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2 HOMOFOBIA E TRANSFOBIA

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO E DEFINIÇÕES

Primordialmente, antes de adentrar qualquer matéria no presente trabalho, é de substancial relevância o entendimento e as noções básicas do que seriam os termos “homossexualidade” e “transexualidade”1 em questão. Assim, de acordo com o médico e escritor Drauzio Varella, é possível inferir que a homossexualidade é gestação, a qual não coincide com o sexo biológico.3 Isto é, as pessoas transexuais

“são indivíduos que, na sua forma particular de estar e/ou de agir, ultrapassam as fronteiras de gênero esperadas/construídas culturalmente para um e para outro sexo”.4

Em análise disto, embora muitas vezes a homossexualidade e a transexualidade sejam conceitos e características humanas confundidas pelas massas e por pessoas que não tiveram contato com os estudos acerca disto, é possível inferir que se tratam de coisas diferentes. Neste ponto, destaca-se que a homossexualidade, bem como a heterossexualidade e a bissexualidade, é a orientação sexual do indivíduo, isto é, por quem ele se sente atraído ou envolvido, tanto afetiva, quanto sexualmente. Doutra perspectiva, a transexualidade é tangente

1 Como bem se sabe, há muitas formas de se referir às pessoas que têm determinado sexo biológico, mas não se identificam com o próprio corpo. No decorrer deste trabalho, serão mencionados os termos “transgênero”, “transexuais”, “transexualidade”, “transgeneridade” e “travestis”. Desta forma, ressalta-se que todas as referidas concepções são relacionadas a estes indivíduos que não se https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/homossexualidade-dna-e-a-ignorancia-artigo/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

3 HONORATO, Ludimila. Transexualidade é biológico, e família não deve sentir culpa. Estadão.

29 de janeiro de 2018. Disponível em:

https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,transexualidade-e-biologico-e-familia-nao-deve-sentir-culpa,70002166336. Acesso em 29 de setembro de 2020.

4 SILVA JÚNIOR, Enézio de Deus. Diversidade sexual e suas nomenclaturas. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Diversidade sexual e direito homoafetivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

p. 98.

à identidade de gênero, qual seja como a pessoa se sente com relação a ela mesma e como ela se identifica no convívio social. Pragmaticamente, uma pessoa transgênero pode ser aquela que nasce com o sexo masculino, mas acaba se identificando como uma pessoa do gênero feminino, ou com outros gêneros além do entendimento de homem ou mulher. No que toca aos indivíduos que nascem atribuídos a um sexo e se identificam neste mesmo gênero ao qual foram designados, estes são denominados como cisgêneros.

Desta maneira, tendo em vista ambos os posicionamentos adotados pelos estudiosos supracitados, a homossexualidade e a transexualidade não são questões influenciadas pelo meio ou de preferência dos indivíduos, uma vez que devem ser vislumbradas todas as suas razões biológicas intrínsecas. Neste ponto, é imperioso destacar que ocorreram no mundo diferentes critérios no modo de visualizar a homossexualidade no meio social, haja vista que os contextos histórico e espacial das sociedades impactaram significativamente sobre isto. Isto é, nota-se que, de acordo com o momento da história juntamente com análises do povo ou nação em questão, os costumes e tradições eram diversificados, o que acabava por influir na maneira de enxergar a homossexualidade e a transexualidade no mundo.

Pragmaticamente, na Roma Antiga, era culturalmente análoga ao fato de duas pessoas de sexos diferentes terem relacionamentos, a casuística de um homem amar outro homem, mesmo que não se evidenciando uma situação de tolerância, mas sim de não vislumbrar isto como uma problemática. Todavia, neste contexto, a homossexualidade passiva causava repulsa nos indivíduos inseridos nesta sociedade, haja vista que estariam se dando como servos para o prazer sexual de outrem, qual seja o homossexual ativo.5 Isto posto, entendeu-se que o que desqualificava a homossexualidade era o fato de um dos homens que tinham relações sexuais com alguém do mesmo sexo fosse caracterizado como efeminado, ou seja, sem a sua virilidade masculina, isto relacionado ao contexto machista da época. De pronto, vislumbra-se o entendimento acessório de que a sociedade antiga romana repudiava a eventual transexualidade, haja vista a conjuntura de que uma pessoa do sexo biológico masculino, por exemplo, “renunciaria” a sua masculinidade por se identificar com o gênero feminino.

