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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

IONE GOMES DA SILVA

AS DROGAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR

JOÃO PESSOA – PB

2020

(2)

AS DROGAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, na Linha de Pesquisa de Educação Popular, como parte dos requisitos obrigatórios para obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Pedro José Santos Carneiro Cruz

JOÃO PESSOA – PB

2020

(3)

S586d Silva, Ione Gomes da.

As drogas no contexto da educação popular / Ione Gomes da Silva. - João Pessoa, 2020.

157 f.

Orientação: Pedro José Santos Carneiro Cruz.

Dissertação (Mestrado) - UFPB/Educação.

1. Educação popular. 2. Drogas. 3. Educação sobre drogas. 4. Prevenção. I. Cruz, Pedro José Santos Carneiro. II. Título.

UFPB/BC

(4)

AS DROGAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR

Aprovada em 24/04/2020

BANCA EXAMINADORA DE DEFESA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Pedro José Santos Carneiro Cruz (Orientador) (Universidade Federal da Paraíba/PPGE)

___________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Claudia Cavalcante Peixoto de Vasconcelos (Universidade Federal da Paraíba/PPGSC)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Aurélio Matos Lemões (Universidade Federal de Pelotas/PPGEnf)

____________________________________________________________

Profa. Dra. Tatiana Engel Gerhardt

(Universidade Federal do Rio Grande do Sul/PPGSC)

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O presente trabalho não seria possível sem o apoio e colaboração de muitas pessoas que contribuíram, direta ou indiretamente, para a sua concretização.

Quero agradecer ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) pela oportunidade de formação e por poder me inserir na linha de Educação Popular. Muito obrigada a todos os professores com quem tive a rica oportunidade de aprender durante a realização do Mestrado.

Agradeço especialmente ao meu orientador, Pedro Cruz, por ter acreditado no meu potencial, por todo o seu apoio, amizade e palavras de ânimo. Obrigada pela oportunidade de crescimento e aprendizado.

O meu muito obrigada aos professores Ivonaldo Leite e Marcos Lemões por suas valorosas contribuições para este trabalho durante a banca de qualificação.

Agradeço a todos os amigos a quem tive a oportunidade de conhecer ao longo dessa caminhada. Gratidão por todos os momentos que compartilhamos, por todas as conversas e troca de saberes.

Aos amigos, Ricardo, Marcilane e Iranir, agradeço pela sincera amizade e demonstrações de companheirismo.

Agradeço muitíssimo à minha família por todo o apoio e compreensão, que foram fundamentais para que eu pudesse concluir este trabalho. Agradeço por todo o cuidado e por tudo que me ensinaram ao longo da vida.

A todos(as) os(as) professores(as) e gestoras que gentilmente se disponibilizaram a colaborar com esta pesquisa, o meu muito obrigada. Gratidão por terem aberto as portas das suas escolas e terem compartilhado comigo um pouco dos seus saberes e algumas de suas angústias. Ao Secretário de Educação do município de Itapororoca, por ter permitido que a pesquisa fosse realizada nas escolas municipais, muito obrigada.

Gasshô!

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“Creio ser indispensável deixar claro que, ao falar com tamanha esperança na possibilidade de mudarmos o mundo, não quero dar a impressão de ser pedagogo lírico ou ingênuo ou irresponsável.

Falar como falo, não significa desconhecer quão difícil vem ficando, cada vez mais, mudar na direção dos oprimidos, dos ofendidos, dos interditados de ser. Reconheço os enormes empecilhos que a chamada nova ordem vem impondo a pedaços mais frágeis do mundo, a seus intelectuais, que os empurra para posições fatalistas diante da concentração de poder, da gerência da produção e do saber, como informação. Reconheço a realidade.

Reconheço os obstáculos, mas me recuso a acomodar-me em silêncio ou simplesmente virar o eco macio, envergonhado ou cínico, do discurso dominante.”

(Paulo Freire)

(7)

No cenário atual, ainda é possível observar uma forte preocupação da sociedade com questões que envolvem as substâncias psicoativas e seus consumidores. Esta pesquisa se propôs a compreender como a questão das drogas vem sendo abordada no contexto da educação popular, no âmbito da literatura e também em escolas inseridas no meio popular. O presente estudo adotou uma perspectiva qualitativa (FLICK, 2009) e exploratória. No que diz respeito aos procedimentos metodológicos para coleta dos dados realizamos um revisão narrativa da literatura (VOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014) e entrevistas semiestruturadas (MYNAIO, 2014). Consideramos como unidades de análise o material bibliográfico vinculado ao campo teórico da educação popular e também entrevistas realizadas com professores(as) e gestoras vinculados à duas escolas públicas do município de Itapororoca/PB. Dialogamos teoricamente com autores do campo científico da educação popular e das drogas. Nessas áreas temáticas, enfocam-se os aspectos sócio-históricos, culturais e as dimensões educativas e políticas. Para procedermos à análise das entrevistas, utilizamos a técnica de análise de conteúdo temático- categorial, conforme é sistematizado por Bardin (2016). Alguns dos resultados do estudo evidenciam que: 1) Com relação as publicações analisadas, foi possível observar que, na maioria delas, o fenômeno das drogas é compreendido a partir de uma perspectiva crítica.

Constatou-se que a escolha pelo referencial da educação popular como orientador das ações de educação sobre drogas, tem a ver com o entendimento de que essa concepção educativa representa uma alternativa contrária às abordagens hegemônicas essencialmente repressoras;

2) Percebeu-se também que, nesses estudos, os autores utilizam ou sugerem vários tipos de ferramentas didáticas que podem ser utilizadas no desenvolvimento das atividades: oficinas, dinâmicas em grupo, jogos, filmes, entre outros. Há uma preocupação com a participação ativa das pessoas nas atividades; 3)No que diz respeito à forma como as drogas têm sido abordadas em escolas do meio popular, constatou-se que as duas instituições de ensino adotam uma abordagem repressiva de prevenção ao consumo de drogas. Observou-se que tanto os conteúdos quanto a sua maneira de desenvolvimento são fortemente inspirados pelo que preconiza a política de guerra às drogas. O aspecto multifatorial dessas substâncias demonstra que suas abordagens devem levar em consideração os fatores biopsicossociais, ou seja, a droga o indivíduo e a sociedade. No entanto, diante da falta de formação e das informações que geralmente não são problematizadas, o que prevalece é a responsabilização individual do consumidor de drogas, o medo e as práticas repressivas.

Palavras chave: Educação Popular. Drogas. Educação sobre drogas. Prevenção.

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In current times, issues involving drugs and their users have strongly aroused the concern of society. This research aimed to understand how the drugs are being approached in the context of popular education, as well as by specialized literature and in schools located in popular context. From a methodological point of view, the research adopted a qualitative and descriptive perspective (FLICK). In this sense, the development of this study occurred through an analytical review of specialized literature and semi-structured interviews (VOSGERAU, ROMANOWSKI, 2014; MYNAYO, 2014). The units of analysis were the bibliographic material from the theoretical field of popular education and the interviews accomplished with managers and teachers of public schools in the municipality of Itapororoca-PB. The work discusses socio-historical, cultural, educational and political aspects by focusing on the scientific field of popular education and drugs. The interviews were examined according to the thematic-categorical content analysis technique (Bardin, 2016). The research found out, for example, the following: 1) most of the publications that have been analyzed address drugs critically. In this way, it was found out that the guidelines of popular education are adopted in approaches to drugs as a consequence of popular education presenting itself as an alternative to the hegemonic and repressive discourses on such subject. 2) Popular education theorists propose several didactic tools to aid the development of educational activities on drugs, such as workshops, group dynamics, games, movies. These activities require an active participation of the people involved. 3) The two schools located in popular context that have been surveyed in this study follow repressive approaches to prevent drug use. It was found out that both the content of the approaches and way as they are developed are strongly inspired by the drug war policy. It is not considered that these substances are multifactorial and their approaches should take into account the biopsychosocial factor in the context of the relationship among drugs, individuals and society.

