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Sumário - V.1, N.1 (2009)

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Sumário - V.1, N.1 (2009)

ARTIGOS

REMOÇÃO DAS BARREIRAS EDUCACIONAIS E INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR ATRAVÉS DO PROJETO VESTIBULANDO CIDADÃO DA UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA

Cristiele Deckert, Ieda Márcia Donati Linck, Dirce Paz

A ORGANIZAÇAO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM CRUZ ALTA ATRAVÉS DO PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA AGETREC

Enedina Maria Teixeira Silva, Léia Adriani Almeida dos Santos

A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE GENÉTICA: UMA PROPOSTA PARA FAVORECER A APRENDIZAGEM

Cléia Rosani Baiotto, Adriana Riguer Della Méa

A UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA-UNICRUZ ABERTA AOS IDOSOS

Carmen Anita Hoffmann, Marília de Rosso Krug, Mônica Vestena Tagliapietra, Patrícia Viana da Rosa, Patrícia Dall'Agnol Bianchi, Solange Beatriz Billig Garces

ATIVE-SE: PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

Marília de Rosso Krug, Erecy Roberto Segala Martins, Paulo Ricardo Nazário Viécelli, Cristina Thum Kaefer, Tiago Facchini Panigas, Luciana Rodrigues Leite de Souza, Jéssica Lamaison Malheiros, Rafael França, Marcos Eugênio Jörgensen, Mateus Caíno Giordani, Cecília Seffrin Willers, Franciele Carvalho Vogel, Dulcemar Siqueira Rolim, Ana Luiza Hernandez Hochmüller, Daniele Ceolin Zuffo

AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE O ESTADO NUTRICIONAL E ALIMENTAÇÃO DE IDOSOS

Alvina Beatriz Carlan Braz, Michely Lopes Nunes, Neida Maria da Luz de Jesus

IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA NA UNICRUZ: UMA EXPERIÊNCIA NO ÂMBITO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Isadora Wayhs Cadore Virgolin, Enedina Maria Teixeira da Silva, Fabiane da Silva Verissimo, Marcela Guimarães Silva

JOGOS MATEMÁTICOS: UMA PROPOSTA FACILITADORA DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE DEFICIENTES VISUAIS

Bolívar Fernandes da Silva, Maria Christina Schettert Moraes, Vaneza Cauduro Peranzoni

O ENSINO DE ESP PARA INFORMÁTICA ATRAVÉS DO SAEIINF Joseane Amaral

A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA REDES DE COOPERAÇÃO E DA UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA PARA A FORMAÇÃO DA REDE AGROFORTES SUL

Carlos Eduardo Moreira Tavares, Gilnei Luiz de Moura, João Hélvio Righi de Oliveira, Maurício Casagrande, Ana Paula Alf Lima

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INTERPRETAÇÃO DE TRILHAS ECOLÓGICAS PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL – SÉRIES FINAIS DE CRUZ ALTA-RS

Jober Vanderlei de Vargas Machado, Rudi Fernando dos Santos, Carine Franciele Alles de Moura, Bethânia Ross, Carlos Eduardo Copatti

O BANCO DE DADOS REGIONAL COMO UM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNICRUZ

Enedina Maria Teixeira da Silva, Osmar Manoel Nunes, Carlos Frederico de Oliveira Cunha, José Carlos Severo Correa, Alessandra Riane Vaz de Lima

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REMOÇÃO DAS BARREIRAS EDUCACIONAIS E INGRESSO NO

ENSINO SUPERIOR ATRAVÉS DO PROJETO VESTIBULANDO

CIDADÃO DA UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA

DECKERT, Cristiele1; LINCK, Ieda Márcia Donati2; PAZ, Dirce³. Resumo:

A produção de legislações e políticas públicas que defendem para o cidadão o ingresso na graduação através de programas de bolsas filantrópicas, infelizmente não garante um ensino de qualidade hegemônico, capaz de oportunizar a todos esse direito, previsto na constituição brasileira. O projeto de extensão da Unicruz, Vestibulando Cidadão, promove ações que propiciam condições de inserção e permanência de estudantes de Ensino Médio, oriundos de escolas públicas, no Ensino Superior, contribuindo para uma construção do conhecimento igualitário, tornando os participantes sujeitos de sua própria história. Ele é desenvolvido com base nos critérios do Enem, três vezes por semana, à noite nas dependências da instituição. O projeto é fundamentado teoricamente em Althusser, Antunes, Bonamigo, Branden, Freire, Japiassu, Mello, dentre outros.

Palavras-chaves: Educação. Cidadania. Inclusão.

Abstract

The production of legislations and public politics that defnde the admission of the citizen in the graduation through philanthropic sholarship program, unfortunately not assure a study of hegemonic quality able to provide to all this duty, fixed on brasilian's constitution. The extension project of Unicruz, has the intention of promote actions to provide condictions of insertion and permanence of High School students, coming from public schools, in the coming from public schools, in the higher education, contributing for a construction of egalitarian knowledge, becoming from public schools, in the higher education, contributing for a construction of egalitarian knowledge, becoming the students responsible of their own history. It is developed with fundation in the criterions of ENEM, three times in week, at night, in the dependencies of the instituition. the project is reasoned theoretically in Althuser, Antunes, Bonamigo, Branden, Farias, Freire, Japiassu Mello, Farias, and others.

Key-words: Education. Citizenship. Inclusion.

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Jornalista pela Universidade de Cruz Alta, registro Profissional nº 14371. Bolsista PIBEX do projeto de Extensão da Unicruz, Vestibulando Cidadão, de ago/2007 à dez/2009.

e-mail: cris.deckert@bol.com.br

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Coordenadora do Projeto de Extensão, Vestibulando Cidadão, e docente da Universidade de Cruz Alta. Mestre em Educação. Atualmente, é discente do Curso de Mestrado em Letras da UPF. e-mail: imdlinck@gmail.com

³ Professora de Biologia no Projeto Vestibulando Cidadão de Universidade de Cruz Alta. Mestre em Educação. dircepaz@hotmail.com

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Introdução

O Projeto Vestibulando Cidadão foi criado com o objetivo promover ações que propiciem condições de inserção e permanência de estudantes de Ensino Médio, oriundos de escolas públicas, contribuindo para uma construção do conhecimento igualitário, que permita o acesso ao Ensino Superior, tornando os participantes sujeitos de sua própria história.

Com o intuito de proporcionar a inserção de estudantes desfavorecidos economicamente no Ensino Superior, através do Programa Universidade para Todos do Governo Federal (Prouni), este projeto oferece um curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) totalmente gratuito. O Projeto Vestibulando Cidadão foi aprovado como Projeto de Extensão da Universidade de Cruz Alta (Unicruz) em agosto de 2007, aderindo ao programa com a finalidade de ampliar o número de vagas na Educação Superior aos desafortunados, valorizando a educação pública e desta forma combater às desigualdades no âmbito escolar, sendo, por isso, considerado um projeto filantrópico da universidade.

O Vestibulando Cidadão oferece programas de nivelamento de conhecimento, capazes de diminuir a desigualdade e exclusão na área educacional. Oportuniza o desenvolvimento de potencialidades e habilidades específicas aos jovens, que permite prepará-los para enfrentar a vida e o mundo do trabalho, e ainda criar situações que garantam a defesa, busca e a garantia do direito e educação a todos, pois as discussões nele ocorridas despertam para isso.

