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Prestação de serviços à comunidade na abordagem do ato infracional adolescente

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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa De Pós-Graduação Em Psicologia. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE NA ABORDAGEM DO ATO INFRACIONAL ADOLESCENTE: CARACTERÍSTICAS, LIMITES E PERSPECTIVAS. Pedro Paulo Lima de Andrade. Natal/RN 2017.

(2) i. Pedro Paulo Lima de Andrade. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE NA ABORDAGEM DO ATO INFRACIONAL ADOLESCENTE: CARACTERÍSTICAS, LIMITES E PERSPECTIVAS. Dissertação elaborada sob orientação do Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia.. Natal/RN 2017.

(3) ii. Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Psicologia A dissertação “Prestação de serviços à comunidade na abordagem do ato infracional adolescente: características, limites e perspectivas”, elaborada por Pedro Paulo Lima de Andrade, foi considerada aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.. Natal/RN, 27 de setembro de 2017.. BANCA EXAMINADORA. Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão. ________________________________. Profª Dr.ª Ana Vládia Holanda Cruz. ________________________________. Profª Drª. Ilana Lemos de Paiva. ________________________________.

(4) iii. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras CCHLA Andrade, Pedro Paulo Lima de. Prestação de serviços à comunidade na abordagem do ato infracional adolescente / Pedro Paulo Lima de Andrade. - 2017. 90f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa De Pós-Graduação em Psicologia. Natal, RN, 2017. Orientador: Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão.. 1. Ato Infracional. 2. Medida Socioeducativa. 3. Prestação de Serviços à Comunidade. I. Falcão, Jorge Tarcísio da Rocha. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 343.24:159.9.

(5) iv. Se afasto do meu jardim os obstáculos que impedem o sol e a água de fertilizar a terra, logo surgirão plantas de cuja existência eu sequer suspeitava. Da mesma forma, o desparecimento do sistema punitivo estatal abrirá, num convívio mais sadio e mais dinâmico, os caminhos de uma nova justiça. LOUK HULSMAN.

(6) v. Agradecimentos. Agradeço a Deus, por me fazer “andar acima dos problemas, acima das tribulações, acima das minhas dores, acima das desilusões” (Diante do Trono). Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Programa de Pós-graduação em Psicologia (PPGPSI), por oportunizar a presente formação e o grau acadêmico de mestre. Agradeço ao Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão, pela confiança, pela oportunidade de trabalhar ao seu lado e por todo o conhecimento transmitido. Agradeço à minha família, pelo conforto e segurança, à minha tia Mazinha, por ser a maior incentivadora na superação de meus limites e à Kelly Dantas, pois você fez, faz e sempre fará parte de minha vida. Aos colegas de orientação, presentes na jornada acadêmica, e demais amigos que sempre prestaram apoio e palavras de solidariedade na elaboração do presente documento. À Prefeitura Municipal do Natal e à Secretaria de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), por propiciar o espaço para a construção da dissertação, e aos adolescentes, pela confiança que me foi e é depositada, neste desafio da socioeducação. “Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe” (Clarice Lispector)..

(7) vi. Sumário. Lista de abreviações ..............................................................................................................viii Lista de figuras ......................................................................................................................... x Lista de tabelas ........................................................................................................................ xi Resumo ....................................................................................................................................xii Abstract ..................................................................................................................................xiii 1. Introdução ........................................................................................................................... 14 1.1. A escolha do tema de pesquisa ...................................................................................... 17 2. Fundamentação teórica ...................................................................................................... 18 2.1. Do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ................................................. 18 2.2. A interface SUAS e SINASE ......................................................................................... 23 2.2.1. O papel dos municípios na política de atendimento socioeducativo ....................... 25 2.2.2. Fluxo do atendimento socioeducativo em Natal (RN) ............................................ 26 a) Fase policial ............................................................................................................... 26 b) Fase ministerial ......................................................................................................... 27 c) Fase judicial ............................................................................................................... 27 2.2.3. Dos programas de meio aberto ................................................................................ 28 2.2.4. O enfoque educacional da PSC: educação pelo trabalho ou socioeducação? ......... 30 2.2.5. Das unidades de prestação de serviços à comunidade ............................................ 34 2.3. A prestação de serviços à comunidade: delineamento normativo, aspectos históricos e representações na sociedade ................................................................................................. 35 3. O prescrito, real e o real da atividade............................................................................... 41 3.1. Acerca da tarefa prescrita na Prestação de Serviços à Comunidade .............................. 44 3.2. O trabalho como fator ressocializante ........................................................................... 48 4. Objetivos .............................................................................................................................. 52 4.1. Objetivos geral e específicos ......................................................................................... 52 5. Método ................................................................................................................................. 53 5.1. Acerca da proposta de pesquisa aqui apresentada (métodos mistos) ............................. 53 5.2. A escolha do projeto de métodos mistos........................................................................ 55 5.3. Estrutura e organização da implementação da pesquisa ................................................ 56 5.3.1. Fase 1: pesquisa documental ................................................................................... 57.

(8) vii. a) Delineamento da pesquisa documental ..................................................................... 59 5.3.2. Fase 2: entrevista clínica ......................................................................................... 63 a) Detalhamento das entrevistas .................................................................................... 64 6. Análise dos dados obtidos .................................................................................................. 64 6.1. Fase descritiva ................................................................................................................ 66 6.1.1. Perfil sociodemográfico .......................................................................................... 66 6.1.2. Aptidões .................................................................................................................. 67 6.1.3. Tarefas ..................................................................................................................... 69 6.1.4. Entidades que recebem os adolescentes em PSC .................................................... 72 6.1.5. Síntese ..................................................................................................................... 75 6.2. Resultados obtidos na fase qualitativa ........................................................................... 76 6.2.1. Perfil de caracterização dos participantes ............................................................... 76 6.2.2. Causas...................................................................................................................... 77 6.2.3. Tarefas prescritas..................................................................................................... 77 6.2.4. Tarefa real ............................................................................................................... 78 6.2.5. Avaliação da PSC .................................................................................................... 78 6.2.6. PSC e perspectivas de inclusão social ..................................................................... 79 7. Considerações finais ........................................................................................................... 81 Referências .............................................................................................................................. 81.

(9) viii. Lista de abreviações. Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONSEC) Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude (CEIJ) Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA) Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) Delegacia Especializada de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei (DEA) Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) Liberdade Assistida (LA) Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) Ministério Público (MP) Organização das Nações Unidas (ONU) Planos Individuais de Atendimento (PIA) Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) Princípios Orientadores das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil (RIADE) Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

(10) ix. Regras Mínimas das Nações Unidas para Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing) Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) Sistema de Garantia de Direitos (SGD) Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

(11) x. Lista de figuras. Figura 1. Organograma do SINASE (CONANDA & SEDH, 2006). ..................................... 21 Figura 2. Sistema de Garantia de Direitos. .............................................................................. 22 Figura 3. Fluxograma do atendimento socioeducativo............................................................ 28 Figura 4. Curva de distribuição de idades dos sujeitos da pesquisa... ..................................... 67.

