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Vinculação em jovens adultos: processo de individuação em contexto universitário

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VINCULAÇÃO EM JOVENS ADULTOS: PROCESSO DE

INDIVIDUAÇÃO EM CONTEXTO UNIVERSITÁRIO

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

SOTERO FILIPE VAZ DONAS-BOTTO CATARINA PINHEIRO MOTA

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VINCULAÇÃO EM JOVENS ADULTOS: PROCESSO DE

INDIVIDUAÇÃO EM CONTEXTO UNIVERSITÁRIO

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Composição do júri:

Professora Doutora Paula Mena Matos Professor Doutor Francisco Cardoso Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

Vila Real, 2012

Sotero Filipe Vaz Donas-Botto

Dissertação sob orientação da Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

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Agradecimentos

A concretização deste trabalho representa uma etapa importante da minha vida, logo não posso deixar de expressar os meus agradecimentos a todos aqueles, que de forma directa ou indirecta, mostraram a sua disponibilidade e proporcionaram a sua execução.

Neste sentido desejo salientar a minha gratidão para com a orientadora Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota. A concretização deste estudo só foi possível pelo rigor científico e orientação crítica patente na sua orientação, como também o seu conhecimento, disponibilidade e prontidão. Agradeço todo o auxílio prestado durante a consecução da dissertação.

Quero agradecer aos meus pais, as minhas figuras de vinculação, a minha base segura, sempre presentes e disponíveis nos bons e maus momentos, encorajando-me no alcançar dos meus objectivos.

Agradeço também aos meus irmãos, Pedro e André por todo o apoio que me deram estando presentes e disponíveis em todas as ocasiões.

À Rute, minha esposa, por me apoiar desde sempre nas minhas escolhas, incentivando-me nos momentos menos bons. A sua presença paciente e compreensiva foi decisiva para a conclusão desta fase.

Agradeço ao meu filho Sotero pela sua energia, pelo seu sorriso e boa disposição, pois a sua existência faz com que derrube barreiras que até ao momento pareciam impossíveis de superar.

A toda a minha família que de modo indirecto me apoiaram nesta jornada académica. Agradeço a todos os jovens que se disponibilizaram em preencher o protocolo, pois eles são a essência deste estudo e sem eles este projecto não se realizaria.

A todos os que, de algum modo, contribuíram para a realização deste trabalho e não foram mencionados, um muito obrigado.

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Resumo

O presente estudo incide na temática da vinculação dos jovens adultos e a sua ligação aos processos de individuação e à adaptação académica. Neste âmbito importa destacar a construção dos modelos internos dinâmicos que se iniciam na infância e se reorganizam ao longo da adolescência e adultez. A qualidade da vinculação estabelecida nos primeiros anos de vida constitui uma peça relevante no sentido de estabelecer relações muito próximas com os seus cuidadores principais, construindo laços afectivos sólidos, recebendo suporte emocional e protecção física, funcionando como uma base segura. É a qualidade das relações, que possibilita a criança aumentar a sua segurança com o mundo. No contexto académico os modelos internos dinâmicos criados numa relação de vinculação de qualidade possibilitará ao jovem aproximar-se dos outros e receber nestas relações o apoio e suporte necessário ao seu bem-estar. Com a entrada para o ensino superior do jovem adulto, as figuras de vinculação, tornam-se presencialmente menos disponíveis para responder às necessidades de vinculação do jovem adulto levando a que estes se voltem para o exterior. O processo de separação-individuação é um processo que ocorre desde a infância, sendo mais evidente durante a adolescência e início da idade adulta, o facto de ter ocorrido uma separação física com as figuras parentais com o ingresso no ensino superior não tem influência notória na individuação uma vez que esta tem vindo a ser consolidada ao longo do desenvolvimento. Importa referir que o processo de individuação é melhor sucedido se for desenvolvido num contexto familiar favorável.

O estudo abrange uma amostra de 405 jovens adultos, de ambos os géneros, a frequentar o ensino universitário, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos. A recolha da amostra foi efectuada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, abrangendo as cinco escolas existentes. A presente investigação fez recurso ao Questionário

de Vinculação ao Pai e à Mãe, ao Questionário de Vivências Académicas e ao Munich Individuation Test of Adolescence cujas qualidades psicométricas se revelaram adequadas de

acordo com a análise de consistência interna e a análise factorial confirmatória. Os resultados obtidos revelaram a associação existente entre a vinculação aos pais, a individuação aos pais e a adaptação académica. Com base nas análises efectuadas constatou-se que a vinculação aos pais prediz quer os processos de individuação dos jovens, quer a sua adaptação ao contexto académico.

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Abstract

This study focuses on young adults’ attachment, on their individuation processes and on their academic life adjustment themes. On this regard, it is important to highlight the

internal dynamics model building, which begins in childhood and is restructured during

adolescence and adulthood. The quality of the attachment, during the first years of life, is a key stone in close relationship establishment with the child’s first care bearers, erecting solid emotional ties, attaining moral support, physical protection, working as a solid basis. It is the quality of those relationships that allow the child to increase its confidence towards the world. In an academic context, the internal dynamics models, along with quality attachment ties, will allow the young adult to approach others and to receive, from these new relationships, the support he needs for his well-being. When enrolled in University, the young adults’ attachment figures become physically less available to answer their attachment needs, forcing them to search elsewhere. The process of separation-individuation is something that occurs from childhood, becoming more evident during adolescence and early adulthood. The fact that a physical separation from the parental figures occurs, with the enrolment in college studies, has no evident influence in the individuation, as it has been strengthened throughout development. It is important to state that the individuation process is better developed if it happens in a favourable family context.

The study has covered a sample universe of 405 young adults, both male and female, enrolled in University, with an age range from 18 to 25. The sample has been collected from the Trás-os-Montes and Alto Douro University, from all five colleges. The present investigation is based on the Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe, and Questionário

de Vivências Académicas and to the Munich Individuation Test of Adolescence, from which

psychometric qualities have revealed themselves to be adequate, according to the internal consistency analysis and confirmatory factorial analysis. The results have revealed an existing association between parental attachment, parental individuation and academic adjustment. Based on this analysis, it has been made clear that parental attachment predicts both the youths’ individuation processes, and their academic life.

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Índice Geral

Introdução 1

PARTE I

CAPÍTULO I - Estado de Arte 3

1. Teoria da vinculação 3

2. Processos de vinculação nos jovens – A transição para a vida adulta 7

3. Processos de individuação no jovem adulto 12

4. Especificidades na adaptação ao contexto académico 15

PARTE II

CAPÍTULO I - Objectivos do estudo, hipóteses e metodologia 19

Introdução 19 1. Objectivos e Hipóteses 19 1.1. Objectivo geral 19 1.2. Objectivos específicos 20 2. Hipóteses 20 3. Metodologia 21

3.1. Caracterização dos participantes 21

3.2. Procedimentos 26

3.3. Instrumentos de medida 39

3.3.1. Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM) 29

3.3.1.1. Descrição do instrumento 29

3.3.1.2. Análise das propriedades psicométricas 31 3.3.2. Questionário de Vivências Académicas (QVA-r) 32

3.3.2.1. Descrição do instrumento 32

3.3.2.2. Análise das propriedades psicométricas 34 3.3.3. Munich Individuation Test of Adolescence (MITA) 35

3.3.3.1. Descrição do instrumento 35

3.3.3.2. Análise das propriedades psicométricas 36

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1. Associação entre as variáveis em estudo 38