However, as there is no training to address this subject and question it, what prevails is the individual responsibility of drug users, fear and repressive practices.

Keywords: Popular Education. Drugs. Drug education. Prevention.

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QUADRO 1: Produções científicas sobre drogas e educação popular...33

QUADRO 2: Perfil dos gestores (as) entrevistados...38

QUADRO 3: Perfil dos professores (as) entrevistados...38

QUADRO 4: Orientações e diretrizes que podem subsidiar as abordagens de prevenção...76

QUADRO 5: Categorias que vêm orientando projetos de prevenção sobre drogas...78

QUADRO 6: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Percepção sobre a presença do consumo de drogas...142

QUADRO 6 - Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Percepção sobre a presença do consumo de drogas...143

QUADRO 7: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Consumo ou comércio de drogas na sala de aula...144

QUADRO 7 - Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Consumo ou comercio de drogas na sala de aula...145

QUADRO 8 : Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Como costumam se informar sobre as drogas...146

QUADRO 8 – Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Como costumam se informar sobre as drogas...147

QUADRO 9: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Desenvolvimento de conteúdos sobre a temática das drogas...148

QUADRO 9 – Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Desenvolvimento de conteúdos sobre a temática das drogas...149

QUADRO 10: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Em que medida sentem-se preparados para falar sobre drogas...150

QUADRO 10 – Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Em que medida sentem-se capacitados para abordar o conteúdo...151

QUADRO 11: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Percepção sobre o papel da escola perante a questão das drogas...152

QUADRO 11: Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Percepção sobre o papel da escola perante a questão das drogas...153

QUADRO 12: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Obstáculos para a

abordagem do tema das drogas...154

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QUADRO 13: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas: Abordagens mais potentes para a realização do trabalho educativo sobre drogas...156 QUADRO 13 – Continuação: Subcategorias e unidades de registro obtidas das entrevistas:

Abordagens mais potentes para a realização do trabalho educativo sobre droga...157

(11)

Figura 1: Localização do município de Itapororoca no Estado da Paraíba...35

Figura 2: Localização do município de Itapororoca...36

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CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPSad Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas

CEBRID Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEPLAR Campanha de Educação Popular da Paraíba

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CPCs Centros Popular de Cultura

DST Doença Sexualmente Transmissível EUA Estados Unidos da América

GEPEDUSC Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Sociedade e Culturas HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística JUC Juventude Universitária Católica

LSD Dietilamida do Ácido Lisérgico MEB Movimento de Educação de Base MCP Movimento de Cultura Popular NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família OMS Organização Mundial da Saúde

PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAD Política Nacional sobre Drogas PSF Programa de Saúde da Família PROLICEN Programa de Licenciaturas RD Redução de Danos

SENAD Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas

SNC Sistema Nervoso Central

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 Os caminhos percorridos para chegar até aqui... ... 18

1.2 A elaboração da problemática da pesquisa e sua relevância... 28

1.3 Orientação metodológica ... 31

1.4 Sobre a organização do trabalho ... 40

2 EDUCAÇÃO POPULAR: BASES TEÓRICAS E REFERENCIAL ANALÍTICO ... 42

2.1 Início da trajetória e conceituação ... 42

2.2 Educação popular: traços históricos na América Latina ... 44

2.3 A educação no Brasil e a emergência da educação popular ... 47

2.4 Sistema Paulo Freire de alfabetização ... 52

2.5 Educação popular na escola pública ... 56

3 PANORAMA DAS ABORDAGENS SOBRE DROGAS ... 61

3.1 As drogas ... 61

3.2 A Prevenção ao consumo abusivo de drogas ... 66

3.3 A prevenção ao consumo abusivo de drogas nos moldes da política repressiva ... 68

3.4 A perspectiva da redução de danos ... 71

3.5 A dimensão da prevenção no contexto das políticas públicas ... 75

4 AS DROGAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR: ENFOQUES DA LITERATURA ... 81

4.1 O que dizem as pesquisas sobre drogas no contexto da educação popular? ... 82

5 AS DROGAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR: REALIDADE E DESAFIOS DO CONTEXTO ESCOLAR ... 95

5.1 Resultados e Discussão ... 95

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 122

REFERÊNCIAS ... 128

APÊNDICES ... 137

Apêndice A: Roteiro da entrevista semi-estruturada ... 138

Apêndice B: Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ... 139

Apêndice C: Carta de anuência da Secretaria Municipal de Educação ... 141

Apêndice D: Quadros que resultaram da análise das entrevistas...140

(15)

1 INTRODUÇÃO

A discussão sobre as substâncias psicoativas engloba um conjunto de elementos que perpassam os campos políticos, econômicos, culturais, históricos, sociais e das subjetividades dos sujeitos. As drogas representam um fenômeno social multifacetado, o que torna necessário que sua abordagem social e educativa seja feita de forma interdisciplinar.

Entendemos que essas substâncias só adquirem potencial perigoso ou benéfico quando se estabelece uma relação entre elas e um organismo vivo, ou seja, de forma isolada, elas possuem um caráter inofensivo

1

. Partindo dessa premissa, a opção mais sensata para lidar com o desafio social imposto pelo consumo abusivo dessas substâncias seria investir na educação dos seres humanos para lidar com elas e na redução dos riscos que podem estar associados em alguns tipos de consumo. Esforços investidos no ser humano, em assegurar o seu bem-estar e a sua liberdade, e não na erradicação das substâncias ou na criminalização das pessoas que as consomem.

Na modernidade, além do valor de uso que se intensifica, as drogas adquirem também valor de troca e valor de signo (CARNEIRO, 2018). Recorrendo à definição clássica que foi elaborada por Marx, é possível afirmar que ―a utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso [...] O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção no qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo‖ (MARX, 2013, p.

158). As substâncias psicoativas adquirem valores quando passam a ser consumidas e comercializadas como mercadorias. Ou seja, quando passam a ser trocadas por dinheiro ou qualquer outra coisa que também possua valor de uso. Quanto ao valor de signo, está relacionado ao potencial dessas substâncias enquanto veículos maximizadores dos prazeres e das dores, sua capacidade de produção de subjetividades (CARNEIRO, 2018).

Isso modifica a forma como a sociedade lida com as drogas. Ao longo da história, é possível encontrar os registros dos diversos tipos de relações que a sociedade já manteve com essas substâncias. Assim, momentos de convivência pacífica vão sendo alternados com momentos de controle e proibição

2

. As concepções e opiniões mudam de acordo com o momento histórico e com os interesses dominantes. Foi dessa maneira com o tabaco e com o café, por exemplo. Ambas as substâncias já tiveram o seu consumo proibido em algumas partes do mundo. Hoje em dia, são aceitas e consumidas. Nesse sentido, afirma Escohotado

1 ―As drogas não existem em ―si‖ no que diz respeito ao seu significado humano, sua objetividade química só se torna farmacológica ao interagir com um organismo vivo‖ (CARNEIRO, 2018, p. 21).

