• Nenhum resultado encontrado

Especificidades na adaptação ao contexto académico

Almeida e Cruz (2010), caracterizam os estudantes universitários, nomeadamente os da Universidade do Minho, como integrando-se na categoria que os autores definem por

alunos tradicionais, isto é, são jovens universitários de idades inferiores aos 23 anos, que

ingressaram no ensino superior logo após a conclusão do ensino secundário, não têm actividade profissional remunerada sendo os custos da universidade suportado pelos pais, acrescenta-se ainda que também não têm familiares a seu cargo. Posto isto, os autores referem que estas características, embora caracterizem a maioria dos jovens estudantes portugueses, são sugestivas de baixos níveis de autonomia e responsabilidade, o que por sua vez indicia

alguma dificuldade ao nível da tomada de decisões e de iniciativas. A acrescentar a estas características, os autores referem que estes jovens têm dificuldade em gerir dinheiro, realizar das tarefas domésticas, assim como escolher um quarto ou um apartamento.

A entrada para o ensino superior implica que a maioria dos estudantes universitários tenham de sair de casa, afastando-se fisicamente das figuras parentais, tornando-se indisponíveis para responder às necessidades de vinculação, assim, o jovem adulto procura nos outros o apoio necessário ao seu bem-estar. Nesta fase desenvolvimental, o jovem adulto dá primazia às novas amizades estabelecidas, podendo mesmo afectar as interacções familiares (Bartholomew & Horowitz, 1991; Welch & Houser, 2010).

A literatura inerente ao tema, refere que jovens adultos que mantiveram uma vinculação insegura com as figuras significativas, estão menos preparados, quando comparados com os jovens com vinculações seguras, para lidar eficazmente com situações sociais e académicas desafiantes e stressantes, dificultando a transição e adaptação à universidade (Larose, Bernier, & Tarabulsy, 2005). Allen et al. (2007) vêm acrescentar que estes jovens têm relacionamentos empobrecidos com o grupo de pares, têm menos amizades próximas e também são mais propensos a desencadear sintomas psicopatológicos e a demonstrarem comportamentos desviantes.

Como refere Matos e Costa (1996) a entrada para o ensino superior é uma fase desenvolvimental desafiante para o jovem adulto, uma vez que o ingresso para a universidade implica a saída de casa, impondo a sua separação aos pais como também ao grupo de pares existentes. Esta distância das figuras de vinculação, das figuras que lhes proporcionava o apoio e segurança, pode e segundo as autoras, estar menos acessível podendo desta forma ameaçar o sistema pessoal do jovem. Por outro lado, alertam para as vantagens que podem advir da particularidade da situação, uma vez que esta situação possibilita ao jovem experienciar oportunidades ou situações de autonomia comportamental.

Segundo Almeida, Ferreira, e Soares (2002) o ingresso na universidade confina uma série de desafios pessoais, interpessoais, familiares e institucionais aos jovens adultos que iniciaram a sua vida académica. São esses desafios que se pretendem discernir associando-os com a vinculação e os processos de individuação e adaptação.

Os alunos que ingressam pela primeira vez no ensino superior devem, além de se ajustarem às novas exigências académicas, aprender a lidar com as exigências que a independência adulta implica. Para os jovens estudantes cuja entrada no ensino superior implicou a saída de casa, esta adaptação é mais exigente, uma vez que se afastaram da família e dos amigos, que eram quem lhes prestava apoio social significativo (Rice, 1992).

O jovem universitário enfrenta inúmeros desafios que estão acoplados com a sua entrada no ensino superior, entre diversas mudanças podem-se referir tarefas ao nível académico, associado à adaptação ao sistema de ensino superior que é muito distinto do ensino secundário implicando ajustamentos nas suas rotinas. No que se refere ao nível vocacional, compreende a satisfação pela escolha do curso e a projecção de uma possibilidade de ingressar no mundo do trabalho. O nível pessoal, remete para o auto-conceito e o desenvolvimento de uma identidade pessoal. Por último, o jovem adulto enfrenta tarefas a nível social, focando o desenvolvimento de competências de relacionamento com os pares, professores e uma relação mais autónoma com a família (Pinheiro, 2003).

Schlossberg (1989) indica que os jovens adultos dispõem de quatro recursos para lidar e organizar respostas adaptativas no processo de transição ao ensino superior, assim, o processo de ajustamento depende, do acontecimento ou situação que presencia; das características pessoais e dos recursos psicológicos do estudante; das diferentes fontes de suporte social, a família, os amigos, o par amoroso, o grupo de pares, grupos ou organizações em que esteja inserido; e, por último das estratégias ou respostas de coping pessoais desenvolvidas ao longo do seu percurso.

Chickering e Reisser (1993) desenvolveram uma teoria que assenta no desenvolvimento da identidade do estudante no ensino superior. Os autores defendem que os jovens adultos ao longo do seu percurso académico vão experienciando solicitações sociais, culturais e institucionais com as quais terão que lidar alcançando um estado de congruência com as suas motivações internas. Deste modo, os jovens estudantes desenvolvem uma identidade que assenta em sete vectores: desenvolvimento de competência; controlo nas emoções; orientação para a autonomia através da interdependência; desenvolvimento de relações interpessoais sólidas; estabelecimento da identidade; desenvolvimento de objectivos para o futuro; e, desenvolvimento de valores, integridade e congruência. Dos sete vectores postulados, os autores ressaltam duas áreas essenciais à adaptação do jovem ao ensino superior, a área intrapessoal, que engloba questões de competência intelectual e emocional, e a área interpessoal que se define ao nível dos relacionamentos sociais e da autonomia.