2. Diferenças das variáveis de vinculação ao pai e à mãe, adaptação académica e processos de individuação do jovem adulto ao pai e à mãe em função das

variáveis sócio-demográficas

49

2.1. Análises diferenciais das variáveis da vinculação à mãe em função das

variáveis sócio-demográficas 49

2.2. Análises diferenciais das variáveis da vinculação ao pai em função das

variáveis sócio-demográficas 54

2.3. Análises diferenciais das variáveis da adaptação académica em função das

variáveis sócio-demográficas 63

2.4. Análises diferenciais das variáveis da individuação dos jovens adultos à

mãe em função das variáveis sócio-demográficas 72

2.5. Análises diferenciais das variáveis da individuação dos jovens adultos ao

pai em função das variáveis sócio-demográficas 76

3. Predição das variáveis da adaptação académica e da individuação à mãe e ao

pai 80

3.1. Predição das variáveis de adaptação académica em função da individuação

dos jovens à mãe 81

3.2. Predição da adaptação académica em função da individuação dos jovens

ao pai 86

3.3. Predição da individuação dos jovens à mãe em função da vinculação aos

pais 90

3.4. Predição da individuação dos jovens ao pai em função da vinculação aos

pais 94

4. Papel moderador da individuação aos pais na associação entre vinculação aos

pais e adaptação académica 98

5. Efeito dos protótipos de vinculação aos pais 99

5.1. Construção dos protótipos de vinculação na relação com o pai e a mãe 99 5.2. Distribuição dos protótipos de vinculação à mãe e ao pai em função do

género do jovem 102

5.3. Distribuição dos protótipos de vinculação à mãe e ao pai em função da

idade do jovem 103

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vinculação aos pais

6. Discussão dos resultados 105

6.1. Associações entre a vinculação aos pais, a adaptação académica e a

individuação aos pais 106

6.2. Diferenças das dimensões em estudo em função das variáveis

sócio-demográficas 115

6.2.1. Diferenças das variáveis da vinculação aos pais em função das

variáveis sócio-demográficas. 115

6.2.2. Diferenças das variáveis da adaptação académica em função das

variáveis sócio-demográficas 124

6.2.3. Diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos aos

pais em função das variáveis sócio-demográficas 130 6.3. Papel moderador da individuação aos pais na associação entre vinculação

aos pais e adaptação académica 137

6.4. Predição da adaptação académica em função da individuação dos jovens

aos pais 138

6.4.1. Predição da adaptação académica em função da individuação dos

jovens à mãe 138

6.4.2. Predição da adaptação académica em função da individuação dos

jovens ao pai 142

6.5. Predição da individuação dos jovens adultos aos pais em função da

vinculação aos pais 146

6.5.1. Predição da individuação dos jovens adultos à mãe em função da

vinculação aos pais 146

6.5.2. Predição da individuação dos jovens adultos ao pai em função da

vinculação aos pais 149

6.6. Diferenciação nos protótipos de vinculação aos pais 152 6.6.1. distribuição dos protótipos de vinculação à mãe e ao pai em função

do género do jovem 152

6.6.2. Distribuição dos protótipos de vinculação à mãe e ao pai em

função da idade do jovem 152

6.6.3. Análises diferenciais da adaptação académica em função dos

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Conclusão 158

Referências Bibliográficas 163

Índice de Tabelas e Figuras Índice de Anexos

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Introdução

O presente estudo foca um estádio do desenvolvimento humano cuja atenção tem vindo a ser actualmente mais enfatizada, pela sua indefinição e labilidade, o término do período da adolescência e início da idade adulta. A passagem para a idade adulta é mais facilmente determinada por um alcançar de metas ou tarefas do que se tentar estabelecer uma data cronológica para o fim da adolescência, início da vida adulta (Arnett, 2000; Young et al., 2011). A transição para a idade adulta prende-se com critérios culturais e sociais, implicando um processo gradual, pelo que Arnett (2000) designou os jovens que fazem esta transição por adultos emergentes. O período de tempo descrito para esta fase do desenvolvimento do jovem poderá enquadrar-se dos 18 aos 25 anos de idade ou mais além disso. Segundo o mesmo autor, é neste intervalo de tempo que se julga que os jovens terão que preencher uma série de tarefas que vai desde darem início a uma carreira profissional, disporem de autonomia financeira, deixarem a casa dos pais ou começarem uma família (Arnett, 2007a), no entanto não se pode aceitar estas tarefas como determinantes para a eclosão da idade adulta. Uma das possíveis tarefas que a maioria dos jovens adultos encara no seu desenvolvimento e que caracteriza esta fase de transição é o seu ingresso no ensino superior. Uma grande maioria dos jovens, quando termina o ensino secundário e porque continuam a ter o suporte financeiro dos pais, dá continuidade aos estudos ingressando no ensino superior. A entrada para o ensino superior está associado a grandes desafios, desafios para os quais os jovens adultos têm que estar capacitados para conseguirem ser bem sucedidos e alcançarem o objectivo principal, ter formação superior que os capacitará de competências profissionais de forma a entrarem no mercado de trabalho e auferirem boas remunerações (Cohen, Kasen, Chen, Hartmark, & Gordon, 2003; Macmillan & Eliason, 2003).

O maior desafio que a maioria dos jovens adultos tem que enfrentar, é o afastamento dos pais, uma vez que o ingresso no ensino superior e no curso que se pretende, implica a saída de casa, por vezes para distâncias geográficas muito longas. Este afastamento das figuras parentais é descrito na literatura como crucial, mas não essencial, para o processo de individuação do jovem adulto (Meeus, Iedema, Maassen, & Engels, 2005). Por outro lado este afastamento, leva a que o jovem adulto experiencie situações de ansiedade na ausência das figuras de vinculação, onde o apoio disponibilizado pelos pais e a capacidade de auto-regulação são determinantes para a adaptação do jovem ao novo contexto (Matos & Costa, 1996; Moura & Matos, 2008). A saída de casa implica também que muitas vezes os jovens morem sozinhos, cuidem das roupas, cozinhem e tenham que gerir despesas que a mudança acarreta, entre outras particularidades próprias da sua saída de casa.

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O interesse para a investigação incidir neste período do desenvolvimento humano e nomeadamente na adaptação ao ensino superior dos jovens adultos, prende-se com a possibilidade de perceber e poder divulgar quais os factores que favorecem uma adaptação positiva e por outro lado quais os que condicionam essa mesma adaptação. O cruzar de informação proveniente das relações de vinculação que o jovem estabelece com as figuras de vinculação, com a informação das competências alcançadas nas áreas de adaptação académica e as particularidades que caracterizam os processos de individuação do jovem adulto, permitirão que se construa uma elucidação multidimensional desta fase particular do desenvolvimento humano. Deste modo, pensa-se que o presente estudo estará a proporcionar dados importantes para explicar e colmatar o abandono escolar dos jovens.

O cerne do presente estudo assenta na base da teoria da vinculação, uma vez que a díade relacional que o jovem adulto estabelece com as figuras de vinculação contribui substancialmente para o entendimento e explicação das dificuldades que por vezes este tem que enfrentar aquando da sua entrada no ensino superior.

A primeira parte do presente estudo é direccionada para a abordagem de conceitos gerais inerentes aos processos de vinculação, assentando nos pressupostos de Bowlby e Ainsworth. Será igualmente realizada uma abordagem aos processos de separação-individuação do jovem adulto como também serão debatidos aspectos peculiares ao processo da adaptação do jovem ao nível académico.

