• Nenhum resultado encontrado

Anoxemia do Miocárdio

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Anoxemia do Miocárdio"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Anoxemia do Miocárdio

SUAS RELAÇõES COM A ANGINA DE PEITO

HEITOR M. CIRNE LIMA

EX-A5515TI:NTC DO PROF. W. BÜNCCLCn (SÃo PAULO). DOCCNTC· LIVRE DA CADEH.A DE t.NATDMIA E FISIOLOGIA P'ATOlÓGICAS NA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE: DE PÔRTO AL[GRr,

Vária teoria. ttm procurado explicar a fi 'iopatoloO"ia elas cri es de angina de peito. E pa mo cio mi cárdio, dilatação bru. ca elo músculo cardíac , nevrite dos filetes do coraçüo con títuem doutrina nunca comprovadas e. hoje, pratica-mente inadmitidas.

tualmente, a angina de pito é atribuída. pela maioria dos patologi ·tas, a 1 sõe por an xel11ia lo miocárdio. E ·ta pode ser absoluta ou relativa.

Bem conhecida é a forma ab oluta da anoxemia. Importa. porém, salientar a importância da anoxel11ia relativa.

Em condiçõe' normai do organismo. há equilíbrio entre a irrigação anguínea e a neces idade teciduais. Durante o repouso. reduzem-se as ueces. idades de llm órgão. decre. ce igualmente a ua irrigação. . o contrário nas fa e de ativi-dade funcional, há aumento corre pondente da corrente circulatória local. Para manutenção dê e equilíbrio. o organi mo dispõe de um c mplexo mecani mO regu-lador, para cujo conh cim nto muito contribuiram o trabalhos de Thoma Lewis. Rein e outro. De maneira O"era!. a regulaçflO obedece a dua' açõe diversas c antaO"ônica , a va o-constrição e a vaso-dilataç'io. E ta. de ordem local, aquela de origem central, nerv sa. A va. o-dilatação - fenômeno puramente local

-é:. exercida por sub tâncias de desintegração proteica que têm origem nos tecido: 110nnai . empre que urge a nece 'sidade de irrigação mais intensa e. em condiçó . anormai , quando. por exemplo há deficiência circulatória. E as substância., do tipo da hi tamina. reeeberam de T. Lewi a denominação de fator p (pain factor) porque ua ação, i muito prolon ada. provoca dôr inten a p r irritação do plexos nervo os da regiã. A hi tamina e a aceti1colina encontram- e entre o compo-nente do fator p.

Em um mú cuIa, o volume de angue, durante o exel'cício, pode chegar a , er 10 vezes maior que o encontrado na fa e cle rep u o. E.sse considerável aumento da irrigação ó é possível, mecliant va o-constrição de outra regiões cio r!!'a-nismo. Esta última é regulada, como dis emas, por mecanismo nervoso. órgão em trabalho sofre naturalmente a influência clêsses impulsos vaso-constri-tnre , mas nele prepondera a açã local do fator p, que não age . ôbre o nervos va orul11 mas ôbre a I11U culatura li. a dos vasos (10, 25).

(2)

214 ANAIS DA l!'ACULDADE DE MEDICINA DE PôRTO ALEGUE

Qualquer perturbação dêsse mecanismo

é

capaz de provocar anoxemia, que resulta sempre de uma desproporção entre o que é necessário a uma região e o que lhe