2 Henrique Carneiro, em Drogas: a História do Proibicionismo (2018), destacou esses movimentos da história em que há maior ou menor tolerância da sociedade com relação a algumas substâncias psicoativas.

(16)

(1997, p. 27) que ―na Rússia, durante meio século, beber café foi um crime punido com tortura e mutilação de orelhas. Fumar tabaco causava a excomunhão entre católicos e a amputação de membros na Turquia e Pérsia‖. Dessa forma, o que hoje é considerado uma droga ilícita, daqui a algum tempo, pode vir a ser uma substância lícita.

A maneira hegemônica de lidar com a questão orienta-se pela política de guerra às drogas, que prima pela repressão. Essa forma de abordagem repressiva vem, ao longo dos anos, arrastando consigo um número imenso de consumidores. Nenhum de seus supostos objetivos foi alcançado, pois não conseguiu diminuir a produção, a comercialização ou o consumo das substâncias. Pelo contrário, esses números só aumentam junto com a violência, a morte e o encarceramento massivo da população, principalmente aquela economicamente pobre e negra (HARI, 2018).

Em estudo divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), constatou-se que, no ano de 2017, um total de 271 milhões de pessoas em todo mundo, com idade entre 15 e 64 anos, consumiram drogas pelo menos uma vez no ano anterior. Esse quantitativo representa 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos, no ano de 2009, o número de pessoas dentro dessa faixa etária que tinham consumido drogas no ano anterior era de 4,8% da população global (UNODC, 2019). Assim, observa-se que a prevalência do consumo de drogas a nível global segue aumentando, apesar de as políticas repressivas e proibicionistas ainda serem as principais opções de enfrentamento em boa parte do mundo.

As abordagens repressivas, além de serem ineficazes, enxergam na droga ilícita a causa de todos os males, e, geralmente, esconde-se o fato de que algumas drogas lícitas podem ser até mais danosas

3

, principalmente se avaliarmos suas consequências sociais e individuais no organismo. Indo um pouco mais além, é possível afirmar que as políticas repressivas omitem a própria realidade, pois o espectro da guerra contra as drogas é apontado por alguns autores

4

como um bom álibi para legitimar a repressão e o controle social.

O entendimento repressivo e moralista que cerca as drogas ilícitas é muito disseminado na sociedade através da política de guerra às drogas. Criam-se e difundem-se imagens, discursos e representações sociais, geralmente pejorativas e preconceituosas, acerca das substâncias e dos seus consumidores. Isso tem gerado graves consequências para os indivíduos que decidem consumir essas substâncias. Consequências que vão além dos

3 Carline-Contrim (1998) ressalta que os problemas relacionados ao consumo abusivo do álcool têm maior

impacto na saúde coletiva do que problemas relacionadas às drogas ilícitas.

4 Carline-Contrim (1998); Hari, (2018); Carneiro, (2018).

(17)

eventuais danos à saúde que podem ser causados pelo consumo abusivo, pois a conduta dessas pessoas passa a ser considerada imoral e ilegal (HARI, 2018).

Partindo desse entendimento sobre a questão das drogas, e tendo em conta a relevância social que essa temática possui, além de suas características multidisciplinares e interdisciplinares, neste estudo, pretendemos compreender como essa temática vem sendo abordada na bibliografia do campo da educação popular e também em escolas públicas que estão inseridas no meio popular.

A Educação Popular pode ser compreendida como uma concepção crítica voltada para as questões educacionais, os processos formativos e os processos de lutas das classes populares. As primeiras ações assim denominadas tiveram origem na América Latina e difundiram-se por diversos países através de experiências educativas e culturais direcionadas ao povo. Tomando como ponto de partida a realidade vivenciada, os saberes e a cultura, busca-se construir o conhecimento de forma compartilhada através do diálogo, da troca de experiências e da reflexão sobre a realidade.

No contexto da educação popular, refletir sobre a realidade significa perceber as questões sociais, políticas, culturais e econômicas que incidem diretamente sobre as condições de vida e podem levar à exclusão e às situações de desigualdade. Perceber a realidade é o primeiro passo para transformá-la; é essencial para que todos os evolvidos no processo educativo possam alcançar a tão almejada e necessária consciência crítica. Sendo assim, os princípios da educação popular seguem orientando teórica e metodologicamente grupos e movimentos sociais ligados a questões culturais e educacionais.

De acordo com Leite (2016), é importante que os novos fenômenos que atravessam o âmbito educacional sejam acolhidos pela educação popular. Sobretudo quando exercem grande influência sobre a vida e a educação do povo. Questões relacionadas às drogas afetam a sociedade, as escolas e, de forma bastante significativa, a sobrevivência de homens e mulheres pertencentes às classes populares. Dessa maneira, acreditamos que é relevante conhecermos as discussões que existem no campo da educação popular sobre as drogas.

Neste momento inicial do trabalho, consideramos pertinente também apresentar alguns

elementos e fatos de nossa trajetória pessoal, que, de alguma maneira, nos trouxeram até aqui

e contribuíram com nossas inquietações. Dessa forma, as palavras escritas e apresentadas a

seguir dizem respeito a algumas memórias e ao processo de construção da identidade desta

pesquisadora. Sendo assim, passaremos a escrita do texto para a primeira pessoa do singular.

(18)

1.1 Os caminhos percorridos para chegar até aqui...

Para começar a escrita deste estudo, foi necessário fazer uma reflexão. Compreender minha própria trajetória, identificação e interesse com a área de conhecimento da Educação Popular e da questão social do consumo de drogas. Foi preciso voltar um pouco no tempo e resgatar situações de minha experiência existencial, resgatando algumas memórias e revivendo algumas lembranças. Nesse processo, descobri que a experiência de levar o nosso novo olhar para caminhar pelas ruas do tempo passado é sempre reveladora.

Nasci na cidade de Itapororoca − que fica localizada no interior do estado da Paraíba, a poucos quilômetros da capital, João Pessoa −, de família pequena, formada apenas por meus pais e um único irmão. Meu pai era agricultor, e minha mãe foi professora, depois se tornando funcionária pública. Durante a minha infância, os dois trabalhavam fora. Então, eu, como a irmã mais velha, cuidava do irmão menor.

Minhas formas de entretenimento durante a infância eram um pouco particulares.

Claro que também brincava com objetos de criança, como bonecas e carrinhos, mas gostava mesmo de ficar fantasiando. Criava mundos imaginários e habitava-os. Por causa do alcoolismo do meu pai, minha mãe e ele discutiam muito. E acho que meus mundos inventados, de certa forma, protegiam-me um pouco de alguns aspectos da realidade. Mas, apesar de tudo, quando penso na infância, imagino momentos felizes.

Fui, pela primeira vez, para a escola aos três anos de idade. Na verdade, era com uma moça que dava aulas em sua casa. Minha mãe também sempre nos ensinava em casa; foi ela que nos mostrou as primeiras letras. Para a escola formal, só fui aos cinco anos de idade e entrei já na alfabetização. Já conhecia as letras e sabia juntar algumas poucas sílabas. Era uma escolinha particular muito pequena que hoje nem existe mais e se chamava Centro Educacional Ágape.

