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FAMI LY AND EATI NG DI SORDERS: REPRESENTATI ONS AMONG NURSI NG STAFF AT A MENTAL HEALTH UNI VERSI TY HOSPI TAL

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FAMÍ LI A E TRANSTORNOS ALI MENTARES: AS REPRESENTAÇÕES DOS PROFI SSI ONAI S DE

ENFERMAGEM DE UMA I NSTI TUI ÇÃO UNI VERSI TÁRI A DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL

1

Lucia Helena Grando2 Marli Alves Rolim3

Grando LH, Rolim MA. Fam ília e t ranst ornos alim ent ares: as represent ações dos profissionais de enferm agem de um a inst it uição univ er sit ár ia de at enção à saúde m ent al. Rev Lat in am Enfer m agem 2005 nov em br o-dezem bro; 13( 6) : 989- 95.

O estudo é qualitativo, de caráter descritivo, cuj o recorte se constitui na questão da fam ília da pessoa com t r anst or no alim ent ar . Por t ant o, buscou- se cont ex t ualizar essa t em át ica e apr eender , dos r elat os dos profissionais ent revist ados, as represent ações acerca da fam ília desses pacient es e sua influência na gênese e no desenvolvim ent o da doença. I nicialm ent e, os dados apont aram para represent ações da fam ília com o um gr upo social pr im ár io que faz cobr anças e que, com o elem ent o for m ador , t em par t icipação na or igem do dist úr bio. Post er ior m ent e, o t em a fam ília sur ge m ais encam inhado par a a com pr eensão da m esm a com o elem ento m antenedor do transtorno alim entar, na qual os lim ites pouco definidos entre os m em bros conturbam a relação, evidenciando m uit as vezes a alt eração na hierarquia: os pais passam a ser cont rolados pelo filho. DESCRI TORES: fam ília; t ranst ornos da alim ent ação; enferm agem psiquiát rica

FAMI LY AND EATI NG DI SORDERS: REPRESENTATI ONS AMONG NURSI NG STAFF

AT A MENTAL HEALTH UNI VERSI TY HOSPI TAL

This qualit at ive and descript ive st udy t akes t he fam ily of pat ient s wit h eat ing disorders as a st art ing point . We aim ed t o cont ext ualize t his t hem e and apprehend, from t he report s of int erview ed professionals, their representations about the fam ily of these patients and its influence on the genesis and developm ent of the illness. Data showed that, at first, the fam ily is represented as a prim ary social group which is always expecting cert ain behaviors and which, as a form at ive elem ent , part icipat es in t he origin of t he disorder. Subsequent ly, t he fam ily t hem e appears t o be m ore direct ed t o underst anding t he fam ily as an elem ent t hat m aint ains t he eating disorder, in which the not very defined lim its am ong its m em bers disturb the relationship, often evidencing an alt erat ion in t he hierarchy: t he parent s st art t o be cont rolled by t heir child.

DESCRI PTORS: fam ily; eat ing disorders; psychiat ric nursing

FAMI LI A Y TRASTORNOS ALI MENTI CI OS: LAS REPRESENTACI ONES DE LOS

PROFESI ONALES DE ENFERMERÍ A DE UN HOSPI TAL DE SALUD MENTAL

Este estudio es cualitativo, de carácter descriptivo, cuyo recorte es la fam ilia de la persona con trastorno alim ent icio. Para t ant o, se buscó cont ext ualizar t al t em át ica y aprehender, de los relat os de los profesionales ent r evist ados, las r epr esent aciones a cer ca de la fam ilia de esos pacient es y su influencia en la génesis y desarrollo de la enferm edad. I nicialm ent e, los dat os apunt aron hacia represent aciones de la fam ilia com o un grupo social prim ario que hace cobranzas y que, com o instancia form adora, tiene participación en el origen del dist urbio. Post eriorm ent e, el t em a fam ilia surge dest inada a la com prensión de la m ism a, com o elem ent o de m anut ención del t r ast or no alim ent icio, en la cual los lím it es poco definidos ent r e los m iem br os t ur ban la relación, evidenciando m uchas veces alt eración en la j erarquía: los padres pasan a ser cont rolados por el hij o. DESCRI PTORES: fam ilia; t rast ornos de la conduct a alim ent aria; enferm ería psiquiát rica

