• Nenhum resultado encontrado

MATURIDADE PARA ESCOLHA PROFISSIONAL E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE DE ALUNOS DO 3 ANO DO ENSINO MÉDIO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MATURIDADE PARA ESCOLHA PROFISSIONAL E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE DE ALUNOS DO 3 ANO DO ENSINO MÉDIO"

Copied!
91
0
0

Texto

(1)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

LARISSA MEL FERREIRA QUEIROZ

MATURIDADE PARA ESCOLHA PROFISSIONAL E

DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE DE ALUNOS DO 3° ANO DO ENSINO MÉDIO

CUIABÁ-MT 2020

(2)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Larissa Mel Ferreira Queiroz

MATURIDADE PARA ESCOLHA PROFISSIONAL E

DESENVOLVIMENTO DE IDENTIDADE EM ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito final para obtenção do título de Mestre em Psicologia

Orientadora: Profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro

Linha de pesquisa: Processos de desenvolvimento e suas interfaces com a saúde psíquica

CUIABÁ - MT 2020

(3)
(4)
(5)

A Deus que me deu a vida e me fortaleceu em todo esse processo de inúmeras mudanças e desafios.

Aos meus pais Leal Tadeu de Queiroz e Wandercy Ferreira de Queiroz pelo amor incondicional, por sempre me incentivarem a correr atrás daquilo que amava, e por me ensinarem a ser uma pessoa ética, sensível e apaixonada pela vida.

Ao meu esposo Aleir Cardoso de Oliveira Junior, meu amor, parceiro de vida que foi incrível e paciente nessa jornada que me incentiva todos os dias a crescer, me tira da zona de conforto e ao mesmo tempo é meu refúgio e paz.

A minha irmã Thalita Ferreira de Queiroz, que sempre tinha uma palavra de apoio e incentivo e é uma das pessoas mais sensíveis, honestas e inspiradoras que conheço.

À minha orientadora Prof.ª. Dr.ª Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro pelos ensinamentos, por me mostrar os caminhos da pesquisa científica, pela paciência e acolhimento nos momentos dolorosos dessa caminhada.

À Universidade Federal de Mato Grosso presente na minha formação desde a graduação, e que me possibilitou o ensino gratuito e de qualidade.

Ao diretor Gênesis Barbará e ao diretor Alceu Trentin que prontamente possibilitaram a coleta de dados nas escolas, e que confiaram no meu trabalho.

A prof.ª Dr.ª Gisele Cristina Resende, por toda acessibilidade no processo de destrinchar o BBT-BR, pelo conhecimento transmitido e grandes contribuições.

Aos professores Dr. Rauni Jandé Roama Alves e Dr.ª Tatiane Lebre Dias pela troca, sugestões e contribuições fundamentais.

Aos meus sogros Aleir Cardoso de Oliveira e Claudia Elena Gonçalves de Oliveira, pelo amor, contribuição e incentivo em todos os momentos.

As minhas amigas Bruna Lovato, Flávia Latorraca, Ingrid Oliveira, Innay Rosa, Leandra Camila, Karen Takashima, Luciana Akemi, Luciana Dall’Bello, Mariana Vieira, Monique Caroline e Natália Salomé, que sempre me incentivaram, e que de forma particular foram importantes na construção deste trabalho.

(6)

A minha analista Fátima Balieiro, por me guiar de forma única, ativa e acolhedora.

Aos professores da Pós-Graduação de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso, por desde a graduação contribuírem com a minha formação.

Aos meus colegas do PPGPsi, em especial à Alessandra Messias de Almeida, Kamila Nunes Borges, Michélli da Silva Jacobi e Fernanda Monteiro Boer, por toda troca de ensinamento, afeto e acolhimento.

A todos os alunos e pais de alunos, que foram fundamentais para realização desta pesquisa e gentilmente aceitaram fazer parte desse estudo.

(7)

Escolher uma profissão nos dias atuais, na cultura em que estamos inseridos, é visto como um fator importante na constituição do sujeito, principalmente para jovens na transição da adolescência para a vida adulta. Diante disso, diferentes fatores podem estar envolvidos na escolha profissional, como os fatores influenciadores maturidade e identidade. A maturidade para escolha profissional está ligada a um conjunto de atitudes e conhecimentos que o sujeito precisa reunir, para assim, de forma consciente e independente, realizar sua entrada no mundo profissional. A formação de identidade nesse momento importante da adolescência se apresenta como continuidade do ser, só pode ser compreendida através do processo de identificação, conhecimento de seus desejos e suas defesas. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar a maturidade para escolha profissional e a construção de identidade de alunos do terceiro ano do ensino médio. A amostra contou com 50 alunos de duas escolas de Cuiabá – MT, sendo 30 alunos (19 do sexo feminino e 11 do sexo masculino) de escola pública e 20 alunos (16 do sexo feminino e 4 do sexo masculino) de escola privada, na faixa etária de 16 a 18 anos de idade. Os instrumentos utilizados foram: Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP), Escala de Formação de Identidade em Adolescentes (AIDA), Teste de Fotos de Profissões BBT-BR e Questionário elaborado pela autora desta dissertação. Os dados foram tabulados primeiramente pelo programa Excel e analisados pelo software R cran. Foi realizada estatística de Mann Witney (não paramétrica) e teste de tamanho de efeito – d de Cohen nas escalas EMEP e BBT- BR; já na escala AIDA, foi utilizado o Teste t e tamanho de efeito d de cohen na comparação entre os grupos. Os resultados quanto a influência na escolha profissional, demonstraram que a família foi o principal fator influenciador no processo de escolha. Na EMEP os adolescentes obtiveram maturidade média para escolha profissional. Na escala AIDA apresentaram identidade saudável e integrada. Quanto ao teste BBT-BR, pode-se inferir que as escolhas dos dois grupos em relação a área de trabalho, são similares. Portanto, conclui-se que apesar dos adolescentes enfrentarem um momento de crises e descobertas, as questões relacionadas a escolha profissional parecem preservadas, pois conseguem fazer uma escolha consciente por meio de uma formação de identidade saudável.

PALAVRAS-CHAVE: Maturidade Professional; Identidade; Adolescência., Inclinação Motivacional.

(8)

Currently choosing a profession in our culture is seen as an important fact in the subject constitution, mainly to youths in the transition between adolescence and adult life. Thenceforth, different factors can be involved in the professional choice, as the influence of maturity and identity. The maturity to the professional choice is linked to a setting of attitudes and knowledge that the subject needs to gather to, by this mean, consciously and independent accomplish their entrance in the professional world. The identity formation during this important period of adolescence is shown as the continuity of the being, and it only can be comprehended by the identification process and the knowledge about the own drives and defences. Therefore, this research aimed to evaluate the maturity to the professional choice and the identity construction of students of the last year of school. The sample consists in 50 students of two schools of Cuiabá – MT, 30 students of public school (19 female and 11 male), and 20 students from a private school (16 female and 4 male), with the ages from 16 to 18 years old. The instruments to the analyzes were: The maturity Scale to Professional Choice (EMEP), The scale to Evaluate the Development of Identity of Adolescents (AIDA), Test composed by profession’s pictures BBT-BR and a Questionnarie elaborated by the author of this dissertation. The data were worked firstly in the Excel Program and then by to R cran software. The Mann Witney (not parametric) statistics and effect size were made in the EMEP and BBT-BR scales, and to the AIDA scale the T Test and effect size were used to compare the groups. The findings about the influence in the professional choice pointed that the Family was the major influence factor to the choice process. In the EMEP the adolescents had average maturity to the professional choice. In the AIDA scale the data showed that they have health and integrated identities. With respect to the BBT-BR test, it can be implicated the work field of both groups were alike.

Therefore, we can draw a conclusion that besides the fact that the adolescents face a crisis and discovering moment of life, the issues about the professional choice seems to be preserved because they are able to make a conscious choice by a health formation of identity.

