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Joao Guilherme de Moura Rocha Parente Muniz

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

JOÃO GUILHERME DE MOURA ROCHA PARENTE MUNIZ

A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DAS EMPRESAS FORMADORAS DE GRUPOS ECONÔMICOS

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

JOÃO GUILHERME DE MOURA ROCHA PARENTE MUNIZ

A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DAS EMPRESAS FORMADORAS DE GRUPOS ECONÔMICOS

MESTRADO EM DIREITO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência para obtenção do grau

de MESTRE em Direito do Estado, subárea Direito Tributário, sob a orientação do

Professor Doutor Paulo de Barros Carvalho.

(3)

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

____________________________________

(4)

Dedico este trabalho para toda minha família com muito amor e carinho. Especialmente a

Lalita,

(5)

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram à construção desta dissertação, especialmente, ao meu orientador Professor Paulo de Barros Carvalho; aos meus professores do Mestrado da PUC/SP Clarice Araújo, Elizabeth Carrazza, Robson Maia Lins, Charles McNaughton e Rosana Oleinik; à Professora Nélida Cristina Santos e à Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo; ao amigo Luís Merçon Vargas; à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, à minha cunhada Manuela Constantino e à minha esposa Lalita Rodrigues Muniz.

(6)

Por que será que eu estava procedendo à-toa assim? Senhor, sei? O senhor vá pondo o seu proceder. A gente vive repetido, o repetido, e escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros... Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Mesmo fui muito tolo! Hoje em dia, não me queixo de nenhuma coisa.

(7)

RESUMO

O objetivo deste trabalho é o de identificar os limites da responsabilidade tributária dos

grupos econômicos no direito brasileiro. O método utilizado é o hermenêutico-analítico, tendo

em vista partir-se da premissa do direito como um corpo de linguagem. O tema é abordado a

partir da análise de modelos normativos identificados na doutrina e na jurisprudência e

construídos em expressão à pretensão do Fisco em responsabilizá-los. As primeiras linhas do

estudo foram dedicadas à abordagem de conceitos jurídicos fundamentais e à explanação dos

cortes metodológicos realizados. Em seguida, após explicação sobre o percurso de construção

normativa, o foco passou à responsabilidade tributária e à personalidade jurídica e, logo após,

à definição de grupos econômicos e sua classificação, que foi construída com suporte em

tópicos do direito empresarial. Então, em solo firme, os principais modelos normativos

referentes à responsabilização tributária de grupos econômicos foram analisados pelos

prismas constitucional e legal. Ao final, restou-se reconhecido que somente haverá a

possibilidade de responsabilização de grupo econômico através da desconsideração da

personalidade jurídica nos casos de configuração de grupos econômicos ilícitos. Tais normas

poderão ser enunciadas tanto pela autoridade fiscal, com fulcro nos artigo 142 e no parágrafo

único do artigo 116 do Código Tributário Nacional, ou, mediante requerimento, pela

autoridade judicial, desde obedecidos os critérios do artigo 50 do Código Civil.

Palavras Chaves: Direito Tributário. Responsabilidade Tributária. Personalidade Jurídica.

(8)

ABSTRACT

This study aims to identify the limits of the tax liability of the economic groups and its

members in Brazilian law. The method employed is the analytical-hermeneutics, based on the

premise that the law is constituted by language. The approach begins from the analysis of

normative structures by the taxman point of view found in doctrine and jurisprudence. The

first chapters were devoted to fundamental legal concepts and some methodological

approaches. After explain about the normative construction routine, the major purpose

became the analysis of tax responsibility and juridical personality. After that, supported by

corporate law concepts, a definition of economic group was built, and a classification was

proposed. Then, already on firm ground, the main normative models regarding tax liability of

economic groups were listed and analyzed by constitutional and legal viewpoints. At last, it

was identified that the only possible way capable of making an economic group responsible

for its members tax debits was disregarding their juridical personality. Such standards could

be set either by the tax authorities, based on Article 142 and Article 116 of the National Tax

Code, or, upon request, by the judicial authority based on Article 50 of the Civil Code.

Keywords: Tax Law. Tax Liability. Juridical Personality. Disregard Doctrine. Economic

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11  

CAPÍTULO I – SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONCEITOS FUNDAMENTAIS. ... 15  

1.1   Considerações iniciais. ... 15  

1.2   A realidade e a linguagem científica. ... 15  

1.3   Método: o conceito e a definição como instrumentos analíticos. ... 23  

1.3.1  Os problemas da vaguidade, da ambiguidade e da carga emotiva. ... 28  

1.3.1.1   Da vaguidade. ... 29  

1.3.1.2   Da ambiguidade. ... 30  

1.3.1.3   Da carga emotiva. ... 31  

1.4   Objeto: sistema do direito e norma Jurídica. ... 34  

1.4.1   O sistema do direito. ... 35  

1.4.2   A norma jurídica. ... 38  

1.4.2.1   O percurso gerador de sentido. ... 41  

1.4.2.2   A definição da norma Jurídica. ... 44  

1.4.3   A estrutura lógica da norma jurídica. ... 45  

CAPÍTULO II – A RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA. ... 49  

2.1   Considerações iniciais. ... 49  

2.2   A regra matriz de incidência tributária. ... 49  

2.3   Breves anotações sobre a incidência tributária. ... 51  

2.4   A obrigação tributária. ... 55  

2.4.1   O objeto da obrigação tributária. ... 57  

2.4.2   Sujeição ativa na obrigação tributária. ... 58  

2.4.3   Sujeição passiva na obrigação tributária. ... 60  

CAPÍTULO III – RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. ... 63  

3.1   Considerações iniciais. ... 63  

3.2   Limites constitucionais materiais à responsabilidade tributária. ... 64  

3.3   Limite constitucional formal à responsabilidade tributária e sua repercussão infraconstitucional. ... 70  

3.4   A responsabilidade tributária no direito brasileiro e sua classificação. ... 75  

(10)

3.6   A unidade do sistema jurídico. ... 83  

3.7   O diálogo entre o direito privado e o direito tributário. ... 88  

CAPÍTULO IV – EMPRESÁRIOS, SOCIEDADES EMPRESARIAIS E O EXERCÍCIO DA EMPRESA NO DIREITO BRASILEIRO. ... 92  

4.1   Considerações Iniciais. ... 92  

4.2   Os desafios na definição do termo empresa. ... 93  

4.3   A definição de empresa. ... 96  

4.4   A atividade empresarial como subclasse da atividade econômica. ... 103  

4.5   As definições de empresário, estabelecimento e sociedade empresarial. ... 104  

4.6   A personalização das sociedades empresariais e do empresário individual. ... 107  

4.6.1   Breve histórico da personalização das sociedades empresariais. ... 108  

4.6.2   Autonomia da vontade e a personalidade jurídica. ... 115  

4.7   Espécies de sociedades empresariais no direito brasileiro. ... 118  

CAPÍTULO V – GRUPOS ECONÔMICOS NO DIREITO BRASILEIRO. ... 129  

5.1   Considerações iniciais. ... 129  

5.2   Os desafios à definição da expressão grupo econômico. ... 131  

5.3   Os grupos econômico na legislação e sua classificação. ... 133  

5.4   Os grupos econômicos na jurisprudência e sua identificação. ... 149  

5.5   A definição de grupo econômico. ... 160  

CAPÍTULO VI – A RESPONSABILIZAÇÃO TRIBUTÁRIA DOS GRUPOS ECONÔMICOS. ... 163  

6.1   Considerações iniciais. ... 163  

6.2   A origem do problema e suas possíveis soluções. ... 164  

6.3   As proposições normativas do artigo 124, I e II do Código Tributário Nacional. ... 166  

6.3.1   O artigo 124, II do Código Tributário Nacional e a solidariedade tributária do artigo 30, IX da Lei 8.212/91. ... 167  

