SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO FUTEBOL – 4ª COMISSÃO DISCIPLINAR
Processo nº 811/2021
Competição: Campeonato Brasileiro Série B – 2021 Partida: Avaí (SC) X Náutico (PE).
Denunciados:
1º Denunciado-Ari de Nascimento Barros (Diretor de Futebol do Náutico/PE); Incurso nos Arts. 258.§2º.II ; 258.B ; Art.184 do CBJD 2º Denunciado – Bruno Ricardo Vieira de Melo - (Supervisor do Náutico/PE), Incurso nos Art. 258.§2º.II ; 258.B ; Art.184 do CBJD 3º Denunciado – Bryan Borges Mascarenhas - (Atleta do Náutico/PE) Incurso nos Art. 254 ;
Advogada:Dra. Patrícia Sá Leão Relatora: Felipe Rêgo Barros
RELATÓRIO
Trata-se de denúncia ofertada pela Procuradoria deste Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol, acerca de fatos descritos na súmula da partida realizada no dia 14/08/2021, entre as Equipes do AVAÍ (SC) X NÁUTICO (PE), válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B - 2021.
A Procuradoria denunciou os Srs. Ari de Nascimento Barros (Diretor de Futebol do Náutico/PE); Incurso nos Arts. 258.§2º.II ; 258.B ; Art.184 do CBJD;
Bruno Ricardo Vieira de Melo - (Supervisor do Náutico/PE), Incurso nos Arts.
258.§2º.II ; 258.B ; Art.184 do CBJD e Bryan Borges Mascarenhas - (Atleta do Náutico/PE), Incurso no Art. 254 do CBJD;
Analisada a ficha de antecedentes dos denunciados verifica-se que todos são Primários.
Regularmente citados, os Denunciados Ari Barros e Bruno Vieira de Melo, compareceram à Sessão de julgamento, onde prestaram seus depoimentos à cerca dos fatos narrados em súmula, registre-se que o atleta Bryan Borges não se fez presente.
Todos os denunciados foram representados pela Dra. Parícia Sá Leão,
que juntamente com a Procuradoria e os auditores, participou da oitiva dos depoentes,
que em síntese, na defesa, entre outras alegações, requereu a aplicação do concurso do
art.183 do CBJD; ressaltou o fato de todos os denunciados serem Primários; e que as atitudes dos primeiros denunciados, não passaram de reclamações sem o intuito de ofender a arbitragem, e ainda, que as palavras lançadas na súmula pelo árbitro, não retratam as palavras que verdadeiramente foram ditas por eles. Requerendo numa eventual condenação, a aplicação da pena mínima convertida em advertência.
Ressalte-se que não houve depoimentos de testemunhas e nem produção de provas de vídeos.
A Procuradoria realizou manifestação oral, requerendo em sessão, o aditamento da denúncia com relação ao 1º e ao 2º denunciado, acrescentando para ambos, a infração do Art.258 B; e ainda com relação ao 3º denunciado, indicando que a melhor capitulação seria a reclassificação para o Art.250 do CBJD. O requerimento de aditamento proposto pela Procuradoria, não teve oposição de advogada de defesa, e foi deferida pela turma julgadora, prosseguindo o Procurador reforçando os termos da Denúncia, no sentido da condenação dos imputados.
É o Relatório.
ACORDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em epígrafe, ACORDAM os integrantes desta Quarta Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, por maioria, absolver o Atleta Bryan Borges Mascarenhas, das imputações do Art.254, com o voto contrário deste relator, que condenou o atleta a pena de suspensão de uma partida, convertida em advertência, por infração ao Art 250 do CBJD. E em julgar procedente a denúncia em relação aos Srs. Ari de Nascimento Barros (Diretor de Futebol do Náutico/PE); e Bruno Ricardo Vieira de Melo - (Supervisor do Náutico/PE), suspendendo ambos a pena de 30 dias de suspensão, por infração aos Arts.
258.§2º.II ; 258.B ; c/ concurso do Art.184 do CBJD; onde o Presidente Dr.José Dutra acompanhou o voto deste relator, contrário o voto da Dra.Adriane Hassen, que optou no sentido da condenação em 15 dias de suspensão, na capitulação dos Arts. 258.§2º.II ; 258.B; na forma do Art.183.
VOTO do RELATOR
Os termos do artigo 58 do CBJD, consagram a Relativa Presunção de
veracidade da Súmula e dos relatórios da equipe de arbitragem.
No Processo em Tela, o árbitro em súmula relata que após o término da partida, o Diretor de Futebol do Náutico Sr.Ari Barros, juntamente com o Supervisor do clube, Sr.Bruno Vieira de Melo, adentraram ao campo de jogo, indo em direção ao árbitro, onde o 1º denunciado proferiu as seguintes palavras: “ Você é um vagabundo, deveria ter vergonha do que fez aqui, , você é um safado, seu merda”, sendo contido pelo policiamento e pelos atletas do Náutico, igualmente o 2º denunciado, se dirigiu ao árbitro como dedo em riste, com as seguintes palavras: “ Seu Vagabundo, que vergonha essa arbitragem que você fez, você vai aparecer em Recife, seu Ladrão” , também sendo contido pelos policiais e pelos atletas do clube. Atitudes classificadas pelo árbitro como desrespeitosas, como bem define em seu relato em súmula. Por esta razão, foram ambos denunciados em duas infrações, tipificadas nos Arts. 258.§2º.II ; 258.B ; em concurso com o Art.184 do CBJD.
Registre-se a presença do 1º e 2º denunciados na sessão de julgamento, onde prestaram os seus depoimentos, respondendo aos Auditores, ao Procurador e a Advogada de defesa.