KEY-WORDS: Professional Maturity; Identity; Adolescence

(9)

ABOP – Associação Brasileira de Orientação Profissional

AIDA – Escala de Avaliação de Formação de Identidade em Adolescentes AIP – Avaliação de Interesses Profissionais

AFC – Análise Fatorial Confirmatória AP – Avaliação Psicológica

BBT – BR – Teste de Fotos de Profissões BFP – Bateria Fatorial de Personalidade CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa EAP – Escala de Aconselhamento Profissional ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EIDV – Escala de Interesses Profissionais para Pessoas com Deficiência Visual EMEP – Escala de Maturidade para Escolha Profissional

EPOOc – Escala de Preferência por Objetos Ocupacionais FGV – Fundação Getúlio Vargas

ISOP – Instituto Superior de Estudos e Pesquisa LIP – Levantamento de Interesses Profissionais MG – Minas Gerais

OP – Orientação Profissional

OPC – Orientação Profissional e de Carreira SDS – Questionário de Busca Autodirigida SOP – Serviço de Orientação Profissional

SSOP – Serviço de Seleção e Orientação Profissional SP – São Paulo

TDP – Teste de Dinâmicas Profissionais

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso USP- Universidade de São Paulo

(10)

Tabela 1. Trabalhos selecionados na Revisão Sistemática ... 19

Tabela 2. Religião por origem escolar ... 47

Tabela 3. Atividade extracurricular por origem escolar ... 45

Tabela 4. Escolaridade da mãe e do pai por origem escolar... 46

Tabela 5. Aspectos/fatores de influência na escolha profissional por origem escolar ... 50

Tabela 6. Estatística descritiva dos alunos por subescala do EMEP e origem escolar... 51

Tabela 7. Média, Desvio Padrão, Estatística Mann-Witney e d de Cohen da maturidade total por origem escolar ... 49

Tabela 8. Média, Desvio Padrão, Estatística Mann-Witney e d de Cohen da maturidade total em função do sexo por escola ... 51

Tabela 9. Média, Desvio Padrão, Test t e d de Cohen das escalas da AIDA por origem escolar ... 52

Tabela 10. Média, Desvio Padrão e Test t e d de Cohen das escalas da AIDA por origem escolar e sexo ... 54

Tabela 11. Média, Desvio Padrão, Test t e d de Cohen das subescalas da AIDA por origem escolar ... 56

Tabela 12. Produtividade, estruturas médias de inclinação motivacional (primária e secundária), Estatística Mann-Witney e d de Cohen em função sexo na escola particular ... 57

Tabela 13. Produtividade, estruturas médias de inclinação motivacional (primária e secundária), Estatística Mann-Witney e d de Cohen em função do sexo na escola pública ... 61

(11)

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 16

1.1 Orientação Profissional no Brasil ... 16

1.2 Instrumentos utilizados em Orientação Profissional no Brasil – Revisão Sistemática . 18 1.3 Adolescência e escolha profissional ... 27

1.4 Influências e Identificações na escolha profissional ... 29

1.5 Maturidade para Escolha Profissional ... 31

1.6 Um olhar da Psicanálise para a adolescência ... 33

2. OBJETIVOS... 37

2.1 Objetivo Geral ... 37

2.2 Objetivos Específicos ... 37

3. MÉTODO ... 38

3.1 Amostra ... 38

3.2 Instrumentos ... 39

3.3 Procedimentos éticos e de coleta de dados ... 42

3.4 Análise de dados ... 43

4. RESULTADOS ... 45

4.1 Caracterização da amostra – “Quem eu sou e o que pode influenciar na minha escolha profissional” ... 45

4.2 Escala de Maturidade para Escolha Profissional – EMEP ... 49

4.3 Escala AIDA ... 52

4.4 Teste de Fotos de Profissões BBT-BR ... 55

5. DISCUSSÃO ... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 69

REFERÊNCIAS ... 70

ANEXOS ... 82

(12)

Anexo 2 ... 84

Anexo 3 ... 85

Anexo 4 ... 86

Anexo 5 ... 88

Anexo 6 ... 90

(13)
(14)

INTRODUÇÃO

Decidir sobre a profissão, na cultura em que vivemos, é entendido com um marco na constituição do sujeito, parte do ritual de passagem da adolescência para a vida adulta. É um momento que pode desencadear o que é conhecido como uma das crises da adolescência, vivenciada com medos e ansiedade (PAIM, 2007). Na escolha da profissão estão envolvidos fatores pessoais, culturais e sociais, de acordo com Levenfus (1997).

Sendo assim, o presente trabalho buscou refletir sobre a questão da maturidade para a escolha da profissão, relacionada aos aspectos e influências que os adolescentes podem vivenciar neste período.

Bohoslavsky (1998) indica que o processo de escolha da profissão tem desenvoltura na adolescência, mesmo que este momento seja nomeado como uma fase turbulenta e de indecisão da identidade. Dessa forma, quando o momento é de incertezas, exige-se do adolescente a escolha profissional, com a carga de ser a priori, para toda vida.

O autor compreende que o adolescente não apenas escolhe uma profissão em si, mas por aquilo que esta lhe representa, porque que deseja ser como tal pessoa, real ou imaginária e possuir atributos e possibilidades supostamente pela posição ocupacional. “Isto quer dizer que o ‘queria ser engenheiro’ nunca é somente ‘queria ser engenheiro’, mas ‘quero ser como suponho que seja Fulano de tal, que é engenheiro e tem mais ‘poderes’, que quisera fossem meus’” (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 28).

Para Sarriera et al. (2001), esse processo de escolher uma profissão aponta que o desenvolvimento da identidade pessoal (Quem sou eu?) está ligada a identidade ocupacional (Quem quero ser?), e com o que o adolescente apresenta de interesses e competências (Do que eu gosto?). Diante dessas questões, este trabalho se propôs a investigar a maturidade para escolha profissional e desenvolvimento da identidade de alunos do 3° ano do ensino médio, buscando assim compreender os aspectos da identidade que transpassam essa formação considerando sua subjetividade. A escolha pelo tema desta dissertação decorreu da prática profissional desta pesquisadora com adolescentes que estão passando pelo cenário da escolha profissional. Tal prática profissional decorre da atuação nas áreas escolar e clínica. Além disso, essa pesquisa é fruto do mestrado desta pesquisadora em Psicologia realizado na Universidade Federal de Mato Grosso, após concluir a graduação em psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT e iniciar formação permanente em Psicanálise.

(15)

A partir das observações realizadas na prática profissional desta pesquisadora observou-se um discurso dos adolescentes em relação a ansiedade e medo, por conta das exigências parentais, escolares e até pessoais. Há um grande peso carregado por este adolescente em virtude de algumas imposições sociais e do medo da quebra do ideal parental – que se cumpre em alguns momentos desejos não pessoais, e, em outros momentos, negações em assumir novas responsabilidades e assim abrir mão da condição infantil. A questão da maturidade/imaturidade desses sujeitos, a demanda em cumprir essa escolha em um momento que podem não se sentirem aptos a fazê-la, frente também às exigências familiares, sociais, desejos e angústias, tem sido objeto de discussão das equipes psicopedagógicas, tanto nas falas dos alunos em grupos de discussão, como também individualmente, na clínica. Dessa forma, a realização desta pesquisa faz-se necessária para abranger os conhecimentos em relação a esta temática, trazendo discussões para o contexto da orientação profissional. Além disso, auxiliará na elaboração e/ou aperfeiçoamento de instrumentos que possam contribuir na compreensão desse fenômeno (maturidade/imaturidade), considerando as diferenças sociais e econômicas dos adolescentes. E ainda, possibilitar aos sujeitos compreensão da dinâmica psíquica no momento da sua escolha profissional.

