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Para os que defendem o filme Deus não está morto

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Academic year: 2022

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Para os que defendem o filme Deus não está morto

Muitos são os que defendem o filme norte-americano Deus não está morto, protagonizado por Kevin Sorbo, que faz um professor universitário, dizendo que ele é uma mensagem de fé e não um filme tendencioso que somente vilaniza os ateus. Segundo os que falam a favor do filme, ele foi inspirado em casos reais de professores ateus que perseguem estudantes cristãos no mundo acadêmico.

Certo, como existe de tudo nesta vida, não podemos negar que isto seja verdade. Mas se é verdade que há ateus perseguindo cristãos nas universidades, também é verdade que ateus sofrem preconceitos por parte dos cristãos nos Estados Unidos . Uma boa maneira de provar isso é assistindo a um canal ateu norte- americano em que os que o apresentam (todos ex-cristãos) costumam receber telefonemas de pessoas que os acusam de ter pacto com o diabo e dizem que eles irão queimar no fogo do inferno. O filme, muito convenientemente, "esquece" de mostrar este outro lado da moeda: que a intolerância e o preconceito não são atributos exclusivos dos ateus e que muitos, aliás, por serem oriundos de famílias muito cristãs, não têm coragem de assumir sua posição. Não é preciso ir muito longe para verificar que os ateus são alvo de preconceito. Pessoas ateias são vistas com reserva e muitos brasileiros admitem que não votariam em candidatos ateus.

O filme, além de botar o professor universitário como um arrogante que quer impor sua descrença, tenta explicar seu ateísmo colocando que ele se revoltou por que Deus se recusou a salvar sua mãe, que morreu de câncer quando ele tinha doze anos. Ou seja, fica subentendido que todo ateu, no fundo, é apenas um revoltado a quem Deus não atendeu. O filme não colocou que ele se tornou ateu por estudar mais a fundo a Bíblia e observar suas contradições e a crueldade do Deus do Antigo Testamento ou fazer

questionamentos, perguntando-se por que, por exemplo, a gente não vê hoje os milagres que existem aos milhares na Bíblia. Mas não interessa a um filme cristão que alguém veja essas coisas, não é? E, enquanto o professor é um radical que quer impor o ateísmo à força, todos os cristãos são pessoas sensatas e moderadas. Ninguém vê um cristão que quer impor à força sua crença, como vemos na vida real.

Aliás, outros ateus que aparecem no filme são mostrados todos como pessoas arrogantes, insensíveis e de mau-caráter, como o empresário interpretado por Dean Cain(de Superman), que abandona a mãe com Alzheimer e a namorada que tem câncer. A namorada desse empresário, por sinal, começa o filme como uma ateia arrogante e, após o câncer, torna-se cristã. Que fica parecendo? Que o câncer foi um castigo por seu ateísmo.

Uma outra inverossimilhança do filme é que o professor de filosofia propõe que o aluno cristão que se recusa a escrever que Deus está morto prove a existência de Deus. Como alguém provará que Deus existe ou não após alguns debates? Há séculos, crentes e descrentes têm debatido esta questão e nunca foi provado nada. E por que o professor quer tanto que as pessoas acreditem que Deus não existe? Está numa guerra pessoal com Deus porque a mãe dele morreu de câncer? Se ele tem esse objetivo, com certeza, ele precisa é de tratamento psicológico já que, se após tanto tempo, não aceitou que as pessoas morrem, é porque não amadureceu psicologicamente para entender que a morte virá para todos nós um dia.

E como um professor, com anos de ensino nas costas, que, com certeza, tem bases teóricas , não é capaz de vencer um calouro? Ele deveria observar Sam Harris (filósofo norte-americano) que, com argumentos moderados e inteligentes, consegue mostrar toda a fragilidade da apologética cristã de William Lane Craig. É incrível que um professor universitário não consiga vencer um calouro com argumentos.

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Como se vê, o filme é um festival de absurdos. Colocar todos os ateus como vilões arrogantes e radicais e os cristãos como bonzinhos e moderados é um grande pecado de inverossimilhança, que apresenta uma visão distorcida do que realmente existe na sociedade. Muitos que são pelo filme dizem que só os ateus para não gostar dele. Façamos uma pergunta: os índios não têm bons motivos para detestar os filmes de faroeste que sempre botavam os índios como os vilões e os brancos como mocinhos? Uma vítima de estupro não tem motivos para odiar um filme ou seriado com estupro romantizado? E, por sinal, muitos cristãos que assistiram ao filme disseram que o filme não mostra a realidade, argumentando que ninguém é mau só porque é ateu. Qualquer um sabe que crença ou descrença em Deus não define caráter.

Assim como os filmes de faroeste apresentaram uma visão irreal de um aspecto da história norte-

americana, esse filme apresenta uma visão irrealista e distorcida do caráter do ser humano. Ser cristão não é sinônimo de ser bom.

O pior é ver tantas pessoas dizerem que filmes assim são um exemplo de como a fé move montanhas. Isto mostra como grande parte das pessoas precisa desenvolver seu senso crítico.

Por que deixei de ser evangélica

“A fé que deveria ser vivenciada com mais sobriedade torna-se um remédio para todas as dores da vida, carregada de superstição e negando, muitas vezes, a nossa responsabilidade em relação à vida, a nossa necessidade de lutarmos por aquilo que acreditamos.”

Anônimo

“Quem estuda, sabe. Quem não estuda, acredita”

Rivanildo Menezes, do canal Originais gregos da Bíblia

Eu fui evangélica, principalmente por influência de minha mãe, que foi criada numa família evangélica. Lembro que assistia muito a programas evangélicos, em que pessoas davam depoimentos dizendo como “Jesus tinha transformado suas vidas.” Muitas diziam que estavam com suas famílias destruídas, com doenças terminais, mergulhadas em vícios, perversões sexuais e era realmente comovente ouvi-las falar de que forma elas tinham tido suas vidas restauradas e agora viviam “apenas para Cristo.”

Com o tempo, mãe me convenceu a frequentar e eu passei a ir à igreja presbiteriana Renascer e à Congregacional. Muitos eram os que davam depoimentos e os pastores davam maravilhosos sermões de como “Deus nos daria a vitória”, faria milagres em nossas vidas e tudo o mais. Também era bastante empolgante ouvir os que cantavam hinos, especialmente os de Aline Barros, Cassiane, Melissa e André Valadão.

Era comum que dissessem a esse ou aquele fiel que “Deus tinha grandes planos na sua vida” e uma vez um pregador, que havia sido presidiário e falava de como Cristo o resgatara da vida como traficante de drogas, acordando-o para a verdade e o amor e o curara de um câncer na região anal, apontou-me e

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falou que seriam feitas maravilhas em minha vida. Mãe se empolgou bastante, dizendo-me que eu deveria ter fé para receber minha bênção.

Entretanto, com o tempo, fui vendo que havia coisas que não encaixavam.

Primeiro: eu só via maravilhas ocorrendo nas vidas das pessoas que davam depoimentos nos programas evangélicos de televisão ou nas que iam dar testemunhos nos cultos. Nunca nada ocorreu na minha vida ou na de outra pessoa que eu conhecia. Há uma senhora, que conheceu minha mãe desde criança, cuja vida jamais mudou em nada. Ela anda com a Bíblia debaixo do braço (embora seja analfabeta), crê que houve um Dilúvio universal mas a vida dela é praticamente a mesma há anos. Aliás, o Jesus que resgatou muitos das drogas e álcool jamais resgatou o filho dela do alcoolismo. Além dessa

senhora, muitas pessoas que frequentam esses cultos há anos nunca viram nada acontecer em suas vidas em vinte ou trinta anos. Em alguns casos, suas vidas pioraram. Várias se divorciaram, viram seus filhos se perderem para as drogas. Entretanto, elas nunca contestaram e falam que “Deus lhes dá forças.”

