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Sobre a classificação dos autómatos celulares elementares finitos

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Academic year: 2020

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Isabel Maria Maciel de Aguiar

outubro de 2014

Sobre a Classificação dos Autómatos

Celulares Elementares Finitos

UMinho|20

14

Isabel Maria Maciel de A

guiar

Sobre a Classificação dos Autómatos Celulares Element

ares F

initos

Universidade do Minho

(2)

Isabel Maria Maciel de Aguiar

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Ciências – Formação Contínua de Professores

Sobre a Classificação dos Autómatos

Celulares Elementares Finitos

Universidade do Minho

Escola de Ciências

Trabalho realizado sob a orientação do

Doutor Ricardo José Mendes Severino

(3)

Nome

Isabel Maria Maciel de Aguiar

Endereço electrónico: isabelaguiar0@gmail.com

Número do Bilhete de Identidade: 8188416

Título dissertação

Sobre a Classificação dos Autómatos Celulares Elementares

Orientador:

Doutor Ricardo José Mendes Severino

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado:

Mestrado em Ciências – Formação Contínua de Professores

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, ___/10/2014

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Isabel Maria Maciel de Aguiar

Sobre a Classifica¸

ao dos Aut´

omatos

Celulares Elementares Finitos

Disserta¸c˜ao de Mestrado Mestrado em Ciˆencias – Forma¸c˜ao Cont´ınua de Professores

Universidade do Minho

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Agradecimentos

Expresso o meu profundo agradecimento ao orientador, Professor Doutor Ricardo Se-verino, pela disponibilidade e apoio demonstrados desde o primeiro dia. Real¸co a forma entusi´astica como partilhou o seu saber acerca do tema, as atitudes assertivas e palavras incentivadoras, contribuindo decisivamente para a minha motiva¸c˜ao, desempenho e apren-dizagem. Foi um enorme privil´egio ter sido por ele acompanhada!

`

A minha fam´ılia, pela paciˆencia e dedica¸c˜ao durante este per´ıodo. De uma forma espe-cial, aos meus filhos Joana e Pedro, pelo carinho e curiosidade demonstrados.

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Mestrado: em Ciˆencias – Forma¸c˜ao Cont´ınua de Professores Nome do aluno: Isabel Maria Maciel de Aguiar

Disserta¸c˜ao: Sobre a classifica¸c˜ao dos aut´omatos celulares elementares finitos

Resumo

Os aut´omatos celulares elementares s˜ao os modelos de evolu¸c˜ao temporal mais simples com capacidade para exibir comportamento complicado. Por isso, ´e muito f´acil de aceitar a importˆancia do seu estudo, quando se procura entender a complexidade que vemos surgir de uma forma transversal em todas as Ciˆencias Naturais e Humanas.

A classifica¸c˜ao dos aut´omatos celulares elementares, apresentada por Stephen Wolfram, na d´ecada de 1980, foi constru´ıda a partir da simula¸c˜ao computacional de sistemas finitos, com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas. Neste trabalho s˜ao consideradas outras escolhas para condi¸c˜oes de fronteira, por reflex˜ao e fixas, sendo estudadas as equivalˆencias dinˆamicas dos aut´omatos celulares finitos nesse contexto mais alargado. A partir desse estudo, mostramos que, com pouqu´ıssimas exce¸c˜oes, a distribui¸c˜ao dos aut´omatos celulares elementares pelas quatro classes propostas por Wolfram vale igualmente quando se consideram condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao e fixas.

Mais interessante por´em, foram os resultados obtidos no estudo de duas dessas exce¸c˜oes, onde se encontrou um tipo de comportamento para aut´omatos celulares elementares de carater´ısticas n˜ao antecipadas por Wolfram na sua classifica¸c˜ao.

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Master Degree in: Science — Mathematics Teaching in Secondary School Name of the student: Isabel Maria Maciel de Aguiar

Dissertation: On the classification of finite elementary cellular automata

Abstract

Elementary cellular automata are the simplest temporal evolution models still capable of displaying complex behaviour. So it is easy to accept the importance of its study, when looking to understand the intricacy we find throughought all Natural and Social Sciences.

The elementary cellular automata classification proposed by Stephen Wolfram, in the 1980s, was built from the computer simulation of finite systems, with periodic boundary conditions. In this paper, other choices for boudary conditions are considered, by reflexion and fixed, and the finite cellular automata’s dynamic equivalences are analysed regarding this broader context. From this study, we show, with very few exceptions, that the distribution of the elementar cellular automata by the four classes presented by Wolfram is consistent when considering reflexion and fixed boundary conditions.

The most interesting though, were the results found in the study of two of those ex-ceptions, where it was found a kind of behaviour for elementary cellular automata with characteristics not predicted by Wolfram in his classification.

(8)

Conte´

udo

1 Introdu¸c˜ao 1

2 Aut´omatos Celulares Elementares 6

2.1 Conceitos b´asicos sobre aut´omatos celulares elementares . . . 6

2.1.1 Configura¸c˜ao de um aut´omato celular elementar . . . 6

2.1.2 Dinˆamica de um aut´omato celular elementar . . . 7

2.1.3 Condi¸c˜oes de fronteira para aut´omatos celulares elementares finitos 10 2.1.4 Atratores e bacias de atra¸c˜ao . . . 14

2.1.5 Representa¸c˜ao de Wolfram de uma regra de transi¸c˜ao . . . 17

2.2 Diagramas de Wuensche . . . 19

2.3 Equivalˆencia dinˆamica entre aut´omatos celulares elementares . . . 24

2.3.1 Simetria por conjuga¸c˜ao . . . 25

2.3.2 Simetria especular . . . 32

2.3.3 Composi¸c˜ao da simetria por conjuga¸c˜ao com a simetria especular . 39 3 As Dinˆamicas dos Aut´omatos Celulares Elementares 44 3.1 Dinˆamicas para diferentes escolhas da condi¸c˜ao de fronteira . . . 44

3.2 As regras de transi¸c˜ao Nφ= 30, Nφ= 45 e Nφ= 106 . . . 133

3.3 As regras de transi¸c˜ao Nφ= 26 e Nφ= 154 . . . 134

4 Classifica¸c˜ao dos Aut´omatos Celulares Elementares 135 4.1 A classifica¸c˜ao de Wolfram . . . 138

(9)

4.1.1 Classe I . . . 140

4.1.2 Classe II . . . 143

4.1.3 Classe III . . . 151

4.1.4 Classe IV . . . 158

4.1.5 Outras carateriza¸c˜oes da classifica¸c˜ao de Wolfram . . . 161

4.2 Uma outra classifica¸c˜ao . . . 163

4.3 Os aut´omatos celulares 2600, 2610, 15400 e 15410 . . . 166

5 Conclus˜oes 192

(10)

Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

Nos prim´ordios, o Homem olhava para a natureza como uma fonte de recursos que provia a sua alimenta¸c˜ao e prote¸c˜ao. Pouca a compreendia, mas respeitava-a. O seu fraco entendimento cimentava-se, na maioria das vezes, na pr´opria experiˆencia de vida ou no misticismo. Mais tarde, na ˆansia de a controlar em seu proveito, come¸cou a adotar formas de a modificar produzindo plantas, criando animais, construindo artefactos, controlando o fogo e a ´agua, etc.

Desde h´a muitos s´eculos que o Homem passou a interpretar e racionalizar a natureza num contexto chamado de Ciˆencia, come¸cando a observar e estudar os fen´omenos f´ısicos, qu´ımicos e biol´ogicos. Inicialmente, o desejo de a compreender baseava-se na busca do simples, do regular e do equil´ıbrio est´avel. Deste modo, a natureza revelava-se simples e ao alcance do entendimento humano. Com o estudo da dinˆamica, iniciado por Isaac Newton, por volta de 1665, cria-se um novo ramo da Matem´atica. Formalizam-se e estudam-se modelos matem´aticos para sistemas que evoluem no tempo de acordo com uma regra, expressa analiticamente na forma de um sistema de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias. A partir do final do s´eculo dezanove, alguns matem´aticos e f´ısicos, continuando a olhar para a natureza, viram que o simples, por vezes, torna-se complicado. Deste modo, o estudo do simples deu lugar ao estudo do complexo, o do regular ao do irregular e o do peri´odico ao do aperi´odico.

De forma simplificada, a geometria da natureza pode ser vista como a geometria frac-tal1, com toda a sua irregularidade e estruturas complexas e fragmentadas. Em 1963, o matem´atico ucraniano A.N. Sharkovsky apresentou uma nova ordem dos n´umeros naturais, a ordem do caos. ´E a ordem que aparece nos sistemas simb´olicos que descrevem os fluxos

1

O termo fractal foi adotado por Benoit Mandelbrot, para identificar uma fam´ılia de formas que descrevem padr˜oes irregulares e fragmentados da natureza.

(11)

de informa¸c˜ao, nos sistemas de codifica¸c˜ao e nos sistemas inteligentes. Com o novo s´eculo surge tamb´em a sociedade da tecnologia, da informa¸c˜ao e comunica¸c˜ao. Alan Turing, ma-tem´atico britˆanico, introduz, em 1936, novas ”m´aquinas”, hoje conhecidas por m´aquinas de Turing, inicia a teoria da computabilidade e formaliza a computabilidade das fun¸c˜oes. A natureza vai servir ent˜ao de fonte de inspira¸c˜ao para o desenvolvimento de t´ecnicas: mode-lar, simular e emular fen´omenos e mecanismos naturais em computador. Mas, para isso, foi fundamental o trabalho de um dos mais importantes matem´aticos do s´eculo XX, John von Neumann.