Durante o desenvolvimento do projeto foram construídas práticas pedagógicas alternativas, a fim de responder aos desafios das diferenças educacionais existentes na realidade social. Foram aplicados testes vocacionais aos alunos participantes para auxiliar na escolha do Curso Superior. Considerando o potencial e interesse do corpo docente e discente da universidade, articulou-se o envolvimento dos cursos da instituição. Hoje, ele é composto de uma equipe formada por um coordenador, cinco docentes, dois bolsistas remunerados e cinco bolsistas voluntários, inclusive uma já formada. Ele tem como colaboradores a Coordenadora de Extensão e a Diretora do Centro de Ciências Humanas e Comunicação, além do apoio efetivo da Vice-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação.

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Cabe salientar que esta oportunidade é, para muitos dos participantes, a única alternativa de se manterem no espaço escolar. Por isso, a necessidade de aulas diferenciadas, numa perspectiva séria e comprometida, buscando corresponder as expectativas dos alunos. Além disso, proporcionou-se aos acadêmicos da Unicruz a oportunidade de trabalharem com os alunos participantes do projeto, como prática do extensionismo acadêmico, visando democratizar o conhecimento, compromisso da Universidade, a fim de proporcionar ao jovem cidadão mais instrumentos de inclusão social a alguns e aprendizado e experiências a outros.

Através do ensino oferecido no Projeto Vestibulando Cidadão, pretende-se ampliar as possibilidades de ingresso dos sujeitos envolvidos no mercado de trabalho, pressupondo o rompimento com ciclo de exclusão e o sentimento de subalternidade através de apropriação de postura crítica, para assim remover as barreiras educacionais e conceder oportunidades mais justas e igualitárias. Vale ressaltar Japiassu (1992, p.87)

Creio que o primeiro dever do educador consiste em guardar um interesse fundamental pela pesquisa e um despertar no educando o espírito de busca, a sede da descoberta, da imaginação criadora e da insatisfação fecunda do domínio do saber. Porque ele é um agente provocador e desequilibrador de estruturas mentais rígidas. O essencial é que o educando permaneça sempre em estado de apetite.

Isso se concretizará através de uma boa formação acadêmica , já que o mercado formal está muito seletivo, absorvendo apenas os mais qualificados, dentre os quais se destacam aqueles que possuem formação superior. Duvidar disso, é apoiar-se no consenso ideológico da classe dominante que pretende inevitavelmente manter os explorados na submissão. Ou, confirmar Althusser (1983, p. 23):

Acreditamos, portanto ter tantas razões para afirmar que, por trás dos jogos de seu Aparelho Ideológico de Estado Político, que ocupava o primeiro plano do palco, a burguesia estabeleceu como seu Aparelho de Estado número um, e, portanto dominante, o Aparelho Escolar que, na realidade substitui o antigo Aparelho Ideológico de Estado Dominante, a igreja, em suas funções. Podemos acrescentar: o par Escola - Família substitui o par Igreja – Família.

É preciso considerar também que há uma diferença do ensino básico oferecido entre uma escola e outra. E ainda, os fatores socioeconômicos fazem com que os alunos das escolas periféricas não atinjam média suficiente para conseguir uma bolsa Prouni, até porque a prova do Enem exige um alto grau de conhecimento,

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autonomia e raciocínio. Além disso, as vagas oferecidas estão muito aquém da necessidade real do nosso país, sendo disputadas de forma desleal, entre aqueles que têm todos os suportes necessários para consegui-las, com aqueles desprovidos de qualquer recurso, sem chances mínimas de sucesso.

Em cidades de médio porte, como Cruz Alta e circunvizinhas, as periferias urbanas mostram um alto índice de desagregação social, provocado pela falta de emprego, de qualificação profissional e educacional, o que provoca, ao longo do tempo a perda de direitos e de valores constitutivos de cidadania. Nem só ao estado cabe responder pela promoção de ações que levem à ampliação da cidadania. Para Portela (2001, p.02):

O Estado contemporâneo traçado pela globalização, vive um momento de síntese das transformações sociais históricas produzidas pela humanidade, quando, findando um século e iniciando outro, deixa descoberto o retrato contraditório que mostra que, ao mesmo tempo em que se produziu as mais surpreendentes descobertas registradas na história humana.

Frente a isso, o contingente de miséria aumentou consideravelmente, famílias inteiras convivem permanentemente com uma problemática social complexa, que acaba desembocando na falta de esperança e sonhos, e para piorar, na falta de uma educação de qualidade, consequentemente, na violência.

O Governo Federal, comprometido em mudar pelo menos em parte essa situação, sentiu a necessidade de intervir e interagir no contexto social, na tentativa de alterá-lo. Para isso, propõe estratégias e ações capazes de produzir as mudanças desejáveis, dentre elas, o Prouni, criado pela Medida Provisória nº 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005.

Como descrito anteriormente, este programa tem como objetivo reservar vagas em instituições privadas de ensino superior para alunos de baixa renda. Ele é destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e parciais de 50% (meia-bolsa) para Cursos de Graduação Tradicionais (duração de até cinco anos) e sequenciais de formação específica (dois anos).

Para ter direito a uma bolsa integral, a renda per capita familiar do estudante não poderá ser superior a um salário mínimo e meio. Já, a bolsa-parcial poderá ser concedida para estudantes com renda per capita familiar de até três salários mínimos. Além disso, o aluno deve ter cursado todos os anos do Ensino Médio em escolas públicas ou, ainda, em escolas particulares, mas com bolsas integrais.

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A seleção dos estudantes que conseguem as bolsas Prouni é feita em duas etapas: perfil socioeconômico e a média obtida pelo aluno na prova do Enem. Na primeira fase, os interessados em concorrer às bolsas devem realizar o cadastro nas entidades que desejam frequentar. A segunda etapa é realizada pelas próprias instituições. As faculdades devem definir a lista final com os escolhidos a partir dos nomes enviados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Neste ano, algumas mudanças ocorreram no Projeto Vestibulando Cidadão, como: a inclusão de alguns conteúdos específicos para as disciplinas de matemática, biologia e química, além de um maior enfoque na redação, visualizando as mudanças corridas no Enem, previstas já para este ano. Dentre elas, o acesso à prova, considerando que, a partir de agora, ela está sendo aceita por várias universidades federais como alternativa ao vestibular, no critério de seleção de estudantes, cujas provas serão aplicadas em 1.826 municípios brasileiros. O exame que antes era único com 63 questões, agora será dividido em quatro, cada um com 45 questões objetivas de múltipla escolha que vão medir o conhecimento dos alunos nas áreas de linguagens, códigos e redação, matemática, ciências humanas e ciências da natureza e suas tecnologias. Sendo: Prova I - Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Prova II - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação; Matemática e suas Tecnologias.

A nota do Enem valerá também como Certificado de Conclusão do Ensino Médio para candidatos com 18 anos completos. E ainda, detentos internos e externos matriculados em programas especiais de 2º grau em unidades prisionais ou hospitalares, poderão participar do exame nos locais onde se encontram, mediante termo de compromisso específico firmado entre o Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP) e o programa.