No depoimento do Sr. Ari de Nascimento Barros (Diretor de Futebol do Náutico/PE), o mesmo admitiu que entrou no campo de jogo no término da partida; que assistiu o jogo na arquibancada; que logo no encerramento da partida se dirigiu aos vestiários, e só depois, que foi ao campo falar com o árbitro, mas que em momento algum proferiu ofensas, e nem tampouco foi contido por policiais ou atletas, e que apenas disse ao árbitro, que ele fosse depois assistir a partida; também declarou, que ninguém havia dado autorização para que ele entrasse no campo, e por fim, vale ressaltar;
que o depoente prometeu perante os auditores, que jamais iria entrar em campo sem autorização novamente, pedindo desculpas pelo ocorrido.
No depoimento seguinte, foi ouvido o 2º denunciado, o Sr. Bruno Ricardo Vieira de Melo - (Supervisor do Náutico/PE), que também admite ter entrado no campo após o jogo; que assistiu a partida nos camarotes; que o 1º denunciado assistiu a partida ao lado dele; que no encerramento da partida se dirigiu aos vestiários; e que só depois foi ao gramado falar com árbitro, mas que não falou o que estava relatado na súmula, afirmou no seu depoimento, que falou que foi uma “ palhaçada”, e que os atletas saíram de muito longe para estar ali, e que eram pais de família; também disse que não houve necessidade de ser contido por ninguém, respondeu ainda, que não tinha recebido autorização para entrar em campo, mas que estava utilizando um crachá que permitiria o acesso ao gramado; ressaltou que discordou dos critérios do árbitro, especificamente na aplicação do cartão amarelo e na expulsão do atleta Bryan do Náutico. Mencionou ainda que trabalha a muito tempo no futebol, que na sua carreira profissional sempre se conduziu com respeito aos árbitros.
Quanto ao primeiro e ao segundo denunciado, é ponto pacífico que os
mesmos entraram no campo ao término da partida, registre-se que os próprios
denunciados, admitiram esta conduta infracional em seus depoimentos na sessão de
julgamento.
A Legislação esportiva que preconiza a organização e a boa ordem disciplinar nos eventos esportivos, não contempla e sequer dar margem, para que episódios como estes, protagonizados pelo dirigente e pelo supervisor do Náutico sejam praticados. Nenhum dos motivos apresentados pelos Dirigentes imputados ou por sua defensora, justificam a entrada no campo de jogo. Invadir o campo, mesmo que seja, para
“apenas” conversar com o corpo de arbitragem, já é um ato reprovável, quanto mais, quando além da invasão, existe por parte de quem invadiu, palavras ofensivas e desrespeitosas ao árbitro, isto é algo realmente inconcebível, que não condiz de forma alguma com o ambiente desportivo.
Consideramos que a invasão do campo de jogo, por si só, já se configura um acinte grave, um gatilho perigoso, que pode desencadear outros eventos negativos, colocando a integridade física de todos os envolvidos em risco, ou ainda causar conflitos de maiores proporções, como um tumulto generalizado por exemplo.
Quando uma autoridade do clube, resolve invadir o campo, ele ultrapassa a linha do protesto tolerável, ele está sinalizando para os seus comandados, que a partir daquele momento, foi quebrado qualquer protocolo de ordem e respeito as normas disciplinares, onde daquele momento em diante, vai se iniciar um conflito, onde ninguém saberá qual será o resultado deste ato. Ressalte-se que, no caso em questão, segundo o relatório do árbitro, foi necessário a intervenção da Polícia Militar e dos atletas do Clube Náutico, para conter os ânimos dos denunciados, evitando talvez, consequências mais graves.
Somasse a invasão de campo, um outro comportamento infracional perpetrado pelos denunciados, pois não podemos deixar de considerar a forma ofensiva e desrespeitosa com que ambos os dirigentes se dirigiram ao Árbitro, não é minimamente compreensivo que seja considerado natural, se referir ao Árbitro com termos chulos como: “Você é um Vagabundo” ou “ Você é um safado” ou ainda “Seu Merda” como falou o SR.Ari Barros (1º denunciado). Ou como proferiu o Sr.Bruno Viera de Melo (2º denunciado), “Seu Vagabundo, que vergonha essa arbitragem que você fez”, ou “Você vai aparecer em Recife seu Ladrão” , esta reação de forma alguma, pode ser interpretada como um mero desabafo, mas sim, como uma conduta agressiva e desrespeitosa, com lances de ameaças ao árbitro, conduta esta que merece a exemplar reprimenda legal.
É firme o entendimento deste Relator, que, as ações foram distintas, pois ambos os denunciados fizeram claramente a opção de cometerem as duas infrações, considerando que a invasão do campo poderia ter ocorrido para protestarem civilizadamente junto ao árbitro, sem necessariamente ter que ofendê-lo, desrespeitá-lo, ou mesmo lançar ameaças, o que seria computada uma só infração, entretanto não foi isso que sucedeu.
Admitindo, que o objetivo dos infratores era o de dirigir palavras
ofensivas ao árbitro, ambos poderiam ter feito de diversas formas, até mesmo das
arquibancadas, como vem acontecendo de forma recorrente em muitas partidas de
campeonato, sem no entanto ter que necessariamente invadir o campo para reclamar. Daí
é inafastável a aplicação do concurso prescrito no Art.184 do CBJD. Pois as duas infrações estão bem definidas, cada uma ao seu tempo e ao seu modo, não cabendo o argumento de que a invasão de campo, foi um mero meio utilizado para poder proferir ofensas ao árbitro, esta relatoria repudia esta tese, aderindo integralmente aos fundamentos do Art.184.
Art. 184. Quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão, pratica duas ou mais infrações, aplicam-se cumulativamente as penas.