6.3.2   O artigo 124, I do Código Tributário Nacional. ... 172  

6.3.2.1   O artigo 124, I do CTN e o interesse comum no fato jurídico tributário. ... 173  

6.3.2.2   O artigo 124, I e o interesse comum presumido dos grupos econômicos de fato. .. 177  

6.4   A responsabilização dos grupos econômicos ilícitos. ... 180  

6.5   A desconsideração da personalidade jurídica como possibilidade à responsabilização tributária de grupo econômico. ... 185  

(11)

6.4.2   A desconsideração da personalidade jurídica e sua aplicabilidade aos grupos

(12)

INTRODUÇÃO

Na década de 1970, o governo brasileiro implementou o II Plano Nacional de

Desenvolvimento, aprovado pela Lei 6.151 de 04 de dezembro de 1974, que definiu como

meta, dentre várias outras estratégias de desenvolvimento econômico e social, o

fortalecimento das grandes sociedades empresariais nacionais e a formação de poderosos

conglomerados econômicos brasileiros.

O propósito era fomentar fusões e incorporações societárias com o intuito de

consolidar o Brasil como uma potência econômica emergente, buscando vencer a fronteira

entre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento econômico e social. Além de consolidar o

modelo de economia de mercado.

Na busca pelo cumprimento do citado Plano, diversas medidas legislativas

foram tomadas naquela época, sempre em direção aos propósitos estabelecidos naquela

ocasião. Neste cenário, surgiu a Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404 de 15 de dezembro

de 1976) responsável por introduzir no ordenamento jurídico a regulamentação dos grupos

econômicos.

Nesta mesma época, no que tange ao direito tributário, houve a promulgação

do Decreto-Lei 1.598 de 26 de dezembro de 1977 que instituía a tributação em conjunto

desses grupos societários. Entretanto, em razão do posterior Decreto-Lei 1.648 de 18 de

dezembro de 1978, a tributação em conjunto foi revogada, nunca tendo sido efetivamente

testada no Brasil por questões de prazos específicos.1

A Lei das Sociedades Anônimas, por influência da legislação alemã,

determinou que os grupos econômicos brasileiros poderiam adotar duas formas distintas: o

grupo econômico de direito, modelo formal e que exigia registro próprio, e o grupo

econômico de fato, modelo que não exigia qualquer registro, bastando a comprovação de

controle ou significativa influência.

1 GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Das Relações Internas no Grupo Convencional de Sociedades. In:

(13)

Sem embargo, a diferença entre o modelo legal adotado na mencionada lei e os

modelos de negócios costumeiramente utilizados pelos empresários brasileiros – dentre outras

questões que serão abordadas no decorrer dessa dissertação – fez com que os grupos

econômicos do direito brasileiro ficassem marcado pela total informalidade e,

consequentemente, pelo liberdade de formatação.

A informalidade é tamanha que, hodiernamente, a identificação do grupo

econômico necessariamente deverá ser pontual, cabendo ao interessado identificar, no caso

concreto, se aquele conjunto de sociedades empresariais ou empresas individuais está ou não

subordinado a um controle unitário, o que deverá ser feito através da demonstração de atos

grupais.

Se por um lado, a informalidade agrada pela liberdade de escolha que lhe é

inerente, pelo outro, a ausência de controle dá ampla margem à ilicitudes e abusos.

Atualmente, é possível a identificação concomitante de grupos econômicos integralmente

legítimos e de grupos societários formados com o único e exclusivo intuito de fraude,

sonegação e blindagem patrimonial.

Em suma, se de fato o II Plano Nacional de Desenvolvimento do presidente

Ernesto Geisel logrou instigar a formação de Grupos Econômicos, os impulsos à formalização

desses grupos estabelecidos pela Lei das Sociedades Anônimas não tiveram a mesma

efetividade.

Neste cenário, já nos primeiros anos do século XXI, a Procuradoria da Fazenda Nacional, órgão constitucionalmente responsável pela legalidade, gestão e cobrança da dívida

ativa federal, passou a investigar, através de equipe específica e especializada, a formação e o

funcionamento desses grupos econômicos, sempre que um de seus membros fosse grande

devedor da União.

Foi a partir deste marco que os grupos econômicos entraram, definitivamente,

(14)

Não tardou muito para que a Procuradoria da Fazenda Nacional passasse a

oferecer modelos normativos ao Poder Judiciário em defesa da responsabilização dos grupos

econômicos pelas dívidas milionárias de um de seus membros, Automaticamente, os

advogados desses grandes grupos passaram a tentar desconstruir tais modelos normativos,

oferecendo resistência à pretensão fazendária e, no meio desta relação, juízes federais e

estaduais passaram a enfrentar, muitas vezes em execuções fiscais, todas essas questões.

Neste diálogo processual, onde impera a linguagem técnica e, por vezes, a

linguagem ordinária, diversos modelos normativos foram apresentados e, consequentemente,

diversas normas concretas e individuais foram introduzidas no ordenamento jurídico, tanto

pelo Poder Judiciário, quanto pelas autoridades fiscais.

O objeto desta dissertação é exatamente à análise desses modelos normativos

propostos no que tange à responsabilização tributária dos grupos econômicos. A intenção é

identificar, através da interpretação do ordenamento jurídico, se há ou não hipóteses de

responsabilização dos grupos econômicos por dívidas tributárias dos seus membros.

A identificação do ordenamento jurídico como um sistema de normas

construídas a partir do discurso jurídico-positivo, faz do método hermenêutico-analítico do

construtivismo lógico-semântico o caminho escolhido para surpreender o objeto abordado.

Ademais, sempre que útil, noções de semiótica serão utilizadas em auxílio.

Nesta vereda, o trabalho se inicia com a descrição do Sistema de Referência.

onde acontece o detalhamento do método e do objeto. Nesta ocasião, os primeiros cortes

metodológicos serão traçados, abrindo caminho ao breve estudo da norma jurídica e sua construção.

Após a realizações das incisões metodológicos e a definição do objeto de

estudo e do método, o foco passará a ser a norma jurídica, especialmente a relação jurídica

contida em seu consequente, a sujeição passiva tributária e a responsabilidade tributária.

Importante anotar que a responsabilidade tributária será abordada em linhas

(15)

centrar nos pressupostos teóricos dos modelos normativos que são devidamente apresentados

no último capítulo deste trabalho.

O papel do contexto no processo comunicativo e interpretativo não é

subestimado em nenhum momento ao longo da dissertação. A técnica de descrição das

referências não se restringe aos primeiros capítulos e, sempre que conveniente, contextos

históricos, constitucionais ou mesmo pragmáticos serão trazidos à baila no intuito de melhor

analisar alguns institutos.