É frequente que os pastores, quando falamos sobre problemas familiares que enfrentamos, aconselhem-nos a orar para que “Jesus toque o coração daquela pessoa”, caso seja um marido violento, pai abusivo, filho problemático e por aí vai. Porém, muitas são as pessoas que oram há anos e os comportamentos daquelas pessoas que estão errados em nada mudam. Então, diz-se que

“Deus não pode desrespeitar o livre arbítrio”. Como vemos, prometem uma coisa e a realidade é outra.

Os próprios pastores, que oram pelas famílias, têm suas famílias desestruturadas. São diversos os episódios de pastores que traem ou abandonam suas esposas, têm filhos drogados ou até abusam de fiéis. E, embora seja muito falado por fiéis que “Jesus restaura famílias” e até “cura”

homossexuais, só vemos esses milagres mesmo em depoimentos. Uma evangélica que conheço me falou sobre um transexual que, segundo ela, tinha seios e até Aids a quem Jesus teria resgatado. Entretanto, como há pastores que têm filhos homossexuais ou até se revelam homossexuais? Houve o caso de um que a mulher o deixou por outra mulher. E muitos homossexuais dizem que há anos oram para que Deus os cure, sem que consigam se curar de sua

“doença”, que é vista como uma abominação. Conheço a história de um rapaz transexual que me contou que a mãe dele, que frequenta a Assembleia de Deus, levou-o a um pastor que disse que ele tinha dez demônios dentro dele.

Ele falou que foi horrível a experiência de ser exorcizado.

Falando-se em exorcismo, eles culpam o demônio por tudo e acham que tudo que não for conforme o que pregam é do demônio. Quando falei sobre um pai que maltratava a esposa e os filhos, duas fiéis me disseram que isso não era ele, mas o demônio. Ou seja, uma pessoa nunca é responsável por seus atos.

Temos até a impressão que isso deveria servir de prova num tribunal quando

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alguém cometesse um assassinato, já que ninguém age por si, mas sob

“influência do demônio.” A mesma evangélica que me falou do transexual era contra ouvir rock. De acordo com ela, cada música de rock tinha um “diabo escondido” e essa era a razão pela qual o Cazuza teria morrido de Aids. Eu cheguei a contestar, falando que ele contraíra Aids porque tinha uma vida sexual irresponsável. Parece que ouvir música ou ler livros que não sejam do nicho evangélico é um pecado grave. Fui muito criticada por ler livros e assistir a filmes de terror e me aconselharam muito a deixar de ouvir Legião Urbana e Evanescence, como se essas músicas fossem amaldiçoadas. Muitos são os dizem que só leem a Bíblia. Mesmo assim, dá-se para notar que esses que só têm a Bíblia como livro não a conhecem bem, pois não conhecem suas

contradições e não gostam quando damos exemplos da crueldade de Javé no Antigo Testamento.

Desenhos animados, Disney e musicas são alvo dos evangélicos, que falam que tudo é o demônio. Dizem que Walt Disney, cantores, artistas e atores famosos têm pacto com o demônio para fazer sucesso e muitos supostos ex- bruxos satanistas que dão depoimentos falam de como políticos e empresários fizeram pacto com o diabo para enriquecer e ter sucesso. Mas a Disney é o alvo preferido. Eles chegam a confundir o Hades (do desenho Hércules) com o Satanás. Um pastor falou que Pocahontas(outro desenho Disney) significaria

“espírito do abismo”. Eu cheguei a explicar a ele que Pocahontas não é isso, pois foi uma personagem real da história norte-americana(qualquer um que pesquise no Google logo saberá) e o significado do nome é “pequena

travessa”. O pastor porém falou no hábito dos índios de chamar os mortos e, quando falei que era cultural, ele explicou que o fato deles ignorarem não os salvaria do julgamento de Deus. Isso me pareceu injusto. Se eles não sabiam quem era Cristo, não podiam ser condenados só por ignorância. O próprio Sam Harris fala como é absurdo um criminoso que se converte à hora da morte e se salvar enquanto alguém, mesmo sendo bom, só por não ter aceitado Jesus, ser condenado.

Também só vemos pessoas possuídas e sendo exorcizadas nas igrejas

evangélicas. Isso jamais é visto em igrejas católicas. Vemos muito os pastores orarem pela saúde dos fiéis, porém, nunca soube de um fiel( a não ser nos já falados testemunhos) que tenha se curado de câncer ou outra doença grave apenas por oração. Por que nunca vemos um pastor ir a esses hospitais com corredores cheios de doentes para curá-los? Jesus teria dito que quem cresse nEle faria maravilhas. Mas não vemos nenhum pastor ou pessoa cheia de fé curando alguém apenas pela fé. Não se sabe de nenhum paralítico que tenha voltado a andar, surdo ou mudo que tenha passado a ouvir ou falar ou pessoa que tenha se curado de esclerose múltipla, Alzheimer, Aids ou Parkinson. E o Jesus que curou cegos de nascença, por sinal, não cura ninguém de uma simples miopia. Eu digo isto porque orei por anos para me curar da minha.

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Ainda lembro de ter ouvido um ex-evangélico dizendo que o Deus que cura cegos hoje não cura ninguém de uma catarata.

Fala-se em demasia de como Deus transforma o coração das pessoas.

Todavia, eu pude ver que tantas pessoas, sendo evangélicas desde pequenas ou tendo se convertido, não são melhores do que as que não o são. Várias são preconceituosas, invejosas, superficiais e maledicentes, cheias de vaidades, achando que já foram salvas, que sabem de tudo. Converter-se não torna ninguém uma pessoa melhor. Mas, nos programas evangélicos, temos a impressão de que qualquer pessoa, que não seja evangélica, só anda no caminho errado. Comecei a contestar isso ao ver que muitos ateus, agnósticos, pessoas de outro credo ou que apenas não seguem nenhuma religião não são necessariamente pessoas que andam no caminho errado. A grande maioria tem uma boa vida familiar, trabalha, vive de forma honesta e não faz mal a ninguém. Só que dizer isso a evangélicos parece ofensivo. Eles respondem que de nada adianta nossa vida estar boa se não temos Jesus. Só o caminho deles é o correto.

Quando não vemos nenhuma promessa se realizar na nossa vida, logo surgem as justificativas, que nunca variam e são sempre superficiais: “tudo é só no tempo de Deus”; “isso é Deus testando sua fé”, “talvez o que você queira não esteja nos planos de Deus.” ou então: “as coisas são mais difíceis para as pessoas de Deus”. Eu aceitei isso por um tempo, embora algo dentro de mim me dissesse que isso não era satisfatório. Hoje, entendo que, se não sei, tais pessoas também não sabem. Elas agem como se tivessem ligação direta com Deus, porém vemos que não se aprofundam em nada, apenas vão logo

dizendo verdades como se pudessem explicar tudo. Lembro bem de quando me irritei com uma cabeleireira quando ela falou que um amigo meu que tinha cometido suicídio estava no inferno. Eu odiei porque, se temos de entender o ato que uma pessoa comete na loucura da dor, que Deus, supostamente tão perfeito e acima das imperfeições humanas, seria tão insensível a ponto de condenar alguém eternamente por um ato impensado que ela cometeu contra si mesma?