Apesar das transformações ocorridas, infelizmente, esse programa ainda apresenta alguns problemas. O governo previu o acesso de estudantes de origem populares em universidades, mas desconsidera a diferença profunda existente entre as escolas da própria rede pública. Na prática, há uma discrepância muito grande entre uma escola e outra, no que se refere à qualidade da educação oferecida, excluindo, ainda mais, aquele a quem foi negado um ensino capaz de torná-lo competitivo. O resultado negativo é visível, pois a divulgação dos resultados do Enem, sob responsabilidade do MEC, evidencia novamente uma realidade que é

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facilmente perceptível no cotidiano, sem demandar muito esforço: a educação está piorando nos níveis mais elementares.

Segundo dados apresentados no site do Enem (www.enem.inep.gov.br), os alunos formandos do Ensino Médio em 2006 tiveram um desempenho inferior ao registrado pelos concluintes do ano de 2005. Estes obtiveram 39,6 contra 36,9 daqueles na prova objetiva e na prova de redação a nota foi de 55,9 contra 55. O desempenho de conjunto dos alunos foi o de menor nota nos últimos dez anos. Os dados também serviram para evidenciar a diferença entre alunos das escolas públicas e das escolas particulares. Em todo o país, os alunos oriundos do ensino pago tiveram melhor desempenho, com 50,57 contra 34,94 na parte objetiva e com 59,77 contra 50,57 na prova de redação. Além disso, este segmento teve um desempenho melhor nas escolas de centro, sobrepondo-se às periféricas.

Em contrapartida, pesquisas recentes mostram que é possível contribuir para a melhora desses números. Alguns cursos preparatórios para as classes populares têm conseguido melhorar, pelo menos em parte, a educação oferecida nas escolas e pela sua relevância nascem vários subprojetos, a ele ligados pela fundamentação teórica, concepção e metodologia, a fim de garantir a prática da cidadania. Nesse sentido, vale citar uma concepção de cidadania que perpassa propostas de trabalho, como a referida. Segundo Bonamigo (2000, p.14).

A cidadania como prática de reivindicação de apropriação de espaços para fazer valer direitos, não obstante sua visível atomatização, é imprescindível como fundamento de uma nova ordem social, encontrando seu aporte na democracia participativa, em cuja essência reside a supremacia da vontade popular. Se o único poder legítimo é o que emana da vontade dos cidadãos, a participação caracteriza a expressão da liberdade.

A inclusão social e o processo de cidadania humana tem sua mais eficaz estratégia na educação, como fonte de conhecimentos e formação de valores. Populações carentes e suscetíveis à miséria e as mazelas sociais conseguem, historicamente através da educação formal, atingir um grau desejado de cidadania. Por isso da relevância do projeto apresentado.

Lamentavelmente, muitas vezes, pela conferência de fatores desagregados que estão à porta da própria escola e que, muitas vezes, exercem um fascínio maior, especialmente em jovens e adolescentes – a experiência da rua, as drogas, o crime. O gosto pela “liberdade” conquistada nas ruas e a experiência adquirida na realização de pequenos delitos sufoca a experiência escolar, desvinculada destas

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condutas e destes conteúdos ligados aos conflitos sociais. Mello e Farias (2001, p.37) questiona:

Até que ponto jovens e adolescentes situados numa formação social como a nossa, em que a miséria e a pobreza extrema atingem 64% da população, segundo levantamentos cuja validade é reconhecida pelo próprio governo, podem ser tomados como cidadãos efetivamente iguais entre si em seus direitos, seus deveres e suas capacidades, tanto subjetivas, como objetivas de fazê-los prevalecer?

O espaço do estudante em situação de vulnerabilidade social não está definido na sociedade. Sua falta é frequentemente interditada e, quando mencionamos na mídia, sua imagem está, na maioria das vezes, ligada às drogas, à violência, às doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez indesejada, ou seja, estão fora do contrato social.

É necessário, (re)significar o lugar simbólico desses alunos e superar o rótulo de fracassados que a comunidade escolar lhes impõe, retomando com eles sua posição de sujeitos no processo educativo. Isso deve ser pensado num âmbito maior, iniciado pela formação do educador, como busca de inclusão efetiva dos educandos na sociedade, por mais seletiva que pareça. Assim também afirma Mello e Farias (2001, p. 43).

O constante repensar na prática em uma perspectiva da investigação-ação, no enfoque da reflexão sobre a ação, é imprescindível ao professor, no seu processo constante de formação. As políticas educacionais de formação docente têm reflexos evidentes da política econômica dos países neoliberais, como o Brasil, em que persistem idéias tecnicistas, fragmentadas e “neutras”, perpassando ideologicamente concepções “modernas” de educação, enfatizando-as com termos modernos, mas que epistemologicamente têm outro sentido e servem a outros interesses, que, com certeza, não são os interesses da maioria da população.

Dessa forma, o profissional da educação, deve, desde o curso de formação inicial, conscientizar-se que (re)constrói saberes e conhecimentos na sua prática educativa e possibilita a compreensão/transformação social, negando-se a ser mero executor de políticas curriculares, definidas por pessoas externas às suas ações pedagógicas. Ele pode e deve fazer a diferença, na vida do educando.

É obrigação do professor, então, a formação de uma consciência crítica e autônoma, que faça com que o aluno lute por seus direitos previstos na constituição, dentre eles o acesso à universidade. Caso contrário, a confirmação de preconceitos elitistas permitidos pelo desconhecimento dos direitos fundamentados na legislação pelos atuais estudantes, que não se dão conta que lhes é negado informações, para

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que assim não possam competir com a classe dominante, se constituirá num processo sem volta. E, as oportunidades serão, como sempre, para a minoria.

Sabe-se que na prática isso é difícil e às vezes parece muito distante, pois, como já dito, além de fatores familiares, econômicos, sociais, que dificultam essa construção, não dá para ignorar, como já colocado, o fato de que há uma disparidade entre o ensino oferecido numa escola e outra. Isso desencadeia uma baixa auto-estima no educando em relação a si e as suas metas, afastando-os, muitas vezes, da escola. Além disso, Branden (1999, p.91) afirma que

(...) a auto-estima atua como um dos sentimentos mais profundos que temos sobre nós mesmos; não depende de habilidades especiais nem de conhecimento especifico. Certamente não é uma questão de quando somos queridos, mas é uma questão de grau em que nos consideramos aptos à vida e às suas exigências. Podemos pensar na auto-estima como sendo a sensação de que somos competentes para viver e de que somos merecedores da felicidade.

Também a questão da cidadania se dá pela auto-estima, e nesse processo seletivo, faz-se necessário um repensar na questão da inclusão, inclusive pelo direito ao ingresso num Curso Superior, que conforme Clarinha Glock (2006, p.11), até pouco tempo os estudantes que ingressavam nas Universidades Federais eram apenas os que tinham para pagar boas escolas particulares e que conseguiam fazer um curso pré-vestibular pago.

Não por acaso, o surgimento dos cursos pré-vestibulares provocou uma transformação, mesmo que pequena, na Educação de muitos desfavorecidos. Através deles, alunos e professores federais, incomodados pelo imobilismo das escalas sociais e dispostos a retribuir de alguma forma o privilégio de não despender altas somas para pagar a faculdade iniciaram um movimento revolucionário. Eles se tornaram multiplicadores do conhecimento e elevadores da auto-estima.