Também por exigência dos modelos normativos, haverá a abordagem de

institutos da Teoria Geral do Direito, em especial, a questão da personalidade jurídica. A

aptidão de ser sujeito de direitos e deveres é basilar ao estudo de toda e qualquer relação

jurídica obrigacional, sendo pressuposta a qualquer questão envolvendo responsabilidade.

Ao final, reconhecendo a personalidade como pressuposta à responsabilidade,

destacou-se a necessidade de estender o estudo a tal instituto, bem como a outros temas

normalmente desenvolvidos pelo Direito Privado. O direito empresarial também tem seu

destaque, especialmente, no que tange às modalidades empresariais.

Assim, em busca pelo conceito de grupo econômico e de uma classificação

capaz de facilitar a sua identificação e a abordagem de questões probatórias, haverá a incursão

mais aprofundada no direito privado. Nesta oportunidade, os conceitos jurídicos relacionados

ao fenômeno empresarial e a questão da personalidade jurídica serão exaltados e a definição

ao conceito de grupo econômico será estabelecida.

Por fim, após o estabelecimento de diversas premissas, no último e derradeiro

capítulo, os modelos normativos encontrados no direito posto, ou seja, nos lançamentos, nas

petições, nos pareceres, nas decisões e nos acórdãos, serão analisados de forma crítica e

criteriosa, deixando para a conclusão a resposta ao questionamento inicial: os grupos

econômicos, no direito brasileiro, são responsáveis pelos tributos devidos por seus

(16)

CAPÍTULO I – SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONCEITOS FUNDAMENTAIS.

1.1 Considerações iniciais.

Coloque um objeto qualquer entre duas pessoas, peça para elas a descrição do

que observam e facilmente perceberás que, muito provavelmente, uma descreverá,

construindo em linguagem, uma face do objeto, enquanto a outra delineará, também em

construção linguística, a face oposta.

Eis o papel fundamental, em termos comuns, do observador e sua referência na

descrição de um objeto qualquer.

Iniciar uma descrição, em seu sentido mais profundo de construção de

linguagem e produção de conhecimento, sem expor as referências de onde se observa e de

como se dará a abordagem do objeto estudado, deixará o destinatário da mensagem perdido

dentre diversas referências possíveis, o que seguramente comprometerá o processo de

comunicação.

Assim, com o escopo de esclarecer o que se observa, de onde se observa e o

modo ou caminho que será percorrido para, descortinando o objeto de estudo, surpreendê-lo,

este primeiro capítulo é dedicado à descrição do sistema de referência que contextualiza esta

dissertação, ao esclarecimento dos paradigmas filosóficos que o cerca e às definições dos

conceitos fundamentais ao presente trabalho.

1.2 A realidade e a linguagem científica.

A construção de um trabalho com pretensões científicas exige, antes de tudo, a

delimitação de um objeto específico e a escolha de um método, que é o meio pelo qual o

observador busca surpreender o seu objeto de estudo.

O nome objectum, conforme salienta Charles Sanders Peirce (MS 693, p. 63),

tornou-se usual durante o século XIII como termo da Psicologia e significou, primariamente,

a criação da mente na sua reação com algo mais ou menos real, criação esta que se torna

(17)

significações, dentre as quais: aquilo sobre o qual um esforço é desempenhado, aquilo que

está acoplado a algo em uma relação e, ainda, aquilo a que um signo qualquer corresponde.2

O significado pelo qual se popularizou na Alta Idade Média não se afasta

inteiramente da noção etimológica do vernáculo que, segundo Paulo de Barros Carvalho,

provém do latim objectus, particípio passado do verbo objecere, que significa “atirar em” ou

“lançar contra.”3 Objeto, portanto, pode ser definido como o alvo de uma atividade de

aproximação.

Em que pese a popularidade do vocábulo somente ter aparecido no século XIII,

a ideia de objeto como algo independente e que está vinculado ao sujeito cognoscente por

meio da linguagem, habita as ideias filosóficas desde a antiguidade clássica. Assim fez Platão

(428-348 a.C.) em o Crátilo, texto que se presume datado de 388 a.C, e Kant (1724-1804) em

sua Filosofia da Consciência, na qual a linguagem é concebida como instrumento de

consolidação e comunicação do conhecimento sobre o mundo em si.4

A linguagem, em ponto comum tanto à denominada Filosofia do Ser, como à

Filosofia da Consciência, sempre foi considerada um instrumento secundário do

conhecimento até que, em fato historicamente marcado pelo lançamento do Tractatus

logico-philosophicus de autoria de Ludwig Wittgenstein (1859-1951), escrito nas trincheiras da

Primeira Guerra Mundial, surgiu uma nova concepção filosófica, caracterizada

eminentemente pelo papel criador atribuído à linguagem e que, por isso, é denominada de

Filosofia da Linguagem.

A Filosofia da Linguagem, pautada nas ideias de que a linguagem constitui a realidade cognoscível e é condição necessária ao conhecimento, aqui compreendido como a

relação entre linguagens-significações,5 revolucionou a Epistemologia em escala global.

2 SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral do Signos – Como as linguagens significam as coisas. São Paulo:

Cengage Learning, 2008. p. 33.

3 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.

13.

4CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito: o Construtivismo Lógico-Semântico.

2a ed. São Paulo: Noeses, 2010. p. 12.

(18)

As ideias trazidas por Wittgenstein no Tractatus logico-philosophicus, em

parte devido à sua repercussão pelos integrantes do Círculo de Viena e ao entusiasmo com

que foram recebidas em suas lições proferidas na Universidade de Cambridge, cujo

desenvolvimento levou à edição e publicação do livro Investigações Filosóficas,

influenciaram fortemente à Epistemologia em movimento que ficou conhecido como o giro

linguístico-pragmático.

Se o Tractatus logico-philosophicus pode ser considerado como o termo inicial

do giro-linguístico, a obra Investigações Filosóficas é o marco de sua consolidação. A

construção e o caminho da obra do eminente filósofo austríaco, portanto, são um retrato

personificado do que foi o este movimento.

No universo jurídico brasileiro, o giro-linguístico provocou – e continua

incitando e desafiando – as teorias pautadas em paradigmas filosóficos mais tradicionais,

marcadas, especialmente, pela concepção de uma realidade propriamente dita e independente

do sujeito cognoscente, um universo de dados brutos nos moldes consagrados pelo plexo

teórico do Ontologismo.

As ideias do giro-linguístico aplicadas ao Direito desconstrói as bases da

tradicional Hermenêutica Jurídica e propõe um novo paradigma à interpretação jurídica.

No caso específico do Direito Tributário, esta mudança de perspectiva

filosófica é notória e bem perceptível em fenômeno acadêmico que a cada dia ganha mais

espaço dentre as obras dedicadas a este ramo do Direito. Este modelo teórico, denominado de

Construtivismo Lógico-Semântico, tem marcante viés analítico-comunicacional e busca sempre pautar-se na construção de um discurso científico rígido na esteira do movimento

filosófico chamado de Neopositivismo Lógico.

Em despretensiosa esquematização propedêutica, é possível estipular que o

Construtivismo Lógico-Semântico está fundado nas ideias basilares de que: 1) a linguagem

constitui a realidade e só o dado linguístico está acessível – e portanto interessa – ao sujeito

cognoscente; 2) o discurso científico deve obedecer à severa rigidez lógico-sintática e ser

construído sempre em consonância com as normas gramaticais vigentes, sendo capaz de gerar

(19)

do discurso científico sejam empiricamente verificáveis e que esta verificabilidade seja

trazida sempre pela produção de outro enunciado linguístico mais específico e preciso; e, por

fim, 4) que seja evitada a contaminação emotiva dos signos do discurso científico.