Além da escola, o único lugar que frequentava era a igreja evangélica de que fazia parte desde muito pequena. A escola era um universo diferente que eu gostava de frequentar.

Fui para a escola pública na terceira série e só saí quando concluí o ensino médio. Hoje, olhando para trás, percebo que, como tantos outros milhões de brasileiros, também fui vítima de um sistema que não proporciona educação de qualidade para todos de forma igualitária.

Todos os anos sofríamos com a falta de algum professor. Recordo que alguns colegas meus no último ano do ensino médio tinham dificuldades para ler textos simples.

Naquela época, eu não entendia quase nada, mas lembro que, quando via e ouvia um

colega com dificuldade para fazer uma leitura, ficava me perguntando como aquilo era

(19)

possível se nós estávamos no último ano do ensino médio. Comecei a me dar conta de que a maioria dos que tinham dificuldades com leitura eram jovens que moravam na zona rural e que, além de estudar, tinham que trabalhar muito, a maioria, desde a infância.

Nesse momento, percebi que, apesar de todos nós termos passado pelo sistema público de ensino, eu tive algumas pequenas ―vantagens‖ que eles, infelizmente, não tiveram. Nunca precisei conciliar trabalho com estudos. Tenho uma mãe que era professora e sempre me incentivou a estudar. Além disso, ainda tive acesso, mesmo que um pouco limitado, aos livros. São pequenos detalhes, mas que podem fazer uma grande diferença no desenvolvimento de um sujeito.

No ensino médio, não tive acesso a disciplinas como filosofia e sociologia e, em toda a minha trajetória na escola pública, ouvi pouco sobre a temática das drogas. E acredito que foi mais um conteúdo que nos faltou. Perto do colégio estadual que eu frequentava durante o ensino médio, havia um bar, e era comum alguns colegas irem para lá e voltarem embriagados para a sala de aula. A maioria da turma era formada por jovens que tinham entre 17 e 20 anos.

Às vezes, os professores reclamavam do comportamento desses alunos, porque eles acabavam atrapalhando a aula, mas ficava só nisso. Nunca houve uma conversa franca e aberta sobre as drogas.

Estudava-se apenas os conteúdos escolhidos pelo professor/professora. E acredito que essas disciplinas citadas acima fizeram falta na minha formação. Hoje, consigo enxergar dessa maneira, mas, na época dos fatos vividos, nem imaginava a importância que esses conhecimentos possuíam. A única coisa relevante era passar em todas as provas e tirar boas notas, e, para isso, decorava folhas e folhas de textos.

Ensinar a pensar e a refletir, aparentemente, não era uma prioridade na escola. Nesse sentido, os livros didáticos eram muito importantes para mim. Geralmente, os professores não os utilizavam nas aulas, mas eu gostava de ler em casa e, de toda forma, acabava tendo acesso a algum tipo de conhecimento que me fazia pensar. Mesmo com todas as deficiências da educação que recebia e com as poucas oportunidades que eram oferecidas em uma pequena cidade do interior, eu era muito curiosa e sempre arranjava alguma coisa para me entreter.

Como era muito sozinha, possuía apenas uma amiga e o meu irmão. Os livros tornaram-se um refúgio.

Sempre gostei muito de estudar e de ler. Recordo que minha mãe guardava algumas

coisas dela, do tempo em que era estudante também, em uma estante velha. Eram livros,

cadernos e canetas. Uma das minhas grandes diversões no início da adolescência era ficar

durante longos períodos vasculhando aquela estante e descobrindo coisas. Fiz importantes

(20)

descobertas naqueles livros, coisas que nem a escola e nem ela tinham me ensinado ainda.

Acho que foi ali também, em meio àqueles livros empoeirados, que descobri o gosto pela leitura.

Quando terminei o ensino médio, até pensei em tentar entrar para a Universidade. Mas ainda não possuía todos os documentos e nem tive tempo de adquiri-los antes do processo seletivo. Na verdade, penso que foram poucos os meus colegas de turma que tentaram o ensino superior após terminar o médio. Então, fomos fazer outras coisas. Alguns foram embora para outras cidades, outros arranjaram empregos, e outros ainda se casaram e tiveram filhos.

Eu ainda cultivava o desejo de voltar a estudar. Algum tempo depois de ter concluído o ensino médio, o Campus IV da UFPB foi instalado no Vale do Mamanguape, fruto da expansão do ensino superior que vinha sendo realizada pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, através do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Ver um Campus da Universidade Federal chegando na minha região foi um grande incentivo. Sendo assim, fiz minha matrícula em um cursinho pré- vestibular, que ainda hoje é oferecido pelo Campus IV da UFPB, e passei a frequentá-lo. As aulas aconteciam durante os fins de semana, e os professores geralmente eram alunos da Universidade que já possuíam alguma graduação anterior. As aulas foram muito úteis, principalmente para quem já havia concluído o ensino médio há algum tempo.

Fiz o cursinho durante quase um ano e, então, prestei o vestibular. Tinha muito desejo de ser aprovada. Escolhi o curso de pedagogia, e não foi por falta de opção, como já ouvi de algumas pessoas. Minha mãe foi professora primária por muitos anos e chegou até a possuir uma pequena escola que funcionava em um prédio ao lado da minha casa. Ainda criança, eu comecei a ajudá-la e também às outras professoras. Fazia apenas coisas simples, como, por exemplo, ajudar na hora do recreio. Tudo acabou se tornando muito familiar para mim.

O curso de pedagogia foi escolhido de forma consciente. Todos sabem que não é a

profissão mais valorizada ou bem remunerada do mundo. As condições de trabalho nem

sempre são as mais favoráveis também. Mas eu sempre acreditei que a educação tinha alguma

coisa de transformadora. E se talvez eu tivesse que enfrentar uma realidade difícil para

exercer minha profissão, pensava que os meus futuros alunos enfrentariam o mesmo para

conseguir se manter na escola e obter algum proveito dessa experiência. Então, o meu papel

seria de superar essas dificuldades junto com eles e fazer o meu trabalho da melhor forma

possível.

(21)

Depois de passar por todas as etapas do vestibular, saiu o resultado final do processo de seleção e descobri que havia sido aprovada em segundo lugar na concorrência geral para o curso de pedagogia do Campus IV. Fiquei imensamente feliz e entrei no curso no final do ano de 2012, logo após uma greve que a instituição tinha enfrentado. Era tudo novidade, e eu realmente desejava ser surpreendida pelo novo. Fui totalmente disponível.

Percebi que, se eu desejava continuar aprendendo, aquele era um bom lugar. Então, abracei todas as oportunidades e conhecimentos que aquele espaço me proporcionava. Apenas na Universidade fui ter minhas primeiras aulas de filosofia e sociologia, conhecer os principais filósofos da educação e aprender a olhar a sociedade de uma maneira diferente.

Percebi também que, apesar de ter nascido e crescido na região do Vale do Mamanguape, conhecia muito pouco sobre as coisas e as histórias da minha terra.

Nunca enxerguei meu curso apenas como uma formação para atuar no mercado de trabalho. Para mim, sempre foi também uma oportunidade de crescimento pessoal.

