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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA ANDREY MARCELO MOLETTA

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Academic year: 2022

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA

ANDREY MARCELO MOLETTA

A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA EM FACE DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

CURITIBA 2021

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A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA EM FACE DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito do Centro Universitário Curitiba.

Orientador: Prof. Guilherme Oliveira de Andrade

CURITIBA 2021

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A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA EM FACE DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito do Centro Universitário

Curitiba, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Orientador:

Prof. Membro da Banca

Curitiba, de de 2021

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Ao meu estimado avô Antônio Ferreira Moletta (in memoriam) que era um senhor de pouco estudo e de muito conhecimento. Saudades eternas.

Aos meus pais, pelo amor, suporte, auxílio e carinho que recebi por toda a minha vida.

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Guilherme Oliveira de Andrade, meu orientador, por todas as lições e aprendizados que me foram repassados durante o tempo de realização deste trabalho, ressaltando-se os momentos em que me orientou fora dos horários de aula e sempre esteve disposto a me ajudar no que eu necessitasse e requisitasse.

Da mesma forma, avulto este agradecimento a todos os mestres que me instruíram durante o percurso de toda a minha jornada acadêmica, os do ensino fundamental e médio, mas especialmente ao corpo docente do Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA, a todos os professores que participaram direta ou indiretamente da minha formação com significativos esmero e erudição, cujos são dignos de meus agradecimentos e fascínio.

Também, amplio os meus agradecimentos a todos os meus familiares, especialmente aos meus irmãos Luis Eduardo Moletta e Gabrielle Caroline Storrer Maoski, que nunca deixaram de acreditar em mim, bem como sempre me fortaleceram com o apoio nos meus estudos e com as expectativas maravilhosas sobre o meu futuro profissional e pessoal.

Aos meus pais, Tatiane Vaz Storrer Moletta e Marcio Gerson Moletta, agradeço por terem sido sempre os meus melhores amigos e terem me incentivado a todo momento para que eu fosse sempre a melhor versão de mim. Ainda, expresso minha mais profunda gratidão por terem me ensinado que a felicidade e a família são os valores mais importantes de uma pessoa. Por todos os momentos em que estiveram dispostos a me ajudar e por todas as circunstâncias em que demonstraram apoio, compreensão e força. Jamais conseguirei expressar o quão grato sou por todos os ensinamentos, os quais tiveram as principais finalidades de que eu me tornasse um ser humano mais honesto, mais gentil e mais empático.

Ao meu avô, Antônio Ferreira Moletta (in memoriam), uma das minhas maiores referências de ser humano e uma das pessoas mais importantes de toda a minha vida. Mesmo tendo falecido antes mesmo de eu ingressar na minha faculdade, recordo-me da felicidade que sentiu quando soube que eu tinha passado no vestibular e do anseio que tinha em presenciar minha formatura. Acredito que não estejas tão longe de mim e que sempre estás cuidando dos meus passos, pois, assim como citou Ritta Duart: “Eles não se vão; ficam mais ainda com a gente.”

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caminhada acadêmica. Por terem sempre me oferecido um ombro quando precisei desabafar e por me proporcionarem tantas alegrias enquanto trilhava o meu caminho. Minhas gratificações mais sinceras por terem ajudado a transformar as durezas da vida em situações com mais leveza e amenidade.

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“Nós lutamos contra o apartheid porque estávamos sendo acusados de algo que não podíamos fazer nada sobre. É o mesmo com a homossexualidade. A orientação é dada, não é uma questão de escolha.

Seria louco alguém escolher ser gay com a homofobia que temos hoje.”

(Desmond Tutu)

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O presente trabalho tem como finalidade estudar o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e do Mandado de Injunção (MI) 4733, conjuntura em que a homofobia e transfobia foram criminalizadas por serem equiparadas ao crime de racismo e se enquadrando nos tipos penais da Lei nº 7.716/1989. A mencionada criminalização, como uma decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou controvérsia no sistema jurídico do Brasil, tendo em vista que o julgamento possivelmente violou alguns princípios do Direito Penal. Portanto, para a materialização desta análise, foi necessário expor um breve histórico sobre as questões envolvendo a homossexualidade e a transgeneridade, bem explicar os índices alarmantes dos tipos de violência contra membros da comunidade LGBT, e se manifestar sobre o julgamento da ADO 26 e do MI 4733, a qual resultou nas questões controversas sobre a decisão do STF. Considerando o fato de que o julgamento da Suprema Corte possivelmente violou os princípios da legalidade, da proibição da analogia “in malam partem”, da intervenção mínima, da fragmentariedade e da subsidiariedade, foi necessária uma explicação sobre os mencionados princípios em contraposição às particularidades da decisão, para que, ao final, fosse possível concluir se o julgamento feriu os fundamentos das normas jurídicas do Direito Penal. Também foi imprescindível analisar a decisão proferida pelo STF e o conceito do que seria o “racismo social” mencionado pela Corte Constitucional. Por fim, houve a necessidade de explorar as posições críticas dos estudiosos e aplicadores do Direito, juntamente com a avaliação do eventual entendimento jurisprudencial sobre a matéria decidida pelo STF. Todas essas explicações foram necessárias para compreender a possibilidade jurídica do julgamento da ADO 26 e MI 4733 proferido pelo Supremo Tribunal Federal, o qual não violou os princípios do Direito Penal e foi correto em criminalizar a homofobia e a transfobia, entendendo essas condutas como uma manifestação de racismo na sua esfera social.

Palavra-Chave: Criminalização da Homofobia e Transfobia. ADO 26 e MI 4733.

Princípios de Direito Penal. Lei nº 7.716/1989. Racismo Social.

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The present work has the aim of studying the judgment of the Direct Action of Unconstitutionality of Omision (ADO) 26 and Injunction (MI) 4733, conjuncture in which homophobia and transphobia were criminalized by being equivalent to the crime of racism and framed in criminal’s types of Law No. 7716 / 1989. The mentioned criminalization, as a Brazilian Supreme Court (STF) plenary's decision, generated controversy in Brazil's legal system, given that the trial possibly violated some principles of the Criminal Law. Therefore, for the materialization of this analysis, it was necessary to expose a brief history on the issues involving homosexuality and transgenderity, as well as explaining the alarming rates of the types of violence against the LGBT community members, and stating about the judgment of ADO 26 and MI 4733, the one that resulted in the controversial questions about the STF’s decision. Considering the fact that the Supreme Court's judgment possibly violated the principles of the legality, of the prohibition of the “in malam partem” analogy, of the minimal intervention, of the fragmentariness and of the subsidiarity, it was needful an explanation about the mentioned principles in contrast to the particularities of the decision, so that, in the end, it was possible to conclude whether the trial violated the foundations of the legal norms of Criminal Law. It was also imperative to analyze the decision issued by the STF and the concept of what would be “social racism” mentioned by the Constitutional Court.