(12) xi. Lista de tabelas. Tabela 1 Referenciais legais aos direitos dos adolescentes em atendimento socioeducativo. 19 Tabela 2 Referenciais nacionais aos direitos dos adolescentes em atendimento socioeducativo .......................................................................................................................... 19 Tabela 3 Princípios do atendimento socioeducativo .............................................................. 20 Tabela 4 Procedimentos da implementação da pesquisa ........................................................ 57 Tabela 5 Distribuição das frequências das aptidões registradas ............................................. 70 Tabela 6 Cruzamento dos níveis de escolaridade e tipos de aptidão indicada ....................... 70 Tabela 7 Distribuição das frequências das tarefas registradas................................................ 71 Tabela 8 Distribuição dos tipos de tarefas em função do sexo ............................................... 71 Tabela 9 Distribuição dos tipos de tarefas em função da situação escolar ............................. 71 Tabela 10 Distribuição dos tipos de tarefas em função do nível de escolaridade .................. 72 Tabela 11 Distribuição dos níveis de renda familiar em função dos tipos de entidades ........ 73 Tabela 12 Distribuição dos níveis de escolaridade pelas entidades de destino ...................... 74 Tabela 13 Distribuição das frequências dos tipos de tarefas pelas entidades de destino ....... 74 Tabela 14 Distribuição das frequências da situação escolar por entidade de destino ............ 75.

(13) xii. Resumo. O estudo aqui reportado aborda a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) por adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, no contexto jurídiconormativo de reparação ao cometimento de atos infracionais. A pesquisa visou à caracterização, registro e análise dos limites e perspectivas que se relacionam com o fenômeno investigado. O delineamento deste estudo abarcou abordagens analíticas complementares, combinando, primeiro, a coleta de dados quantitativos (pesquisa documental) e, depois, a consideração de dados clínico-qualitativos (entrevista episódica) com egressos da medida acima citada. Os resultados apontam que os serviços são necessários, porém triviais e sem relação direta com a atividade-fim de destinação das entidades que recebem esses adolescentes. Tais serviços se caracterizam pela pobreza em termos de aspectos formativos, apesar de propiciarem ganhos pessoais e sociais para os adolescentes participantes. Os dados obtidos permitiram, finalmente, concluir que a oferta dos serviços comunitários tem apresentado poucas alternativas concretas e muitas carências e limites para a efetivação do seu caráter sociopedagógico, visto que a sistematização da medida apresenta pouca coerência com as regras e objetivos fixados pelas normativas institucionais, notadamente, no que diz respeito ao estabelecimento de atividades de qualidade para a formação e a preparação à reinserção social dos adolescentes autores de atos infracionais. Não obstante, alternativas de encaminhamento, no bojo do próprio modelo, são retomadas e sugeridas, como (1) zelar pela formação e qualificação profissional dos atores do SINASE; (2) asseverar, minimamente, ao adolescente, formação técnico-profissional compatível com o seu perfil biopsicossocial e história de vida, ao mesmo tempo em que proveem a comunidade de serviços reais, e não tarefas esvaziadas e fictícias; (3) caberiam aperfeiçoamentos no próprio texto legal que ordena a PSC; em seu formato atual, bastante sucinto, genérico e alusivo, aspectos importantes ficam implícitos e ao sabor das equipes técnicas que se encarregam de concretizá-los. Palavras-chave: ato infracional; medida socioeducativa; prestação de serviços à comunidade; socioeducação..

(14) xiii. Abstract. The study reported here addresses the Offer of Services to the Community (OSC) by adolescents and young people in compliance with socio-educational measures, in the legalnormative context of reparation for the commission of infractions. The research aims at characterizing, recording and analyzing the limits and perspectives that are related to the investigated phenomenon. The design of this study encompassed complementary analytical approaches, combining, first, the collection of quantitative data (documentary research) and then the consideration of clinical-qualitative data (episodic interview) with graduates of the above-mentioned measure. The results indicate that services are necessary, but trivial and not directly related to the final activity of destination of the entities that receive these adolescents. These services are characterized by poverty in terms of formative aspects, in spite of providing personal and social gains for the participating adolescents. The data obtained allowed us to conclude that the offer of community services has presented few concrete alternatives and many shortcomings and limits for the effectiveness of its sociopedagogical character, since the systematization of the measure shows little coherence with the rules and objectives set by institutional regulations, Which concerns the establishment of quality activities for the training and preparation for the social reintegration of adolescents who are responsible for infractions. Nevertheless, alternatives of referral within the model itself are taken up and suggested, such as (1) ensuring the training and professional qualification of the SINASE actors; (2) to assure to the adolescent, technically and vocationally, compatible with their biopsychosocial profile and life history, while at the same time providing the community with real services, not empty and fictitious tasks; (3) would fit improvements in the legal text that orders the PSC; In its current format, quite succinct, generic and allusive, important aspects are implicit and to the taste of the technical teams that are in charge of concretizing them. Keywords: Infraction; Socioeducative measure; Provision of services to the community; Socioeducation..

(15) 14. 1. Introdução. Dados do último levantamento anual da Coordenação Geral do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), indicavam, para o ano de 2014, um número total de 65.612 adolescentes sentenciados à Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), sendo 28.786 indivíduos do sexo masculino e 4.850, do feminino (Ministério dos Direitos Humanos, 2017). No Estado do Rio Grande do Norte, cerca de 13.696 adolescentes cumpriram medidas socioeducativas, entre 2006 e 2013, dos quais 4.493 adolescentes em meio aberto e 9.203, em unidades de internação. Segundo a Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude (CEIJ), de 2007 a 2013 foram constituídos 4.493 processos de execução de medidas socioeducativas no RN, dentre os quais, 874 (19,45%) foram referentes a PSC (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, 2015). De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a medida consiste na atribuição de tarefas sem retribuição pecuniária e dar-se-á em entidades ou em programas comunitários ou estatais. É oportuno consignar, conforme dispõe o art. 117, que o serviço prestado seja de relevância social e comunitária em que toda a atividade desempenhada reverta-se a favor do coletivo (lei nº 8.069, 1990). Além do mais, o parágrafo único do referido dispositivo orienta no sentido de que as tarefas sejam atribuídas conforme as “aptidões” do adolescente, devendo limitar-se à jornada semanal máxima de oito horas, por período não superior a seis meses, de modo a não interromper ou perturbar a frequência escolar ou a jornada normal de trabalho do adolescenteparticipante. Finalmente, a seleção e credenciamento das entidades (Unidades de Apoio à Prestação de Serviços) competem à direção dos Programas de Meio Aberto, e se espera que as.

