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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS NATURAIS E TECNOLÓGICAS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TANGARÁ DA SERRA DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM JUCÉLIA OLIVEIRA GUEDES GONÇALVES

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Academic year: 2019

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS NATURAIS E TECNOLÓGICAS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TANGARÁ DA SERRA

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

JUCÉLIA OLIVEIRA GUEDES GONÇALVES

CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: UM OLHAR PARA O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

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CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: UM OLHAR PARA O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem

Orientador: Professor Me. José Pereira Filho.

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CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: UM OLHAR PARA O PROFISSSIONAL DE ENFERMAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. José Pereira Filho - UNEMAT- Campus de Tangará da Serra

______________________________________________________________________ Profª. Me. Marinês da Rosa - UNEMAT- Campus de Tangará da Serra

______________________________________________________________________ Profª. Enfermeira Grazielle Gomes Faria- Campus de Tangará da Serra

Conceito:________________________________________________________

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A enfermagem é conhecida como a “arte de cuidar”, mais do que isso, é “arte” e “ciência” que tem por escopo zelar pelo outro, visando atender todas suas necessidades. Esse cuidado pode ser individual, na família ou em comunidade, olhando para o ser humano de forma integral, visando desenvolver atividades que busquem a proteção, promoção, prevenção e recuperação da saúde. Esta pesquisa tem como preocupação verificar se o Poder Público Municipal, particularmente a Secretaria Municipal de saúde, desenvolve programas voltados a cuidar da saúde física e mental dos profissionais da enfermagem que atuam na Unidade Mista de Saúde – UMS de Tangará da Serra. Objetiva também levantar dados e informações que possam subsidiar uma política de promoção de melhor qualidade de vida à esses profissionais. Nesse sentido o olhar desta pesquisa está voltado para os cuidados dispensados ao “cuidador”, preocupando-se que este esteja bem em todos os aspectos físicos e emocionais para desempenhar bem sua função profissional, inclusive. Busca ainda identificar como tem sido tratada a saúde física e mental do profissional da enfermagem durante sua formação acadêmica pelas instituições formativas, durante sua prática profissional pelos órgãos contratantes e também revelar através das falas dos sujeitos pesquisados as preocupações tidas pelos próprios profissionais da enfermagem sobre a sua própria saúde.

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Nursing is known as the "art of caring," more than that, it's "art" and "science" which seeks to ensure the other, to meet all your needs. This care may be individual, family and community, looking for humans in full in order to develop activities that seek the protection, promotion, prevention and rehabilitation of health. This research is concerned verify that the municipal government, particularly the Municipal Department of Health develops programs designed to care for the physical and mental health of nursing professionals working in the Joint Health Unit - UMS of Tangara da Serra. Also aims to identify data and information that can support politics of promoting better quality of life for these professionals. In this sense the look of this research is focused on providing care to the caretaker, worrying that this is well in all aspects of physical and emotional to perform his professional function, inclusive. Also identifies as has been treated for mental and physical health of professional nursing during their academic training institutions, during their professional pratic by Contracting agencies and also reveal through the words of the study subjects taken by the concerns of own professional nursing about their own health.

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INTRODUÇÃO ... 10

1 CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: DA DIMENSÃO TEÓRICA À REALIDADE PRÁTICA... 13

1.1 UMA ABORDAGEM TEÓRICA: O TRABALHO, TRABALHADOR DA ENFERMAGEM, SAÚDE, QUALIDADE DE VIDA E O CUIDADO ... 13

1.1.1 Leis e Normas Regulamentadoras ... 21

1.2 UMA ABORDAGEM PRÁTICA: CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE MISTA DE SAÚDE .. 22

1.3 CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: UMA ABORDAGEM QUALITATIVA ... 24

1.3.1 Saúde ... 25

1.3.2 Jornada de trabalho... 25

1.3.3 TrabalhoversusQualidade de vida ... 26

1.3.4 Formação “adequada”... 28

1.3.5 Atitudes práticas... 31

1.3.6 Satisfação no trabalho. Expectativas de mudança. ... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 41

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos surgiram muitas discussões sobre a qualidade de vida e o trabalho, visando o bem estar do ser humano como homem e como trabalhador. Sendo assim o trabalho em enfermagem faz parte desta discussão no que se refere a sua qualidade de vida e os aspectos envolvidos nesse processo, como em qualquer outra área do conhecimento.

A presente pesquisa tem como enfoque a saúde do trabalhador da enfermagem, pois, ressalvadas suas devidas proporções, trata-se do cuidado com quem cuida. Nesta perspectiva a saúde dos profissionais da enfermagem merece uma atenção especial, pois necessitam estar bem com sua saúde física e mental para que possam exercer sua função de forma humanizada e satisfatória.

Os motivos que levaram a abordagem dessa temática surgiram durante a vivência acadêmica, nos campos de estágio, percebendo que grande parte dos profissionais da enfermagem, possuem jornada dupla de trabalho, não têm tempo para se dedicar a si mesmos, além de enfrentarem inúmeras situações estressantes.

Os profissionais da enfermagem possuem um trabalho diferenciado dos demais, pois lidam com pessoas na sua maioria, fragilizadas pela doença, inseguras e nervosas quanto a sua condição, seja ela momentânea ou não. Sendo assim enfrentam as mais diferentes situações de estresse em seu dia a dia, necessitando de um grande equilíbrio psicológico e preparo físico para o bom desempenho de seu trabalho.

No decorrer da pesquisa buscar-se-á analisar as condições de saúde física e mental desses profissionais identificando quais medidas são executadas pela instituição em que trabalham, que podem oferecer uma melhor qualidade de vida e saúde. Além disso, serão levantadas as práticas desenvolvidas pelos profissionais da enfermagem em relação ao auto-cuidado com a saúde física, mental, bem como serão levantadas possíveis informações referente aos cuidados profissionais recebidos pelos acadêmicos durante sua formação.

A escolha dolócus da pesquisa se deu em virtude de ser a única instituição pública de saúde neste município. Foi realizado contato com a administradora da UMS, a qual foi dada toda a liberdade de transitar pela instituição, conversar com os profissionais e posteriormente marcar as entrevistas com aqueles que aceitassem participar da pesquisa.

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Mista de Saúde (UMS), do município de Tangará da Serra, MT e alunos do 8º semestre do curso de Enfermagem da UNEMAT- Universidade do Estado de Mato Grosso, do Campus de Tangará da Serra.

Os sujeitos pesquisados, profissionais da enfermagem que trabalham na UMS, foram escolhidos aleatoriamente, com a devida autorização formal dos mesmos, sendo quatro enfermeiras e seis técnicas de enfermagem. Foram entrevistados também quatro acadêmicos do último semestre de enfermagem da UNEMAT, Campus de Tangará da Serra, a fim de comprovar se estes receberam durante sua formação, seja por meio de disciplina ou outra forma, algum tipo de preparação que lhes proporcione uma boa saúde física e mental em sua futura profissão.

Como metodologia de pesquisa, seguindo o que preceitua Gil (1991, p.45), em relação aos objetivos, trata-se de uma pesquisa descritiva, em função da necessidade de um acompanhamento das práticas dos profissionais que atuam na UMS, sendo, por conseguinte uma pesquisa de campo, exatamente por exigir o contato direto do pesquisador com o espaço da pesquisa, no caso a UMS de Tangará da Serra. Além, utilizamos dos pressupostos metodológicos da pesquisa bibliográfica, em função da necessidade de buscar elementos bibliográficos que fundamentassem a pesquisa. Como técnica para coleta de dados utilizamos a aplicação de um roteiro de entrevistas semi-estruturado, possibilitando identificar todos os aspectos relacionados ao trabalho e sua qualidade de vida, buscando também identificar se a instituição na qual trabalham oferece alguma política que lhes garanta uma boa saúde física e mental.

Quanto à pesquisa bibliográfica e pesquisa descritiva embasamo-nos em Lakatos & Marconi (1991, p. 158), entendendo que, “a pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes do tema” e “a pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno que se pretende conhecer e interpretar, porém sem interferir no processo”.

Durante o período de observação e coleta de dados sentiu-se a necessidade de ampliar o recorte estudado e através de conversas informais com outros profissionais da UMS, dentre estes a psicóloga, a assistente social e a fisioterapeuta, foram levantados dados sobre um projeto que estava sendo implantado referente à qualidade de vida, foco central deste estudo.