Finally, there was a must to explore the Law specialists and enforcers' critical positions, along with the evaluation of the possible jurisprudential understanding on the matter decided by the STF. All these explanations were necessary in order to comprehend the legal possibility of the ADO 26 and MI 4733's trial issued by the Brazilian Supreme Court, which didn't violate the principles of Criminal Law and was correct in criminalizing homophobia and transphobia, understanding these conducts as a manifestation of racism in its social sphere.

Keywords: Criminalization of Homophobia and Transphobia. ADO 26 and MI 4733.

Principles of Criminal Law. Law No. 7716 / 1989. Social Racism.

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ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADO – Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental AgR RHC – Agravo Regimental no Recurso Ordinário em Habeas Corpus AgR – Agravo Regimental

AGU – Advocacia-Geral da União

AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

ART. – Artigo

CF – Constituição Federal

CFM – Conselho Federal de Medicina CFP – Conselho Federal de Psicologia CID – Código Internacional de Doenças CNJ – Conselho Nacional de Justiça CR – Constituição da República DNA – Ácido Desoxirribonucleico GGB – Grupo Gay da Bahia

GLBT – Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros/ Transexuais/

Travestis

GLS – Gays, lésbicas e simpatizantes

HC – Habeas Corpus

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LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros/ Transexuais/

Travestis

LGBTI+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis e Intersexuais

LGBTQ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis e Queer

LGBTQ+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis, Queer e mais

LGBTQI+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis, Queer, Intersexuais e mais

LGBTQIA+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis, Queer, Intersexuais, Assexuais e mais

LGBTQIA+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/ Transexuais/

Travestis, Queer, Intersexuais, Assexuais, Polissexuais e mais

MI – Mandado de Injunção

MPSP – Ministério Público de São Paulo OMS – Organização Mundial de Saúde

PE – Pernambuco

PGR – Procuradoria Geral da República PPS – Partido Popular Socialista

SC – Santa Catarina

STF – Supremo Tribunal Federal USP – Universidade de São Paulo

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2 HOMOFOBIA E TRANSFOBIA ... 15

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO E DEFINIÇÕES ... 15

2.2 DISCURSOS E CRIMES DE ÓDIO ... 23

2.2 HOMOFOBIA, TRANSFOBIA E MOVIMENTO LGBT NO BRASIL ... 25

3 CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E DA TRANSFOBIA ... 30

3.1 ADO 26 E MI 4733 ... 30

3.2 CRIME DE RACISMO E A LEI Nº 7.716/1989 ... 35

3.3 EQUIPARAÇÃO DA HOMOTRANSFOBIA AO CRIME DE RACISMO ... 37

3.3.1 Voto do Ministro Relator Edson Fachin ... 37

3.3.2 Voto do Ministro Relator Celso de Mello ... 39

3.3.3 Voto do Ministro Alexandre de Moraes ... 40

3.3.4 Voto do Ministro Luis Roberto Barroso ... 41

3.3.5 Voto da Ministra Rosa Weber... 42

3.3.6 Voto do Ministro Luiz Fux ... 43

3.3.7 Voto da Ministra Cármen Lúcia ... 44

3.3.8 Voto do Ministro Gilmar Mendes ... 45

3.3.9 Voto do Ministro Ricardo Lewandowski ... 46

3.3.10 Voto do Ministro Marco Aurélio ... 47

3.3.11 Voto do Ministro Dias Toffoli... 48

3.3.12 Acórdão da ADO 26 ... 49

4 CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ... 52

4.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE... 53

4.1.1 Proibição da Analogia “In Malam Partem” ... 58

4.2 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA ... 62

4.2.1 Princípios da Fragmentariedade e da Subsidiariedade ... 66

5 (IM)POSSIBILIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA ... 73

5.1 RACISMO SOCIAL ... 76

5.2 POSICIONAMENTO DE APLICADORES DO DIREITO PENAL E EVENTUAIS JURISPRUDÊNCIAS ... 77

5.3 POSSIBILIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E TRANSFOBIA FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ... 80

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 83

REFERÊNCIAS... 88

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1 INTRODUÇÃO

Como bem se sabe, condutas, atitudes e ações de cunho homofóbico e transfóbico no Brasil são deveras recorrentes, haja vista que é sempre veiculado pelas mídias ataques aos quais as pessoas homossexuais e transgêneros são submetidas, muitas vezes diariamente. Diante destas informações, conforme são explicadas com mais detalhe ao longo desta monografia, é possível identificar que grande parte da sociedade brasileira possui algum tipo de aversão ou rejeição a estas pessoas supramencionadas. Isto posto, a expressão desta odiosidade, mesmo que velada, dá-se de maneira discriminatória por meio de crimes contra à honra, dignidade e integridade física destas vítimas, inclusive delitos de homicídios.

Desta maneira, a presente monografia realizará um estudo sobre os conceitos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero, além de situar os indivíduos que são homossexuais e transgêneros ao longo da história do mundo.

Assim, poderão ser visualizados todos os embates que esta minoria enfrentou, desde os primórdios da humanidade, haja vista que em muitos momentos, até a atualidade, ocorreram perseguições, inclusive por parte do Estado. Da mesma forma, será discorrido sobre a origem dos termos e conceitos que estão relacionados a homotransfobia, além de um apanhado geral sobre as posições da Medicina e da Psicologia.

De forma individualizada, é impreterível realizar um estudo sobre a realidade dos homossexuais e transgêneros no território brasileiro, razão pela qual esta monografia realizará, mesmo de que forma genérica, uma redação sobre as conquistas de direitos destes indivíduos. Todavia, é imperativo notar que ainda prevalecem comportamentos homofóbicos e transfóbicos no Brasil, razão pela qual estas pessoas estão expostas constantemente ao risco de sofrerem subjugação recorrente, até mesmo por meio de delitos previstos no Código Penal e legislação extravagante.

Assim, conforme se vislumbrará no decorrer deste trabalho, o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26 e do Mandado de Injunção (MI) nº 4733, onde se tratou sobre a omissão inconstitucional do Congresso Nacional em editar leis que protegem especificamente as pessoas de sofrerem homofobia e/ou transfobia. Então, realizar-se-á um apanhado sobre as manifestações das partes,

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dos interessados, dos amicus curiae, bem como aos votos individualizados de cada Ministro da Suprema Corte, até que foi chegada à conclusão sobre a criminalização da homotransfobia com a redação do acórdão pelo Relator. No mesmo sentido, explicar-se-á sobre o conceito de “racismo” para o ordenamento jurídico pátrio, bem como no que toca à Lei nº 7.716 (Lei de Antirracismo), a qual foi promulgada pelo Congresso Nacional em 1989.

