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diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos aos pais em função das variáveis sócio-demográficas.

Capítulo II: Estudo Empírico Resultados e Discussão

6. Discussão dos resultados

6.2. diferenças das dimensões em estudo em função das variáveis sócio demográficas.

6.2.3. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos aos pais em função das variáveis sócio-demográficas.

função do género.

Em relação à individuação à mãe, constata-se a existência de diferenças apenas ao nível da dimensão manutenção do laço com a mãe, já em relação à individuação ao pai, as diferenças registam-se ao nível das três dimensões em estudo, individuação bem sucedida,

manutenção do laço e negação do desejo de ligação.

Assim, e relativamente à manutenção do laço com ambos pais, os resultados apontam que o género feminino se evidencia em relação ao género masculino. Estes resultados corroboram a literatura que refere que o género feminino é mais propenso na procura e manutenção de suporte social talvez porque valorizem e mantenham mais as relações, ao contrário dos jovens do género masculino que estão muitas vezes mais voltados para o exterior (Helgeson, 2012; Levpuscek, 2006; Planchel & Bologini, 1995).

Quanto à individuação bem sucedida ao pai, o género feminino apresenta médias superiores em relação ao género masculino. Ao que parece os jovens do género feminino conseguem manter mais facilmente, em comparação com os rapazes, um equilíbrio entre a sua autonomia e a proximidade na relação com o pai. A explicação deste facto pode reportar-se para a percepção de restrições na sua individualidade que é demonstrada pelos rapazes no presente estudo, comparativamente com a propensão do género feminino na manutenção de uma relação duradoura com as figuras significativas. Ao que parece a percepção de uma menor inibição por parte dos pais na sua individualidade, facilita o estabelecimento de uma individuação bem sucedida por parte do género feminino. O estudo realizado por Levpuscek (2006), numa investigação com uma amostra de 495 indivíduos, cujas idades se repartiam dos 13 aos 19 anos, menciona esta mesma distinção entre os níveis de individuação do género feminino, evidenciando-se do género masculino. À sua semelhança também um estudo de Imamoglu (2003) reporta a mesma evidência do género feminino no processo de individuação dos jovens, com base numa amostra de 173 jovens adultos estando a média das idades nos 21 anos.

Já na dimensão negação do desejo de ligação, ao pai, é o género masculino que apresenta médias superiores em relação ao género feminino. Os jovens do género masculino são caracterizados por não terem tanta tendência à procura de apoio, comparativamente com os jovens do género feminino, como adiantam Planchel e Bologini (1995). Por outro lado e à semelhança dos resultados constatados por Levpuscek (2006), os jovens do género masculino demonstram mais esforços para alcançar a sua individuação e autonomia, o que leva a que o processo de individuação seja mais turbulento. A autora refere ainda que a defesa contra a invasão emocional dos pais era mais patente no género masculino. Uma possível interpretação

dos resultados da negação do desejo de ligação, é a de que os jovens do género masculino estão menos voltados para a proximidade emocional distanciando-se do envolvimento emocional com os seus pais. No mesmo seguimento Saraiva e Matos (2012), no seu estudo com uma amostra de 463 jovens adultos com idades compreendidas dos 18 aos 30 anos, verificaram que o género masculino tende a ter menos envolvimento relacional com as figuras de vinculação e vêem a aproximação como intrusiva e impeditiva à sua individualidade e autonomia.

De acordo com a hipótese 6, onde se aguardava que a individuação aos pais se diferenciasse em função do género dos jovens adultos, verificou-se que realmente existe essa diferenciação, pelo que se validou a hipótese conjecturada para a presente investigação.

6.2.3.2. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos aos pais em função da idade dos jovens.

No que concerne à idade dos jovens, as diferenças foram observadas apenas na dimensão individuação bem sucedida, à mãe, constatando-se mesmo a ausência por completo de diferenciação ao nível da variável idade dos jovens, na individuação ao pai.