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científico, o TCC. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra como dado bruto a ser analisado juntamente com outros elementos que compõem a pesquisa.

Com o intuito de não identificar os sujeitos entrevistados, os nomes deles não foram apresentados em suas falas, para que assim os mesmos tivessem mais liberdade em seu depoimento a fim de resguardar os sujeitos pesquisados. Optou-se por substituir seus nomes pelas iniciais E1, E2, seguindo essa sequência para os enfermeiros e T1, T2 para os técnicos de enfermagem, A1, A2 para os acadêmicos de enfermagem.

Para interpretação dos resultados desta pesquisa foram escolhidos temas que ajudaram a desenvolver a análise da mesma. Esses temas formaram o escopo principal do roteiro da entrevista, tais como: saúde, qualidade de vida e trabalho, satisfação no trabalho, posturas práticas dos profissionais relacionados ao estresse, temas estes, que compuseram o corpo principal da pesquisa.

Nesse sentido o estudo proposto intenciona contribuir para a área da enfermagem, tendo como relevância social a preocupação com a qualidade de vida dos profissionais da enfermagem, procurando identificar possíveis lacunas existentes na sua formação no que se refere à saúde física e mental desses futuros trabalhadores. Além disso, pretende-se verificar a existência de medidas nos locais de trabalho que dão suporte adequado aos profissionais, tratando-os de forma holística, ou seja, tanto a sua saúde física quanto a mental.

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1 CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: DA DIMENSÃO TEÓRICA À REALIDADE PRÁTICA

1.1 UMA ABORDAGEM TEÓRICA: O TRABALHO, TRABALHADOR DA

ENFERMAGEM, SAÚDE, QUALIDADE DE VIDA E O CUIDADO

Analisar o Trabalho dos profissionais da enfermagem na tensão entre saúde e qualidade de vida é o grande desafio neste ponto.

O Trabalho na perspectiva marxiana, mais do que elemento explorado no homem pelo capital apresenta também outra característica, talvez a mais marcante para o ser humano. Segundo Marx:

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo - braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhe forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. (MARX, 2003:211 apud MAIA, 2006).

Para Lukács apud Organista (2006, p.127) filósofo húngaro de grande importância no século XX, a compreensão do conceito de trabalho se estende. Sem negar sua origem marxista, ele afirma que o Trabalho possui o caráter de mediador entre o homem e a natureza. È o Trabalho que permite o salto do ser meramente biológico para o ser social. Deste ângulo, não nos é possível pensar na existência de uma sociedade sem o Trabalho, pois o mesmo se constitui elemento chave para tal constituição.

Relacionando os conceitos compreendidos em Marx e Lukács, temos que, pelo Trabalho o homem se autoproduz, se faz social, e se relaciona. Pelo trabalho somos e nos relacionamos com o mundo dos fenômenos.

Segundo Konder (1994, p. 24) “foi com o trabalho que o ser humano se “desgrudou” um pouco da natureza e pode, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito ao mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto”.

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relações e valores que damos ao que fazemos. Neste sentido, o pensamento e o fazer, (homo sapiens e homo faber) se complementam plenamente.

Inserido nesta temática surge como problema a seguinte questão: Como o Trabalho, sendo o elemento poiético1do Homem (Marx) e ontológico (Lukács), que deveria promover a “realização” do homem em seu sentido mais amplo, se torna sua escravidão? Como explicar o problema da alienação e sub-valorização e super especialização no trabalho?

Novamente nos apoiamos na concepção marxista de Leandro Konder (1994, p.29-30), onde em seu opúsculo, “O que é dialética” nos esclarece:

Uma primeira causa dessa transformação monstruosa se encontra na divisão social do trabalho, a apropriação privada das fontes de produção, no aparecimento das classes sociais. Alguns homens passaram a dispor de meios para explorar o trabalho dos outros; passaram a impor aos trabalhadores condições de trabalho que não eram livremente assumidas por estes. Introduziu-se assim, um novo tipo de contradição no interior da condição humana, no interior do gênero humano.” E ainda: “As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um estranhamento entre trabalhador e o trabalho, na medida em que o produto do trabalho, antes mesmo do trabalhador se realizar pertence a outra pessoa que não o trabalhador. Por isso em lugar de se realizar-se em seu trabalho, o ser humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas; em lugar de liberta-se, acaba enrolado em novas opressões.

Quanto à especialização, percebemos que em nossa sociedade complexa, fundamentada no modelo capitalista de produção, permitiu-se que a técnica se sobrepusesse sobre todos os saberes denominados contemplativos, ou seja, a técnica se torna um super conhecimento, cada vez mais rigoroso, provocando a objetividade cada vez maior das ciências envolventes. Todas essas alterações, ocorridas principalmente a partir da modernidade, promoveram a constante necessidade de um saber prático específico a ser exigido do trabalhador. Assim sendo surge a especialização do trabalho, ou seja, a necessidade objetiva e prática da uma ação adequada para um ato em si e valorizada como tal pela sociedade ( Aranha e Martins, 1995, p. 41).

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de forma material, se enquadram como trabalhadores que ofertam seus serviços complexos e especializados.

O trabalho da enfermagem objetiva a prestação de cuidados ao paciente e sua família, a fim de lhes proporcionar uma qualidade na assistência e a recuperação de sua saúde.

É um trabalho exigente, complexo e intencional, com particularidades, tais como: a assistência ininterrupta ao paciente nas vinte e quatro horas do dia, a necessidade de estabelecer relações interpessoais com colegas, pacientes e seus familiares, e a necessidade de regimentos, normas e rotinas pré-estabelecidas para cada serviço, dentre outros aspectos (BECK, 2001, apud MARTINS, p. 21, 2002).

Na medida em que os profissionais da enfermagem utilizam suas técnicas e especialidades, se sujeitam na maioria das vezes a uma carga horária exorbitante oferecendo seus serviços a Instituições privadas e mesmo públicos (caso desta pesquisa), e vivenciam um processo sofrível, já demonstrado pelos autores acima, sendo comum que seus préstimos sejam mal remunerados e sub-valorizados.

O trabalho em enfermagem é caracterizado pela promoção, prevenção, manutenção e restabelecimento da saúde do indivíduo. Esse trabalho é realizado por profissionais que são subdivididos de acordo com suas competências, a saber, os enfermeiros (nível superior), técnicos de enfermagem (nível médio) e auxiliar de enfermagem (nível fundamental), profissões estas regulamentadas por leis específicas.

A prática profissional de enfermagem compreende a assistência/cuidado, educação e pesquisa e administração, cabendo ao enfermeiro supervisionar, gerenciar e coordenar os serviços de enfermagem, pois estes estão sob sua responsabilidade, trazendo para si mais uma preocupação constante. Dentro da enfermagem, o auxiliar de enfermagem (nível fundamental) e o técnico de enfermagem, (nível médio) são confundidos com o enfermeiro, entretanto com funções distintas, possuindo qualificações específicas.

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A Enfermagem é uma profissão que exige uma atenção redobrada devido à série de procedimentos técnicos complexos aplicados a seres humanos, os quais devem ser realizados sem erros. Além disso, estar constantemente em contato com a dor, sofrimento e morte possibilita o surgimento de alto nível de estresse e carga mental excessiva aos profissionais da enfermagem.

A enfermagem possui especificidades próprias no que se refere ao processo de trabalho, onde encontramos algumas dificuldades tais como carga física e mental excessiva, alteração do ritmo biológico devido a constantes mudanças nos turnos, principalmente o noturno. O trabalho em enfermagem possui uma característica que lhes permite o cuidado ao paciente durante 24 horas sem interrupção, a saber, o trabalho dividido em turnos. A jornada de trabalho é pré-estabelecida através de escala de trabalho de acordo com a necessidade da instituição. Geralmente existe uma sobrecarga de trabalho devido à disposição de recursos humanos que pode ser insuficiente ou inadequadamente distribuída entre os turnos e setores de trabalho.

Esse trabalho dividido em turnos pode ser de seis ou doze horas, geralmente são dois turnos de seis horas, no período matutino e vespertino e um turno de doze horas no período noturno. Para Martins (2002, p.13) o trabalho em turnos é uma forma de organização temporal do trabalho; cada dia mais freqüente, que se dá por uma necessidade econômica, tecnológica e de atendimento à população.