Diante do respeitável Julgado, é imperativo o estudo técnico sobre os ditames que lá estavam contidos, de maneira que será visualizada nesta monografia a análise do que foi decidido de forma vinculante pelo Supremo Tribunal Federal em face de alguns dos princípios do Direito Penal. Isto porque não há posicionamento massificado ou pacificado pela doutrina e pelos operadores do Direito sobre a maneira como a Corte Constitucional julgou o caso da pleiteada criminalização da homotransfobia, sob argumento da omissão do Poder Legislativo.

Assim, este trabalho terá o enfoque prático de estudar os princípios do Direito Penal para que se consiga uma conclusão no sentido de os votos vencedores estarem ou não de acordo com o Direito Penal e sua carga principiológica. Então, será impreterível apresentar as noções gerais sobre o princípio que será abordado, fazendo correlação direta com o julgamento do Supremo Tribunal Federal, para que, ao concluir, esteja-se diante de um posicionamento crítico e técnico sobre como a criminalização da discriminação contra homossexuais e transgêneros se apresentou sob os ditames da ciência criminal.

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2 HOMOFOBIA E TRANSFOBIA

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO E DEFINIÇÕES

Primordialmente, antes de adentrar qualquer matéria no presente trabalho, é de substancial relevância o entendimento e as noções básicas do que seriam os termos “homossexualidade” e “transexualidade”1 em questão. Assim, de acordo com o médico e escritor Drauzio Varella, é possível inferir que a homossexualidade é caracterizada pelas relações sexuais e afetivas entre pessoas do mesmo sexo, a qual não é questão de escolha pessoal ou estilo de vida, mas sim de condição enraizada na biologia humana.2 Em relação à transexualidade, o psiquiatra Alexandre Saadeh afirmou que isto ocorre quando a área do cérebro ligada à identidade de gênero inicia a sua formação, por volta da vigésima semana de gestação, a qual não coincide com o sexo biológico.3 Isto é, as pessoas transexuais

“são indivíduos que, na sua forma particular de estar e/ou de agir, ultrapassam as fronteiras de gênero esperadas/construídas culturalmente para um e para outro sexo”.4

Em análise disto, embora muitas vezes a homossexualidade e a transexualidade sejam conceitos e características humanas confundidas pelas massas e por pessoas que não tiveram contato com os estudos acerca disto, é possível inferir que se tratam de coisas diferentes. Neste ponto, destaca-se que a homossexualidade, bem como a heterossexualidade e a bissexualidade, é a orientação sexual do indivíduo, isto é, por quem ele se sente atraído ou envolvido, tanto afetiva, quanto sexualmente. Doutra perspectiva, a transexualidade é tangente

1 Como bem se sabe, há muitas formas de se referir às pessoas que têm determinado sexo biológico, mas não se identificam com o próprio corpo. No decorrer deste trabalho, serão mencionados os termos “transgênero”, “transexuais”, “transexualidade”, “transgeneridade” e “travestis”. Desta forma, ressalta-se que todas as referidas concepções são relacionadas a estes indivíduos que não se identificam com o gênero e/ou físico de nascimento, contudo imperativo destacar que o termo

“travestis” é somente relacionado a pessoas que possuem o sexo biológico masculino e se identificam com o gênero feminino.

2 VARELLA, Drauzio. Homossexualidade, DNA e a ignorância. Uol. 19 de novembro de 2015.

Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/homossexualidade-dna-e-a- ignorancia-artigo/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

3 HONORATO, Ludimila. Transexualidade é biológico, e família não deve sentir culpa. Estadão.

29 de janeiro de 2018. Disponível em:

https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,transexualidade-e-biologico-e-familia-nao-deve- sentir-culpa,70002166336. Acesso em 29 de setembro de 2020.

4 SILVA JÚNIOR, Enézio de Deus. Diversidade sexual e suas nomenclaturas. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Diversidade sexual e direito homoafetivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

p. 98.

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à identidade de gênero, qual seja como a pessoa se sente com relação a ela mesma e como ela se identifica no convívio social. Pragmaticamente, uma pessoa transgênero pode ser aquela que nasce com o sexo masculino, mas acaba se identificando como uma pessoa do gênero feminino, ou com outros gêneros além do entendimento de homem ou mulher. No que toca aos indivíduos que nascem atribuídos a um sexo e se identificam neste mesmo gênero ao qual foram designados, estes são denominados como cisgêneros.

Desta maneira, tendo em vista ambos os posicionamentos adotados pelos estudiosos supracitados, a homossexualidade e a transexualidade não são questões influenciadas pelo meio ou de preferência dos indivíduos, uma vez que devem ser vislumbradas todas as suas razões biológicas intrínsecas. Neste ponto, é imperioso destacar que ocorreram no mundo diferentes critérios no modo de visualizar a homossexualidade no meio social, haja vista que os contextos histórico e espacial das sociedades impactaram significativamente sobre isto. Isto é, nota-se que, de acordo com o momento da história juntamente com análises do povo ou nação em questão, os costumes e tradições eram diversificados, o que acabava por influir na maneira de enxergar a homossexualidade e a transexualidade no mundo.

Pragmaticamente, na Roma Antiga, era culturalmente análoga ao fato de duas pessoas de sexos diferentes terem relacionamentos, a casuística de um homem amar outro homem, mesmo que não se evidenciando uma situação de tolerância, mas sim de não vislumbrar isto como uma problemática. Todavia, neste contexto, a homossexualidade passiva causava repulsa nos indivíduos inseridos nesta sociedade, haja vista que estariam se dando como servos para o prazer sexual de outrem, qual seja o homossexual ativo.5 Isto posto, entendeu-se que o que desqualificava a homossexualidade era o fato de um dos homens que tinham relações sexuais com alguém do mesmo sexo fosse caracterizado como efeminado, ou seja, sem a sua virilidade masculina, isto relacionado ao contexto machista da época. De pronto, vislumbra-se o entendimento acessório de que a sociedade antiga romana repudiava a eventual transexualidade, haja vista a conjuntura de que uma pessoa do sexo biológico masculino, por exemplo, “renunciaria” a sua masculinidade por se identificar com o gênero feminino.

5 VEYNE, Paul. A homossexualidade em Roma: reflexões sobre a história da homossexualidade.

In: ARIÈS, Philipe e BÉNJIN, André (orgs.). Sexualidades Ocidentais. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. p. 43.