é

fornecido pela circulação. Tal desproporção é aquí encarada debaixo do prisma da oxigenação e se refere, portanto, não somente ao volume de sangue mas especialmente à quantidade de oxigêneo que é levada a uma região ou a um órgão. Para exemplificar, suponhamos um grave distúrbio da dinâmica circu-latória, a insuficiência da válvula aórtica. esse caso, observa-se grave pertur-bação da circulação coronária, cOllsequê:1cia cio refluxo de sangue que se faz para o interior do ventrículo esquerdo, durante a diástole. Há queda pronunciada da tensão diastólica e porisso enchimento deficiente cio i.tema coronário. As arté-rias coronáarté-rias, ao contrário das outras, enohem-se na diástole, porque, durante a sistóle, seus orifícios de origem são fechados inteiramente pelas valvas da vál-vula aórtica. Dá-se, assim, uma redução do volume de' sangue nessa região. Entretanto, como é possível que a circulação coronária seja ainda suficiente para atender as exigências do músculo cardíaco, pode não haver anoxemia, a-pesar-de haver redução do volume de sangue na circulação local. Essa é já uma demons-tração do caráter relativo da anoxemia. O distúrbio da circulação coronária vai ser agravado pelo trabalho excessivo que o vício valvular exige do miocárdio. Talvez, ainda assim, a circulação coronária consiga adaptar-se às necessidades do músculo cardíaco. Encontram-se, porém, reunidas as condições, em consequênciá das quais se pode instalar bruscamente a anoxemia, por ocasião de um esfôrço extraordinário que aumente mais ainda a atividade e, pois, as necessidades de irrigação do coração. Seria ê se o caso de uma crise de angina de peito, síndrome clínica dolorosa, cujo substrato anatômico é constituído por lesões graves do mio-cárdio que chegam, muitas vezes, até a necrose. O distúrbio da dinâmic'a circu-latória, nesse exemplo, não se acompanha de anoxemia, que só se manifesta por ocasião de maior atividade do órgão atingido. E' o caso da anoxemia relativa em que, ao lado da diminuição do volume de sangue, houve, como elemento desen-cadeante, uma maior solicitação por parte do miocárdio.

N o conceito da anoxemia relativa, cumpre considerar que há tecidos e órgãos cujas necessidades de irrigação, em condições idênticas, são maiores que as de outros. O cérebro, o miocárdio, o fígado, órgãos de intensa atividade, exigem, mesmo em condições de repouso do organismo, grande acesso de oxigêneo. A circulação cerebral, por exemplo, é 10 vezes maior que a da pele e 2 vezes maior que a do fígado.

Büngeler determinou o índice de consumo de oxigêneo de vários órgãos (consumo de oxigêneo de 1 mgr. de tecido, en? uma hora). ~ste índice é para o tecido conjuntivo de 0,5-1, de 2 para a pele, 10 para o fígado e o miocárdio e 20, para o cérebro (14, 15). Nos casos de anoxemias generalizadas, sofrem, de preferência, tais órgãos. Enquanto ainda capaz cle atender à irrigação de quase todo o organismo, já a circulação pode ser deficiente em relação às solicitações dêsses órgãos. E' a anoxemia relativa, em que tem papel de importância o ele-mento representado pelas necessidades teciduais.

* * *

Dissemos acima que a clôr na angina de peito é atribuída, atualmente, a lesões por anoxemia do miocárdio. Essa concepção, conhecida dos clínicos antigos, rece-beu o apâio de Mackensie e de Herriclc O primeiro considel-ava a angina de 1 eito sinal de esgotamento do miocárdio e o segundo verificou, ao exame eletrocardio-gráfico, o aparecimento de alterações características que só podem ser explicadas pela existência de grave lesão muscular.

(3)

ANAIS DA }"ACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 215

Obendorfer e Pauli foram os primeiro. a verificar necro es recentes do mio-cárdio, em indivídu s que. muitas bo·ras ou alguns dia antes da morte, haviam apresentado crises típicas de angina de peito. E tas ob ervações têm sido confirmadas, nos últimos anos, e a doutrina la anox mia relativa, na "angor pectoris", vem recebendo apôio de notáveis estudos, especialmente de Büchner

seus colaboradores.