No que diz respeito ao trabalho dividido em turnos ainda este autor nos esclarece um elemento preocupante: o trabalho em turnos é freqüentemente apontado como possível causador de desordens fisiológicas e psicológicas e desgastes na vida social e familiar, prejudicando o profissional na sua vida, levando ao desgaste físico e mental do trabalhador, repercutindo sobre o seu desempenho produtivo e sua qualidade de vida.

O elemento tensionador de toda essa discussão é justamente compreender e reconhecer os efeitos causados pelo ritmo desgastante desse regime de trabalho e suas implicações na saúde e qualidade de vida dos profissionais da enfermagem apontados nesta pesquisa.

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insatisfação presente no cotidiano dos trabalhadores, sendo importante na qualidade de vida e trabalho. Positivamente o trabalho de enfermagem predispõe a formação de mecanismos de defesa, de resistência de enfrentamento, com os quais os trabalhadores buscam um relativo equilíbrio para a execução de suas tarefas.

Tais atitudes de enfrentamento e busca de equilíbrio, refletem na própria percepção de si mesmo e do Outro. Disso decorre que em muitos momentos a resistência, a opressão e o estresse dá lugar a condutas singulares, próprias de quem vê as dificuldades no trabalho, e o que nos esclarece Silva et al ( 2005, p. 17).

Por isso, apesar das pressões constantes, da correria e do sofrimento ocasionado pela dor daquele que está sob seus cuidados, o trabalhador abre brechas para as brincadeiras e para o riso, talvez uma válvula de escape para as tensões acumuladas. E desse modo vai construindo um jeito todo singular de cuidar de si na graça que acha do próprio riso, da piadinha ou do deboche frente à precariedade estampada em seu cotidiano de trabalho hospitalar.

Cicarello e Nakamura (2006) apud Scorsin et al (2008, p.6) também destacam as condições de trabalho, os fatores organizacionais e a dupla jornada de trabalho como sendo as causas mais importantes que influenciam na qualidade de vida do profissional de enfermagem.

Pizzoli (2004, p.6) apud Scorsin et al afirma ainda:

Fatores constituintes da própria estrutura organizacional podem comprometer diretamente o desenvolvimento e a atuação, como ausência de reconhecimento pelo trabalho, falta de plano de carreira, comunicação deficiente, falta de planejamento, salário incompatível com a função ou muito abaixo do mercado. Essa associação pode colocar em risco a motivação e a satisfação, podendo contribuir, conseqüentemente, a uma baixa produtividade e queda na qualidade do serviço prestado.

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Dessa forma a subjetividade do trabalhador de enfermagem vai se manifestando em seu jeito de ser e de se mostrar, o que se entrelaça com o cuidado ao outro e com o cuidado de si mesmo. É por isso que não podemos separar o trabalhador do ser humano, pois na verdade o exercício da profissão é apenas um dos modos de trazê-lo à tona, constituindo um dos modos de se cuidar. Por outro lado lembrar a sua condição humana é um dos jeitos que encontra para não se esquecer, que no trabalhador existe um ser que lhe reclama atenção e cuidados.

Emerge desta reflexão, um elemento importante a ser destacado, sendo visto por alguns autores como essência do trabalho do profissional de enfermagem: o conceito de cuidado.

Para Boff (1999, p.34), o cuidado é uma atitude e característica primeira do ser humano, revelando sua natureza e a maneira mais concreta de ser humano.

Segundo o mesmo autor sem o cuidado, o homem deixa de ser humano desestrutura-se, definha, perde o sentido e morre. Se ao longo da vida não fizer com cuidado tudo o que empreender, acaba por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver a sua volta.

O verbo cuidar em português denota atenção, cautela, desvelo, zelo. Assume ainda características de sinônimo de palavras como imaginar, meditar, empregar atenção ou prevenir-se. Porém representa mais que um momento de atenção. É na realidade uma atitude de preocupação, ocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o ser cuidado (REMEN, 1993; BOFF, 1999; WALDOW, 1998; SILVA et al., 2001 apud DAMAS et al, p. 273, 2004).

Compreender esses aspectos é fundamental para o reconhecimento do conceito e do significado de cuidar para o profissional de saúde:

A tarefa de cuidar é um dever humano. Cuidamos porque queremos ser mais felizes, plenos e para alcançarmos a felicidade é fundamental que cuidemos bem de nós mesmos e dos outros. A condição humana é tão frágil como efêmera, requer equilíbrio e constantes cuidados pessoais, sociais e ambientais (MARTINS, 2003 apud DAMAS et al, p. 274, 2004).

Devemos considerar ainda nas palavras de Silva et al (2005, p. 88) que:

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Desta forma podemos representar o paradoxo emergente nas reflexões dos autores já citados, ponderando que: se o cuidado, a humanização e a assistência é essencialmente o trabalho do profissional de enfermagem, como ficarão os cuidados com quem cuida? Como restará a qualidade de vida e saúde de quem se dedica a cuidar (trabalhar em prol) do outro, mesmo que profissionalmente?

A saúde dos profissionais de enfermagem tem sido o motivo de inúmeros trabalhos científicos desde 1970. Segundo Oliveira et al (2004), estes contribuíram de maneira significativa para diversas transformações neste setor. A enfermagem ao longo dos anos vem se qualificando e embora ainda tímida, se inserindo no campo da pesquisa científica, contribuindo para a construção do conhecimento nesta área.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde, “é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”. Apesar de ser um conceito muito criticado e até utópico envolve aspectos biológicos, sociais, ambientais, psicológicos, educacionais e culturais. A percepção de saúde é adquirida ao longo da vida do ser humano e está ligada à maneira como o homem se relaciona com o meio social e ambiental no qual vive.

A mesma organização definiu qualidade de vida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais ele vive considerando seus objetivos, expectativas, padrões e preocupação (WHO, 1998 apud Silva et al, 2007). Nahas (2003, p.14 apud Silva, 2007), define a qualidade de vida como: “Condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”. Para Gonzales (1998) apud Martins (2002, p.23) a satisfação no trabalho é um dos pilares fundamentais na construção do conceito de qualidade de vida, devido o trabalho ocupar grande parte da vida, estabelecer relações e dimensionar diferentes possibilidades que emergem da sua maior ou menor valorização social. A qualidade de vida reflete também, o grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e para a própria estética existencial de indivíduos e coletividades.

Diante deste contexto pretendeu-se identificar nos profissionais de enfermagem como estes elementos acima conceituados estavam intrínsecos e a maneira como os mesmos são articulados em sua vida profissional.

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(2001, p.6). Nada mais salutar que discutir essa temática sob estes pontos de vista a fim de contribuir para com a saúde destes trabalhadores e melhorar sua qualidade de vida e sua relação com o trabalho.

É preciso que se perceba que a saúde no trabalho é um direito do trabalhador. Assim sendo, estudiosos da temática enfatizam ser relevante a adoção de medidas que promovam o bem-estar dos trabalhadores e previnam o aparecimento de doenças (SPINDOLA, 2007, p.218).

Corpo que sente do doente, corpo que sente do trabalhador e, no entanto, corpo ausente da “arte” de cuidar, preterido por um mecanismo biológico abstrato sobre o qual se exerce uma atividade fragmentada e fragmentante, gerando ações que, se individuais e individualizantes, são totalizantes quando abstraem do cuidado aquilo que, aliando-nos a Foucault, entendemos que vem antes do cuidado com o outro, que é o cuidado de si. (MAIA, 2006, p 172),

Neste contexto os profissionais de enfermagem são formados para cuidar dos outros, porém não cuidam de si mesmos, contrariando a lógica do cuidado, e conseqüentemente de sua profissão.

Talvez a resposta para esse problema esteja na formação dos profissionais da enfermagem, cabendo aqui discutir esse assunto de forma a verificar essa lacuna.

Silva et al (2005, p.28) afirmam que os profissionais da enfermagem sofrem as influências de caráter institucional, no que diz respeito às instâncias educacionais e hospitalares, referente ao cuidado de si. Segundo esse mesmo autor as instituições o têm influenciado no sentido de restringir o olhar sobre o cuidado de si, enfatizando os cuidados biológicos, talvez também por serem os mais focalizados na formação profissional e dentro do contexto hospitalar. Podemos constatar na fala a seguir esse pensamento: “a visualização desse cuidado como uma das práticas que abrangia toda a sua vida levaria-os a uma produção subjetiva ampliada, quando sua formação humana teria prioridade para sua emancipação como sujeito que trabalha.”