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Em relação à Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas, as relações sexuais entre homens não eram encaradas como algo incomum, sendo que inclusive eles podiam ser casados. Entretanto, assim como na sociedade romana,

“havia no contexto do sexo homossexual (e também no do heterossexual, é bom que se diga) certas condutas que poderiam prejudicar o status do cidadão, como exercer o papel de passivo na relação – algo não bem aceito para homens livres”6, isto de acordo com Renato Pinto, pesquisador da USP. Destarte, é possível concluir pelos estudos que não era tolerada a conduta submissa, independentemente se era homossexual ou heterossexual.7

Ato conseguinte, com o advento da influência rígida do Cristianismo no Império Romano, iniciou-se o empenho de uma repressão significativa às relações de pessoas do mesmo sexo, à luz de que a heterossexualidade e a monogamia eram diretamente relacionadas à natureza e moralidade. Em decorrência a isso, o Imperador Teodósio I, no ano de 390, tornou imperativa a condenação à fogueira dos homossexuais que tivessem atitudes passivas sexualmente. Isto porque o machismo vigorante neste momento era extremamente alicerçado na sociedade, sendo que os comportamentos associados à feminilidade esboçavam um perigo para o poderio e a força de Roma. A fim de fundamentar tal decisão, o Imperador buscou embasamento teórico no Antigo Testamento da Bíblia, conjuntura em que a homossexualidade foi citada no Livro em questão por diversas vezes como reprovável, como por exemplo na história de Sodoma e Gomorra e nos ensinamentos contidos do livro Levítico.8

Desta maneira, com o passar dos séculos, a tradição judaico-cristã começou a exercer mais domínio sobre a cultura e os dogmas das sociedades, conjuntura em que, na Idade Média, esboçava-se o Cristianismo como um dos pilares de estruturação de poder sobre a coletividade. Assim, começou-se a impor inúmeras proibições e obrigações rígidas pelo clero, sendo que algumas destas eram relacionadas à sexualidade e à intimidade das pessoas. Isto porque as relações

6 EXISTIA homofobia na Grécia Antiga? Superinteressante. 04 de julho de 2016. Disponível em:

https://super.abril.com.br/blog/oraculo/existia-homofobia-na-grecia-antiga/. Acesso em 30 de setembro de 2020.

7 Ibidem.

8 BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. [tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira] – 1ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 48.

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sexuais, neste contexto, eram interpretadas de forma pragmática com a finalidade única de reprodução, ou seja, o prazer sexual era algo reprimido e imerso em tabus.9

Neste momento histórico, salienta-se que foram estabelecidas penas e punições graves às pessoas que tinham comportamento homossexual, haja vista que a Santa Inquisição as condenava com a morte na fogueira, afogamentos e enforcamentos. Ademais, com a chegada da Peste Bubônica, a repressão aos homossexuais iniciou uma fase ainda mais agressiva, uma vez que era entendido, à época, que a perseguição frenética a estas pessoas realizaria uma espécie de purificação ao indivíduo e o banimento desta orientação sexual no meio social. 10

Com a chegada das Idades Moderna e Contemporânea, ao longo dos séculos XVIII e XIX, os homossexuais eram considerados indivíduos anormais e com anomalias físicas, qual seja a efeminação. Desta maneira, o que pôde se observar foi um processo de categorizar o comportamento homossexual como uma patologia que acometia às pessoas, isto porque a medicina da época era imersa de valores clericais, cujos vinham abarcados no fenômeno social. Observa-se que de uma perspectiva, mesmo que definindo os homossexuais como doentes mentais, foi possível afirmar a existência destes indivíduos, em contrapartida à insistente negativa constante do período medieval.

No mesmo sentido, sobressaia-se que o sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, no início do século XX, usou do termo “transvestite” para os indivíduos que se vestiam com roupas características do sexo oposto, geralmente com o interesse sexual. Também, o sexólogo alemão, radicado nos Estados Unidos, Harry Benjamin inventou o termo “transexual” no ano de 1966, conjuntura em que cunhou procedimentos clínicos para a identificação e atendimento deste público alvo. Isto porque a transexualidade era encarada na época, por psicanalistas, também com um perfil patológico, qual seja, uma forma de psicose, a qual teria, ao menos em tese, uma “cura” por procedimentos cirúrgicos.11

9 JERONIMO, Melissa. O lugar da homossexualidade hoje: Fundamentos históricos. São Paulo, 1997, 58p. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, p. 25.

10 BORRILLO, 2010, p. 54.

11 DE JESUS, Jaqueline Gomes. Notas sobre as travessias da população trans na história.

Revista Cult. 12 de junho de 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/uma-nova- pauta-

politica/#:~:text=Radicado%20nos%20Estados%20Unidos%2C%20o,de%20%E2%80%9Cpadr%C3%

B5es%20de%20cuidado%E2%80%9D. Acesso em 01 de outubro de 2020.

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Contudo, no começo do século XX, mais precisamente em 1933, Lili Elbe, um símbolo da luta transexual no mundo, haja vista ser uma pessoa transgênero, submeteu-se ao primeiro, ao menos registrado, procedimento cirúrgico de redesignação sexual no mundo. Nesta circunstância, no ano supramencionado, o cirurgião Kurt Warnekros, de Dresden, procedeu à uma castração e pretendia finalizar o processo com criação de uma vagina artificial e com a implantação de um útero no corpo da referida Lili. Todavia, Elbe não resistiu a cirurgia e acabou falecendo, o que não inviabilizou a sua consagração como um símbolo para a comunidade transexual.12

Além do mais, as pessoas homossexuais e transgêneros começaram a lutar por seus direitos civis na Contemporaneidade, de modo específico, a fim de que pudessem ter menos interferências preconceituosas em suas orientações sexuais e identidades de gênero. Em consequência a isto, depois de inúmeras “batalhas”

travadas pelas pessoas que se identificam como LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros)13, a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 garantiu a igualdade em dignidade e direitos a todos os seres humanos, isto é, pautando-se posicionamento contrário à discriminação.

Posteriormente a isto, em 15 de dezembro de 1973, a Associação Americana de Psiquiatria realizou uma votação no tocante a retirar a “homossexualidade” da lista de doenças mentais, sendo que, em abril de 1974, esta mesma Associação aprovou com a maioria de votos a supressão da orientação sexual da lista de doenças mentais. Ato contínuo, no ano de 1990, a Organização Mundial da Saúde

12 URZAIZ, Begoña Gómez. A fascinante vida de Lili Elbe, a primeira transexual a entrar para a história. El País. 02 de janeiro de 2016. Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/02/estilo/1451748884_931165.html. Acesso em 01 de outubro de 2020.