Segundo Antunes (2002), todo professor é um construtor de auto-estima de seus alunos, quando os ajuda a estabelecer suas metas e mostra caminhos para cumpri-las e, sabe valorizá-los bem mais como pessoas que simplesmente como alunos, muitas vezes considerados apenas como objetos do processo ensino/aprendizagem. Isso se dá pela ciência de que uma educação de qualidade deve primar pela formação do sujeito, do ser humano emancipado, capaz de pensar e agir com coerência frente à sociedade contemporânea cada vez mais complexa e

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desafiadora. O cidadão, além de entender da técnica específica de sua profissão é, acima de tudo, um ser humano capaz de valorar, de dar sentido ao que o cerca.

Apesar disso, a crise do ensino brasileiro em todo sistema escolar, principalmente nas escolas públicas periféricas, tem nos resultados do Enem sua face mais visível. É preciso que o quadro levantado seja efetivamente levado em consideração pelas autoridades responsáveis. E, de forma urgente. Um país que pretende crescer e garantir ao seu povo uma vida mais digna, com emprego e renda, não pode ter uma das piores educações de todo o mundo. Sem educação, não há tecnologia, nem mão de obra qualificada, com repercussão negativa em todos os segmentos econômicos.

Sem uma educação de qualidade, os problemas sociais que enfrentamos não serão resolvidos, pois dela dependem a prosperidade e o crescimento que todos almejamos para o Brasil. É necessária uma mudança de mentalidade de pais, professores, autoridades, num grande pacto para que a educação seja eficaz. Enquanto ela não melhorar, as chances de o país se desenvolver de fato são mera ficção.

Por fim, conforme Paulo Freire (1983, p. 42), famoso pedagogo brasileiro, “Ninguém ensina ninguém, nem tão pouco se aprende sozinho, mas aprendemos mediatizados pelo mundo.” Ensinar é, então, apontar caminhos a serem seguidos, oferecer condições e possibilidades de realmente prosseguir. Eis aí a relevância deste projeto.

Metodologia

Inicialmente, o projeto Vestibulando Cidadão foi direcionado para os jovens e adultos do Núcleo Habitacional Santa Bárbara e aos alunos terceiranistas da Escola Estadual Maria Bandarra Westphalen, onde a população é excluída e suscetível à miséria e a exclusão social. A proponente e coordenadora do projeto, professora da Unicruz Ieda Linck, conhece a realidade do Núcleo Habitacional Santa Bárbara, considerando que desenvolveu ali, de 2002 à 2007, o Programa de Iniciação de Bolsas de Extensão (Pibex) Leitura: uma prática à liberdade.

O projeto Vestibulando Cidadão surgiu de um projeto de pesquisa, cujos resultados mostraram que nenhum candidato daquele bairro atingiu média suficiente

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para conseguir uma bolsa Prouni, durante dois anos seguidos. Após essa constatação, foi realizado um intensivo para o Enem 2007, na referida escola. Após isso, investiu-se na divulgação do projeto na cidade de Cruz Alta, pois pela dimensão atingida, mudamos de lugar e horário, para que toda a comunidade apta a prestar a prova do Enem, que preenchesse os requisitos para obtenção de bolsa de estudos pelo Prouni, fosse contemplada.

E, em setembro de 2007 começaram as aulas na Unicruz Centro destinadas a toda população cruzaltense com o perfil do Prouni, as quais encerraram no final de agosto de 2008. Os alunos que participaram do projeto nesta 2ª turma puderam prestar o Vestibular de Inverno da Universidade gratuitamente, como treinamento para prova do Enem.

Já, em novembro de 2008, no Salão Nobre da Unicruz Centro foi realizada a aula inaugural da 3ª turma do Pibex Vestibulando Cidadão, com mais de 400 fichas de interesses, preenchidas anteriormente. Nessa data, confirmaram seu ingresso ao projeto 132 estudantes presentes no evento. As aulas com um perfil dinâmico e ministrado por professores da Universidade, acontecem na Unicruz Centro, três noites por semana, o que proporciona aos participantes que trabalham ou estudam de dia a oportunidade de participar, sem prejuízos.

No que diz respeito ao planejamento e execução do trabalho, o público alvo teve a oportunidade de participar ativamente em todas as atividades propostas, podendo avaliar o Projeto, através de uma sondagem final, na qual pôde expor sua opinião e suas escolhas, como a mudança de local, horário, carga horária e disciplinas desejadas. A partir desta avaliação, foi possível melhorar a proposta, material de apoio, seleção de professores e metodologias utilizadas.

Considerando que alguns alunos vinham da cidade de Ibirubá para participar do projeto, se percebeu o interesse das cidades vizinhas no Vestibulando Cidadão. Então, iniciou-se contatos diretos com os municípios de Selbach e Ibirubá e firmou-se uma parceria. A Universidade de Cruz Alta disponibilizou os professores que ministraram as aulas, e pelo interesse dos alunos destas cidades, os governantes providenciaram a alimentação e transporte para os docentes. O curso envolveu aproximadamente 100 alunos da Escola Estadual de Educação Básica General Osório de Ibirubá e da Escola Municipal Adão Seger de Selbach, dentre outras. As aulas aconteceram em julho, nos turnos tarde e noite.

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O Vestibulando Cidadão também tem como objetivo proporcionar aos acadêmicos da Unicruz a oportunidade de trabalharem como bolsistas com os alunos participantes do projeto. De maneira pioneira, o projeto conta com uma assessoria de comunicação completa composta por bolsistas voluntários de Comunicação Social das três habilitações, inclusive, uma já formada no ano passado. As responsabilidades são divididas entre os mesmos, a cada encontro semanal, conforme as ações propostas, e perfil dos envolvidos.

A equipe tem como coordenadora a acadêmica Cristieli Tomm Deckert, do Curso de Jornalismo da Universidade.

Acadêmicos de Comunicação Social, Fernanda Malheiros, Cristiele Deckert, Fábio Fernandes e Jaqueline Ott

O trabalho dividiu-se em diversas etapas. A primeira constituiu-se na criação da imagem do Vestibulando Cidadão, ou seja, a logomarca e o slogan “Vestibulando Cidadão: Motivando Caminhos, Construindo Sonhos.” Na segunda etapa foram realizadas atividades referentes à divulgação do projeto na imprensa local, nas rádios, jornais e o canal de TV da universidade.

O Vestibulando Cidadão tem um blog destinado aos alunos do projeto e comunidade acadêmica da Unicruz que deseja saber mais informações referentes ao curso preparatório para o Enem, que é http://vestibulandocidadao.blogspot.com.

Fonte: Assessoria de Comunicação do Projeto Vestibulando Cidadão

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Peças Gráficas produzidas pelos acadêmicos

Dentre muitas ações, fez-se a impressão de 200 informativos, duas páginas (Anexo 1 e 2), impressão preta na gráfica da Unicruz, destinados ao público alvo do projeto e comunidade em geral. A Assessoria de Comunicação organizou uma noite de reflexão destinadas aos alunos do projeto sobre “Cidadania: um (des)caminho histórico”, com a participação de diversos professores da Instituição, que ministraram palestras diversas.