5 VEYNE, Paul. A homossexualidade em Roma: reflexões sobre a história da homossexualidade.

In: ARIÈS, Philipe e BÉNJIN, André (orgs.). Sexualidades Ocidentais. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. p. 43.

Em relação à Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas, as relações sexuais entre homens não eram encaradas como algo incomum, sendo que inclusive eles podiam ser casados. Entretanto, assim como na sociedade romana,

“havia no contexto do sexo homossexual (e também no do heterossexual, é bom que se diga) certas condutas que poderiam prejudicar o status do cidadão, como exercer o papel de passivo na relação – algo não bem aceito para homens livres”6, isto de acordo com Renato Pinto, pesquisador da USP. Destarte, é possível concluir pelos estudos que não era tolerada a conduta submissa, independentemente se era homossexual ou heterossexual.7

Ato conseguinte, com o advento da influência rígida do Cristianismo no Império Romano, iniciou-se o empenho de uma repressão significativa às relações de pessoas do mesmo sexo, à luz de que a heterossexualidade e a monogamia eram diretamente relacionadas à natureza e moralidade. Em decorrência a isso, o Imperador Teodósio I, no ano de 390, tornou imperativa a condenação à fogueira dos homossexuais que tivessem atitudes passivas sexualmente. Isto porque o machismo vigorante neste momento era extremamente alicerçado na sociedade, sendo que os comportamentos associados à feminilidade esboçavam um perigo para o poderio e a força de Roma. A fim de fundamentar tal decisão, o Imperador buscou embasamento teórico no Antigo Testamento da Bíblia, conjuntura em que a homossexualidade foi citada no Livro em questão por diversas vezes como reprovável, como por exemplo na história de Sodoma e Gomorra e nos ensinamentos contidos do livro Levítico.8

Desta maneira, com o passar dos séculos, a tradição judaico-cristã começou a exercer mais domínio sobre a cultura e os dogmas das sociedades, conjuntura em que, na Idade Média, esboçava-se o Cristianismo como um dos pilares de estruturação de poder sobre a coletividade. Assim, começou-se a impor inúmeras proibições e obrigações rígidas pelo clero, sendo que algumas destas eram relacionadas à sexualidade e à intimidade das pessoas. Isto porque as relações

6 EXISTIA homofobia na Grécia Antiga? Superinteressante. 04 de julho de 2016. Disponível em:

https://super.abril.com.br/blog/oraculo/existia-homofobia-na-grecia-antiga/. Acesso em 30 de setembro de 2020.

7 Ibidem.

8 BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. [tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira] – 1ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 48.

sexuais, neste contexto, eram interpretadas de forma pragmática com a finalidade única de reprodução, ou seja, o prazer sexual era algo reprimido e imerso em tabus.9

Neste momento histórico, salienta-se que foram estabelecidas penas e punições graves às pessoas que tinham comportamento homossexual, haja vista que a Santa Inquisição as condenava com a morte na fogueira, afogamentos e enforcamentos. Ademais, com a chegada da Peste Bubônica, a repressão aos homossexuais iniciou uma fase ainda mais agressiva, uma vez que era entendido, à época, que a perseguição frenética a estas pessoas realizaria uma espécie de purificação ao indivíduo e o banimento desta orientação sexual no meio social. 10

Com a chegada das Idades Moderna e Contemporânea, ao longo dos séculos XVIII e XIX, os homossexuais eram considerados indivíduos anormais e com anomalias físicas, qual seja a efeminação. Desta maneira, o que pôde se observar foi um processo de categorizar o comportamento homossexual como uma patologia que acometia às pessoas, isto porque a medicina da época era imersa de valores clericais, cujos vinham abarcados no fenômeno social. Observa-se que de uma perspectiva, mesmo que definindo os homossexuais como doentes mentais, foi possível afirmar a existência destes indivíduos, em contrapartida à insistente negativa constante do período medieval.