Büehner estudou o mecanism fisiopatológico da síndrome anginosas nas chamada "doença há icas" da angina de peito. Em tôda ela - esC'lerose da coro:lárias, ifílis ela aorta (em qu há frequentemente estreitamento dos ori Eício. ele origem das artérias coronárias) e insuficiência aártica - há considerável pertur-hação ela circulação coronária. Re ta demon tral- que a anoxemia eja capaz de pro-duzir no mú culo cardíaco. a lesõe' cat-acterísticas da angina de peito. Büchner e ;BüngeJer con~,.eguiral11 elel11on. trá-lo. O primeiro, 'ublll tendo a exercício forçado animais previamente anemiad s, o 'egundo. em trabalho ôl re a esclerose eXI e-rimental das coronárias. Bücbner ohs rvou le ões id 'lJticas, oh o ponto ele vista da localização e do aspecto macro e micro eópico. às da alwina de peito (fig. 1) e Büngeler constatou tai. le õcs, .omente no.' animai .. submetidos a exercício forçado. Estudos ulteriore de Büchner e v. Lucadou c nduziram à verificaçã ele lesõe anoxêmicas do miocár lio. e111 animais nã anemizados mas sujeitos a exercícios corporais máximos. nvém assinalar, c m argumento em favor da anoxemia relativa, que Büngeler nunca observ u lesões do miocárdio nos animais con ervados em ua gaiola, que se mantinham. portanto. em repou o, mesmo em presença de grave lesões de escleros elas artérias coronária (1, 2, 3, 4, 5, lO). O sintoma obj etivo mais seguro ela angina ele peito é representado pelas alte-rações típicas do traçado lectrocardiográfico. Trabalh muito numeroso. de Parkin on, Beel fard, Dietrich . h wiegk e outros mo travam que as crises de angina de peito se acompanham, em geral, de alt raçõe do segmento RS-T. Dietrich e Schwiegk suhmeteram eloentes, que já haviam apresentado crises de angina de peito, mas nos, luais não havia cri e atual. a trabalho exces ivo ou os eolocaram em atmos fera pobre em oxigênio. Por meio le tais procedimentos ob ervaram, com caráter tran itório. discreta manifestações dolorosas e as citadas modificações eletrocardiográfica (5, 28, 12).

Como, porém explicar, em face des a teoria, a dôr que caracterizaa síndrome em estudo? Os trabalhos de Thoma Lewi, a:lte referido e a investigaçõ de Felix, Drüner e Stohr fornecem a nece sál-ia interpretação. Verificaram este últimos pesquisadore que o mi cárdio, como o pericárdio e o endocárdio, possue numerosas formações sensitiva terminais. elas quais, por intermédio dos nervo intra-museu'lares e epicardíacos, partem fibras qu se dirigem aos gânglios epicar-díacos e daí ao simpático cervical e parte uperior do impático torácico. :Bste trajeto é feito através os ramos cardíacos superior, médio e inferior. Dos gân-glios do simpático cervical e torácico - gânglios cervicai superior e inferior

e

O'ânglio estrelado - se originam ramos comunicantes que por intermédio do plexo braquial, eonduzem as impre õe ensitivas à medula dorsal. Se recordarmos agora os trabalhos notáveis de Thomas Lewis, aos quais podem ser juntadas as investigações de Dale, Rein e Büngeler, sôbre o papel do fator p, e a propósito da excitação das terminações nervosas sensitiva, teremos encontrado o traço de união entre as le ões anatômicas e o fenômeno doloroso que domina a sintomalo-logia clínica da angina de peito. O que referimo acima, acêrca da inervação sensitiva do coração, permite se compreenda a frequente irradiação da d'r para ohraç (10, 5, 25, 26, 16).

(4)

216

Essa doutrina encontra a contradizê-Ia a teoria espo ada entre outros por Morav.ritz e Meyer, (27, 21). segundo a qual a sindrome dolorosa dependeria de espasmo das artérias coronárias. Em favor d ssa interpretação, citam-se casos, em que há perturbaç-es circulatórias do miocárelio sem que existam lesões elas artérias coronária, outms. nos quais estas não se acompanham de alterações e truturais do mú cuia card íaco e ainda algun que apre 'entaram crises anginosas, em vida. e nos quais não foram encontra la I. õe: no miocárdio e nas arté-rias cOI-onária .

A anoxemia relativa. como veremo', torna possível precindir do fator espas-módico, na interpretação dêsses ca os aparentemente paradoxais.