Os resultados sugerem que os jovens adultos com idades compreendidas entre os 23 e os 25 anos de idade têm uma maior capacidade em manter equilíbrio entre a autonomia e a proximidade à mãe, comparativamente com os jovens mais novos. Assim, parece que os jovens adultos mais velhos são mais capazes de se sentirem seguros na relação com a família e o contexto exterior, desenvolvendo mais competências pessoais e crescimento, demonstrando uma individuação bem sucedida, sem no entanto se afastarem por completo na relação com a sua mãe (Rice et al., 1995). Kruse e Walper (2008) são congruentes com esta inferência na idade e acrescentam que a dinâmica relacional entre as figuras parentais e os filhos contribui para desenvolver qualquer tipo de individuação (segundo a tipologia do autores) a qualquer idade. Meeus et al. (2005), no seu estudo com 2814 adolescentes e jovens adultos dos 12 aos 24 anos de idade, consolidam esta ideia referindo que com o passar dos anos, os adolescentes tendem a recorrer menos ao suporte parental, edificando uma individualização mais bem sucedida, onde os seus compromissos relacionais e sociais se tornam mais fortes. Saraiva e Matos (2012) vêm acrescentar que com o decorrer da idade os jovens adultos no seu processo de individuação, enquanto processo desenvolvimental, tendem a ter menos dificuldades na sua individuação aos pais. Além deste estudo pode-se referir também o estudo de Andersen, LaVoie, e Dunkel (2007), onde verificaram a mesma relação numa análise a duas amostras, uma amostra de 67 adolescentes e uma outra amostra com 118

jovens adultos. Este estudo revelou ainda que os jovens adultos, tendem a descrever os pais mais como pessoas do que os adolescentes, uma vez que este últimos os descrevem ainda como pais. Facto também reportado por Arnett (2007b) referindo mesmo que na transição para a idade adulta, os jovens aumentam a capacidade de entender os pais, tornando-se capazes de compreender os seus pontos de vista.

Tendo em conta os resultados obtidos (i.e., diferenciação em apenas uma dimensão da individuação à mãe; um efeito pequeno na variância; como também a ausência de significância na individuação ao pai) valida-se parcialmente a hipótese 7, em que se aguardava que a individuação aos pais se diferenciasse em função da idade dos jovens adultos.

6.2.3.3. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos à mãe em função das variáveis do contexto familiar.

No que se refere à individuação à mãe, verificaram-se diferenças significativas ao nível da situação profissional do pai.

Ao nível da variável sócio-demográfica situação profissional do pai, constatou-se que os jovens adultos cujo pai se encontra empregado têm médias superiores de individuação

bem sucedida, à mãe, e manutenção do laço, à mãe, em relação aos jovens cujos pais se

encontram desempregados. Este resultado relaciona-se com o observado anteriormente no que concerne à vinculação aos pais, pelo que neste caso uma individuação bem sucedida às figuras parentais, pautada por uma permanência dos laços afectivos assume maior relevância nos filhos de pais empregados porque a fase desenvolvimental que o jovem adulto atravessa acarreta gastos que são tidos como académicos e extra-académicos (Arnett, 2007b; Kenyon & Koerner, 2009), estas necessidades financeiras são melhor respondidas por um pai que se encontra em situação de empregado. Deste modo, o pai ao responder às necessidades do jovem adulto, concede-lhe uma base segura (Bowlby, 1988), que possibilitará a individuação bem sucedida do jovem adulto (Mattanah et al., 2011). Ressalta-se ainda o facto do desemprego e a instabilidade financeira serem uma das maiores causas de depressão dos homens, o que implica que um pai desempregado pode não se encontrar emocionalmente disponível para manter e reforçar os laços com o seu filho (Walsh, 2009).

Da análise diferencial das variáveis da individuação dos jovens adultos à mãe em função das variáveis do contexto familiar, verificou-se a ausência de significância ao nível da idade do pai, da idade da mãe, da profissão do pai, da situação profissional da mãe, da

familiar.

6.2.3.4. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos à mãe em função das variáveis do contexto romântico.

Pela análise dos resultados constata-se que individuação dos jovens adultos à mãe não se diferencia significativamente ao nível da duração da relação amorosa e da existência de

relação amorosa.

Perante este resultado remetemos para a literatura referindo Lanz e Tagliabue (2007) uma vez que referem que os processos de individuação não se diferenciam em função das variáveis do contexto romântico. No entanto, Seiffge-Krenke (2010), no seu estudo longitudinal de onze anos com uma amostra inicial de 145 sujeitos, refere que a transferência de funções de apoio das figuras parentais para o grupo de pares e par romântico é um processo normativo e pode ajudar os jovens adultos a tornarem-se mais autónomos.