A segunda parte, encontra-se dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo é reservado para a descrição conceptual das variáveis em estudo e do procedimento metodológico efectuado. Serão também abordados neste capítulo, os instrumentos de auto-relato utilizados na investigação e apresentada a testagem das suas propriedades psicométricas, bem como os objectivos e hipóteses estipulados de acordo com o estado de arte consultado das temáticas em estudo. No segundo capítulo apresentam-se os resultados empíricos obtidos na investigação que serão abordados numa discussão crítica, tendo em consideração a literatura e estudos recentes que abordam a mesma temática. No culminar do presente estudo, sistematizar-se-á as principais conclusões do estudo, bem como se descreverão eventuais limitações com que a investigação se deparou facultando indicações para futuras investigações.

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Parte I

Componente Teórica

 

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Capitulo I: Estado de arte

1. Teoria da vinculação

O presente estudo recai na teoria da vinculação do jovem adulto, avaliando as relações de vinculação que mantém com as figuras de vinculação primordiais. Neste sentido, torna-se relevante abordar os primórdios da teoria da vinculação, originalmente conjecturada por John Bowlby (1980) e por Mary Ainsworth (1989), incidindo, não só, mas essencialmente, nos processos de vinculação das crianças. Após os referidos autores, muitos outros contribuíram para o desenvolvimento da teoria da vinculação, podendo-se mencionar os estudos pioneiros da vinculação nos adultos de George, Kaplan, e Main (1984), como também, numa fase posterior o contributo de Bartholomew e Horowitz (1991), Cassidy (2000), Mikulincer, Gillath, e Shaver (2002), entre muitos outros.

Com a abordagem de Bowlby (1980) e de Ainsworth (1989) destacando as relações que as crianças estabelecem com as figuras de vinculação e os consequentes modelos internos dinâmicos, alteraram a perspectiva do desenvolvimento psicológico da época. Deste modo, também as teorias parentais foram influenciadas e reformuladas pela perspectiva de ambos (Krapp, 2005).

A teoria da vinculação assenta na premissa que as crianças têm uma necessidade inata de estabelecer relações muito próximas com os seus cuidadores principais, construindo laços afectivos sólidos com a mãe ou com uma outra figura de vinculação (Bowlby, 1988). É a qualidade das relações, que capacita a criança para procurar proximidade com a figura de vinculação e desta forma aumentar a sua segurança com o mundo (Bowlby, 1980). O desenvolvimento da criança está intimamente ligado às suas relações com as figuras de vinculação, nomeadamente com a recepção de suporte emocional e de protecção física (Bowlby, 1980).

As figuras de vinculação que transmitem disponibilidade afectiva e que proporcionam um ambiente tranquilo às crianças, possibilitam um sentimento de segurança, permitindo-lhes sentirem-se livres e confiantes para se aventurarem na exploração do seu meio. Esta díade de vinculação é conhecida na literatura como base segura (Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall, 1978).

O aspecto fundamental da teoria da vinculação é que o seu foco incide sobre as bases biológicas do chamado comportamento de vinculação (Bowlby, 1982). O comportamento de vinculação de uma criança tem a intenção de aumentar a sua proximidade física com a figura de vinculação e consequentemente garantir a sua segurança. Alguns comportamentos de

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vinculação normativos como o sorrir ou o verbalizar, estão a dar sinais à mãe para interagir com a criança. Outros sinais que advêm da activação dos comportamentos de vinculação face a um estímulo adverso, desconhecido ou de maior stress, dando a indicação de que algo não está bem com a criança, são o choro conjugado com movimentos físicos.

Posto isto, Ainsworth et al. (1978) referem que se o cuidador responder de forma adequada e consistente às necessidades da criança, tal como abraçar, dar conforto e proteger, o laço afectivo entre ambos é reforçado, criando uma vinculação segura. Esta acção representa uma estratégia para assegurar a sua sobrevivência, já que é um ser indefeso, dependente e vulnerável. Por outro lado, quando as respostas não são as mais adequadas, ou houver inconsistência nas respostas às necessidades da criança, o laço vinculativo formado é inseguro.

Sabendo destas premissas era importante avaliar o estilo de vinculação, assim, Ainsworth et al. (1978) desenvolveram estudos no sentido de avaliar o estilo de vinculação existente entre o prestador de cuidados e a criança, conceptualizando um método de avaliação denominado situação estranha (StrangeSituation). A avaliação da vinculação através da situação estranha envolve uma série de separações e reencontros entre a criança e a sua mãe, que ocorrem em ambiente de laboratório. Através deste método, Ainsworth, fundamentou três tipos de estilos de vinculação: estilo seguro, estilo resistente e estilo inseguro-evitante. Os estilos de vinculação derivam do comportamento da figura de vinculação na interacção com a criança, particularmente da sua sensibilidade e acessibilidade aos sinais de protecção e conforto da criança (Ainsworth & Bowlby, 1991).

São muitos os conceitos que envolvem a teoria da vinculação, daí que Ijzendoorn e Sgi-Schwartz (2008) tenham resumido de modo sistemático as hipóteses fundamentais da teoria da vinculação. Assim os autores referem que a vinculação é universal, uma vez que todas as crianças se vinculam a uma ou mais figuras significativas; um outro fundamento é que a vinculação segura é normativa; a vinculação segura é dependente de uma figura cuidadora sensível; e por último, a vinculação segura é preditiva na diferenciação de competências, como na regulação das emoções.

A literatura revela que a mãe geralmente representa uma figura de vinculação mas o pai também é susceptível de se tornar uma figura de vinculação adicional no início do ciclo vital da criança. De acordo com Bowlby (1982), muitas crianças têm mais de uma figura significativa com quem estabelecem comportamentos de vinculação. Também, Ainsworth (1967) tinha referido este mesmo facto através das suas observações empíricas, já que estas revelaram que a maioria das crianças se vinculam a mais de uma pessoa conhecida durante o

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primeiro ano de vida.

Colin (1996, cit. por Cassidy, 2008) enumerou um conjunto de factores que contribuem para a determinação da estrutura hierárquica de relações de vinculação de uma criança: o tempo que a criança passa com cada figura de vinculação, a qualidade dos cuidados que cada uma fornece à criança, investimento emocional de cada figura significativa na criança, e por último a linguagem não verbal na interacção. Cassidy (2008) acrescenta que a presença repetida ao longo do tempo da figura significativa na vida da criança, mesmo que cada encontro seja breve, é provável que seja importante na determinação hierárquica de figuras de vinculação na criança.

De acordo com a literatura (e.g., Ainsworth, 1991) a figura de vinculação além de desempenhar o papel de base segura tem também a função de porto seguro. O porto seguro constitui uma figura afectivamente significativa à qual se recorre em situação de necessidade, procurando conforto, protecção, apoio e alívio.

Num estudo elaborado por Trinke e Bartholomew (1997) foi pedido a jovens adultos que listassem uma hierarquia de figuras de vinculação por ordem de importância e as distinguissem como porto seguro e como base segura. Os resultados indicaram que a figura de vinculação mais referenciada no estudo era a mãe, seguido pelo par romântico, o melhor amigo, o pai e o irmão. Um outro dado do estudo que importa referir é que mais de metade dos participantes que estiveram envolvidos num relacionamento amoroso nomeou o seu par romântico como a figura de vinculação principal. O par romântico foi mais referido como um porto seguro do que como uma base segura, enquanto que os pais dos jovens foram mais mencionados como uma base segura do que como um porto seguro. Através deste estudo é possível concluir que o par romântico ocupa o degrau mais alto na hierarquia da maioria das figuras de vinculação do jovem adulto, no entanto os pais ainda são preferidos como uma base segura para a exploração e crescimento (Trinke & Bartholomew, 1997).