Silva et al (2005, p.28) afirmam ainda que:

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Segundo Albarracín (2002, p.150) o curso de Enfermagem requer uma proposta pedagógica que reflita o trabalho de construção participativa (docentes e alunos), visando a que o estudante, durante sua formação, consiga a integração dos conceitos, das experiências e dos aprendizados que ele recebe no seu cotidiano universitário. Ainda coloca que o processo acadêmico/pedagógico deve ser algo a mais que um conjunto de disciplinas oferecidas aos alunos, com base numa sequência lógica e de acordo com as necessidades do mercado de trabalho. O mesmo autor supõe que o objetivo final da aula é o de converter-se num momento de organização do saber, que possibilite a aprendizagem de outros saberes mais novos, que, introduzidos no universo das referências formais, devem permitir que o aluno esteja em condições de fazer a leitura do mundo em que vive. Com essa perspectiva podemos dizer que alguns currículos de enfermagem não contemplam a saúde dos futuros profissionais de enfermagem com a mesma importância que a dos pacientes. E nesta pesquisa pretendeu se olhar para esse ponto, no que se refere a saúde física e mental dos profissionais de enfermagem, de maneira especial, com a finalidade de contribuir para uma formação mais plena e mais qualidade de vida em seu trabalho.

1.1.1 Leis e Normas Regulamentadoras

A partir da Portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978, foram aprovadas as Normas Regulamentadoras (NRs), relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, que são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário que possuam empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). As NRs foram criadas e ampliadas para a manutenção de condições seguras, bem como potencializar o ambiente de trabalho para a redução ou até mesmo eliminar os riscos existentes.

Neste contexto identificamos as Normas Regulamentadoras, e por ser o foco desta pesquisa, a NR 32, que tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Esta NR 32 foi instituída pelo Ministério do Trabalho através da Portaria GM n. 485, de 11 de novembro de 2005.

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Neumann (2007, p.56), o conceito de risco diz respeito à identificação dos possíveis agentes capazes de interferir na saúde e no cotidiano da enfermagem. Esses agentes são: ergonômicos e psicossociais, químicos, biológicos, físicos de acidentes ou mecânicos. Esse autor faz referência à Norma Regulamentadora 32, cuja finalidade é estabelecer as diretrizes para a implementação de medidas de proteção à saúde dos trabalhadores em estabelecimentos de assistência, promoção, pesquisa e ensino na área da saúde, afirmando que essa norma possibilitará uma melhoria das condições e do ambiente de trabalho.

Contudo não identificamos nenhuma legislação específica que dispusesse sobre a saúde mental dos profissionais da saúde.

Durante a pesquisa também não identificamos legislação específica que dispusesse sobre a jornada de trabalho desses profissionais. São realizados acordos e convenções coletivas sindicais na contratação, e por não haver essa especificidade, os profissionais se submetem a jornadas excessivas.

No último dia 16/09/2009 foi colocado em votação o PL 2295/2000 que regulamenta em 30 horas semanais a jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem. A medida visa beneficiar enfermeiros, técnicos e auxiliares e foi aprovada pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. É necessário que seja aprovado em todas as casas para que se transforme em lei, e que seja finalmente sancionada pelo Presidente da República. A luta pela redução da jornada de trabalho é necessária à Saúde, qualidade de vida, melhor prestação de serviço. A Lei levará à geração de mais postos de trabalho para profissionais de enfermagem. Outras categorias da saúde já possuem carga horária menor, como: médicos (20 horas semanais - LEI 3.999/61), fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais (30 horas semanais - LEI 8.856/94) e técnicos em radiologia (24 horas semanal - LEI 7.394/85).

1.2 UMA ABORDAGEM PRÁTICA: CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE MISTA DE SAÚDE

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A UMS possui um total de 37 leitos, distribuídos da seguinte forma: Observação masculina cinco leitos; observação feminina quatro leitos, observação pediátrica três leitos. No internamento possui oito leitos para pediatria; sete leitos para a ala masculina e feminina e um leito para setor de isolamento. Para estabilização de pacientes graves possui dois leitos na unidade semi intensiva.

Fazem parte de seu quadro de pessoal cinco enfermeiros, quarenta e sete técnicos de enfermagem e três auxiliares de enfermagem. O dimensionamento dos profissionais de enfermagem é feito da seguinte maneira: no período matutino há um enfermeiro para a unidade semi intensiva, observação e todo o setor de internamento. No período vespertino há também um enfermeiro para as áreas citadas anteriormente, e estes trabalham seis horas diárias. No pronto atendimento há um enfermeiro nos dois períodos e este trabalha oito horas diárias. No período noturno há dois enfermeiros que trabalham no regime de 12/36 horas, ou seja, trabalham doze horas e folgam trinta e seis horas. Os técnicos de enfermagem são distribuídos da seguinte forma: no período matutino são escalados três para o pronto atendimento; três para o internamento; um para as alas de observação; um para a pré-consulta; um para triagem; um para eletrocardiograma e um para o centro de esterilização de materiais. No período vespertino são quatro para o pronto atendimento; três para o internamento; um para observação; um para pré-consulta; um para triagem e um para eletrocardiograma. No período noturno são escalados seis técnicos para o pronto atendimento; cinco para o internamento; dois para observação e um para triagem. Os auxiliares estão distribuídos: no período matutino, um no internamento; no período vespertino um no centro de esterilização de materiais e um no internamento á noite.

Os profissionais de enfermagem que trabalham na UMS foram contratados de duas formas, sendo uma por meio de concurso e outra através de teste seletivo e contrato emergencial por questões administrativas2. Os concursados trabalham quarenta horas

semanais de segunda a sexta-feira; aos sábados, domingos e feriados recebem hora extra. Fazem parte dos concursados trinta e seis técnicos de enfermagem, três auxiliares e um enfermeiro. Os contratados por meio de teste seletivo trabalham trinta horas semanais de segunda a sexta–feira; aos sábados, domingos e feriados recebem hora extra. Estão nesta categoria onze técnicos de enfermagem. Os contratados por prestação de serviço emergencial

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trabalham quarenta horas semanais, sendo seis horas de segunda a sexta-feira, sábado, domingo e feriado trabalham complementando a carga horária. Nesta categoria estão inclusos quatro enfermeiros.

A UMS possui outros profissionais tais como: uma nutricionista, uma psicóloga, uma assistente social, sete técnicos para o raio x e mamografia e uma fisioterapeuta que presta serviço quando é chamada.

Fazem parte do quadro médico que trabalham na UMS dezessete profissionais, sendo estes clínicos gerais. A jornada de trabalho é de vinte horas semanais para dezesseis médicos e de quarenta horas para um; com relação ao sistema de contratação dez médicos são concursados e sete contratados por meio de prestação de serviço emergencial.

O serviço de limpeza da unidade é realizado por uma empresa terceirizada, exceto três, que são contratados pela unidade, ajudantes de serviços gerais que são responsáveis pela lavanderia.

O setor administrativo da unidade é composto de cinco agentes administrativos, um coordenador e uma diretora administrativa.

A UMS está em funcionamento desde 1994, há dezesseis anos em Tangará da Serra.

1.3 CUIDAR DE SI, CUIDAR DO OUTRO: UMA ABORDAGEM QUALITATIVA

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1.3.1 Saúde

A maioria dos profissionais de enfermagem entrevistados possuem uma concepção de saúde satisfatória, pelo menos em teoria. Podemos evidenciar esse fator a partir da pergunta que segue: Quando perguntado o que é saúde, isto é evidenciado nas falas:

“É você ter um bem estar físico, mental pra poder desenvolver todo o seu potencial na sua vida, no seu trabalho (E1)”.

“Saúde, é um equilíbrio entre a vida pessoal, profissional. Você tem que tá bem no trabalho, tem que tá bem em casa, com a família, com o namorado, tudo é um equilíbrio,... financeiro (E2)”.

“Ter saúde. Ah, eu compreendo ter saúde é estar bem fisicamente e mentalmente, podendo trabalhar (...) e conseguir desempenhar minhas funções enquanto profissional, enquanto mãe, dona de casa né, no geral (E4)”.