Coordenadora do projeto, Ieda Linck, na abertura do evento

O Vestibulando Cidadão também participa de vários eventos representando a Unicruz: na III Feira das Profissões realizada na universidade a equipe do projeto participa no estande da Vice-reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da

Fonte: Assessoria de Comunicação do projeto Vestibulando Cidadão

Fonte: Assessoria de Comunicação do projeto Vestibulando Cidadão

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Unicruz, na Fenatrigo; nas feiras de Tupã, e Ibirubá, na Feira do Livro de Fontoura Xavier dois anos seguidos, dentre outros.

Resultados

Os alunos inscritos se envolveram gradativamente no decorrer das aulas, mesmo sem a tradicional cobrança de presença ou nota. Mas apesar disso, percebeu-se a necessidade de reforçar a questão do direito a uma educação de qualidade, bem como do acesso ao Ensino Superior, o que para eles parecia algo inatingível. Fizeram-se necessários esclarecimentos sérios e profundos sobre a Constituição, o Prouni, Enem, Eca, PCNs, entre outros.

Na primeira turma, vários alunos atingiram médias altas na prova do Enem/2007, dentre eles: dois que fizeram 50 acertos no exame realizado dia 26 de agosto daquele ano. Na 2ª turma, todos os alunos tiveram suas notas no Enem acima da média nacional, incluindo os estudantes das cidades de Selbach e Ibirubá, dentre os quais, vários conseguiram bolsas filantrópicas, inclusive em instituições fora do estado.

Para o sucesso do projeto considerou-se o contexto, com ênfase na observação de aspectos importantes desencadeados no decorrer das aulas, entre eles: a auto-estima, convivência, aprendizado e interesse dos participantes. Além disso, foram realizados testes de conhecimento específico e produções textuais de onde surgiram as reais dificuldades dos participantes e, consequentemente, as novas propostas a serem discutidas e melhoradas individualmente e em grupo, durante os encontros.

Mesmo com algumas dificuldades iniciais, pode-se visualizar a concretização de um projeto que visa minimizar as diferenças existentes, senão todas, ao menos as educacionais e sociais, às quais estão expostos jovens que, baseados no seu contexto, desconhecem muitas vezes seus direitos e deveres, enquanto cidadãos e aprendizes.

Considerações Finais

O Vestibulando Cidadão é um projeto de Extensão da Unicruz que promove um curso de Pré-Enem, através do qual o público alvo tenha a oportunidade de ingressar no Ensino Superior, pelo programa do Governo Federal, o Prouni. Nele,

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está previsto criar situações que busquem a defesa e a garantia do direito e educação a todos, removendo, inclusive, as barreiras educacionais de que tanto se fala, concedendo oportunidades mais justas, através da educação inclusiva.

A partir da execução deste projeto é possível, de forma considerável, promover ações de inserção e permanência de estudantes de Ensino Médio, oriundos de escolas públicas, contribuindo para a construção que permita o acesso com qualidade de todos ao Ensino Superior, tornando-os sujeitos de sua própria história.

Os resultados obtidos até então, mostram que há muito a ser feito em relação ao ensino. É preciso perceber as deficiências educacionais brasileiras, considerando os números apontados. Somente assim, poderemos contribuir de forma eficaz para diminuir as diferenças existentes, que continuam privilegiando alguns e excluindo a maioria. Um fragmento dos muitos e-mail recebidos, após uma etapa do Vestibulando Cidadão será citado aqui. Talvez, ele é a prova de que é possível contribuir para que o ingresso no Ensino Superior deixe de ser utopia para muitos. “Olá, Professora Ieda. Espero que estejas lembrada de mim. Meu nome é Diego Rafael Schmidt, moro em Selbach, e fui seu aluno quando os professores da Unicruz fizeram o cursinho pré-Enem aqui. Gostaria de lhe informar que, graças ao time de profissionais da Unicruz, agora estou cursando Psicologia com bolsa 50% Prouni, todas as noites na IMED, em PF. Agradeço de todo o meu coração a vocês, e desejo muitas felicidades, pois a minha conquista é sua conquista também. Muito Obrigado, Diego Rafael Schmidt”. (12/5/2009-10:46)

Portanto, a dimensão atingida pelo Vestibulando Cidadão confirma que Paulo Freire (1991, p. 34) está certo quando defende que “Todos aprendem, mesmo que em tempo e formas diferentes”. É preciso, no entanto, oferecer alternativas úteis e prazerosas de se aprender.

Referências

ANTUNES, Celso. A invenção da Sala de Aula. 1º edição. 2002.

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A ORGANIZAÇAO DOS CATADORES DE MATERIAIS

RECICLÁVEIS EM CRUZ ALTA ATRAVÉS DO PROJETO DE

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA AGETREC

SILVA, Enedina Maria Teixeira1; SANTOS, Léia Adriani Almeida2

Resumo

O edital MCT/CNPq nº18/2005 permitiu a execução de um projeto de extensão apresentado pela UNICRUZ em parceria com o Poder Executivo de Cruz Alta/RS. Comprometida com a transformação da realidade da população que sofre as conseqüências da questão social, a Universidade, através dos cursos de Ciências Econômicas e Serviço Social, mobilizou o grupo de catadores de materiais recicláveis para a realização de ações voltadas à geração de trabalho e renda, com o objetivo de construir alternativas coletivas para a organização do grupo de catadores, através da criação de um local para a coleta, separação, armazenamento e comercialização de materiais recicláveis para a melhoria das condições de vida dessa população. A capacitação para o trabalho está voltada para a apropriação de conteúdos e desenvolvimento de habilidades associadas à organização do trabalho coletivo, envolvendo a gestão das atividades de manejo dos materiais recicláveis, nas diferentes dimensões: técnica, ecológica e econômica. A formação política contempla a articulação com outros grupos e espaços de organização nos níveis local, regional e nacional provocando um rompimento das atividades de coleta individual, do isolamento dos catadores e das relações de exploração e discriminação desse grupo. A estrutura física se constitui numa área cedida pela Prefeitura Municipal. Foram adquiridos equipamentos fundamentais de trabalho para a atividade como prensa, balança de precisão, EPI’s, fragmentadora de papel e equipamentos de suporte como bombonas, carriolas, hidráulico e carrinhos coletores, com recursos do CNPq e recentemente foram adquiridos novos EPI´s e uma fragmentadora de médio porte financiados pela fundação VONPAR.

Palavras-chave: Trabalho – Renda - Reciclagem

Abstract

The edict MCT/CNPq nº.18/2008 permitted the execution of a extension project presented by UNICRUZ in partnership with the Executive of Cruz Alta/RS. Compromised with the transformation of the reality of the population that suffers the consequences of social issue, the University, through courses in Economic sciences and Social Service, mobilized a group of collectors of recyclable materials for carrying out actions aimed at generating work and income, with the goal to build alternatives for the organization of the group of collectors, through creating a place to collect, separation, storage and commercialization of recyclable materials to improve the living conditions of the population. The capacity for work is focused on appropriation of content and development of

1

Economista, professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Cruz Alta

2

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skills associated with the organization of collective work, involving the management of activities of handling of recyclable materials, in different dimensions: technical, ecological and economical. The politic formation contemplates the articulation with other groups and spaces of the local, regional and nacional organization causing a disruption of the activities of individual collecting, the isolation of collectors and the relations of exploitation and discrimination of this group. The physical structure is in an area given by prefecture. Were purchased essential equipment for the working activity like squeezer, balance of accuracy, IPE's, machine punch paper and equipaments of support like barrels, carioles, hydraulic and collector cars, with funds from CNPq and recently acquired new IPE's and a machine punch paper of medium size financed by the Foundation VONPAR.