Durante a adolescência a vinculação aos pais começa normalmente a ser complementada por ligações significativas com os outros, geralmente com os seus pares, podendo chegar a assumir um papel semelhante ao das figuras parentais. Nos jovens adultos, os laços vinculativos são normalmente direccionados a parceiros ou amigos próximos (Mercel, 2006; Rocha, 2008).

Uma relação parental segura, envolve características como o proporcionar carinho, amor, conforto e consolação, como forma de regulação da emoção, especialmente em situações de ameaça ou de stress. No entanto, e segundo Grossmann, Grossmann, Kindler, e Zimmermann (2008), este estado de segurança, não é suficiente para criar um outro tipo de

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segurança nas crianças, a segurança psicológica. A segurança psicológica remete para a exploração de forma a adquirir conhecimentos e habilidades para um ajustamento psicológico e cultural bem sucedido. A segurança nas relações de vinculação precisa ser complementada com a segurança necessária à exploração, com base no apoio e suporte sensível das figuras vinculativas. Uma pessoa segura, em comparação com uma pessoa insegura, encontra-se mais acessível e predisposta a novos desafios, experiências, comunicações e reflexões, resultando numa adaptação saudável, sendo capaz de responder adequadamente a uma ampla variedade de situações desafiadoras e estados emocionais (Grossmann et al., 2008).

Além do forte contributo de Bowlby na teoria da vinculação e na identificação dos comportamentos de vinculação que a criança utiliza no seu quotidiano, Bowlby (1982), veio acrescentar algo que mudaria a perspectiva do desenvolvimento do ciclo vital do homem, os

modelos internos dinâmicos. Bowlby refere que a organização do sistema comportamental de

vinculação envolve componentes cognitivos, mais especificamente, as representações mentais da figura de vinculação, do self, e do meio ambiente. Bowlby (1988) conceptualizou o modelo interno dinâmico, enquanto representações cognitivas advindas dos relacionamentos estabelecidos com as figuras de vinculação. O conceito central do modelo interno dinâmico diz que as relações de vinculação estabelecidas na infância determinam a forma como nos relacionamos com outras pessoas e o que sentimos sobre nós mesmos. No curso do desenvolvimento das crianças, os modelos internos tornam-se cada vez mais complexos, permitindo fazer previsões de curto prazo, mas também reflectir sobre as relações actuais, passadas e antecipar o futuro e fazer planos, operando de forma mais eficiente por meio de uma simulação interna (Bowlby, 1988).

Assim, figuras de vinculação sensíveis às necessidades das crianças dando pronta resposta, levam a criança a concluir que as pessoas são confiáveis (modelo interno dinâmico positivo dos outros), caso a figura seja insensível, negligente ou abusiva pode levar à criação de insegurança e falta de confiança nos outros (modelo interno dinâmico negativo dos outros) (Bowlby, 1988). Posto isto, é de esperar que uma criança com um modelo interno dinâmico positivo dos outros, advindo da qualidade de relação com as figuras de vinculação, espere dos outros uma resposta sensível e solidária, por outro lado, crianças com modelo interno dinâmico negativo dos outros espera respostas insensíveis ou até mesmo rejeição.

Um processo de vinculação seguro, ajuda a criança a desenvolver uma visão positiva de si mesmo e expectivar interações positivas e de apoio com os outros (Griffin & Bartholomew, 1994).

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processos cognitivos, emocionais e de respostas comportamentais, que ajudam os indivíduos a entender o seu contexto social e influenciam as expectativas, estratégias e comportamentos nos relacionamentos face às suas necessidades pessoais (Collins & Allard, 2003; Crowell, Fraley, & Shaver, 2008).

Importa ressaltar que os modelos internos dinâmicos não são imutáveis, isto é, mudanças na vida do jovem, nomeadamente situações de trauma, perda de uma figura significativa, exigirão uma reformulação das representações cognitivas ou modelos internos (Bowlby, 1979).

Ao longo do seu desenvolvimento, verifica-se divergência nos modelos internos dinâmicos dos jovens adultos, assim, modelos internos dinâmicos das relações com os pais serão distintos daqueles que se constroem nas relações com o par romântico ou até mesmo com amigos significativos. Deste modo as relações que o jovem adulto vai estabelecendo ao longo do seu percurso desenvolvimental irão modificar os modelos internos dinâmicos mais genéricos (Bartholomew & Shaver, 1998).

Jovens estudantes com representações negativas dos seus pais, fazem inferências erradas acerca de novas situações sociais e dos comportamentos dos outros, lidam de forma ineficaz com mudanças sociais importantes e com momentos de transição, tal como os que ocorrem no ingresso para a faculdade, o que pode levar à criação de estados maiores de solidão (Larose, Guay, & Boivin, 2002).

Dando seguimento ao tema discutido, o ponto que se segue aborda os processos de vinculação nos jovens adultos interpelando a fase desenvolvimental do emergimento da idade adulta.

2. Processos de vinculação nos jovens – A transição para a vida adulta

Existe muita controvérsia em relação à idade que marca o início da adolescência, no entanto e segundo Arnett (2007b), a dificuldade aumenta quando se quer demarcar o final da mesma, ainda assim, a literatura aponta para que esta ocorra entre os 18 e 20 anos de idade. As dificuldades em delimitar a adolescência e o início da idade adulta acontece porque esta diferenciação não é determinada por critérios cronológicos, mas sim por critérios sociais e culturais (Arnett, 2000; Young et al., 2011), tais como dar início a uma carreira profissional, ter autonomia financeira, deixar a casa dos pais ou constituir família. A idade em que normalmente estas tarefas ocorriam mudou consideravelmente nas últimas décadas, sugerindo o aparecimento de um novo período de vida, que pode ser marcado como a idade adulta emergente (Arnett, 2007b).

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Estudos de Cohen et al. (2003) e também de Macmillan e Eliason (2003) possibilitaram identificar do universo dos jovens adultos, dois grandes grupos que seguem trajectos de vida distintos, consoante indicadores de educação, emprego, casamento, coabitação, paternidade e residência. O primeiro grupo que os autores dissociaram inclui os jovens que investem pouco na educação após terem terminado o ensino secundário e começam a formar a sua própria família. O segundo grupo, inclui aqueles jovens que prosseguem os estudos e ingressam no ensino superior, para poderem ter um emprego satisfatório e dão primazia à progressão na carreira. Todas estas tarefas, são estabelecidas em detrimento da formação de uma família, adiando para mais tarde o que torna mais difícil a autonomia financeira, prolongando a dependência dos pais.

O presente trabalho visa estudar o segundo grande grupo de jovens adultos distinguido anteriormente, os jovens que prosseguem para o ensino superior (Cohen et al., 2003; Macmillan & Eliason, 2003).