Os resultados desta pesquisa poderão trazer dados sobre a população jovem que está em momento de ingresso nas universidades, sobre a formação de identidade desses adolescentes, abrindo caminho para detectarmos os movimentos de uma identidade saudável ou patológica; e mais: pensar sobre saúde mental e sofrimento psíquico no contexto escolar. Além disso, este trabalho procurou introduzir nas instituições escolares a importância do profissional psicólogo e da orientação profissional (OP), não apenas aos alunos no momento do ENEM/vestibular, mas também aos que ainda estão caminhando para escolher uma profissão, como um processo de construção que possa auxilia-los no amadurecimento, para que tenham a possibilidade de tomar uma decisão mais segura e legítima acerca da profissão.

(16)

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Orientação Profissional no Brasil

A Orientação Profissional (OP) surgiu no início do século XX concomitantemente com a criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, em 1902, com o intuito de identificar dentro do cenário industrial os trabalhadores que não tinham habilidades para desempenhar tarefas específicas, diminuindo assim os riscos de acidentes de trabalho. No entanto, apenas em 1907, tem-se oficialmente o início da Orientação Profissional, com a criação do Vocational Bureau of Boston (Centro de Orientação Profissional norte- americano) e a publicação em 1909 do livro Choosing a Vocation de autoria de Frank Parsons (SPARTA, 2003).

No Brasil, a OP teve seu início no ano de 1924, com a criação do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para estudantes do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e esteve atrelada à Psicologia Aplicada que estava se desenvolvendo naquele período juntamente com a Medicina, Educação e Psicologia Organizacional ou do trabalho. Mais tarde, em 1934, por ação de Lourenço Filho, a OP foi inserida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo, e no ano de 1942, com a organização do ensino secundário, por meio da Lei Capanema, que determinou a atividade de Orientação Educacional, tornou-se responsável por amparar os alunos em suas escolhas profissionais (SPARTA, 2003).

Desde o seu nascimento, na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira pautou-se pelo modelo da Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas ideias de que o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada indivíduo, o que foi feito, desde o início, com base na Psicologia Aplicada, especialmente na Psicometria (SPARTA, p. 4, 2003).

De acordo com Sparta (2003), no Rio de Janeiro, o Instituto Superior de Estudos e Pesquisas (ISOP) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram os pioneiros a oferecer curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional. O ISOP tinha como objetivo os seguintes pontos: 1- desenvolver métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e à Educação (realizado inclusive por meio de adaptação e validação de instrumentos psicológicos estrangeiros, e criação de instrumentos brasileiros); 2- atendimento ao público dentro dos processos de Seleção e OP; e 3- formação de novos especialistas. O instituto tornou-se referência no crescimento da Psicologia brasileira, em especial na psicometria, mudando alguns de seus objetivos. Portanto, transformou-se, no ano de 1970, em um órgão normativo da Psicologia, alterando seu nome para Instituto Superior

(17)

de Pesquisa Psicológica, abrangendo assim seu campo de interesse. Além disso, iniciou um trabalho de formação de especialistas, docentes e pesquisadores a nível de pós- graduação e também encerrou os atendimentos de orientação profissional ao público.

Com a regulamentação da profissão de Psicólogo nesse mesmo período, a OP começou a se aproximar da Psicologia Clínica transferindo as atividades para dentro dos consultórios particulares.

A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996), introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (1995; 2001) (SPARTA, 2003, p.4).

Maria Margarida de Carvalho (1970), primeira professora da USP da disciplina de Seleção e Orientação Profissional do curso de Psicologia, foi a responsável por apresentar as ideias de Bohoslavsky no país, além de ser a autora do processo grupal em OP. Houve, neste momento, um aumento na demanda do Serviço de Orientação Profissional (SOP) na USP e portanto tornou-se necessária esta adaptação do processo de realização da OP. A professora sugeriu trabalhos em grupo como manejo para suprir as demandas, alternativa ao modelo psicométrico e também como método de aprendizagem da escolha. A junção do modelo de Bohoslavsky com as inovações de Carvalho deram forma ao modelo brasileiro de Orientação Profissional, que é utilizado até os dias atuais, em todo Brasil (SPARTA, 2003).

Após esse momento, várias modificações foram realizadas nesse contexto, com novos referenciais teóricos e técnicos. Em 1993 durante o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional, realizado em Porto Alegre, foi criada a Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP), com o objetivo de unificar e desenvolver a Orientação Profissional no Brasil. A Associação teve como objetivo principal, agir eticamente, respeitar o rigor científico e assumir o compromisso com a população na prestação de serviços, pesquisa e formação. De lá para cá, a ABOP realiza encontros científicos bienais, e produz uma revista semestral para divulgação de trabalhos e pesquisas em OP e áreas afins (ABOP, 2019)

A globalização e as novas tecnologias acarretaram nova concepção de homem e de trabalho, as profissões passaram a ser reconsideradas e o ambiente de trabalho revisto e ampliado, assim como as concepções salariais e os setores de atuação profissional. O trabalho passou a ser oportunidade de realização pessoal e a orientação para o indivíduo passou a favorecer a descoberta e o exercício de suas competências, de forma que ele saiba localizar oportunidades

(18)

e refletir sobre sua forma de atuar no mundo e, assim, construir sua carreira profissional (RESENDE, 2017, p 23).

A OP no decorrer do século XX se ampliou e mais recentemente passou a ser Orientação Profissional e de Carreira (OPC) (Ribeiro, 2011), orientando não apenas estudantes, mas também outras pessoas na escolha da profissão e construção de carreira, auxiliando assim a constituição de um projeto de vida. O objetivo passou a ser de orientar pessoas, de diferentes idades e campos (estudantes, desempregados, campos empresariais), a realizarem escolhas voltadas ao trabalho, com o intuito de promover satisfação, constância e estabilidade na vida, ao mesmo tempo que torna-as capaz de seguir as transformações do mercado de trabalho e da sociedade em que se está inserido (RESENDE, 2017): “Constituem-se, portanto, como intervenções que consideram o contexto no qual o sujeito esteja inserido, suas possibilidades de educação, de trabalho e seus interesses profissionais” (RESENDE, 2017, p. 24).

Com o aprimoramento nos processos de OPC e o surgimento de novas e diferentes demandas neste cenário, é pontual pensar sobre os instrumentos de avalição psicológica no Brasil utilizados na OPC. A seguir será apresentada uma discussão sobre a interface entre essas duas áreas, por compreender a sua relevância.

1.2 Instrumentos utilizados em Orientação Profissional no Brasil – Revisão Sistemática

No contexto da Orientação Profissional (OP), a Avaliação Psicológica (AP) pode ser um recurso relevante. Com a mudança na produção da economia no Brasil, o campo de OP tem crescido, tornando-se importante a realização de pesquisas sobre esta temática e sobre os instrumentos utilizados nesta prática.

Especificamente quanto aos instrumentos, fez-se uma revisão sistemática, dos últimos cinco anos, de instrumentos utilizados em OP no Brasil. Duas bases de dados foram selecionadas para busca dos instrumentos, o Pepsic e Scielo, e foram utilizadas como palavras chaves: “orientação vocacional” e “orientação profissional”. Para selecionar os trabalhos foram definidos como critérios de inclusão: artigos de 2015 – 2019 e trabalhos brasileiros que se referissem a instrumentos de avaliação psicológica específicos da orientação profissional. Foram encontrados 51 artigos, excluídos os trabalhos duplicados, lidos os resumos e a partir desses critérios foram selecionados 21 artigos científicos, como podemos visualizar na tabela a seguir.

(19)

Tabela 1. Trabalhos selecionados na Revisão Sistemática

Fonte: A própria autora

Após selecionados, todos os trabalhos foram lidos na íntegra. E, para que fosse possível uma discussão sobre cada tema encontrado, serão apresentados os principais resultados de cada tema.