13 Como bem se sabe, são inúmeras as siglas que servem para designar esta comunidade de pessoas, no que tange à identidade de gênero e orientação sexual, sendo que a sigla LGBT é a mais adotada entre todas e foi aprovada no Brasil em 2008, em uma Conferência Nacional para debater os direitos humanos e as políticas públicas voltadas à toda a comunidade. Diante disso, importante realizar um apanhado histórico sobre a nomenclatura para estes indivíduos, sendo que a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), criada em 1994, foi a primeira a ser utilizada como designação e símbolo de pertencimento, até cair em desuso. Destarte, a sigla passou a ser GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) até se converter em LGBT, por intermédio de debates sobre a invisibilidade das mulheres dentro da comunidade e do movimento. Posteriormente, foi inserida a letra “Q”, sendo então LGBTQ+, sob fundamento de que o inserir de Queer (Q) e o “+” serviria para incluir mais pessoas que não se identificam com os padrões de orientação sexual e identidade de gênero. Neste ponto, ressalta-se que não se ignora todas as demais siglas nesta monografia, sejam elas anteriores ou posteriores a esta, como GLS, LGBTQ, LGBTQ+, LGBTQI+, LGBTQIA+, LGBTQIAP+, dentre todas as outras. Todavia, ao longo desta monografia por inteiro, somente se fará menção à sigla LGBT, com a finalidade de uniformizar o termo neste trabalho, mesmo que respeitando todas as demais.

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(OMS) também iniciou a desconsideração do “homossexualismo”, termo este que era utilizado até a época, como doença, bem como, em 1991, a Anistia Internacional iniciou a interpretação e consideração de que a discriminação contra homossexuais é conduta violadora dos direitos humanos destes indivíduos.

Neste ponto, ressalta-se que ocorreram avanços significativos em favor das pessoas que se identificam como LGBT, haja vista que:

[antes de 1992] o Código Internacional de Doenças (CID) 302.0 classificava o homossexualismo como doença mental. Além da retirada da lista da OMS, o novo entendimento em relação à opção sexual também eliminou o sufixo

“ismo”, que remete a enfermidade. “Foi um grande avanço. No entanto, 76 países ainda criminalizam uma pessoa LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgênero), e outras cinco nações punem com a pena de morte”, observa o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), Toni Reis. Segundo relatório anual da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA), a pena de morte para o segmento é adotada no Irã, na Arábia Saudita, no Iêmen, na Nigéria, e em Uganda.14

Mais tardiamente, no dia 21 de maio de 2019, durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, fora também procedida à oficialização normativa da retirada da classificação da transexualidade como transtorno mental da 11ª versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde. Destarte, pela recente edição da CID 11, a questão de identidade de gênero não é mais relacionada à transtornos mentais, mas sim “condições relacionadas à saúde sexual”, bem como descrita por ser uma “incongruência de gênero”.15

Todavia, é impreterível explicar que a Igreja Católica Apostólica Romana ainda mantém o posicionamento de que a homossexualidade é algo a ser reprimido no contexto social. Isto porque, em 2010, o Papa Bento XVI, através de documento, recordou os posicionamentos contidos na Bíblia no tocante a isto, uma vez que foi exprimido que o julgamento da Sagrada Escritura não permite concluir que todos aqueles que sofrem dessa anomalia devem ser responsabilizados pessoalmente, mas sendo confirmado que os atos de homossexualidade são intrinsecamente

14 COUTO, Rodrigo. Há 20 anos, a OMS tirou a homossexualidade da relação de doenças mentais. Correio Braziliense. 16 de maio de 2010. Disponível em:

https://archive.is/20120730161520/http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/05/16/br asil,i=192631/HA+20+ANOS+A+OMS+TIROU+A+HOMOSSEXUALIDADE+DA+RELACAO+DE+DOE NCAS+MENTAIS.shtml#selection-727.0-731.66. Acesso em 30 de outubro de 2020.

15 TRANSEXUALIDADE não é transtorno mental, oficializa OMS. Conselho Federal de Psicologia.

22 de maio de 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/transexualidade-nao-e-transtorno-mental- oficializa-oms/. Acesso em 02 de outubro de 2020.

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desordenados e, qualquer que seja a circunstância, entende-se pela exclusão da possibilidade de aprová-los.16

Em reflexo a isto, o que se pode observar pragmaticamente no contexto social é a postura, na maioria das vezes, homofóbica e transfóbica contra as pessoas que tem relação sexual e/ou afetiva com pessoas do mesmo sexo e contra aos indivíduos que possuem identidade de gênero diferente do sexo biológico. Ora, impera-se que na atualidade há, em âmbito mundial e com sinais alarmantes, uma postura de aversão, repúdio e repulsa contra as pessoas supracitadas. Assim, importantíssimo conceituar de forma técnica, com as respectivas particularidades, o que seria a homofobia e a transfobia.

Neste ponto, segundo Daniel Borrillo17, o vocábulo “homofobia” foi inventado nos Estados Unidos, no ano de 1971, sendo que o termo em questão somente apareceu definitivamente quando redigido em um dicionário de língua francesa, no ano de 1998. Segundo o estudioso, a definição da expressão é representada pela hostilidade contra homossexuais, sejam homens ou mulheres, sendo que ainda a descreveu como:

um fenômeno complexo e variado que pode ser percebido nas piadas vulgares que ridicularizam o indivíduo efeminado, mas ela pode também assumir formas mais brutais, chegando até a vontade de extermínio, como foi o caso na Alemanha Nazista. À semelhança de qualquer forma de exclusão, a homofobia não se limita a constatar uma diferença: ela a interpreta e tira suas conclusões materiais. Assim, se o homossexual é culpado do pecado, sua condenação moral aparece como necessária;

portanto, a consequência lógica vai exigir sua "purificação pelo fogo inquisitorial': Se ele é aparentado ao criminoso, então, seu lugar natural é, na melhor das hipóteses, o ostracismo e, na pior, a pena capital, como ainda ocorre em alguns países. Considerado doente, ele é objeto da atenção dos médicos e deve submeter-se às terapias que lhe são impostas pela ciência, em particular, os eletrochoques utilizados no Ocidente até a década de 1960. Se algumas formas mais sutis de homofobia exibem certa tolerância em relação a lésbicas e gays, essa atitude ocorre mediante a condição de atribuir-Ihes uma posição marginal e silenciosa, ou seja, a de uma sexualidade considerada como inacabada ou secundária. Aceita na esfera Íntima da vida privada, a homossexualidade torna-se insuportável ao reivindicar, publicamente, sua equivalência à heterossexualidade. A homofobia é o medo de que a valorização dessa identidade seja reconhecida; ela se manifesta, entre outros aspectos, pela angústia de ver desaparecer a fronteira e a hierarquia da ordem heterossexual. Ela se exprime, na vida cotidiana, por injúrias e por insultos, mas aparece também nos textos de professores e de especialistas ou no decorrer de debates públicos. A homofobia é algo familiar e, ainda, consensual, sendo percebida

16 DOCUMENTO romano - Declaração "Persona humanà' - de 1976 sobre algumas questões de ética sexual; cf. Théo - EEncyclopédie eatholique pour tous, 1989, p. 823; cf. ALISON, 2008;

BOFFO, 2009; BENTO XVI, 2010; SCOFIELD JR., 2010.