A adolescência relaciona-se muitas vezes como um momento difícil nas relações familiares. Os adolescentes pressionam os pais para terem mais autonomia, enquanto os pais continuam a sentir-se responsáveis por protegerem os seus filhos de potenciais perigos. É nesta fase desenvolvimental que iniciam experiências, nomeadamente envolvendo a sexualidade e relações amorosas, no entanto não se sentem à vontade em discutir estes assuntos com os pais, discutindo-os com os pares. Os adolescentes passam uma quantidade de tempo, que tende a ser crescente, com os pares passando menos tempo em casa (Arnett, 2004). No entanto e segundo Rocha (2008) este distanciamento não pode ser visto como um processo de desvinculação mas sim um processo de alargamento de figuras significativas que servem o propósito de responder às necessidades de vinculação do jovem. As figuras parentais continuam a desempenhar o papel de base segura na vida dos jovens.

Segundo Arnett (2004) pode diferenciar-se o emergimento da idade adulta caracterizando este período de transição entre a adolescência e a idade adulta como sendo a idade da exploração da identidade, onde o jovem experiencia várias possibilidades nas áreas do amor e do trabalho entre outras, é ainda identificada como uma idade da instabilidade, já que os jovens nesta fase se sentem divididos, nem são adolescentes nem são adultos. É também o período do desenvolvimento mais focado no self, como também aquele período em que o jovem tem mais possibilidades de escolha para a sua vida futura. Posto isto, e tendo em conta que a idade do adulto emergente é uma fase transitória, este será o período mais heterogéneo do ciclo vital. Estas cinco características, segundo Arnett (2007a) não são universais, já que são recursos que se evidenciam mais durante a idade do adulto emergente

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do que em outros períodos.

Em muitos países e culturas estipulam que a passagem à idade adulta requer que sejam alcançados três critérios, aceitar o sentido de responsabilidade por si mesmo, ser independente na tomada de decisões e tornar-se independente financeiramente. Todos estes marcadores são atingidos gradualmente no decorrer do emergimento da idade adulta (Arnett, 2004). Os adultos emergentes são caracterizados pela mudança e exploração de possíveis direcções de vida, como na área do amor, do trabalho e da educação.

Mortimer (2012) refere que o factor económico é determinante no prolongamento da permanência dos jovens adultos em casa dos pais. Quer o apoio financeiro dos pais quer o conforto e segurança residencial, que por vezes são devidos ao desemprego e às dificuldade em conseguir trabalho, fornecem andaimes críticos para a transição do adolescente para a vida adulta, prolongando-a cada vez mais. O autor adianta ainda que esta dependência pode ameaçar a auto-eficácia dos jovens.

Bowlby (1982) e Ainsworth (1978) focaram as suas teorias na relação entre vinculação e exploração, propondo, como já se referiu, que uma figura de vinculação disponível aumenta a curiosidade de uma criança incentivando-a à exploração em segurança do contexto que a rodeia, nomeadamente o social. Neste seguimento e focando a idade adulta, Mikulincer e Shaver (2007) propõem, que uma vinculação segura deve também encorajar os jovens adultos à abertura a novas informações e acomodação das suas estruturas de conhecimento, modelos internos dinâmicos. Levitt (1991), reforça a importância dos pais no ciclo vital humano, acrescentando que mesmo os jovens adultos, continuam a sentir os pais como figuras de apoio, figuras essas que estão disponíveis e a quem recorrem em situações de crise.

Com base na teoria da vinculação de Bowlby (1982) nomeadamente partindo da compreensão dos modelos internos dinâmicos do self e do outro, Bartholomew e Horowitz (1991) defenderam uma tipologia de vinculação nos adultos composta por quatro categorias. Esta tipologia divide as duas dimensões de Bowlby num espaço bidimensional, definido pelo posicionamento positivo ou negativo, criando assim quatro protótipos de vinculação. De acordo com o modelo, os protótipos de vinculação do adulto caracterizam-se por Seguro, Preocupado, Desinvestido e Amedrontado (Bartholomew & Horowitz, 1991).

Weiss (1982) diferenciou a vinculação estabelecida na infância e na idade adulta, referindo que as relações de vinculação na idade adulta são tipicamente estabelecidas entre os pares. Referiu ainda que, o sistema comportamental de vinculação implicado na idade adulta não se destaca tanto, na medida de não estar em causa, na maior parte das vezes, a

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sobrevivência. Canavarro, Dias, e Lima (2006) sublinham que as relações de vinculação na idade adulta assemelham-se com as estabelecidas na infância, sobretudo na função de promover uma sensação de segurança e pertença, uma vez que continua patente na idade adulta. Por último, Weiss (1982) ainda aponta uma outra diferença que é a dos jovens adultos se envolverem em relações que muitas vezes comportam dimensões de envolvimento sexual.

Na adolescência verifica-se um novo direccionamento do foco de investimento dos jovens, mais voltados para o contexto e a sua envolvência constata-se um processo de transferência da vinculação dos pais para o grupo de pares e/ou para o companheiro amoroso (Matos & Costa, 2006). Não quer isto dizer que o jovem substitui as figuras de vinculação primárias, este apenas alarga o seu número de figuras significativas procurando proximidade e apoio (Rocha, 2008). A busca da autonomia e independência relativamente à família é ansiada, contudo os jovens pretendem também preservar a permanência dos pais e a vinculação com eles, para assim manterem o nível de autoconfiança e auto-estima (Moura & Matos, 2008). De acordo com Moura e Matos (2008), os adolescentes que demonstram segurança são aqueles que demonstraram capacidade de desenvolver relações de qualidade com as figuras de vinculação.

As relações de vinculação na adolescência e na idade adulta são marcadas por uma reciprocidade de vinculação, isto porque o jovem adulto passa a receber apoio e a fornecer apoio, ou seja, está vinculado ao par romântico e ao mesmo tempo funcionam como figura de vinculação ao mesmo (Ainsworth, 1991).

Feeney e Vleet (2010) referem que existem fortes indícios, comprovados nas suas investigações empíricas, para se poder afirmar que o ser humano ao longo do seu ciclo vital cresce através da vinculação. Neste seguimento Feeney (2008) propõe que o amor romântico pode ser conceptualizado como um processo de vinculação, processo esse que é em parte influenciado pelas experiências significativas com as figuras de vinculação anteriores. Quando os adultos têm na relação com o par amoroso uma base segura que apoia a sua exploração, estando disponível, encorajando-o nas suas acções e não sendo intrusivo, os adultos são capazes de explorar o contexto que o envolve, aumentando a estima, a auto-eficácia, uma vez que a exploração é tida como prazerosa (Feeney & Vleet, 2010).

Tal como é descrito na idade infantil (Ainsworth et al., 1978), na idade adulta, as estratégias de vinculação também incluem comunicações não verbais ou outros métodos com o intuito de estabelecer contacto com alguém significativo, como por exemplo, conversar, estabelecer contacto pelo telefone ou telemóvel, enviar uma mensagem de e-mail ou de texto. Pode-se ainda referir que o adulto tem a capacidade de activar mentalmente representações

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das figuras de vinculação infundindo-o a uma percepção de bem estar e de segurança (Mikulincer & Shaver, 2004).

Mikulincer e Shaver (2008) vêm acrescentar à temática, que a vinculação do jovem adulto pode ser conceptualizada em três tipos: vinculação como estado, surgindo em situações de stress, procurando restabelecer contacto com a figura de vinculação; vinculação como traço, o jovem adulto tende a estabelecer relações de vinculação similares ao longo do seu desenvolvimento; e, vinculação como um processo que interage no contexto de uma relação específica do jovem adulto.