John von Neumann, matem´atico norte-americano, de origem h´ungara, nascido em 1903, foi, de m´ultiplas formas, pioneiro na forma de pensar o computador. De facto, para al´em do conhecido envolvimento na constru¸c˜ao do computador digital de alta velocidade EDVAC, von Neumann foi tamb´em um grande promotor da utiliza¸c˜ao do computador como uma valiosa ferramenta matem´atica: segundo o pr´oprio, as solu¸c˜oes computacionais ajudariam na descoberta de conceitos ´uteis, na formula¸c˜ao de princ´ıpios gerais e na constru¸c˜ao de teorias. O ”uso heur´ıstico” dos computadores seria semelhante e poderia ser combinado com o tradicional m´etodo hipot´etico, dedutivo e experimental das Ciˆencias Naturais. Nas palavras de von Neumann,

”many branches of both pure or applied mathematics are in great need of computing instruments to break the present stalemate created by failure of the purely analytical approach to non-linear problems. (. . . ) really efficient

high-speed computing devices may, in the field of non-linear partial differential equations as well as in many other fields, which are now difficult or entirely denied access, provide us with those heuristic hints which are needed in all parts of mathematics for genuine progress.”

Se nos lembrarmos o que, na altura, era um computador, um sistema gigantesco `a base de v´alvulas, com uma fraqu´ıssima fiabilidade e uma velocidade de processamento incompara-velmente inferior `a dos atuais, n˜ao deixa de ser surpreendente a vis˜ao de von Neumann e como prof´eticas foram as suas palavras2. De certa forma, von Neumann conseguiu prever que, no futuro, a Matem´atica, e as Ciˆencias em geral, iriam conseguir abordar problemas de cariz completamente diferente, sendo que os computadores providenciariam uma excelente oportunidade para esse tipo de estudos.

2Sobretudo se pensarmos que, para a sua concretiza¸ao, foi necess´ario esperar trˆes d´ecadas, pela cons-tru¸c˜ao de sistemas computacionais simb´olicos.

(12)

Nas suas pesquisas, relacionadas com o desenvolvimento de computadores mais potentes e a sua programa¸c˜ao, von Neumann aceitou uma sugest˜ao do seu amigo Stanislaw Ulam. Este matem´atico, que estudava a forma¸c˜ao de cristais utilizando como modelo uma grelha, que apelidava de espa¸co celular, tinha como paix˜ao a cria¸c˜ao de jogos matem´aticos que produziam padr˜oes geom´etricos, por vezes estranhos. A sugest˜ao foi ent˜ao no sentido de von Neumann usar um sistema discreto, um espa¸co celular, para procurar criar um modelo de autorreplica¸c˜ao. Deste modo, surgiu o ”copiador e construtor universal”, isto ´e, uma ”m´aquina”capaz de reproduzir qualquer outra ”m´aquina”, inclusive a ela pr´opria. A c´opia, deste modo obtida, teria as mesmas carater´ısticas do original, sendo por isso tamb´em capaz de se autorreproduzir. A ideia passou por considerar um conjunto fixo e bastante universal de conex˜oes, ou circuitos, na ”m´aquina”, um ”fluxograma”e um ”c´odigo”. Von Neumann resolveu este problema, de regress˜ao infinita, da seguinte forma: a descri¸c˜ao agiria primeiro como um genoma, sendo interpretado, a fim de construir uma c´opia do construtor univer-sal; a descri¸c˜ao seria ent˜ao literalmente copiada. Deste modo, foi introduzido o primeiro aut´omato celular, tendo por base uma grelha bidimensional, constitu´ıda por 200 000 c´elulas, onde cada c´elula do sistema podia assumir um de 29 estados. Estes estados variavam ao longo do tempo de acordo com regras deterministas, eram descritos por s´ımbolos indicati-vos da sua funcionalidade. Assim, o estado de uma c´elula, num instante t, seria obtido em fun¸c˜ao do estado, no instante anterior, de um n´umero finito de c´elulas na sua vizinhan¸ca. Essa vizinhan¸ca, hoje conhecida por vizinhan¸ca de von Neumann, corresponde ao conjunto de quatro c´elulas adjacentes, ou cinco, se incluirmos a pr´opria. Embora as regras referidas fossem as mesmas para todos os componentes do sistema, o estado das c´elulas do sistema poderia variar de forma muito complexa com o tempo, podendo originar novos sistemas e chegando at´e `a sua autorreprodu¸c˜ao.

Para von Neumann, a teoria dos aut´omatos celulares tinha como objectivo construir um corpo coerente de conceitos e princ´ıpios relacionados com a estrutura e organiza¸c˜ao de sistemas naturais e artificiais, com o papel da linguagem e informa¸c˜ao nesses sistemas e com a sua programa¸c˜ao e controlo. Seria ent˜ao uma ´area interm´edia entre a l´ogica, a teoria da comunica¸c˜ao e a fisiologia. Nesse sentido, podemos afirmar que a conce¸c˜ao de von Neumann sobre a teoria dos aut´omatos celulares estava muito pr´oxima da conce¸c˜ao de ci-bern´etica de Norbert Wiener3, tendo sido mutuamente influenciadas4. No entanto, a teoria 3Norbert Wiener, matem´atico nascido, em 1894, nos Estados Unidos da Am´erica, foi um dos impulsionado-res da Cibern´etica, tendo publicado, em 1948, o importante livro Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the Machine.

4

(13)

dos aut´omatos celulares dava mais ˆenfase `a l´ogica e aos computadores digitais, enquanto a cibern´etica orientava-se mais para a fisiologia e engenharia de controlo. Entende-se, deste modo, o vincado car´ater interdisciplinar da teoria dos aut´omatos e, nesse contexto, importa vincar a distin¸c˜ao entre os dois tipos de aut´omatos celulares, artificiais e naturais, apre-sentada por von Neumann. Segundo von Neumann, os computadores anal´ogicos e digitais representavam os aut´omatos celulares artificiais mais importantes, podendo-se tamb´em in-cluir nessa categoria outros sistemas, desenvolvidos por seres humanos, de comunica¸c˜ao e processamento de informa¸c˜ao, tais como, o telefone e o r´adio. Como exemplos de aut´omatos celulares naturais von Neumann apresenta o sistema nervoso, o sistema imunol´ogico, siste-mas autorreprodutivos e sistesiste-mas que envolvem evolu¸c˜ao e adapta¸c˜ao de organismos vivos. Em 1970, o matem´atico John Conway, inventou o conhecido Jogo da Vida, um aut´omato celular bidimensional que simula a evolu¸c˜ao temporal de sistemas de c´elulas biol´ogicas. Divulgado, pela primeira vez, na popular coluna de jogos matem´aticos que Martin Gardner, durante muitos anos, manteve na revista de divulga¸c˜ao cient´ıfica, Scientific American, o Jogo da Vida chamou novamente a aten¸c˜ao dos meios acad´emicos para os aut´omatos celulares. A ideia base do jogo parte de uma configura¸c˜ao simples de c´elulas vivas (organismos), a que se aplicam quatro ”leis gen´eticas”para nascimentos, mortes e sobrevivˆencia. Deste modo, a cada instante, surge uma nova gera¸c˜ao de c´elulas. Estas regras ou leis podem ser descritas do seguinte modo: uma c´elula viva, com menos de dois vizinhos vivos, morre; uma c´elula viva, com mais de trˆes vizinhos vivos, morre; uma c´elula morta, com exatamente trˆes vizinhos vivos, torna-se uma c´elula viva e, finalmente, uma c´elula viva, com dois ou trˆes vizinhos vivos, continua no mesmo estado para a pr´oxima gera¸c˜ao. Este aut´omato celular, embora simples, ´e capaz de revelar uma evolu¸c˜ao temporal com padr˜oes surpreendentes e complexos, tendo sido essa complexidade, a partir do nada, que fascinou um numeroso grupo de seguidores, ao longo de v´arias d´ecadas.

No in´ıcio da d´ecada de 1980, o f´ısico inglˆes Stephen Wolfram procurava responder a certas quest˜oes relacionadas com acontecimentos quotidianos ou fen´omenos naturais, tais como: qual ´e a origem dos padr˜oes complicados que se observam nos flu´ıdos dinˆamicos? Como s˜ao produzidos os padr˜oes sofisticados dos flocos de neve? Qual ´e o mecanismo b´asico que est´a na origem no modo de crescimento complexo de certas plantas e animais?

A partir das experiˆencias computacionais realizadas, Wolfram mostrou que aut´omatos celulares extremamente simples, neste caso, cadeias unidimensionais de elementos em in-tera¸c˜ao com os seus vizinhos diretos, assumindo cada c´elula o estado zero ou um, tinham

(14)

ainda capacidade de exibir comportamentos muito complicados. Mais tarde, na obra que publicou em 2002, A New Kind of Science, Wolfram argumenta que, a constata¸c˜ao de que sistemas muito simples, cuja evolu¸c˜ao temporal ´e determinada por regras igualmente sim-ples, a partir de configura¸c˜oes iniciais sem qualquer estrutura, podem exibir comportamentos complicados, ´e o fen´omeno b´asico respons´avel pela maioria da complexidade verific´avel na natureza.

Hoje em dia, podemos dizer que o estudo dos aut´omatos celulares ocupa um lugar de destaque na Matem´atica e em diversificadas ´areas cient´ıficas. Devido `a sua capacidade de gerar uma ampla variedade de padr˜oes comportamentais, por vezes complexos, apesar das suas muito simples regras de evolu¸c˜ao temporal, algumas das dinˆamicas exibidas pelos aut´omatos celulares mostram grandes semelhan¸cas com comportamentos, auto-organizados e complexos, observados na Natureza. Desta forma, temos que os aut´omatos celulares provi-denciam um modelo, matematicamente rigoroso, mas simultaneamente muito simples, para estudar sistemas dinˆamicos discretos, que envolvam componentes que interagem localmente, gerando, na sua evolu¸c˜ao, complexidade e comportamentos imprevis´ıveis.

O conceito de aut´omato celular elementar, proposto por Wolfram, encontra-se desen-volvido ao longo do Cap´ıtulo 2, onde essencialmente se abordam conceitos b´asicos e a equivalˆencia dinˆamica entre aut´omatos celulares elementares. No Cap´ıtulo 3, o estudo recai sobre as dinˆamicas dos aut´omatos celulares elementares finitos, para diferentes escolhas da condi¸c˜ao de fronteira. Finalmente, no Cap´ıtulo 4, propomos uma classifica¸c˜ao das regras de transi¸c˜ao independentemente das condi¸c˜oes de fronteira escolhidas para os aut´omatos celulares elementares finitos. Ao estudar as cinco regras de transi¸c˜ao que n˜ao se enquadram na classifica¸c˜ao proposta por n´os, mostramos que duas delas exibem comportamentos muito diversos, com diferentes escolhas para as condi¸c˜oes de fronteira.