No mesmo sentido, sobressaia-se que o sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, no início do século XX, usou do termo “transvestite” para os indivíduos que se vestiam com roupas características do sexo oposto, geralmente com o interesse sexual. Também, o sexólogo alemão, radicado nos Estados Unidos, Harry Benjamin inventou o termo “transexual” no ano de 1966, conjuntura em que cunhou procedimentos clínicos para a identificação e atendimento deste público alvo. Isto porque a transexualidade era encarada na época, por psicanalistas, também com um perfil patológico, qual seja, uma forma de psicose, a qual teria, ao menos em tese, uma “cura” por procedimentos cirúrgicos.11

9 JERONIMO, Melissa. O lugar da homossexualidade hoje: Fundamentos históricos. São Paulo, 1997, 58p. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, p. 25.

10 BORRILLO, 2010, p. 54.

11 DE JESUS, Jaqueline Gomes. Notas sobre as travessias da população trans na história.

Revista Cult. 12 de junho de 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/uma-nova-

pauta-politica/#:~:text=Radicado%20nos%20Estados%20Unidos%2C%20o,de%20%E2%80%9Cpadr%C3%

B5es%20de%20cuidado%E2%80%9D. Acesso em 01 de outubro de 2020.

Contudo, no começo do século XX, mais precisamente em 1933, Lili Elbe, um símbolo da luta transexual no mundo, haja vista ser uma pessoa transgênero, submeteu-se ao primeiro, ao menos registrado, procedimento cirúrgico de redesignação sexual no mundo. Nesta circunstância, no ano supramencionado, o cirurgião Kurt Warnekros, de Dresden, procedeu à uma castração e pretendia finalizar o processo com criação de uma vagina artificial e com a implantação de um útero no corpo da referida Lili. Todavia, Elbe não resistiu a cirurgia e acabou falecendo, o que não inviabilizou a sua consagração como um símbolo para a comunidade transexual.12

Além do mais, as pessoas homossexuais e transgêneros começaram a lutar por seus direitos civis na Contemporaneidade, de modo específico, a fim de que pudessem ter menos interferências preconceituosas em suas orientações sexuais e identidades de gênero. Em consequência a isto, depois de inúmeras “batalhas”

travadas pelas pessoas que se identificam como LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros)13, a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 garantiu a igualdade em dignidade e direitos a todos os seres humanos, isto é, pautando-se posicionamento contrário à discriminação.

Posteriormente a isto, em 15 de dezembro de 1973, a Associação Americana de Psiquiatria realizou uma votação no tocante a retirar a “homossexualidade” da lista de doenças mentais, sendo que, em abril de 1974, esta mesma Associação aprovou com a maioria de votos a supressão da orientação sexual da lista de doenças mentais. Ato contínuo, no ano de 1990, a Organização Mundial da Saúde

12 URZAIZ, Begoña Gómez. A fascinante vida de Lili Elbe, a primeira transexual a entrar para a história. El País. 02 de janeiro de 2016. Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/02/estilo/1451748884_931165.html. Acesso em 01 de outubro de 2020.

13 Como bem se sabe, são inúmeras as siglas que servem para designar esta comunidade de pessoas, no que tange à identidade de gênero e orientação sexual, sendo que a sigla LGBT é a mais adotada entre todas e foi aprovada no Brasil em 2008, em uma Conferência Nacional para debater os direitos humanos e as políticas públicas voltadas à toda a comunidade. Diante disso, importante realizar um apanhado histórico sobre a nomenclatura para estes indivíduos, sendo que a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), criada em 1994, foi a primeira a ser utilizada como designação e símbolo de pertencimento, até cair em desuso. Destarte, a sigla passou a ser GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) até se converter em LGBT, por intermédio de debates sobre a invisibilidade das mulheres dentro da comunidade e do movimento. Posteriormente, foi inserida a letra “Q”, sendo então LGBTQ+, sob fundamento de que o inserir de Queer (Q) e o “+” serviria para incluir mais pessoas que não se identificam com os padrões de orientação sexual e identidade de gênero. Neste ponto, ressalta-se que não se ignora todas as demais siglas nesta monografia, sejam elas anteriores ou posteriores a esta, como GLS, LGBTQ, LGBTQ+, LGBTQI+, LGBTQIA+, LGBTQIAP+, dentre todas as outras. Todavia, ao longo desta monografia por inteiro, somente se fará menção à sigla LGBT, com a finalidade de uniformizar o termo neste trabalho, mesmo que respeitando todas as demais.