1 Trabalho extraído da dissert ação de m est rado; 2 Dout oranda em Enferm agem pela Escola de Enferm agem da Universidade de São Paulo, Assist ent e Técnica de Saúde I I I do I nstituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Docente da Universidade Guarulhos, e-m ail: lhgrando@hotm ail.com ; 3 Professor Dout or da Escola de Enferm agem , da Universidade de São Paulo, e- m ail: m inie@usp.br

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I NTRODUÇÃO

A

m o t i v ação p el a t em át i ca d eco r r eu d a ex p er iên cia p r of ission al d a au t or a n a en f er m ar ia infant il e de adolescent es do I nst it ut o de Psiquiat ria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, a qual deu origem à dissert ação de m est rado( 1).

O t em a f am ília da pessoa com t r an st or n o alim ent ar surge com o quest ão de sum a im port ância e se torna o ponto de partida para o presente estudo. A e n f e r m e i r a f r e q ü e n t e m e n t e l i d a n ã o a p en a s co m o i n d i v íd u o , m a s t a m b ém co m su a fam ília. Mesm o quando ela est á lidando apenas com um indivíduo, é im possível a int eração não afet ar e ser afet ada por sua fam ília, conseqüent em ent e, as i n t e r a çõ e s co m u m i n d i v íd u o sã o v i st a s co m o i n t e r a çõ e s i n d i r e t a s co m a f a m íl i a d e l e . “ O com p or t am en t o d e u m in d iv íd u o é im en sam en t e influenciado por sua fam ília e, por sua vez, quaisquer alt er ações em seu com por t am ent o inv ar iav elm ent e afet arão sua fam ília. Quer se adot e essa perspect iva ou não, é difícil negar que a enfer m eir a, par a ser eficaz, pr ecisa com pr eender a fam ília”( 2). Acr edit

a-se, inclusive, que o núcleo fam iliar deve ser inserido em qualquer proposta terapêutica, pois “ os fam iliares podem apr esent ar um a sér ie de incapacidades que se sedim ent aram frent e ao adoecim ent o psíquico de um fam iliar”( 3).

Ao planej ar com o int ervir com os m em bros d a f a m íl i a , a e n f e r m e i r a p o d e co n si d e r a r a necessidade de um preparo profissional que inclua a educação sobre o transtorno para si m esm a, tão bem com o aj udar a fam ília a criar habilidades para assistir, dar apoio e im por lim ites ao cliente, se necessário( 4).

Um a das prem issas básicas que deve nortear o p r ocesso d e cu id ar d esses in d iv íd u os é q u e os profissionais necessitam ter a convicção de que o ser hum ano est á int rinsecam ent e ligado à sua fam ília e ao seu m eio social e que esses são a fonte prim ordial, não só das pr essões, m as t am bém de r ecur sos de apoio( 5).

Vár ios aut or es enfat izam a necessidade de incluir a fam ília no t r at am ent o dos indiv íduos com t r an st or n os alim en t ar es e a t er apia f am iliar “ est á sem pre indicada pela característica observada de que det er m in ados com por t am en t os fam iliar es par ecem perpet uar com port am ent os alim ent ares alt erados”( 6).

“A orient ação fam iliar deve ser dada via de regra a todas as fam ílias” e o “ aconselham ento fam iliar tem a intenção de educar a respeito da doença, afastar

as id éias d e cu lp a q u e os p ais sem p r e t r azem e orient ar para o ret orno ao padrão alim ent ar nat ural daquela fam ília”( 7).

Co r r o b o r an d o essas af i r m açõ es, p o d e- se i d e n t i f i ca r n a l i t e r a t u r a so b r e a a ssi st ê n ci a d e enferm agem a pacient es com dist úrbios alim ent ares o fat o de que um dos diagnóst icos de enfer m agem essenciais é o de “ Pr ocessos Fam iliar es Alt er ados”, definido com o um sist em a fam iliar disfuncional( 8- 10),

caract er izado por m udanças nas alianças de poder, padrões e rit uais, relacionados à alt eração do poder de m em br os da fam ília e à t r oca dos papéis dessa fam ília, bem com o à alt er ação do est ado de saúde de um de seus m em bros.

