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Resultados e Discussão

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB (páginas 95-157)

5.2.1 O consumo de drogas

Com essa categoria, identificamos a percepção que os professores e gestores possuem

sobre a presença do consumo de drogas na comunidade e também na escola. Alguns

entrevistados consideram que o consumo de drogas acontece de forma velada. Ou seja, não

acontece de forma aberta, pois os consumidores não costumam se expor. Quanto ao contexto

escolar, é perceptível através de algumas falas que o consumo de drogas já foi percebido em

alguns momentos, mas, atualmente, não estaria acontecendo. Isso pode ser observado através

dos seguintes relatos:

Eu descreveria a presença da droga de uma forma muito sutil. Ela não se expõe. Geralmente, quem é usuário não se expõe, mas nós sabemos de caso de pessoas que fazem uso de drogas. Mas, aqui na escola, até o presente

momento, não foram feitos registros desse tipo de situação. (P01-Q04)

Assim, na escola, eu não posso dizer com certeza que a gente têm usuários ou temos traficantes. Não. A gente escuta por ouvir dizer que alguns alunos

nossos estão envolvidos, mas não é um fato concreto. (P02-Q04)

Já tivemos muitos problemas, mas hoje, graças a Deus, não temos mais. Só que eu já trabalhei em outras escolas em que nós tínhamos casos seríssimos. As coisas não são explícitas, não acontecem para todo mundo ver, mas nós sabemos que existem casos e, infelizmente, nessas escolas, isso está cada vez

mais frequente [...]. (P05-Q04)

[...] Dentro da comunidade, se escuta e se sabe quem faz toda manobra a respeito disso daí. Tivemos alguns alunos que foram envolvidos, mas só

soubemos depois que eles deixaram o contexto escolar. (P06-Q04)

A ideia que os entrevistados têm de que o consumo de drogas não acontece de forma

explícita talvez possa ser explicada pelo fato de alguns consumidores, principalmente das

drogas ilícitas, sentirem a necessidade de manter seus hábitos de consumo na clandestinidade.

As razões que justificam essa escolha são inúmeras. Como aponta Karam (2013), a política de

guerra às drogas representa para essas pessoas violência, morte, doenças e encarceramento

massivo.

Conforme foi discutido no terceiro capítulo deste estudo, as políticas repressivas e

proibicionistas colaboram para que muitos consumidores de drogas decidam não se expor,

afinal, esses indivíduos estão quebrando uma norma e, por isso, estão sujeitos a receberem

uma punição. Essa clandestinidade a que alguns indivíduos são forçados pode representar

alguns problemas graves, sobretudo para a saúde individual e coletiva, considerando que

muitas pessoas que fazem consumo abusivo não se sentem à vontade para procurar os

serviços de saúde quando eventualmente precisam; problemas simples de saúde podem se

agravar e ter consequências irreversíveis.

Dessa forma, fica evidente que o proibicionismo a que são submetidas algumas

substâncias afeta profundamente os seus consumidores, intimida os sujeitos e pode dificultar a

busca espontânea pelos serviços de saúde, já que fazê-lo pressupõe a revelação de uma prática

tida por uma parcela da sociedade como ilegal e imoral. O medo das possíveis punições pode

ser paralisante e, em casos de overdose, por exemplo, pode ser um empecilho para a busca de

socorro imediato (KARAM, 2013).

A percepção de que o consumo de drogas não é explícito também pode estar

relacionado a uma fragilidade no vínculo entre a comunidade e a escola. Uma maior

proximidade com a realidade vivenciada pelos estudantes pode, talvez, ajudar a perceber

aquilo que não está explícito, mas que afeta o indivíduo e a sua aprendizagem como o

consumo abusivo de drogas, sofrimentos, incertezas, ansiedades etc. Uma educação bancária,

que não provoca a reflexão e é centrada apenas na transmissão de conteúdos, pode ser um

impeditivo para a abordagem de questões complexas e desafiadoras que podem ter origem no

contexto social vivenciado pelo aluno.

O consumo de drogas pode se iniciar em diferentes contextos e por variadas razões. O

ambiente familiar também pode apresentar um espaço propício para o consumo dessas

substâncias. As drogas ilícitas, mas, principalmente, as lícitas, estão presentes em vários

momentos de sociabilidade dos seres humanos. Confraternizações, aniversários e vários

outros tipos de celebrações costumam ter como itens indispensáveis alguns tipos de drogas.