(15)

Cap´ıtulo 2

Aut´

omatos Celulares Elementares

Stephen Wolfram, na d´ecada de 80, introduziu os aut´omatos celulares elementares como modelos matem´aticos simples de sistemas naturais. Segundo Wolfram, os aut´omatos celu-lares podem ser considerados como idealiza¸c˜ao discreta das equa¸c˜oes diferenciais parciais frequentemente utilizadas para descrever sistemas naturais. Essa natureza discreta tamb´em permite a analogia com computadores digitais, pois os aut´omatos celulares podem ser vistos como computadores de processamento paralelo (ou seja, o processamento dos elementos de um sistema evolui simultaneamente e independentemente) e de constru¸c˜ao simplificada.

Hoje em dia existem muitas generaliza¸c˜oes do conceito de aut´omato celular inicialmente proposto por Wolfram. Neste cap´ıtulo iremos apresentar uma abordagem aos aut´omatos celulares por ele estudados, habitualmente designados por aut´omatos celulares elementares.

2.1

Conceitos b´

asicos sobre aut´

omatos celulares elementares

Um aut´omato celular elementar ´e um sistema dinˆamico discreto no espa¸co, no tempo e nos estados que cada um dos seus elementos pode assumir. De seguida, importa pormeno-rizar o significado desta afirma¸c˜ao.

2.1.1 Configura¸c˜ao de um aut´omato celular elementar

Um aut´omato celular elementar consiste num conjunto infinito ou finito de elementos, habitualmente designados por c´elulas, dispostos ao longo de uma linha reta, podendo cada um desses elementos estar num de dois estados, descritos pelos valores 0 e 1.

(16)

Defini¸c˜ao 2.1 Dado um aut´omato celular elementar, vamos chamar configura¸c˜ao do sis-tema ao conjunto dos estados que cada uma das suas c´elulas assume.

Caso o n´umero de c´elulas do sistema seja finito, a configura¸c˜ao do sistema vai ser represen-tada por

A = a1a2. . . an, (2.1)

onde por ai se denota o estado em que se encontra a c´elula na posi¸c˜ao i. Se o n´umero de

c´elulas do sistema ´e infinito, ent˜ao a configura¸c˜ao do sistema vai ser representada por A = . . . a−2a−1a0 a1 a2 . . . . (2.2)

Por exemplo, para um aut´omato celular elementar composto por vinte c´elulas, temos que

A = 01001011100101001001 (2.3)

´e uma configura¸c˜ao poss´ıvel. Na figura seguinte, apresenta-se essa configura¸c˜ao grafica-mente, onde as c´elulas do sistema s˜ao representadas por quadrados dispostos ao longo de um segmento de reta e a configura¸c˜ao do sistema ´e obtida pintando cada c´elula de acordo com o seu estado: um quadrado branco representa uma c´elula no estado 0 e um quadrado preto uma c´elula no estado 1.

Figura 2.1: Configura¸c˜ao de um aut´omato celular elementar com vinte c´elulas, onde as c´elulas no estado 0 s˜ao representadas por quadrados brancos e as c´elulas no estado 1 s˜ao representadas por quadrados pretos.

Neste trabalho vamos estudar apenas aut´omatos celulares com um n´umero finito de elementos. Por isso, muito embora alguns resultados sejam v´alidos para ambos os tipos de sistemas, estes ser˜ao apresentados apenas no contexto mais restrito que nos interessa.

Os aut´omatos celulares elementares s˜ao modelos de evolu¸c˜ao temporal. Vejamos de seguida de que forma se permite que um aut´omato modifique a sua configura¸c˜ao com o passar do tempo.

2.1.2 Dinˆamica de um aut´omato celular elementar

Num aut´omato celular elementar, o estado de cada c´elula evolui em instantes discretos de tempo, de acordo com uma certa regra de transi¸c˜ao, comum para todas as c´elulas do sistema, sendo esta aplicada de forma s´ıncrona para todas elas.

(17)

Por defini¸c˜ao, para aut´omatos celulares elementares, a regra que determina o estado de cada c´elula, no instante seguinte, depende do estado de trˆes c´elulas: a pr´opria c´elula, a c´elula `a sua esquerda e a c´elula `a sua direita. Temos assim que uma regra de transi¸c˜ao ´e uma fun¸c˜ao booleana com trˆes vari´aveis φ : {0, 1}3 → {0, 1}.

Como vimos, a regra de transi¸c˜ao determina, a partir da configura¸c˜ao do sistema num instante t, qual ser´a a configura¸c˜ao que o sistema assumir´a no instante t + 1. Localmente, a transi¸c˜ao ´e feita a partir do conhecimento do estado da pr´opria c´elula e do estado das suas c´elulas vizinhas. Deste modo, existem 23= 8 configura¸c˜oes distintas para os estados dessas trˆes c´elulas e assim explicitar uma regra de transi¸c˜ao significa estabelecer uma resposta para cada uma dessas configura¸c˜oes. Uma vez que essa resposta ´e um valor booleano, podemos concluir que existem apenas 28= 256 regras de transi¸c˜ao diferentes, ou seja, 256 aut´omatos celulares elementares distintos. Por curiosidade, vejamos qual o n´umero de regras que se obt´em quando alteramos alguns destes parˆametros.

Para aut´omatos celulares elementares considera-se que a regra de transi¸c˜ao depende do estado de um conjunto de trˆes c´elulas. Se, por exemplo, considerarmos vizinhan¸cas com-postas por 5 c´elulas, o n´umero de regras distintas sobe imediatamente para 4 294 967 296, uma vez que agora estamos perante uma fun¸c˜ao booleana com cinco vari´aveis, logo existem 25 = 32 configura¸c˜oes distintas para o conjunto de c´elulas consideradas, e assim temos que o n´umero de fun¸c˜oes diferentes ´e dado por 232. Por outro lado, se, em vez de aut´omatos celulares onde o estado de cada c´elula assume um valor booleano, considerarmos aut´omatos com estados tomando valores num conjunto um pouco maior, por exemplo, em {0, 1, 2}, conservando ainda a sua dependˆencia na configura¸c˜ao de um conjunto de trˆes vizinhos, o n´umero de regras atinge n´umeros inacreditavelmente grandes! De facto, nesse caso existem 33 = 27 configura¸oes poss´ıveis para os conjuntos de trˆes c´elulas e assim, temos que

exis-tem 327 regras de transi¸c˜ao distintas, um n´umero bem superior ao anterior, sendo dado por 7 625 597 484 987 ≈ 7.6 × 1012.

No caso geral, se denotarmos por d o n´umero de estados que cada c´elula do sistema pode assumir e por k o n´umero de c´elulas que influenciam a evolu¸c˜ao temporal de cada c´elula, temos que existem dkconfigura¸c˜oes poss´ıveis para os conjuntos de k c´elulas, da´ı que o n´umero de regras de transi¸c˜ao distintas venha dado por ddk.

Existem v´arias formas de explicitar uma regra de transi¸c˜ao para um aut´omato celular elementar. De seguida, vamos apresentar trˆes dessas representa¸c˜oes. Tratando-se de uma fun¸c˜ao booleana, ´e sempre poss´ıvel escrever o seu resultado a partir das opera¸c˜oes booleanas

(18)

mais simples. Por exemplo, se escrevermos

φ(x, y, z) = (x + y + z) mod 2, (2.4) temos perfeitamente explicitado o resultado da fun¸c˜ao para qualquer valor dos seus argu-mentos1. Contudo, este tipo de representa¸c˜ao de uma fun¸c˜ao booleana nem sempre ´e t˜ao simples como o exemplo mostrado. Por essa raz˜ao, ´e por vezes conveniente usar um outro tipo de explicita¸c˜ao, neste caso, atrav´es de uma tabela.

A regra de transi¸c˜ao local de um aut´omato celular elementar pode ser apresentada da seguinte forma:

111 110 101 100 011 010 001 000 d7 d6 d5 d4 d3 d2 d1 d0

Tabela 2.1: Representa¸c˜ao tabular de uma fun¸c˜ao booleana com trˆes vari´aveis.

onde numa primeira linha s˜ao apresentadas todas as oito configura¸c˜oes poss´ıveis para o conjunto de trˆes c´elulas, colocando-se imediatamente por baixo o valor di = φ(x, y, z), com

i = 4x + 2y + z, que a fun¸c˜ao determina para cada uma dessas configura¸c˜oes. A justifica¸c˜ao para o modo de escrita de cada uma das respostas ser´a evidente mais tarde. Voltando `a fun¸c˜ao booleana explicitada em (2.4), temos que a sua representa¸c˜ao tabular ´e dada por:

111 110 101 100 011 010 001 000

1 0 0 1 0 1 1 0

Tabela 2.2: Representa¸c˜ao tabular da fun¸c˜ao booleana descrita em (2.4).

Por fim, a terceira e ´ultima das representa¸c˜oes que vamos apresentar para uma fun¸c˜ao booleana passa por utilizar um gr´afico.

A representa¸c˜ao gr´afica da fun¸c˜ao booleana, que determina a evolu¸c˜ao temporal de um aut´omato celular elementar, passa fundamentalmente por atribuir uma cor a cada um dos valores do estado de uma c´elula e seguir a representa¸c˜ao tabular proposta anteriormente. Assim, tal como referimos anteriormente, vamos come¸car por fazer corresponder uma c´elula a um quadrado, que se apresentar´a pintado de branco, se o estado dessa c´elula for zero, e pintado de preto, caso esse estado seja igual a um. Deste modo, podemos mostrar num gr´afico as oito configura¸c˜oes poss´ıveis para os conjuntos de trˆes c´elulas, acrescentando por

1

A escrita de cada uma das 256 fun¸c˜oes booleanas em termos de opera¸c˜oes booleanas elementares, pode ser vista no livro de Stephen Wolfram, A New Kind of Science.