(16) 15. escolhas sejam feitas conforme o perfil do socioeducando e o ambiente no qual a medida será cumprida (Lei nº 12.594, 2012). Ao considerar os referidos aspectos é importante ressaltar que a intencionalidade pedagógica das medidas socioeducativas visam contribuir para a formação do adolescente, em três níveis: em primeira instância, em termos da formação de valores destinadas a prepará-los para o convívio social, em segundo lugar, torná-los elementos centrais de sua prática educativa (protagonismo juvenil) e, por último, ampliar o rol de competências e habilidades (trabalhabilidade) (Secretaria Especial dos Direitos Humano, 2006). Isto posto, a PSC ambiciona o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada junto à comunidade, partindo-se do pressuposto de que a organização social cumpre papel importante na resolução de conflitos entre o indivíduo e a coletividade (Mourão & Silveira, 2014; Slakmon, De Vitto, & Pinto, 2005). Para tal, a medida deve privilegiar os serviços de relevância comunitária e a descoberta de novas potencialidades (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente & Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2006). Em face a tais considerações, surgem, de imediato, duas questões de pesquisa consideradas relevantes aqui: em primeiro lugar, como concretamente se caracteriza a experiência de inserção desses indivíduos na PSC? Ou seja, qual o rol de atividades, recursos, vivências, que de fato descrevem o real dessa atividade (Clot, 2007) – o que se faz de fato, em analogia com aquilo que se prescreveu fazer. Em segundo lugar, sejam quais forem as atividades que compõem esse real da atividade PSC, quais seus efeitos concretos, quando se analisam os egressos de tal sistema? Em outras palavras, qual a efetividade de tais medidas, em termos de inclusão psicossocial do jovem a quem se atribui a autoria de ato infracional? Dados disponíveis na literatura alimentam debate intenso, havendo várias análises que enfatizam a distância considerável entre o proposto nos textos que subsidiam a.

(17) 16. operacionalização da proposta do SINASE e sua concretização efetiva nos serviços comunitários. A perspectiva subjacente à proposta é de que a manutenção do adolescente em meio aberto asseguraria a preservação do convívio e o vínculo familiar/comunitário, legitimando e evidenciando o papel indispensável do coletivo social na resolução de seus próprios conflitos (Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, 2016). Por outro lado, há quem observe haver fortes indícios de que a medida é executada de maneira sofrível, de modo a violar as diretrizes institucionais, e sem orientação adequada, à exceção de experiências particulares e não-representativas da realidade do sistema (Vidal, 2012). Nesse segmento, Gobbo e Muller (2009) apontam para a precarização e indesejabilidade social, nas quais está contextualizada a PSC, em termos de atividade efetivamente realizada. Ao levar em consideração esse debate, é importante discutir seu contexto, avaliar a sua intencionalidade pedagógica e suas possíveis implicações. Nesse jogo de interlocuções, cabe buscar contribuir para o exame sistemático das características e possíveis consequências da execução da medida de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC). Constata-se a carência de estudos voltados para o conteúdo e natureza das tarefas prescritas, incluindo-se o local de realização, e para as implicações psicossociais dessa experiência para os adolescentes participantes. À vista do exposto, o presente estudo almeja contribuir para essa discussão, oferecendo dados que aperfeiçoem a descrição da proposta pedagógica, em termos de suas características e resultados efetivos no âmbito socioeducativo. Tais dados, espera-se, poderão contribuir para o aprofundamento da descrição dos esforços concretos referentes à PSC, bem como para avaliação dos resultados obtidos em face das expectativas estabelecidas. Com isso, almeja-se contribuir para o aumento da eficácia institucional e da efetividade social das.

(18) 17. medidas socioeducativas propostas adolescentes em situação de cumprimento de medida socioeducativa. 1.1. A escolha do tema de pesquisa. A escolha da temática e do lócus de pesquisa tem relação com a inserção profissional do pesquisador e, em decorrência disso, com possibilidades de oferta de aperfeiçoamentos da política e da prática profissional relacionadas ao atendimento socioeducativo. Destaca-se que o autor é psicólogo da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) da Prefeitura Municipal do Natal, lotado na Coordenação Geral dos Serviços de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC). O pressuposto central, que motivou a presente pesquisa, abarca duas crenças opostas, a serem verificadas com rigor científico: o trabalho reservado ao adolescente em cumprimento de prestação de serviços à comunidade é uma ação pedagógica com potencial de oportunizar a ressignificação da trajetória infracional e a construção de um novo projeto de vida ou; visa apenas uma nova racionalidade punitiva? A partir da problematização almeja-se contribuir para a o aumento da eficácia institucional e da efetividade social da prestação de serviços à comunidade proposta ao adolescente a quem se atribui autoria de ato infracional. Isto posto, o referido problema de pesquisa espelha, portanto, o desejo do pesquisador de contribuir com o avanço de um campo de problematização de inegável relevância social e carente de contribuições de possam embasar a proposição de aperfeiçoamentos às iniciativas socioeducativas..

(19) 18. 2. Fundamentação teórica. A seção seguinte tratará da descrição dos aspectos centrais referentes ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), como o estado do problema pesquisado, sob o aspecto teórico e de outros estudos e pesquisas já realizados.. 2.1. Do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Em reconhecimento à importância dos referenciais legais que acompanham as normativas e dão materialidade aos direitos dos/as adolescentes em atendimento socioeducativo, o SINASE foi promulgado (Resolução nº 119, 2006). O objetivo era materializar as diretrizes previstas nos marcos legais, visto que o ECA não produziu os efeitos desejados, prevalecendo o velho paradigma da situação irregular (Decreto nº 17.943-A, 1927; Lei nº 6.697, 1979). O ECA, constituído pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, contrapõe-se a um histórico de controle e de exclusão social, amparado na Doutrina da Proteção Integral. No plano jurídico, toda e qualquer criança ou adolescente, sem qualquer distinção, é digna de direitos e não tão somente um elemento de intervenção, como anteriormente. Muito embora o ECA ofereça significativas mudanças e aquisições em relação ao conteúdo, ao método e à gestão, ainda consta no ordenamento jurídico e político-conceitual, não chegando efetivamente aos seus destinatários (Pilotti & Rizzini, 2011). Dessa forma, visando concretizar os avanços contidos nos instrumentos legais, internacionais (Tabela 1) e nacionais (Tabela 2), o SINASE regulamenta a aplicação das medidas socioeducativas, criando um sistema próprio de atendimento, instituindo, por meio de lei específica (Lei 12.594, 2012), as obrigações que esse sistema tem que responder, assim.