No que tange à verificabilidade semântica, Tárek Moysés Moussalem, ao

trabalhar a noção expressa pelo termo ‘conceito’, faz oportuna anotação quando identifica, na

esteira do pensamento de Lourival Vilanova, os conceitos a priori como condições necessária

ao conhecimento.

Estes pré-conceitos são noções provisórias e incompletas de objetos

provenientes de um mundo cultural e que constituem o discurso ordinário. São eles que

permitem a comunicação cotidiana e, portanto, apresentam-se como necessários à produção

de nova linguagem, o que implica em conhecimento.6

A verificabilidade semântica segue a mesma lógica do processo de produção de

conhecimento, uma vez que o enunciado científico comporta-se, nesta ocasião, como uma

preconcepção que deve sempre estar sujeito à verificação que, por meio de experimentos

empíricos ou outros métodos específicos capazes de gerar nova linguagem, confirmarão ou

negarão o conceito científico sob análise.

Este fenômeno é claramente observado na relação entre a Física Teórica e a

Experimental e é bastante útil à compreensão da famosa declaração atribuída7 à Pontes de

Miranda, de que não há diferença significativa entre Teoria e Prática, o que há é

conhecimento ou não do objeto.8

A importante noção de realidade cognoscível como expressão linguística

coloca a capacidade de comunicação dos seres humanos como a única possibilidade ao

6 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2006. p. 27-29.

7

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Fundamentos Jurídicos da Incidência Tributária. 8a ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 28-29.

8 No campo da ação teoria e prática são indissociáveis, entretanto, inegavelmente há o foco teórico e o foco

(20)

conhecimento9 e isto faz com que a Semiótica, também denominada de Teoria Geral dos

Signos, e a Linguística, a chamada Ciência dos Signos Verbais, sobressaiam-se como

ferramentas indispensáveis à Epistemologia e à construção de um discurso científico

propriamente dito, afinal, “o que transforma o caos em cosmos é a possibilidade de

conversação, é o vem e vai da língua.”10

Neste trabalho, portanto, é firme a noção – e posição – de que a linguagem

constitui a realidade cognoscível e somente através de operações mentais evolutivas que

substituem o signo-objeto por um signo-interpretante mais complexo e apurado, ou seja,

somente através da aquisição e produção de novas linguagens, será possível construir,

delimitar, compreender e descrever o objeto do estudo.

À ação que promove a substituição de um signo por um outro mais evoluído

dá-se o nome de semiose, fenômeno triádico marcado pelo evolucionismo e intrinsecamente

ligado à inteligência de uma mente capaz de interpretar. Nas palavras de Charles Sanders

Peirce:

É importante que se entenda o que quero significar por semiose. Toda ação

dinâmica, ou ação de força bruta física ou psíquica, ou tem lugar entre dois

sujeitos [quer reajam igualmente sobre o outro, ou um é agente e o outro

paciente, inteira ou parcialmente] ou de qualquer modo é uma resultante de

tais ações entre pares. Mas por ‘semiose’ quero dizer, ao contrário, uma

ação, ou influência, que é, ou envolve, uma cooperação de três sujeitos, tais

como um signo, seu objeto, e seu interpretante, essa tríplice relativa

influência não sendo de modo algum resolúvel em ações entre pares.

{Sémeiösis} em grego do período romano, desde o tempo de Cícero, se

relembro bem, significa a ação de qualquer espécie de signo; e minha

definição confere a qualquer coisa que assim atue o título de um ‘signo’.11

9 Neste sentido Vilem Flusser: “Há um abismo intransponível ao intelecto entre o dado bruto e a palavra. Ele

pode mergulhar introspectivamente dentro de suas próprias profundezas na ânsia de alcançar as raízes; entretanto, lá onde acaba (ou começa) a palavra, ele pára. Ele sabe dos sentidos e dos dados brutos que colhe, mas sabe deles em forma de palavras. Quando estende a mão para apreendê-lo, transformam-se em palavras. Isto justamente caracteriza o intelecto: ele consiste de palavras, e as transporta ao espírito, o qual, possivelmente, os ultrapassa.” (FLUSSER, Vilém, Língua e Realidade. 2a ed. São Paulo: Annablume, 2007. p. 47.)

10 FLUSSER, Vilém, Língua e Realidade. 2a ed. São Paulo: Annablume, 2007. p. 47.

(21)

Como já foi dito: o conhecimento é uma relação de linguagens-significações.

Some-se a isso o fato de que esta relação é marcada pelo evolucionismo, pela recorrente

substituição de um signo por outro mais apurado e de maior complexidade. O objetivo desta

dissertação, portanto, é desenvolver signos mais apurados do que aqueles que, até então, já

foram produzidos sobre o presente tema.

A semiose, em análise estática, é comumente representada por um triângulo, o

triângulo semiótico. Este gráfico é utilizado por diversos autores, entretanto, dentre eles há a

utilização de diferentes nomenclaturas na descrição das categorias identificadas em cada

vértice.

Paulo de Barros Carvalho, diante deste mesmo cenário, travou explícito pacto

semântico e adotou em sua obra a nomenclatura formulada por Edmund Husserl, qual seja:

‘suporte físico’, para designar o signo posto e o meio físico pelo qual foi enunciado;

‘significado’, referindo-se ao objeto a que o citado signo se refere e representa; e

‘significação’, como o juízo formulado pela mente do intérprete que o enuncia ao se deparar

com o suporte físico.12 Por sua solidez e penetração entre os estudiosos do Direito Tributário,

esta nomenclatura será utilizada ao longo do presente estudo.

Salutar e necessária, entretanto, uma referência à nomenclatura adotada por

Charles Sanders Peirce que, no lugar do termo significado de Husserl, utilizou-se do termo

“objeto imediato” para referir-se àquela perspectiva do objeto que é representada pelo

“suporte físico”, assim, no posto do “suporte físico” usou o termo signo para designar aquilo

que representa um objeto e, ao invés da significação, denominou o vértice superior do

triângulo semiótico de interpretante.

O objeto em sentido amplo ou dado bruto a que se refere Paulo de Barros

Carvalho13 e Vilém Flusser,14 foi denominado por Charles Sanders Peirce de objeto dinâmico

12 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2008.

p. 34.

13 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.

14.

(22)

e o objeto que compõe o triângulo semiótico (suporte físico), acessível à cognição e que trava

relação direta com o signo, de objeto imediato.15

A referência à nomenclatura do semioticista americano, além de necessária

para esclarecer o uso do termo signo ou signo-objeto no transcorrer do presente texto, alumia,

definitivamente, a diferença do termo objeto em sentido epistêmico (o objeto imediato, a

realidade cognoscível formada por conceitos a priori) e em seu sentido de dado bruto

propriamente dito (o objeto dinâmico, a realidade caótica e inacessível). Afinal, dentro de um

universo linguístico, o objeto imediato é signo, sinônimo dos já mencionados conceitos a priori, e o objeto dinâmico é inacessível diretamente e, neste sentido estrito, desinteressante

ao cientista.