(19)

baixo da c´elula central, o estado que a fun¸c˜ao booleana determina para ela, no instante seguinte.

d0 d1 d2 d3 d4 d5 d6 d7

Figura 2.2: Representa¸c˜ao gr´afica de uma fun¸c˜ao booleana. Neste caso, os quadrados correspondentes ao estado da c´elula central no instante seguinte vir˜ao pintados de branco, caso di seja nulo, ou de preto, caso contr´ario.

Para o exemplo de fun¸c˜ao booleana anterior, temos que a sua representa¸c˜ao gr´afica ´e dada da seguinte forma:

Figura 2.3: Representa¸c˜ao gr´afica da fun¸c˜ao booleana explicitada em (2.4).

No caso de sistemas com um n´umero infinito de elementos, verifica-se facilmente que a regra de transi¸c˜ao local φ determina a evolu¸c˜ao da totalidade do sistema: de facto, se, num certo instante o sistema assume a configura¸c˜ao A = (ai), com i ∈ Z, ent˜ao assumir´a

a configura¸c˜ao A0 = (a0i), com i ∈ Z no instante seguinte, onde

a0i = φ(ai−1, ai, ai+1), i ∈ Z. (2.5)

Deste modo, vamos poder falar de um aut´omato celular elementar φ e dizer que existem 256 aut´omatos celulares elementares distintos, tantos quantas as fun¸c˜oes booleanas φ diferentes. Contudo, quando estamos a estudar a dinˆamica de sistemas com um n´umero finito de elementos, surge um problema adicional que ´e preciso resolver: como definir as vizinhan¸cas para a primeira e a ´ultima c´elulas do sistema. Desse modo, ´e evidente que a dinˆamica do aut´omato celular elementar n˜ao vai ficar definida apenas atrav´es da explicita¸c˜ao de uma regra de transi¸c˜ao local φ, sendo tamb´em necess´ario escolher condi¸c˜oes de fronteira para o sistema.

2.1.3 Condi¸c˜oes de fronteira para aut´omatos celulares elementares finitos

Como j´a foi referido, num aut´omato celular elementar, a regra de transi¸c˜ao que determina o estado de cada c´elula, no instante seguinte, depende do estado da pr´opria c´elula e do

(20)

estado das duas c´elulas que lhe s˜ao adjacentes. Ora, para sistemas com um n´umero finito de elementos, ´e evidente que o primeiro parˆametro da regra de transi¸c˜ao local para a primeira c´elula do sistema est´a indefinido, assim como o terceiro parˆametro da regra de transi¸c˜ao local para a ´ultima das c´elulas do sistema. De seguida, iremos resolver esta quest˜ao apresentando seis diferentes condi¸c˜oes de fronteira para o sistema2.

Condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas

Num aut´omato celular elementar com um n´umero finito de elementos, dizemos que as condi¸c˜oes de fronteira s˜ao peri´odicas quando escolhemos como vizinha esquerda da primeira c´elula a ´ultima c´elula do sistema e para vizinha direita da ´ultima a primeira c´elula do sistema. Desta forma, se o sistema assume a configura¸c˜ao A = (ai), com i = 1, . . . , n, num certo

instante, temos que a configura¸c˜ao A0 = (a0i), com i = 1, . . . , n, que assumir´a no instante seguinte ´e dada por

           a01= φ(an, a1, a2)

a0i= φ(ai−1, ai, ai+1), i = 2, . . . , n − 1

a0n= φ(an−1, an, a1)

(2.6)

Esta escolha para condi¸c˜oes de fronteira determina que o sistema assuma uma estrutura c´ıclica, fechada sobre si mesma, a partir da continuidade na forma como as c´elulas est˜ao dispostas ao longo de uma circunferˆencia. Na figura seguinte mostramos a configura¸c˜ao de um sistema com vinte c´elulas apresentada anteriormente em (2.3), considerando condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas.

Figura 2.4: Representa¸c˜ao gr´afica da configura¸c˜ao considerada em (2.3), considerando condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas para o sistema.

Como facilmente se percebe, esta forma de apresentar o sistema, sendo verdadeira, n˜ao ´e de todo a que nos mostra de forma clara a configura¸c˜ao que o sistema assume naquele 2Naturalmente que as seis condi¸oes para a fronteira do sistema que vamos considerar n˜ao esgotam todas as possibilidades, mas podemos dizer que, de certa forma, s˜ao as mais importantes.

(21)

instante. Por essa raz˜ao, as configura¸c˜oes com estrutura c´ıclica, correspondentes a sistemas com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, passaram a ser representadas da forma que de seguida se descreve.

Consideremos uma configura¸c˜ao correspondente a um sistema com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas e imaginemos que ´e efetuado um corte na configura¸c˜ao de modo a separar duas das suas c´elulas. Com este procedimento, vamos de novo obter um conjunto de c´elulas dispostas ao longo de um segmento de reta, onde as c´elulas que foram separadas v˜ao surgir como pertencentes a uma fronteira meramente virtual, gerada pelo nosso corte. Na figura seguinte apresentamos um exemplo, onde, para al´em da configura¸c˜ao do sistema, se incluem a ´ultima c´elula do sistema, colocada `a esquerda, e a primeira c´elula do sistema, colocada `a direita, por forma a n˜ao s´o relembrar o car´ater c´ıclico do sistema, mas tamb´em para facilitar o c´alculo do estado das c´elulas da fronteira do sistema no instante seguinte.

Figura 2.5: Representa¸c˜ao gr´afica da configura¸c˜ao considerada em onde se mostra, tamb´em, as duas c´elulas que representam as condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas do sistema.

Condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao

A segunda solu¸c˜ao para definir as vizinhan¸cas das c´elulas, situadas na fronteira de siste-mas com um n´umero finito de elementos, tem a sua origem em condi¸c˜oes de fronteira que habitualmente se consideram em equa¸c˜oes diferenciais. Neste caso, cada uma das c´elulas da fronteira do sistema vai tomar para parˆametro em falta uma c´opia de si pr´opria: s˜ao por isso chamadas condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao. Assim, se o sistema assume a configura¸c˜ao A = (ai), com i = 1, . . . , n, num certo instante, temos que a configura¸c˜ao A0 = (a0i), com

i = 1, . . . , n, que assumir´a no instante seguinte ´e dada por:            a01= φ(a1, a1, a2)

a0i= φ(ai−1, ai, ai+1), i = 2, . . . , n − 1

a0n= φ(an−1, an, an)

(2.7)

Neste caso, ao contr´ario dos sistemas com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, os sistemas v˜ao conservar a geometria inicial de um conjunto de c´elulas dispostas ao longo de um segmento de reta. As condi¸c˜oes de fronteira, agora, imp˜oem apenas a n˜ao varia¸c˜ao do estado `a esquerda e `a direita, respetivamente, da primeira e da ´ultima c´elulas. Assim sendo, a representa¸c˜ao gr´afica destes sistemas ´e muito semelhante ao que foi anteriormente

(22)

mostrado: a figura seguinte mostra a configura¸c˜ao (2.3), onde desta vez se incluem tamb´em as c´elulas, que n˜ao pertencendo ao sistema, correspondem `a escolha de condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao.

Figura 2.6: Representa¸c˜ao gr´afica da configura¸c˜ao apresentada em (2.3), onde se mostra, tamb´em, as c´elulas virtuais `a esquerda e `a direita cujos estados correspondem a condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao.

Condi¸c˜oes de fronteira fixas

Por fim, vamos apresentar a situa¸c˜ao, tamb´em ela comum em condi¸c˜oes de fronteira para equa¸c˜oes diferenciais, em que se consideram condi¸c˜oes de fronteira fixas para os sistemas. Por outras palavras, esta escolha corresponde a considerar duas c´elulas virtuais, `a esquerda e `a direita do sistema, cujo estado, ae e ad, respetivamente, permanece invariante com o

tempo. Deste modo, se o sistema assume a configura¸c˜ao A = (ai), com i = 1, . . . , n, num

certo instante, temos que a configura¸c˜ao A0 = (a0i), com i = 1, . . . , n, que assumir´a no instante seguinte ´e dada por:

           a01= φ(ae, a1, a2)

a0i= φ(ai−1, ai, ai+1), i = 2, . . . , n − 1

a0n= φ(an−1, an, ad)

(2.8)

onde ae, ad ∈ {0, 1}. Tal como no caso anterior, a representa¸c˜ao gr´afica da configura¸c˜ao

de um sistema com estas condi¸c˜oes de fronteira fixas corresponde exatamente `a coloca¸c˜ao de um conjunto de c´elulas ao longo de um segmento de reta. Na figura seguinte, vamos representar o sistema assumindo a configura¸c˜ao apresentada em (2.3) e as duas c´elulas virtuais correspondentes a condi¸c˜oes de fronteira fixas, neste caso para valores ae= ad= 0.

Figura 2.7: Representa¸c˜ao gr´afica da configura¸c˜ao apresentada em (2.3), onde se mostram, tamb´em, as duas c´elulas virtuais cujos estados correspondem `a escolha de condi¸c˜oes de fronteira fixas nulas.

Estas s˜ao as escolhas de condi¸c˜oes de fronteira para os sistemas que vamos considerar neste trabalho. Por outras palavras, iremos estudar aut´omatos celulares elementares finitos (φ, α), onde α ∈ {p, r, 00, 01, 10, 11} explicita a condi¸c˜ao de fronteira escolhida para o

(23)

sistema. Para facilitar a nota¸c˜ao, a partir de agora um aut´omato celular elementar finito ser´a denotado pela regra de transi¸c˜ao global Φα, que determina a configura¸c˜ao, no instante

seguinte, a partir da configura¸c˜ao assumida pelo sistema num determinado instante. Assim, supondo que o sistema assume a configura¸c˜ao A = (ai), com i = 1, . . . , n, teremos que

no instante seguinte ser´a levado a assumir a configura¸c˜ao A0 = (a0i) dada por (2.6), caso α = p, ou dada por (2.7), caso α = r, ou ainda por (2.8), caso α = aead.