(20) 19. como os procedimentos judiciais que devem ser observados na aplicação das medidas socioeducativas. Os instrumentos dispostos nas tabelas 1 e 2 foram fundamentais para a adequação das políticas de atendimento socioeducativo e o esforço mundial de implementação dos direitos humanos para crianças e adolescentes.. Tabela 1 Referenciais legais aos direitos dos adolescentes em atendimento socioeducativo Ano. Normativas internacionais. 1985. Regras Mínimas das Nações Unidas para Administração da Justiça Juvenil – Regras de Beijing. 1989. Convenção Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. 1990. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade. 1990. Princípios Orientadores das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil – RIADE. Tabela 2 Referenciais nacionais aos direitos dos adolescentes em atendimento socioeducativo Ano. Normativas nacionais. 1988. Constituição Federal. 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1996 1996. Resolução n. 46 – Conanda (Regulamenta a execução da medida socioeducativa de internação prevista no ECA) Resolução n. 47 – Conanda (Regulamenta a execução da medida socioeducativa de semiliberdade, a que se refere o art.120 do Estatuto da Criança e do Adolescente). 2006. Resolução 119 – Conanda (Dispõe sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo). 2012. Lei Federal 12.594 – Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). 2013. Resolução nº 160 – Conanda (aprova Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo). O SINASE é, também, regido pelos artigos referentes à socioeducação do ECA (lei 8.069, 1990), pela Resolução 119/2006 do CONANDA e pelo Plano Nacional de.

(21) 20. Atendimento Socioeducativo (Resolução 160/2013). Sendo assim, convém pôr em relevo que o SINASE representa um marco para mudanças positivas no atendimento dos adolescentes a quem se atribui a prática de ato infracional, uma importante revisão das concepções acerca da adolescência, que supera as representações desta como objeto de controle e disciplinamento social (Rizzini, 2011). Objetiva, de forma primordial, o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos, enquanto promove alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturados em bases éticas e pedagógicas (Mocelin, 2016). Em vista disso, os princípios do SINASE (Tabela 3) visam a regulamentação da execução das medidas socioeducativas, destinadas ao adolescente que pratique ato infracional, a partir da proteção aos direitos fundamentais e do estabelecimento de um modelo de atenção garantista.. Tabela 3 Princípios do atendimento socioeducativo Princípios do SINASE 1. Respeito aos direitos humanos. 2. Responsabilidade solidária da Família, Sociedade e Estado. 3. Adolescente como pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, sujeito de direitos e responsabilidades. 4. Prioridade absoluta. 5. Legalidade. 6. Respeito ao devido processo legal. 7. Excepcionalidade, brevidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 8. Incolumidade, integridade física e segurança. 9. Respeito à capacidade do adolescente de cumprir a medida; às circunstâncias; à gravidade da infração e às necessidades pedagógicas do adolescente na escolha da medida, com preferência pelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 10. Incompletude institucional..

(22) 21. 11. Garantia de atendimento especializado para adolescentes com deficiência. 12. Municipalização do atendimento. 13. Descentralização político administrativa. 14. Gestão democrática e participativa na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. 15. Corresponsabilidade no financiamento do atendimento às medidas socioeducativas. 16. Mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade.. Para tanto, na organização do SINASE (Figura 1), são indicadas competências, atribuições e recomendações aos órgãos de deliberação, gestão e execução da política socioeducativa e de controle, bem como de entidades envolvidas direta ou indiretamente no atendimento ao adolescente em conflito com a lei, no processo de apuração, aplicação e execução de medidas socioeducativas.. Orgão de deliberação União Estados Municípios. Órgãos de gestão e execução da Política União Estados Municípios. Órgãos de controle União Estados Municípios. Financiamento União Estados Municípios. Entidades de Atendimento Estados Municípios ONGs. Figura 1. Organograma do SINASE (CONANDA & SEDH, 2006).. Além disso, o SINASE busca, enquanto sistema integrado, articular, em todo o território nacional, os Governos Estaduais e Municipais, o Sistema de Justiça, as políticas.

(23) 22. setoriais básicas (Assistência Social, Saúde, Educação, Cultura, etc.), para assegurar efetividade e eficácia na execução das Medidas Socioeducativas de Meio Aberto, de Privação e Restrição de Liberdade, aplicadas ao adolescente que infracionou. Claro está, portanto, que o atendimento ao adolescente em conflito com a lei não é privativo do SINASE, mas também compete às diversas políticas públicas e aos eixos do Sistema de Garantias de Direitos (Figura 2), que devem, em conjunto, operacionalizar os programas de atendimento em meio aberto e de privação de liberdade. Portanto, é perceptível que a incompletude institucional é um conceito importante e que, se não observada, poderá comprometer o alcance da proteção integral. Isto é, a atenção integral requer ações globais entre as várias políticas (Lei nº 8.069, 1990). Revela-se, assim, a lógica presente no SINASE quanto à concepção inevitável de um conjunto articulado de ações governamentais e nãogovernamentais, para a estruturação das políticas de atenção à infância e à juventude.. Sistema Único de Saúde. Sistema Educacional. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Sistema Único de Assistência Social. Sistema de Justiça e Segurança Pública. Figura 2. Sistema de Garantia de Direitos. Acrescenta-se que, nesse novo formato da gestão da política pública da socioeducação, os princípios gerais da gestão do atendimento socioeducativo visam a intencionalidade.

(24) 23. pedagógica, a prevalência das medidas socioeducativas em meio aberto, a regionalização, a gestão democrática e com participação social, a incompletude institucional e a responsabilidade da gestão na garantia do processo legal (CONANDA & SEDH, 2006).. 2.2. A interface SUAS e SINASE. Desde 2006, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) passam a normatizar, associadamente, a gestão da política de atendimento socioeducativo e, desse modo, compartilham os parâmetros para oferta de serviços, financiamento, utilização de recursos, participação popular, controle social, planejamento, monitoramento e avaliação. O SUAS é um modelo de administração descentralizado e participativo, que regula e organiza as ações socioassistenciais, em todo o território nacional (Ministério do Desenvolvimento Social [MDS], 2004). O SINASE, por sua vez, é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa (lei 12.594, 2012). O SUAS e o SINASE almejam normatizar a prescrição de ações socioassistenciais ou socioeducativas, em todo o território brasileiro, atribuindo competências e constituindo ações nas três esferas de governo e da sociedade civil. Todavia, o SUAS regula os serviços socioassistenciais destinados aos sujeitos sem condições de aprovisionar a respectiva subsistência de forma durável ou efêmera, e o SINASE regulamenta a ação da política de Assistência Social como integrante do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) (Gomes, 2012). O SUAS funciona conforme a esfera de governo, com definição clara das competências técnico-políticas e participação/mobilização da sociedade civil. Já o SINASE,.