Desta forma, ao considerar a linguagem como a única possibilidade criativa da

realidade cognoscível e o fenômeno comunicacional como o único caminho ao conhecimento,

fica clara a propriedade de autorreferibilidade da linguagem.

Não existe, portanto, elementos cognoscíveis externos à linguagem dos quais o

sujeito cognoscente possa socorrer-se, o que implica na impossibilidade dele acessar

diretamente o objeto dinâmico ou dado bruto, sendo sempre necessária uma camada

linguística para que a realidade cognoscível se constitua. A linguagem só se fundamenta em

outra linguagem.

15 “A classificação da realidade social como algo vivo foi elaborada por Charles Sanders Peirce, ao trabalhar

(23)

Neste sentido, explica Vilém Flusser:

Além de palavras, os sentidos fornecem outros dados. Estes se distinguem

das palavras qualitativamente. São dados inarticulados, isto é, imediatos.

Para serem computados, precisam ser articulados, isto é, transformados em

palavras. Há, portanto, aparentemente, uma instância entre sentido e

intelecto, que transforma dado em palavra. O intelecto sensustricto é uma

tecelagem que usa palavras como fios. O intelecto sensu lato tem uma

ante-sala na qual funciona uma fiação que transforma algodão bruto (dados dos

sentidos) em fios (palavras). A maioria da matéria prima, porém, já vem em

forma de fios.16

A atividade mental que liga, transformando, as sensações às palavras não

decorre nem reflete uma relação com a realidade bruta propriamente dita. Tal atividade é fruto

de uma pré-compreensão advinda de um mundo cultural. Neste sentido, após declarar que o

homem habita um universo linguístico, se posiciona Tárek Moyses Moussalem:

O conceito de uma palavra jamais chega a tocar a realidade, pois, por mais

que procure se aproximar do mundo físico, nunca o alcançará, porque

sempre estará ligado a um prejuízo ou pré-conceito. Daí dizer que o conceito

não reproduz o objeto (entendido aqui como objeto físico).17

Em decorrência, a definição do objeto de estudo deverá ser promovida por

meio de cortes epistemológicos delineadores da linguagem que constitui este objeto e caberá

ao método a definição das regras do jogo de linguagem (no caso, o jogo de linguagem

científico) que possibilitarão estas incisões no discurso da realidade social e, posteriormente,

no do próprio objeto.

Nesta dissertação, o primeiro corte promovido sobre o objeto de estudo –

seguindo tradição kelseniana – será efetuado com a definição do direito positivo, sistema de

normas válidas com fundamento na Constituição Federal, e o método será o lógico-analítico,

que dará o caminho e os instrumentos de aproximação necessários à descrição daquele objeto,

possibilitando a sua análise em todos os níveis linguísticos: sintático, semântico e pragmático.

16 FLUSSER, Vilém. Língua e Realidade. 2a ed. São Paulo: Annablume, 2007. p. 40.

(24)

Com fulcro nessas premissas, este primeiro capítulo servirá para que o sistema

de referência torne-se conhecido, conceitos fundamentais da Teoria Geral do Direito sejam

estabelecidos e cortes metodológicos explicitados.

1.3 Método: o conceito e a definição como instrumentos analíticos.

Com base nos paradigmas gerais da Filosofia da Linguagem, restou-se

assentada a necessidade da linguagem à constituição da realidade cognoscível, sendo esta a

única possibilidade disponível ao sujeito cognoscente para conhecer.

A impossibilidade de alcançar diretamente o objeto dinâmico ou dado bruto

impede, ao contrário do que já se supôs possível ao longo da história da Epistemologia, a

busca pela definição dos signos na correspondência destes com as coisas mundanas

propriamente ditas.

Neste sentido Fabiana Del Padre Tomé assevera com clareza:

Disso (refere-se à premissa de que somente é real aquilo que é inteligível ao

ser humano) decorre que a proposição cuja veracidade se examina não se

refere ao objeto-em-si, mas ao enunciado linguístico que a compõe,

inexistindo aquela suposta correspondência entre a linguagem e algo exterior

a ela.18 (A parte sublinhada é nota do autor e não está no original).

É impossível, portanto, conhecer o que convencionou-se chamar,

tradicionalmente, da essência de um dado bruto ou da natureza de um objeto dinâmico.

Esta ruptura, que afasta definitivamente a ideia de verdade como a de uma

relação de correspondência da significação ou do interpretante com o objeto dinâmico,

explica a dificuldade que sempre existiu – e ainda persiste – nos estudos e debates sobre a

natureza ou a essência de praticamente todos os institutos jurídicos importantes.

(25)

Isto acontece, inclusive, com o próprio conceito do termo direito e dos quais

não fogem outros conceitos trabalhados nesta dissertação, dentre eles o de empresa, o de

sociedade empresária e o de grupo econômico.

Ademais, também é possível atribuir à busca pela verdade por

correspondência, a posição de combate em que são colocadas algumas teorias, quando se

acredita que elas estão destinadas a explicar uma mesma realidade (objeto dinâmico)

supostamente acessível. Entretanto, quando estas mesmas teorias são analisadas sob o prisma

semiótico é possível observar que elas, nitidamente, pairam sobre perspectivas distintas

(objetos imediatos distintos) daquele dado bruto e, consequentemente, deveriam possuir

métodos de aproximação diferentes.

Reconhecer o mundo linguístico em que se vive é perceber que a verdade não

está na coincidência do enunciado com a realidade física, mas no consenso entre os

indivíduos de determinada comunidade ou cultura,19 e que o conhecimento, especialmente

aquele adjetivado como científico, refere-se ao produto de uma atividade criadora de

linguagem, cabendo à semântica a identificação “das regras pelas quais uma palavra pode ser

aplicada a um objeto ou circunstância”.20

Se as necessidades comunicacionais cotidianas dos seres humanos fazem com

que diversas significações consensuais e preconcebidas sejam impostas a cada pessoa ao se

deparar com certo signo, a necessidade do conhecimento fez o homem criar uma linguagem

artificial, obediente a regramento próprio, com o intuito de definir e classificar, de modo

seguro, essa realidade linguística em que está inserido.

A rigidez semântica da ciência determina que um signo represente uma e,

sempre que possível, somente uma ideia específica e estas ideias ou significações,

preconcebidas ou não, é o que se entende por conceitos.

O conhecer, por sua vez, implica em construir novos objetos imediatos e

organizá-los em classes que são representadas por palavras-classe e levam à mente

interpretante aquele conceito. Este é, em linhas gerais, o fenômeno descrito no triângulo

(26)

semiótico e também na cadeia semiótica. É sobre os conceitos que reside a possibilidade de

conhecimento e cabe a eles, inclusive, o importante papel de estruturar semanticamente o

conhecimento científico.