Considerando essa peculiar dinâm ica que se est ab elece, os au t or es acim a r ecom en d am com o pr incipais int er v enções de enfer m agem :

- ex plor ar o gr au de depen dên cia e en v olv im en t o ent re os m em bros da fam ília;

- discutir com o paciente e a fam ília as funções, papéis e l i m i t e s a d e q u a d o s, b e m co m o f o r m a s d e com u n icação m ais ef et iv as. I d en t if icar as r eg r as den t r o da f am ília qu e r ef or çam o com por t am en t o inadequado do paciente e, j untam ente com a m esm a, buscar m ecanism os par a adequá- las;

- aj u dar o pacien t e a desen v olv er h abilidades n a r esolu ção de pr oblem as e pr opor cion ar con dições para que t est e os result ados;

- realizar ou encam inhar para grupos de t erapia de fam ília ou de psicodram a fam iliar.

Co m r el ação ao p l an o d e t r at am en t o d e enfer m agem é r essalt ada a im por t ância de “ incluir fam iliares na avaliação e no processo de planej am ento do t rat am ent o”, bem com o a necessidade de “ avaliar a fam ília com o sist em a e o im pact o do t r anst or no a l i m e n t a r ” e d e “ i n i ci a r t e r a p i a d e g r u p o p a r a m o b i l i za r o a p o i o so ci a l e r e f o r ça r r e sp o st a s a d a p t a d a s”. Esse s p a ci e n t e s b e n e f i ci a m - se d o env olv im ent o dos fam iliar es e do t r abalho com um grupo que ofereça apoio( 11).

Os au t o r es su g er em q u e a assi st ên ci a à f am ília sej a por in t er m édio de t er apia de f am ília, aconselham ent o ou orient ação, de form a a const ruir cont ext os m ais flexíveis, favorecedores de expressão e a ce i t a çã o d e d i f e r e n ça s r e l a t i v a s à s i d é i a s, sen t im en t os e ações sem a am eaça d e p er d a d a pert inência, ao grupo fam iliar, de algum m em bro ou da dissolução do próprio grupo( 12).

A partir das considerações acim a, que deixam ex p lícit a a n ecessid ad e d a in clu são d a f am ília n a

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a ssi st ê n ci a a o s i n d i v íd u o s co m t r a n st o r n o s alim ent ar es, det er m inou- se par a o pr esent e est udo o obj etivo de apreender, dos relatos dos profissionais ent r ev ist ados, as r epr esent ações acer ca da fam ília desses pacien t es e su a in flu ên cia n a gên ese e n o d esen v o l v i m en t o d a d o en ça. Tal p r o p o st a b u sca r epensar as r elações acom odadas e cr onificador as que se est abelecem ent r e pr ofissionais, fam ílias e pessoas que sofrem com t ais t ranst ornos.

Con sid er ou - se q u e o p r im eir o p asso p ar a com pr eender com o os pr ofissionais de enfer m agem cu i d a m d e ssa f a m íl i a se r i a p o r m e i o d a s r epr esent ações sociais que eles const r uír am acer ca desse núcleo social prim ário.

REFERENCI AL TEÓRI CO

A t e o r i a d a s r e p r e se n t a çõ e s so ci a i s é co n si d e r a d a u m r e f e r e n ci a l a p r o p r i a d o p a r a d esv en d ar com o os p r of ission ais d e en f er m ag em a p r e e n d e m o f a m i l i a r d o i n d i v íd u o p o r t a d o r d e t r a n st o r n o a l i m e n t a r e , e m f u n çã o d e ssa represent ação, com o se organizam e orient am suas ações na prát ica cot idiana. Ela part e do pressupost o de que o conhecim ent o é socialm ent e elabor ado e com part ilhado, t endo o obj et ivo prát ico de cont ribuir par a a const r ução de um a r ealidade com um a um d e t e r m i n a d o g r u p o so ci a l , p o ssi b i l i t a n d o a com unicação e a ação conj unt a.

Essa t eor ia diz “ r espeit o aos cont eúdos do pensam ent o cot idiano e ao suprim ent o de idéias que dá coerência às nossas crenças religiosas, às idéias p o l ít i ca s e à s co n e x õ e s q u e cr i a m o s t ã o espont aneam ent e com o respirar. Elas nos capacit am a classificar pessoas e obj etos, a com parar e explicar com port am ent os e os obj et iva com o part e do nosso cenár io social”( 13). Assim , as r epr esent ações sociais

per m it em que o hom em per ceba o significado dos acont ecim ent os que ocorrem em sua vida cot idiana.