Nessas ocasiões, é comum que crianças e jovens vejam seus pais ou parentes ingerindo essas

substâncias. Um dos docentes entrevistados associa o consumo de drogas pelos jovens com

questões inerentes aos contextos familiares dos quais eles procedem, afirmando que, em

alguns casos, o consumo se inicia na própria casa. Isso pode ser observado no relato a seguir:

[...] A gente vê as pessoas o tempo todo em redes sociais, celular e TV. A TV

hoje passa novela 24 horas. Isso fez com que os pais se desligassem dos filhos. Aí os filhos vão crescendo de todo jeito, se envolvem com qualquer pessoa, tem contato com qualquer pessoa e não entendem o que é a droga. Muitos jovens acham que a droga é o quê? É uma diversão, é para você está descolado. “Ah, eu uso droga! Cara você está descolado, hein?! Você está na sociedade!”. Mas não é isso, a droga é o fim de tudo. Na questão da escola, é a mesma coisa. Eles já chegam na escola com essa formação de casa, eles já vêm para cá usando drogas, outros já vendendo. Aí, quando chegam aqui, esses alunos que vendem e já usam drogas vão fazer o papel

de quem já viciou eles [...]. (P03-Q04)

A família representa um grupo social que vem se transformando ao longo do tempo e

possui uma diversidade de configurações. As relações estabelecidas através do núcleo familiar

teriam a capacidade de influenciar os seus membros através da adoção de comportamentos,

crenças e ideologias. Conforme é apontado por (SCHENKER e MINAYO, 2003, p. 300),

―por família se entende uma instituição privada, passível, neste mundo pós-moderno, de

vários tipos de arranjo, mas basicamente tendo a função de socialização primária das crianças

e dos adolescentes‖.

Dessa maneira, como uma instituição primária de socialização, o núcleo familiar do

indivíduo pode apresentar fatores de risco ou fatores de proteção ao desenvolvimento de um

consumo abusivo de substâncias psicoativas. Vínculos fragilizados são apontados como

resultado de uma certa inabilidade da própria família no papel de educar e criar seus filhos.

Como consequência disso, o jovem pode apresentar dificuldade de reconhecer a autoridade

dos pais ou mesmo de outros adultos. Assim, a qualidade das relações que são estabelecidas

na família desempenha um papel importante no desenvolvimento dos sujeitos, além disso,

certas abordagens educativas desenvolvidas pela família, para serem bem sucedidas, precisam

do estabelecimento de uma relação emocional apropriada (SCHENKER e MINAYO, 2003).

O consumo ou comércio de drogas são fenômenos que podem ser identificados em

todas as classes sociais. Porém, há uma forte tendência que associa essas práticas a alguns

grupos sociais específicos, geralmente aqueles economicamente empobrecidos ou negros

(HARI, 2018). Essa questão foi discutida no terceiro capítulo, onde enfatizamos que a

criminalização da pobreza e dos seus territórios tem objetivos bem definidos. Dessa maneira,

as características socioeconômicas da própria comunidade em que vivem os sujeitos são

apontadas como facilitadoras do contato entre eles e as drogas, conforme pode ser

acompanhado no relato abaixo:

A gente vê muitas famílias carentes, e dentro dessa carência, a educação fica longe do contexto de pais e filhos. Então, logo cedo, como eles moram em lugares simples e humildes, aos poucos, mesmo sem querer, ele vai conhecendo as drogas. Em si, ele começa a conhecer o líquido, que não deixa de ser uma droga, pois a bebida alcoólica é uma droga. Ele começa a se viciar na droga líquida, e dentro desse contexto, surge a droga em si, o fumo, as ilícitas. O bairro favorece para esse setor. Eles querem conhecer. A

realidade social influencia. (P04-Q04)