2.1.4 Atratores e bacias de atra¸c˜ao

Como ficou desde logo patente com os primeiros trabalhos de Wolfram, a representa¸c˜ao gr´afica da dinˆamica de um aut´omato celular tem um papel fundamental no seu estudo: chamaremos diagrama espa¸co-tempo `a representa¸c˜ao gr´afica do conjunto das configura¸c˜oes que o sistema assume durante um certo intervalo de tempo.

Consideremos a dinˆamica do aut´omato celular elementar Φp composto por 20 c´elulas,

ao longo de trˆes instantes de tempo, a partir da configura¸c˜ao inicial A = 01001011100101001001

cuja evolu¸c˜ao temporal se faz de acordo com a regra de transi¸c˜ao apresentada em (2.4). O diagrama espa¸co-tempo, que vai representar a dinˆamica do sistema, vai ser obtido apresen-tando as configura¸c˜oes assumidas para valores de t crescentes por baixo umas das outras. Dessa forma, a figura constru´ıda tem o espa¸co, isto ´e, o conjunto de c´elulas dispostas ao longo de um segmento de reta, no eixo horizontal, e o tempo no eixo vertical, com valores crescentes de t de cima para baixo. A figura seguinte mostra-nos o diagrama espa¸co-tempo da dinˆamica nos primeiros trˆes instantes de tempo.

(t = 0) (t = 1) (t = 2) (t = 3)

Figura 2.8: Diagrama espa¸co-tempo da evolu¸c˜ao temporal de um aut´omato celular elementar composto por 20 c´elulas, para os trˆes primeiros instantes de tempo, com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, de acordo com a regra de transi¸c˜ao φ descrita em (2.4).

(24)

Contrariamente ao que ´e habitual, neste diagrama espa¸co-tempo estamos a acrescentar, `a esquerda e `a direita das configura¸c˜oes assumidas pelo sistema em cada instante, as c´elulas virtuais correspondentes `a escolha de condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, tal como a indica¸c˜ao dos instantes correspondentes. Naturalmente que, em querendo construir estes diagramas para sistemas com maior n´umero de c´elulas e para intervalos de tempo mais longos, seremos levados a simplificar, mostrando apenas as configura¸c˜oes assumidas pelo sistema, uma vez que a restante informa¸c˜ao ´e redundante. Estes diagramas s˜ao muitas vezes suficientes para apreender alguns dos aspetos mais importantes da dinˆamica do aut´omato celular.

Consideremos agora um sistema constitu´ıdo por 12 c´elulas, cuja evolu¸c˜ao temporal ´e uma vez mais determinada pela regra de transi¸c˜ao (2.4), escolhendo ainda condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas. Na figura seguinte ´e apresentado o diagrama espa¸co-tempo da dinˆamica que se observa a partir da configura¸c˜ao inicial A = 111011100101.

Figura 2.9: Diagrama espa¸co-tempo da evolu¸c˜ao temporal do aut´omato celular elementar constitu´ıdo por 12 c´elulas, ao longo de seis instantes de tempo, cuja regra de transi¸c˜ao ´e dada por (2.4), com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas.

A partir deste diagrama espa¸co-tempo, ´e facilmente percet´ıvel que, ap´os alguns escassos instantes, o sistema vai repetir para sempre uma mesma configura¸c˜ao, neste caso a confi-gura¸c˜ao A0 = 010101010101. A repeti¸c˜ao para sempre desta configura¸c˜ao pode ser forma-lizada como Φp(A0) = A0, sendo por isso natural designar esta configura¸c˜ao por ponto fixo

do aut´omato.

Defini¸c˜ao 2.2 Uma configura¸c˜ao A diz-se um ponto fixo de um aut´omato celular elementar Φα se Φα(A) = A.

Contudo, este n˜ao ´e o ´unico destino poss´ıvel para a dinˆamica de um aut´omato celular elementar, sen˜ao vejamos: ainda para um sistema composto por 12 c´elulas, cuja dinˆamica ´e determinada pela regra de transi¸c˜ao (2.4), mas desta vez considerando condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao, atentemos no diagrama espa¸co-tempo que descreve a dinˆamica a partir da configura¸c˜ao inicial A = 111010110001.

(25)

Figura 2.10: Diagrama espa¸co-tempo da evolu¸c˜ao temporal do aut´omato celular elementar constitu´ıdo por 12 c´elulas, ao longo de seis instantes de tempo, cuja regra de transi¸c˜ao ´e dada por (2.4), com condi¸c˜oes de fronteira por reflex˜ao.

Como podemos observar, o diagrama espa¸co-tempo mostra-nos claramente que desta vez o sistema vai acabar por repetir ciclicamente um conjunto de quatro configura¸c˜oes. Tal como fizemos anteriormente, podemos formalizar esse facto da seguinte forma: denotemos por B, C, D, E as configura¸c˜oes que o sistema assume nos instantes t = 2, 3, 4, 5, respetiva-mente; ent˜ao, verifica-se que Φr(B) = C, Φr(C) = D, Φr(D) = E e Φr(E) = B. Uma vez

que estamos perante uma repeti¸c˜ao c´ıclica de um conjunto de quatro configura¸c˜oes, vamos dizer que o sistema tem como destino um ciclo de configura¸c˜oes.

Defini¸c˜ao 2.3 Dado um aut´omato celular Φα, dizemos que um conjunto {A1, A2, . . . , Ap}

de configura¸c˜oes ´e um ciclo para Φα se

             Φα(A1) = A2 .. . Φα(Ap−1) = Ap Φα(Ap) = A1

O n´umero de elementos de um ciclo diz-se o seu per´ıodo. No exemplo anterior, temos que o destino da dinˆamica ´e um ciclo de per´ıodo 4. Muitas vezes, com um abuso de linguagem, tamb´em se diz que um ponto fixo ´e um ciclo de per´ıodo um.

Quando consideramos aut´omatos celulares finitos temos imediatamente que o n´umero de configura¸c˜oes, que o sistema pode assumir, ´e tamb´em em n´umero finito. Este facto permite concluir que, qualquer que seja a configura¸c˜ao inicial, o destino da dinˆamica de um aut´omato celular, com um n´umero finito de elementos, ´e sempre um ponto fixo ou um ciclo. Por outras palavras, a dinˆamica de um aut´omato celular com um n´umero finito de elementos acaba sempre com a repeti¸c˜ao de uma configura¸c˜ao, um ponto fixo, ou com a repeti¸c˜ao c´ıclica de um conjunto de configura¸c˜oes, um ciclo. Por influˆencia da Teoria dos

(26)

Sistemas Dinˆamicos, os poss´ıveis destinos para as dinˆamicas de um aut´omato celular s˜ao chamados os atratores do aut´omato.

Defini¸c˜ao 2.4 Diz-se que um conjunto de configura¸c˜oes A = {A1, . . . , Am}, com m ≥ 1,

´e um atrator do aut´omato celular Φα, se Φα(Ak) ∈ A, para todo Ak∈ A, mas o mesmo j´a

n˜ao acontece para qualquer subconjunto pr´oprio e n˜ao vazio de A.

Associado a cada atrator de um aut´omato celular vamos ter o conjunto das configura¸c˜oes cujas dinˆamicas tˆem esse atrator como destino.

Defini¸c˜ao 2.5 Dado um atrator A de um aut´omato celular elementar, chama-se bacia de atra¸c˜ao de A, B(A), ao conjunto das configura¸c˜oes a partir das quais ´e poss´ıvel ao sistema chegar a uma configura¸c˜ao pertencente a A.

Escolhida uma configura¸c˜ao inicial para o sistema, o n´umero de instantes necess´arios para o sistema chegar ao atrator traduz uma medida da sua distˆancia ao atrator. ´E nesse sentido que vamos poder dizer que uma configura¸c˜ao se encontra mais pr´oxima que outra do atrator. Naturalmente, de uma configura¸c˜ao pertencente ao atrator, diremos que se encontra a uma distˆancia zero.

Escolhido um aut´omato celular elementar, o conhecimento de todas as suas bacias de atra¸c˜ao ´e equivalente a conhecer com todo o detalhe as dinˆamicas admiss´ıveis por esse aut´omato. Por isso, para sistemas com um n´umero razo´avel de c´elulas, estaremos sempre perante uma gigantesca quantidade de informa¸c˜ao que dificilmente teremos capacidade de apreender, o que limita o estudo de todas as dinˆamicas poss´ıveis para um aut´omato celular.

2.1.5 Representa¸c˜ao de Wolfram de uma regra de transi¸c˜ao

Logo nos seus primeiros trabalhos, Wolfram introduziu uma forma muito sucinta de representar uma regra de transi¸c˜ao local por um n´umero inteiro.

Defini¸c˜ao 2.6 Dada uma regra de transi¸c˜ao local φ, chama-se representa¸c˜ao de Wolfram de φ, ao n´umero inteiro Nφ dado por

Nφ= (d7d6d5d4d3d2d1d0)2= 7

X

k=0

dk2k, (2.9)

(27)

Para o exemplo apresentado em (2.4), temos que

d0 = 0 d1 = 1 d2= 1 d3= 0

d4 = 1 d5 = 0 d6= 0 d7= 1

pelo que a representa¸c˜ao de Wolfram da regra de transi¸c˜ao local φ descrita em (2.4) ´e dada por Nφ= (10010110)2= 150.

Inversamente, dada a representa¸c˜ao de Wolfram de uma regra de transi¸c˜ao local, facil-mente se chega `a sua explicita¸c˜ao. Por exemplo, seja Nφ= 30 a representa¸c˜ao de Wolfram

de uma regra de transi¸c˜ao local. Ent˜ao, uma vez que 30 = (00011110)2, conclui-se

imedi-atamente que a sua regra de transi¸c˜ao ´e dada por

Figura 2.11: Representa¸c˜ao gr´afica da regra de transi¸c˜ao local φ com representa¸c˜ao de Wolfram Nφ= 30.

Neste caso, e como ´e habitual, apresentamos as diferentes configura¸c˜oes da vizinhan¸ca do aut´omato celular elementar por ordem decrescente, por forma a que a leitura dos d´ıgitos da representa¸c˜ao bin´aria seja direta.