Na verdade, o que esses pastores pregam acaba por prejudicar nosso discernimento. Ficamos presos numa ilusão de que um dia ocorrerão os milagres que “Deus prometeu”, vemos o tempo passando e, muitas vezes, por nos focalizarmos demais só nessas promessas, deixamos de fazer logo algo que poderia resolver nossas vidas. Sejamos francos: alguma vez, alguém viu sua vida mudar por milagre? Não, nenhuma mudança veio de repente, mas foi sempre o fruto de um processo longo e sofrido. E tudo isso contesta o que afirmam de que “as coisas virão no tempo de Deus”. Se não corrermos atrás de nada, nunca chegará o tempo de conseguirmos um emprego. Orar e não entregar currículos ou fazer concursos não adiantará de nada pois empregos não caem do céu, não vêm embrulhados em pacote. Nesses templos, eles

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passam a imagem de Deus como a de um gênio da lâmpada ou a de um Papai Noel, que, na hora certa(que talvez nunca venha) aparecerá trazendo o tempo de bonanças. Errado. Sabemos bem que enfrentaremos problemas nossa vida inteira. Conseguir o que queremos também não traz felicidade. Muitos ex- crentes disseram que viram pessoas que morreram sem que nada mudasse em suas vidas. As coisas mais importantes em nossas vidas vêm após muito esforço.

Sair desta ilusão foi muito difícil e sofrido. Quando eu estava cansada de esperar milagres, ouvia mãe dizer que eu tinha que ter fé, que eu não estava acreditando nas bênçãos que viriam. Eu acabava me sentindo culpada por duvidar. Mas Nenhuma bênção veio. Nada do que aquele pregador disse que me aconteceria aconteceu. E, por ter dado ouvidos ao que me disseram, deixei de fazer coisas que poderiam ter melhorado antes minha vida. Disseram-me para esperar o “tempo de Deus”. Quando esse tempo chegará? Nunca. Sei que, se algo ocorrer na minha vida, terei sido eu que fiz com que

acontecesse.

Esse Deus de milagres pregado nesses templos só muda a vida dos pastores, assim como os livros de autoajuda só ajudam as pessoas que os escrevem.

Infelizmente, ainda vemos pessoas tolas que estão presas debaixo dessa redoma.

As sandices e crueldades ditas e feitas por pessoas religiosas

Sabemos muito bem que, independentemente da nossa crença, precisamos ter bom senso e avaliar bem o que nos é dito acerca de supostos desígnios divinos de qualquer entidade, principalmente para não sermos injustos diante das desgraças humanas. Seja você católico, evangélico, espírita ou umbandista, se você possui bom senso, com certeza, não aprovará principalmente certas atitudes impetradas por certas pessoas "em nome de Deus" e com certeza sabe que não possui conhecimentos acerca dos mistérios do mundo para se dar a autoridade de dizer que tal coisa foi vontade de algum deus ou castigo divino.

Infelizmente, temos visto muitas pessoas dizerem verdadeiras barbaridades e sandices para convencer os incautos. Mas isso não é o pior. O pior é ver que muitos, achando-se talvez acima do bem e do mal, cometem atrocidades que desafiam nosso senso de justiça e compaixão, como o caso de um casal norte- americano em Manitowoc que espancou até à morte um menino de sete anos do qual tinha a guarda. E por qual motivo? Somente porque o menino não recitou uns versículos bíblicos. O castigo foi horrível: o menino foi obrigado a carregar um tronco de madeira pesadíssimo,foi agredido com socos e chutes e enterrado vivo sob a neve. Chegaram a levá-lo ao hospital, mas ele não resistiu.

Quanto as coisas ditas pelos religiosos, devemos observá-las bem, com bastante atenção, especialmente se o religioso for um pregador ou ministro religioso, que, afinal, é alguém que influencia mentes. E são muitos os que dizem absurdos e mentiras que revoltam. Uma mentira que prejudicou a vida de uma pessoa foi dita por um pastor à tia da esposa de um amigo. O filho dessa senhora tinha

mucoviscidose(fibrose cística) doença incurável e letal. Poucos portadores chegam à idade adulta. O

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pastor tinha iludido a pobre mulher com a promessa de que seu filho seria curado, mas ele morreu pouco tempo depois em consequência da doença. A mãe se afastou da igreja e o pastor, para chamá-la de volta, disse que aquilo tinha sido vontade de Deus. O que podemos dizer disso? Que foi uma picaretagem. Ele iludiu a mulher com promessas vazias e depois, para consolá-la, usou frases de efeito.

Um pregador que eu respeitava muito por ir contra a "teologia da prosperidade" - pregada por Edir Macedo e tantos outros- é o pastor batista norte-americano Paul Washer, até que assisti a um dos seus vídeos e fiquei chocada com coisas insensíveis ditas por ele. O respeitável pastor afirmou que a Aids era castigo divino e uma pessoa o contestou, respondendo que não poderíamos dizer isso já que muitas crianças contraem o vírus ainda no ventre das mães. Vejam a resposta dele: e quantas crianças Deus não matou no Dilúvio e em Sodoma e Gomorra? O que podemos dizer do que ele (formado em Direito e Teologia) afirmou? Que foi de uma insensibilidade enorme. Então, para conseguir o que se quer, vale matar inocentes? Um Deus desses não seria melhor do que qualquer terrorista islâmico que mata milhares de inocentes num atentado em nome de sua "guerra santa". Entretanto, com certeza, se alguém disse algo assim, esse pastor falará que os terroristas não adoram o verdadeiro Deus. Assim sendo,qualquer coisa que esse Deus faça, mesmo que prejudique inocentes, é válida e justa? Isso parece a apologética cristã de William Lane Craig, já refutada por muitos filósofos. E as mulheres direitas que pegaram Aids de seus maridos sem saber que eles tinham mulheres e até outros homens fora do casamento? Elas receberam castigo divino? Reflitamos. Parece justo dizer a alguém que nasceu com o vírus HIV que isso foi castigo divino? E Deus o teria castigado por quê? Pelo pecado do pai que teve relações sexuais fora do casamento e contaminou a mãe, culpada apenas de confiar nele?

Esses absurdos não têm fim. Entre as muitas coisas ridículas que muitos já devem ter ouvido, há a de que Xuxa teria feito pacto com o demônio para ter sucesso como apresentadora. Alguns até falam que seu apelido seria junção de Exu com Xangô. Vejamos bem. Além de nunca ninguém ter provado que Xuxa teria pacto satânico, está se incorrendo no velho preconceito de que as religiões africanas são demoníacas. Já se falou muito que meninas que teriam a boneca da Xuxa teriam sido agredidas e até mortas pela mesma. Estranho que isso nunca foi comprovado. Por que não houve uma profusão de meninas atacadas pela boneca? Teria sido um caso digno do Jornal Nacional, capaz de fazer os roteiristas de Brinquedo Assassino morrer de inveja.

Ainda há quem diz que o ator que fazia o boneco Fofão teria confessado ter pacto com Satanás e que, quem quisesse comprovar, era só abrir o boneco. Ainda se fala que a Hello Kitty é diabólica e que gnomos e duendes seriam entidades maléficas. Uma vez, minha mãe me falou sobre uma mulher que havia se convertido que contara num depoimento que, numa época em que ela era mística, ela colecionava duendes e que, uma noite, fora atacada. Então, ela se converteu e se desfez dos gnomos.

Vejamos bem. Gnomos e fadas são entidades do folclore europeu. Se devemos admitir que são satânicos, o saci-pererê, a mula-sem-cabeça e o curupira(criaturas do nosso folclore) também o são. A propósito, se alguém que conhece as carrancas, sabe que elas eram usadas porque se acreditava que havia um negro d'água que derrubava os barcos. Usavam-se então tais carrancas para espantar o negro.

Porém, ouvi muito que elas permitiam que diabos viessem habitar nas nossas casas. Na época em que fui evangélica, convenceram-me a destruir um broche de gnomo dado por uma tia, anéis em formato de meia-lua e uma bruxa de pano. Hoje, eu me pergunto: por que ninguém é atacado por anões de jardim?

Já que gnomos são diabinhos, as pessoas que os têm deveriam ser atacadas por eles. Meu irmão tem um gnomo há anos e nunca foi atacado por ele.