É possível perceber que alguns professores pensam sobre o entorno onde eles

trabalham, dessa maneira, trazem reflexões sobre o contexto familiar e social dos alunos em

suas falas. A realidade social exerce influência sobre os indivíduos e seus comportamentos,

logo, um ambiente em que o consumo e o comércio de drogas acontecem de forma frequente

pode, eventualmente, facilitar o acesso e o conhecimento sobre essas substâncias. É fato

também que o tráfico de drogas pode ser visto com mais facilidade nos bairros mais

empobrecidos. Porém, isso não significa que ele não acontece nos bairros de classe alta. O

que acontece é que a periferia e seus moradores geralmente sofrem com a ausência de

políticas públicas e bens culturais, o que, eventualmente, pode tornar esses territórios em

ambientes propícios para o desenvolvimento desse tipo de atividade ilegal. Nesse contexto,

comunidades empobrecidas passam a ser enxergadas como fontes de problemas sociais e,

dessa maneira,

Em razão de o tráfico de drogas ser exercido, majoritariamente, nas favelas e bairros pobres, os meios de comunicação e a opinião pública estabelecem associações entre a pobreza e a criminalidade, criam expressões – como o

―Poder Paralelo‖ – que espalham medo entre a população e instigam o Estado a ampliar os mecanismos disciplinares. Além disso, o discurso dominante do Estado e da sociedade incorpora o estigma do inimigo interno, materializado na figura do traficante/favelado e ―demonizado‖ na Cruzada contra as drogas. O resultado dessa conjugação de esforços que afirma combater a criminalidade é a segregação e pacificação da população pobre, especialmente a habitante das periferias de qualquer cidade brasileira, além da legitimação da violência estatal (MORAIS, 2006, p. 119).

Assim, legitimam-se as violências e mecanismos de controle que são exercidos sobre

as populações de comunidades periféricas. A associação entre pobreza e criminalidade que faz

parte dos discursos dominantes é internalizada pela população, que passa também a fazer esse

tipo de associação. Moradores de comunidades passam a ser vítimas de preconceito apenas

pelo fato de residirem naquele lugar.

O uso de linguagem estigmatizante para referir-se a consumidores de drogas,

especialmente das ilícitas, é uma prática comum. Muito embora não seja a maneira adequada

de tratar as pessoas e nem contribua para o trabalho de prevenção, podendo, inclusive,

funcionar como um obstáculo para a realização do trabalho educativo, sobretudo, quando isso

ocorre no âmbito dos educadores.

Em ambas as escolas em que dou aula hoje em dia, o uso de drogas, você ser um marginal ou, falando popularmente, você ser um “noiadozinho”, é como se fosse uma referência para esses jovens de hoje, não generalizando todos, mas uma maior parte. Hoje em dia, você usar drogas, falar gírias e fazer coisas erradas é uma coisa que eles acham bacana. Não só para os meninos, como para as meninas também. Hoje em dia, as meninas de 13, 12 e 10 anos já estão namorando e falando sobre isso. E as meninas procuram quanto mais o menino for errado, for um “noiadozinho”, usar drogas e falar sobre isso. Buscam os que fazem apologia ao sexo, essas coisas que englobam tudo isso. Elas preferem se relacionar com esse tipo de menino.

Então, a questão do uso de drogas dentro da escola é referente a isso.

(P07-Q01)

O estigma

20

surge associado a uma determinada característica ou comportamento que

pode ser considerado estranho ou moralmente condenado pela sociedade. Esse é o caso dos

sujeitos que consomem drogas, que passam a ser considerados transgressores por adotarem

um comportamento que é considerado ilegal. Um dos grandes problemas da criação e da

adoção de uma linguagem estigmatizante é que essa forma de tratar as pessoas pode trazer

sérias consequências sociais e também para a saúde física e mental, além de atrapalhar a

realização das abordagens educativas, pois podem promover o afastamento dos sujeitos.

20 O estigma é uma construção social que representa uma marca, a qual atribui ao seu portador um status desvalorizado em relação aos outros membros da sociedade. Ocorre na medida em que os indivíduos são identificados com base em alguma característica indesejável que possuem e, a partir disso, são discriminados e desvalorizados pela sociedade (RONZANI et al. 2014, p. 09).

Ainda é possível afirmar que ―a representação negativa sobre o dependente de drogas deriva

das repercussões de posicionamentos políticos/ideológicos advindos do modelo

proibicionista, que propõe como meta uma sociedade 'livre de drogas'‖ (MOREIRA, et al.

2015, p. 126).

A estigmatização e o preconceito já não são comportamentos aceitos e bem vistos na

sociedade há bastante tempo, porém, apesar disso, ainda é possível observá-los em diferentes

contextos. Para o tratamento da questão das drogas na escola, é fundamental que a

comunidade escolar não adote linguagem estigmatizante. Isso em nada contribui para o

desenvolvimento do tema e ainda pode provocar o distanciamento das pessoas. Esse processo

de ensino-aprendizagem deve ser pautado, sobretudo, pelo acolhimento, horizontalidade,

diálogo e respeito.