Esta ideia de representar os elementos de uma fam´ılia de regras de transi¸c˜ao local por um n´umero inteiro pode ser generalizada: definido o conjunto de todas as configura¸c˜oes para a vizinhan¸ca de cada c´elula do sistema, basta assumir uma certa ordem para elas e imediatamente a representa¸c˜ao por um n´umero inteiro surge da escrita, na base k, das respostas que a regra assume para cada uma dessas configura¸c˜oes, sendo k o n´umero de estados distintos que um elemento do aut´omato celular pode assumir.

De seguida, vamos introduzir uma representa¸c˜ao gr´afica das bacias de atra¸c˜ao, logo, de todas as dinˆamicas admiss´ıveis, de um aut´omato celular elementar. Como foi mencionado anteriormente, estes gr´aficos pretendem facilitar a assimila¸c˜ao de uma quantidade muito grande de informa¸c˜ao, muito embora a sua efic´acia esteja limitada a valores baixos para o n´umero de elementos do sistema.

(28)

2.2

Diagramas de Wuensche

Em 1992, Andrew Wuensche propˆos uma representa¸c˜ao gr´afica para a totalidade das dinˆamicas admiss´ıveis para os aut´omatos celulares com um n´umero finito de elementos. Como nesse gr´afico vamos querer incluir todas as configura¸c˜oes do sistema, facilmente se depreende que se trata de algo s´o pratic´avel para sistemas com um n´umero muito pequeno de elementos.

De seguida, vamos construir o diagrama de Wuensche para o aut´omato celular elementar composto por n = 5 c´elulas, cuja evolu¸c˜ao temporal ´e determinada pela regra de transi¸c˜ao com representa¸c˜ao de Wolfram Nφ= 143, assumindo-se condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas.

Para tal, vamos come¸car por encontrar qual a configura¸c˜ao do sistema ap´os um instante de tempo, considerando todas as configura¸c˜oes iniciais poss´ıveis para o sistema. A tabela seguinte mostra, graficamente, o resultado desse estudo.

Tabela 2.3: Evolu¸c˜ao temporal determinada pela regra com representa¸c˜ao de Wolfram Nφ = 143, a partir de todas as poss´ıveis configura¸c˜oes de um sistema com n = 5 c´elulas,

consideradas condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas.

Observando a tabela anterior, verifica-se que a configura¸c˜ao A = 11111 se mant´em inva-riante, isto ´e, que Φp(A) = A, logo estamos perante um atrator do sistema, que passaremos

a designar por A1.

A informa¸c˜ao apresentada na Tabela 2.3, muito embora diga apenas respeito `a evolu¸c˜ao temporal do sistema ap´os um instante de tempo, permite conhecer a totalidade das dinˆamicas do aut´omato, qualquer que seja a configura¸c˜ao inicial escolhida e para qualquer intervalo de tempo. Assim sendo, com uma an´alise mais detalhada dessa tabela ´e poss´ıvel cons-tatar existirem dois conjuntos, formados, respetivamente, por cinco e dez configura¸c˜oes, onde ´e patente uma repeti¸c˜ao c´ıclica entre elas, logo s˜ao tamb´em atratores para o sistema. Graficamente, esses ciclos de configura¸c˜oes podem ser apresentados do seguinte modo: o primeiro dos ciclos, que designaremos por A2, ´e formado pelo seguinte conjunto de cinco

(29)

configura¸c˜oes:

Figura 2.12: Atractor A2 do aut´omato.

O segundo ciclo, de per´ıodo p = 10, ser´a designado por A3 e tem por elementos as seguintes

configura¸c˜oes:

Figura 2.13: Atractor A3 do aut´omato.

Para al´em da identifica¸c˜ao dos atratores do aut´omato celular, a Tabela 2.3 mostra-nos tamb´em que as dinˆamicas, a partir de qualquer outra configura¸c˜ao, v˜ao encontrar o atrator logo ap´os um ou dois instantes de tempo. De seguida, vamos descrever, ainda a partir da mesma tabela, como as restantes configura¸c˜oes se distribuem pelas bacias de atra¸c˜ao de cada um dos atratores.

Como facilmente se observa, logo ap´os um instante de tempo, a configura¸c˜ao 00000 encontra o ponto fixo atrator A1. Assim, esta configura¸c˜ao pertence `a bacia de atra¸c˜ao

B(A1). A partir da Tabela 2.3 ´e tamb´em poss´ıvel concluir que nenhuma outra configura¸c˜ao

encontra, quer a configura¸c˜ao 11111, quer a configura¸c˜ao 00000, pelo que a bacia de atra¸c˜ao B(A1) tem apenas dois elementos:

B(A1) = {11111, 00000}.

Ainda pela Tabela 2.3, verificamos que o sistema, partindo de uma das configura¸c˜oes 00011, 00110, 01100, 01111, 10001, 10111, 11000, 11011, 11101 ou 11110 assume, logo no instante seguinte, uma das configura¸c˜oes do atrator A2; e que o sistema, partindo de uma das

(30)

configura¸c˜oes 00001, 00010, 00100, 01000 ou 10000, assume, ap´os dois instantes de tempo, uma das configura¸c˜oes do mesmo ciclo atrator. Resumindo, temos que

B(A2) = {00111, 01110, 11100, 11001, 10011, 00011, 00110, 01100, 01111, 10001,

10111, 11000, 11011, 11101, 11110, 00001, 00010, 00100, 01000, 10000}. Por fim, tamb´em ´e poss´ıvel concluir, a partir da Tabela 2.3, que nenhuma outra configura¸c˜ao que n˜ao as do atrator A3 pertencem `a sua bacia de atra¸c˜ao, isto ´e, que

B(A3) = {11010, 10010, 10110, 10100, 10101, 00101, 01101, 01001, 01011, 01010}.

Identificadas as trˆes bacias de atra¸c˜ao do aut´omato celular vamos de imediato construir o respetivo diagrama de Wuensche, tendo em conta as seguintes conven¸c˜oes:

• o atrator deve ser colocado no centro da correspondente bacia de atra¸c˜ao;

• um ponto fixo atrator do aut´omato representa-se por um v´ertice; caso n˜ao seja evidente que esse v´ertice ocupa o centro da bacia, acrescenta-se um lacete para lembrar a evolu¸c˜ao para si pr´oprio;

• um ciclo atrator do aut´omato representa-se por um conjunto de v´ertices, unidos por arestas; esses v´ertices devem ser dispostos numa circunferˆencia imagin´aria, estipulando-se que a evolu¸c˜ao temporal d´a-se no sentido negativo, isto ´e, sentido dos ponteiros do rel´ogio;

• qualquer uma das restantes configura¸c˜oes representa-se por um v´ertice que ´e ligado, por uma aresta, ao v´ertice correspondente `a configura¸c˜ao que de seguida vai encontrar; • configura¸c˜oes situadas a uma mesma distˆancia do atrator devem ser dispostas numa circunferˆencia com o atrator como centro; deste modo, a bacia de atra¸c˜ao, vir´a re-presentada por v´ertices colocados em circunferˆencias concˆentricas relativamente ao atrator;

• caso essa informa¸c˜ao n˜ao seja relevante, deve-se simplificar o diagrama omitindo as configura¸c˜oes a que cada v´ertice corresponde; desse modo, o gr´afico que se obt´em apresenta apenas uma informa¸c˜ao qualitativa relativamente `as dinˆamicas admiss´ıveis para o aut´omato em causa.

Atendendo ao que foi anteriormente descrito, observemos na imagem seguinte o diagrama de Wuensche relativo `as dinˆamicas poss´ıveis para o aut´omato celular elementar Nφ= 143,

(31)

Figura 2.14: Diagrama de Wuensche do aut´omato celular elementar Nφ = 143, com

condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, para sistemas com n = 5 elementos.

Como se pode observar, neste caso optamos por incluir um lacete para salientar qual das duas configura¸c˜oes da bacia ´e o ponto fixo atrator.

Para entendermos a efic´acia com que um diagrama de Wuensche descreve as dinˆamicas de um aut´omato celular, vamos de seguida mostrar, sem a respetiva constru¸c˜ao, o diagrama de Wuensche para o aut´omato celular elementar Nφ = 130, com condi¸c˜oes de fronteira

peri´odicas e n = 6 c´elulas. O desafio consiste em ler, a partir da figura, alguns dos aspetos mais importantes das dinˆamicas do aut´omato. Por exemplo, quantos atratores tem, se alguma das bacias ´e muito maior que as outras ou qual a distˆancia m´axima aos atratores em cada uma das bacias.

(32)

Figura 2.15: Diagrama de Wuensche do aut´omato celular elementar Nφ = 130, com

condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, para sistemas com n = 6 elementos.

Por observa¸c˜ao, conclui-se que o diagrama apresenta quatro atratores, dois pontos fixos, as duas configura¸c˜oes homog´eneas, 000000 e 111111, e dois ciclos, um de per´ıodo 3 e outro de per´ıodo 6.

Relativamente ao ponto fixo 000000, ap´os um instante de tempo, cinco configura¸c˜oes v˜ao repetir para sempre a configura¸c˜ao desse ponto fixo. Estas configura¸c˜oes comp˜oem, juntamente com o ponto fixo, a sua bacia de atra¸c˜ao.

Verifica-se tamb´em que um dos ciclos tem per´ıodo trˆes, sendo unicamente composto pelas configura¸c˜oes 100100, 010010 e 001001.

O outro ciclo tem per´ıodo seis e, neste caso, s˜ao as configura¸c˜oes 100000, 010000, 001000, 000100, 000010 e 000001, que s˜ao repetidas interminavelmente. No entanto, neste caso existem estados transit´orios para o atrator, isto ´e, configura¸c˜oes a partir das quais, ap´os alguns instantes de tempo, o sistema vai encontrar o ciclo atrator. Assim, podemos concluir que a bacia de atra¸c˜ao deste ciclo atrator ´e dada por: 18 configura¸c˜oes a um instante do ciclo, 12 configura¸c˜oes a dois instantes do ciclo, 12 a trˆes instantes do ciclo, 6 a quatro instantes do ciclo e, claro est´a, as 6 configura¸c˜oes do ciclo atrator. Atendendo ao n´umero de elementos da bacia de atra¸c˜ao, podemos dizer que, escolhida aleatoriamente uma configura¸c˜ao inicial para o sistema, este vai, com probabilidade aproximadamente igual a 84%, acabar por repetir as configura¸c˜oes deste ciclo atrator.