Büngeler 10) examinou grande número ele coraçõe alO'uns nos quai havia esclerose avançada da 'oronárias, em lesõ s do miocárdio e outros nos quais e tas coincidiam com artérias coronárias normais. :--Jo primei ro grupo a ausência

cl le. ões era explicada pela atr fia do coração, sempre pre ente. Em alguns casos, o coração p sava somente 90 ou 100 gr:·. As n 'c ssielades de um tal órgão SfLOincomparavelmente menores que as de um nornlal os vasos coronários, mesmo atresiados, são capaze.' de a segul'ar a sua nutrição. Ajunte-se a isso, que se ,ratava de pe 'oas id sa. das [uais nào são exigido, via de regra, grandes esforço.

O egundo grupo era integraelo por ca os de acentuada hil ertrofia do coração ou cle e tados anêmicos graves. Nestes, as alteraç- s morfológica' do músculo car-díaco ão facilmente filiadas às modificações [u-llitativas lo sangue. onsidere- e que em algun. ca os a taxa da hemoglobina de c ra a menos da quinta parte ele S'~U valor normal. ?\essas circunstâncias, ai:lda que não varia se o volume de 'angue na circulação cor ,nária. havia. certamente, deficiente acesso de oxigênio. hipertrofia cio coração c rrespondia. na quas totalidade. a casos le nefro-sclerose maligna. N ssa entidade mórbida, aparecem. no angue. sub tâncias .hipertensiva.. as substâncias prcssoras de 13oh11. lU ,prodllzemvasoconi:>tri~ã geral e hipertensão sanguínea. Esta. quando permanente, acarreta enrijecim nto das arteríolas (Volhard e Schürmann) e. numa fa. e mais avançada. reduções de calibre por proliferação da íntima e graves lesões degenerativas da média. Como conse-Cjuência do esfôrço a qu' ' obrigado o ventrícul esquerdo. para vencer a Te.i

-tência periférica. aumenta las. há considerável hipertrofia elê'e egmento elo coração. Com frequência, encontram-se coraçõe pesando 00 grs. Temo aCJuí condiçãe inver 'as às anteriormente referida. Há hipertrofia e maior tmbalho cio músculo cardíaco a que se vem juntar a perturhação circulatória dependente do c. tado das arteríolas. N.a hipertensão pálida de \folharel, deve er con ideraela ainda a existência de substânciils fortemente hemotóxicas, com consequente anemia. Ainda levem s r citados o recentes estu lo. de N umann que explicam o reduzido número de casos em que há, indi. cutivelm nte, clôr anginosa durante a vida e em que não se encontram lesões do miocárdi. Trata-se de 1e óes por anoxemia não mais cio l11ú. culo cardíaco, ma da aorta intra-pericárdica. ~ se :iegmento é irri ado p r ramo' fino das artéria. coronária e. em tais caso, observou Neumanll a exist'ncia de eselero e de. sas rarnificações va culares com con ideráveis le õe por anoxemia ela. regiões correspo:ldentes da aorta. Empres-tando atualidade à antiga concepção ele Wenkebach as veri ficações de I eumann fornecem mais uma variedade. e de grande importância prática, elas lesões por anoxemia (24).

Grande importância deve ser atribuída ao tempo que decorre entre o início da deficiência de cir lIlação a morte. No miocárdio. não serão verificadas lesões, se a morte uceder. imediata ou quase imediatamente, iI grave isquemia.

Hüchner, nas experiência. já referidas, sôbre anox mia provocada por sangria seguida de exercício forçado, não encontrou 1esõe do 11l{u~ulo cardíaco, nos