“Ter saúde é você se sentir disposto, uma boa alimentação. Acho que é isso (T2)”.

Observamos que eles demonstram conhecer o significado de saúde, porém esses profissionais admitem ser difícil encontrar esse equilíbrio entre a essência da saúde e a sua aplicabilidade em suas vidas. A saúde plena seria o ideal, pois segundo a OMS envolve aspectos biológicos, sociais, ambientais, psicológicos, educacionais e culturais.

1.3.2 Jornada de trabalho

Quando perguntado sobre se possuem outro vínculo e qual era a jornada de trabalho aos profissionais da enfermagem pode-se observar que a maioria deles possui mais de um vínculo empregatício, e, portanto a carga horária excede ao que seria considerado normal. Através das falas a seguir podemos constatar:

“Sim. No SAMU são 24 horas semanais e na UMS são 40 horas semanais (E1).”

“Aqui são 40 horas semanais e lá são 12/36 que eu faço (T1)”.

“Aqui na UMS são 40 horas semanais e lá (...) eu faço 12/36. Dá a média de 40 horas também (T2)”.

“Na UMS 40 horas semanais e no SAMU 24 horas semanais (E4)”.

“Sim, no SENAC (...), é de segunda a sexta das seis às dez da noite. Na UMS são 40 horas semanais (E2).”

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“Não.” Faço 30 horas semanais (T5).

“Não.” Faço 40 horas semanais (T4).

Através das falas acima, podemos observar que a maioria possui mais de um emprego, cabendo aqui analisar o motivo pelo qual eles se submetem a trabalhar mais, muitas vezes sem direito ao gozo da folga, pois uma folga coincide com a jornada de trabalho do outro vínculo, trabalhando então de segunda a segunda. Neste sistema capitalista no qual vivemos somos muitas vezes “obrigados” a trabalhar mais para ter uma vida mais digna, que nos proporcione algum conforto e uma melhor qualidade de vida, mas que preço pagamos por essa escolha. Isso nos leva a reflexão que se nós somos responsáveis por nossas escolhas, somos responsáveis pelas conseqüências delas em nossa vida.

1.3.3 TrabalhoversusQualidade de vida

Quando perguntado sobre o que seria qualidade de vida para os sujeitos ficou explícito nas falas que segue:

“Ter momentos de lazer, descontração assim, para mim é isso (E1)”.

“Assim como o próprio nome diz é você ter qualidade no seu dia a dia, é você ter saúde, é você ter disposição, é você ter tempo, (...) e além do mais é você cuidar de si (E3).”

“Na verdade, assim, a gente sabe que qualidade de vida é ter acesso a uma casa para morar, uma boa alimentação, a lazer, a tudo isso. E na Enfermagem se a gente não trabalhar bastante... Por um lado a gente consegue ter um bom salário, morar numa boa casa, ter boa comida, ter condições de lazer, mas a gente acaba trabalhando demais. Na verdade qualidade de vida deveria ser o equilíbrio né, entre ter condições boas e trabalhar menos. Mas é complicado pro enfermeiro (E4)”.

“É você poder dispor do que você pode ter como exemplo, você faz tudo prá ter uma boa casa, então é você ter condições de usufruir né da sua vida, tanto no serviço quanto em sua casa também. Eu creio que é isso (T2).”

“Desde alimentação, é você ter um bom relacionamento com as pessoas, com você mesmo e com as pessoas (T3).”

“Ter um bom emprego, um hospital equipado, estar bem com a vida, com todos, atender bem os pacientes (T5).”

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Martins (2002, p.13), a qualidade de vida das pessoas pode ser influenciada por vários fatores, como as condições de trabalho, satisfação no trabalho, salário, relações familiares, disposição, estado de saúde, longevidade, lazer, prazer, hereditariedade, estilo de vida e até espiritualidade.

Ao perguntar se o trabalho interfere na qualidade de vida e na saúde física e mental, estas foram das respostas:

“Ultimamente tem interferido porque eu não tô tendo tempo de ter mais lazer, minha carga horária é muito alta e não consigo ter lazer, algumas coisas que eu gostava de fazer tive que deixar. Eu gostava muito de caminhar. Quando eu tenho tempo eu estou muito cansada e daí acabo preferindo descansar do que cansar mais (E1).”

“Interfere. Olha, agora eu tô conseguindo um bom equilíbrio. Há um tempo eu estava com dois vínculos empregatícios e os dois eram hospitais. Eu tava ficando quase maluca quase maluca mesmo. O serviço interfere muito. Agora eu tô bem tranqüila, tô aqui na UMS e com as aulas, que não me toma tanto tempo, tanta dedicação, tanto estresse emocional. Mas quando estava aqui e na UTI de outro hospital eu estava me deteriorando. (E2).

”Com certeza, o trabalho tem uma interferência na saúde física e mental do profissional. Até agora através da profissão a gente tem a realização profissional e isso acaba interferindo na qualidade de vida. E a partir do momento que uma pessoa não está bem no trabalho ela tem com certeza sua saúde física e mental prejudicada. E a caba influenciando no cansaço, no aparecimento do estresse, no relacionamento com as outras pessoas (E3).”

“Com certeza. Com certeza interfere porque além da jornada aqui, a gente tem a jornada em casa enquanto mãe, esposa e eu faço uma jornada de 64 horas semanais, faço 2 plantões noturnos por semana e acaba interferindo (E4).”

“Com certeza, pois a carga horária é muito excessiva. A gente tem pouco tempo prá descansar, porque você sai do serviço, (...) hoje mesmo eu vou sair daqui e já vou direto lá prás clinicas. Eu faço 18 horas, querendo ou não é bem cansativo (...) (T1).”

“No momento eu creio que interfere sim por eu estar nos dois empregos. Eu creio que acaba atrapalhando um pouco porque desgasta muito, principalmente no outro que eu trabalho na parte da noite, então o descanso não é o mesmo. O meu filho é pequeno, tem 1 ano e 8 meses, e ele sofre bastante com a minha ausência. Até inclusive ele tá chamando minha mãe de mãe, que é a avó dele. E eu não tenho que achar ruim porque fico muito tempo longe dele (T2).”

“Não (T6).”

“Não. Só canseira mesmo. Eu tô cansada do plantão dessa noite, fiz 18 horas seguidas, tô mal (T5).”

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Observamos pelas falas que o fato de possuir mais de um vínculo empregatício interfere e muito na qualidade de vida e na saúde física e mental dos profissionais de enfermagem, afetando inclusive o relacionamento com a família e amigos. As respostas negativas de três profissionais evidenciam isso, visto serem os únicos que não possui outro vinculo empregatício além da UMS. O lazer promove descontração para todas as pessoas e o repouso diário é necessário para recuperação da energia gasta durante o período laborativo. O cansaço impede o bom rendimento físico, diminui o nível de atenção e perturba sensivelmente a coordenação motora e o ritmo mental. Por isso, segundo Rutenfranz et al (1989) apud Marziele et al (1995, p. 65), o sono e o descanso adquirem importância especial para o trabalhador em turnos.

Isto é comprovado através de um estudo realizado por Marziele et al (1995), em instituição hospitalar cujo objetivo foi detectar sintomas e sinais de fadiga mental em enfermeiras atuantes em regime de turnos alternantes, teve como resultado referente a satisfação pelo trabalho em esquema de turnos alternantes que 75,0% das enfermeiras não estavam satisfeitas pelo fato do esquema adotado interferir negativamente na vida social e familiar, no sono, na alimentação e proporcionar-lhes desgaste físico e mental.

1.3.4 Formação “adequada”

Quando questionado aos profissionais de enfermagem se eles tiveram na sua formação alguma disciplina que discutisse a necessidade do cuidado à sua saúde física e mental, segue algumas respostas:

“A gente tinha uma disciplina que envolvia assim essa parte. A gente desenvolvia varias atividades assim é... de lazer, de auto ajuda, coisas assim, era bem bacana (E1)”.

“Não. Não assim teoricamente. Às vezes um professor e outro comentavam, dava uma brechinha entre uma matéria e outra, ela puxava alguma coisa. Mas eu não tive uma matéria sobre isso (E2).”