Oportunidade de melhorar enquanto ser humano. A cada nova leitura, fazia novas descobertas e começava a fazer a minha inserção crítica na realidade. Em um determinado momento, comecei a perceber que aquele espaço poderia me oferecer ainda mais oportunidades de aprendizagem. Até o segundo período do curso, apenas frequentava as disciplinas, não participava de nenhuma outra atividade.

O curso de pedagogia do Campus IV é apenas noturno, e, como o Campus atende, principalmente, aos onze municípios da região do Vale do Mamanguape, a maioria dos alunos reside em outras cidades e depende dos transportes públicos oferecidos pelos seus respectivos municípios para chegar até lá. Esse era também o meu caso, que fazia uma viagem de quatorze quilômetros todas as noites para chegar até o Campus. Às vezes, o ônibus ia tão lotado que nós já chegávamos cansados. Mas muita gente não poderia estudar se esses transportes não fossem oferecidos gratuitamente pelos municípios.

A dificuldade de locomoção era um fator que comprometia um pouco a minha maior participação nas atividades que aconteciam no Campus durante o dia. Mas isso também foi superado. No terceiro período da graduação, decidi que, se houvesse uma oportunidade, tentaria uma vaga de bolsista ou voluntária em algum projeto de pesquisa ou extensão. A oportunidade surgiu e conquistei uma vaga de bolsista em um projeto do Programa de Licenciaturas (PROLICEN) da UFPB. A partir desse momento, comecei a vivenciar de forma mais ativa a dinâmica da Universidade.

Enquanto participante de projetos de pesquisa, tinha a oportunidade de ler e estudar

sobre coisas que não via nas disciplinas, e isso era muito bom. Ampliava bastante os meus

(22)

horizontes. Conheci muitos autores e passei a participar de eventos com apresentação de trabalhos. A partir da minha inserção nos projetos, comecei a trilhar os caminhos da pesquisa acadêmica. Um universo tão vasto e tão desafiador. Com muita disciplina e curiosidade, fui dando os primeiros passos ainda na graduação. Fui tomando consciência a cada novo conhecimento que me era apresentado e fui começando a perceber de forma diferente a minha própria realidade. Tudo que antes parecia tão simples e tão dado foi revelando sua complexidade.

Iniciei minha participação do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Sociedade e Culturas (GEPEDUSC)/UFPB-CNPq. Nesse grupo, a pesquisa é compreendida também como um processo de formação importante. Foi a partir da minha participação no GEPEDUSC e também da minha inserção como bolsista em um projeto PIBIC que comecei a pesquisar e a estudar sobre as drogas no contexto escolar. O conhecimento que tinha até então sobre essas substâncias era apenas o que é transmitido pelos meios de comunicação e o da minha experiência familiar. Ambos não me proporcionavam uma compreensão crítica sobre essa temática, dessa forma, todo o pensamento a respeito das drogas e dos seus consumidores era muito superficial, cheio de preconceitos e estigmas.

Até cheguei a pensar se seria interessante participar de uma pesquisa com uma temática ainda tão cercada de tabus. Inclusive, eu mesma nutria alguns desses tabus. Mas sabia que, como professora e como cidadã, convivia com as drogas. Elas fazem parte da sociedade. Somos todos consumidores de substâncias psicoativas, sejam elas lícitas, como os medicamentos e o álcool, ou ilícitas, como a maconha. Dessa forma, o mais adequado seria conhecer mais sobre a drogadição, nem que fosse apenas para exercer melhor minha profissão ou lidar de forma diferente com minhas questões familiares. Decidi aceitar o desafio e acabei passando por um processo de desconstrução que não poderia imaginar.

A abordagem da temática das drogas no referido projeto era diferente de tudo o que já

tinha ouvido. Sem falsos moralismos ou preconceitos e sempre embasados em estudos

científicos, fomos estudar sobre as drogas. Conhecer a origem dessas substâncias, seus usos

pela humanidade, como, ao longo do tempo, elas tornaram-se mercadorias valiosas. Pude

conhecer as abordagens do campo da saúde sobre o tema, mas também as abordagens

socioculturais. Como escrevi anteriormente, escolhi manter sempre minha mente bem aberta e

receptiva. Então, nesse momento, tem início um longo e intenso período de leituras, estudos e

conversas que seriam um divisor de águas em minha formação e me apresentaria também à

educação popular.

(23)

Comecei a ler e a estudar sobre a educação popular enquanto participava do Projeto de Iniciação Científica. Esse era um tema que sempre aparecia em nossos diálogos. Porém, já havia ouvido alguma coisa sobre a educação popular também em algumas das disciplinas da graduação, principalmente quando se falava em Educação de Jovens e Adultos. A partir desses contatos e das leituras que ia fazendo por conta própria, fui descobrindo essa concepção educativa que era diferente de tudo que já tinha conhecido até então. Iniciei minha incursão a partir das obras de Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão e José Francisco de Melo Neto, depois vieram muitos outros que também compõem o rico campo teórico da educação popular.

A cada leitura, punha-me a pensar na realidade de uma maneira diferente e sentia uma grande identificação com todas aquelas ideias novas que estava descobrindo. Acabava refletindo sobre minha própria realidade e ia percebendo coisas que antes passavam despercebidas. Por vezes, esse ―despertar‖ para a realidade traz consigo certo desconforto pela constatação de tantas injustiças que são cometidas contra nós mesmos e com os outros. Mas, ao mesmo tempo, a educação popular dá-nos esperança e ensina-nos que é possível transformar a realidade a partir do momento em que começamos a enxergá-la com lucidez, como ela realmente é. Aprendemos que tudo se transforma. A impermanência é um conceito que faz parte das leis da natureza, então, não há por que ficarmos desesperançosos, acreditando que certos aspectos da sociedade são imutáveis.

Assim, a educação popular modificou minha forma de compreender a realidade.

Quando escolhemos verdadeiramente a educação popular, acabamos permitindo também que ela nos transforme em alguns aspectos. Quanto mais nos aprofundamos no seu conteúdo e nas suas práticas, mais nos damos conta das distorções da realidade que são provocadas por aqueles que detêm o poder econômico. Mas, ao mesmo tempo, também adquirimos a compreensão de que a realidade é construída histórica e culturalmente. Sendo assim, é possível transformá-la.

Assim, também fui me dando conta de que os fatos sociais já existiam, mas não eram percebidos por mim, com suas implicações mais profundas. O que só veio a acontecer de forma mais concreta depois que fui levada a fazer uma inserção crítica na realidade e passei a objetivá-la. Os questionamentos e as problematizações foram ficando cada vez mais constantes, e o processo de conscientização foi acontecendo. Isso ficou ainda mais evidente quando me pus a pensar em minha própria experiência familiar.

Convivi minha vida inteira com um consumidor abusivo de drogas. Meu pai era

dependente de álcool, mas nunca havia me interessado em estudar mais a fundo sobre as

(24)

drogas. Conhecia apenas o sofrimento e a dor que a dependência causava ao meu pai e à toda a minha família. Não entendia nada, não compreendia como ele podia se entregar daquela maneira àquela substância, mesmo sabendo todo mal que causava a ele mesmo, a mim, ao meu irmão e à minha mãe. Vi ele perder quase todos os bens materiais que possuía. Vi a minha mãe deixá-lo e argumentar que não aguentava mais vê-lo chegar em casa embriagado quase todos os dias. Vi a minha família desfazer-se. Vi ele ficar doente em decorrência do consumo abusivo do álcool. E, por fim, no ano de 2017, vi-o falecer em decorrência de uma doença que havia sido causada pelo consumo do álcool.