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Quem lembra da tragédia do furacão Katrina sabe que muita gente morreu naquele triste episodio. E o que a cantora Baby do Brasil disse? Que foi castigo divino porque na região em que ocorreu o desastre (Nova Órleans) só há vodu. Com certeza, a tal cantora não percebeu que disse um contrassenso.

Tragédias assim ocorrem porque ocorrem e, quando acontecem, atingem tanto cristãos quanto budistas, umbandistas, ateus ou xintoístas. Se uma enchente ocorre onde vivo, a casa do meu vizinho não será poupada por ele ser evangélico. Acreditar em Deus não protege ninguém de nenhuma tragédia, seja ela natural ou fruto de erro humano. E, falando-se em castigo divino, com certeza muitos católicos se sentirão ofendidos(com toda a razão) se souberem do que disse uma mulher a respeito das secas no Nordeste: "é castigo divino por causa da idolatria, porque não conhecem o Deus verdadeiro. E a fome na África é castigo porque eles fazem feitiçaria." Quem disse isso deveria estudar História. O Egito, terra bem seca, adorava muitos deuses e era bem avançada para a época. E sabia contornar as agruras do clima quente e seco.

Aliás, hoje mesmo assisti ao vídeo de um senhor analisando as tragédias de Brumadinho e dos meninos jogadores de futebol mortos em incêndio. Primeiro, ele expôs as afirmações de pessoas religiosas a respeito dessas tragédias: "Deus sabe o que faz"; "essa foi a vontade de Deus". E que depois essas pessoas iam rezar para pedir conforto. O senhor observou que se para essas pessoas foi Deus que provocou essas tragédias, elas estavam indo orar para seu próprio algoz. Ao que isso equivale? A pedir a quem nos deu um tiro para fazer uma cirurgia removendo a bala. Que irônico, não? Ele também analisou afirmações ditas por quem acredita em karma, reforçando ser muito contraditório se dizer que se deve ter piedade de quem passou por essa tragédia e, ao mesmo tempo, que elas tiveram que passar por isso por causa de coisas ruins que teriam feito em outras vidas. O mais engraçado foi uma coisa que ele disse:

"todo mundo aprontou em outra vida lá na França, Itália, Inglaterra e vem pagar aqui, justamente no Brasil." Isso até parece com o que já falei sobre as bombas em Hiroshima e Nagasaki. Como tanta gente com o mesmo karma ruim estava ali, ao mesmo tempo e no mesmo lugar? Vamos admitir que essas tragédias são fatos, resultantes de atos humanos que infelizmente atingem gente inocente que nada fez para merecer. Se formos levar a lei do karma a extremos, teremos que admitir que toda criança vítima de abuso sexual ou pessoas que sofrem estupro coletivo durante guerras cometeram barbaridades em vidas anteriores, não? Que dizer dos mortos nas câmaras de gás, nas crianças que morrem no Oriente Médio, das pessoas que estão sofrendo no Iêmen, Venezuela e tantos países miseráveis, assolados por fome, miséria, falta de saúde e de segurança? Como se arruma tanta gente com um karma tão pesado?

Quando eu estava no auge do desespero por não conseguir emprego e não ver se cumprirem as promessas de que minha vida logo mudaria, minha mãe falava:"minha filha,você é uma pessoa muito boa e Deus é por você." Hoje, vejo que tais palavras, embora ditas com a intenção de consolar, não tinham comprovação. Ser bom não protege ninguém de nada, não coloca pessoa alguma sob um véu de proteção. Por acaso, a menina Isabella Nardoni, o menino Bernardo Boldrini, o menino João Hélio(que morreu ao ser arrastado de carro), a dentista Magali Moutinho eram pessoas ruins? Devia haver pessoas maravilhosas nos campos de Auschiwitz. Mas lá morreram pessoas boas e ruins. A verdade é que tragédias atingem todo mundo, acreditando ou não em Deus. E a vida não é mais fácil para quem acredita. Dizem que tenho que acreditar porque senão será mais difícil eu conseguir as coisas. Será?

Vejamos a situação de quem está desempregado? Tanto o ateu quanto o que acredita têm que lutar por emprego, pagar contas, correm o risco de ser assaltados, morrer de desastre, desenvolver câncer.

A única diferença é que o ateu, agnóstico ou deísta não vai atribuir as desgraças a uma vontade divina

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nem procurará socorro divino nas horas de dificuldade. Ele entende que é o único que poderá fazer algo a respeito da situação que possa estar enfrentando.

Pequenas inverossimilhanças

Com certeza, qualquer pessoa com um senso crítico minimamente apurado já observou pequenas inverossimilhanças em desenhos animados, novelas, filmes, minisséries ou seriados.Estas

inverossimilhanças não chegam a comprometer seriamente a qualidade do trabalho, claro, mas não dá para deixar de admitir que, se os autores houvessem sido mais cuidadosos, as histórias teriam sido melhores. Obviamente, é fácil falar. Entretanto, temos de observar com cuidados nossas histórias nos mínimos detalhes se quisermos que pareçam reais aos que vierem ler ou assistir àquilo que criamos. No geral, a maioria das pessoas não presta tanta atenção a esses detalhes, que geralmente passam

despercebidos e devemos deixar claro que não se está dizendo a ninguém que pare de gostar de nada.

Cada um tem direito de gostar do que gosta. Porém, reparar nessas inverossimilhanças é até divertido, pois nos mostra como precisamos prestar atenção a coisas como o histórico dos personagens, o contexto social e ambiente em que estão inseridos e tudo o mais. Então, vamos falar de algumas coisas sem sentido vistas em alguns programas:

1- Com certeza, poucos lembram do desenho Bravestarr, que passou nos anos 80 e era exibido pela Globo. A trama era uma mistura de faroeste com ficção científica e se passava no século XXIV num planeta chamado Novo Texas. O protagonista era um delegado índio que combatia criminosos e, como He-man e She-ra, sempre tinha uma lição no fim de cada episódio. Num desses, chamado A caminhada, um rapaz, que parece ter uns dezesseis anos e é filho de um ex-xerife, confessa que achava que disparar armas era divertido mas que tinha aprendido que elas podiam machucar alguém, ouvindo do delegado Bravestarr que armas podiam mais que machucar. Podiam matar. Qual a inverossimilhança? Vejamos, o desenho é ambientado no Oeste e de origem norte-americana. Ninguém ignora que é comum que pessoas tenham armas em casa nesse país, especialmente em áreas rurais. Não é incomum vermos meninos de doze ou treze anos atirando muito bem e o normal é que os pais tenham sido seus professores. No velho Oeste, um jovem de dezesseis anos saberia muito bem que uma arma de fogo podia matar alguém. Ainda mais o filho de um ex-xerife que, com certeza, explicaria ao filho como manusear uma arma. Está certo que esse deslize não chega a comprometer a história como um todo, mas, para uma trama ambientada no faroeste, soa esquisito um adolescente não entender o poder mortífero de uma arma.

2- Quem já assistiu a Dennis, o pimentinha, com certeza devia achar Henry, o pai de Dennis, muito mole e incapaz de uma ação mais enérgica. Bem, houve um episódio no qual o avô paterno de Dennis diz ao menino que Henry, assim como ele, também vivia aprontando. Fica subentendido que um dia Dennis terá um filho igual a ele e que Henry explicará ao neto como o pimentinha aprontava. Façamos a seguinte pergunta: alguém imagina Dennis ficando mole igual ao pai dele? Com certeza não. O normal é que crianças ativas e travessas se tornem adultos enérgicos e agitados. E o pai de Dennis é muito quieto, não tem nenhuma característica de quem foi uma criança travessa. Muitos que viram esse episódio se perguntaram como um homem que foi uma criança tão agitada tenha ficado assim. Claro que isso não torna o desenho menos divertido, mas percebemos bem que não seria possível na vida real.