“Sim. Nós tivemos algumas disciplinas que acabavam comentando a respeito da importância da saúde física e mental no trabalho. Nós tínhamos uma disciplina que se chamava Enfermagem e Cidadania que acabava discutindo essa parte da importância da saúde física e mental e foi através dela que a gente acabou desenvolvendo trabalhos com relação à saúde do trabalhador. A biossegurança também acaba vendo essa parte (E3).”

“Não. Não trabalhou (E4).”

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vai levantar um paciente sempre estar chamando alguém junto prá você não fazer força sozinha, descansar bem, procurar se alimentar bem, era bem voltado assim entendeu (T1).”

“Com certeza teve, mas agora eu não me lembro certo o nome da disciplina, mas a gente estudou muito, principalmente sobre saúde mental, porque o máximo de controle a área da enfermagem tem que ter, tanto com a família como com os pacientes, com os clientes que necessitam muito da nossa atenção (T2).”

“Houve essa preocupação no curso que eu exercia. Eu fiz em Recife, fiz no Hospital Escola do Hospital do Câncer, em Pernambuco. E tinha essa função voltada pra esse preparo, já preparando profissionalmente, né prá essa questão. Já sabendo que a própria profissão já tem uma carga muito grande, de esgotamento físico e mental (T3).”

“Não me lembro, (...) mas foi discutido sim, teve um psicólogo que deu essa aula prá gente (T4)”.

“Sim, mas na saúde física, na saúde mental não. Nas doenças, prá se proteger, precaver, usar máscara, luvas, o essencial no dia a dia, jamais puncionar uma veia, um acesso sem estar protegido, isso sim (T6)”.

O que fica evidenciado é que o preparo se resume aos cuidados de prevenção de acidentes, uso de equipamentos de proteção individual, ou seja, se restringe à prevenção de contaminação e higiene. Através das falas acima podemos perceber que a saúde mental é deixada de lado pela maioria das instituições formadoras, como se não tivesse importância na prestação da assistência ao paciente. E quando é mencionada, como por exemplo, pelo sujeito T2, o foco não é o profissional da enfermagem, e sim o paciente e a família. Os profissionais da enfermagem são afetados pelas situações que vivenciam no hospital, muitas vezes, eles têm uma maneira de se blindar contra essas situações para se proteger, uma espécie de mecanismo de defesa, desenvolvida ao longo do tempo. Percebemos isso no campo de estágio porque nós como acadêmicos também passamos pelas mesmas situações, embora, com menos responsabilidades, e também adotamos esse mecanismo de defesa.

Nas entrevistas com os acadêmicos do oitavo semestre de enfermagem da UNEMAT, quando questionado se eles tiveram alguma disciplina que oferecesse esse cuidado com a saúde física e mental, as falas que segue demonstram que não houve essa preocupação com os futuros profissionais nesse item muito importante para nossa formação:

“Não. Tinha matérias voltadas para essa área como educação física e psicologia, mas dentro das matérias não se tratou nada em específico para saúde física e mental dos acadêmicos (A1)”

“Bom, a disciplina que teve não foi voltada para o acadêmico e sim para você lidar com alguns transtornos mentais dos pacientes (A2).”

“Não. Nenhuma (A3).”

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Quando perguntado se os acadêmicos sentiram essa necessidade desse preparo, por parte da instituição, com a sua saúde física e mental nos campos de estágio eis algumas falas:

“Com certeza, principalmente no que se refere à saúde mental porque no campo de estágio, dentro do hospital você lida com muitas situações que como você não teve um preparo durante sua formação, abalam muito você, mexe muito com você e seria necessário esse preparo durante a formação tanto no inicio quanto no fim da faculdade(A1)”.

“Senti porque hoje em dia algumas das principais doenças que afeta não só o profissional da saúde, mas a população em geral, são os distúrbios mentais devido ao estresse, a sobrecarga de trabalho, até como acadêmico, estudante você tem uma sobrecarga muito grande, você tem que estar preparado porque as coisas vão surgindo, a insegurança e tudo isso são fatores que influenciam você a desenvolver algum tipo de transtorno (...) a ter algum tipo de problema pra você aprender a lidar (A2)”.

“Senti necessidade sim porque é importante você tá bem prá poder cuidar dos outros. Então você tem que tá bem fisicamente e mentalmente prá você cuidar de alguém. Então senti essa necessidade sim, faltou isso (A3)”.

“Claro. Por essa profissão ser pesada, por você lidar com vidas, lidar com o sofrimento, o estresse (...) já pensou você estar trabalhando num hospital, vivendo esse estresse no dia a dia, sem ter no próprio sistema que você está trabalhando uma importância com a saúde do profissional. Penso que isso deva ser trabalhado dentro do estágio porque o estresse existe e você dentro do estágio você não tem a responsabilidade total do que você está fazendo. E quando você passa a ter essa responsabilidade você vai ficar sobrecarregado. É necessário que dentro das instituições haja esse preparo da saúde física e mental para os profissionais de enfermagem. Porque lidar com vidas, com o estresse de outras pessoas, com doenças e com necessidades de outras pessoas (...) é uma preocupação que a gente leva prá instituição (A4).”

Podemos constatar que ficou essa lacuna na formação dos futuros profissionais de enfermagem nas falas dos acadêmicos entrevistados. E não foi muito diferente dos profissionais que já estão trabalhando. Apesar dos inúmeros trabalhos nessa área percebe-se que pouco se avançou nesse aspecto, principalmente com a saúde mental desses trabalhadores.

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de uma prática segura e digna de seres humanos trabalhando com seres humanos. Diante disso, através dos relatos acima, os acadêmicos de enfermagem não tiveram em seu currículo disciplinas que proporcionasse um preparo adequado quanto à sua saúde física e mental, do qual sentiram essa necessidade durante os estágios.

1.3.5 Atitudes práticas

Quando perguntado para os profissionais de enfermagem que atitudes práticas eles tomam para aliviar o estresse e para ter uma boa saúde física e mental, as respostas a seguir:

“Bom, eu procuro tentar assim, me distrair, quando eu tô fora daqui não me ligar nos problemas daqui. Tipo esquecer aonde eu tava. E assim, eu gosto de fazer massagem prá aliviar o estresse. (...) Academia não tenho muito ânimo. (...) Eu, assim, quando dá gosto de ir para o rio, prá cachoeira prá dar uma descontraída, porque se não a gente não agüenta (E1).”

“Eu fui bem determinada, eu vi que tava me prejudicando, apesar de eu gostar muito da UTI, sinto falta, é interessante, eu sinto falta, mas me prejudicava muito, eu não conseguia levar uma vida normal, eu não conseguia sair fim de semana, eu não conseguia fazer mais nada além do serviço. Era só o que eu podia fazer. Eu vi que não tava dando certo e eu realmente pedi pra sair. Eu escolhi aqui (UMS) que me dava uma renda melhor, optei por aqui e tenho uma alimentação saudável, não pratico atividade física, deveria praticar, mas tenho uma alimentação saudável e procuro no serviço me sentir bem (E2).”

“Bom, eu, no meu período de folga ou de férias o que eu mais penso é me afastar do meu dia a dia justamente prá poder descansar a mente em relação ao trabalho. Então acabo viajando, passeando indo prá outra cidade prá poder aliviar essa tensão do trabalho. (...) Faço ginástica na academia, musculação quando sobra tempo (E3).”

“Olha, é meio complicado. Mas quando dá, a gente procura né. O mais acessível entre os enfermeiros é conseguir a troca de plantão, porque se a gente não faz a troca de plantão, a gente fica de plantão de domingo a domingo com uma folga por semana e a gente não consegue sair prá passear, desestressar. Mas a gente acaba articulando um fim de semana por mês, a gente vai, passeia, vai pra cachoeira, pra alguma coisa prá voltar mais fortalecida (E4).”

“Em primeiro lugar eu tento ser bem equilibrada, né, às vezes tentar resolver os problemas da melhor forma possível. Sou uma pessoa muito tranqüila, graças a Deus, não sou estressada, não tenho esse negócio de estresse não, sinto cansaço, cansaço físico mesmo e mental, os dois juntos né. Mas eu procuro ser uma pessoa muito tranqüila, resolver as coisas da melhor maneira possível, não estressar de jeito nenhum e fazendo o melhor porque prá sua saúde não fique tão complicada. (...) Olha alimentação sim, procuro sempre comer verduras, alguma coisa a mais, apesar de eu estar um pouquinho acima do peso, devido eu ter começado trabalhar à noite. Isto me fez ganhar 6 kg dentro de um ano, né. (...). Eu ando de bicicleta, mas é só mesmo durante o período que eu vou daqui lá pro outro serviço. Não é bem exercício físico mesmo (T1).”

