contrapartida os homens de classe baixa e média geralmente se engajam em federações e confederações de pensionistas e aposentados no intuito de lutar pelos seus direitos.

No que diz respeito aos arranjos familiares é comum encontrar mulheres sem companheiros, devido ao maior número de viúvas e também ao crescente número de separadas ou de solteiras com filhos. Essas mulheres muitas vezes assumem papéis de chefes de famílias que podem nunca ter se constituído completas (MOTTA, 1999). Uma das idosas entrevistadas, nesta pesquisa, foi mãe solteira, educou seu filho sozinha, assumiu papel de pai e mãe. Assim diz D. Dada:

Agora em relação a mim eu acho um troféu, eu me acho uma heroína por ter cuidado do meu filho sozinha.

Para as mulheres a vida é menos institucionalizada que para os homens, mas para elas eventos como o casamento e nascimento do primeiro filho têm não apenas um impacto maior, mas também explicam o modo como elas interpretam suas próprias vidas (DEBERT, 1997).

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decisões. Essas conquistas femininas têm provocado mudanças significativas nas relações entre homens e mulheres e na estruturação familiar.

Estudos têm mostrado que as mudanças nas práticas sociais relativas à convivência entre as gerações aumenta a probabilidade de que mulheres idosas de variados níveis sociais passem a viver sozinhas ou venham a ser cuidadoras do cônjuge ou dos ascendentes (NERI, 2001b). Os dados desta dissertação comprovam essa realidade, já que duas idosas entrevistadas relataram morar sozinhas.

Para Debert (1997, p. 120):

Tratar da terceira idade é se referir a um conjunto de discursos (amplamente divulgados pela mídia) e de novos espaços de sociabilidade (como os grupos de convivência e as universidades para a terceira idade) empenhados em desestabilizar expectativas e imagens culturais tradicionais associadas a homens e mulheres de mais idade.

Mais recentemente temos observado a superação de restrições impostas ao comportamento do idoso, oportunizando a estes novas possibilidades de se expressar sem os constrangimentos, os estereótipos e padrões de comportamento baseados na idade, que vigoravam em outras épocas. Este novo padrão é conhecido como “descronologização” do curso de vida. No entanto, é fato que, muitas vezes, os velhos não sabem o que fazer ante estas novas possibilidades, como por exemplo, em relação ao comportamento amoroso, modo de vestir, de falar, que atividades de lazer praticar (GOLDSTEIN; SIQUEIRA, 2003).

Por outro lado, de acordo com Rodrigues e Soares (2006), vem sendo disponibilizado para esse segmento um arsenal de bens e serviços no propósito de se mascarar o envelhecimento ou eternizar a juventude, tais como, clínicas e academias, dietas, cosméticos, cirurgias plásticas. “A subjetividade produzida nessa representação onde só é velho quem quer, tem o poder de desencadear angústias que podem levar o indivíduo a se culpar por sua velhice” (RODRIGUES; SOARES, 2006, p. 10).

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PARTE III – ANÁLISES

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE ESTRUTURAL: OS PROTOCOLOS DO AT-9 E PONTUAÇÕES DA FALA

5.1 PROTOCOLO AT-9: DONA JUJU

Identificação: D.Juju, 61 anos, casada, mineira, nível de escolaridade superior completo, católica não praticante, reside com o marido e uma filha.

IIª PARTE: Você tem 30 minutos para fazer um desenho com os seguintes elementos: uma queda, uma espada, um refúgio, um monstro devorante, alguma coisa cíclica (que gira, que produz, ou que progride), um personagem, água, um animal (pássaro, peixe, réptil ou mamífero), fogo.

Segue ilustração:

IIIª PARTE: Escreva aqui a história do seu desenho.

A queda refere-se a uma queda d’água, a qual pode estar no mesmo local do refúgio

Referências

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