5.2.2 As drogas na sala de aula

Esta categoria identifica situações vivenciadas ou que os professores já ouviram a

respeito, que indicavam o consumo ou o comércio de drogas dentro da sala de aula, bem

como a descrição dessas situações. Identifica também relatos dos que nunca tiveram a

experiência.

Alguns entrevistados afirmam já terem vivenciado situações em que tiveram alunos

sob o efeito de substâncias psicoativas na sua sala de aula. Nesse sentido, os relatos abaixo

são representativos:

Anos atrás, quando eu lecionava em outra escola, sobretudo à noite, via alunos que vinham com sinais de que tinha usado drogas, com o humor um pouco alterado. Isso era perceptível na minha sala e nas outras também. (P01-Q05)

É perceptível que o critério usado para identificar que o aluno fez consumo de

substâncias psicoativas é bastante subjetivo. Há uma dedução com base no estado de humor

que o aluno apresentava no momento. Estado de humor que pode ser alterado pelas mais

diversas razões, afinal, nossas emoções exercem grande influência sobre o humor. Assim, não

é possível afirmar que alguém fez o consumo de drogas apenas pelo estado emocional que

apresenta no momento. No entanto, esse tipo de percepção pode gerar desconfiança com

relação ao aluno.

Na minha sala aconteceu. Quando chegou a guarda municipal, a menina me disse que precisava sair da sala. Aí, eu vi ela falando com a outra: “ joga

isso pelo muro, joga isso pelo muro!”. Aí, eu disse: “vá, vá minha filha, pode sair”. Eu não quis me expor. Depois, quando ela saiu e terminou minha aula, falei com a secretária da escola, que falou com a secretaria do município, e transferiram ela. Transferiram ela para outra escola e não sei o que aconteceu na outra escola, se resolveram. Ela estava trazendo para escola e aliciando os outros. A gente percebia ela conversando com alunos que sabíamos que não tinham contato, mas vai conversando e dizendo que aquilo vai deixar o outro mais descolado. Jovem de hoje, o pensamento é

esse, eles têm a preocupação de ser aceito pela população jovem. (P03-Q05)

No meu primeiro ano, na minha primeira experiência como professora, eu peguei uma turma de EJA à noite. Quando eu entrei na sala, só tinham homens, e um deles estava fumando. Foram os piores 40 minutos da minha vida. Esperei contando os minutos para passar aquilo, e aquilo não passava [...] Também teve um caso de um menino ano passado, já era o segundo ano que ele era meu aluno, só que ele mudou completamente de comportamento de uma hora para outra. Infelizmente, a gente descobriu que era por conta das drogas. [...] Ficou agressivo, não fazia nada, não queria contato com ninguém, não queria que ninguém se aproximasse dele. Era só xingamentos e não queria estudar[...] Aí, depois, nós tivemos uma ajuda na escola de um casal que vinha de Guarabira/PB. Eles vinham como psicólogos, mas eles não eram formados. Eles foram conversar com esse garoto e foi aí que a gente descobriu que, na verdade, já vinha de casa. O padrasto não gostava

dele, e ele sofria muito em casa e foi buscar o alívio nas drogas [...].

(P05-Q05)

Já foi visto dentro de sala de aula. Ano passado, houve uma menina que entrou na escola com um cigarro eletrônico, daqueles que têm essências, e ficou mostrando para as colegas. Fiquei sabendo que chegaram a usar escondidas no banheiro, não sei como foi que resolveram isso, mas já

aconteceu. (P07-Q05).

Os relatos acima demostram as situações vivenciadas pelos professores. O que todas

essas situações têm em comum é a associação entre os jovens e as substâncias psicoativas. A

dificuldade da escola em lidar com isso revela-se na atitude de transferir o aluno para outra

instituição. Essa atitude pode ser entendida como a solução mais adequada ou mais fácil,

porém, isso pode representar a exclusão do aluno.

Moreira et al. (2006) apontam que, em situações em que o consumo de drogas é

identificado, é preciso pensar em alternativas à exclusão do aluno, e que a decisão de incluí-lo

pode representar o divisor de águas entre a parada logo após uma experimentação ou a

progressão para o consumo de outros tipos de substâncias.