Um exemplo está em um fato ocorrido recentemente, em janeiro de 2014,

quando foi publicada a descoberta de uma nova espécie de boto, o Boto do Araguaia (Inia

araguaiaensis sp. nov.) por cientistas da Universidade Federal do Amazonas. Os autores do

estudo, ao perceberem a hipótese de estarem diante de uma espécies ainda não classificada,

realizaram um estudo detalhado através de análises de fatores morfológicos e de DNA

(Mitocondrial e Nuclear) e, ao final, comprovando a referida hipótese, identificaram o Boto

do Araguaia, uma nova classe diferente do já popular Boto Cor de Rosa da Amazônia (Inia

Geoffrensis). 21

A enunciação da descoberta dentro dos padrões científicos ou, no caso citado, a

inserção desta nova classe de boto no discurso científico, representa, em termos práticos, a

descrição de um novo objeto imediato até então inexistente na linguagem científica e a sua

classificação segundo os padrões das ciências biológicas. A partir de então, a palavra-classe

Inia araguaiaensis sp. nov. representará esta nova classe que abarcará todos os seres que

cumpram os critérios desta classe.

O conhecimento científico, portanto, é um discurso composto por um conjunto

de proposições caracterizadas pela rigidez, embasadas em conceitos e ordenadas nos padrões

da lógica alética, que tem o escopo de construir, classificar e descrever um objeto.

Se os conceitos são significações produzidas por uma mente ao ter contato com um signo, as suas definições são as explicações enunciadas destes conceitos. Neste sentido, no

momento em que se depara com a aclamada autorreferibilidade da linguagem, a busca pela

definição de conceitos deverá ser conduzida invariavelmente dentro do universo linguístico,

tendo sempre em mente que, como ensina Aurora Tomazini de Carvalho:

21 HRBEK, Tomas; SILVA, Vera Maria Ferreira da; DUTRA, Nicole; GRAVENA, Waleska; Martin, Anthony;

FARIAS, Izeni Pires. A New Species of River Dolphin from Brazil or: How Little Do We Know Our

Biodiversity. PloS One. San Francisco, CA, n. 9(1), JAN 2014. Disponível em

(27)

“definir não é fixar a essência de algo ou mesmo parte dele, mas sim eleger

critérios que apontem determinada forma de uso da palavra, a fim de

introduzi-la ou identificá-la num contexto comunicacional.”22

Um único signo muitas vezes pode significar diversos conceitos. No Direito

Tributário, a palavra “tributo”, por exemplo, caracteriza-se por ser plurívoca e comumente

leva experientes intérpretes a múltiplas significações diferentes. Se por um lado a diversidade

de significações de um signo não implica na inutilidade da linguagem ordinária ou natural,

capaz de lidar cotidianamente com tal elasticidade semântica, pelo outro, a linguagem

científica não a admite, exigindo, sempre que possível, a univocidade de cada signo.

Os tipos de linguagem, naturalmente, não se restringem à linguagem ordinária

e à científica, segundo Paulo de Barros Carvalho, com fulcro – e indo além – no

Neopositivismo Lógico, as linguagens podem ser classificadas em seis tipos: a linguagem

natural ou ordinária, a linguagem técnica, a linguagem científica, a linguagem filosófica, a

linguagem formalizada e a linguagem artística.23

Cada um desses tipos de linguagens possui

um regramento específico destinado à elaboração de proposições de sua classe.

Pelas regras da linguagem ordinária ou natural, por exemplo, um ‘mictório’ é

comumente definido como um utensílio sanitário ou, especialmente em Pernambuco, como

uma animada agremiação carnavalesca. Por outro lado, em 1917, este mesmo ‘mictório’, foi

exposto por Marcel Duchamp sob o título de Fountain, agora em obediência às regras do jogo

da linguagem artística, e acabou reconhecido, ao vencer o Prêmio Turner (Turner Prize),

como a obra de arte moderna mais influente da história da humanidade.

Para tornar o exemplo mais interessante, é válido salientar que tal decisão foi

tomada através do consenso entre 500 críticos, negociantes e curadores de arte praticamente

100 anos depois da obra ter ficado de fora do catálogo de sua primeira exibição. O consenso

transformou um mictório em uma obra de arte.

22

CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito: o Construtivismo Lógico-Semântico. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2010. p. 59.

23 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2008.

(28)

Assim como a linguagem artística, a linguagem científica também impõe uma

série de exigências à produção dos seus enunciados. Caracterizada por ser um discurso

descritivo artificial, a linguagem científica impõe, através das suas regras, um processo de

depuração da linguagem objeto (seja ela ordinária, técnica, artística, etc.), buscando substituir

signos eivados de imprecisões por outros unívocos ou, ao menos, aptos a indicar os

fenômenos descritos com suficiente exatidão. Além disso, segue sempre a direção a um

sistema esquematizado sintaticamente sob as regras da lógica alética, cuidadosamente

delimitado semanticamente e preocupado com a posição do utente, simpatizando com a

neutralidade pragmática.24

A regra do jogo de linguagem do discurso científico, marcada especialmente

pela rigidez, é o que denomina-se de método científico. Neste mesmo sentido, Tárek Moysés

Moussallem é preciso quando formula a distinção da linguagem científica das demais

linguagens, atribuindo ao método científico a função de descrever as regras do jogo de

linguagem que se exige ao mover-se naquele saber científico.25

Tem-se por método científico, portanto, o conjunto de critérios destinados à

formulação de enunciados científicos. Tais critérios atingem a linguagem em seu prisma

sintático, exigindo sistematização lógica do discurso com obediência às leis clássicas da

identidade, não-contradição e do terceiro excluído, em seu prisma semântico, cobrando a

precisão e a verificabilidade de cada proposição – não pela tradicional ideia da

correspondência, mas sim da autorreferibilidade – e, no viés pragmático, demandando atenção

ao utente da linguagem objeto e evitando o uso da emoção em seus enunciados.

Desta feita, no Direito o método científico implica na análise do direito positivo em seus planos sintático, semântico e pragmático, descrevendo estruturas e

construindo conceitos sempre com o propósito definitivo de promover cortes no direito

positivo capazes de descrever e, assim, no caso específico deste estudo, responder à dúvida

inicial sobre os limites da responsabilidade tributária dos grupos econômicos no direito

brasileiro.

24 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.

60.

(29)

1.3.1 Os problemas da vaguidade, da ambiguidade e da carga emotiva.

A busca pela delimitação do objeto sobre o qual incide esta dissertação, ante o

propósito de descrever e delimitar a responsabilidade tributária dos grupos econômicos no

direito positivo brasileiro, enfrenta alguns obstáculos comunicacionais. Trata-se de mais uma

questão decorrente da constatação de que a humanidade vive em um mundo construído por

linguagem.

Como visto, impõe-se àqueles que se interessam pela descrição científica de

um certo objeto, a necessidade de estabelecer uma linguagem capaz de comunicar aos seus

receptores um enunciado sintaticamente coerente, semanticamente rígido e pragmaticamente

afastado de emoções e satisfações ideológicas do utente da linguagem.

Todavia, o caráter arbitrário dos signos, em especial dos símbolos 26

, e o fato

dos pré-conceitos da linguagem ordinária estarem condicionados ao uso e imposições

culturais, tornam a tarefa de construção do discurso científico um árduo trabalho que,

necessariamente, passa por diversos obstáculos, dentre os quais o da ambiguidade, da

vaguidade e da carga emotiva presente em grande parte desses símbolos.