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acabam atrapalhando. O tempo que a gente tem livre sempre tá em casa com a família, uma boa alimentação em casa, essas coisas.(atividade física) Não. Bem mínimo. Agente trabalha, é dona de casa, mãe, eu afirmo que não tenho tempo (T2).”

“Geralmente quando eu estou muito estressada eu vou caminhar. Eu venho pro trabalho caminhando e vou caminhando já prá desestressar (T3).”

“Eu faço caminhada todos os dias à tarde, meia hora, quarenta minutos, depende da disposição e do tempo daquele dia (T6).”

Fica evidenciado que todos os sujeitos entrevistados sabem da importância da atividade física, do lazer e de uma boa alimentação para sua saúde física e mental. Cabe destacar que aqueles que possuem apenas um vínculo empregatício possuem uma melhor qualidade de vida e conseqüentemente um menor estresse no seu dia a dia do que aqueles que possuem mais de um vínculo. Na fala do sujeito T1 fica evidente o prejuízo da sua saúde física pelo fato de trabalhar no período noturno e em mais de uma instituição. Pela fala do sujeito E4, por possuir dois vínculos sua folga fica prejudicada, necessitando o uso de mecanismos, como relatado, a troca de plantão para que tenha um fim de semana por mês de folga. Como possuem dois vínculos a folga de um choca com a carga horária do outro, prejudicando o gozo dessa folga.

E questionando os profissionais da enfermagem se a instituição oferece algum tipo de política ou programa de proteção que beneficie a saúde física e mental, essas foram as respostas:

“Não (T3).”

“Não. É difícil hein, filha. Mandar você trabalhar uma semana seguidona assim, né (T5).”

“Aqui na UMS a gente tem uma fisioterapeuta que ela faz toda semana faz exercício com a gente. Aí é bem bom assim, sabe, antes do começo do trabalho, eu participo, é bem interessante Com certeza no dia que a gente faz a gente se sente mais disposto. Até inclusive numa semana a gente faz de um jeito e na outra a gente vai melhorando, né (T2).”

“Olha eu não conheço assim, ainda. Eu não tenho conhecimento, se tem eu não tô tendo conhecimento (T1).”

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“Eu não tenho conhecimento. Se tem não é colocado em prática (E3).”

“Recentemente estão criando um trabalho, que o nome é “qualidade de vida (projeto). Nós temos na UMS uma psicóloga e uma assistente social elas elaboraram um projeto para os profissionais. Aí uma vez por mês tem uma confraternização entre os funcionários, os aniversariantes do mês, a gente faz uma festinha, uma coisinha assim pra integração dos funcionários. Porque só trabalho, aquela coisa maçante, doença, fica uma coisa mais legal (E2).”

“Não, nenhuma das duas instituições (E1).”

Através das falas podemos perceber claramente que há algumas iniciativas recentes por parte da instituição de promover um projeto que vise o bem estar de seus funcionários. Esse projeto que alguns profissionais citaram na entrevista está sendo elaborado pela assistente social e pela psicóloga da UMS, estará voltado para três aspectos básicos e importantes: a qualificação profissional, a motivação para o trabalho e a melhoria da qualidade de vida. Segundo a assistente social esse projeto tem como objetivo geral promover o crescimento individual e coletivo dos funcionários da UMS, buscando equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida, a valorização pessoal no seu aspecto biopsicossocial, resultando em melhores condições de saúde física, mental e espiritual do grupo, e para que sejam vencidos todos esses desafios, é necessária a integração de todos os setores, buscando o comprometimento dos dirigentes e a coesão Institucional, para garantir a excelência das ações do projeto proposto. Apesar de estar em implantação já foi colocada em prática a integração entre os funcionários através de festinhas e comemorações de aniversariantes a fim de trabalhar o relacionamento interpessoal entre eles. Algumas respostas negativas de alguns profissionais quanto à existência de programas evidencia a falta de comunicação entre os gestores e equipe de trabalho, e mostra que não contempla todos no ambiente de trabalho.

Outro item que foi colocado pelos entrevistados foi referente à existência de ginástica laboral há alguns meses, por iniciativa de uma fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Municipal, que segundo ela percebeu essa necessidade durante seus atendimentos na UMS. Porém é realizada uma vez por semana, na sexta feira, no período da tarde e ás vezes de manhã. Pelo que podemos perceber não atinge a todos os profissionais de enfermagem. Isto fica evidenciado através de suas falas:

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“Tem. (...) A gente tem a fisioterapeuta, toda sexta feira ela faz 10 a 15 minutos de ginástica laboral. Com todos que puder participar. Às vezes não dá prá você deixar o serviço naquela hora que está tendo a ginástica laboral. Mas uma vez ou outra dá pra você ir.(...) Ela costuma fazer aqui no internamento, no fim do corredor mesmo, escolhe um espaço menos movimentado. Se algum paciente, acompanhante de paciente quiser vir fazer. É bem legal (E2).”

“A ginástica laboral quando aparece no campo de serviço, na UMS ela apareceu. Na UMS ela é bem esporádica, não há uma política da instituição. Das vezes que aconteceu foi o pessoal da fisioterapia que se propôs a fazer uma ou duas vezes. Não é nada freqüente. É bem esporádico. Quando não é feita pelo pessoal da fisioterapia, os próprios acadêmicos que acabam realizando. Pela instituição mesmo não tem. (...) Até porque 15 minutos de descanso que a gente tem acaba revitalizando todos os ânimos prá uma próxima jornada de trabalho. (E3).”

“Sim, nós estamos fazendo. (...) a fisioterapeuta, ela faz na parte da manhã e faz na parte da tarde com os profissionais. Ela faz uma vez por semana de manhã e uma vez por semana à tarde. A noite ela não tá fazendo ainda, (...) (E4).”

“Olha sexta-feira tem a ginástica laboral, mas nem todas às vezes a gente pode participar. Geralmente quem está no internamento tem mais facilidade. Mas quem trabalha no pronto socorro que é meu caso, eu trabalho mais no pronto socorro. Agora eu vim prá observação, dificilmente a gente tem tempo porque é muito corrido aqui. Ás vezes chega uma emergência, não tem como você largar uma emergência prá tá participando. Então poucas vezes eu participei. Muito importante. Às vezes mesmo que eu participei você sente que realmente alivia as dores, você tá tensa, você termina de fazer você está relaxada. Realmente é muito bom. Quem pode fazer é muito bom. (T1).”

“Não (T3).”

“Sim, ela faz, a gente fica das seis da manhã, a gente faz 15 minutos de ginástica laboral. Eu acho que não é suficiente, a gente queria, comentamos que queríamos todos os dias, traz benefícios, a gente fica mais solto, para dar continuidade no seu trabalho (T6).”

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1.3.6 Satisfação no trabalho. Expectativas de mudança.

Perguntamos aos profissionais de enfermagem se estão satisfeitos com a profissão, o que eles gostariam que mudasse, conforme demonstram as falas a seguir:

“Eu gosto do meu trabalho, me sinto satisfeita... só que é... eu acho que como tá interferindo em algumas coisas na minha vida, essa carga horária excessiva, eu tô repensando isso. Se realmente vale a pena trabalhar tanto assim, abrir mão de algumas coisas, mas isso não vai ser por muito tempo. Eu tinha essa meta que fosse por pouco tempo. Então faz 3 meses que eu estou nessa rotina mais louca e já me fez parar e ver que não vale a pena. Não é nem financeiramente falando, mas a questão da saúde física e mental mesmo. Porque acaba ficando muito cansativo e ai as vezes você começa a ver se o lucro/beneficio de tudo isso e se realmente vale a pena no final. Eu gostaria de ter uma carga horária um pouco menor. Tipo, mesmo que fosse para trabalhar nos dois vínculos, né. No SAMU eu tenho uma carga horária de 24 horas semanais, uma carga horária boa. Na UMS eu tenho uma carga horária que choca com a do SAMU, e eu acabo fazendo ás vezes no final de semana 18 a 24 horas por causa desse choque de carga horária e ai eu trabalho todos os dias de segunda a sexta, eu não tenho folga. Então isso prá mim é bem puxado, mas também isso é por um tempo só. Mas é isso. o profissional enfermeiro, o fato de ele ser mal remunerado ele acaba tendo que se submeter a isso, a ter 2, 3 vínculos, tem uns que conseguem ter até 4 serviços. Eu acho que isso é extremamente prejudicial porque a nossa formação é uma formação que ter muita dedicação no local de trabalho, tudo, tem que tá bem para conversar com as pessoas e chega um momento assim, que se você absorve muito trabalho, muito trabalho, você começa perder esse lado de você passar uma tranqüilidade ao doente, pras pessoas. Toda classe, técnicos, enfermeiros, a gente trabalha muito e é muito mal remunerado. (E1).”