17 BORRILLO, 2010, p. 13.

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como um fenômeno banal: quantos pais ficam inquietos ao descobrir a homofobia de um(a) filho(a) adolescente, ao passo que, simultaneamente, a homossexualidade de um(a) filho(a) continua sendo fonte de sofrimento para as famílias, levando-as, quase sempre, a consultar um psicanalista?18

Ademais, de acordo com Letícia Rodrigues Ferreira Netto, o conceito de

“transfobia”, termo este recente, o qual veio a ser incluído ao Oxford English Dictionary no ano de 2013, é:

uma forma de preconceito contra pessoas transexuais que pode se traduzir em atos de violência física, moral ou psicológica. A transfobia é uma forma de aversão às pessoas trans e se manifesta em diferentes ações de preconceitos, sejam explícitos ou velados. Esse preconceito deriva da não- aceitação da manifestação individual dessas pessoas. [...] As ações de transfobia, para além de ações de preconceitos cotidianos, como a desigualdade de tratamento e a diminuição da pessoa em questão, podem ainda se traduzir em crimes de ódio quando a pessoa ou suas propriedades são atacadas de alguma maneira.19

Frente a isto, com fundamento nos termos expendidos, é possível visualizar que estes discursos discriminatórios e a violência contra pessoas LGBT ainda é muito presente na realidade mundial, sendo inclusive fomentados pelo próprio Estado. Neste contexto, ressalta-se que um em cada três países no planeta condena a homossexualidade, ou seja, setenta países emanam entendimento de que ser homossexual ou lésbica é ilegal. Mais severamente, impreterível salientar que a Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália são países que punem a homossexualidade com a pena de morte, bem como na Mauritânia, nos Emirados Árabes Unidos, no Catar, no Paquistão e no Afeganistão, um homossexual poderá ser condenado a esta pena cruel. Substancialmente mais brando, mas não menos preocupante, existem vinte e seis outros países que atribuem outras formas de pena para atos homossexuais, inclusive a prisão perpétua, bem como trinta e dois países que realizaram e incentivaram medidas para limitar a liberdade de expressão no que toca à população LGBT, como leis de propaganda.20

Desta maneira, é indubitável que a homofobia e a transfobia enraizadas na cultura humana, além de outras formas de preconceito, são determinantes em

18 BORRILLO, 2010, p. 16.

19 NETTO, Letícia Rodrigues Ferreira. Transfobia. InfoEscola. [s.d.] Disponível em:

https://www.infoescola.com/sociologia/transfobia/. Acesso em 01 de outubro de 2020.

20 ALFAGEME, Ana. Morrer por ser gay: o mapa-múndi da homofobia. El País. 22 de março de

2019. Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/19/internacional/1553026147_774690.html. Acesso em 30 de novembro de 2020.

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muitas sociedades no barramento de que homossexuais e transgêneros possam ter o livre exercício de cidadania ou desfrutem do direito de viverem e conviverem em segurança. Todavia, é de cabal consonância a afirmação de que, aos poucos, os paradigmas estão sendo quebrados e as pessoas que são LGBT estão tendo mais acesso e mais dignidade nas comunidades e países em que vivem, haja vista a conquista de direitos que vem sendo recorrente.

2.2 DISCURSOS E CRIMES DE ÓDIO

Em virtude à estas dogmáticas preconceituosas e discriminatórias mencionadas, além de muitas outras, como o racismo e a xenofobia, é possível visualizar o fortalecimento de discursos de ódio no mundo, os quais estão arraigados pela superioridade de um determinado grupo perante outro. Para André de Carvalho Ramos, “o discurso do ódio (hate speech) consiste na manifestação de valores discriminatórios, que ferem a igualdade, ou de incitamento à discriminação, violência ou a outros atos de violação de direitos de outrem”.21

Assim, é impreterível especificar que o discurso de ódio não pode ser assegurado pela liberdade de expressão, a qual é prevista constitucionalmente no artigo 5º, inciso IV, da Carta Magna22. Isto porque este direito fundamental referido pode vir a sofrer limitações, quando utilizado em retóricas que sejam impregnadas de preconceito e ignorância, com o objetivo ou não de desfavorecer, minimizar e até mesmo marginalizar um determinado grupo social. Assim, a dignidade da pessoa humana, conjuntamente aos direitos humanos, estaria sendo ferida de forma grave se não fosse desmotivado o explicado discurso de ódio, haja vista que este preceito fundamental é:

a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres

21 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo:

Saraiva, 2015, p. 524.

22 In verbis: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;” (BRASIL. Constituição

Federal, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 de dezembro de 2020).

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fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.23

No presente caso, segundo os ensinamentos da Professora de Direito Flávia Piovesan, a homofobia e a transfobia têm por escopo a aniquilação de direitos das pessoas gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, em uma ideologia cruel de hierarquização de humanos de acordo com suas características. Contudo, para que ocorra o combate a estes discursos discriminatórios, é imperativo o fortalecimento da cultura de afirmação e promoção de direitos a estes que são alvos de preconceitos.24

Motivados por esta modalidade de discurso com raízes de segregação e marginalização, é possível analisar a origem dos chamados “crimes de ódio”, haja vista a linha tênue entre as duas modalidades de discriminação. Neste ponto, impreterível salientar que os crimes de ódio são estritamente embasados em determinado entendimento de “superioridade” de um grupo de pessoas perante outro. Em consequência a esta modalidade de pensamento, por exemplo, ocorrera o advento de grupos como a Ku Klux Klan nos Estados Unidos, cujos integrantes cometiam crimes gravíssimos, até mesmo homicídios, especialmente contra a população afro-americana. Em contexto global, pode-se ainda analisar a força do Nazismo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conjuntura em que se legitimou, na Alemanha, o sofrimento e o genocídio de judeus, bem como também a perseguição assídua a homossexuais.

Derradeiramente, foi possível analisar um panorama genérico sobre a contextualização da homossexualidade e da transexualidade, bem como os aspectos conceituais e históricos da homofobia e transfobia, no cenário da Civilização Ocidental, até a contemporaneidade. Da mesma maneira, foi possível visualizar a problemática da fomentação de discursos de ódio, tendo em vista que estes podem resultar em consequenciais crimes de ódio gravíssimos, os quais merecem significativa reprovação e repúdio.

23 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa humana e Direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 60.

24 SOUZA, Regina Cirino Alves Ferreira de. Crimes de Ódio: racismo, feminicídio e homofobia. 1ª ed.

Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018, p. 16.