ABORDAGEM METODOLÓGI CA

Nat ureza do Est udo

A pesquisa qualit at iva configurou- se com o a m ais per t inent e um a v ez que ela não se pr eocupa em quant ificar, m as em lograr explicar os m eandros das relações sociais consideradas essência e resultado

da atividade hum ana criadora, afetiva e racional, que pode ser apreendida através do cotidiano, da vivência e da explicação do senso com um( 14).

Cenário do Est udo

O p r esen t e est u d o t ev e com o cen ár io as enferm arias que at endem indivíduos com t ranst orno alim ent ar, ou sej a, m ist a e infant il e de adolescent es do I nstituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Esse hospital tem por finalidade a assistência, o ensino e a p e sq u i sa ; a ssi m se n d o , a v e i cu l a çã o d o co n h e ci m e n t o ci e n t íf i co se i n se r e à p r á t i ca , fav or ecendo a for m ação das r epr esent ações sociais através da im bricação do conhecim ento científico com o senso com um ; universo “ reificado” e consensual. Suj eit os

Realizou- se ent r ev ist as com 6 enfer m eir os, 1 t é cn i co d e e n f e r m a g e m e 5 a u x i l i a r e s d e enfer m agem . Esse núm er o se m ost r ou significat iv o para at ingir os obj et ivos dest e est udo, um a vez que, segundo a lógica da pesquisa qualitativa( 14), o núm ero de su j eit os dev e ser sign if icat iv o, su f icien t e par a conhecer suas vidas e obter os elem entos necessários para com preender m elhor sua problem át ica e poder propor assist ência para suas necessidades. Port ant o, e sse n ú m e r o n ã o f o i p r é - d e t e r m i n a d o e o en cer r am en t o das en t r ev ist as ocor r eu a par t ir do m om en t o em qu e f oi con st at ada a in v ar iân cia do fenôm eno. Essas ent revist as perm it iram explorar os co n t e ú d o s e a s i n f o r m a çõ e s r e l a t i v a s à s r epr esent ações sociais desse t em a.

Colet a de dados

A coleta de dados foi realizada no período de nov em br o de 1998 a m ar ço de 1999, por m eio de ent r ev ist a r ealizada em local pr iv at iv o, na pr ópr ia i n st i t u i çã o . As e n t r e v i st a s f o r a m g r a v a d a s co m aut orização dos suj eit os.

O p r oj et o f oi su b m et id o e ap r ov ad o p ela Co m i ssã o d e Ét i ca p a r a An á l i se d e Pr o j e t o s d e Pesq u isa, sob n ú m er o d e Pr ot ocolo 6 3 4 / 9 8 , q u e consider ou que o m esm o r espeit av a r igor osam ent e as norm as éticas e os suj eitos assinaram o term o de consent im ent o pós- infor m ado.

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A sist em at ização e análise dos dados

A análise dos dados foi r ealizada por m eio d a t é cn i ca d e a n á l i se d e co n t e ú d o , m a i s especificam ent e a t em át ica. Após a or ganização do m at er ial discur siv o, opt ou- se por seguir as et apas: pré- análise, exploração do m at erial e t rat am ent o dos result ados obt idos e int erpret ação.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

A p ar t ir d os r elat os d os p r of ission ais, f oi p o ssív e l i d e n t i f i ca r a sp e ct o s i m p o r t a n t e s d e ssa p o p u l a çã o – a s r e p r e se n t a çõ e s so ci a i s q u e con st r u ír am acer ca d o f am iliar d o in d iv íd u o com

t ranst or no alim ent ar. Conseqüent em ent e, é a par t ir dessas representações que surgiu um a form a singular de cuidar, ancorada em conhecim ent os pr év ios, j á est abelecidos e oriundos de diversas font es t eóricas, de sua pr át ica diár ia, m ais ou m enos int ensa, em conceit os e preconceit os sociais, est igm at izant es em m aior ou m enor grau, em crenças e vivências pessoais. D a a n á l i se d o s d a d o s, o b t e v e - se d u a s cat egor ias cent r ais:

- a fam ília, na condição de grupo social prim ário, tendo part icipação na origem do t ranst orno;

- a fam ília com o instância m antenedora do transtorno. A figura a seguir perm it e a visualização e a com pr eensão dos r esult ados.