Na temática Inclinações, influências e motivações profissionais, os trabalhos apresentaram resultados oposto quanto a influência da questão socioeconômica na autoeficácia do desenvolvimento de carreira e maturidade para escolha profissional. O estudo de Leal, Melo-Silva e Teixeira (2015) da Universidade de São Paulo (USP), realizado com 241 estudantes do ensino médio em São Paulo, utilizaram o Inventário de Autoeficácia em Desenvolvimento da Carreira (CD-SEI) e os resultados mostraram que os alunos de nível socioeconômico mais elevado foram mais capazes de planejar suas carreiras do que alunos de nível socioeconômico mais baixo. No trabalho de Cattani, Teixeira e Ourique (2016) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre/RS, com 265 estudantes também do ensino médio, os autores utilizaram dois instrumentos: uma versão adaptada do Inventário de Maturidade de Carreira - forma C (Adaptabilidade) [Career Maturity Inventory - Form C (Adaptability Form)] e um questionário sociodemográfico e afirmaram não ser possível relacionar o nível socioeconômico com a prontidão para escolha profissional.

Outra importante influência foi apresentada por Sobrosa et al. (2015) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estudo teve como objetivo investigar influências dos genitores na escolha profissional de jovens de classes econômicas desfavorecidas. O estudo contou com 200 alunos das séries do ensino médio, de duas

Tema dos trabalhos Quantidade

Inclinações/Influências/ Motivações Profissionais 6 Construção/Padronização/Validade 4 Relação de construtos na escolha 4 Características Psicométricas do instrumento 1

Estabilidade temporal da escala 1

Estrutura fatorial do instrumento 1

Correlação entre instrumentos 3

Experiência de estágio 1

Total de trabalhos selecionados 21

(20)

escolas públicas do interior do Rio Grande do Sul. O instrumento utilizado foi um questionário elaborado pelos autores. Os resultados apontaram que maior parte dos alunos não sentem influência dos genitores no momento da escolha profissional, no entanto, outra parte dos alunos afirmaram sofrer influência de familiares, amigos, mídia e professores. Os autores salientam que os alunos que não observaram interferência no momento da escolha profissional, não levam em consideração a participação de outros fatores como a família, amigos, mídia no processo de desenvolvimento educacional.

A maturidade profissional também foi uma influência na escolha profissional, conforme estudo de Cericatto, Alves e Patias (2017), realizado com 243 adolescentes, entre 14 e 19 anos de idade. A Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP) e um questionário sociodemográfico foram utilizados. Como resultados, não houve diferença significativa na maturidade total entre os sexos. A única diferença significativa encontrada foi na subescala Responsabilidade, no qual participantes do sexo feminino apresentaram médias maiores que o sexo masculino, ou melhor, o grupo do sexo feminino se preocupa mais com a escolha profissional e se movimenta mais para concretização desta escolha, de modo mais responsável.

Sobre as inclinações e motivações profissionais houveram diferenças quanto ao sexo (feminino e masculino). Estudo de Resende e Pasian (2017) da Universidade de São Paulo (USP – Ribeirão Preto), objetivou caracterizar inclinações motivacionais de alunos do nono ano do ensino fundamental da região norte do Brasil. O Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br) foi utilizado. A amostra foi composta por 199 estudantes de escolas públicas e particulares, de Manaus (AM), de ambos os sexos e com idade média de 14,3 anos. Os resultados apontaram que prevaleceu nesses alunos o perfil social, a criatividade e o raciocínio lógico, com diferenças quanto ao sexo e origem escolar. Para o sexo feminino predominou atividades profissionais ligadas ao contato pessoal e ajudar pessoas, pensamento criativo abstrato, raciocínio lógico e pensamento organizado. Além disso, optaram por instrumentos de trabalho, objetos suaves e tato, e para locais de trabalho, instituições de ajuda e disponibilidade para cuidar do outro. No grupo do sexo feminino não foram encontradas diferença estatística nas escolhas de inclinações.

Para o grupo do sexo masculino, as inclinações profissionais predominantes foram curiosidade, pesquisa e abstração, também o pensamento criativo, os relacionamentos interpessoais e ajudar pessoas. Para locais de trabalho, como preferência para oficinas e indústrias, além de trabalho com material resistente, também trabalhos em instituições de ajuda. Foram encontradas diferenças significativas quanto as origens escolares nos

(21)

radicais K e V. Esses dados apontaram que os alunos da escola pública possuem preferência por atividades de forca física, energia e racionalidade, quando comparados com os colegas da escola particular. As autoras concluem que as inclinações profissionais possuem especificidades em função do sexo, já que mesmo com inclinações motivacionais semelhantes, o que define a escolha profissional são as particularidades das escolhas de atividades profissionais, instrumentos e ambientes de trabalho.

Na temática Construção, Padronização e Validade de Instrumentos, encontramos o trabalho de Barros e Ambiel (2018), da Universidade de São Francisco, Campinas/SP.

Neste estudo a amostra se compôs de 137 deficientes visuais, com idade a partir de 18 anos. O estudo teve como objetivo a construção da Escala de Interesses Profissionais para pessoas com Deficiência Visual (EIDV) apoiada pela teoria de Holland, e também verificar evidências de validade relacionadas ao conteúdo e a estrutura interna do instrumento. Para verificar a validade e confiabilidade do instrumento foi realizada a priori uma análise fatorial de cada fator de interesses profissionais apresentado (realista, investigativo, artístico, social, empreendedor e convencional). Em seguida investigaram os índices de precisão por meio do Alfa de Cronbach, com os seguintes resultados por fatores: Empreendedor, α=0,92 (elevado), Social, α=0,91 (elevado), nos fatores Convencional, α=0,88, Artístico α=0,89 e Realista α=0,88 os coeficientes foram considerados moderados/elevados, o único fator que obteve coeficiente baixo foi Investigativo α=0,73. Com esses resultados observou-se boa confiabilidade dos seis fatores em mensurar interesses profissionais, além de corroborar com a área de avaliação psicológica e interesses profissionais de deficientes visuais.

A construção de um instrumento para avaliar escolha profissional também foi o objetivo do trabalho de Moreira, Ambiel e Nunes (2018) da Universidade São Francisco, de Campinas/SP e da Universidade Federal de Santa Catarina, de Florianópolis/SC.

Participaram 388 estudantes das séries do ensino médio, com idade entre 14 e 19 anos, de escolas públicas e particulares do interior de São Paulo. Os autores tinham como objetivo a construção da Escala de Fontes de Autoeficácia para Escolha Profissional (EFAEP). Os alunos também responderam à Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE-EP). A análise dos componentes principais da escala foi feita com rotação direct oblimin e alcançou um KMO = 0,86, teste de esfericidade de Bartlett significativo ao nível de p<0,001 e análise de consistência por meio de alfa de Cronbach.

Após as análises 3 fatores e 25 itens alcançaram carga fatorial estipulada (carga fatorial maior que 0,30) e os resultados foram: Fator 1 - Aprendizagem Vicária, com total de 9

(22)

itens e alfa de Cronbach de 0,80; Fator 2 – Persuasão verbal, com 7 itens e consistência interna 0,81 e Fator 3 – Experiências pessoais, com 9 itens consistência interna de 0,73.

Quanto a construção da escala, no que diz respeito aos componentes principais, os autores afirmaram que são ainda necessários alguns ajustes para o melhor aproveitamento da escala e respeito ao suporte teórico.

Dois estudos de validade também foram encontrados na revisão, o primeiro trata- se de estudo validade realizado por Ottati e Noronha (2016), da Universidade de São Francisco – Campinas/SP. A pesquisa teve como objetivo buscar evidências de validade da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) por meio de correlação com o Teste de Fotos de Profissões (BBT-BR). Teve como participantes 196 alunos do 5º e 7º semestres dos cursos de Pedagogia, Odontologia e Ciência da Computação de uma universidade particular; os estudantes tinham idade entre 19 e 49 anos e 62,8% eram do sexo feminino.

Foi realizada análise de correlação parcial de Pearson para verificar evidências de validade de construto convergente para a EAP. Os resultados demonstraram coeficientes significativos, de baixos a moderados em todas as dimensões e fatores. Os resultados indicaram coeficientes de correlação iguais ou superiores a 0,30. As dimensões que alcançaram coeficientes elevados foram Ciências exatas, que se correlacionou com Fator V – objetividade (r = 0,44); Ciências biológicas e da saúde obtiveram elevadas correlações nos fatores S (social) (r = 0,53) e G (imaginação criativa) (r = 0,51). Outras dimensões e fatores obtiveram coeficientes de correlação iguais ou um pouco acima de 0,30, Artes e Comunicação com os fatores Z (evidência), G (imaginação criativa) e S (social); Atividades Burocráticas com fatores V (objetividade) e G (imaginação criativa).