(25) 24. atua a partir do encadeamento e integração do coletivo social com as instâncias públicas governamentais, em particular os órgãos e entidades integrantes que operacionalizam as ações da assistência social. Os serviços socioassistenciais são organizados em concordância com as seguintes menções: vigilância social, proteção social e defesa social (MDS, 2004). De acordo a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) (Lei 8.742, 1993), a proteção social se propende à defesa da vida, ao arrefecimento de agravos e à precaução da incidência de riscos. Essa referência subdivide-se em duas seções: proteção social básica e proteção social especial. A primeira aspira precautelar situações de risco, enquanto que a outra visa o enfrentamento das situações de violação de direitos. Nesse âmbito, dada as normas da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, dispostas na Resolução nº 109 (2009) do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), os Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) são incumbidos da oferta do Serviços de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Assim, o CREAS passa a ser também, entre as diversas políticas públicas envolvidas, estrutura básica do modelo de gestão e execução do SINASE. Dessa forma, reafirma-se o pacto cooperativo a ser estabelecido entre o SINASE e o SUAS e, em especial, a municipalização do atendimento socioeducativo. Vale mencionar que os princípios e diretrizes do SUAS e do SINASE não são coincidentes, mas não se contradizem. Ambos os sistemas, portanto, se fortalecem mutuamente, pois que os dois preconizam o respeito à dignidade do cidadão, a responsabilização do Estado, sociedade e a família, a integralidade da atenção e do sujeito, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e outras coisas mais. Muitos são os eixos de aproximação entre o SUAS e o SINASE, no entanto, ainda resta a discussão sobre qual política pública deverá assumir a coordenação do SINASE no.

(26) 25. âmbito estadual, municipal e do Distrito Federal. Ainda assim, a interface SUAS e SINASE é necessária à Doutrina da Proteção Integral, visto que ambos definem as competências e promovem a interação entre as três esferas de governo e destas com a sociedade civil. À vista disso, é fundamental, portanto, afirmar que a combinação SUAS/SINASE retrata um estratagema com potencialidade para o desmantelamento dos entraves institucionais e sociais, tal como para o fortalecimento da lei 12.594 (2012). Cumpre destacar que, dada sua atual promulgação, muitos desafios estão postos na adaptação, articulação e efetiva implementação dos preceitos do SINASE.. 2.2.1. O papel dos municípios na política de atendimento socioeducativo. A municipalização do atendimento às medidas socioeducativas em meio aberto é uma normativa de referência para as ações de assistência socioeducativa, que exige papel ativo dos municípios brasileiros na política de atendimento socioeducativo. Pôr a cargo do município às medidas socioeducativas significa dizer que a instituição municipal deve delinear sua política de atendimento socioeducativo dentro ou próximo de seus limites territoriais, porquanto que é no contexto municipal que surgem os conflitos, as contradições e as demandas sociais (Instituto Brasileiro de Administração Municipal [IBAM], 2008). Diante do exposto, torna-se crucial a reestruturação das políticas públicas, já que a execução das medidas em âmbito municipal é concebida como a melhor opção para dar forma ao direito à convivência familiar e comunitária, no ínterim do curso da (re)integração social dos jovens (Fundo das Nações Unidas para a Infância [UNICEF], 2014). Para esse fim, os governos municipais vivenciam atribuições, até então inéditas, na construção histórica do atendimento socioeducativo, e tendo em conta as demandas e especificidades locais da população assistida..

(27) 26. Em síntese, conforme o CONANDA e SEDH (2006), “o acesso às políticas sociais, indispensável ao desenvolvimento dos adolescentes, dar-se-á, preferencialmente, por meio dos equipamentos públicos mais próximos do local de residência do adolescente (pais ou responsáveis) ou de cumprimento da medida” (p. 24). Além disso, as consequências e efeitos da municipalização para o corpo social também não podem ser ignoradas. Submeter as medidas socioeducativas ao regime municipal estimula o fortalecimento do protagonismo da comunidade e da família dos e das adolescentes atendidos(as). Evita-se, assim, o estigma social de que o adolescente autor de ato infracional deve ser enviado para o isolamento em unidades de internação. Além do mais, fomenta-se o compromisso social da comunidade para com a administração, solução e prevenção dos conflitos.. 2.2.2. Fluxo do atendimento socioeducativo em Natal (RN). Esta seção descreve os caminhos trilhados pelos adolescentes no sistema socioeducativo do município do Natal (RN). Trata-se de uma descrição sumária, que intenciona apresentar as etapas que antecedem a inserção dos adolescentes nos Programas de Meio Aberto, situar os agentes envolvidos e identificar a situação e o contexto no qual o problema de pesquisa se insere.. a) Fase policial. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, prontamente, encaminhado ao poder judiciário. Quando apreendido em flagrante de ato infracional, será, desde logo,.

(28) 27. conduzido à autoridade policial, preferencialmente em repartição policial especializada.1 Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será liberado de imediato, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação, para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.. b) Fase ministerial. Ocorre, na fase ministerial, a oitiva informal, prática processual administrativa pela qual o adolescente, a quem se atribui autoria de ato infracional, é apresentado ao Promotor de Justiça do Ministério Público (MP),2 para prestar explicações relevantes à apuração e autoria do ato infracional. Dadas as informações, o representante do MP poderá: promover o arquivamento dos autos, conceder a remissão ou representar à autoridade judiciária para aplicação de medida socioeducativa (Lei nº 8.069, 1990).. c) Fase judicial. É o ato processual que integra o sistema de apuração de ato infracional conferido ao adolescente. Então, o adolescente implicado é apresentado ao magistrado competente e terá a ocasião de dar seu ponto de vista do ocorrido, pelo qual está sendo representado (denúncia), ao poder judiciário. Após a oitiva do adolescente e seu responsável, o Juiz irá se posicionar quanto: a) à aceitação da denúncia; b) à internação provisória; c) à ratificação da remissão. 1. DEA – Delegacia Especializada de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei.. 2. 65ª Promotoria de Justiça da Comarca de Natal..