(5)

aní-ANAIS DA FACULDADE DE :MEDICINA DE PORTO ALEGRE 217

mais cuja morte ocorreu poucos minutos depois da experiência. Também não se encontra.m lesões do miocárdio, nos casos d morte súbita, por síncope cardíaca, observados durante a narcose clorofórmica. Büngeler, utilizando métodos espe-ciais de eoloração (carmin de Be t), conseguiu demonstrar, nestes casos, queda acentuada do glicogênio, nas fibras musculare do coração. Esta seria, para o miocárdio, a alteração mais precoce correspondendo a um esgotamento da fibra cardíaca (10). Entretanto, de modo geral, as lesões degenerativas provocadas pela anoxemia só podem ser constatadas, quando decorre um certo tempo (7 a 24 horas) entre o momento em que se instala a perturbação nutritiva e aquele em que 'e dá a morte, Isto não quer dizer que tais lesões exijam, para se produzi-rem, anoxemias tão prolongadas. E' conhecido o exemplo do cérebro que apre-enta le ões irreparáveis do tecido nervoso, em face de anoxemias de muito curta duração. este, como nos demais órgãos, não se observam, nas fases precoces de uma anoxemia, alterações estruturais, ma existem, provavelmente, a exemplo do que se verificou em relação ao miocárdio, modificações histo-químicas, que só mais tarde darão lugar às lesões degenerativa: características.

Kohn (21) atribue a angina de peito à anoxemia do miocárdio. Esta, porém, eria consequência de espasmo das artérias coronárias.

Experimentalmente, o espasmo das coronárias pode ser provocado pela pitres-sina. Teoricamente, ao menos, deve 'er admitido. Rothberger e Goldenberg, em estudos experimentais, verificaram que, poucos segundos após espasmo verdadeiro d s va os coronários, se instala grave in 'uficiência cardíaca, o que não corresponde ao observado, em geral, na angina ele peito ele e fôrço, Por essa razão, afastam a possibilidade ele espasmo. na interpretação fisio-pa.tológica das lesões da angina pectoris. Tal opinião ' partilhaela por vários patologistas, entre os quais Büchner

Büngeler (3, 10).

Vem a propósito referir a ação sôl r a circulação da coronárias, de algumas • substâncias comumente utilizadas na prática médica.

Rein demonstrou, em eu trabalhos, o efeito depressor do clorofórmio sôbre a circulação nas coronárias e Büngeler veri ficou le ões, por anoxemia, do miocár-dio, nos casos de mort súbita, por incope cardíaca, ocorridos durante a narcose cloro fórmica (10).

Muito discutida é, a êsse respeito, a ação dos glicosídeos da digital ou do strophantus. Büchner (3, 6) encontrou necroses disseminadas do miocárdio, em animais tratados por doses acumuladas de glicosídeos da digital ou da estrofan-tina, e as atribuiu à deficiência eirculatória, que resultaria do aumento considerável do número de batimentos do coração: haveria anoxemia relativa por desproporção entre a atividade do órgão, muito aumentada, e a sua irrigação. Petri (13) con-sidera a ação tóxica dessas drogas sôbre a fibra muscular e finalmente Ginsberg, Stoland, Siler e Lawrance (18) admitem que os derivados da digitalis produzam constrição dos vasos coronários e contra-indicam seu emprêgo, em todos os casos em que há distúrbio da circulação, nesse departamento. Essex, Herrick e Visscher (19) não verificaram tal ação, a-pesar-de utilizarem doses subnauseantes dêsses glicosídeos.

Quanto a indiseutível ação dos vaso-dilatadores (nitrito de amila, trinitri-na, etc.), cumpre assinalar que tais ubstâncias, aI ém de produzirem dilatação das artérias coronárias, provocam, simultaneamente, vaso-dilatação generalizada, com profundas alterações da hemo-dinâmica.

Modificando as condições locais e gerais da circulação, não é de admirar que 'tais substâncias sejam capazes de produzir efeitos benéficos sôbre a síndro-me dolorosa. E' preóso acentuar que, em vários casos, são inteiramente inefi-cazes (33).

(6)

218

ão muito contraditório o resultado que acabamos de referir.

Apena um fato re alta do que foi expo to: há ub tância , u ada frequen-temente na clínica, capaze de modificar as condiçõe da circulação coronária.

os fumador inveterado, têm sido oh ervada dôres de tipo angino o. Convém lembrar, a ê e r speito, que, ne te indivíduos, se verificam, com fre-quência, lesões de clerose das artérias c ronárias (13). Morawitz, partidário da teoria do espa mo da coronária, na patogenia da angina pectoris, acentua que são, provavelmente, raros o caso de a:lgina nicotínica. em alteraçõe estruturais das coronárias (27).