Segundo Mattanah et al. (2004) uma vinculação parental segura, com níveis saudáveis de separação-individuação têm estado relacionados com uma boa adaptação universitária. Estudos empíricos efectuados nos anos 70 e 80 (e.g., Hoffman & Weiss, 1987; cit. por Mattanah et al.,2004) demonstraram que estudantes com elevados níveis de separação- individuação tinham uma melhor adaptação académica e social e menos sintomas de solidão e depressão. Separação-individuação é vista como um processo de desenvolvimento que

começa com a separação dos pais, dos pares e de outras pessoas significativas (Mattanah et al.,2004).

A importância do relacionamento parental é mais uma vez reportada, nomeadamente uma vinculação segura com as figuras de vinculação, uma vez que os jovens com uma vinculação segura estão mais propensos no seu desenvolvimento e adaptação às dificuldades e desafios académicos. Uma vinculação segura é descrita como promotora eficaz na segurança da exploração capacitando o jovem estudante com recursos emocionais, cognitivos e comportamentais, que por sua vez demonstram ser cruciais na adaptação e progressão positiva nos estudos académicos. Por outro lado, os jovens que revelam vinculações inseguras, manifestam maior dificuldades em gerir relações interpessoais, tarefas académicas e até mesmo, adiantam os autores, situações de regulação pessoal (Larose, Bernier, & Tarabulsy, 2005; Mattanah et al., 2004).

Mikulincer e Shaver (2007) referem que o sucesso académico exige que o jovem universitário possua competências cognitivas, competências sociais e comportamentos de auto-regulação. Um estudante competente está disposto e é capaz de aprender demonstrando atitudes positivas para a aprendizagem e resolução de problemas, percepciona as tarefas académicas como desafios agradáveis e não como ameaças, possui auto-disciplina, responsabilidade e concentra-se nas tarefas académicas inibindo os impulsos que prejudicariam o desempenho universitário. Contrastando estes factos com a teoria da vinculação, Mikulincer e Shaver (2007) constataram que uma vinculação segura proporciona as capacidades de auto-regulação necessárias ao contexto académico, contribuindo deste modo para o sucesso académico dos jovens universitários.

Estudos longitudinais (e.g., Rice, FitzGerald, Whaley, & Gibbs, 1995) fornecem dados indicadores que uma vinculação segura está associada a vários índices de adaptação académica do jovem adulto. Os autores ainda revelam que esta associação de melhor adaptação associada à vinculação também se verifica nos “caloiros”, manifestando melhores ajustamentos emocionais nos primeiros anos. Assim sendo, uma vinculação segura facilita um melhor processo de individuação do jovem adulto.

Estudos sobre o funcionamento familiar (Silva & Ferreira, 2009), ao nível da vinculação, do suporte social e do ambiente familiar, permitiram aos autores identificar quais as características familiares que se constituem preditores aos processos de desenvolvimento psicossocial como também aos processos adaptativos a novas situações. Ao nível das intransigências do ensino superior, Silva e Ferreira (2009), referem a influência positiva facultada pelos laços afectivos das figuras de vinculação, pela coesão e expressividade, pelo

suporte parental e pela facilitação do processo de separação-individuação para o desenvolvimento e adaptação do jovem adulto a este contexto. Por outro lado, os autores apontam para o conflito, para a ausência de apoio e para uma vinculação disfuncional como estando associados à inadaptação do jovem adulto ao contexto académico como também promovendo maiores dificuldades ao nível psicossocial.

Dias e Fontaine (2000) descrevem as dificuldades mais referidas numa amostra de 525 estudantes universitários aquando da sua entrada no ensino superior como sendo dificuldades académicas e vocacionais, dificuldades consigo próprio, dificuldades interpessoais, mal-estar difuso, acontecimentos de vida e dificuldades de adaptação psicossocial.

À semelhança do que foi identificado por Dias e Fontaine (2000), Almeida et al. (2002) referem que o jovem universitário aquando da sua entrada para o ensino superior, terá que enfrentar múltiplas e complexas tarefas particulares e específicas ao novo contexto. Almeida et al. (2002), agregou as tarefas como associadas a quatro domínios: o domínio académico, o domínio social, o domínio pessoal e o domínio vocacional. Ao nível académico, o jovem adulto terá que se adaptar às exigências da universidade, adoptando ritmos e estratégias de aprendizagem adequados ao novo sistema de ensino e de avaliação com que se depara. Também ao nível social, o jovem adulto tem que enfrentar desafios, desenvolvendo padrões de relacionamento interpessoal mais consistentes quer na relação com a família, quer com os professores e até mesmo com o grupo de pares. A adaptação ao contexto académico deverá promover, a nível pessoal, o estabelecimento de um sentido de identidade, o desenvolvimento da auto-estima e do auto-conceito. Por último, Almeida et al. (2002), referem o domínio vocacional, englobando tarefas que promovem a tomada de decisão, exploração e compromisso, desenvolvendo deste modo uma identidade vocacional.

Uma análise a estudos realizados em contexto académico avaliando a conjugação dos efeitos dos processos de separação-individuação e os de vinculação aos pais, sugere que a presença de uma vinculação segura e um processo de separação-individuação bem conseguido, prediz melhor a adaptação académica do que a presença de apenas uma variável (Mattanah et al., 2004).

 

Parte II

Estudo Empírico

 

Documentos relacionados