A dimensão Ciências Humanas se correlacionou com os fatores G (imaginação criativa), V (objetividade), Z (evidência), S (social) e M (matéria); e a dimensão Entretenimento com os fatores Z (evidência) e O (oralidade), sendo que, nesta última, as correlações não foram acima de 0,30.Os resultados indicaram correlação entre os dois instrumentos e evidências de validade para a Escala de Aconselhamento Profissional.

O segundo estudo de validade foi realizado por Audibert e Teixeira (2015) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre/RS. Os autores tinham como objetivo revisar a versão brasileira da Escala de Adaptabilidade de Carreira (EAC), além de obter evidências de validade e fidedignidade. Participaram 990 universitários (64,2%

do sexo feminino), com idade média de 25,8 anos, e os instrumentos utilizados foram uma ficha sociodemográfica e a EAC. A análise da fidedignidade da escala foi realizada por meio do Alfa de Cronbach e os resultados alcançados foram de: 0,88 (preocupação),

(23)

0,83 (controle), 0,88 (curiosidade), 0,89 (confiança) e 0,94 (Total), ou seja, apresentaram consistência interna excelente. Portanto, um instrumento com escores fidedignos de adaptabilidade de carreira, tanto na escala total, quanto em cada subescala.

Outra temática encontrada nesta revisão foi a correlação de construtos na escolha profissional. Estudo de Ambiel e Hernández (2016) da Universidade de São Francisco, de Itatiba/SP, teve como objetivo verificar as relações entre autoeficácia para escolha profissional, comportamento exploratório e indecisão vocacional. Com amostra de 272 estudantes do ensino médio, de uma escola do interior de São Paulo. Foram utilizados a Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE – EP), Escala de Exploração Vocacional (EEV) e a Escala de Indecisão Vocacional (EIV). Os resultados demonstraram que os fatores da escala EAE-EP se correlacionaram positivamente com os fatores da escala EEV, mostrando que a autoeficácia para tomada de decisões no momento da escolha profissional está relacionada às atividades de exploração de carreira.

Houve correlação elevada nos fatores Autoavaliação (escala EAE-EP) e Exploração de si (escala EEV). Ou seja, para que uma pessoa planeje seu futuro, é necessário que ela explore o ambiente em que está inserida e o ambiente que aspira, do mesmo modo que ao explorar a si próprio, seus interesses e características pessoais, mais repertório ele terá para uma autoavaliação. Outro resultado importante foi a correlação negativa entre o fator Autoavaliação (EAE-EP) e a Escala de Indecisão Vocacional (EIV), que sugere que o comportamento exploratório propicia a pessoa informações para tomar uma decisão de acordo com suas preferências e gostos, ou seja, quanto maior o comportamento exploratório, menos indecisão a pessoa terá. Desta forma, o estudo infere que crenças de capacidade para se autoavaliar possuem impacto nos comportamentos exploratórios de si e está relacionado a altos níveis de indecisão.

A indecisão na escolha profissional também foi um dos temas do trabalho de Campos e Noronha (2015) da Universidade de São Francisco, de Itatiba/SP. O estudo teve como objetivo relacionar indecisão profissional e otimismo em jovens aprendizes e estudantes do Ensino Médio/Técnico. A pesquisa contou com 250 jovens que cursavam concomitantemente e/ou não ensino técnico – profissional e ensino médio. Foram utilizados o Inventário de Levantamento das Dificuldades da Decisão Profissional (IDDP) e Revised Life Orientation Test Brasil (LOT-R Brasil). Os resultados apontaram que os índices de otimismo foram maiores que os de pessimismo, propondo que a maior parte da amostra enfrenta as complexidades da vida com êxito. Também inferiram que a indecisão profissional está mais presente em pessoas pessimistas, portanto, quanto mais

(24)

seguras as pessoas estão, mais aptas estarão para realizar uma escolha profissional. Além desses resultados, se observou que o fator Ênfase na busca de prestígio e retorno financeiro (IDDP) alcançou maior destaque, e o fator Conflitos com pessoas significativas alcançou menor destaque. Os instrumentos apresentaram correlação negativa e significativa, de baixa magnitude entre o fator Insegurança e falta de informação, revelando que estes jovens se sentem seguros e preparados para decidir uma profissão.

Ainda sobre a correlação de construtos na escolha profissional, dois estudos trazem importantes contribuições sobre afetos negativos e positivos na escolha profissional. O primeiro trata-se do trabalho de Barros, Noronha e Ambiel (2015), também da Universidade São Francisco de Itatiba/SP. Teve como objetivo relacionar afetos positivos e negativos com interesses profissionais e personalidade. Participaram 92 alunos do Ensino Médio, com idade entre 14 e 18 anos (59,8% meninas) e os instrumentos Escala de Afetos Zanon (EAZ), Questionário de Busca Auto-Dirigida (SDS) e Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) foram utilizados. Os resultados apontaram poucas associações entre afetos e interesses profissionais, já entre afetos e a personalidade encontrou-se coeficientes de magnitude moderada.

O segundo estudo, e mais recente, foi realizado por Alves e Ambiel (2018) da mesma Universidade. A amostra foi composta de 350 universitários, de diferentes cursos, com idade entre 17 e 53 anos e foram utilizados Escala de Forças de Caráter (EFC), Escala de Afetos Zanon (EAZ), Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) e Questionário Sociodemográfico como instrumentos. Os resultados demonstraram que os instrumentos de forças de caráter e interesses profissionais obtiveram baixa e moderada correlação.

Porém, também se observou que os afetos se correlacionam com as forças de caráter de forma geral, alcançando magnitude mais elevada. No entanto, os autores afirmam que os construtos avaliados apresentam pouco conteúdo em comum, se aproximando dos resultados da pesquisa anterior.

A próxima temática trata-se da investigação das características psicométricas dos instrumentos utilizados na OP. O estudo foi de Pereira, Ambiel e Barros (2017) da Universidade São Francisco, de Campinas/SP e teve como objetivo realizar a adaptação e verificar as propriedades psicométricas da The Adolescent-Parent Career Congruence Scale para uma amostra brasileira. Na primeira parte da pesquisa foi feita a tradução, retrotradução, análise dos juízes, estudo piloto, nova retrotradução e revisão pelos autores originais. Já na segunda parte participaram da pesquisa 292 estudantes de escolas públicas e particulares de Minas Gerais, com idade média de 15,7 anos de idade (61,6% do sexo

(25)

masculino,). Os instrumentos utilizados foram um Questionário sociodemográfico, Escala de Congruência entre Pais e Filhos sobre a Escolha Profissional - ECPF-EP e Escala de Exigência e Responsividade Parentais. As análises foram feitas por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 2.0. Posteriormente a validade foi realizada, por meio de análises paralelas e de componentes principais. Os resultados indicaram que em 2 componentes e 12 itens, alcançaram índices de consistência interna alfa de Cronbach no fator 1 - α=0,81 e no fator 2 α=0,89, assim exibindo que as propriedades psicométricas da versão brasileira do instrumento foram adequadas.

A próxima temática se refere estudo longitudinal realizado por Lamas (2018) da Universidade Salgado de Oliveira, Juiz de Fora - MG e Noronha (2018) da Universidade São Francisco, Campinas – SP. O estudo teve como objetivo analisar a estabilidade temporal das dimensões da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) e dos escores de nitidez e elevação. A amostra foi de 96 estudantes do ensino médio, obtidos por meio de três aplicações, uma a cada ano do ensino médio. As análises foram feitas por meio de provas inferenciais, adotando-se nível de significância 0,05. Ao utilizar o método de teste- reteste também foi feita correlação de Pearson e a magnitude classificada no intervalo entre 0,40 e 0,69 (força moderada). Nas 3 aplicações, os resultados evidenciaram nível de magnitude moderado nos coeficientes de estabilidade para as dimensões. Os valores dos índices de correlação foram mais elevados no segundo e terceiro ano de aplicação, no entanto, as diferenças não foram significativas.