(29) 28. oferecida pelo MP; d) ao oferecimento de remissão; e) a continuação do processo, gerando a intimação da defesa para oferecimento de Defesa Prévia. A audiência de instrução e julgamento é a audiência posterior à de apresentação, que ocorre quando o magistrado acolheu a representação do Ministério Público. Essa é a etapa em que será composto o processo e, provavelmente, será pronunciada a sentença condenatória ou absolvitória.. Fase policial. Liberado com pais ou responsáveis. Internação provisória. Fase ministerial Fase judicial Liberado com pais ou responsáveis. Medida socioeducativa Privação de liberdade. Programas em meio aberto. Figura 3. Fluxograma do atendimento socioeducativo. 2.2.3. Dos programas de meio aberto. Os Programas de Meio Aberto são entidades gestoras do atendimento socioeducativo, que atrelam as esferas públicas governamentais e da sociedade civil a cooperar para que o procedimento de responsabilização do adolescente contraia um caráter educativo, de modo que as medidas socioeducativas (re)instituam direitos, interrompam o percurso infracional e possibilitem aos adolescentes a inclusão social, educacional, profissional, etc. Compete aos.

(30) 29. municípios a direção dos Programas de Meio Aberto e, a este último, a preparação e realização do atendimento socioeducativo. A entidade executiva precisa conduzir a inscrição de seu programa, tal como das Unidades de Prestação de Serviços, nos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).3 São atribuições dos programas, conforme a lei n. 12.594/2012: orientar adolescentes e seus responsáveis sobre a finalidade da medida; selecionar e credenciar orientadores; encaminhar o adolescente para o orientador credenciado; supervisionar e avaliar o desenvolvimento da medida. É outorgado, ainda, ao programa, a realização de convênios4 com as Unidades de PSC, devendo esse procedimento ocorrer em função da situação pessoal, familiar e comunitária do adolescente. Na execução da medida, a equipe mínima deve ser composta por: um técnico para cada vinte adolescentes; um profissional de nível superior ou com função de gerência ou coordenação, proveniente da unidade de prestação de serviços, para cada grupo de até dez adolescentes; e um guia socioeducativo, profissional da unidade ligado ao exercício da atividade realizada pelo adolescente, para até dois adolescentes simultaneamente (CONANDA & SEDH, 2006). Os programas em funcionamento são (re)avaliados pelo CMDCA, no máximo, a cada dois anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de funcionamento. Atuam também como instâncias de controle, o Judiciário, o Ministério Público e os Conselhos Tutelares. Destarte, a política de atendimento ao adolescente se configura como, eminentemente, uma política pública de caráter intersetorial/interdisciplinar.. O Conselho exercer o “controle social” sobre a atuação do Governo na área infanto-juvenil, zelando para que este cumpra seus deveres para com os adolescentes e suas respectivas famílias, bem como para que sejam respeitadas as normas e princípios que norteiam a matéria. 3. 4. A seleção e credenciamento das unidades condicionam-se a presença e disponibilidade destas entidades no território de abrangência dos municípios. Julgando procedente, poderá o Ministério Público ou autoridade judiciária impugnar o convênio que adequar-se ou aviltar o ECA..

(31) 30. A fiscalização a ser desempenhada pelos órgãos legitimados deverá abranger tanto os aspectos físicos dos estabelecimentos como os aspectos pedagógicos adotados pelos dirigentes das entidades e executados pelos técnicos e monitores. Dessa forma, assegura-se um plano de trabalho compatível com os princípios do Estatuto e a proteção dos socioeducandos que se encontram sob os cuidados dos dirigentes das entidades.. 2.2.4. O enfoque educacional da PSC: educação pelo trabalho ou socioeducação?. Antes de tudo, parece importante resgatar os antecedentes históricos implicados na conjuntura que culminaram no advento da referida medida. Sabe-se que, em meados do século XVI, o trabalho passou a ser incutido por um novo ethos, que suscitou uma abrupta mudança mundial, no cenário político, econômico e social. Diferentemente de outrora, o trabalho não está posto para a condição humana apenas como labor, subsistência, em vez disso, está especialmente dotado de valor intrínseco (Weber, 2007). Destarte, o aviltamento do trabalho manual que, na formação da cultura ocidental, figurou, desde a antiguidade clássica, como expressão do indigno, passou a também designar, nas sociedades escravistas, em especial na cultura brasileira, a diferenciação entre as relações sociais de produção. O modo de produção escravista afastou a mão de obra livre do trabalho manual e impôs a depreciação pelos ofícios artesanais e manufatureiros, na época do Brasil Colônia e Império (Cunha, 2000). Os trabalhos cultos e eruditos eram privilégio das classes senhoriais, sobrando, à maior parte dos indivíduos livres e pobres, o trabalho braçal. Dessa maneira, a atividade manual fora abandonada pelos trabalhadores brancos e livres, de maneira que o trabalho físico era imposto aos escravos e seus descendentes, em especial aos que não possuíam meios para resistir, crianças e adolescentes..

(32) 31. Os preconceitos contra o trabalho manual não envolviam apenas a mera discriminação em direção a atividade física, mas também, e principalmente, contra aqueles que a realizavam. Por conseguinte, a atividade manual era definida socialmente como objeto de rejeição. Diante de tal situação, “o resultado foi o trabalho e a aprendizagem compulsórios: ensinar ofícios a crianças e jovens que não tivessem escolha” (Cunha, 2005, p. 23). Dessa forma, sob o delineamento de diversos projetos e programas de ensino,5 se desejou a instrução de crianças para a construção de um país em que as estruturas e as desigualdades sociais continuassem inalteradas, sob o pretexto de uma educação elementar comum e de uma cidadania administrada e restrita para a grande parte da população (Schueler, 1999). Na transição do trabalho escravo para o livre, ocorre a emergência histórica da separação entre trabalho e educação. A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e outra para a classe não proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho (Saviani, 2007, p. 155).. Durante o caminho do império para a república, a conjuntura política e social, no início do século XX, era demasiadamente conturbada. Nesse contexto, se estabelecia a inquietação com a “delinquência” juvenil. A ênfase no combate à situação irregular das crianças e adolescentes agregava uma concepção mais extensa de controle social, político e cultural. Nesse diapasão, o ensino de ofícios artesanais e manufatureiros se revestiu de uma aparência educacional/correcional com o fim de auxiliar e reabilitar a infância pobre e criminalizada (Pilotti & Rizzini, 2011).. 5. Ver Colégio das Fábricas (1808) (Recuperado de http://linux.an.gov.br/mapa/?p=3451); Instituto de Menores Artesãos da Casa de Correção da Corte (1861) (Recuperado de http://linux.an.gov.br/mapa/?p=7419); Asilo dos Meninos Desvalidos (1874) (Recuperado de http://linux.an.gov.br/mapa/?p=7459)..