O sistema de vinculação na idade adulta assenta ainda em três proposições: se o jovem adulto se sentir ameaçado irá procurar proximidade e protecção junto de uma figura de vinculação; se o jovem adulto perceber que existe uma figura de vinculação disponível, então, fica relaxado sentindo que é amado, e pode retomar a outras actividades confiante e com a sensação de segurança. Por último, se uma figura de vinculação está indisponível ou não responder, então o jovem adulto irá intensificar os esforços para alcançar a proximidade e a protecção desejada ou então irá desactivar o sistema de vinculação e confiar em si mesmo (Mikulincer & Shaver, 2007).

O adolescente ao entrar na idade adulta está sujeito a várias exigências, é importante que faça uso do apoio da sua família para lidar com novas tarefas desenvolvimentais que a transição de idade lhe impõe. Mercel (2006) partindo do pressuposto de que é necessário existir um bom equilíbrio entre a independência e a gestão emocional, reforça o papel da família enquanto base segura para a exploração do jovem adulto do mundo real. Uma das tarefas para as quais ele precisa de mais apoio da família é, paradoxalmente, a separação emocional dos pais. Esta situação poderá confundi-lo levando-o a passar por um processo que inclui frustração, ambivalência, aumento de emocionalidade e respostas irracionais às pessoas e eventos. Os jovens adultos precisam de respostas e compete aos pais dar apoio de forma a que estes alcancem o crescimento emocional e social adequado (Mercel, 2006).

As relações de vinculação têm consequências para o desenvolvimento posterior de uma variedade de habilidades e capacidades, tais como competências sociais, capacidade de resolução de problemas, motivação, mestria, capacidade de empatia, capacidade de formar e manter amizades e a capacidade de confiar nos outros adultos (Cassidy, 2008). Estas habilidades ou competências advêm da segurança que as figuras de vinculação transmitem à criança para que esta se sinta apoiada na exploração do mundo. O uso do termo “exploração” na teoria de vinculação do adulto remete geralmente para a exploração social, intelectual e ambiental/contextual, como também para o desenvolvimento de novos interesses, uma vez

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que os adultos trabalham em direcção a novos objectivos (e.g., Hazan & Shaver, 1990). Como se tem vindo a reportar, o período de transição da idade da adolescência para a idade adulta, é marcada pela criação e manutenção de interacções com outras figuras significativas, estas novas relações impulsionam o jovem ao alargamento das suas figuras de vinculação (Rocha, 2008). Este processo implica que as funções de vinculação que inicialmente eram detidas pelas figuras parentais, enquanto figuras de vinculação primárias, vão sendo progressivamente transferidas para o grupo de pares ou para o par amoroso. Embora confiram ao grupo de pares ou par amoroso as funções de vinculação, os jovens pretendem que os pais continuem a manter disponibilidade emocional e que lhes forneça apoio. O que não quer dizer que a relação seja de dependência, uma vez que os jovens procuram uma maior autonomia e independência relativamente às figuras parentais (Matos & Costa, 1996).

O processo de transferência de vinculação ocorre, por norma, no final da adolescência e início da idade adulta, e este processo é caracterizado pela transferência das vinculações ditas primárias e de comportamentos de vinculação para um novo relacionamento (Rocha, 2008; Welch & Houser, 2010). No entanto Fraley e Davis (1997) referem que o processo de transferência de todas as funções de vinculação a uma outra figura significativa pode prolongar-se por um período de cerca de cinco anos, até ser completado.

Ao longo do processo de transferência de vinculação, segundo Markiewicz, Lawford, Doyle, e Haggart (2006), as diferentes figuras de vinculação desempenham diferentes funções de vinculação.

De seguida focar-se-ão particularidades inerentes aos processos de individuação dos jovens adultos.

3. Processos de individuação no jovem adulto

Individuação é um processo progressivo que deriva da díade relacional das crianças e pais, este processo começa na adolescência e estende-se até à idade adulta. Podem-se diferenciar duas dimensões nucleares ao processo, que são a ligação e a individualidade (Youniss & Smollar, 1985). A ligação aos pais é ainda assumida como sendo estável ao longo dos anos da infância, adolescência e até ao início da vida adulta num nível alto. Por sua vez a individualidade é caracterizada como a independência do jovem à autoridade parental, marcada pela mudança de autoridade unilateral para uma autoridade de cooperação e de reciprocidade. É suposto que o processo de individualidade aumente durante a adolescência e a idade adulta jovem (Mota & Rocha, 2012).

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As teorias mais clássicas de Blos (1967) e de Kroger (1985) definem o processo de individuação nos moldes da separação, isto é, alegam que os adolescentes têm que se separar dos seus pais de forma a desenvolverem uma identidade (Scabini & Manzi, 2011). No entanto Scabini e Manzi (2011) acrescentam que um contexto familiar favorável, com relacionamentos de qualidade, propicia um processo de individuação bem sucedido. Kruse e Walper (2008) acrescentam que o processo de individuação dos jovens adultos foi redefinido como uma tarefa de ganho de autonomia enquanto mantêm uma relação próxima com as figuras parentais.

A teoria psicossocial de Erikson (1963), incide sobre o desenvolvimento do self através de oito etapas, cada estágio de desenvolvimento tem particularidades e questões específicas que se apresentam como desafios ao desenvolvimento do indivíduo. O estágio que surge no início da idade adulta é denominado por Intimidade versus Isolamento. A intimidade envolve o estabelecimento de uma relação de satisfação mútua com outra pessoa a quem é feito um compromisso. Por outro lado, o estado de isolamento constitui a outra extremidade do espectro, em que uma pessoa não consegue o estabelecimento de relações de intimidade.

Segundo a teoria de Blos (1967; cit por Seiffge-Krenke, 2010) as condições necessárias para o desenvolvimento do processo de individuação aos pais, surgem durante a adolescência, no entanto e como refere Colarusso (1999) o processo de separação-individuação continua a desdobrar-se na idade dos jovens adultos. Colarusso (1999) defende a existência de cinco processos de individuação ao longo do ciclo vital. Para o período que decorre dos 20 aos 40 anos, fase em que ocorre o desenvolvimento dos jovens adultos, em que surgem complexos processos de separação-individuação nos jovens, o autor, identifica esta fase como sendo a terceira individuação do ciclo vital. O terceiro processo de individuação é caracterizado pela separação física e psicológica dos objectos infantis, ocorrendo em justaposição com novas experiências interpessoais profundamente influentes com os outros, havendo intimidade emocional e também intimidade sexual. As experiências que os jovens adultos estabelecem a nível educativo, de trabalho, de relacionamentos amorosos e sexuais, influenciam a mudança da conceptualização do self e do outro.

O processo de individuação dos filhos em relação ao pai e à mãe, é referido como sendo uma das principais tarefas de desenvolvimento da adolescência tardia, início da idade adulta e é conceptualizado ganhando autonomia mantendo o relacionamento com os pais. Pesquisas em famílias divorciadas ou monoparentais, susceptíveis em terem grandes conflitos e estressores específicos podem comprometer a individuação bem sucedida, provocando insegurança e conduzindo à independência precoce (Kruse & Walper, 2008).

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Como se tem vindo a descrever e de acordo com a literatura (Meeus et al., 2005), o processo de individuação do jovem adulto, é um processo que tem início na adolescência e que se prolonga e culmina na emergência da idade adulta. Os mesmos autores, alegam que o processo de separação é independente do de individuação aos pais e que o processo de individuação bem sucedido aos pais não requer que se dê um processo de separação.