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3- Muitos lembram da bela novela Senhora do Destino, não? A novela foi ótima, porém apresentou um lapso que chega a ser engraçado. Uma personagem, Daiane, moradora de favela, era totalmente ingênua e ignorante acerca de coisas como a existência de crianças viciadas em crack. Ela fazia uma tolice atrás da outra e um dia sua mãe e o namorado dela, um taxista, levaram-na para dar uma volta para conhecer a realidade. E ela se chocou ao ver crianças viciadas em crack. Como uma menina que nasceu e cresceu numa favela é tão boba? Hoje, qualquer criança, assistindo à televisão, sabe dessas coisas e ninguém ignora que crianças de favela são mais espertas e têm mais vivência do que aquelas de classe média alta.

Fazer uma menina de favela ingênua é tão sem sentido quanto fazer um índio não conhecer os caminhos da floresta, não é mesmo? Embora este erro não tenha chegado a diminuir a qualidade da novela, não dá para deixar de reconhecer que nenhuma criança ou adolescente que viva nesse ambiente poderia ser inocente.

Enfim, é fácil observarmos erros nos trabalhos dos outros e difícil que percebamos os que nós mesmos cometemos. E é exatamente por isso precisamos reler e revisar o que escrevemos, pois nós não estamos livres de cometer deslizes como os comentados neste artigo.

A rivalidade entre personagens

Um desenho que fez muito sucesso nos anos 80 e que ainda hoje é lembrado com saudade por muitos adultos é Defensores da Terra, em que heróis como Flash Gordon, Mandrake, Lothar e Fantasma, com seus respectivos filhos, defendiam o planeta Terra de Ming, o impiedoso. Era um desenho bastante bom e que muitos hoje podem assistir pelo Youtube.

Acompanhando os capítulos, há um que chama a atenção. Nele, os três filhos dos heróis, Rick Gordon, Jedda e LJ (Lothar Junior) pegam umas naves para competir e ver quem é o melhor. Seus pais lhes dão umas grandes broncas, reclamando de suas atitudes e dizendo que são uns tolos. No final do episódio, eles aprendem sobre união e que o mais importante é que aprendam a trabalhar juntos usando seus talentos.

Bem, a mensagem final é realmente bastante educativa, mas há pontos a

considerar, principalmente porque a bronca dos pais pareceu exagerada. O que eles estavam fazendo de errado ao competir para ver quem pilotava melhor? Vejamos a faixa etária dos garotos: todos pareciam ter cerca de dezesseis anos. Nesta idade, o espírito de competição é bastante normal. Adolescentes lutam por autoafirmação e para se destacar em algo e, ao competir, alguém pode lutar para fazer o seu

melhor. Teria ficado mais bem colocado se os pais - que parecem ter esquecido que já tiveram essa idade nesse episódio e, portanto, competiam com seus amigos e outros jovens - lhes dissessem que competir era normal, porém que o mais importante era eles aprenderem a se unir nas horas necessárias.

Além disso, quantas histórias não têm como pontos fortes a rivalidade entre personagens? Que seria de Street Fighter sem a rivalidade dos amigos Ryu e Ken?

Os dois eram os melhores amigos, mas competiam entre si. Outra história com

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personagens rivais é Yu yu hakusho, em que Kuwabara e Yusuke, dois delinquentes juvenis, começam como rivais mas depois se tornam detetives sobrenaturais e se unem para enfrentar demônios. Aliás, desde o começo, pode-se notar que Kuwabara e Yusuke, embora fossem rivais, tinham um grande respeito mútuo. De uma forte rivalidade, podem surgir respeito e amizade. Também podemos mencionar Dragon Ball, com Goku e Vegeta. Ambos são rivais e inimigos no começo, porém se

tornaram aliados e se podia ver que um admirava o outro. E o famoso desenho das Tartarugas Ninja perderia metade de sua graça se não fossem as constantes brigas de Raphael e Leonardo. Um vivia a brigar e implicar com o outro e não era incomum que os quatro irmãos competissem entre si para ver quem era o melhor nas artes marciais. Como adolescentes, eles se desentendiam e queriam se afirmar.

Entretanto, quando era para combater seu inimigo, uniam-se e esqueciam as diferenças entre eles.

Enfim, rivalidade entre pessoas que fazem parte de uma mesma história,

especialmente se forem adolescentes, pode fortalecer bastante a trama. Uma certa disputa é normal e - até certo ponto - saudável nessa faixa etária. No caso da história dos Defensores da Terra, os pais não precisavam ter ido tão longe na bronca, agindo como se os garotos tivessem feito algo errado porque, na verdade, não estavam.

Ninguém sabe a verdade

Sabemos muito bem que, para não falar coisas impróprias, devemos analisar bem uma situação antes de fazer julgamentos superficiais e que soam impróprios para explicar o sofrimento e a maldade humana. E muitas pessoas, especialmente as religiosas, ficam dizendo coisas que, analisadas a fundo, revelam-se bastante inconvenientes do tipo: “Ah, foi Deus que quis assim” ou “ isso foi castigo de Deus.” Quando eu analiso essas frases, provando o quanto, além de impróprias, podem ser ridículas, não estou

questionando a existência de Deus nem fazendo especulações sobre Ele, dizendo que Ele é um Papai Noel. Aliás, no meu texto, Por que deixei de ser evangélica, deixo bem claro que uma das coisas que me fizeram sair esta religião foi o monte de mensagens ilusórias que O colocavam como alguém que, no tempo certo, iria nos cobrir de bênçãos e mudar nossa vida. E analisar bobagens ditas por religiosos não prova que Deus não existe. Apenas que, independentemente do que acreditamos, precisamos ser sensíveis ao sofrimento das pessoas antes de dizer coisas que, além de não explicarem nada, ainda mostram um Deus cruel, mesquinho, vingativo e indiferente. Também vale salientar que dar diagnósticos sem considerar as circunstâncias de cada caso é bastante errado, porque não podemos esquecer que cada situação tem causas que não podem ser aplicadas a outros casos. Assim, não podemos ir logo generalizando e dando opiniões sem avaliar um caso em suas particularidades.

Num dos meus textos, analisei o que disse o reverendo americano Paul Washer. Ele afirmou, com bastante veemência, que a Aids era castigo de Deus, justificando sua afirmativa com os exemplos do Dilúvio e de Sodoma e Gomorra. Vejamos bem. Dizer que Aids é castigo divino é algo muito sério. Como ele pode afirmar isso com tanta certeza? Ele tem alguma ligação direta com Deus, como Moisés e

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Abraão? A gente pode dizer que Aids é resultado de uma vida sexual descuidada, mas castigo divino?

Deus apareceu para ele dizendo isso? Ou algum anjo lhe fez a revelação? Da mesma forma, perguntemo- nos: Baby do Brasil recebeu algum sinal divino que lhe mostrou que o furacão Katrina foi castigo divino porque a região tem muitos praticantes de vodu? Converter-se a uma religião não torna ninguém mais sábio ou dono da verdade e, mesmo que você acredite em Deus, tome cuidado ao colocar o nome Dele para justificar tudo que acontece, ou você soará arrogante e cruel.