Esta problemática foi abordada por Carlos Santiago Nino27 ao debater a

dificuldade na definição do conceito relacionado ao termo direito, já que tal palavra está

fortemente eivada dos vícios da vaguidade, ambiguidade e da carga emotiva. Neste mesmo sentido caminhou Tércio Sampaio Ferraz Júnior quando expôs as imprecisões sintática,

semântica e pragmática também referindo-se ao vocábulo direito.28

Se por um lado, esses obstáculos linguísticos serão abordados logo neste

momento inicial, para que seja possível tratar do conceito de sistema do direito e promover o

primeiro – e mais importante – dos cortes epistemológicos deste trabalho, por outro, tais

questões voltarão à tona sempre que seja necessário definir determinada termo ou símbolo, o

26 Charles Sanders Peirce classificou os signos em três espécies no que tange à relação do signo com o seu objeto

dinâmico: o ícone, signo que mantém com o objeto dinâmico uma relação de mera comparação como é o caso de uma foto; o índice ou indicador, signo que trava relação de afetação na qual o objeto dinâmico afeta o signo, é o caso de uma pegada na praia; e o símbolo, signo que se relaciona com o seu objeto por força de uma convenção ou uma lei arbitrariamente instituída, as palavras são espécies de símbolos.(SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa da. Curso de Semiótica Geral. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 73-77).

27MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2006. p. 32

(30)

que se dará posteriormente, dentre outras vezes, na definição de empresa, sociedades

empresárias e grupos econômicos.

1.3.1.1Da vaguidade.

Tem-se por vaguidade a incapacidade de certo vernáculo determinar com

precisão quais são os objetos a que ele se refere, ou seja, quais elementos estão abarcados na

classe por ele representada. Nas palavra de Tárek Moysés Moussallem:

A vaguidade é o estado de indeterminação da palavra, é a sua condição de

imprecisão. É a incapacidade de determinarmos se a linguagem da realidade

social está abrangida pelo conceito de uma palavra.29

A ausência de uma correspondência direta entre o signo e o seu objeto

dinâmico ou dado bruto autoriza a afirmação de que todo signo é vago em certo ponto, afinal,

por mais consolidado que o uso deste signo esteja em uma comunidade linguística, a impossibilidade de correspondência entre o signo e o objeto dinâmico sempre implica em um

certo grau de vaguidade.

A vaguidade estaria naquilo que se denomina ‘zona de penumbra’ do signo,

sempre presente nos casos em que o conceito da palavra não corresponde exatamente ao seu

objeto imediato ou, em outras palavras, à linguagem da realidade social. A ‘zona de

penumbra’ se contrapõe à ‘zona de certeza’, onde a subsunção entre o conceito do signo e o

objeto imediato consensual se dá perfeitamente devido à consolidação do uso daquele signo

dentro daquela comunidade linguística.

O remédio para a vaguidade está na definição30. Definir, consiste em

estabelecer critérios de corte no campo semântico de certa palavra, reduzindo a zona de

penumbra e fazendo prevalecer a zona de certeza daquele símbolo, ao menos, dentro daquele

contexto específico.

29 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário. 2a ed. São Paulo: Noeses, 2006. p. 34. 30 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito: o Construtivismo Lógico-Semântico.

(31)

Um exemplo é encontrado na análise do termo ‘correr’. Se por um lado é certo

que os maratonistas olímpicos correm durante aquela secular competição, esta certeza não

pode ser facilmente constatada nos amadores corredores de rua. O termo empregado,

entretanto, é o mesmo, seja na manchete “Marilson Gomes de Souza irá correr a Maratona

Olímpica representando o Brasil”, seja na exclamação “O meu amigo Marcos foi correr no

parque e logo voltará”. Para dirimir tal vaguidade do termo, definiu-se, em consenso, que o

símbolo ‘correr’ se refere tão só àquela atividade em que um ser humano em locomoção, sem

qualquer auxílio de aparelho, percorra o espaço de um quilómetro em tempo igual ou inferior

a seis minutos (6:00 km/min).

A solução, entretanto, nunca é definitiva, afinal, a constatação de que todas as

palavras estão eivadas de vaguidade torna impossível a eliminação definitiva daquela ‘zona de

penumbra’, já que, por maior que seja o esforço para definir, as próprias palavras empregadas

na definição sempre terão a sua carga de vaguidade e sua delimitação estará sempre

condicionada ao consenso, imposto ou não por uma autoridade, daquela comunidade.

No exemplo citado, não seria de se estranhar uma pergunta sobre a influência

do vento nesta velocidade limite, afinal, correr a 6:00 km/min a favor do vento é uma coisa,

fazê-lo em sentido contrário é outra completamente diferente. Essa questão costuma ser

objeto de definição por parte da Federação Internacional de Atletismo para fins de aferição de

recorde mundial e, por conta disso, o tempo de um atleta na histórica Maratona de Boston não

é computado como marca oficial.

O objetivo, portanto, é diminuir a vaguidade, atribuindo o máximo de rigidez

que for possível ao discurso científico em construção.

1.3.1.2Da ambiguidade.

São ambíguos os símbolos que trazem consigo mais de um significado, ou seja,

aqueles que se relacionam a mais de um objeto imediato. Nas palavras de Tárek Moysés

Moussalem: “ambiguidade é o uso da palavra com mais de um significado. Ocorre quando a

palavra é usada com dois ou mais sentidos”31.

(32)

Se é possível afirmar que todos os símbolos estão eivados em certo grau pela

vaguidade, é possível dizer que a ambiguidade aparece na grande maioria deles.

Os signos ambíguos comportam a possibilidade de mais de uma significação na

mente que o interpreta. A necessidade cognitiva e comunicacional do ser humano o leva, por

meio de convenções arbitrárias, a atribuir significados diversos às palavras por eles

conhecidas. Entretanto, estas necessidades não impõe uma precisão absoluta à linguagem

ordinária. Em decorrência, é comum a utilização de signos idênticos para tratar de objetos

imediatos diferentes. A precisão semântica não é, portanto, regra do jogo da linguagem

natural ou ordinária.

Este fenômeno dinâmico faz com que, em incontáveis casos, uma mesma

palavra, a depender do seu uso, represente uma diversidade de objetos distintos e sempre que

isso ocorrer, ou seja, sempre que uma palavra possua mais de um significado, ela estará

eivada de ambiguidade. O símbolo carteira significa dois objetos imediatos diferentes nas

frases: “Pegue o cartão em minha carteira” ou “A minha carteira de clientes duplicou no

último ano” se tal fenômeno não inutiliza a linguagem ordinária, ele é inaceitável dentro da

rigidez do discurso científico.

O método científico, portanto, impõe a máxima precisão semântica dos seus

termos e o antídoto à ambiguidade está no denominado ‘processo de elucidação’.

A elucidação é o processo por meio do qual o utente da língua aponta o sentido

dado àquele termo naquele contexto comunicacional em que o utiliza, descartando todos os

demais e possibilitando ao receptor daquela mensagem a sua compreensão segura.

Se o termo ‘correr’ pode ser empregado para definir diversas condutas, faz-se

necessário ao cientista que tem por objeto de estudo o impacto da corrida no organismo

infantil, por exemplo, elucidar em que sentido o termo está sendo utilizado naquele estudo.

Trata-se, portanto, de mais um vício que, embora admitido pelo discurso ordinário, é

abominado pelo discurso científico, mais exigente e rigoroso.

(33)

Se o propósito de um discurso científico é construir com precisão um

determinado objeto, é salutar evitar o uso de definições tendentes à satisfação ideológica e

emocionais daquele que o enuncia.