Não existe um limite coerente para a fronteira entre a adolescência e a idade adulta, no entanto tem-se a idade de 18 anos como um marco que se caracteriza por muitas mudanças e obrigações tais como o direito ao voto, possibilidade de ingresso da faculdade tal como a possibilidade de opção por uma carreira militar. Nesta idade dá-se início a uma maior determinação no processo de separação e independência das figuras parentais (Arnett, 2000).

Separação-individuação é um princípio fundamental de organização do crescimento humano que tem implicações para o funcionamento adaptativo ao longo da vida (Lapsley, 2010). O mesmo autor define a individuação como um processo que requer a manutenção de um sentimento de vinculação e de ligação a outros significativos, como os pais, grupo de pares, par romântico, no entanto esta proximidade não implica uma relação fusional com eles. A individuação requer um sentido de autonomia e independência, sem nunca existir isolamento e alienação social. Por isso, o objectivo da individualização é a capacidade para a individualidade autónoma do jovem no contexto do curso de compromissos relacionais (Lapsley, 2010).

Importa ressaltar que embora o processo de vinculação e de autonomia possam ser entendidos como incompatíveis, Matos e Costa (1996) sublinham que não o são e remetem para o efeito complementar e interdependente de um ao outro. Mattanah, Hancock, e Brand (2004) sugerem, com base na sua investigação, que o processo de individualização bem sucedido do jovem universitário, é facilitado pela presença de relações de vinculação seguras, tanto para o género masculino, tanto para o feminino.

A percepção de falta de apoio pelas figuras de vinculação aquando do processo de separação que advém da saída de casa para ingressar na faculdade, parece interferir na exploração dos novos desafios sociais e académicos derivando num desajuste face à nova situação (Grossmann et al., 2008).

Com base numa revisão de literatura, Mota e Rocha (2012) evidenciaram a importância da qualidade de relação que o jovem estabelece com as figuras de vinculação, uma vez que estas transmitem segurança surgindo deste modo como facilitadora no processo de individuação. Este facto é também reportado por Young et al. (2011) enaltecendo por sua vez os conflitos parentais como causa inibidora da autonomia dos jovens adultos. Mota e

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Rocha (2012) verificaram que o processo de separação surge como um impulsionador no alargamento da rede de figuras significativas no desenvolvimento do jovem adulto. Por sua vez a relação que o jovem mantém com o grupo de pares pode evidenciar a qualidade do processo de separação e aquisição de autonomia dos jovens, relativamente aos pais.

Kruse e Walper (2008) designam o processo de individuação ou uma individuação bem sucedida do jovem adulto como uma individuação segura, em que caracterizam jovens com relações próximas e de qualidade com as figuras parentais mas também altos níveis de autonomia emocional e independência aos mesmos. Os preditores mais consistentes de uma individuação bem sucedida são expostos por Kruse e Walper (2008) num estudo realizado na Alemanha, com uma amostra de 649 sujeitos com idades compreendidas entre os 10 e os 20 anos, tendo constatado que uma empatia alta e uma superproteção baixa, estavam entre as características parentais mais consistentes que previam um processo de individuação bem sucedido. Um jovem com uma individuação bem sucedida está associado a uma variedade de características positivas de adaptação, como uma maior auto-confiança e auto-conceito.

Num estudo sobre as diferenças de género e étnicas no processo de individuação-separação, os investigadores relatam que os padrões do género masculino e feminino são semelhantes, no entanto acrescentam duas excepções: os jovens do género masculino negam as suas necessidades em estabelecer relações de intimidade, e as mulheres são mais propensas a manter ligações interpessoais mais íntimas em relacionamentos com os seus pares (Gnaulati & Heine, 2001).

A transição para o ensino superior, passando de um estado de maior dependência para um estado de maior maturidade, caracteriza o cerne do desenvolvimento de um processo de separação-individuação, que exige do jovem adulto adaptação e reorganização no novo contexto (Preto, 2003).

4. Especificidades na adaptação ao contexto académico

Almeida e Cruz (2010), caracterizam os estudantes universitários, nomeadamente os da Universidade do Minho, como integrando-se na categoria que os autores definem por

alunos tradicionais, isto é, são jovens universitários de idades inferiores aos 23 anos, que

ingressaram no ensino superior logo após a conclusão do ensino secundário, não têm actividade profissional remunerada sendo os custos da universidade suportado pelos pais, acrescenta-se ainda que também não têm familiares a seu cargo. Posto isto, os autores referem que estas características, embora caracterizem a maioria dos jovens estudantes portugueses, são sugestivas de baixos níveis de autonomia e responsabilidade, o que por sua vez indicia

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alguma dificuldade ao nível da tomada de decisões e de iniciativas. A acrescentar a estas características, os autores referem que estes jovens têm dificuldade em gerir dinheiro, realizar das tarefas domésticas, assim como escolher um quarto ou um apartamento.

A entrada para o ensino superior implica que a maioria dos estudantes universitários tenham de sair de casa, afastando-se fisicamente das figuras parentais, tornando-se indisponíveis para responder às necessidades de vinculação, assim, o jovem adulto procura nos outros o apoio necessário ao seu bem-estar. Nesta fase desenvolvimental, o jovem adulto dá primazia às novas amizades estabelecidas, podendo mesmo afectar as interacções familiares (Bartholomew & Horowitz, 1991; Welch & Houser, 2010).

A literatura inerente ao tema, refere que jovens adultos que mantiveram uma vinculação insegura com as figuras significativas, estão menos preparados, quando comparados com os jovens com vinculações seguras, para lidar eficazmente com situações sociais e académicas desafiantes e stressantes, dificultando a transição e adaptação à universidade (Larose, Bernier, & Tarabulsy, 2005). Allen et al. (2007) vêm acrescentar que estes jovens têm relacionamentos empobrecidos com o grupo de pares, têm menos amizades próximas e também são mais propensos a desencadear sintomas psicopatológicos e a demonstrarem comportamentos desviantes.

Como refere Matos e Costa (1996) a entrada para o ensino superior é uma fase desenvolvimental desafiante para o jovem adulto, uma vez que o ingresso para a universidade implica a saída de casa, impondo a sua separação aos pais como também ao grupo de pares existentes. Esta distância das figuras de vinculação, das figuras que lhes proporcionava o apoio e segurança, pode e segundo as autoras, estar menos acessível podendo desta forma ameaçar o sistema pessoal do jovem. Por outro lado, alertam para as vantagens que podem advir da particularidade da situação, uma vez que esta situação possibilita ao jovem experienciar oportunidades ou situações de autonomia comportamental.

Segundo Almeida, Ferreira, e Soares (2002) o ingresso na universidade confina uma série de desafios pessoais, interpessoais, familiares e institucionais aos jovens adultos que iniciaram a sua vida académica. São esses desafios que se pretendem discernir associando-os com a vinculação e os processos de individuação e adaptação.

Os alunos que ingressam pela primeira vez no ensino superior devem, além de se ajustarem às novas exigências académicas, aprender a lidar com as exigências que a independência adulta implica. Para os jovens estudantes cuja entrada no ensino superior implicou a saída de casa, esta adaptação é mais exigente, uma vez que se afastaram da família e dos amigos, que eram quem lhes prestava apoio social significativo (Rice, 1992).