Eu posso dizer que o cigarro causa câncer ou que a Terra é redonda porque outras pessoas o disseram antes de mim e há bases científicas que provam o que eu afirmar, mas não posso dizer algo como: “a África é um continente amaldiçoado por Deus por causa da bruxaria que se pratica lá” ou que “o rock é uma música satânica”. Ademais, quando damos diagnósticos baseando-nos em crenças, sejam religiosas ou não, podemos ser bem preconceituosos. Para reforçar o que se afirma, usemos o exemplo de um professor de História admirador de Hitler e suas teorias eugenistas – já citado por mim na crônica Certas pessoas não deviam ensinar- que afirma que o Brasil é subdesenvolvido por causa da nossa mistura de raças. Esse mesmo professor, ao avaliar a tragédia de Brumadinho, explicou a negligência das

autoridades que deviam cuidar da barragem com a seguinte afirmação: “isso é porque para lá iam os piores tipos de pessoas, tudo criminoso, gente gananciosa, querendo enriquecer, já que lá havia muito ouro. Lá, é tudo descendente de ladrão, de desonesto.” Quem é mineiro não deve gostar nada de ouvir isso. Aliás, esse professor deveria saber que, para a Austrália,(país de Primeiro Mundo) a Inglaterra também enviava os criminosos. Será que ele saberia explicar isso?

O problema de muita gente é falar antes de refletir ou conhecer uma situação e, quando vêm nos julgar por analisarmos frases superficiais ditas por gente religiosa, vão logo afirmando que estamos tentando entender Deus através de nosso limitado entendimento humano. Eu não posso entender Deus. Como posso entender algo além do que nossa imaginação, razão e conhecimento possam conceber? O que posso é ver que muitas das tentativas de explicar o mundo colocando o nome de Deus no meio podem ser vazias e sem sentido. E que muitos dos problemas que ocorrem em nossas vidas, se avaliarmos bem, têm explicações bem humanas e lógicas. Todavia, muitos vêm logo colocar comentários arrogantes e vazios na minha escrivaninha, dizendo que meu problema é ver Deus como um Papai Noel e esperar que Ele resolva tudo.

Quando uma senhora disse algo a mim do tipo: “fazemos nossos planos mas Deus tem coisa melhor para a gente”, isso me forçou a analisar. Ela por acaso fala diretamente com Deus para poder dizer isso? Além disso, o argumento dela se provou uma falácia, pois ela acabou com o livre arbítrio, mostrando Deus como alguém que interfere em todos os aspectos de nossa vida pessoal. Foi algo dito para consolar, no entanto soou arrogante e superficial. Muita gente, por causa de suas crenças, acha que pode explicar tudo. Só que a gente nunca deve tentar explicar nada sem antes estudar profundamente o que nos aparece. E que Deus é esse que interfere assim na minha vida e não interfere quando um louco resolve atirar em crianças inocentes numa escola? Vale salientar que, nos Estados Unidos, há muitos cristãos.

Então, muitas das crianças que morrem alvejadas são cristãs. Morreram por castigo divino? Entendamos que mostrar tolices ditas por gente religiosa não prova nada acerca da existência ou inexistência de Deus. Prova apenas que nossas crenças não explicam tudo que existe e acontece e que temos de tomar cuidado para não falar coisas superficiais e insensíveis.

Falaram uma vez a uma moça: “quem sabe você ficar solteira não é Deus lhe poupando. Tanto

casamento ruim no mundo, tanta gente que tem filhos ruins.” Mais uma frase de consolo que não prova

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nada. Entre tantas outras mulheres que têm o azar de arrumar péssimos maridos, Deus vai se ocupar dela? Então, é para ela se sentir privilegiada, especial? Se é para Deus poupá-la, então, seria justo exigir que Ele poupasse um monte de crianças inocentes de sofrer abuso sexual, não? Para mim, já disseram:

“Não namore essa pessoa, minha filha, ore para Deus lhe mandar o homem certo.” Querer que Deus se dê ao trabalho de me mandar uma pessoa certa em vez de ir namorando e vendo quem é ou não bom para mim não é me achar importante demais? E depois, o certo não é que a gente vá conhecendo as pessoas para adquirir sabedoria e veja com nossos próprios olhos o que nos serve? Não viver a vida para aprender a se defender e esperar que “Deus nos mande a solução no tempo certo” é ficar num estado de permanente infantilização, esperando que Deus resolva tudo para nós como um pai ou mãe que atende a todos os desejos de uma criança mimada.

Uma das coisas que mais me disseram foi para não ir atrás de qualquer emprego, mas ficar fazendo concursos públicos, porque “Deus tinha grandes planos para minha vida” e tinha coisas melhores guardadas para mim, que me daria no tempo certo. Hoje, vejo que isso foi uma grande mentira, algo em que me fizeram acreditar mas que não corresponde à realidade e até me impediu de fazer logo a coisa certa em relação à minha vida. Com tanta gente lutando para arrumar emprego e o nosso país vivendo uma crise que obriga muitas pessoas a arrumarem trabalhos e serviços muito abaixo do seu nível de formação, vou ficar me achando especial e importante, acreditando que Deus vai, como um Papai Noel, mandar um emprego à minha altura embrulhado em fita dourada?

Todo mundo precisa lutar por melhores condições de vida, ninguém pode ficar esperando que Deus mande soluções milagrosas. Pensar assim até transforma o milagre em algo banal, corriqueiro. O Padre Quevedo até salientou em um programa que não podemos dizer que qualquer bobagem é um milagre porque isso significaria que o milagre, então, é uma bobagem.

Entre os motivos mais fortes para ter deixado a religião evangélica está o fato de que eu vi que esses pastores não são diferentes de quem escreve livros de autoajuda. Eles prometem maravilhas, dizem que temos “chuvas de bênçãos” para receber e que, no tempo certo, chegará a “vitória” que nos é reservada.

Tudo isso é maravilhoso, mas vazio e irreal. Assim como esses livros de autoajuda pregam besteiras de que basta fazer afirmações positivas ou saber usar a lei da atração que conseguiremos o que queremos, esses pastores – especialmente os do tipo de Edir Macedo – ficam dizendo apenas o que esperamos ouvir e passando um retrato de Deus como o de um grande mágico que resolverá nossos problemas, fará vir um tempo de abundância ou tudo o mais.

A vida mostra que é bem diferente. As coisas boas aparecem nas nossas vidas se nós fizermos com que aconteçam, e as coisas ruins são resultado dos nossos erros, escolhas erradas ou mesmo de fatores que podem estar além do nosso controle, como a crise econômica que nosso país atravessa. E esta crise é fruto de corrupção e descaso, não vontade de Deus. Todos nós estamos sujeitos às desgraças, doenças e a encontrar quem nos faça mal. Por não ter conseguido emprego na minha área, vi-me obrigada a adaptar-me às circunstâncias e vou fazer curso profissionalizante na área de estética para poder trabalhar, porque não quero mais esperar o tempo de passar em concurso ou de aparecer o emprego certo.

Portanto, acho que já dei explicações suficientes que mostram que não estou fazendo especulações sobre Deus nem que espero que Ele seja um mágico que me dará tudo que preciso. Aceitei que, se a vida é dura para todos, não posso esperar que seja mais fácil para mim e que conhecer a verdade da vida nos deixa mais preparados para enfrentar os problemas e até tomar as decisões certas.

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As péssimas mães da ficção

Costumamos imaginar as mães como seres sábios e fontes inesgotáveis de compreensão e amor. Porém, a vida real mostra que muitas mães estão bem longe de corresponder a esse ideal divinizado. Há mães boas e más e mães são seres humanos, que podem dar conselhos errados e cometer muitos equívocos na educação dos filhos. Algumas inclusive podem ser negligentes, omissas, permissivas ou rígidas demais, maltratar seus filhos, desprezá-los e fazer tantas outras coisas que podem acabar com suas vidas. E a literatura, o cinema e a televisão são pródigos em nos fornecer modelos de mães bastante falhas e até monstruosas.

Um exemplo bem clássico é o da peça Medeia. Quem conhece a mitologia grega com certeza sabe da história do tosão de ouro em que Jasão e os argonautas partem em busca da relíquia e o príncipe Jasão é auxiliado por Medeia, princesa e feiticeira que se havia apaixonado pelo príncipe guerreiro. Aliás, podemos dizer que, se não fossem os conhecimentos de feitiçaria de Medeia , - sobrinha de Circe - Jasão não teria pego o tosão nem recuperado o seu reino. Ela vai com ele ao seu reino, casa e tem dois filhos com ele. Entretanto, o ingrato Jasão a abandona para casar com outra. Medeia, para se vingar, mata os próprios filhos para causar dor ao homem por quem tanto sacrificara. A peça Medeia é um verdadeiro clássico que tem como tema a vingança.