Filho sem autonomia e sem domínio da própria individualidade

Estrutura familia

Família como grupo social primário Ancoragem na perspectiva social

Familía problema (desorganizada e desestruturada) Boicote ao tratamento Manutenção do transtorno Participa na origem do transtorno Mãe dominadora

Marcadas pela evitação conflito

Instância mantenedora do transtorno

Pai ausente

Caracterizada pela falta de limites

Caracterizada pela alteração na hierarquia

Figura 1 - As categorias e os tem as em relação à fam ília, participando na gênese e na m anutenção do transtorno A fam ília se constitui em elem ento im portante

n a co m p r een são d as r ep r esen t açõ es acer ca d o s transtornos alim entares, um a vez que “ a interiorização do m undo obj etivo vai se dar através da transm issão de v alor es, nor m as, cr enças, passados pela fam ília que irá produzindo e reproduzindo cultura e onde seus m em br os são educados par a viver em det er m inado

tipo de sociedade. Esse será o prim eiro espaço afetivo, cu l t u r al e soci al , ex p r essan d o si t u ações d a v i d a cotidiana onde a identidade se dá a ver”( 15). Por outro

l a d o , co m p r e e n d e r co m o o s p r o f i ssi o n a i s r e p r e se n t a m a f a m íl i a , n o s f o r n e ce r ã o d a d o s im portantes e darão “ pistas” de com o elas vêm sendo cuidadas.

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O t em a fam ília surgiu de form a espont ânea nos relat os, com o um grupo social prim ário que faz co b r an ças e q u e, co m o el em en t o f o r m ad o r, t em part icipação na origem do dist úrbio.

Com eça na infância, a fam ília colabora m uito.

“ Não se sabe com cert eza se os t ranst ornos a l i m e n t a r e s e st ã o r e l a ci o n a d o s co m u m a p r e d i sp o si çã o g e n é t i ca o u si m p l e sm e n t e co m a t ransm issão de crenças, at it udes e valores ao longo d as g er ações. Às v ezes essas se ap oiam em u m pr oblem a de saúde e out r as sim plesm ent e em um crit ério est ét ico ou, ent ão, em um a disposição para responder a sit uações de est resse com variações de conduta alim entar. É m uito provável que na gestação d e u m t r an st or n o alim en t ar se com b in em alg u n s desses fat ores, que se pot enciam m ut uam ent e”( 5).

Os e n t r e v i st a d o s a p o n t a m a l g u m a s ca r a ct e r íst i ca s r e l a t i v a s a o r e l a ci o n a m e n t o estabelecido entre os m em bros da fam ília. Descrevem a figura do pai com o um a pessoa um tanto distante e ausent e. Já, as m ães surgem com o figuras cent rais nos discur sos, pessoas ex igent es e per feccionist as, q u e m a n t ê m u m r e l a ci o n a m e n t o n e m se m p r e t ranqüilo, com o vem os a seguir.

Família que tem mãe dominadora, pai ausente. A maioria delas é extrem am ente perfeccionista. É o que a gente percebe, todas que passaram por aqui. E as m ães... m uito dom inadoras... m uito exigentes...

Pa r a a l g u n s su j e i t o s, a s f a m íl i a s sã o ap r esen t ad as com o m u it o d esor g an izad as, com o f am ílias q u e são p r ob lem as, com o n ecessit ad as, assim com o as pacient es, car ent es de am par o, de pr ot eção e de or ient ação. Na v er dade, acr edit a- se que essas pessoas têm m uita dificuldade de lidar com sit u ações m u it as v ezes dolor osas e desagr adáv eis no convívio com as pessoas doentes; em decorrência d esse f at or, p ar a ev it ar em con f lit o, acab am n ão seguindo as orient ações quando o pacient e vai para casa.

. . . é m u it o r elat iv o por qu e t êm f am ílias qu e são problem as.

São fam ílias m uito com plicadas, desestruturadas e que o pai é aquele cara que trabalha fora, é superausente, m esm o.

As experiências vividas na fam ília constituirão a base da identidade dos suj eitos sociais, experiências m a r ca d a s p o r co n f l i t o s e t e n sõ e s f a v o r e ce r ã o sent im ent os de insegurança, baixa aut o- est im a que e m m u i t o f a v o r e ce r ã o o d e se n v o l v i m e n t o d e i n d i v íd u o s co m d i f i cu l d a d e e m a ssu m i r r e sp o n sa b i l i d a d e p e l a s su a s v i d a s e ,

co n se q ü e n t e m e n t e , d e se n v o l v e r o se n so d e aut onom ia.