Key-words: Work - Income – Recycling

Introdução

O meio urbano apresenta há décadas um intenso crescimento desordenado e acelerado, trazendo como conseqüência, principalmente nos países subdesenvolvidos, um ambiente degradado. A concepção de meio ambiente e de preservação vem se ampliando, de modo a entendermos e percebermos as várias relações e inter-relações que são estabelecidas entre a natureza, o homem, os equipamentos urbanos e o desenvolvimento econômico.

Nas últimas décadas, é crescente a produção de resíduos sólidos urbanos, através das atividades domésticas, sociais, comerciais e industriais. Isso reflete uma problemática comum existente nos centros urbanos, que está relacionada com as fragilidades do sistema de serviços públicos, em especial, da disposição e destino dos resíduos sólidos domiciliares, produzidos em um município. Geralmente o destino final desse material é o “lixão”, aterros controlados, aterros sanitários e em menor escala destinados a usinas de compostagem e incineradores.

Existem também grupos de trabalhadores que contribuem para uma maior limpeza urbana, o que por conseqüência diminui os gastos com a limpeza pública, são os chamados catadores que atuam informalmente no processo de catação e seleção e são responsáveis por grande parte da coleta do lixo gerado nas cidades. Trata-se de trabalhadores empobrecidos que encontram nesta atividade autônoma a possibilidade de geração de renda.

Os Catadores de Materiais Recicláveis vêm desenvolvendo a sua atividade a mais de 50 anos, estima-se que no Brasil existam 300.000 mil

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catadores. Mas com o desemprego atingindo proporções maiores, este número poderá chegar a 800.000 mil. (CEMPRE, 2007)

No dia-a-dia, estes catadores se encontram nos lixões, nas ruas, e muitos trabalham em família, onde se incluem crianças e idosos, e estas crianças, na sua maioria, deixam de estudar para ajudar na catação deste material.

Um catador coleta por dia em média 160 Kg de recicláveis e a média coletada no Brasil é de 30.000 ton/dia, o que representa 13% do volume de recicláveis produzido no Brasil que se estima em 240.000 ton (IBGE, 2000). Este valor é considerado muito significativo principalmente para o meio ambiente, já que estes materiais são reaproveitados economizando matéria-prima e diminuindo a poluição da terra.

Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR (2006) os catadores contribuem de inúmeras formas tanto para a natureza quanto para a sociedade, sendo esta contribuição de grande utilidade para o cuidado de nosso planeta. São elas:

§ O aumento da vida útil de aterros sanitários, fazendo com que as prefeituras economizem dinheiro no seu tratamento, além de economizarem também com o valor pago para as empresas do serviço de limpeza e coleta, pois o material a ser recolhido por elas passa a ser menor, diminuindo o custo por este serviço;

§ A economia de Recursos Naturais cada vez mais escassos e conseqüentemente mais caros;

§ Promovem a educação ambiental, pois passam para a população a conscientização para a reciclagem dos materiais descartados; e

§ Realizam a correta destinação dos materiais descartáveis, e irá para os aterros somente os materiais não reaproveitados.

Em meados dos anos 80, começa a surgir a organização dos catadores em associações e cooperativas sob um olhar mais especial de igualdade e justiça social junto a esses trabalhadores.

De algumas experiências dessa organização, surge a necessidade de uma mobilização nacional que pudesse lutar pelos direitos e condições de trabalho dos catadores, surgindo assim o Movimento Nacional dos Catadores que teve o seu primeiro encontro nacional em 2001 com mais de 1500

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participantes na cidade de Brasília. (CEMPRE, 2007). O Movimento Nacional dos Catadores tem como diretrizes:

§ Mostrar a Coleta Seletiva como inclusão Social dos catadores de materiais recicláveis;

§ Retirar dos lixões os catadores, garantindo infra-estrutura de apoio e implantação de coleta seletiva;

§ Parceria com poder público e a sociedade civil com autogestão das organizações de catadores de materiais recicláveis;

§ Organização dos catadores de forma auto gestionária nos princípios da Economia Solidária.

No marco dessa realidade, o Município de Cruz Alta, categorizado pela Política Nacional de Assistência Social (2004) como município médio (de 50.001 a 100.000 habitantes) concentra 17,03% da população vivendo com renda per capita abaixo da linha de indigência (inferior a ¼ de salário mínimo) e 35,26 % com renda per capita abaixo da linha de pobreza (inferior a ½ salário mínimo), e uma parcela dessa população desenvolve atividades como catadores de resíduos sólidos.

Dentre os dos bairros do município com uma maior porcentagem de população em situação de pobreza e indigência encontra-se o Núcleo Habitacional Santa Bárbara - NHSB, localizado na periferia do município de Cruz Alta, composto por 1568 pessoas (IBGE, 2000), predominando na sua composição demográfica crianças, adolescentes e adultos jovens.

A situação das famílias é precária, muitas delas dependem de recursos assistenciais (bolsa família) para complementar sua renda. Os moradores do NHSB sofrem com o desemprego e tem pouca qualificação profissional, o que reduz suas possibilidades de inserção no mercado de trabalho formal. Como agravante dessa situação, a dificuldade de acesso ao emprego também é associada a situações freqüentes de discriminação. Os moradores do município, em geral, qualificam o bairro como um centro de “marginalidade” e “delinqüência”, determinando que o fato de morar nele seja um impedimento concreto para o acesso ao emprego.

Nos últimos anos cresceu nesse bairro o trabalho de coleta e venda ou troca de materiais recicláveis como uma forma de obter renda. Em geral, os materiais coletados são: papel, papelão, latinhas de alumínio e plásticos.

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O município de Cruz Alta não realiza coleta seletiva, sendo que o trabalho de coleta de materiais recicláveis é realizado pelos próprios catadores, antes da passagem do caminhão do lixo. Com base nos dados da Prefeitura Municipal, Cruz Alta produz diariamente em torno de 40 toneladas de resíduos sólidos urbanos.

Figura 01 - Grupo de catadores do NHSB Figura 02 - Organização dos catadores Em relação aos catadores do NHSB, a UNICRUZ junto com a Prefeitura de Cruz Alta vem acompanhando o processo de organização deste grupo, a partir de encontros realizados na própria comunidade, através do projeto “Autogestão para a geração de trabalho e renda com catadores de materiais recicláveis” – AGETREC, iniciado pela aproximação de lideranças comunitárias com a Prefeitura de Cruz Alta e com a universidade. Esse projeto tem como objetivo principal construir coletivamente alternativas para a organização dos catadores, por meio da criação de um entreposto de coleta, separação, armazenamento e comercialização de materiais recicláveis para geração de trabalho e renda e melhoria das condições de vida, sob a coordenação de professores da UNICRUZ, em parceria com o MNCR, e com o Poder Executivo Municipal, encarregado de ceder o espaço físico para instalação do entreposto e capital de giro para a produção. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico – CNPq financiou os equipamentos iniciais do projeto, EPI’s, capacitação para o trabalho e bolsas de assessoria ao trabalho. A Fundação VONPAR atualmente financia os EPI’s, oficinas de capacitação e a aquisição de uma fragmentadora de papel.