A Bíblia também tem um ótimo exemplo de mãe que erra muito. Rebeca, esposa de Isaac e mãe de Esaú e Jacó, tem clara preferência por este último, induzindo-o a enganar o pai para receber a bênção destinada a Esaú e ajudando-o a fugir para escapar do gêmeo vingativo.

Quem leu o romance Dois irmãos de Milton Hatoum ou assistiu à ótima série produzida pela Globo, logo percebe que a história dos gêmeos Yakub e Omar é uma clara referência à história bíblica de Esaú e Jacó.

Podemos ver bem como Zana, a mãe dos gêmeos, ama exageradamente o gêmeo transviado Omar, acobertando descaradamente seus erros, dando desculpas para suas malandragens e negligenciando seus outros filhos e até o seu marido, Halim. Embora ela se orgulhe de Yakub, aluno brilhante, dá-lhe pouca atenção e sua atitude acaba provocando a lenta desagregação da família.

Uma mãe monstruosa é a de Preciosa, filme no qual a protagonista é uma jovem negra e obesa de origem pobre que sofre todos os tipos de abusos possíveis. O pai a estupra e ela engravida dele duas vezes. Sua mãe, além de conivente com o estupro, ainda a humilha, espanca, obriga a fazer o serviço da casa e ainda a usa para obter benefícios indevidos da Previdência Social já que, além de nada fazer em casa, não trabalha e não quer que a filha entre num programa educacional que lhe abrirá as portas para um futuro, dizendo que Preciosa é burra demais. Uma cena tocante é a em que Preciosa conta como deu à luz seu primeiro filho: ela relata à assistente social que foi no chão da cozinha enquanto a mãe lhe chutava a cabeça.

Outra mãe que está longe de ser exemplar é Scarlett O'hara, de E o vento levou. Ela não dá atenção à filha Bonnie, a ponto do pai, Rhett Butler, ocupar-se inteiramente da menina. Rhett chega a dizer que uma gata é melhor mãe do que ela. Quem tiver lido o romance de Margaret Mitchell saberá que Scarlett teve outros dois filhos antes de Bonnie, pois casou duas vezes antes de casar com Rhett. Ela despreza seus dois filhos mais velhos, que morrem de medo dela.

Também se pode mencionar Fiona Cleary, de Os pássaros Feridos, romance australiano que inspirou

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magnífica série protagonizada por Rachel Ward e Richard Clayderman. Embora tenha vários filhos, é incapaz de lhes dar amor, mostrando gostar apenas do seu mais velho, Frank e trata Meggie, sua única filha mulher, com total indiferença. Meggie passará grande parte de sua juventude lamentando a falta de atenção de sua mãe e ambas só chegarão a um entendimento depois que Meggie, já adulta, conhece um pouco do passado de sua mãe e do que a levou a se tornar uma mulher dura e amarga.

As novelas brasileiras também são cheias de mães que erram e se revelam incapazes de dar amor aos filhos. Quem assistiu a Avenida Brasil há de concordar que Carminha é uma mãe bem monstruosa. Só se importa com seu mais velho, Jorginho, e despreza de forma bem explícita sua caçula, Agatha,

humilhando-a e ridicularizando-a, fazendo piadas de mau gosto com o fato da filha estar acima do peso.

Com certeza, há diversas mães que estão longe de ser modelos de amor e compreensão na ficção e na vida real. No caso da ficção, se elas fazem os filhos sofrerem, pelo menos podemos dizer que rendem histórias complexas e fascinantes.

A importância de criar bons personagens

Não é fácil criar uma boa história, pois isto exige saber elaborar uma trama envolvente e verossímil, com temas interessantes, um começo que atraia a atenção dos leitores e/ou espectadores e um

desenvolvimento que não seja nem rápido nem lento demais. Porém, o mais importante é criar bons personagens, porque eles são a verdadeira alma da história e quem lê ou assiste precisa se interessar pelo destino dos personagens. Como criar um bom personagem? Não há uma resposta única, mas é bastante óbvio que isto dependerá e muito da habilidade, conhecimentos e esforço do escritor, o qual precisará estar atento a inúmeros detalhes para construir um personagem com o qual nós nos identifiquemos à medida que mergulhamos em seus dramas,lutas e desenvolvimento.

Ainda que não haja fórmulas para compor personagens que conquistem quem vai ler um livro ou assistir a um filme, seriado ou novela, podemos ver que há atitudes que poderão nos ajudar, como:

1-fugir de estereótipos - recorrer a estereótipos como a donzela indefesa, o vilão que é apenas malvado, a vilã sedutora ou o alívio cômico podem indicar falta de criatividade. Assim como o ser humano é complexo na vida real, assim deve ser com os personagens. Quanto mais reais eles parecerem, mais conseguiremos nos identificar com eles e suas histórias. Aliás, muita gente que tenta fugir do clichê da donzela em perigo tem recorrido muito a outro modelo feminino que alguns já

têm começado a considerar clichê: o da personagem feminina forte, que luta, usa armas, pratica artes marciais e tem que provar aos homens que é tão boa quanto eles. Temos a impressão que só há mocinhas delicadas ou mulheres duronas. E não é assim. Nada contra uma mulher lutar artes marciais ou usar espadas. Mas ser forte é muito mais que isso. Além disso, lembremos que tanto o homem quanto a mulher têm seus lados frágeis. Outros estereótipos dos quais é bom fugir são o gordo cômico e o negro que só serve como coadjuvante. Nestes tempos de representatividade, não vale mais reforçar preconceitos contra gordos e negros, que são seres humanos como todo mundo.

2- O personagem tem que ter um perfil que combine com sua história - um personagem que passou por determinadas experiências tem conhecimentos e uma determinada visão de mundo. Se um personagem

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vive numa favela, ele não pode ser inocente. Da mesma forma, um personagem que vive no Rio de Janeiro não pode falar como um sulista. Caso um personagem tenha passado um tempo na prisão, é evidente que tem que ser uma pessoa endurecida, sem ilusões e que saiba se defender, até porque muitos dos que estiveram presos precisaram brigar para conquistar respeito na prisão. Um personagem cujo perfil é adequado à sua história é o guerreiro Guts, do mangá Berserk. O jovem nasceu em

condições difíceis,criado por mercenários, aprendeu a lutar para sobreviver entre batalhas renhidas, foi obrigado a treinar extenuamente ainda muito criança, foi vendido pelo pai adotivo a um pedófilo que o estuprou e teve de matar o homem que considerava o pai para não ser morto. Não era de se esperar que ele fosse uma pessoa doce e inocente, não é? Ele é endurecido, confia apenas em sua espada e,

somente aos poucos, mostra que é muito mais sensível do que aparenta. Também podemos mencionar o delinquente Ash, do mangá Banana Fish, que foi criado por um mafioso que o fez de brinquedo sexual, marcando sua infância com traumas. O jovem tem um olhar de pessoa desiludida e solitária.