*

* *

Experimentalmente, a anoxemia, qualquer que ja a sua origem é capaz de produzir. no miocárdio, a le õe típica da angina de peito. Realmente. a intoxicações pelo óxido de carbono e nos e tado anêmico hemorrágico podem ser encontradas lesões idênticas à que se observam em consequê:lcia de oblitera-ção de um pequeno ramo arterial. Meessen (11) teve oportunidade de demon -trar que, nos estaelos ele choque e colapso, veri ficam-se, no traçado eletrocardio-gráfico, alterações, semelhantes às ela angina ele peito, que coincidem com lesões anoxêmicas do miocárdio. ),To. estado de choque, há, de modo geral, redução do volume de sangue circulante e hipote:1são arterial. in uficiência circulatória seria a re pon ável pelas le ões anoxêmicas.

Anatômica e experimentalmente conseguimo ob ervar lesões anoxêmicas do miocárdio apó injeçõe endovenosas de sôro gomad. Em . Paulo, no Serviço de anatomia patológica do Prof. W. Büngeler, autop. íamos um caso no qual ha-viam sido injetado 1750 cc. de ôro e verificamos. no miocárdio. lesões degene-rativas. Experim ntalmente. constatamos le õ , do miocárdio injetando do e elevadas de sôro ou quando as injeções eram Irecedida de angria ou de admi-nistração de histamina.

A ação anoxemiante do sôro cromado já havia ido admitida por Studdiford (30), baseado nos trabalho experimentais de Christie, Phatak e Olney (29).

E' preci acentuar que o sôro gomado é indicado, de maneira particular, no estado de choqu no quai, ao lado da ação do medicamento, deve ser empre considerado outro fator anoxemiante. representado pela insuficiência circulatória. Reproduzimos, a eguir. de nos o trabalho experimental. alguns aspectos mi-croscópico de lesões anoxêmicas do miocárdio perfeitamente comparáveis às ob er-vadas nos casos de angor pectori e à verificaóas por Büchner, na anoxemia experi men tal (f ig. 1).

Coelho n.O 107: (fig. 2) sangria de 35 cc. 1 1/2 h. depois, injeção nd venosa de sôro gomado (3,5 grs. de goma acácia por kg. d p'SOIcorporal). '0acri ficael ,

por embolia ga osa, 24 h. após a experiência.

oelho n.O 115: (fig. 3) sangria de 40 cc. E tado de choque graví imo. Injeção imediata de ôro g mado (4 gr . de goma acácia por kg. de pê o corp ral). Melhora acentuada qu . manteve vál-ias hora. l\[orte e pontânea, 22 h. apó a experiência.

De acôrdo com e sa teoria, a dôr, na angina de peito, tem o papel de um sinal de alarme. Ela indica um estado de insuficiência coronariana e constitue intoma de ine timável valor, revelando, ao médico e ao doente. a neeessidade de reduzir a tarefa imposta ao órgão central da circulação (lO). Em muitos casos não é possível remover as causas determinante da deficiência circulatória nas coronárias. Procura-se, então, diminuir o trabalho do miocárdio, reduzindo as uas necessidades de irrigação e contribuindo, dessa forma, para restabelecer o quilíbrio na circulação eoronária. A c1ôr é, pois, de grande utilidade como índice

(7)

Fig. 1: substit.uiçiíO f-olnl daR fibras cardíacas dCbtrl1ída:, por um. tecido muito rico enl

fibroblastos. (Dê te coellto, Ioram r tirados 30 ee. de sangne; 1 bora apó, o animal

foi submetido a c.xnrcício fartado, durante 5 millutoR. 2 dia~ depois, novo exerc~cio,

durante minutos. O animal (oi sacrifj<'ado 3 <lias depois).