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Metodologia

A estratégia metodológica que orientou as ações realizadas a partir do projeto AGETREC envolveu ações de formação política, capacitação para o trabalho, acompanhamento e avaliação do processo de organização para geração de trabalho e renda.

Para facilitar o processo de organização sócio-produtiva, integrantes do grupo de catadores participaram de treinamentos e trocas de experiências com catadores da região.

Instrumentos como reuniões, plenárias e encontros foram utilizados para proporcionar o debate e a participação do coletivo. A equipe executora e o grupo de catadores participaram de eventos voltados à geração de renda e economia solidária. Os catadores também organizaram um evento para o debate sobre a importância da reciclagem.

Também foram promovidas reuniões e discussões com representantes do poder executivo local para inclusão dos catadores no programa Restaurante Popular da Segurança Alimentar e Nutricional e no Programa Bolsa Família de Transferência de Renda.

Para mobilização e organização dos catadores foram realizadas visitas domiciliares, também foram realizadas 03 oficinas voltadas à produção, comercialização e viabilidade financeira de empreendimentos associativos. Nas reuniões foram desenvolvidos estudos e elaborados folderes informativos.

Para mobilização das entidades e construção de parcerias foram realizadas visitas a entidades públicas e privadas com o objetivo de apresentar o projeto. Já a população do município foi mobilizada em relação à importância da coleta seletiva e à função social dos catadores através da veiculação de matérias em jornais e na TV/UNICRUZ. Para a avaliação do projeto foram definidos indicadores qualitativos, quantitativos e avaliação final.

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Resultados

Em abril de 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico - CNPq lançou edital prevendo apoio a projetos de tecnologias sociais para inclusão dos catadores de materiais recicláveis. Nesse momento a UNICRUZ apresentou o projeto Auto-gestão para geração de trabalho e renda com catadores de materiais recicláveis – AGETREC.

Em outubro de 2005 o CNPq autorizou a execução do projeto AGETREC, com vigência de 18 (dezoito) meses. Em fevereiro de 2006 foi liberado o auxílio financeiro. Em abril de 2006, foram concedidas 04 (quatro) bolsas nas modalidades ATPA e ATPB. Destas, duas bolsas foram dirigidas à integrantes do grupo de catadores para articulação e intercâmbio de informações com outras instâncias organizativas, uma bolsa foi destinada à um estudante do curso de economia e uma bolsa para um assistente social.

Após o encerramento do prazo de vigência das bolsas concedidas pelo CNPq a UNICRUZ, através do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX) concedeu duas bolsas a estudantes para participarem da execução do projeto AGETREC.

Em abril de 2006, a partir de ações realizadas através do projeto AGETREC, foi formada a Associação de Catadores de Cruz Alta - ACCA. A associação tem como finalidade organizar os trabalhadores que atuam em atividades de coleta, seleção, triagem, comercialização e reciclagem de resíduos para geração de trabalho e renda. A associação é constituída exclusivamente por catadores de materiais recicláveis, que tem a catação como única fonte de renda, não possui fins lucrativos, possui infra-estrutura para realizar a triagem e a classificação dos resíduos recicláveis. Sua formação resultou da elaboração do estatuto, aprovação em assembléia geral, registro em cartório e cadastro em órgão competente.

Em novembro de 2006 foi inaugurado o entreposto de coleta, separação, armazenamento e comercialização de materiais recicláveis. A solenidade de inauguração foi organizada pelos catadores e contou com a participação de representantes do poder executivo e legislativo local, bem como representantes de organizações regionais dos catadores de materiais recicláveis.

Os resultados da implementação das ações sinalizam o envolvimento e compromisso dos catadores do NHSB e da equipe com a execução do projeto AGETREC.

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Figura 05 – Assembléia na ACCA Figura 06 – Inauguração do entreposto da ACCA A capacitação para o trabalho na associação compreende a apropriação de conteúdos e o desenvolvimento de habilidades associadas à organização do trabalho coletivo, envolve, também, a gestão das atividades de coleta, seleção, armazenamento e comercialização de materiais recicláveis, nas dimensões técnica, ecológica e econômica.

Foram abordadas com o grupo temáticas como: auto-gestão, dimensões administrativas e financeiras do empreendimento associativo, o coletivo e o poder de decisão. Temas como: custos, produção, organização do trabalho, rateio e prestação de conta, são discutidos. Foram criados instrumentos de controle da produção como planilhas de controle, fluxo de caixa, e outras.

No início, o grupo de catadores optou pela divisão da produção de forma igual para todos. Porém a pouca responsabilidade de alguns com o trabalho fez com que o grupo passasse a fazer a divisão por produção, para aqueles que atuam na coleta na rua e manter a divisão igual, somente, para aqueles que atuam dentro do entreposto. Atualmente, com a disponibilidade de capital de giro será pago ao catador diariamente pelo material arrecadado, e aqueles catadores que auxiliam no beneficiamento do material para a venda receberão uma remuneração, quando ocorrer à venda do material. A produção ainda é pequena e colabora minimamente com a renda familiar.

Além da organização e da capacitação para o trabalho, também, se buscou a construção de parcerias com entidades públicas e privadas para a realização da separação dos resíduos e destinação a ACCA. As entidades públicas federais, de administração direta e indireta, foram visitadas e informadas sobre o decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006, o qual institui a separação dos resíduos recicláveis descartados na fonte geradora e a sua destinação às associações e cooperativas de catadores.

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Estabeleceram-se algumas parcerias com empresas que buscavam um sistema de gestão ambiental, elaborando-se propostas de diagnóstico para quantificar e caracterizar os resíduos produzidos pelas empresas e, após, elaborado relatório junto com um projeto de implantação da coleta seletiva para a empresa que passaria a enviar para a ACCA os resíduos recicláveis.

Para a socialização do processo de organização sócio-econômica dos catadores, o projeto AGETREC foi apresentado no 7º Salão de Extensão Universitária: Ampliando Fronteiras da Universidade, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no X Seminário Internacional de Educação no Mercosul, realizado na Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ), no 3º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária: Sustentabilidade, realizado em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no 8º Salão de Extensão Universitária: Extensão e Sustentabilidade, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no XI Seminário Internacional de Educação no Mercosul, realizado na Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ) e no XII Seminário de Pesquisa e Extensão X Mostra de Iniciação Científica V Mostra de Extensão e II Feira das Profissões, realizados na UNICRUZ. A Revista “Comunitárias”, nº 40, de 2006, da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (ABRUC), veiculou matéria sobre a realização do projeto AGETREC com a seguinte manchete: “Projeto da UNICRUZ traz Esperança para Catadores de Materiais Recicláveis”.