“Hoje satisfeita. Eu vi que não dava para ficar aqui e na UTI e são dois setores que não param, é natal, ano novo, fim de semana, feriado. Então me sinto satisfeita assim (E2).”

“Bom, eu gosto do que faço. Gosto da enfermagem. E gostaria que fosse mais reconhecida, valorizada porque, infelizmente ela não é tão valorizada quanto deveria. E a questão da jornada de trabalho acaba sendo um pouco cansativa e excessiva pros profissionais. Então isso acaba interferindo na qualidade de vida da pessoa. Não só na profissão, mas fora dela também. Acho que o ponto mais importante prá poder melhorar seria a carga horária e essa valorização do profissional. Essa valorização profissional não somente no âmbito do hospital, mas da sociedade como um todo. Talvez divulgasse mais sobre a profissão né, prá poder ver a importância dela na saúde (E3).”

“Eu estou satisfeita. Eu gosto da Enfermagem, adoro ser enfermeira. Gosto de trabalhar na UMS, tanto é que fui prá PSF e banco de sangue e fiz de tudo prá voltar prá cá. É estressante, a gente trabalha muito, né assim, existem algumas situações que causam estresse, porque é um sistema público, a gente trabalha numa UMS. Existe uma falta de profissionais que acaba acarretando em acúmulo de serviço, que é o que mais prejudica, que é os funcionários trabalhar no limite, tanto técnico de enfermagem quantos os enfermeiros. Então a gente trabalha por três, e acaba sobrecarregando mesmo. Mas de um modo geral eu estou satisfeita porque gosto de ser enfermeira. Mas o trabalho é puxado (E4).”

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carregado, aqui mesmo fico com as duas alas. São muitos leitos. (...), as pessoas que ficam internadas é uma responsabilidade muito grande. Eu acredito que deveria ter mais profissionais na área, dentro da instituição, não na área, mas dentro da instituição, deveria ter mais funcionários prá dividir melhor o serviço. Tá muito lotado. (...). A remuneração do funcionário da área de saúde, do técnico de enfermagem, eu acho muito pouca pela responsabilidade que a gente tem com o paciente, você não está cuidando de uma máquina que você pode errar e consertar de novo, você tá cuidando de ser humano, você tem que dá atenção, você tem que conversar bem, porque a pessoa às vezes já chega estressada por vir internar. Então você tem que ser psicóloga, você tem que ser compreensiva, né e você tem que deixar os problemas em casa, tem que vim tranqüila prá poder conversar com o paciente e tratar ele bem, ter um tratado humanizado, né. Eu acredito que deveria ser bem mais remunerado mesmo, muito pouco o que a gente ganha pela responsabilidade que a gente tem, porque a instituição querendo ou não ela fica na responsabilidade do técnico, o médico vem prescreve, a enfermeira tá ali por perto, mas quem exercita realmente, tá ali perto do paciente no dia a dia é o técnico de enfermagem. Então eu acredito que seria até bem melhor até prá saúde mental da gente porque faz parte. Se você ganha bem, tem dinheiro prá pagar seus compromissos você é bem mais feliz (T1).”

“O meu trabalho é uma coisa assim que realmente eu sou realizada, porque eu gosto muito, sabe. Então eu acho que a minha meta agora é ficar em um só emprego. Eu tô há 4 meses em dois, mas não é obrigatório, mas eu tenho que buscar sugar as informações o máximo que eu puder. Então a minha meta agora é ficar em um só porque eu realmente sou muito realizada, gosto muito da minha profissão (T2).”

“Aumento de salário, nunca tivemos aumento e sim reposições só em pequena quantidade. (...), mas tá dando prá viver, eu sou feliz. Às vezes falta medicação, mas agora está mais ou menos (T5).”

“Sim, gosto do que faço, estou satisfeita, mas o que eu gostaria é que tivéssemos um pouco mais de recursos prá trabalhar. Às vezes faltam materiais prá trabalhar, você faz algumas coisas, procedimentos mesmo sem ter condições (...) você tem que tá improvisando. Mas estou satisfeita com o meu trabalho (T6).”

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expressão verbal de reconhecimento, sendo que o mesmo pode vir de qualquer direção, seja dos gestores da organização, dos membros da equipe de trabalho e ainda dos pacientes (p. 69). Para Martins (2002, p.22), os profissionais de enfermagem devem visar a concepção de situações de trabalho que não alterem a sua saúde, locais onde possam exercer suas atividades em um plano individual e coletivo, encontrando possibilidades de valorização de suas capacidades e condições de trabalho adaptados às suas características fisiológicas e psicológicas, garantindo deste modo, a manutenção de sua saúde e qualidade de vida. Para que isso aconteça é necessário que os gestores dos serviços hospitalares reconheçam a importância de proporcionar uma melhor qualidade de vida e saúde física e mental aos seus funcionários, visando o bem estar dos mesmos. Na maioria das vezes a preocupação maior é com a qualidade prestada na assistência ao paciente, não se preocupando com a satisfação e as condições de trabalho dos profissionais da enfermagem.

Segundo a mesma autora os programas de Qualidade Total promovem melhorias das condições de trabalho e na maioria das vezes, restritas às questões de higiene, limpeza e maior organização nos locais de trabalho. Contudo, deixam de abranger pontos fundamentais para a saúde dos trabalhadores, como o trabalho em turnos e as sobrecargas física e mental do trabalho da enfermagem hospitalar que trazem conseqüências negativas para a qualidade de vida (p. 24).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo procurou-se analisar as condições de saúde física e mental dos profissionais de enfermagem da UMS, identificando se a instituição oferece algum programa que beneficie a saúde deles e lhes proporcione melhor qualidade de vida. Além disso, pretendeu-se conhecer as atitudes práticas desses profissionais com relação à sua própria saúde. Buscou também identificar de que maneira a saúde física e mental do profissional de enfermagem tem sido tratada pelas instituições formativas, e ainda, a existência de leis e normas que protejam o os profissionais de enfermagem.

Com esta pesquisa foi possível constatar que os profissionais de enfermagem da UMS possuem o conhecimento e a percepção da importância de sua saúde física e mental para o bom desempenho de seu trabalho.

Identificamos através das entrevistas a existência de um projeto em fase de implantação cujo objetivo é promover o crescimento individual e coletivo dos funcionários da UMS, buscando equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida, a valorização pessoal no seu aspecto biopsicossocial, resultando em melhores condições de saúde física, mental e espiritual. Apesar de estar sendo implantado, já foram colocadas em práticas as comemorações de aniversariantes por meio de festas e o relacionamento interpessoal entre eles. Outro ponto interessante encontrado nas falas dos sujeitos entrevistados foi a realização de ginástica laboral com os profissionais de enfermagem uma vez por semana, por iniciativa de uma fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Municipal. Embora essa iniciativa seja muito positiva, infelizmente não contempla todos os profissionais nos três períodos laborativos. Percebemos que essa ginástica foi muito bem recebida por todos que podem participar e os que não podem fizeram algumas reclamações a respeito disso.

Independentemente das ações esporádicas do projeto citado, vemos a clara necessidade da implementação e fortalecimento de uma política orgânica de gestão de pessoas por parte da Secretaria Municipal de Saúde, que englobe a qualidade de vida dos trabalhadores da saúde como um todo no município. Opção esta, ainda distante de ser percebida na instituição pesquisada dado a precariedade de vínculo de estabilidade profissional que atuam na mesma e da carência de preocupação da própria Secretaria.

Referências

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