Reprodnzido do trnbalho d F. 13iichne,': Da. 1ll0l'Ilhologisch Substrat der Angina

p (·tOl'is im 'riel'expC'rimcnt.

de n era e hemorriígica do miociírdio. Nas regiões nota-se destruição s gmentar ( chollige Z l'fall) das fibras musculares. Há

jn(iltl'n.~no por linfocitos e lcucocito~ polimor[onl1clenl'es.

(8)

220 DE PORTO ALEGRE

Fig. 3: ('. 115. Miocúrdio: ],'oco de necrose hemorrúgica, com

infil-traçãl'") por liníocitos e leucocitos poJimorfonucleares.

do de equilíbrio circulatório do miocárdio. Segundo e a doutrina, ão formal-mente contra-indicadas a intervenções cirúrgicas que se praticam com o fim prin-cipal de fazer desaparecer a dôr. em ela, desapareceria o ina! ele alarme c as le õe, anoxêmicas continuariam a produzir- e, ma pas ariam despercebidas.

Mais razoávei, oh ê . e ponto de vi ta, devem er COIl iderada as recente

tentativas de restabelecimento da circulação coronária, por meio de enxertos de epíplon ou de mú culos (34).

(9)

Bibliografia

1 Büchner, F. - Die Rolle eles Hermuskels bei der Angina pectoris. Beitr. path. Anat. 89, 644 (1932).

2 Das morphologische Substrat der Angina pectori' in Tier-experiment. Beitr. path. Anat. 92, 311 (1933). .

3 - Herzmuskelinfarkt und dis eminierte Nekro. en des Hermukel . - Erkrankugen des Herzmuskels und d r Herzklappen (Vortrage gebalten in Bad-OeynbauSel, am 6 u. 7 Mai 1933).

-1 - Hermuskelschadigunpen dUl'ch Koronarinsuffizienz. Klinik der Erkrankungen des Herzmuskel.· (X Fartbilelungslehrgang in Bad- aubeim - 20 - 23 Sept. 1934).

5 A proposito de la angina de p cho. Rev. Med. Germano Ibero Americana n.· 1/2, 1935, pg. 1.

6 - K01'Onarinsuffizienz dur h Strophantin. Vehr. Dtch. Path. Ges. 28 Tagung. 1935. pág. 188.

7 Die Deutung des Elektrokardiograms bei den Durchblutunstõrungen des Herz-muskels (von Standpunkt de Pathologen). Kl. Wchschr. 49, 1713-1937 e 59, 1745-1938.

- Die pathogenetische Bedeutun der Hypoxamie. 1<1: Wchschr. 41, 14.09-1937. 9 - Büchner u. v. Lucadou. - Elektl'okareliographis hen Veranderungen und

disse-minierte Nekrosen des Herzmuskels bei experimenteller Coronarinsuffizienz. Beith. patIl. Anat. 93, 169 (1934).

10 - Büngeler, W. O. Abreu Fialho. - Fundamentos anatômicos e experimentais da angina pectoris. - O Hospital. vol. XI, pago 1. Junho de 1937.

11 - Messen, H. - Experimentelle Untel'sucbungen zum Collasproblem. J;leitr. path. Anat. 102. 191 «1939).

12 - Levene, Lowman. Wis ing - The roentgenologic and electrocardiogrlliphic diagnosis of cOl'onary disea e. Am. Heart. J. 16, 133 - 1938.

1:~ - Petri, E. - Pafbologisch natomie uud Histologie der VergiEtungen. Henke-Lubarschs Handb. d. spez. path. Anat. Bd. lO, 1930.

14 Büng·ele-r, W. - Tierexperimentelle und zellphysiologische Untersuchungel1 zur Frage der allgemeinen Gescbwulstelisposition. Frankf. Ztschr. f. Path., Bd. 39. pg. 314. - 1930.

1" - Die Beeinflussun~des Orv;anstoffwche eIs du rch parenterale Rei:;>;kõrperzufuhr.

Frankf. Ztscbr. f. PaUl.. Bd. 39 pg. 426 - 1930.

16 - Beitrage zur patholo~isc:ben Phy 'iologie der Entzündung. Die Wirkung dE'!< Histamins auf den Gewebsstoffwech eIs. Frankf. Ztschr. f. Path., Bd. 44. pg. 1 - 1932.