O seguinte tema apresenta estudo de estrutura fatorial do instrumento. Este estudo foi realizado por Noronha, Pinto e Ottatti (2016) da Universidade São Francisco, de Bragança Paulista/SP e se propôs a testar a estrutura fatorial proposta pela Escala de Aconselhamento Profissional (EAP), por meio de análise fatorial confirmatória (AFC). A amostra contou com 805 estudantes universitários de faculdades particulares do interior de SP, sendo 48% (386) do sexo feminino e 38,3% (300) do sexo masculino, com idade entre 18 a 56 anos e média de 24,35 anos (DP=6,94). A análise foi realizada por modelagem por equações estruturais, no que se refere aos componentes foram utilizados a razão entre o qui-quadrado (χ2) e os graus de liberdade (gl), e os índices de ajuste CFI, TLI, RMSEA e SRMR. Os resultados mostraram quanto ao modelo fatorial bons índices de ajustamento das suas estruturas, apesar dos coeficientes de ajuste não terem sido bons.

A próxima temática encontrada nesta revisão, diz respeito a correlação de instrumentos. A primeira pesquisa apresentada foi realizada por Murgo, Andrade e

(26)

Rozendo (2016), da Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente – SP e teve como objetivo correlacionar a Escala de Preferências por Objetos Ocupacionais (EPOOc) com o Questionário de Busca Autodirigida (SDS). Participaram da pesquisa 496 estudantes, do ensino médio, com idade média de 17 anos (DP=20,4). Os resultados apontaram significativa correlação entre Artes e Comunicação e tipo Artístico, também entre Ciências Biológicas e Investigativo, além de correlação entre o Entretenimento e Social. Mostraram diferença na média, entre os sexos, nas tipologias Realista, Social e Empreendedor, e nos fatores Ciências Biológicas e Ciências Exatas e Agrárias. Os resultados também indicaram que a proporção de variabilidade é a mesma entre os constructos.

O segundo trabalho de correlação de instrumentos foi realizado pelas pesquisadoras Shimada e Melo-Silva (2016), da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto/SP, e Taveira (2016) da Universidade do Minho, Braga – Portugal. A pesquisa buscou investigar as correlações entre o Teste de Fotos de Profissões BBT-BR e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP). Contaram com amostra de 906 universitários de ambos os sexos, com idade média de 23 anos (DP=5,18) e as análises foram realizadas por meio de correlação de Pearson. Os resultados do grupo do sexo masculino expuseram correlações significativas entre alguns radicais do BBT-BR, como por exemplo: o radical Z do BBT, se correlacionou com a faceta Interesses por novas ideias (0,41) e o fator Abertura do BFP (0,30); o radical V com a faceta Competência do fator Realização do BFP (0,26); o radical G e a faceta Interesses por novas ideias (0,33); e no radical O e facetas Comunicação (0,25), Dinamismo (0,27) e o fator Extroversão do BFP (0,30). Nas participantes do sexo feminino as associações significativas foram menores. As únicas correlações foram entre o radical de inclinação Z (BBT) com a faceta Interesse por novas ideias (0,37) e o fator Abertura (0,29), do BFP. Por fim, o estudo corroborou com outros achados da literatura quanto a estes radicais do BBT-BR.

O último tema encontrado nesta revisão retrata estudo de Graeff e Patias (2018) publicado pela Revista de Psicologia da IMED. A pesquisa apresentou a experiência de estágio com alunos do 3º ano do ensino médio, realizado em uma escola particular do Rio Grande do Sul. O estudo objetivou propiciar reflexões sobre as escolhas profissionais.

Quarenta e sete estudantes participaram dos encontros com idade entre 15 a 16 anos e durante os encontros foram aplicadas técnicas projetivas, testes psicométricos e dinâmicas de grupo; entre os testes aplicados: Teste das Dinâmicas Profissionais (TDP), Levantamento de Interesses Profissionais (LIP) e Avaliação de Interesses Profissionais

(27)

(AIP). Os resultados apontaram que o trabalho propiciou aos adolescentes reflexão sobre o momento da escolha da profissional e sobre as diferentes áreas de trabalho, além de conhecimento sobre o mercado de trabalho. Ressaltaram, em relação aos testes aplicados, que é de suma importância que estes se mantenham atualizados, destacaram ainda que este trabalho deu aos alunos autonomia e exploração das atividades ocupacionais desejadas, que possivelmente diminui a ansiedade diante da escolha profissional.

Isto posto, esse levantamento evidencia que a utilização de testes em OP tem sido significativa e crescente. Os estudos corroboram com a importância de se desenvolver novos estudos, possibilitando, desta forma, um avanço ainda maior para esta atuação profissional.

1.3 Adolescência e escolha profissional

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, define como adolescente a pessoa na faixa etária de 12 a 18 anos de idade. Em alguns casos (disposto na lei), o estatuto pode ser adotado até os 21 anos de idade, conforme artigos 121 e 142. Este período se caracteriza por transições no desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social, além de se buscar cumprir expectativas culturais do meio em que vive (EISENSTEIN, 2005).

Para o adolescente, o início da vida adulta, ao mesmo tempo que traz desejos e ansiedades, constitui a perda definitiva de sua identidade infantil (BORDÃO-ALVES &

MELO-SILVA, 2008). Concomitantemente às mudanças psíquicas e biológicas, acontece o momento da escolha da profissão. Noce (2008) atesta que escolher uma profissão compreende um período de mudança que abraça o desenvolvimento da identidade adulta:

“Nesse sentido, durante o processo de escolha profissional há uma negociação que visa à integração do autoconceito do indivíduo (necessidades individuais, identificações, estilos de defesa e valores) com o papel profissional” (NOCE, 2008, p.71). A teoria psicanalítica ao pensar a adolescência e a escolha profissional, apoia-se em determinados conceitos, entre eles: de sujeito, de processos psíquicos implicados na escolha profissional, dos sentidos que são dados ao trabalho e ao lugar que esse trabalho ocupará na constituição da subjetividade e na sua socialização (VALORE, 2016). Neste momento de transição, momento em que a escolha da profissão está inserida, ocorre também a reorganização da identidade, com a passagem do mundo infantil ao mundo adulto. Entra em jogo novamente a condição edipiana, em especial as identificações da primeira infância. As

(28)

transformações nessa fase estão unidas a dúvidas e angústias, além de ser o momento de entrada na universidade, no qual esse adolescente passará a explorar caminhos que podem fazê-lo alcançar como adulto o seu espaço. (SOARES, AGUIAR, GUIMARÃES, 2010).

Paim (2007) corrobora sobre a posição da profissão na vida do sujeito:

É possível observar que a profissão passa, de alguma forma, a representar o sujeito no campo social. Tanto que, é senso comum numa apresentação dizer- se: “Fulano de tal, farmacêutico”, “Cicrano de tal, engenheiro”, acrescentando ao nome próprio a profissão que, nessa medida, pode ser tomada como um sobrenome, uma filiação, algo que, além do próprio nome, diz do sujeito de quem se fala, situando-o nesse universo social ( PAIM, 2007, p. 2).

Bohoslavsky (1998) aponta que a escolha profissional diz respeito aos interesses do adolescente, suas preferências por uma profissão ou por outra. Colombo e Pratti (2014) expõem que esse adolescente precisa levar em consideração fatores como o mercado de trabalho, sua colocação nele, as expectativas criadas no meio familiar e os seus desejos e preferências individuais. Compreende-se então, que por meio da maturidade para escolha profissional, esse adolescente pode ter acesso a uma maior quantidade de ferramentas para se tornar um profissional que estará satisfeito em sua profissão, podendo beneficiar a si e a sociedade.