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2.2 HOMOFOBIA, TRANSFOBIA E MOVIMENTO LGBT NO BRASIL

Da mesma forma que em grande parte dos países ocidentais, a homossexualidade e a transexualidade ainda são enxergadas pela sociedade brasileira como algo abjeto, devendo ser “desestimuladas” ou até mesmo

“erradicadas”. Isto porque, conforme explicado anteriormente, é forte a tradição judaico-cristã no Brasil, a qual influencia diretamente nos discursos homofóbico e transfóbico em graus variados. Desta forma, necessário fazer um apanhado genérico sobre o processo histórico brasileiro, para que se possa chegar a uma conclusão mínima sobre como a população LGBT vem sendo tratada e visualizada nacionalmente, desde os primórdios até a atualidade.

Durante os três primeiros séculos da história do Brasil, a homossexualidade era denominada e tachada como uma atitude abominável e nefando o pecado da sodomia, bem como crime equiparado ao regicídio e à traição nacional, com pena de igual rigor. Ademais, salienta-se que a relação homoafetiva e/ou qualquer conduta homossexual eram consideradas como antissociais e que ofereciam ameaça significativa ao meio social, razão pela qual eram mais censuradas que o estupro, violência contra menores, canibalismo e matricídio. Destarte, por durante todo este período supracitado, os homens gays de outrora, alcunhados como “fanchonos”, foram oprimidos e sofreram intolerância crítica pelo Rei, do Bispo e da Santa Inquisição.25

Segundo os ensinamentos do escritor e jornalista João Silvério Trevisan, ao longo do século XIX, a abordagem que se dava às pessoas que eram classificadas como desviantes era similar ao da Europa. Diante disso, a medicina foi a pioneira em realizar pesquisas científicas sobre as intituladas “perversões sexuais”, incluindo a homossexualidade, sendo que os magistrados de Direito Penal alertavam sobre esta situação, com fundamento em estudos psiquiátricos.26 Até mesmo porque a psiquiatria da época relacionava a homossexualidade a uma inversão congênita ou psíquica, isto é, também como fator categorizador da identidade.27 Entretanto, mesmo com a extrema falta de informação, fora promulgado o Código Penal do

25 MOTT, Luis. Homo-afetividade e Direitos Humanos. Florianópolis: Revista Estudos Feministas, 2006, p. 511-512. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ref/v14n2/a11v14n2.pdf. Acesso em 02 de outubro de 2020.

26 TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia á atualidade. Ed. revisada e ampliada. 7ª. Ed. Rio de Janeiro: Recorde, 2007, p. 177-184.

27 Ibid., p. 179.

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Império em 1830, conjuntura em que a categorizada “sodomia” deixou de ser considerada um crime no Brasil.

Em contrapartida, ainda era visualizada uma significativa repressão aos indivíduos LGBT, haja vista os preconceitos internalizados e muitas vezes externalizados no contexto social brasileiro. Destarte, de total relevância demarcar que o movimento em defesa dos direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais iniciou sua trajetória durante a vigência do Regime Militar, funcionando como uma forma de resistência à ideologia conservadora majoritária à época.28 Ato decorrente, no ano de 1978, fora criado o grupo Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, na cidade de São Paulo, o que veio a ser reconhecido pela historiografia como marco fundador da militância gay no país, uma vez que buscava uma maior visibilidade aos direitos dos indivíduos LGBT.

Neste ponto, ressalta-se a sistemática do jornalismo em vincular a epidemia do vírus HIV/AIDS com a homossexualidade, o que demonstra o preconceito enraizado nas demarcações do país:

A nota de conjuntura 'Sobre a (homo)sexualidade nos meios de comunicação (1980-2010)', de Alexandre Sebastião Ferrari Soares, trata do lugar do jornalismo, especialmente, como instância semantizadora das identidades homossexuais em suas conexões com a epidemia de HIV/aids.

Entre continuidades e descontinuidades, os discursos sobre o vínculo entre a doença e a homossexualidade contam, recorrentemente, com aspectos implícitos, pré-construídos por meio de elementos citados e relatados, em remissões e retomadas. Esse processo reforça ideologias, representações e posições de sujeitos, mas, como bem mostra Soares, faz parte de um processo de movimentos de luta e contestação. No texto, o pesquisador aborda a relação entre a homossexualidade e a imprensa no Brasil, levando em consideração as conclusões que um analista do discurso pode oferecer para a sociedade, ao repensar a memória de sentidos causados pelas palavras ‘homossexualismo’ e ‘homossexualidade’, e já anunciando que as noções de produção e sentidos da memória se tornam indispensáveis para a construção e significação das identidades.29

Em resistência a isto, os primeiros passos do recentemente intitulado

“Movimento LGBT” buscavam uma visibilidade a ser compreendida como um dos elementos fundamentais para a conquista da cidadania, tendo em vista que os

“grupos militantes passam a defender que os direitos políticos, sociais e civis só se tornam legítimos socialmente para os cidadãos quando são perpassadas pelo direito

28 GREEN, J.; QUINALHA, R. (org.). Ditadura e homossexualidades: repressão, resistência e busca pela verdade. São Carlos: Edufscar; 2014.

29 FERREIRA, Vinícius; SACRAMENTO, Igor. Movimento LGBT no Brasil: violências, memórias e lutas. Fiocruz, 2019, p. 235-236.

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à comunicação”30. Inclusive, em seu primeiro ato público, o grupo Somos, cujo se chamava “Núcleo de Ação pelos Direitos dos Homossexuais” na época, enviou uma carta em sinal de protesto ao sindicato dos jornalistas em que se criticava a maneira de a imprensa tratar os homossexuais.31 Em virtude a este estopim, desenrolaram- se inúmeros outros grupos ligados ao movimento homossexual no Brasil, os quais possuíam pautas diversificadas.

Tendo em vista as incessantes lutas políticas da população LGBT brasileira ao longo do tempo, ocorreram inúmeros avanços significativos, cujos tiveram impacto direto na guarida desta. Neste momento, refere-se notavelmente às posições do Conselho Federal de Medicina (CFM) em 1985, o qual retirou a homossexualidade do rol de patologias, e do Conselho Federal de Psicologia (CFP) no ano de 1999, conjuntura em que foi estabelecido que os psicólogos deverão atuar de método a não discriminar, bem como contribuir para uma reflexão sobre o preconceito e não exercendo qualquer ação que favoreça à patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, dentre outras exigências éticas.32

Também, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 13233, ocasião em que reconheceram a união estável para casais homoafetivos. Nesta conjuntura, os ministros da Corte entenderam pela procedência das ações e com efeito vinculante, no sentido de firmar o entendimento conforme a Constituição Federal de 1988, excluindo assim qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que anteparasse o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Consonantemente e com fundamento na decisão judicial, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a

30 FERREIRA; SACRAMENTO, 2019, p. 236.

31 MACRAE, Edward. A construção da igualdade: política e identidade homossexual no Brasil da

“abertura”. Salvador: EDUFBA; 2018.