6.2.3.5. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos à mãe em função das variáveis do contexto académico.

No que se refere à individuação à mãe, verificaram-se diferenças significativas ao nível do ciclo de estudo dos jovens e da frequência que vai a casa.

Relativamente ao ciclo de estudo dos jovens as diferenças, sendo significativas, verificam-se ao nível da dimensão de individuação bem sucedida à mãe. Os dados apontam que os jovens adultos que frequentam o 2º ciclo têm uma individuação bem sucedida à mãe, superior, comparativamente aos jovens que ainda só frequentam o 1º ciclo. Segundo a literatura o processo de individuação está relacionado com o ganho de autonomia (e.g., Kruse & Walper, 2008), pelo que os jovens que frequentam o 2º ciclo de estudos, estão pelo menos há 4 anos a estudar, e na sua maioria longe de casa, logo, estes jovens, face às circunstâncias académicas desenvolveram em geral uma maior independência aos pais quando comparados com os jovens que estão a iniciar os seus estudos. Tendo em conta que os jovens que frequentam o 2ª ciclo de estudos são jovens com idades mais avançadas, remete-se este resultado a anteriores análises em que se verificou que jovens de idades mais avançadas tendencialmente têm uma individuação melhor sucedida em relação a jovens mais novos (Andersen et al., 2007; Kruse & Walper, 2008; Meeus et al., 2005; Rice et al., 1995).

Na variável que foca a frequência que vai a casa, embora se observassem diferenças significativas, o efeito na explicação da variância das variáveis dependentes é pequeno, além de que as diferenças não se reflectiam nos grupos em estudo. Posto isto, verifica-se que a

frequência que vai a casa não é determinante para a individuação do jovem adulto. Este dado vem reflectir o que vem descrito na literatura, onde está patente que para se dar um processo de individuação não é necessário dar-se um processo de separação, por isso os jovens que mantêm contacto frequente com os pais, ao que parece, têm o mesmo nível de individuação que os que não mantêm o contacto tão frequente (Meeus et al., 2005).

É de ressaltar que as variáveis do contexto académico surtiram poucas diferenças significativas na individuação dos jovens adultos à mãe, verificando-se a ausência de significância ao nível das unidades curriculares em atraso e da saída de casa (deslocado).

6.2.3.6. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos ao pai em função das variáveis do contexto familiar.

Perante os nossos resultados referentes à individuação ao pai, apenas se encontram diferenças significativas ao nível da configuração familiar e da situação profissional do

pai.

Relativamente à configuração familiar, verifica-se que tem um efeito pequeno na variância dos resultados. Ainda assim, pode reportar-se que os jovens adultos que advêm de uma família intacta têm médias superiores de individuação bem sucedida, ao pai, em relação aos que pertencem a famílias monoparentais, advindas de divórcios, separações ou viuvez. Por outro lado, os jovens adultos cujos pais são separados, divorciados ou viúvos, demonstram médias superiores de negação do desejo de ligação, ao pai, comparativamente aos jovens de famílias intactas. Nos jovens que advêm de famílias intactas, as figuras parentais mantém-se presentes proporcionando ao filho a atenção empática e a monitorização necessária a uma individuação bem conseguida, uma vez que a permanência favorece a continuidade de laços, que por sua vez reforçam e mantêm uma relação de segurança (Kruse & Walper, 2008; Mikulincer & Shaver, 2007). Por outro lado, estes resultados revelam que os jovens cujo pai se encontre em processo de separação, podem manifestar um maior retraimento e revolta, negando a necessidade de proximidade e de apoio ao pai. Este facto é referido num estudo realizado na Alemanha por Kruse e Walper (2008) com uma amostra de 649 sujeitos de idades compreendidas entre os 10 e os 20 anos, onde verificaram que os conflitos parentais, comuns nas separações e divórcios, têm efeitos negativos nos processos de individuação dos mesmos, uma vez que os pais não estão disponíveis para proporcionar o apoio e atenção necessária ao processo. Além deste estudo, também se pode referir um outro estudo realizado por Moura e Matos (2008) junto da população portuguesa numa amostra de 310 adolescentes em que constataram o mesmo efeito negativo da separação na relação