“ Um dos m ot iv os m ais com uns pelos quais a s f a m íl i a s e v i t a m a e x p r e ssã o d i r e t a d e su a s em oções é por que t em em o desacor do ent r e seus m em bros. I sso se denom ina evit ação do conflit o. Se cada u m diz o qu e pen sa ou sen t e, podem su r gir diferenças que t ragam com o conseqüência t ensão e co n f l i t o . É f r eq ü en t e q u e a s p esso a s se si n t a m am eaçadas por isso e o que percebem põe em cheque a u n id ad e f am iliar ou q u est ion a o af et o en t r e os m em bros. I st o t raz consigo um risco, vist o que, se não há um m odo aceit ável de est ar em desacordo e ser difer ent e, ser á cer t am ent e difícil par a a pessoa reconhecer e valorizar suas próprias experiências”( 5).

Por out ro lado, “ no passado, um a crença de m ães e fam ílias anorexigênicas foi concebida. Hoj e, essa t endência de culpabilização par ent al foi m ais bem est r u t u r ada e esses f at or es são v ist os com o m ant enedores do com port am ent o”( 7).

O t e m a f a m íl i a su r g i u , t a m b é m , co m o e l e m e n t o ca p a z d e m a n t e r co m p o r t a m e n t o s e v i d e n ci a d o s e m f a se s a n t e r i o r e s à i n t e r n a çã o , nort eados pelo fort e envolvim ent o que se est abelece ent re seus m em bros.

Os depoen t es r elat am , ain da, qu e qu an do essas fam ílias r ecebem aj uda, passam a colabor ar com o tratam ento. Podem , assim , aj udar ou incentivar os filhos para que se t ornem m ais confiant es, aut o-suficient es e consigam se t ornar independent es.

Em m uitos casos existe um conflito fam iliar que precisa ser trabalhado. E a fam ília acaba dando suporte para a paciente à m edida que é trabalhada.

A dificuldade par a ident ificar o que ocor r e com o fam iliar que est á doent e apar ece em v ár ios d e p o i m e n t o s; é o co n f l i t o e n v o l v e n d o t o d a s a s pessoas e, sendo um a doença que no seu início não m ost ra um a alt eração física visível, dificult a a leit ura e a com preensão do que est á ocorrendo.

No início a fam ília não percebe o que está ocorrendo ... No decorrer a paciente com eça a perder peso, ficar enfraquecida... A fam ília com eça a se preocupar e procura o m édico.

A facilidade que eles têm de enganar a fam ília dificulta até conseguir um tratam ento.

Muitas vezes quando a fam ília detecta que a pacient e est á doent e, o quadr o at ingiu um est ágio em que a int ernação hospit alar se t orna inevit ável.

Out r a car act er íst ica, apont ada nas r elações que se est abelecem no m eio fam iliar, são os lim it es p o u co d e f i n i d o s e n t r e o s m e m b r o s; e l e s e st ã o

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excessivam ent e envolvidos uns com os out ros e de form a conturbada, em decorrência disso, pais e filhos se relacionam na base da troca e, assim , se evidencia a alt er ação n a h ier ar q u ia: os p ais p assam a ser cont rolados pelo filho.

A fam ília não tem lim ite. Quando elas contam , você percebe a questão da troca.

Os suj eitos afirm am , tam bém , que a evolução do t r at am ent o e da doença t r az com o agr av ant e o fat o da fam ília ser considerada o fat or de boicot e ao t rat am ent o, o que pode ser vist o na fala seguint e.

No decorrer da doença, eu não sei se j á pelo cansaço, d e sâ n i m o d a f a m íl i a , e l e s co m e ça m co n sci e n t e o u inconscientem ente a colaborar com o agravam ento da doença e na m anut enção dos sint om as, eu acho.

“ Esse zelo sem lim it es acaba por t or nar a r elação fam iliar sufocant e par a am bos os lados, j á que quem a recebe acaba por sent ir- se cont ido em su a s esco l h a s e q u em o d á p er m a n ece p r eso à vont ade do out ro, m esm o que as necessidades dest e sej am vist as pela ót ica de quem oferece apoio”( 15).