(33)

Resumidamente, verificamos que, por vezes, as condi¸c˜oes iniciais de um sistema podem--nos levar a resultados muito diferentes. Noutras vezes, variadas condi¸c˜oes iniciais e at´e mesmo diferentes dinˆamicas transit´orias, podem de facto levar ao mesmo atrator. Ou seja, uma an´alise baseada em apenas algumas configura¸c˜oes iniciais podem n˜ao explorar adequadamente o comportamento do sistema. A utiliza¸c˜ao do poder de uma imagem e a arquitetura inerente aos diagramas de Wuensche, permitem comunicar com maior efic´acia e clareza a dinˆamica global do aut´omato celular.

2.3

Equivalˆ

encia dinˆ

amica entre aut´

omatos celulares

elemen-tares

Como j´a referimos, neste trabalho consideramos aut´omatos celulares elementares finitos correspondentes a 256 regras de transi¸c˜ao local distintas e seis escolhas para condi¸c˜oes de fronteira, isto ´e, 1 536 aut´omatos celulares elementares finitos. No entanto, apesar de distintos, isso n˜ao significa que todos eles apresentem dinˆamicas que devam ser consideradas diferentes. Atentemos nos seguintes diagramas espa¸co-tempo correspondentes a regras de transi¸c˜ao local distintas, escolhidas condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas em ambos os casos.

Figura 2.16: Diagramas espa¸co-tempo para regras de transi¸c˜ao local distintas, com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, onde ´e patente que as configura¸c˜oes mostram, em cada instante, uma simetria branco-preto.

Apesar de, em cada instante, termos configura¸c˜oes distintas em cada um dos diagramas, ´e not´oria a alternˆancia dos estados das c´elulas correspondentes, desde as suas configura¸c˜oes iniciais. De alguma forma, aquilo que esta imagem nos sugere ´e que o conhecimento de uma das dinˆamicas nos vai permitir deduzir, sem qualquer ambiguidade, a outra, bastando para tal inverter o estado de cada c´elula. Neste sentido, poderemos antecipar que ser´a redundante estudar ambas as dinˆamicas, sendo l´ıcito dizer, ent˜ao, que as dinˆamicas s˜ao equivalentes.

Introduzindo algumas transforma¸c˜oes de simetria no espa¸co das configura¸c˜oes, ´e poss´ıvel considerar como dinamicamente equivalentes aqueles aut´omatos celulares que preservam

(34)

es-sas transforma¸c˜oes ao longo do tempo. No caso dos aut´omatos celulares elementares finitos, onde as c´elulas do sistema s˜ao disposta ao longo de uma linha reta, essas transforma¸c˜oes v˜ao ser a conjuga¸c˜ao e a simetria especular. Como veremos, o uso dessas duas transforma¸c˜oes e da sua composi¸c˜ao vai-nos permitir reduzir significativamente o n´umero de aut´omatos celulares a estudar, uma vez que alguns deles s˜ao dinamicamente equivalentes. ´E isso que a seguir pretendemos comprovar, come¸cando por estudar cada uma das transforma¸c˜oes acima referidas.

2.3.1 Simetria por conjuga¸c˜ao

A primeira das simetrias que vamos apresentar ´e aquela que ficou patente na Figura 2.16. Vejamos como ´e poss´ıvel formalizar essa ideia.

Defini¸c˜ao 2.7 Duas configura¸c˜oes A = (ai) e A0 = (a0i) de um aut´omato celular elementar

com n c´elulas dizem-se conjugadas, denotando-se por A ∼cA0, se a0i = ¯ai, para i = 1, . . . , n,

com ¯0 = 1 e ¯1 = 0.

Para simplificar, vamos escrever ¯A como sendo a configura¸c˜ao conjugada de A. Olhando para os diagramas espa¸co-tempo apresentados na Figura 2.16, vemos que foram escolhidas configura¸c˜oes conjugadas para iniciar cada uma das dinˆamicas:

Figura 2.17: As duas configura¸c˜oes iniciais dos diagramas espa¸co-tempo da Figura 2.16, onde se reconhece serem configura¸c˜oes conjugadas.

Voltando `a Figura 2.16, aquilo que se observa ´e que as regras de transi¸c˜ao escolhidas foram tais que essa simetria se preservou ao longo do intervalo de tempo considerado. Essa ´e a ideia-chave para a equivalˆencia entre regras de transi¸c˜ao.

Defini¸c˜ao 2.8 Dois aut´omatos celulares elementares finitos Φα e Φ0α0 dizem-se conjugados se, para toda a configura¸c˜ao A, for v´alida a igualdade

Φ0α0(¯A) = Φα(A). (2.10)

Se Φ0α0 ´e um aut´omato celular conjugado de Φα vamos escrever Φ0α0 = Γc(Φα). Uma

outra forma de escrever a igualdade (2.10), onde nos parece ficar mais expl´ıcita a ideia que a dinˆamica de Φ0α0 se obt´em a partir do conhecimento da dinˆamica de Φα, pode ser

(35)

Φ0α0(A) = Φα(¯A), para toda a configura¸c˜ao A. O resultado seguinte apresenta condi¸c˜oes suficientes para que dois aut´omatos celulares elementares finitos sejam conjugados.

Lema 2.1 Sejam Φαe Φ0α0 aut´omatos celulares elementares finitos, com regras de transi¸c˜ao local Nφ= (d7d6d5d4d3d2d1d0)2 e Nφ0 = (d0

7d06d05d04d30d02d01d00)2, respectivamente, tais que

       Nφ0 = ( ¯d01234567)2 α0= α = p ∨ α0= α = r ∨ ( α0 = ¯aea¯d α = aead (2.11)

Ent˜ao, Φα e Φ0α0 s˜ao aut´omatos celulares elementares finitos conjugados, ou seja, tem-se que Φ0α0 = Γc(Φα).

Prova: Da primeira igualdade de (2.11), temos que

d07= φ0(1, 1, 1) = φ0(¯0, ¯0, ¯0) = d0 = φ(0, 0, 0) d06= φ0(1, 1, 0) = φ0(¯0, ¯0, ¯1) = d1 = φ(0, 0, 1) d05= φ0(1, 0, 1) = φ0(¯0, ¯1, ¯0) = d2 = φ(0, 1, 0) d04= φ0(1, 0, 0) = φ0(¯0, ¯1, ¯1) = d3 = φ(0, 1, 1) d03= φ0(0, 1, 1) = φ0(¯1, ¯0, ¯0) = d4 = φ(1, 0, 0) d02= φ0(0, 1, 0) = φ0(¯1, ¯0, ¯1) = d5 = φ(1, 0, 1) d01= φ0(0, 0, 1) = φ0(¯1, ¯1, ¯0) = d6 = φ(1, 1, 0) d00= φ0(0, 0, 0) = φ0(¯1, ¯1, ¯1) = d7 = φ(1, 1, 1)

ficando estabelecida a igualdade (2.10) para toda a c´elula do sistema que n˜ao esteja na sua fronteira. Mas, considerando as condi¸c˜oes impostas a α e α0, retira-se imediatamente que tamb´em as primeira e ´ultima c´elulas do sistema satisfazem an´alogas igualdades, pelo que se conclui que os aut´omatos celulares elementares finitos Φα e Φ0α0 s˜ao conjugados.  Voltando `a Figura 2.16, uma an´alise do diagrama espa¸co-tempo da direita leva-nos a concluir que a regra de transi¸c˜ao local em causa ´e caraterizada por

d07 = φ0(1, 1, 1) = 0 d06 = φ0(1, 1, 0) = 1 d05 = φ0(1, 0, 1) = 1 d04 = φ0(1, 0, 0) = 1 d03 = φ0(0, 1, 1) = 1 d02 = φ0(0, 1, 0) = 1 d01 = φ0(0, 0, 1) = 0 d00 = φ0(0, 0, 0) = 1

Ora, recordando a representa¸c˜ao de Wolfram da regra de transi¸c˜ao local correspondente ao diagrama espa¸co-tempo da esquerda, Nφ= 130 = (10000010)2, e que ambas as dinˆamicas

(36)

foram obtidas com escolha de condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas, verificamos que as hip´oteses do resultado anterior s˜ao v´alidas, pelo que podemos concluir que os aut´omatos celulares ele-mentares finitos que geraram os diagramas espa¸co-tempo s˜ao conjugados, 190p= Γc(130p).

Deste modo, a simetria branco-preto que as dinˆamicas iniciais mostram, ´e v´alida para todo instante.

Quando olh´amos para os diagramas espa¸co-tempo de aut´omatos celulares elementares conjugados a partir de configura¸c˜oes iniciais conjugadas, Figura 2.16, dissemos que seria natural considerar esses aut´omatos celulares como equivalentes. Mas o que significa exata-mente essa ideia de equivalˆencia entre as dinˆamicas de dois aut´omatos celulares? Para nos ajudar a responder a essa quest˜ao, vamos apresentar os diagramas de Wuensche de ambos os aut´omatos celulares, 130p e 190p, para sistemas com n = 5 c´elulas.

Figura 2.18: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 130p, `a esquerda, e 190p,

`

a direita.

Comparando estes diagramas de Wuensche, ´e patente a existˆencia de uma corres-pondˆencia entre eles: de facto, para al´em de atratores do mesmo tipo, as respetivas bacias de atra¸c˜ao s˜ao idˆenticas no que respeita `a forma e, assim, tamb´em quanto ao n´umero de configura¸c˜oes. Como ´e expet´avel, a ´unica diferen¸ca reside na configura¸c˜ao associada a cada v´ertice, surgindo configura¸c˜oes conjugadas em posi¸c˜oes correspondentes nos diagramas.