Um importante apontamento é necessário sobre a distinção feita por Bohoslavsky (1998) em relação a identidade vocacional e a identidade profissional. Identidade vocacional está ligada aos aspectos afetivo-emocional, enquanto identidade profissional é o resultado da ação sócio-cultural. Soares (2002) corrobora com os termos diferenciados por Bohoslavsky, mas não os separa, pois entende que a pessoa é única e essas duas dimensões precisam ser levadas em conta para uma melhor escolha.

Na teoria psicanalítica, Puertas e Hashimoto (2016) referenciam a escolha profissional como um objeto eleito pelo sujeito, cuja escolha trará componentes que não passam apenas pelo consciente, mas por processos inconscientes que determinam como cada sujeito irá investir e se desenvolver no meio em que vive, seja no campo pessoal ou profissional. A noção de objeto em psicanálise é entendida como objeto de pulsões, ou seja, um movimento interno, uma representação psíquica que irá buscar a satisfação. Um bebê, por exemplo, tem como primeiro objeto de amor, a mãe (ou quem cumpre esse papel), pois é esta quem irá alimentá-lo e suprir todas as suas necessidades, “a cada nova demanda, o bebê ansiará pelo objeto, com vistas à obtenção da satisfação” (PUERTA;

HASHIMOTO, 2016, p. 5). Os autores determinam que a profissão, da mesma forma que acontece com a função materna, é escolhida a fim de alcançar satisfação, esta escolha (a

(29)

profissão) é um resultado de vivências anteriores, e no momento da escolha, o sujeito reproduzirá a forma que aprendeu a se relacionar com os primeiros objetos eleitos.

Significa dizer que foram os diversos tracejados deixados no psiquismo que conduzirão um indivíduo a eleger uma profissão em detrimento de outra qualquer. [...] Então, escolher uma profissão apontaria para uma forma de investimento libidinal, a profissão tida como um objeto. Portanto, a profissão eleita é passível de investimentos e uma maneira privilegiada de obtenção de descarga quantitativa, que gere satisfação (PUERTA; HASHIMOTO, 2016, p.

10).

Diante das demandas exigidas, é necessário abordar as influências, os afetos e as identificações nesse processo de escolha da profissão.

1.4 Influências e Identificações na escolha profissional

É importante destacar as variadas influências que atuam no momento da escolha da profissão, influências por diversas fontes, como: aptidões, interesses, características de personalidade, atitudes, valores, oportunidades educacionais dadas pelo nível socioeconômico, etc. (WHITAKER, 1997 apud LARA et al. 2005). Observa-se que a posição socioeconômica da família implica no andamento profissional do sujeito, proporcionando maior ou menor acesso à educação (LARA et al., 2005). Os adolescentes que possuem maior condição econômica, garantida pelos pais, dispõem de maior atenção com a realização pessoal.

O que acontece diferentemente com os adolescentes de famílias menos favorecidas e que são de classe média, em que se observa uma preocupação maior com o padrão financeiro, contudo, voltado à satisfação pessoal (LARA et al., 2005). Valore e Cavallet (2012) apontam uma crítica dentro da realidade do ensino médio no Brasil, em que nas escolas particulares existe uma grande preocupação no preparo para o vestibular/ENEM, na busca de um futuro com diploma superior, e nas escolas públicas há uma naturalização da exigência de se inserirem no mercado de trabalho imediatamente, sem muitas vezes terem uma formação, buscando na sobrevivência financeira, a única opção do adolescente.

Abreu-Filho (2005) assevera que “No contexto das teorias psicanalíticas da personalidade, pode-se considerar as identidades ocupacionais como manifestação de processos de sublimação de instintos” (ABREU-FILHO, 2005 p. 35). Logo, quando o adolescente escolhe uma profissão, ele atende aos seus desejos conjuntamente ao que lhe está posto socioeconomicamente, por meio do processo de socialização.

(30)

Bohoslavsky (1998, p. 49-50) registra:

Possivelmente mais útil do que o conceito de sublimação, seja o de reparação surgido da escola inglesa de psicanálise. Entre nós, Wender postula a hipótese de que as vocações expressam respostas do ego diante dos “chamados”

interiores, chamados de objetos internos prejudicados, que pedem, reclamam, exigem, impõem, sugerem, etc., ser reparados pelo ego. A escolha da carreira mostraria a escolha de um objeto interno a ser reparado. Isso significa que a carreira seria uma resposta do ego (invocado) a um objeto interior danificado (invocante). Possivelmente a reparação seja uma manifestação do instinto de vida.

Escolher uma profissão seguirá para uma reparação dos objetos danificados na fantasia. A autêntica reparação solicita clareza do papel profissional e busca contribuir para o crescimento da identidade ocupacional (ABREU-FILHO, 2005). O autor (2005) se refere a reparação como um movimento conectado à angústia e culpabilidade que são marcas da posição depressiva, na qual este é um mecanismo em que o sujeito busca reparar os impactos causados no seu objeto de amor, pelas suas fantasias de destruição.

Isso acontece em resposta à angústia e à culpabilidade próprias da posição depressiva, conceituada por Melanie Klein (1996) em Amor, culpa e reparação e Outros Trabalhos.

Nessa posição, tenta-se manter ou reconstituir integralmente a relação com o corpo materno; quando o superego rebaixa sua severidade excessiva, aparecem sentimento de culpa que ocasionam fortes tendências reparatórias.

Com o processo de reparação, espera-se que o adolescente tenha possibilidade de desenvolver reparações autênticas, levando em conta a realidade do seu meio e suas limitações individuais, também se espera que ele se realize ao mesmo tempo que compreenda as suas vocações e que seu ego responda às exigências interiores de objetos que solicitam por reparação. Essa reparação nunca será completa, visto que na realidade isso não é possível, portanto, ela é parcialmente constituída, sendo entendida como uma pseudo-reparação (ABREU-FILHO, 2005). Para o autor (2005),

Uma reparação integral restituiria por completo o objeto que na fantasia foi vivido como destruído, correspondendo a uma fantasia onipotente, e nesses moldes não se trataria de uma reparação autêntica, na acepção da palavra, mas de uma pseudo-reparação (ABREU-FILHO, 2005, p.36).

Outro importante aspecto elucidado por Abreu-Filho (2005), ao discutir sobre identidade, seja profissional ou vocacional, é a consideração de que nesse período o sujeito retomará as primeiras relações objetais, ansiedades e defesas com os desejos mais primitivos: os das figuras parentais. Os adolescentes podem ter alguma dificuldade em

(31)

sair da posição infantil em relação aos pais e desejarem permanecer “colados” a eles, não dando conta da separação (DOMINGUES, DOMINGUES; BARACAT, 2009).

A separação do adolescente em relação aos pais inclui abandonar a ideiaque a felicidade está em fazer seus pais satisfeitos, e saber que ele pode buscar sua própria satisfação independente dos pais. Os adolescentes passam por muitos processos para conseguirem ficarem felizes longe dos pais e do olhar de aprovação deles, pois necessitam perceber que eles desejam algo para além deles. Esta ligação com os pais é muito forte e por isso, muitas vezes, o adolescente tenta se livrar dela de forma rebelde e rude. Agir dessa forma aponta para uma imaturidade de seus sentimentos e de sua maneira de se relacionar (DOMINGUES, DOMINGUES; BARACAT, 2009, p. 6).

Tanto o adolescente, quanto os pais experimentam diferentes afetos durante o momento da escolha de uma profissão do filho, pois ambos se envolvem em diferentes posições. Ambos possuem suas escolhas fundamentadas a partir de identificações e, direta ou indiretamente, escolheram suas profissões em atendimento ao desejo de um outro (PAIM, 2007): “É possível, portanto, trabalhar com a ideia de que estejam implicados na escolha da profissão processos de revivência das fases iniciais do desenvolvimento”

(PAIM, 2007, p. 12). Entende-se que o processo da decisão sobre a escolha profissional está repleto de influências, além de sentimentos que muitas vezes são desagradáveis, como medo, angústia e insegurança. Isso acontece, pois, o adolescente toma para si a responsabilidade da escolha sobre o seu futuro, além de seu entendimento de que é por meio da profissão que ele se estabelecerá no meio da sociedade em que está inserido. A adolescência como um processo fundamental de constituição do sujeito apresenta esse momento de ressignificação de posições que podem gerar diversos sentimentos de confusão. Conjuntamente a isso, a escolha de uma carreira e o processo de maturação podem propiciar importantes questionamentos sobre este momento que o adolescente está vivenciando.