Meu pai era dependente de duas drogas lícitas (álcool e cigarro), e uma delas tem até o seu consumo estimulado pela sociedade. Quando assistia a uma propaganda de bebida alcoólica na televisão, ficava pensando: ―por que aquela substância tão perigosa era 'liberada' e tinha o seu consumo incentivado? Será que não eram do conhecimento de todos os danos que o consumo abusivo do álcool podia causar? Será que todas as outras drogas eram assim tão piores do que álcool para que ele seja considerado lícito e elas ilícitas?‖. Eu conhecia os efeitos do álcool e sabia da sua capacidade de gerar dependência. Para mim, era a pior droga que existia. Então, a maneira como a sociedade trata o consumo do álcool era muito confusa para mim naquela época.

Como escrevi acima, estudar sobre as drogas ajudou-me a entender muita coisa e desfez muitos pensamentos equivocados. Finalmente, pude compreender a relação da sociedade com as drogas lícitas e ilícitas. Ajudou-me também a compreender o que meu pai sentia. Ajudou-me a entender os fatores que, possivelmente, contribuíram para que ele desenvolvesse a dependência. Assim como tantos outros consumidores problemáticos, provavelmente, meu pai buscava na droga alguma espécie de amortecimento emocional.

Adquirir esse entendimento foi muito importante para mim.

Mas, para além das minhas descobertas pessoais, passei a perceber as drogas e tudo

que se relaciona com elas de outra maneira. Pude entender que o proibicionismo e a repressão,

duas práticas tão comuns quando abordamos essa questão, na verdade, não trazem nada de

bom. No caso do Brasil, essa forma de lidar com as substâncias psicoativas serve apenas para

aprofundar a desigualdade social. Além disso, ainda reforçam os preconceitos em uma

sociedade onde esse tipo de comportamento ainda é tão evidente. É também uma forma de

fazer o controle desses indivíduos. A política sobre drogas que tem o viés proibicionista e

repressivo vem sendo questionada por muitos estudiosos e, a nível internacional, já vem

sendo substituída por políticas humanizadas.

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O consumo abusivo de drogas deixou de ser a causa e passou a ser enxergado como uma consequência de outros fatores. A questão ganhou importância para mim, pois passei a compreender as ideologias, conflitos e os jogos de poder que se mantêm ocultos nesse fenômeno social. Realizar o debate sobre as drogas enfatizando apenas os efeitos nocivos delas ao organismo é uma atitude muito simplista e que está longe de abarcar a complexidade da questão. Enquanto cidadã e enquanto pedagoga em formação, na época, já pensava em como poderia levar esse debate para escola na forma de um conhecimento crítico.

Depois da conclusão do projeto PIBIC e de ter me aproximado um pouco do universo da pesquisa acadêmica, ao final da graduação, escolhi realizar meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a temática das drogas. Meu objetivo no estudo foi apresentar como a educação aparece nas políticas de drogas brasileiras, fazendo também um paralelo e apresentado como a educação está colocada nas políticas sobre drogas do Uruguai e de Portugal, países que abandonaram as políticas repressivas.

Enquanto ia fazendo a pesquisa, ia também refletindo sobre os meus achados. A primeira coisa que me chama atenção é o atraso do Brasil com relação ao debate educativo a respeito das políticas de drogas. A educação tem uma presença muito forte nas políticas e legislação de Uruguai e Portugal. No Brasil, temos o contrário. Nos dois países estrangeiros, o conhecimento e a disseminação de informações são ferramentas muito utilizadas. Busca-se a construção de uma sociedade baseada no conhecimento para, dessa forma, equacionar o problema das drogas (SILVA, 2017).

Conceitos como educação para cidadania, habilidades para a vida, promoção da saúde e educação para a saúde são facilmente encontrados dentro dos documentos portugueses que tratam sobre as drogas e na legislação uruguaia. Esses conceitos educativos, quando são levados para o currículo escolar, têm o objetivo de fazer não apenas a prevenção, mas de formar cidadãos autônomos, conscientes de seu papel na sociedade e principalmente informados, munidos de conhecimentos para que possam tomar suas decisões de forma consciente (SILVA, 2017).

Concluí o trabalho da monografia, mas algumas questões ainda me inquietavam.

Principalmente, quando pensava no meu papel de educadora e na forma como a questão das

drogas era abordada nas escolas. Por mais que o ambiente escolar seja composto por diversos

profissionais, o professor sempre será aquele que vai conviver de maneira mais próxima com

os alunos. Consequentemente, será também um dos mais afetados, seja por atos de violência

praticados em sala de aula, ou pelo baixo rendimento dos seus alunos.

(26)

A escola é um bom espaço para falarmos sobre drogas. Basta lembrar que ela abriga um grande número de jovens por longos períodos de tempo todos os dias. E, além do mais, é um espaço de socialização, de encontro e de estabelecimento de vínculos. Mas é preciso ter em conta as abordagens que iremos utilizar, já que uma simples ação de prevenção ao consumo abusivo de drogas pode ocultar interesses com os quais, muitas vezes, não compactuamos.

Ao terminar a graduação, logo em seguida, fui convidada para lecionar em uma turma da Educação Infantil em uma das escolas públicas municipais de minha cidade. A escola está situada em um bairro periférico e atende principalmente a uma comunidade em situação de vulnerabilidade social. Os alunos tinham, em média, de cinco a seis anos. Em uma turma de educação infantil, ninguém espera ou imagina ter problemas relacionados com o consumo de drogas, afinal, os educandos são crianças muito pequenas. Mas, mesmo assim, fui surpreendida por algumas situações que me fizeram refletir bastante.

Por se tratarem de crianças pequenas, todos os pais vinham buscar seus filhos ao término das aulas. Certo dia, no final de uma aula, olhei para a porta da sala e vi ali parado um senhor que aparentava estar alcoolizado. Mais que isso, sua aparência física já mostrava características de um consumo prolongado dessa droga. Aproximei-me do homem, e ele exalava um cheiro forte de álcool, mas me falou que tinha vindo buscar o seu filho. A criança, quando o viu, foi logo guardando seus materiais. Perguntei de quem se tratava, e ele confirmou-me que era seu pai.

Depois desse episódio, fui conversar com funcionários mais antigos da escola para saber se alguém conhecia a família dessa criança, pois já era o segundo ano que ele frequentava aquela escola. As informações que me deram foram ainda mais desalentadoras, pois se tratava de uma família economicamente carente, e outros membros dela também tinham problemas com drogas, não apenas o pai. Pus-me a pensar naquele menino tendo que crescer nesse ambiente. Lembrava um pouco da minha própria história, mas a realidade dele ainda era diferente da minha. Ele tinha apenas seis anos e era um dos mais inteligentes da sala. Mas, mesmo assim, ficava me perguntando quais seriam as suas chances se nada fosse feito, tendo que crescer em uma realidade tão adversa que já lhe colocava em uma certa desvantagem.