17 - Die anatornischen Gl'undlagen der Angina pectoris. Arztlicher Verein Dantzig. Nov. 1934.

1 Ginsberg, Stoland, Siler, Lawl'ence. - Studies on coronary circulation. The effect of some members Qf the digitalis group on the coronary circulation. Am. Heart Journal - 16, 663 - 1938.

19 - Essex, Herrick, Vi scber. - lnfluence of certain glucosides of Dlgltalis Lanata on the coronary blood flow and blood pressure in the trained dog. Am. Heart J. 16, 143 - 1938.

(10)

222 ANATS nA FA LDADE DE MEDI ALEGRE

21 - Kaufrnann, E. - Spezielle pathologische • natomie. I Bel. 1931. Berlin. pg. 49. 22 - Dietrich, A. - Patbologische Anatomie. -

n

Bel. Leizig 193 . pg. 8.

23 - Riboort, Hamperl - Lehrbuch der AlIgemeinen Pathologie u. der pathologischen Anatomie. Berlin. 1939. pg. 278.

24 - Neuma.nn, R. - Die Cardiaorta ais Organ und ihr Vel'halten bei Coronarsklel'ose. Virch. Arch. r. path. Anal. u. Phys. Bel. 303, I Heft pg. 1 - 1938.

25 - Krogb. - Anatomie und Physiologie dei' Kapillal'en. Berlin. 1929.

26 - Dale, Laidlaw, Richards - Tbe action or histamille: it bearing on traumatic toxaemia as a, factor in schock. Report n." or lhe pecial Investigation Committee on Surgical hock and allied conditions. - 191 . Londres.

27 - Morawilz, P. - Patogenia, diagnostico y tratamiento de la angina de pecho. Rev. Med. Gem. Ibero Amer., n, 45 - 1929.

2 - Luft. Verh. d. Ditsch. path. Ges. XXIX Tagung. (27-29 Sept. 1936).

29 - Christie,A., Phatak, T. M., Olney. M. - Erfect or intra-venous acacia on physico-chemical properties or the blood. Proc. or the Soe. for Exp. Biol. and Med. 32. 670 - 1935.

30 - Studdiford, W. E. - evere and fatal reactiolls rolIowing intra-venous use or gum-acacia glucose infusions. Surg. Gynec. Obst. 64, 772 - 1937.

31 - Karsner - Human pathology. Philaclelphia 1938 - pg. 458.

32 - Smith, 'Gault - Essentials or Pathology. New-York, 1938.

33 - Lambert - Angina pectoris. Tice's Practice or medecine, vol. VI. Hager town. 1937.

34 arat - • Teu s aus den chirurgischen Welt in Amerika. Ztbl. r. Chirurg. n.· 18.

Referências

Documentos relacionados

thread corrente em estado de espera até que outra thread chame os métodos notify ou notifyAll liberando o

A implementação da pesquisa como prática de formação é difícil, mais pela concepção restrita dada à pesquisa pelas “comunidades científicas” do que pela

´e aquele pelo qual a filosofia alem˜a traduziu, depois de Kant, o latim existentia, mas Heidegger deu-lhe um sentido muito particu- lar, j´a que designa na sua filosofia

Por outro lado, quando se fala em pequenas e médias empresas, onde o número de funcionários é maior, é mais bem dividida e o uso da Intranet se torna

Há uma grande expectativa entre os cientistas de que, nesta próxima década, novos resultados de observações cosmológicas, aliados aos resultados dos grandes aceleradores como o

gerenciamento do valor criado pela plataforma, o que depende do balanceamento das curvas de oferta (fornecedores) e curvas de demanda (consumidores). Conjugação das economias

É o nome usado para descrever empresas que prestam serviços financeiros, tendo na tecnologia seu grande diferencial — muitas delas, inclusive, não têm agências para atender

Mesmo quando o Inversor estiver protegido por um ou mais dos componentes da String Box (fusíveis e/ou DPS) internamente a ele, é valido e aconselhado usar igualmente uma