Os en t r ev i st ad o s ap o n t am si t u açõ es q u e env olv em a culpa na fam ília, por ém , r efor çam que não a consideram culpada, a não ser nos casos em qu e h ou v e agr essão n a in fân cia. Acr edit am qu e a fam ília é a vít im a da sit uação.

A m aioria se sente culpado por algum a coisa. A fam ília não é culpada, é com o qualquer outra doença.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S E CONCLUSÃO

Considerando a fam ília com o um grupo social p r i m á r i o , o s d e p o e n t e s a co n ce b e m a n co r a d o s pr incipalm ent e em um a per spect iv a social, na qual est á em b u t i d o u m p a d r ã o est ét i co d et er m i n a d o cult uralm ent e e veiculado pela m ídia e, em qualquer p r ocesso d e socialização, a in f lu ên cia d a f am ília desem penha papel pr im or dial.

E é n e ssa f a m íl i a q u e o s e n t r e v i st a d o s id en t if icam a f alt a d e lim it es, f at or esse q u e os ent revist ados apont am com o algo que perm eará os r elacionam ent os int er pessoais ent r e os pacient es e os profissionais, causando um a série de sent im ent os desagr adáv eis.

Focando nossa at enção nesse aspect o que é alg o com o q u al a en f er m ag em t em con d ições e pr epar o t écnico- cient ífico para m anej ar, é de sum a

im portância relem brar que a falta de lim ites observada n a f a m íl i a l e v a a p e sso a a t e r d i f i cu l d a d e d e desenvolver seu senso de aut onom ia.

No p r o ce sso d e co n t e st a çã o d o p a d r ã o t radicional de autoridade fam iliar, houve um a confusão entre os excessos de autoridade do tipo tradicional e o ex er cício legít im o e necessár io da aut or idade da fam ília, levando à perm issividade que tem prej udicado part icularm ent e as crianças, que ficaram sem lim it es est abelecidos.

A cr iança educada à base da im posição de r egr as, sem en t en der o por qu ê ( sem desenvolv er, port ant o, o sent ido de si) , ou aquela que ignora que não se pode r ecusar as r egras ( sem int er nalizar, o sent ido do out ro) form ará um a m oral het erônom a e t enderá a ser um adult o incapaz de escolher. O não d e se n v o l v i m e n t o d a a u t o n o m i a l e v a a o t i p o d e com port am ent o com pulsivo, em que o indivíduo não t em o dom ínio de sua própria individualidade. Esse dom ínio é condição para desfrut ar das possibilidades de em ancipação do nosso t em po, por que a fr uição de u m pr oj et o igu alit ár io dem an da essa n oção de lim ites pessoais e esse sentido do outro. A experiência de dem ocrat ização da vida cot idiana fam iliar reflet e-se no plano da cidadania, ao prover os indivíduos de recursos para part icipar dem ocrat icam ent e na esfera pú blica, a par t ir da in t er n alização do pr in cípio da a u t o n o m i a q u e p o t e n ci a l i za su a ca p a ci d a d e d e discernir, j ulgar e escolher( 16).

Co n cl u ím o s q u e a s r e l a çõ e s f a m i l i a r e s problem át icas, paut adas principalm ent e pela evit ação do con flit o, desen cadeiam u m n ív el de sofr im en t o difuso e int enso e que o desafio do pr ofissional é trabalhar com essas pessoas para que reavaliem suas próprias condutas e as tornem m ais flexíveis de m odo a buscar em adapt ação cr it er iosa que lhes per m it a vivenciar um grau de aut onom ia saudável.

I ndependent em ent e da inst ância em que se dará o cuidado, é im portante lem brar que “ o processo de form ação na graduação, por si só, não confere o inst r um ent al necessár io à pr át ica do enfer m eir o na per spect iv a do nov o par adigm a de cuidado que se a p r e se n t a , o q u a l i n cl u i o co n se n t i m e n t o e p ar t icip ação d o p acien t e e f am ília, o q u e lev a à necessidade da busca de conhecim ent os específicos, n o v a s h a b i l i d a d e s e a t i t u d e s n a r e l a çã o co m o pacient e, fam ília, com unidade, para o enfrent am ent o das quest ões cot idianas do t rabalho( 17).

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REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

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Recebido em : 25.6.2004 Aprovado em : 31.10.2005

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