Quando chegava nas escolas públicas para realizar meus estágios supervisionados,

passava semanas na sala de aula convivendo com o professor e os alunos. Todas as

experiências docentes que tive foram realizadas em escolas localizadas em comunidades

(27)

carentes, então, toda experiência de estágio proporcionava-me uma espécie de imersão na realidade.

Quando fui para sala de aula como docente da rede pública, tinha os meus próprios alunos para observar e passei a sentir de forma mais efetiva a realidade deles. O estabelecimento do vínculo com os sujeitos torna ainda mais difícil suportar as injustiças sociais que são cometidas contra eles. Como era duro ver alguns deles chegarem com um caderno e um lápis na mão, pois os pais não tinham condições de comprar uma mochila.

Como era difícil ver alguns chegarem com roupas rasgadas ou remendadas e outros repetindo várias vezes o prato da merenda, pois aquela era a primeira refeição do seu dia. Essas situações mexiam muito comigo, mas, ao mesmo tempo, estimulavam-me e inquietavam-me.

Então, eu sentia que tinha a obrigação de tentar oferecer o melhor que eu pudesse para eles.

Quando já estava trabalhando na escola, soube da abertura do edital para a seleção do mestrado no Campus I da UFPB, que fica na cidade de João Pessoa. Dar continuidade aos estudos no mestrado era um sonho que vinha nutrindo já há algum tempo desde a graduação.

Sabia das dificuldades e da concorrência do processo seletivo, mas, mesmo assim, movida por meu desejo e pelos incentivos de pessoas queridas, resolvi participar. E, dentre tantas possibilidades, escolhi a linha de Educação Popular.

Para mim, a educação popular já representava um modo diferente de fazer educação.

Depois da minha experiência como docente na rede pública, a educação popular tornou-se uma necessidade. Uma abordagem que poderia guiar a minha prática educativa. Sabemos que uma atitude isolada não vai resolver todos os problemas, assim como sabemos também que soluções imediatistas não funcionam, principalmente quando se trata de educação. Educação é processo. Nesse sentido, para fazer educação popular, é preciso ter consciência de que não vamos transformar o mundo de uma hora para outra, mas vamos seguir com nossa prática na busca da construção de novos dias, onde igualdade e justiça social não sejam sonhos distantes.

A educação popular é política. É se colocar contra as formas de opressão e exclusão. É desejar uma transformação no sistema econômico vigente que produz muita desigualdade. É acreditar que as mudanças podem e devem acontecer, e não se conformar. É acreditar no potencial dos sujeitos das classes populares, valorizar e respeitar seus saberes e sua cultura.

Incentivá-los a buscar a sua humanização, o seu reconhecimento enquanto cidadãos. As

práticas de educação popular buscam inserir os sujeitos no processo histórico como o que eles

realmente são: construtores da história. Através de um trabalho educativo e político que busca

transformar as condições opressoras que limitam o desenvolvimento dos sujeitos populares e

os privam do seu direito de ser mais.

(28)

Então, estando plenamente consciente de minhas escolhas, passei por todas as etapas do processo seletivo do mestrado e fui aprovada. Para mim, foi uma conquista imensa. Eu, que, há alguns anos, nem acreditava que poderia realizar uma graduação em uma universidade pública, agora estava prestes a iniciar minha pós-graduação em uma das melhores universidades públicas do Nordeste. E em um dos melhores programas de pós-graduação em educação. Fiquei muito feliz e, mais uma vez, fui completamente aberta e disposta para aprender.

A única parte relativamente triste do processo foi ter que me afastar da escola onde trabalhava. Ter que me afastar dos meus pequenos alunos, com os quais já tinha estabelecido um vínculo. Para mim, não foi possível conciliar a docência com as atividades do mestrado.

Mas sei que os encontros e os desencontros também fazem parte da vida, e aprendemos muito com eles. O período que passei ao lado deles, convivendo e conhecendo mais de perto suas realidades, foi fundamental para fortalecer a certeza de minhas escolhas.

Essa atividade analítica e reflexiva revela como a identidade vem sendo forjada ao longo de nossa existência. Os diversos acontecimentos que nos transformam, as pessoas que conhecemos, as pessoas com quem convivemos, os lugares que frequentamos, os livros que lemos e tantas outras coisas que contribuem com a construção de nossa identidade. É comum não nos darmos conta dessa construção no momento em que ela vai se processando, mas, quando nos pomos a refletir sobre quem somos, afinal, percebemos as profundas mudanças que foram acontecendo, e sentimo-nos satisfeitos com nossa evolução.

Conforme escreve Castells (2000, p. 22-23), ―a construção da identidade se efetiva nas relações sociais, nos processos dialéticos de contradição, na relação com outros grupos, nas questões culturais, num determinado período histórico. Identidade é a fonte de significado e experiência de um povo‖. Dessa forma, tudo que foi vivenciado até aqui contribuiu de alguma forma para a construção da minha identidade.

1.2 A elaboração da problemática da pesquisa e sua relevância

A escolha de um objeto de pesquisa nunca é uma escolha neutra. É comum que a problemática da pesquisa tenha origem em alguma inquietação do sujeito pesquisador.

Alguma parte da realidade pode nos parecer pouco explicada, e queremos entender melhor.

Ainda é possível investigar para propor mudanças. Assim, buscamos colaborar com a

construção de um novo conhecimento ou com a atualização de conhecimentos já produzidos.

(29)

As experiências vivenciadas ainda na graduação do curso de pedagogia e também em nossa trajetória pessoal, conforme foi descrito anteriormente no memorial, deram origem às primeiras inquietações sobre como a questão das drogas poderia ser abordada de forma diferente. Sem preconceitos, prezando pelo respeito aos saberes e à individualidade dos educandos e ao desenvolvimento de sua consciência crítica. Os discursos proibitivos geralmente não funcionam nem com adultos nem muito menos com adolescentes.

Conforme foi enfatizado anteriormente, algumas das formas de opressão que sofrem determinados grupos sociais vêm sendo reforçadas pela escolha política de como conduzir no Brasil e em algumas outras partes do mundo as questões que se relacionam com as drogas, sua produção, comercialização e consumo. Os pressupostos dessa opção política são absorvidos e refletem-se em vários setores da sociedade, que terminam por adotar o seu discurso e contribuir de forma direta ou indireta com as formas de controle, opressão e exclusão, que podem ser observadas através do encarceramento massivo, da criminalização da pobreza e dos seus territórios, conforme é apontado por Feffermann et al.:

Especificamente, em relação ao uso problemático do álcool e outras drogas, a criminalização, os interesses econômicos, reforçados pelas mídias, produzem um efeito nefasto que têm como consequência o encarceramento em massa, a criminalização de territórios empobrecidos e de seus moradores e um alto índice de homicídios. As drogas servem também para manter a criminalização da pobreza e dos pobres, particularmente em uma sociedade que não conseguiu superar a tradição escravagista, autoritária e racista, como a sociedade brasileira (FEFFERMANN et.al. 2017, p. 12).