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O jovem universitário enfrenta inúmeros desafios que estão acoplados com a sua entrada no ensino superior, entre diversas mudanças podem-se referir tarefas ao nível académico, associado à adaptação ao sistema de ensino superior que é muito distinto do ensino secundário implicando ajustamentos nas suas rotinas. No que se refere ao nível vocacional, compreende a satisfação pela escolha do curso e a projecção de uma possibilidade de ingressar no mundo do trabalho. O nível pessoal, remete para o auto-conceito e o desenvolvimento de uma identidade pessoal. Por último, o jovem adulto enfrenta tarefas a nível social, focando o desenvolvimento de competências de relacionamento com os pares, professores e uma relação mais autónoma com a família (Pinheiro, 2003).

Schlossberg (1989) indica que os jovens adultos dispõem de quatro recursos para lidar e organizar respostas adaptativas no processo de transição ao ensino superior, assim, o processo de ajustamento depende, do acontecimento ou situação que presencia; das características pessoais e dos recursos psicológicos do estudante; das diferentes fontes de suporte social, a família, os amigos, o par amoroso, o grupo de pares, grupos ou organizações em que esteja inserido; e, por último das estratégias ou respostas de coping pessoais desenvolvidas ao longo do seu percurso.

Chickering e Reisser (1993) desenvolveram uma teoria que assenta no desenvolvimento da identidade do estudante no ensino superior. Os autores defendem que os jovens adultos ao longo do seu percurso académico vão experienciando solicitações sociais, culturais e institucionais com as quais terão que lidar alcançando um estado de congruência com as suas motivações internas. Deste modo, os jovens estudantes desenvolvem uma identidade que assenta em sete vectores: desenvolvimento de competência; controlo nas emoções; orientação para a autonomia através da interdependência; desenvolvimento de relações interpessoais sólidas; estabelecimento da identidade; desenvolvimento de objectivos para o futuro; e, desenvolvimento de valores, integridade e congruência. Dos sete vectores postulados, os autores ressaltam duas áreas essenciais à adaptação do jovem ao ensino superior, a área intrapessoal, que engloba questões de competência intelectual e emocional, e a área interpessoal que se define ao nível dos relacionamentos sociais e da autonomia.

Segundo Mattanah et al. (2004) uma vinculação parental segura, com níveis saudáveis de separação-individuação têm estado relacionados com uma boa adaptação universitária. Estudos empíricos efectuados nos anos 70 e 80 (e.g., Hoffman & Weiss, 1987; cit. por Mattanah et al.,2004) demonstraram que estudantes com elevados níveis de separação-individuação tinham uma melhor adaptação académica e social e menos sintomas de solidão e depressão. Separação-individuação é vista como um processo de desenvolvimento que

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começa com a separação dos pais, dos pares e de outras pessoas significativas (Mattanah et al.,2004).

A importância do relacionamento parental é mais uma vez reportada, nomeadamente uma vinculação segura com as figuras de vinculação, uma vez que os jovens com uma vinculação segura estão mais propensos no seu desenvolvimento e adaptação às dificuldades e desafios académicos. Uma vinculação segura é descrita como promotora eficaz na segurança da exploração capacitando o jovem estudante com recursos emocionais, cognitivos e comportamentais, que por sua vez demonstram ser cruciais na adaptação e progressão positiva nos estudos académicos. Por outro lado, os jovens que revelam vinculações inseguras, manifestam maior dificuldades em gerir relações interpessoais, tarefas académicas e até mesmo, adiantam os autores, situações de regulação pessoal (Larose, Bernier, & Tarabulsy, 2005; Mattanah et al., 2004).

Mikulincer e Shaver (2007) referem que o sucesso académico exige que o jovem universitário possua competências cognitivas, competências sociais e comportamentos de auto-regulação. Um estudante competente está disposto e é capaz de aprender demonstrando atitudes positivas para a aprendizagem e resolução de problemas, percepciona as tarefas académicas como desafios agradáveis e não como ameaças, possui auto-disciplina, responsabilidade e concentra-se nas tarefas académicas inibindo os impulsos que prejudicariam o desempenho universitário. Contrastando estes factos com a teoria da vinculação, Mikulincer e Shaver (2007) constataram que uma vinculação segura proporciona as capacidades de auto-regulação necessárias ao contexto académico, contribuindo deste modo para o sucesso académico dos jovens universitários.

Estudos longitudinais (e.g., Rice, FitzGerald, Whaley, & Gibbs, 1995) fornecem dados indicadores que uma vinculação segura está associada a vários índices de adaptação académica do jovem adulto. Os autores ainda revelam que esta associação de melhor adaptação associada à vinculação também se verifica nos “caloiros”, manifestando melhores ajustamentos emocionais nos primeiros anos. Assim sendo, uma vinculação segura facilita um melhor processo de individuação do jovem adulto.

Estudos sobre o funcionamento familiar (Silva & Ferreira, 2009), ao nível da vinculação, do suporte social e do ambiente familiar, permitiram aos autores identificar quais as características familiares que se constituem preditores aos processos de desenvolvimento psicossocial como também aos processos adaptativos a novas situações. Ao nível das intransigências do ensino superior, Silva e Ferreira (2009), referem a influência positiva facultada pelos laços afectivos das figuras de vinculação, pela coesão e expressividade, pelo

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suporte parental e pela facilitação do processo de separação-individuação para o desenvolvimento e adaptação do jovem adulto a este contexto. Por outro lado, os autores apontam para o conflito, para a ausência de apoio e para uma vinculação disfuncional como estando associados à inadaptação do jovem adulto ao contexto académico como também promovendo maiores dificuldades ao nível psicossocial.

Dias e Fontaine (2000) descrevem as dificuldades mais referidas numa amostra de 525 estudantes universitários aquando da sua entrada no ensino superior como sendo dificuldades académicas e vocacionais, dificuldades consigo próprio, dificuldades interpessoais, mal-estar difuso, acontecimentos de vida e dificuldades de adaptação psicossocial.

À semelhança do que foi identificado por Dias e Fontaine (2000), Almeida et al. (2002) referem que o jovem universitário aquando da sua entrada para o ensino superior, terá que enfrentar múltiplas e complexas tarefas particulares e específicas ao novo contexto. Almeida et al. (2002), agregou as tarefas como associadas a quatro domínios: o domínio académico, o domínio social, o domínio pessoal e o domínio vocacional. Ao nível académico, o jovem adulto terá que se adaptar às exigências da universidade, adoptando ritmos e estratégias de aprendizagem adequados ao novo sistema de ensino e de avaliação com que se depara. Também ao nível social, o jovem adulto tem que enfrentar desafios, desenvolvendo padrões de relacionamento interpessoal mais consistentes quer na relação com a família, quer com os professores e até mesmo com o grupo de pares. A adaptação ao contexto académico deverá promover, a nível pessoal, o estabelecimento de um sentido de identidade, o desenvolvimento da auto-estima e do auto-conceito. Por último, Almeida et al. (2002), referem o domínio vocacional, englobando tarefas que promovem a tomada de decisão, exploração e compromisso, desenvolvendo deste modo uma identidade vocacional.

Uma análise a estudos realizados em contexto académico avaliando a conjugação dos efeitos dos processos de separação-individuação e os de vinculação aos pais, sugere que a presença de uma vinculação segura e um processo de separação-individuação bem conseguido, prediz melhor a adaptação académica do que a presença de apenas uma variável (Mattanah et al., 2004).

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Parte II

Estudo Empírico

 

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Referências

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