parental alegando a indisponibilidade física como factor responsável pela diminuição de envolvimento e disponibilidade emocional com os filhos, que por sua vez vai interferir de modo negativo no processo de individuação dos jovens adultos. Também Amato (2001) na sua meta análise tinha confirmado que os filhos de pais divorciados têm menor desempenho académico, ajustamento psicológico, auto conceito e relacionamentos sociais em comparação às famílias intactas. Mais recentemente Parmiani, Iafrate, e Giuliani (2012) consolidaram esta ideia no seu estudo com uma amostra de 264 jovens adultos, pelo que se pode deduzir que a separação ou divórcio dos pais tem um efeito negativo nos processos de individuação do jovem adulto.

Relativamente à variável situação profissional do pai verifica-se que as diferenças ocorrem nos jovens adultos cujo pai se encontra empregado, manifestando valores nas dimensões individuação bem sucedida e na manutenção do laço mais elevados comparativamente com os jovens de pais desempregados. Este mesmo resultado foi também verificado na análise diferencial na individuação à mãe e a situação profissional do pai, pelo que mais uma vez se ressalta a ideia do desemprego e a instabilidade financeira, como uma das maiores causas de depressão dos homens, o que implica que um pai desempregado pode não se encontrar emocionalmente disponível para manter e reforçar os laços com o seu filho (Walsh, 2009). De referir ainda, que um pai ao responder às necessidades do jovem adulto, quer sejam necessidades emocionais quer sejam materiais, concede-lhe uma base segura (Bowlby, 1988), o que por sua vez possibilitará a individuação bem sucedida do jovem adulto (Mattanah et al., 2011).

Tal como se observou na mãe, a individuação ao pai em função das variáveis sócio- demográficas registou poucas significâncias, constatando-se mesmo a ausência por completo de diferenciação ao nível da variável idade do pai, idade da mãe, escolaridade do pai,

escolaridade da mãe, profissão do pai, situação profissional da mãe e profissão da mãe.

Perante os presentes resultados constata-se que a individuação aos pais não se diferencia em função das variáveis sócio-demográficas referentes ao contexto familiar, excepto na situação profissional do pai e na configuração familiar, esta última só no processo de individuação ao pai. Estes resultados podem ser melhor entendidos se se tiver em conta que o processo de individuação dos jovens adultos é um processo interno podendo ser descrito como uma tarefa desenvolvimental de ganho de autonomia, mantendo, no entanto, uma relação próxima com as figuras parentais (Kruse & Walper, 2008). Posto isto não se expectava, além da configuração familiar (e.g., Parmiani et al., 2012), que a individuação do jovem se diferencia-se em função de variáveis referentes ao contexto familiar.

6.2.3.7. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos ao pai em função das variáveis do contexto romântico.

Não se verificou significância ao nível da duração da relação amorosa e da

existência de relação amorosa, tal como apurado aquando da diferenciação da individuação

à mãe, pelo que tal como já se referiu, os processos de individuação não se diferenciam ao nível do contexto romântico (Lanz & Tagliabue, 2007).

6.2.3.8. diferenças das variáveis da individuação dos jovens adultos ao pai em função das variáveis do contexto académico.

Constatou-se pelos resultados obtidos, a ausência por completo de diferenciação ao nível das variáveis sócio-demográficas referentes ao contexto académico, nomeadamente o

ciclo de estudo dos jovens, a saída de casa (deslocado), a frequência que vai a casa e as unidades curriculares em atraso.

Poderia expectar-se que a individuação aos pais se diferencia-se em função da variável saída de casa, no entanto isto não se verifica e vai de encontro com a literatura que alega que não é necessário ocorrer uma separação física dos pais para se dar o processo de individuação, a individuação é mais complexa e implica um sentido de autonomia e independência, promovendo a relação com as figuras parentais (Lapsley, 2010).

Os resultados obtidos deixaram, sem dúvida, abertura a várias discussões, no entanto e tendo em conta as poucas diferenciações da individuação dos pais em função das variáveis sócio-demográficas, os resultados validam parcialmente a hipótese número 8 do presente estudo.

6.3. papel moderador da individuação aos pais na associação entre vinculação aos

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