Assim, consideramos que é fundamental conhecer e desenvolver abordagens críticas

de educação sobre drogas, ou seja, abordagens que estejam comprometidas com a

problematização da realidade, com a construção de processos formativos, saúde e bem-estar

das pessoas, e não apenas em mantê-las submissas, oprimidas e marginalizadas através de

jogos de poder e da inculcação de discursos acríticos. Na atualidade, já se começa a pensar em

alternativas às políticas repressivas que, em muitos países, são substituídas por políticas de

saúde pública com forte presença da perspectiva da redução de danos, que conforme apontam

Passos e Souza (2011, p. 154) foi ―proposta inicialmente como uma estratégia de prevenção

ao HIV entre usuários de drogas injetáveis [...] a redução de danos foi, ao longo dos anos, se

tornando uma estratégia de produção de saúde alternativa às estratégias pautadas na lógica da

abstinência‖. Sendo assim, tem havido uma contestação da ordem social vigente na sua

maneira de abordar a questão das drogas.

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Acreditamos ser esse um importante campo de atuação para a educação popular.

Compreendemos a educação popular como um movimento educativo e político engajado com processos de resistência e comprometido em fazer a crítica ao sistema econômico neoliberal, que, em muitos casos oprime, e objetifica os seres humanos. Em oposição a esse sistema, a educação popular busca a emancipação dos indivíduos e a transformação social.

A realização deste estudo justifica-se por algumas razões. A primeira diz respeito à relevância que a questão das drogas e da educação sobre drogas possui para a sociedade. Não são recentes as preocupações a esse respeito. O fenômeno das drogas vai aumentando de proporção à medida que a sociedade vai se modernizando e modificando suas relações, porém, as formas hegemônicas de tratar a questão não se modificam. Sempre os mesmos argumentos, sempre as mesmas políticas repressivas que demonizam as substâncias e criminalizam as condutas dos seus consumidores.

O que ainda explica o predomínio das abordagens repressivas é o seu objetivo implícito de possibilitar o controle político de determinados grupos (CARLINI-COTRIM, 1998). Alguns estudos e pesquisas no âmbito nacional já foram realizados com o intuito de analisar determinadas abordagens sobre drogas, principalmente as de cunho proibicionista, nesse contexto os trabalhos de Bucher (2007), Soares e Jacobe (2000) e Barbosa (2015) são exemplares. O que sempre se constata é o caráter reducionista dessas abordagens.

A segunda razão que justifica a realização desta pesquisa diz respeito à necessidade de estudos investigativos no campo da educação popular que abordem a temática das drogas. No quarto capítulo deste trabalho, refletimos sobre alguns estudos que tratam a questão das drogas a partir do referencial da educação popular e constatamos a existência de um número pequeno de trabalhos. O entrelaçamento entre as duas temáticas certamente pode significar um avanço para o conhecimento científico, a construção e o fortalecimento de uma perspectiva crítica para tratar o fenômeno das drogas, principalmente tendo em conta o caráter das abordagens dominantes. Mas não apenas isso, construções teóricas e práticas dessa natureza também podem representar avanços na forma de tratar as pessoas que fazem um consumo abusivo dessas substâncias.

O tratamento do tema das drogas pela educação popular pode representar uma resposta ao desafio de se desenvolver abordagens sobre as drogas que respeitem os indivíduos;

abordagens que estejam comprometidas, de fato, com a saúde e o bem-estar, mas também em levá-los a problematizar a realidade.

Apesar dos desafios que o atual contexto político e econômico representam, fica cada

vez mais evidente que há a necessidade de novas construções teóricas e práticas que estejam

(31)

mais voltadas para o ser humano e para o atendimento das suas necessidades, e menos para a droga e suas formas de repressão. Abordagens sobre o tema que ultrapassem os discursos proibitivos, preconceituosos e moralistas que servem apenas para fazer a manutenção de uma estrutura de poder.

Diante de tudo que foi enfatizado aqui, esta pesquisa será norteada pelo seguinte questionamento: Como a questão das drogas tem sido abordada no contexto da educação popular?

Portanto, tendo os seguintes objetivos:

Objetivo geral

 Analisar as abordagens sobre as drogas no contexto da educação popular.

Objetivos específicos

 Enfocar as bases constituintes da educação popular;

 Apresentar um panorama das abordagens sobre drogas;

 Investigar os enfoques sobre drogas na produção bibliográfica da educação popular;

 Averiguar como as drogas têm sido abordadas em escolas do meio popular.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob o parecer CEP 3.477.871 em 30 de julho de 2019.

1.3 Orientação metodológica

Metodologicamente, o presente estudo adota uma perspectiva qualitativa com caráter exploratório. Essa escolha justifica-se por essa abordagem considerar o processo de comunicação do pesquisador no campo de estudo como uma parte explícita da construção do conhecimento. Nesse sentido, tanto a subjetividade do pesquisador quanto a dos outros participantes da pesquisa tornam-se constituintes do processo da pesquisa (FLICK, 2009).

A abordagem qualitativa leva em consideração a maneira como os seres humanos

constroem suas interpretações a respeito de seus modos de vida e dos objetos que eles

produzem. Suas interpretações sobre si mesmos e seus modos de pensar também são

importantes nesse tipo de pesquisa (MINAYO, 2014). Ainda conforme Minayo,

(32)

Esse tipo de método que tem fundamento teórico, além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento até a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo em estudo. Por isso, é também utilizado para a elaboração de novas hipóteses, construção de indicadores qualitativos, variáveis e tipologias (MINAYO, 2014, p. 57).

Dessa forma, através da pesquisa qualitativa, é-nos possibilitado levar em consideração no desenvolvimento do estudo as formas de ser e as concepções da realidade tanto do pesquisador quanto dos participantes da pesquisa. A escolha pela abordagem qualitativa diz respeito, neste estudo, aos tipos de dados que serão alvo de nossa análise.

Para sabermos como as drogas vêm sendo enfocadas na literatura da Educação Popular, realizamos um revisão narrativa com base em artigos científicos publicados em periódicos acadêmicos e selecionamos também algumas fontes primárias como monografias.

De acordo com Vosgerau e Romanowski, (2014), estudos de revisão podem contribuir com a reformulação do diálogo acadêmico. Nesse sentido,

[...] podem conter análises destinadas a comparar pesquisas sobre temas semelhantes ou relacionados; apontar a evolução das teorias, dos aportes teórico metodológicos e sua compreensão em diferentes contextos, indicar as tendências e procedimentos metodológicos utilizadas na área, apontar tendências das abordagens das práticas educativas (2014, p. 168).

A revisão narrativa, segundo as autoras, pode possibilitar a identificação de temáticas recorrentes e o surgimento de novas perspectivas para a afirmação de uma área de conhecimento. As produções bibliográficas pertencentes a uma determinada área podem revelar as ideias, métodos e concepções que vêm sendo adotadas pelos pesquisadores. Nesse contexto, para a realização da revisão, é necessário deixar claro o campo de pesquisa e o tema pesquisado, assim como fazer um recorte temporal e estabelecer as fontes de dados e as bases onde os dados serão recolhidos. Assim, o pesquisador pode optar por bases mais amplas, como o portal da CAPES, ou bases mais restritas, como revistas científicas (VOSGERAU;

ROMANOWSKI, 2014).

Utilizamos como critérios para selecionar os estudos o uso das palavras-chave

―educação popular‖ e ―drogas‖. Também priorizamos artigos publicados em periódicos.

Inicialmente, pretendíamos pesquisar estudos que tivessem sido publicados nos últimos cinco

anos (2015-2019), porém, encontramos uma pequena quantidade de trabalhos que, de fato,

abordavam a temática. Então, decidimos estender nossa busca por estudos que tivessem sido

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