32 BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFP nº 001/99, de 22 de março de 1999.

Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual.

Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf. Acesso em 30 de abril de 2021.

33 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, rel. Min. Ayres Britto, j. em 05.05.2011. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20111018-02.pdf. Acesso em 30 de abril de 2021.

(28)

Resolução nº 175/2013, circunstância em que obrigava os cartórios a realizarem casamento entre casais de pessoas do mesmo sexo. 34

Igualmente, é imperioso salientar a Resolução nº 01/2018 do Conselho Federal de Psicologia35, a qual proibiu os psicólogos de tratarem a transexualidade como doença ou anomalia, devendo os profissionais da área contribuir para a eliminação da transfobia e demais formas de preconceito. Da mesma forma, o Decreto nº 9.278/201836 sancionado pelo ex-presidente da República Michel Temer, permitiu às pessoas transgêneros que pudessem ter seus nomes sociais abrangidos na Carteira de Identidade sem grandes burocracias, mesmo que com os nomes de registro ainda redigidos no documento. Reafirmando tal posicionamento, o Supremo Tribunal Federal, no dia 01 de março do mesmo ano, julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.275, ocasião em que a maioria dos ministros entendeu pela possibilidade de pessoas transexuais alterarem o nome e o gênero no registro civil sem a necessidade de decisão judicial neste sentido ou cirurgia de redesignação sexual, com fundamento nos preceitos e princípios constitucionais vigentes no território brasileiro.37

Contudo, mesmo que tenham ocorrido avanços para o reconhecimento dos direitos dos indivíduos homossexuais e transgêneros, o que se visualiza pragmaticamente ainda é muito preocupante. Isto porque:

O Brasil registrou 141 mortes de pessoas LGBT de janeiro a 15 de maio deste ano [2019], segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgado nesta sexta-feira (17). Segundo a entidade, foram 126 homicídios e 15 suicídios, o que representa a média de uma morte a cada 23 horas. O

34 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução CNJ nº 175, de 14 de maio de 2013. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento,

entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em:

https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_175_14052013_16052013105518.pdf. Acesso em 30 de abril de 2021.

35 BRASIL. Conselho Federal de Psicologia. Resolução CFP nº 01/2018, de 29 de janeiro de 2018.

Estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp- content/uploads/2018/01/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-01-2018.pdf. Acesso em 30 de abril de 2021.

36 BRASIL. Decreto nº 9.278/2018, de 05 de fevereiro de 2018. Regulamenta a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, que assegura validade nacional às Carteiras de Identidade e regula sua expedição. Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/decreto/D9278.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%209.278%2C%20DE%205,Identid ade%20e%20regula%20sua%20expedi%C3%A7%C3%A3o. Acesso em 30 de abril de 2021.

37 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.275, rel. Min.

Marco Aurélio, j. em 01.03.2018. Disponível em:

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=749297200. Acesso em 30 de abril de 2021.

(29)

número representa uma queda de 8% em comparação ao mesmo período de 2018, quando foram registradas 153 mortes (111 homicídios e 42 suicídios). Apesar de uma queda do número geral, houve um aumento de 14% do número de homicídios, de 111 para 126. [...] Os casos levantados são como o de Larissa Rodrigues da Silva, uma transexual de 21 anos que foi morta a pauladas no dia 4 deste mês em um bairro nobre de São Paulo.

Um homem foi preso suspeito do homicídio.38

Bem como foi divulgado relatório em que é apontado o Brasil como o país que continua sendo o que mais mata travestis e transexuais no mundo, bem como passou da posição 55º de 2018 para 68º em 2019 no ranking de países seguros para a população LGBT. Ainda, noticiou-se que, no ano de 2019, foram confirmadas informações de 124 homicídios de pessoas transgênero, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e três homens trans.39 Isto posto, é possível visualizar que o Brasil continua sendo um país perigoso para estes indivíduos, haja vista a quantia exacerbada de crimes graves contra as pessoas LGBT, incentivada pelos discursos homofóbico e transfóbico no país.

38 SOUSA, Viviane; ARCOVERDE, Léo. Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 horas, aponta entidade LGBT. G1 e Globonews. 17 de maio de 2019. Disponível em:

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/17/brasil-registra-uma-morte-por-homofobia-a- cada-23-horas-aponta-entidade-lgbt.ghtml. Acesso em 05 de outubro de 2020.

39 PUTTI, Alexandre. São Paulo é o estado que mais mata pessoas trans no Brasil, mostra relatório. Carta Capital. 29 de janeiro de 2020. Disponível em:

https://www.cartacapital.com.br/diversidade/sao-paulo-e-o-estado-que-mais-mata-pessoas-trans-no- brasil-mostra-relatorio/. Acesso em 05 de outubro de 2020.

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3 CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA E DA TRANSFOBIA

3.1 ADO 26 E MI 4733

Tendo em vista a evidente situação degradante a qual as pessoas que se identificam como integrantes da comunidade LGBT são submetidas e a não proteção específica e individualizada dos indivíduos alvos de crimes por razões estritamente ligadas ao preconceito contra a identidade de gênero e contra a orientação sexual, foi proposta a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26. Esta ADO 26 fora proposta pelo Partido Popular Socialista – PPS no ano de 2013, a fim de que fosse obtida a criminalização específica de formas de homofobia e transfobia, principalmente as que se expressassem por ofensas, homicídios, agressões e discriminações.

De forma mais prática, na oportunidade em que o remédio constitucional fora ajuizado, o proponente requereu que fosse declarada a omissão do Congresso Nacional por não ter votado projeto legislativo que criminalizaria ações homotransfóbicas. Também, a propositura visava a finalidade de imposição ao Poder Legislativo no que toca a necessidade de elaborar uma lei penal que punisse atos relacionados a homofobia e a transfobia como se fossem espécies de racismo.

Nesta conjuntura, fora afirmado que:

Racismo é toda ideologia que pregue a superioridade/inferioridade de um grupo relativamente a outro e a homofobia e a transfobia – espécies de racismo - implicam necessariamente na inferiorização da população LGBT relativamente a pessoas heterossexuais cisgêneras (que se identificam com o próprio gênero).40

De acordo com o Partido, a criminalização específica é decorrente de ordem constitucional no que toca a legislar sobre o racismo, crime este que é previsto inciso XLII, do artigo 5º, da Constituição Federal, ou ainda, em caráter subsidiário, às discriminações que atentam a direitos e liberdades fundamentais, previstas no artigo

40 PPS pede declaração de omissão do Congresso por não votar projeto sobre homofobia.

Notícias STF, 23 de dezembro de 2013. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=256721. Acesso em 30 de novembro de 2020.

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