(OMS) também iniciou a desconsideração do “homossexualismo”, termo este que era utilizado até a época, como doença, bem como, em 1991, a Anistia Internacional iniciou a interpretação e consideração de que a discriminação contra homossexuais é conduta violadora dos direitos humanos destes indivíduos.

Neste ponto, ressalta-se que ocorreram avanços significativos em favor das pessoas que se identificam como LGBT, haja vista que:

[antes de 1992] o Código Internacional de Doenças (CID) 302.0 classificava o homossexualismo como doença mental. Além da retirada da lista da OMS, o novo entendimento em relação à opção sexual também eliminou o sufixo

“ismo”, que remete a enfermidade. “Foi um grande avanço. No entanto, 76 países ainda criminalizam uma pessoa LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgênero), e outras cinco nações punem com a pena de morte”, observa o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), Toni Reis. Segundo relatório anual da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA), a pena de morte para o segmento é adotada no Irã, na Arábia Saudita, no Iêmen, na Nigéria, e em Uganda.14

Mais tardiamente, no dia 21 de maio de 2019, durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, fora também procedida à oficialização normativa da retirada da classificação da transexualidade como transtorno mental da 11ª versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde. Destarte, pela recente edição da CID 11, a questão de identidade de gênero não é mais relacionada à transtornos mentais, mas sim “condições relacionadas à saúde sexual”, bem como descrita por ser uma “incongruência de gênero”.15

Todavia, é impreterível explicar que a Igreja Católica Apostólica Romana ainda mantém o posicionamento de que a homossexualidade é algo a ser reprimido no contexto social. Isto porque, em 2010, o Papa Bento XVI, através de documento, recordou os posicionamentos contidos na Bíblia no tocante a isto, uma vez que foi exprimido que o julgamento da Sagrada Escritura não permite concluir que todos aqueles que sofrem dessa anomalia devem ser responsabilizados pessoalmente, mas sendo confirmado que os atos de homossexualidade são intrinsecamente

14 COUTO, Rodrigo. Há 20 anos, a OMS tirou a homossexualidade da relação de doenças mentais. Correio Braziliense. 16 de maio de 2010. Disponível em:

https://archive.is/20120730161520/http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/05/16/br asil,i=192631/HA+20+ANOS+A+OMS+TIROU+A+HOMOSSEXUALIDADE+DA+RELACAO+DE+DOE NCAS+MENTAIS.shtml#selection-727.0-731.66. Acesso em 30 de outubro de 2020.

15 TRANSEXUALIDADE não é transtorno mental, oficializa OMS. Conselho Federal de Psicologia.

22 de maio de 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/transexualidade-nao-e-transtorno-mental-oficializa-oms/. Acesso em 02 de outubro de 2020.

desordenados e, qualquer que seja a circunstância, entende-se pela exclusão da possibilidade de aprová-los.16

Em reflexo a isto, o que se pode observar pragmaticamente no contexto social é a postura, na maioria das vezes, homofóbica e transfóbica contra as pessoas que tem relação sexual e/ou afetiva com pessoas do mesmo sexo e contra aos indivíduos que possuem identidade de gênero diferente do sexo biológico. Ora, impera-se que na atualidade há, em âmbito mundial e com sinais alarmantes, uma postura de aversão, repúdio e repulsa contra as pessoas supracitadas. Assim, importantíssimo conceituar de forma técnica, com as respectivas particularidades, o que seria a homofobia e a transfobia.

Neste ponto, segundo Daniel Borrillo17, o vocábulo “homofobia” foi inventado nos Estados Unidos, no ano de 1971, sendo que o termo em questão somente apareceu definitivamente quando redigido em um dicionário de língua francesa, no ano de 1998. Segundo o estudioso, a definição da expressão é representada pela hostilidade contra homossexuais, sejam homens ou mulheres, sendo que ainda a descreveu como:

um fenômeno complexo e variado que pode ser percebido nas piadas vulgares que ridicularizam o indivíduo efeminado, mas ela pode também assumir formas mais brutais, chegando até a vontade de extermínio, como foi o caso na Alemanha Nazista. À semelhança de qualquer forma de atenção dos médicos e deve submeter-se às terapias que lhe são impostas pela ciência, em particular, os eletrochoques utilizados no Ocidente até a década de 1960. Se algumas formas mais sutis de homofobia exibem certa tolerância em relação a lésbicas e gays, essa atitude ocorre mediante a condição de atribuir-Ihes uma posição marginal e silenciosa, ou seja, a de uma sexualidade considerada como inacabada ou secundária. Aceita na esfera Íntima da vida privada, a homossexualidade torna-se insuportável ao reivindicar, publicamente, sua equivalência à heterossexualidade. A homofobia é o medo de que a valorização dessa identidade seja reconhecida; ela se manifesta, entre outros aspectos, pela angústia de ver desaparecer a fronteira e a hierarquia da ordem heterossexual. Ela se exprime, na vida cotidiana, por injúrias e por insultos, mas aparece também nos textos de professores e de especialistas ou no decorrer de debates públicos. A homofobia é algo familiar e, ainda, consensual, sendo percebida

16 DOCUMENTO romano - Declaração "Persona humanà' - de 1976 sobre algumas questões de ética sexual; cf. Théo - EEncyclopédie eatholique pour tous, 1989, p. 823; cf. ALISON, 2008;

BOFFO, 2009; BENTO XVI, 2010; SCOFIELD JR., 2010.

17 BORRILLO, 2010, p. 13.

como um fenômeno banal: quantos pais ficam inquietos ao descobrir a homofobia de um(a) filho(a) adolescente, ao passo que, simultaneamente, a homossexualidade de um(a) filho(a) continua sendo fonte de sofrimento para as famílias, levando-as, quase sempre, a consultar um psicanalista?18

Ademais, de acordo com Letícia Rodrigues Ferreira Netto, o conceito de

“transfobia”, termo este recente, o qual veio a ser incluído ao Oxford English Dictionary no ano de 2013, é:

uma forma de preconceito contra pessoas transexuais que pode se traduzir em atos de violência física, moral ou psicológica. A transfobia é uma forma de aversão às pessoas trans e se manifesta em diferentes ações de preconceitos, sejam explícitos ou velados. Esse preconceito deriva da não-aceitação da manifestação individual dessas pessoas. [...] As ações de transfobia, para além de ações de preconceitos cotidianos, como a desigualdade de tratamento e a diminuição da pessoa em questão, podem ainda se traduzir em crimes de ódio quando a pessoa ou suas propriedades são atacadas de alguma maneira.19

Frente a isto, com fundamento nos termos expendidos, é possível visualizar que estes discursos discriminatórios e a violência contra pessoas LGBT ainda é muito presente na realidade mundial, sendo inclusive fomentados pelo próprio Estado. Neste contexto, ressalta-se que um em cada três países no planeta condena a homossexualidade, ou seja, setenta países emanam entendimento de que ser preocupante, existem vinte e seis outros países que atribuem outras formas de pena para atos homossexuais, inclusive a prisão perpétua, bem como trinta e dois países que realizaram e incentivaram medidas para limitar a liberdade de expressão no que toca à população LGBT, como leis de propaganda.20

Desta maneira, é indubitável que a homofobia e a transfobia enraizadas na cultura humana, além de outras formas de preconceito, são determinantes em

18 BORRILLO, 2010, p. 16.

19 NETTO, Letícia Rodrigues Ferreira. Transfobia. InfoEscola. [s.d.] Disponível em:

https://www.infoescola.com/sociologia/transfobia/. Acesso em 01 de outubro de 2020.

20 ALFAGEME, Ana. Morrer por ser gay: o mapa-múndi da homofobia. El País. 22 de março de

2019. Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/19/internacional/1553026147_774690.html. Acesso em 30 de novembro de 2020.

muitas sociedades no barramento de que homossexuais e transgêneros possam ter o livre exercício de cidadania ou desfrutem do direito de viverem e conviverem em segurança. Todavia, é de cabal consonância a afirmação de que, aos poucos, os paradigmas estão sendo quebrados e as pessoas que são LGBT estão tendo mais acesso e mais dignidade nas comunidades e países em que vivem, haja vista a conquista de direitos que vem sendo recorrente.