3 - O personagem precisa mudar - se um personagem passou por coisas como ser sequestrado e feito de escravo sexual, ele não pode voltar a ser a pessoa que era antes de passar pelo que passou. Ele pode até se tornar mais forte e maduro, mas nunca será quem era novamente. Caso ele fosse uma pessoa infantil, imatura e superficial antes de ter sofrido todas essas violências, esta será uma boa forma de fazê-lo se tornar uma pessoa mais madura, com uma outra visão de mundo. Os personagens têm de amadurecer, evoluir e crescer para parecer reais. Hoje em dia, não faz mais sentido botar personagens que não mudam. A natureza humana é dinâmica e mutável. Um bom exemplo de personagem que muda e amadurece é o Urie, de Tokyo Ghoul re:. No começo da saga, o líder do esquadrão Quinx era egoísta, arrogante e superficial, mais preocupado em conquistar um posto elevado do que exercer seu papel de líder e orientar seus companheiros. Mas mudou consideravelmente após a morte de seu colega Shirazu, que se sacrificou ao matar um poderoso oponente. Ver o seu colega morrendo em seus braços fez Urie se tornar mais consciente da sua responsabilidade como líder e ter mais consideração por seus colegas.

Muitos fãs da saga o consideram o melhor exemplo de personagem cujo caráter muda consideravelmente.

4 - criar personagens complexos - nós não somos só bons ou maus. Assim, um personagem, mesmo sendo vilão, pode ter um lado bom que o humanize e, caso o autor queira que nós o entendamos, ele pode mostrar sua história para que passemos a gostar dele. Don Vito Corleone, de O poderoso chefão, podia ser um mafioso implacável, mas era um marido e pai exemplar e Shylock, o agiota de O mercador de Veneza, embora fosse um usurário impiedoso, era comovente ao falar de como sofria preconceitos por ser judeu. Ultimamente, tem crescido a popularidade dos anti-heróis, que são os personagens que não se enquadram nos padrões sociais, seguindo um código próprio de conduta, como Scarlett O'hara, de E o vento levou. Mimada, egoísta, arrogante e interesseira, poderia ser uma vilã, mas não há como não nos encantarmos com sua luta para se reerguer da miséria e impedir que sua família morra de fome.

Ela pode ser egoísta, mas também é muito obstinada e inteligente.

5- perguntemo-nos se o personagem é realmente necessário - infelizmente, se certas tramas são muito longas e possuem muitos personagens, sempre há o risco de haver personagens desnecessários, que sentimos que não fazem falta. Um outro problema que pode surgir em tramas com personagens demais

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é não aproveitar bem certos personagens. O que o escritor pode fazer? Tentar imaginar como seria a trama sem o personagem. Será que tal personagem é fundamental?

Como podemos ver, criar bons personagens talvez seja a parte mais difícil de se escrever uma história.

Porém, se nossos leitores gostarem deles, sentiremos que foi recompensador ter investido tanto neles.

Não existem mimimis

“A vida avança, velho, e quem não avança com ela fica só, como você.”

Maximus Gorki

Hoje em dia, todo mundo adora falar que tudo é mimimi, frescura ou exagero. Se falarmos de bullying, essas pessoas que usam o discurso do mimimi dirão que, no tempo delas, isso era coisa normal e ninguém falava nada. Dirão que agora gays, negros e mulheres são cheios de besteiras e tudo o mais.

Façamos uma pergunta: será que essas pessoas que falam em mimimis são capazes de se colocar nos lugares das pessoas que elas chamam de “frescas” ou “melindrosas”? Dizer que leis antibullying ou que protegem as mulheres, negros, homossexuais e índios são exageros do politicamente correto não é apenas insensível, é uma prova de que quem diz isso, provavelmente, não presta atenção ao mundo à sua volta nem percebe que a vida evolui, anda para a frente.

Podemos falar que os negros são cheios de mimimis quando lembramos que, por um bom tempo, eles foram escravos não só no Brasil mas em outros países? Existe frescura e exagero por parte dos negros quando sabemos bem que, quando uma pessoa de pele negra entra num shopping, todos os seguranças já ficam de olho em seus movimentos, como se esperassem que ela fosse furtar algo? E, se houver um furto, suspeitarão logo dela. Ninguém também pode falar em mimimi quando se fala em bullying. Se bullying fosse apenas “besteira de jovem”, não haveria tantos casos de depressão e suicídio. Bem, talvez alguém diga que os jovens de hoje estão muito fracos e que, antes, não havia “essas frescuras”, pois cada um que aprendesse a se defender. Mas a gente pode dizer que é bobagem ser injustamente perseguido por um bando de valentões que se aproveitam de quem está em desvantagem, tratando essa pessoa como se ela fosse alguém sem valor, servisse apenas para ser saco de pancadas? Imaginemos como é alguém que sofre bullying e não entende por que o perseguem, sente-se sozinho, ignorado por todos, como se suas dores e o fato de ser agredido, humilhado e perseguido sem motivo não fosse importante.

É frequente que lhe digam que isso é “normal”, que antes era só brincadeira e que hoje as pessoas estão muito exageradas. Com frequência, as próprias famílias das vítimas de bullying dizem que a culpa é delas, que não sabem se defender e que os outros as agridem porque elas são bobas e passivas. Será que a questão do bullying é mesmo vitimização? Então, vejamos os casos de Columbine, de tantos outros tiroteios em escolas e o de Suzano. Todos os atiradores haviam sofrido bullying. Claro que nada justifica que vidas inocentes sejam ceifadas de maneira tão violenta. Mas o fato dessas pessoas chegarem a atos tão extremos é uma prova do quanto o bullying causa danos psicológicos que não podem ser ignorados.

No caso da Lei Maria da Penha, é mimimi? Então, mulher é mesmo para apanhar? Lutar por nossos

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direitos não é mimimi, é reconhecer nossa dignidade como seres humanos. Não seria necessário que houvesse leis que criminalizassem a homofobia e o racismo se não existissem o racismo e a homofobia e se todas as pessoas entendessem que somos todos iguais no nosso direito de ser tratados com dignidade. Antes, mulheres eram consideradas quase incapazes e hoje, mesmo com todos os avanços, ainda enfrentam muitos preconceitos. Culpa-se a mulher que foi vítima de estupro, assédio sexual. Uma mulher, muitas vezes, tem que provar que é tão boa quanto seus colegas homens se ocupa uma posição importante. Seria ótimo que chegássemos ao ponto de nenhuma mulher mais precisar sentir que tem de provar que pode ser tão boa quanto um homem na execução de uma tarefa. E que ninguém mais visse negros como seres inferiores – um absurdo num país com tanta miscigenação racial – ou homossexuais como abominação. Homossexualidade já foi considerada doença, é vista por muitos como pecado grave e, em outros tempos, era um crime passível de condenação à morte em muitos países. Nos países do Oriente Médio, eles são enforcados.

Seria ótimo que não separássemos mais as pessoas em negros, mulheres, índios, homens,

homossexuais, heterossexuais, crentes, descrentes e tantas outras categorias. O bom seria que todos nós nos víssemos como seres humanos.

Não podemos decidir a vida dos nossos filhos

"Fruto quando amadurece, cai das árvores no chão, e filho depois que cresce não é mais da gente não."

Jacinta Passos

"Vossos filhos não são vossos filhos.

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E embora vivam convosco, não vos pertencem."

Khalil Gibran

Sim, todos cometem erros, mesmo quando têm as melhores intenções. E os pais, como seres humanos, irão cometer vários. Entre os erros que eles podem cometer, além do da superproteção, está o de tentar decidir a vida dos seus filhos por eles, ditando-lhes seus caminhos. Muitos filhos, devido a isso, em vez de viver suas vidas, acabam vivendo verdadeiras mentiras, pois sentem que fazem apenas o que seus pais mandaram. Com certeza, os pais usarão todo tipo de argumento para forçar os filhos a fazer tal curso superior, seguir tal profissão, não namorar aquela pessoa e o mais comum será o de querer o melhor para os filhos. Certo, mas temos que entender que, obviamente, o melhor para uma pessoa não é impedi-la de andar com as próprias pernas, de usar o próprio discernimento para decidir que caminho tomar na vida. Ela é quem tem que saber o que lhe convém, não os pais. Os pais devem guiar os filhos

Referências

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