Também nos chama atenção o relato da professora P05, quando ela afirma que um dos

alunos apresentou uma grande mudança de comportamento e que isso estaria relacionado ao

consumo de drogas. Apesar de a escola ter percebido a mudança de comportamento do aluno,

a origem dessa mudança só foi investigada quando pessoas externas à instituição dialogaram

com ele e ouviram o que ele tinha para dizer. A partir desse momento, são revelados

problemas familiares que afetavam a vida desse jovem, seu processo de ensino-aprendizagem

e talvez tenham também contribuído para que ele iniciasse o consumo de drogas.

Questões como a que foi relatada pela entrevistada talvez tivessem consequências

menos danosas se a escola conhecesse melhor o seu aluno e a sua realidade. Como afirma

Freire (2018b, p. 62) ―[...] não é possível à escola, se, na verdade engajada na formação de

educandos e educadores, alhear-se das condições sociais, culturais e econômicas de seus

alunos, de suas famílias, de seus vizinhos‖.

Outros sujeitos da pesquisa relataram que nunca observaram seus alunos consumindo

drogas.

[...] alguns alunos dizem: aquele aluno tal é um aviãozinho, aquele aluno tal já é um usuário. Mas eu não tive a oportunidade de confrontar, de ver. Nem um aluno chegou para mim, porque, às vezes, tem aluno que chega para o

professor e desabafa. Eu não vivenciei isso ainda. (P02-Q05)

Alguns professores chegavam a relatar que a própria linguagem deles, que é bem popular, dava entender isso. Então, eles chegavam a dizer que a escola não era lugar para isso, para comentarem sobre isso. Mas, pelas próprias

gírias deles, vocêentende que é um linguajar de usuários. Dentro da sala de

aula foi dessa forma. Mas, enquanto gestora, nenhum professor chegou a

me dizer que viu o aluno fumando. Então nunca presenciamos. (G01-Q05)

Escutávamos eles falando dentro da escola, mas nós nunca chegamos a pegar, ver. Mas sabíamos quem realmente fazia, mas muito sigiloso. Tudo

muito abafado. (P06-Q05)

De acordo com dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

(PeNSE), no ano de 2015, cerca de 55,5% de todos alunos que cursavam o nono ano do

ensino fundamental já haviam feito o consumo de álcool. Quanto às drogas ilícitas, 9,0% dos

alunos já haviam consumido no ano em que o estudo foi realizado (PeNSE, 2015). A mesma

pesquisa, tendo sido realizada no ano de 2012, apresentava índices menores de consumo de

drogas. Assim, um total de 50,3% dos estudantes já haviam consumido álcool no ano de

realização do estudo, e cerca de 7,3% tinham consumido drogas ilícitas (PeNSE, 2012). Entre

outras coisas, a pesquisa demostra que o consumo de drogas entre os estudantes é real e, além

disso, segue aumentando..

A escola é uma das instituições responsáveis pelo aprendizado, principalmente

daqueles conhecimentos que são considerados fundamentais para a sustentação e

desenvolvimento da sociedade. O conhecimento dos alunos a respeito das drogas,

provavelmente, é mais adquirido fora da escola. Conforme pode ser percebido através desse

relato:

[...] aqui teve um projeto falando sobre drogas, e a gente começou a perguntar, questionar sobre drogas e citamos dois ou três tipo de drogas. Escrevi o nome no quadro, e a gente começou a perguntar a eles. Pelo meu conhecimento, eu achava que só existiam uns cinco tipos. Apareceram mais de 20 nomes trazidos pelos alunos. Citando até os tipos também caseiros e relatando de uma forma como se tivesse um bom conhecimento do que estava falando. E quando a gente tentou se aprofundar mais um pouco, eles viram que a gente já estava questionando e se aprofundando até demais, e daí, o diálogo começou do zero novamente, ele começou a dizer: “não, não, não sei disso, não”. Eu disse: “vamos para o básico”, ele disse: “também não sei disso”. Mas, aos poucos, sem querer, eles soltaram que conhecem. (P04-Q05)

Nesse contexto, existe um saber prévio pertencente aos alunos que, provavelmente,

tem origem nas suas próprias vivências e supera até mesmo o do próprio docente. No entanto,

esse saber não é levado em consideração no desenvolvimento das atividades educativas, pois

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