Em 2008, a equipe técnica, empenhada na execução do projeto AGETREC propôs, através do Programa Institucional de Bolsa de Extensão - PIBEX, um projeto de Implantação da Coleta Seletiva Solidária na Universidade - ICS. Essa iniciativa teve como propósito implantar a coleta seletiva no campus universitário e destinar os resíduos sólidos coletados aos catadores.

Várias alternativas de organização social e de produção foram e continuam sendo experimentadas pelos catadores. Atualmente a organização dos catadores passa por um momento de reestruturação com apoio in locuo de uma assistente social da UNICRUZ, no que se refere à organização, a articulação e a capacitação. A coordenação do projeto, uma profissional economista e professora que auxilia na organização financeira e de produção. Foi renovado o convênio com o Poder executivo municipal para a liberação de capital de giro e melhorias em infra-estrutura.

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É nessas relações de experimentação/ação que os catadores vão escrevendo sua história e, fazem da participação e organização forças capazes de criar condições para viver, trabalhar e gerar renda.

Figura 07 – Materiais recicláveis coletados e preparados para a venda por catadores da ACCA A realização de intervenções na sociedade através do exercício da extensão universitária, bem como, o empenho dos catadores na luta por condições dignas de trabalho, não tiveram início com o projeto AGETREC, porém, este projeto tornou-se um indicador tanto do compromisso da universidade com a comunidade local, quanto da efetivação de processos de organização social e econômica dos catadores de materiais recicláveis de Cruz Alta.

É importante considerar que os participantes do projeto tiveram uma história de subemprego e desemprego, portanto, a organização de forma autogestiva para gerar trabalho e renda deve ser um investimento de longo prazo.

A atuação da equipe técnica está sincronizada com a realidade dos catadores, sem a preocupação de impor um ritmo à organização, e sim orientar o processo e o tempo do grupo para que este venha a se consolidar e favorecer a invenção de formas de trabalho e de vida.

Sendo assim, a UNICRUZ e as entidades parceiras têm agido no sentido de assegurar a continuidade das ações do projeto AGETREC, bem como, fortalecer as iniciativas de coleta seletiva, nas quais os catadores protagonizam os processos de organização para geração de trabalho e renda.

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Figura 08 - Reunião de trabalho

Considerações Finais

Depois de quarenta e um meses de implementação de ações para organização sócio-produtiva dos catadores de materiais recicláveis, o resultado principal do projeto AGETREC foi a formação da Associação de Catadores de Cruz Alta (ACCA). Durante este período, além da aquisição dos instrumentos de trabalho e da instalação de um entreposto, os catadores organizaram seu processo de trabalho e criaram possibilidades de participação social na articulação do grupo de catadores com instâncias organizativas locais, regionais e nacionais.

A estratégia que orienta a execução do projeto se caracteriza pelo coletivo que delibera e decide. Esta perspectiva possibilita o exercício coletivo do saber e gera o conhecimento acerca da realidade, permitindo a definição de ações para a sua transformação.

A atividade de catador de materiais recicláveis constitui-se, geralmente, na única forma de subsistência para muitos trabalhadores. Marcados pelo desemprego, os catadores sobrevivem em condições mínimas de saúde, de moradia e de alimentação. Nos limites das suas condições de vida e trabalho, são chamados a “novas” formas de organização através de cooperativas, associações, entrepostos e grupos.

As transformações ocorridas no mundo do trabalho incidem direta ou indiretamente na vida dos catadores. O trabalho cronometrado, de ritmo controlado ou a produção em escala, são formas de produção que não fizeram parte da história de vida e trabalho dos catadores de materiais recicláveis.

As políticas passivas de trabalho e renda não alcançam a realidade dos catadores. Ao atuarem no provimento de assistência financeira temporária ao trabalhador, através do abono salarial ou do seguro-desemprego, as políticas

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passivas não podem ser acionadas pelos catadores de materiais recicláveis. Esses trabalhadores não experimentam as condições de desempregados, visto que ao trabalharem como catadores não estão em condições de trabalho formal, portanto, ao não gerarem contribuição social não tem assegurados esses benefícios.

A experiência de organização de processos sócio-produtivos com catadores de materiais recicláveis mostra as fragilidades e as dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores.

As ações desenvolvidas com catadores de materiais recicláveis no município de Cruz Alta/RS ainda são incipientes, mas remetem à articulação de outras iniciativas, talvez essa seja uma saída possível para essa população que busca sobreviver para além do mundo do trabalho.

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A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE GENÉTICA:

UMA PROPOSTA PARA FAVORECER A APRENDIZAGEM

BAIOTTO, Cléia Rosani

1

; DELLA MÉA, Adriana Riguer

2

Resumo

A necessidade de se adequar a velocidade com que as informações chegam aos

alunos do Ensino Médio requer hoje professores atualizados e dinâmicos. Preocupados

com esta limitação no ensino de Biologia, mais especificamente na Genética, o Laboratório

de Genética e Biologia Molecular elabora, produz e testa jogos e atividades didáticas.

Neste contexto elaborou-se uma proposta de organizar jogos e atividades, fornecer estas

informações aos professores do ensino médio e estimulá-los a trabalhar de forma mais

dinâmica e atualizada. As atividades foram organizadas em módulos, sendo que o módulo

1 envolveu quinze professores e abordou a importância das atividades lúdicas na

compreensão dos conceitos. O módulo 2 contou com a participação de 270 alunos e

acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas promovendo circuitos de jogos e atividades.

No módulo 3, os professores tiveram acesso ao material produzido no projeto, bem como

assessoramento para desenvolver as técnicas e atividades propostas em suas escolas de

atuação. Um sistema de avaliação no material produzido e emprestado permitiu rever e

reestruturar cada atividade proposta. O envolvimento dos professores, dos alunos do

ensino médio e dos acadêmicos do curso permite concluir que a incorporação de

metodologias alternativas na prática diária propicia a atualização e abordagem de temas

contemporâneos, além de proporcionar uma aula dinâmica e interessante. A interação

entre a universidade e o ensino médio não favorece apenas os professores e os alunos,

mas também propicia o desenvolvimento de atividades de monitoria, extensão e uma

aproximação dos acadêmicos com o futuro mercado de trabalho.

Palavras-chave: Atividades lúdicas. Ensino. Genética e Biologia Molecular.

Abstract

The necessity of adapt the speed with the information arrive to the high school students

request dynamic and updated teachers today. Worried about this limitation in the Biology

teaching, more specifically in the Genetics, the Genetics and Molecular Biology Laboratory

elaborate, produce and test games and didactic activities. In this context it had been

elaborated a propose to order games and activities, to supply this information to the high

school teachers and stimulate them to work possibly more dynamic and more updated.

The activities were ordered in modules, than the module 1 involved fifteen teachers and

boarded the importance of playing activities in the understanding of the concepts. The

module 2 had the participation of two hundred and seventy students and Biology Sciences

promoting circuits of games and activities. In the module 3, teachers had access to the

material produced in the project, like advisement to develop the techniques and activities

proposed in their schools. An analysis system in the material produced and lent permitted

to revise and rewrite each proposal activity. The involvement of the teachers, of the high

school students and of the course permit to conclude the incorporation of alternatives in the

day-by-day practice propose the actualization and the boarding of contemporaneous

subjects, beyond have a dynamic and interesting class. The interaction between university

Referências

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