1.5 Maturidade para Escolha Profissional

Frente a esse processo, como importante marco na constituição do sujeito, a maturidade para eleger uma profissão torna-se aspecto extremamente relevante (COLOMBO &

PRATI, 2014). O termo “maturidade profissional” foi apresentado por Super (1955) e de acordo com Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002), ele diz respeito ao conjunto de comportamentos e atitudes que o sujeito deve realizar para buscar sua entrada no mundo profissional. Sobre o termo “maturidade profissional”, Colombo e Pratti (2014), apontam:

(32)

Conceitualmente, essa se refere ao conjunto de atitudes e conhecimentos que o indivíduo acumula para realizar, de forma consciente e independente, sua escolha profissional. Na escolha de uma profissão estão envolvidos fatores pessoais, culturais e sociais. A maturidade para a escolha profissional é definida por Neiva (1999) a partir dos seguintes fatores: determinação, responsabilidade, independência, autoconhecimento e conhecimento da realidade de que o adolescente dispõe (COLOMBO, PRATTI, 2014, p. 203).

O desenvolvimento vocacional dá-se de acordo com Super (1955) em estádios, onde o sujeito permanece em continuum desenvolvimento da maturidade profissional que acontece desde a infância até a velhice. Ainda, para esse autor a maturidade profissional é formada por cinco dimensões: orientação para escolha profissional, informação e planejamento, coerência da escolha, cristalização dos traços e pertinência da escolha. Esse conceito foi posteriormente alterado e novamente Super (1983) como citado por Silva (2004), propôs outras cinco dimensões para desenvolvimento da maturidade profissional:

(1) planificação; (2) exploração; (3) informação; (4) tomada de decisão e (5) orientação para realidade. Através das ideias de Super (1983) e Crites (1961), a Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP) foi elaborada por Neiva (2014). A autora ressalta através da escala o estágio de exploração do desenvolvimento de maturidade profissional que ocorre na adolescência (NEIVA, 2014).

É neste momento, que o adolescente toma consciência que precisa realizar uma escolha profissional. Para isso, ele identifica seus interesses, habilidades e valores e os conecta aos desejos profissionais, influências, locais e áreas de trabalho e assim desenvolve independência para definir de forma segura sua escolha, seja indo direto para o mercado de trabalho ou iniciando uma formação acadêmica (NEIVA, 2014).

Bohoslavsky (1998, p. 46) categoriza quatro situações que podem passar os adolescentes nesse estágio:

1- Pré-dilemática: o adolescente tem aspecto de alguém a quem “não acontece nada”, nem sequer percebe que deve escolher, são imaturos e os conflitos ambíguos;

2- Dilemática: o adolescente se apercebe de que alguma coisa acontece, que existe algo importante que deve fazer, pode ver-se “invadido” pela urgência, de tal modo que a ansiedade terá consequências confusas, expressas por exemplo, no medo de que, se não escolher alguma coisa, nunca deixará de ser adolescente. Os conflitos são ambíguos e ambivalentes.

3- Problemática: o adolescente parece realmente preocupado. Caracteriza- se pelo fato de que as ansiedades moderadas, podendo ser persecutórias ou depressivas. Os conflitos são bivalentes, há mais discriminação, menos confusão, mas não há, todavia, integração.

4- De resolução: o termo resolução serve para sublinhar o fato de que se trata de encontrar uma solução e que será encontrada, do mesmo modo como se solucionaram os problemas anteriores. Outras defesas surgem que surgem são: a esquiva, por exemplo, das carreiras abandonas, do colégio abandonado;

(33)

a onipotência ligada a ideia de escolher todas as carreiras; ou a identificação projetiva, que se manifesta, por exemplo, quando diz que ser um “profissional como você” (BOHOSLAVSKY, 1998, p.46)

Segundo Noce (2008), a maturidade para a escolha profissional advém de um desenvolvimento geral e se relaciona com as experiências que o sujeito terá antes do momento da escolha ocupacional, “Nesse sentido, tal noção aplica-se ao desenvolvimento profissional do adolescente e do início da idade adulta” (NOCE, 2008, p. 70). De acordo com a teoria sobre maturidade profissional proposta por Super (1955), autores como Lobato e Koller (2003) salientam que esse desenvolvimento profissional não se relaciona com amadurecimento físico ou a idade, mas sim ao momento em que o adolescente é posto a tomar uma decisão. Uma escolha deve ser feita conectando os interesses pessoais e o nível de escolaridade de cada um, e é salutar que o sujeito consiga refletir sobre as informações do meio e as suas próprias demandas e desejos, e posteriormente formular de maneira clara sobre as ocupações que pretende.

Fica, portanto, bastante evidente que o desenvolvimento vocacional possui sua especificidade, embora determinado por múltiplas variáveis em interação. A construção deste processo, portanto, também é dependente do tempo de vida e de experiências do indivíduo que, por sua vez, poderá ou não aproveitar os recursos a ele disponíveis de forma efetiva ou parcial, caracterizando maior ou menor maturidade vocacional (NOCE, 2008, p.71).

O adolescente, diante das experiências e diante das exigências sociais e psíquicas que lhe são impostas, é compreendido como sujeito singular dentro da teoria psicanalítica.

A forma com que a Psicanálise reflete sobre esse adolescer, será exposto a seguir.

1.6 Um olhar da Psicanálise para a adolescência

Na Psicanálise, o trabalho voltado para o desenvolvimento infantil sempre foi vasto, no entanto, pouco se discutiu e se escreveu sobre a adolescência. Porém, Dolto (2004), referência na psicanálise, em seu livro A causa dos Adolescentes, discutiu sobre o conceito de adolescência e seus aspectos relevantes. A autora (2004) afirma que existem aqueles que colocam essa fase como transição da infância para idade adulta, há os que determinam em conceitos de crescimento, momento de desenvolvimento do corpo e outros teóricos que apresentam como o último capítulo da infância. Dolto (2004) considera-a como uma fase de mutação, comparando esse momento ao nascimento de um recém-nascido, que precisa aprender a passagem de deixar de ser feto para ser uma criança de peito, que precisa se adaptar ao ar e a digestão. O adolescente, para a Psicanálise, nesse processo mutativo, repete a fragilidade do bebê ao nascer, onde o olhar e as palavras do

Referências

Documentos relacionados

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

Levando em consideração os diversos fatores estudados pode-se concluir que as dimensões e a forma de fotoativação preconizadas pela ISO 4049 parecem ser a melhor forma de

acabei de ler as letras alongamento do som, e vamos cobrir a forma forma como as letras mudam de forma quando entrar em uma lição como as letras mudam de forma quando entrar em

4.2 Juntamente com a avaliação dos pedidos, cada docente indicará à Coordenação de Pós-Graduação o número máximo de alunos especiais a serem admitidos em

Esta dissertação debruça-se sobre a problemática da Integração de Contas numa Entidade do Setor não Lucrativo (ESNL) – O Corpo Nacional de Escutas (CNE) – e apresenta uma

Em São Jerônimo da Serra foram identificadas rochas pertencentes à Formação Rio do Rasto (Grupo Passa Dois) e as formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral (Grupo São

Além disso, há um aumento do nível de maturidade para a escolha profissional ao longo do ensino médio e também com o aumento da idade (no fator determinação) neste estudo, porém

Foram trabalhados temas relacionados à escolha profissional e suas in- fluências, identidade e identidade profissional, visão romântica das profissões, mundo do trabalho