(33) 32. Sob essa atmosfera, vigorou, nas instituições de internamento infantojuvenil do século XX, o trabalho manual e físico, como prática de “ressocialização”. Neste ínterim, originaramse as entidades que se utilizavam do trabalho como elemento educativo, disciplinador, formativo e reabilitador (Londono, 1997; Passetti, 1997). Assim, as instituições disciplinares, orientadas a partir do art. 202 do Código Mello Mattos, poderiam oferecer o aprendizado de diversos ofícios, como, por exemplo: costura e trabalhos de agulha; lavagem de roupa; engomagem; cozinha; manufatura de chapéus; datilografia; jardinagem, horticultura, pomicultura e criação de aves (Decreto nº 17.943-A, 1927). É oportuno consignar que que tal proposta não se fundamenta no projeto educacional de Educação pelo Trabalho, implantado pelo pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa (Costa, 2006), que consiste em um processo formativo com vistas a promoção de uma cultura da trabalhabilidade. Ao contrário, o trabalho é concebido como mecanismo de conservação do status quo vigente, que mirava o desenvolvimento de mão de obra barata, disciplinada e com escassa capacidade reivindicativa (Foucault, 1999). Em 1985, a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), na sua resolução 40/33, estabelece as Regras de Beijing e convida os Estados membros a adaptarem, quando possível, as suas leis, normas e políticas nacionais, assim como a dá-las a conhecer. As regras, entre outras coisas, enumeram práticas importantes adotadas com sucesso em diferentes sistemas jurídicos, para evitar, tanto quanto possível, o internamento. Assim, as autoridades competentes são encorajadas a segui-las e aperfeiçoá-las. Nessa vereda, a AGNU assevera que a prestação de serviços à comunidade “deve ser sistematicamente planificada e implementada e fazer parte integrante do esforço de desenvolvimento nacional” (Resolução 40/33, 1985). Paralelamente ao processo internacional de reestruturação da Justiça da Infância e da Juventude, o período de redemocratização brasileira (1985-1988) se caracterizou pela.

(34) 33. internalização de uma série de normativas mundiais e nacionais para elaboração e implementação de políticas sociais destinadas ao atendimento à criança e ao adolescente (Passone & Perez, 2010). Assim, diversos marcos legais foram estabelecidos para a elaboração de um novo padrão político, jurídico e social de justiça juvenil. Neste passo, o ECA (Lei nº 8.069, 1990) estabeleceu uma nova base doutrinária, que resultou na total interrupção da norma menorista e, por consequência, instaurou uma nova diretriz em relação ao que deve ser feito para encarar as circunstâncias de violência que envolvem adolescentes em conflito com a lei. Desta feita, o Estatuto institui um padrão de responsabilidade juvenil assentado na Doutrina da Proteção Integral e, diante de tal sorte, dáse início o emprego da PSC no contexto socioeducativo. Conforme a letra da lei, a medida incide na imputação de tarefas gratuitas e ocorrerá em entidades públicas ou em estabelecimentos congêneres, tal qual em programas comunitários ou estatais. Sob a égide do Direito Penal Mínimo, a medida guarda coerência com a pedagogia socioeducativa e opõe-se aos exemplares de justiça fundamentados na perspectiva correcional e repressora (Bandeira, 2006). Sendo assim, pressupõe-se que o serviço comunitário se trate do provimento de utilidades, dispostas para a satisfação das necessidades gerais (Lei nº 8.069, 1990). Portanto, deve ser considerado como prestação de serviços as tarefas de relevância pública, que ambicionem uma dinâmica educativa que beneficie a eclosão de novas competências e integração social (CONANDA & SEDH, 2006). Pelo exposto, vimos que a análise dos dispositivos sociais e conceituais que motivaram o trabalho e o ensino de ofícios às, então denominadas, crianças “pobres” e/ou “desvalidas” evidencia sua relação com o contexto de transformação das relações de trabalho e, consequentemente, com o uso e a exploração da força de trabalho infantojuvenil e a manutenção do status quo. Nesse âmbito, a (re)introdução dos serviços e tarefas na gestão do.

(35) 34. atendimento da justiça juvenil significa um aparente avanço na administração da Justiça da Infância e da Juventude, especialmente em atenção à restauração das relações, a reorganização dos envolvidos e ao empoderamento do coletivo social. Apesar disso, resta ainda incerto se tal medida não se trata de uma nova técnica coercitiva empregada para reprimir a juventude envolvida com atos infracionais.. 2.2.5. Das unidades de prestação de serviços à comunidade. As unidades de prestação de serviços são entidades de natureza comunitária ou governamental,6 sem fins lucrativos, que ofertam atividades que tem por objeto a satisfação das demandas coletivas, como, por exemplo: escolas, entidades assistenciais, hospitais, entre outros. Em resumo, são instituições de serventia pública de importante incumbência política e social. Em geral, são encaminhados a essas organizações os jovens que se adequem às exigências da unidade, residam ou trabalhem nas proximidades da entidade e/ou apresentem escolaridade compatível com as tarefas propostas. Além disso, tal ingresso condiciona-se à disponibilidade da vaga na instituição encaminhada e às características do ato infracional cometido. Feito o encaminhamento do assistido, fica a cargo da instituição que irá recebê-lo: o acolhimento, apresentação da instituição, exposição das normas institucionais e das garantias e deveres, descrição da tarefa a ser executada pelo socioeducando e acompanhamento do mesmo, acordo em relação às horas e dias de serviço e comunicação das faltas e demais intercorrências à equipe do programa de meio aberto.. “Essas instituições devem estar previamente definidas por meio de parcerias interinstitucionais, não existindo impedimento que sejam de âmbito federal, estadual, distrital e municipal” (MDSA, 2016). 6.

(36) 35. Para que a socioeducação se cumpra, é indispensável que, no local onde o adolescente exercerá suas tarefas, exista a pessoa de referência, que exerça a função de educador, ensinando-o a executar a tarefa e estabelecendo com ele relações positivas. Nesse âmbito, a tarefa não deve adquirir um viés punitivo, mas deve colocar em relevo os propósitos educativos na intervenção junto ao adolescente. Acresce que, segundo normativas do SINASE, para tal fim, há nessas entidades dois profissionais que auxiliam o jovem na execução da medida socioeducativa: o profissional de referência socioeducativa, funcionário de nível superior ou com função de gerência ou coordenação da unidade de prestação de serviços, e o guia socioeducativo, profissional da unidade ligado ao exercício da atividade/serviço a ser realizada pelo socioeducando (CONANDA & SEDH, 2006). Esses profissionais oferecem suporte aos socioeducandos, para que eles possam fazer o que é preciso, para fazer o que desejam, por vezes sem conseguir, ajudar a refazer o que já foi feito, evitar fazer sem tê-lo desejado. Além do que, estão incumbidos de acompanhar qualitativamente o cumprimento da medida.. 2.3. A prestação de serviços à comunidade: delineamento normativo, aspectos históricos e representações na sociedade. A Prestação de Serviços à Comunidade se configura como uma determinação judicial, que exige que um adolescente autor de ato infracional preste serviços comunitários socialmente benéficos, não remunerados e sob supervisão, em vez de ir para a prisão. Vale ressaltar, ainda, que a medida inclui a participação em atividades de desenvolvimento pessoal, educação ou outros. Em outras palavras, em substituição de uma sentença de internação, o poder judiciário pode fazer uma solicitação de serviço comunitário, direcionando o adolescente para realizar.