A carga emotiva pode ser definida como uma gama de sentimentos que o

utente de um signo nele imprime no respectivo ato de fala.

A própria noção do termo direito costuma travar relação direta, por exemplo,

com a ideologia dominante naquele determinado local. Se por um lado, nos países que adotam

o modelo econômico-social capitalista, o direito costuma ser definido como um conjunto de

normas que tem o propósito de resolver conflitos intersubjetivos e garantir a paz social e a

segurança nas relações intersubjetivas, pelo outro, em discursos tendentes à imposição de

nova ordem jurídico-constitucional, não é incomum definir esse mesmo direito como um

conjunto de normas jurídicas que tem o propósito de manter relações de dominação e o status

quo.

O problema da carga emotiva no discurso jurídico vai muito além de reflexos

das discussões políticas fundamentais. Mesmo deixando de lado a discussão macropolítica e

concordando com o conceito de direito vinculado à ideologia dominante, no instante em que o

direito é utilizado para resolver conflitos que mexem com a emoção individual ou popular,

não é incomum a utilização de termos em forte tom de emoção, caso corrente, por exemplo,

em sentenças penais de crimes de grande repercussão midiática e que provocam clamor

popular, ou mesmo em trabalhos científicos – ou pretensamente científico – desenvolvidos

por sujeitos envolvidos diretamente na matéria.

No campo da Teoria Comportamental existem posições, como a de Hebert

Alexander Simon publicada em 1947, que indicam que uma pessoa quando institucionalizada

– a quem denomina de ‘homem administrativo’ – aceita objetivos institucionais como

premissa de valor de suas decisões.32 Esta é uma questão da carga emotiva posta em termos

práticos.

(34)

Observar o universo jurídico, especialmente no que tange ao plano pragmático,

à luz desta Teoria torna latente a carga emotiva do discurso jurídico. Defesas de teses em

congressos, faculdades, livros e até mesmo a seleção de artigos científicos são atividades que

não raramente sofrem influência marcante de carga emocional.

Desde a delimitação dos princípios basilares da ordem constitucional até na

enunciação de uma norma individual e concreta, o discurso jurídico-positivo está

contaminado por forte carga emotiva. Ao cientista do direito, por sua vez, não é permitido

pelas regras da linguagem científica, no discurso resultante da atividade de descrever o direito

positivo, imprimir esta mesma emoção aos seus enunciados, sob pena de descaracterizá-lo

como discurso científico.

Assim, o método lógico-analítico exige que o cientista do direito, em sua

atividade de construção de um discurso mais rígido e preciso do que aquele corpo de

linguagem técnica que constitui o seu objeto, afaste dos signos-objetos a sua carga emotiva,

evitando a contaminação do seu discurso descritivo por vocábulos com cargas ideológicas em

homenagem à neutralidade da ciência.

Por fim, anote-se a pertinente observação de Aurora Tomazini de Carvalho que

diferencia a valoração de carga emotiva:

O problema não está na valoração do termo “direito”, pois todo termo é

valorativo, dado que o homem (sujeito que o interpreta) é um ser cultural,

impregnado de valores. A imperfeição se mostra na carga emotiva

empregada na definição de seu conceito.

A busca pela neutralidade do discurso científico não implica na ausência de

valores na descrição dos objetos que rodeiam e interessam ao observador. O que se procura

evitar é a definição apaixonada dos conceitos de forma a comprometer pragmaticamente o

aperfeiçoamento do processo comunicacional, impossibilitando ou dificultando a própria

verificabilidade semântica das proposições científicas com os signos-objetos que formam o

(35)

1.4 Objeto: sistema do direito e norma Jurídica.

O conhecer caracteriza-se pela criação evolutiva de nova linguagem, novos

enunciados e novos conceitos, tendo como ponto de partida original aqueles pré-conceitos

estabelecidos culturalmente pela necessidade de cognição e comunicação dos humanos. São

os pré-conceitos que permitem às mentes capazes de interpretação construir a linguagem da

realidade social.

Com a pretensão de descrever essa realidade formada pelo que foi denominado

de objetos imediatos, surge a linguagem científica que, sempre obedecendo às regras do

método científico, é constituída por rígidos enunciados descritivos, estruturados segundo as

leis da lógica alética. Estes enunciados buscam confirmar ou negar as hipóteses preconcebidas

pelo cientista.

O primeiro passo, entretanto, para a construção do discurso científico é

promover um corte dentro da linguagem social, um corte metodológico do qual resultará o

objeto que se busca descrever naquele discurso. Então, a partir deste primeiro corte, diversas

outras incisões deverão ser realizadas até que se encontre a resposta à indagação originária,

confirmando ou negando a hipótese em estudo.

O corte metodológico, ato delineador do objeto de estudo, é conduta marcada

pela arbitrariedade. Trata-se de ato do sujeito cognoscente que se aperfeiçoa no instante em

que decide arbitrariamente abordar este ou aquele objeto especificamente.

Neste trabalho, busca-se, em um primeiro momento, definir o objeto de estudo da Ciência do Direito e, em seguida, decompor este objeto com novas incisões metodológicas,

sempre em postura analítica, até ser possível obter as normas jurídicas que trate da

responsabilidade tributária das sociedades formadoras de grupos econômicos ou, ao menos,

que seja constatada a inexistência de tais normas, o que implicaria na irresponsabilidade

desses grupos econômicos.

É desta forma que, ao final, será concluído se há ou não tal responsabilidade

tributária e, se houver, quais os critérios que devem ser seguidos para a elaboração da norma

(36)

1.4.1 O sistema do direito.

Norberto Bobbio, imerso no debate sobre a definição do conceito de direito,

defendeu que tal conceito não se refere, somente, a um tipo específico de norma, mas a um

tipo de ordenamento normativo. Em suas palavras:

Para maior clareza podemos também nos exprimir deste modo: o que

comumente chamamos de Direito é mais uma característica de certos

ordenamentos normativos que de certa normas. 33

Constata-se, neste sentido, que naquele universo linguístico primário

denominado de realidade social, há uma série de ordenamentos normativos, cada um com

características específicas capazes de discerni-lo dos demais. Convivem nesta realidade,

portanto, diversos sistemas normativos, dentre os quais: o ordenamento moral, o religioso e o

jurídico.

Ao defender a existência de um ordenamento jurídico, Norberto Bobbio

assumiu, portanto, a existência de uma espécie de ordenamento com características mínimas capazes de defini-lo, separando-o dos demais. Assim, lembrando de como Hans Kelsen

houvera feito anteriormente, o jurista italiano estabeleceu o critério da coercibilidade para

distinguir o ordenamento jurídico dos demais sistemas normativos especificáveis e

determinou a sanção jurídica como a coerção exteriorizada e institucionalizada.34

Por sua vez, Hans Kelsen, ao trabalhar a purificação da Ciência do Direito,

quando buscou consolidá-la na pureza positivista, colocou o ordenamento jurídico como o seu

objeto. A partir de então, a Ciência do Direito teve um objeto específico consagrado pela

maioria de seus estudiosos e o Direito passou a ser a ciência que estuda o sistema ou

ordenamento do direito.

Estabelecido este primeiro corte epistemológico que, na esteira da Teoria Pura

do Direito e da Teoria do Ordenamento Jurídico, delimita o conceito de direito ao de um

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