Se tivermos em conta o Lema 2.1, podemos escrever outras cinco conjuga¸c˜oes, para al´em daquela acima encontrada. De facto, dos argumentos anteriores, facilmente se conclui,

(37)

tamb´em, que: 190r= Γc(130r) 19000= Γc(13011) 19001= Γc(13010) 19010= Γc(13001) 19011= Γc(13000)

De igual modo, todas estas equivalˆencias v˜ao ser refletidas nos diagramas de Wuensche de cada um dos aut´omatos celulares. Nas figuras seguintes apresentamos os diagramas de Wuensche para os aut´omatos celulares conjugados, sendo uma vez mais evidente que estes mostram, em cada caso, dinˆamicas iguais.

Figura 2.19: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 130r, `a esquerda, e 190r,

`

(38)

Figura 2.20: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 13000, `a esquerda, e

19011, `a direita.

Figura 2.21: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 13001, `a esquerda, e

(39)

Figura 2.22: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 13010, `a esquerda, e

19001, `a direita.

Figura 2.23: Diagramas de Wuensche dos aut´omatos conjugados 13011, `a esquerda, e

(40)

O conjunto das seis equivalˆencias entre aut´omatos celulares elementares finitos leva-nos a introduzir o seguinte conceito.

Defini¸c˜ao 2.9 Dada uma regra de transi¸c˜ao local φ, vamos denotar por Φ o conjunto de aut´omatos celulares elementares {Φα, α = p, r, 00, 01, 10, 11}.

Assim sendo, as seis equivalˆencias anteriores v˜ao permitir-nos dizer que existe uma equi-valˆencia entre os conjuntos 190 e 130, na medida em que as dinˆamicas dos elementos de 190 podem ser deduzidas a partir do conhecimento das dinˆamicas de elementos de 130.

Defini¸c˜ao 2.10 Dois conjuntos de aut´omatos celulares elementares finitos Φ0 e Φ dizem-se conjugados se qualquer elemento de Φ0 for conjugado com algum elemento de Φ.

Com algum abuso de linguagem, vamos escrever tamb´em Φ0 = Γc(Φ) para denotar conjuntos

conjugados. O resultado seguinte vai caraterizar a conjuga¸c˜ao entre conjuntos de aut´omatos celulares elementares finitos.

Proposi¸c˜ao 2.1 Dois conjuntos de aut´omatos celulares elementares finitos Φ0 e Φ s˜ao con-jugados se e s´o se Nφ0 = ( ¯d01234567)2 e Nφ= (d7d6d5d4d3d2d1d0)2, com Nφ0, Nφ as representa¸c˜oes de Wolfram das regras de transi¸c˜ao dos aut´omatos celulares pertencentes a Φ0 e Φ, respetivamente.

Prova: A partir do Lema 2.1 temos que, se dois conjuntos de aut´omatos celulares elementares finitos Φ0 e Φ satisfazem Nφ0 = ( ¯d01234567)2 e Nφ= (d7d6d5d4d3d2d1d0)2, ent˜ao s˜ao conjugados. De facto, esse resultado diz-nos que, qualquer que seja Φ0α0 ∈ Φ0, existe sempre um elemento Φα de Φ tal que Φ0α0 = Γc(Φα). Vejamos agora como mostrar que o

rec´ıproco ´e igualmente verdadeiro.

Sejam Φ0 e Φ conjuntos de aut´omatos celulares elementares finitos conjugados. Ent˜ao, pela arbitrariedade da configura¸c˜ao A em (2.10), s˜ao verdadeiras as seguintes igualdades:

φ0(1, 1, 1) = φ0(¯0, ¯0, ¯0) = φ(0, 0, 0) φ0(1, 1, 0) = φ0(¯0, ¯0, ¯1) = φ(0, 0, 1) φ0(1, 0, 1) = φ0(¯0, ¯1, ¯0) = φ(0, 1, 0) φ0(1, 0, 0) = φ0(¯0, ¯1, ¯1) = φ(0, 1, 1) φ0(0, 1, 1) = φ0(¯1, ¯0, ¯0) = φ(1, 0, 0) φ0(0, 1, 0) = φ0(¯1, ¯0, ¯1) = φ(1, 0, 1) φ0(0, 0, 1) = φ0(¯1, ¯1, ¯0) = φ(1, 1, 0) φ0(0, 0, 0) = φ0(¯1, ¯1, ¯1) = φ(1, 1, 1) donde resulta facilmente a rela¸c˜ao entre as regras de transi¸c˜ao local Nφ0 e Nφdos elementos

(41)

Seguindo um percurso an´alogo, vamos de seguida apresentar a segunda das simetrias, desta vez uma simetria espacial, que duas configura¸c˜oes de c´elulas dispostas ao longo de uma linha reta podem apresentar, para chegar `a correspondente equivalˆencia entre conjuntos de aut´omatos celulares.

2.3.2 Simetria especular

Um outro tipo de transforma¸c˜ao que importa considerar ´e a simetria especular, isto ´e, uma simetria de reflex˜ao relativamente a um eixo vertical, a partir da qual se obt´em a invers˜ao espacial esquerda-direita da configura¸c˜ao do sistema.

Defini¸c˜ao 2.11 Duas configura¸c˜oes A = (ai) e A0 = (a0i) de um aut´omato celular elementar

com n c´elulas dizem-se ter simetria especular, escrevendo-se A ∼eA0, se a0i = an+1−i, para

i = 1, . . . , n.

Para simplificar, vamos usar a nota¸c˜ao ←−A para a configura¸c˜ao obtida de A por simetria especular. Na figura seguinte, apresentam-se duas configura¸c˜oes com simetria especular, relativamente ao eixo vertical, onde a da esquerda volta a ser a configura¸c˜ao anteriormente considerada na apresenta¸c˜ao da simetria por conjuga¸c˜ao.

Figura 2.24: Duas configura¸c˜oes exibindo simetria especular relativamente ao eixo vertical.

Tal como h´a pouco, vamos agora generalizar este conceito para aut´omatos celulares ele-mentares finitos.

Defini¸c˜ao 2.12 Dois aut´omatos celulares elementares finitos Φα e Φ0α0 dizem-se com sime-tria especular se, para toda a configura¸c˜ao A, for v´alida a igualdade

Φ0α0( ←−

A ) =←Φ−−−α(A).− (2.12)

Se Φα e Φ0α0 s˜ao aut´omatos celulares elementares finitos com simetria especular, vamos escrever que o segundo se obt´em do primeiro como Φ0α0 = Γe(Φα). O resultado que

va-mos apresentar de seguida apresenta condi¸c˜oes suficientes para que aut´omatos celulares elementares finitos tenham simetria especular.

(42)

Lema 2.2 Sejam Φαe Φ0α0 aut´omatos celulares elementares finitos, com regras de transi¸c˜ao local Nφ= (d7d6d5d4d3d2d1d0)2 e Nφ0 = (d0 7d 0 6d 0 5d 0 4d 0 3d 0 2d 0 1d 0

0)2, respectivamente, tais que

       Nφ0 = (d7d3d5d1d6d2d4d0)2 α0= α = p ∨ α0= α = r ∨ ( α0 = adae α = aead (2.13)

Ent˜ao, Φα e Φ0α0 s˜ao aut´omatos celulares elementares finitos com simetria especular, ou seja, tem-se que Φ0α0 = Γe(Φα).

Prova: A partir da rela¸c˜ao entre as regras de transi¸c˜ao local, assumida por hip´otese, podemos escrever:

d07 = φ0(1, 1, 1) = d7 = φ(1, 1, 1) d06 = φ0(1, 1, 0) = d3 = φ(0, 1, 1)

d05 = φ0(1, 0, 1) = d5 = φ(1, 0, 1) d04 = φ0(1, 0, 0) = d1 = φ(0, 0, 1)

d03 = φ0(0, 1, 1) = d6 = φ(1, 1, 0) d02 = φ0(0, 1, 0) = d2 = φ(0, 1, 0)

d01 = φ0(0, 0, 1) = d4 = φ(1, 0, 0) d00 = φ0(0, 0, 0) = d0 = φ(0, 0, 0)

Como se verifica facilmente, as igualdades anteriores podem ser resumidas numa ´unica, expressa por φ0(a, b, c) = φ(c, b, a), para quaisquer a, b, c ∈ {0, 1}. Vejamos agora como ´e que, a partir daqui, somos levados a concluir que a igualdade (2.12) ´e v´alida para qualquer elemento do sistema que n˜ao esteja na sua fronteira.

Sem perda de generalidade, admitamos que o sistema em causa ´e constitu´ıdo por um n´umero n maior que dois de elementos. Seja A = (ai) uma qualquer configura¸c˜ao; para

facilitar, denotemos por [Φ0(←A )]− i o elemento i da configura¸c˜ao Φ0(

←−

A ). Ora, por defini¸c˜ao, temos que, para i = 2, . . . , n − 1,

[Φ0(←A )]− i= φ0([ ←− A ]i−1, [ ←− A ]i, [ ←−

A ]i+1) = φ0(an−i+2, an−i+1, an−i).

Mas, sabendo que φ0(a, b, c) = φ(c, b, a), podemos escrever a igualdade [Φ0(←A )]− i = φ0(an−i+2, an−i+1, an−i) = φ(an−i, an−i+1, an−i+2),

a partir da qual temos ent˜ao que

[Φ0(←A )]− i = φ(an−i, an−i+1, an−i+2) = [Φ(A)]n−i+1 = [

←−−− Φ(A)]i.

Estabecida a igualdade procurada entre todos os elementos das configura¸c˜oes Φ0(←A ) e− ←−−−Φ(A) que n˜ao estejam na fronteira, a sua estens˜ao para os dois elementos da fronteira retira-se

Imagem

Figura 2.14: Diagrama de Wuensche do aut´ omato celular elementar N φ = 143, com condi¸c˜ oes de fronteira peri´ odicas, para sistemas com n = 5 elementos.
Figura 2.15: Diagrama de Wuensche do aut´ omato celular elementar N φ = 130, com condi¸c˜ oes de fronteira peri´ odicas, para sistemas com n = 6 elementos.
Figura 2.18: Diagramas de Wuensche dos aut´ omatos conjugados 130 p , ` a esquerda, e 190 p ,
Figura 2.19: Diagramas de Wuensche dos aut´ omatos conjugados 130 r , ` a esquerda, e 190 r ,
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Referências

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