(37) 36. tarefas por um número específico de horas. Trata-se de uma alternativa à custódia e oferece aos adolescentes a chance de reparar suas ofensas, ao realizar uma tarefa não remunerada em benefício da comunidade. Dar-se-á em entidades assistenciais, escolas, hospitais e outros estabelecimentos congêneres, em entidades comunitárias ou estatais. Conforme a lei, acrescenta-se, ainda, que as tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho (lei nº 8.069, 1990). Dispondo das informações acima, pode-se também afirmar o que a PSC não pode ser. De início, pode-se afirmar que, tal como orienta a lei nº 8.069/1990, a medida não pode constituir-se como atividade perigosa, insalubre ou penosa, realizada em locais prejudiciais à formação e ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social. Acrescenta-se, ainda, que o serviço comunitário não se assemelha com a prática do voluntariado, em razão deste ser consequência de uma disposição espontânea do sujeito e, de forma alguma, podendo ser produto de uma decisão ou imposição externa (Costa, 2011). A PSC, de modo diferente, se dá como medida judicial e, porém, ainda assim, não se configura como algo obrigatório, pois que o efeito compulsório não compreenderá, para os fins de acordos internacionais: qualquer trabalho ou serviço exigido de um indivíduo como consequência de condenação pronunciada por decisão judiciária, contanto que esse trabalho ou serviço seja executado sob a fiscalização e o controle das autoridades públicas e que dito indivíduo não seja posto à disposição de particulares, companhias ou pessoas privadas; ou pequenos trabalhos de uma comunidade, isto é, trabalhos executados no interesse direto da coletividade pelos membros desta, trabalhos que, como tais, podem ser considerados obrigações cívicas normais dos membros da coletividade, contanto, que a própria população ou seus representantes diretos tenham o direito de se pronunciar sobre a necessidade desse trabalho. (Convenção nº 29, 1930)..

(38) 37. A princípio, a Prestação de Serviços à Comunidade, como forma de penalidade, surge no final do século XIX, numa constante busca por formas alternativas ao regime fechado. Essa forma de sanção penal surgiu ante a ideia de que o encarceramento devia ser gradativamente menos utilizado, por trazer maiores consequências com sua aplicação, dentre as quais podemos destacar a superlotação de presídios, os altos custos para a manutenção do sistema e as difíceis relações mantidas pelos presidiários (Cunha, 2016) Um dos principais impulsos por trás da introdução da prestação de serviços comunitários, na maioria das jurisdições, foi o custo. As ordens de serviço comunitário são menos dispendiosas do que a maioria das outras formas de sentença – pelo menos aquelas envolvendo prisão ou outros tipos de supervisão. No entanto, outros efeitos positivos podem ser observados, como, por exemplo: a unidade familiar não é desnecessariamente interrompida; a atividade profissional pode ser mantida; a escolaridade não precisa ser interrompida; menos danos à autoestima serão acumulados; os riscos alternativos elevados de exposição a elementos indesejáveis serão evitados, entre outras coisas. A Rússia foi precursora a apreciar a prestação de serviços à comunidade como alternativa à pena privativa de liberdade, no seu Código de 1960. Outros países do leste europeu, como a Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Tchecoslováquia também introduziram a Prestação de Serviços à Comunidade em suas respectivas legislações (Bandeira, 2006). Já na Europa ocidental, a Inglaterra foi o primeiro país a implantar a prestação de serviços à comunidade (Community Service Order) como pena, por meio do Criminal Justice Act, em 1972, e, em 1982, como sanção aos adolescentes com idade a partir de 16 anos (Criminal Justice Act, 1972). Contagiado pelos festejados sucessos que foram alcançados em alguns países europeus, o legislador brasileiro de 1984 acreditou no potencial não dessocializador da “prestação de serviços à comunidade” e a incorporou ao Código Penal Brasileiro (Decreto-lei.

(39) 38. no 2.848, 1940), como uma das penas restritivas de direitos (Bitencourt, 2014) e, em 13 de julho de 1990,7 ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069) Em 14 de dezembro de 1990, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do 8º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente, adota as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre as Medidas Não-privativas de Liberdade, denominando-as de Regras de Tóquio. Essas Regras Mínimas Padrão exprimem uma série de princípios basais que miram promover o uso de medidas não privativas de liberdade, bem como garantias mínimas para os indivíduos submetidos a medidas substitutivas ao aprisionamento (Conselho Nacional de Justiça [CNJ], 2016). Em 1995, o Brasil estabelece a Lei n. 9.099, que versa sobre os Juizados Cíveis e Criminais e, em 1998, aprova a Lei 9.714, Lei das Penas Alternativas. A Lei 9.099 já traz em seu bojo algumas medidas alternativas à prisão. A Lei 9.714/98, por sua vez, vem sedimentar as penas restritivas de direito, ampliando o leque de medidas até então previstas no ordenamento jurídico brasileiro (Leite, 2016). Em 2006, se estabelece a regulamentação específica para entidades e/ou programas que executam a medida socioeducativa de prestação de serviço à comunidade, a partir da prescrição de uma equipe mínima e da definição das atribuições, responsabilidades e especificações dos requisitos de cada cargo nas entidades/programas (CONANDA & SEDH, 2006). Por fim, em 2016, o Caderno de Orientações Técnicas do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto determina padrões mínimos para o exercício da medida e a existência de normas éticas que garantam a adequada relação de cada adolescente com sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente (MDSA, 2016). Segundo Saraiva, (2006, p. 178) “do ponto de vista das sanções, há medidas socioeducativas que têm a mesma correspondência das penas alternativas, haja vista a prestação de serviços à comunidade, prevista em um e outro sistema, com praticamente o mesmo perfil”. Percebe-se que o Estatuto, mesmo vivendo num período histórico marcado pelo paradigma da proteção e do acolhimento às crianças/adolescentes, ainda adota o adulto como parâmetro para tratar a infância e adolescência. 7.

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