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Revista Científica do ISCTAC, Volume 3, Número 4, 2016

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Academic year: 2020

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE

Rua Correia de Brito n˚ 952, Tel. +25823320794

REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC

Propriedade do ISCTAC

Vol. 03, Ano III, Edição Nº 09, Julho - Dezembro de 2016 Registo: Nº 82/GABINFO-DEC/2014

www.isctac.org Email: revistaisctac@isctac.org

DESTAQUES:

Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos Limites do Processo Penal

Implicações Jurídicas e Criminais da Inexistência de Visitas Intimas no Sistema Penitenciário Moçambicano

Da Psiquiatria ao Crime: Analise Pormenorizada das Anomalias Psí-quicas, Práticas Anti-Ordem Jurídica e o Tratamento Jurídico Moçam-bicano

Linchamento na Província de Sofala: Causas, Consequências e Tipo de Crime

O papel da Antropologia na Investigação e Prevenção Criminal

RESENHA: A Criminologia e Criminalística Contemporâneas: os Desa-fios do Jurista na Justiça Criminal: teorias Universais e Práticas Moçam-bicanas

Nº 09

ISSN: 2519-7207

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Director da Revista

Msc. Júlio Taimira Chibemo jtchibemo@gmail.com Editor da Revista Msc. Emílio J. Zeca emiliojovando@gmail.com Registo Nº 82/GABINFO-DEC/2014 Propriedade:

Instituto Superior de Ciências e Tecnologia Alberto Chipande Rua Correia de Brito, Nº 952

Cidade da Beira - Moçambique revistacientífica@isctac.org

www.isctac.org

REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC

Volume 3 Número 09 Julho - Dezembro de 2016 Ano III

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Ficha Técnica:

Propriedade: ISCTAC

Director: Msc. Júlio Taimira Chibemo Editor: Msc. Emílio J. Zeca

Redacção: Dra. Emirene Matos, Msc.

Joelma chiquite Gonçalves Olece, Msc. Paulo Sandro Aboobacar de Sousa, Msc. João Isaías Pagara e Prof. D r a . An a P i e d a d e Ar m i n d o MonteiroSocial

Distribuição: ISCTAC Beira, Novembro de 2016

REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC

Vol. 03, Ano III, Edição Nº 09, 2016

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NOTA EDITORIAL

A

presente edição da Revista Científica do ISCTAC resulta da compilação de um conjunto de trabalhos apresentados no 4º Congresso de Criminalística organizado pelo Instituto Superior de Ciências e Tec-nologias Alberto Chipande, nos dias 14 e 15 de Novembro de 2016, na sala de Conferência do Centro das TDMs de Maputo. O congresso tinha como objectivo central reunir, em foro público, reconhecidos professores, pesquisadores e alunos dos mais variados programas de licenciatura e pós-graduação, o IV Congresso Internacional de Ciências Criminais - tem por objectivo propiciar e, mais do que isso, estimular o debate em torno das mais variadas questões referentes ao Direito Penal, ao Processo Penal e à Criminologia, na sua maior parte decor-rentes dos processos de reformulação do ordenamento jurídi-co moçambicano mas, também, e em significativa parcela, consequências da complexidade característica da socieda-de actual, uma sociedasocieda-de do risco, do consumo, da veloci-dade, da informação; enfim, uma sociedade complexa em que as ciências penais acabam por assumir um papel cada vez mais relevante.

O evento foi realizado com plena consciência da necessi-dade e importância de se criar espaços propícios à troca de ideias e conhecimentos sobre o que acontece, actualmente, no âmbito das ciências criminais e sobre quais as perspectivas para o futuro próximo, que se busca compor um evento com pesquisadores e professores que contêm com vasta produção científica nas suas respectivas áreas e que se mostrem aptos a despertar no público académico um pensamento crítico sobre as diversas temáticas propostas, incentivando, com isso, a activa participação da comunidade académica nos mais variados grupos de pesquisa em desenvolvimento no Progra-ma de Licenciatura e Pós-Graduação em Ciências Criminais. Desta feita, o congresso teve como eixos principais “Dos ilícitos Criminais, ambientais e políticos”; “As Potencialidades e os Limites da Ciência na Investigação Criminal” e “Limites do Direito Penal e suas Implicações na Investigação Criminal”.

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O primeiro artigo de Emirene Matos, Jurista e Delegada do ISCTAC em Maputo, versa sobre cadeia de custódia na investigação criminal nos limites do processo penal e tem por objectivo despertar para a importância da produção da prova pericial com rigor técnico e científico por meio de uma cadeia de custódia previamente estabelecida nas organizações de perícia oficial. A autora refere que a cadeia de custódia e constituída por um con-junto de procedimentos que visam à garantia da autenticidade, à idonei-dade do produto elaborado e à garantia da história cronológica que per-mite a transparência de todo o processo da produção e conclui que as mudanças não permitem que a prova pericial seja produzida nas mesmas condições materiais do antigamente.

O segundo artigo discute as implicações jurídicas e criminais da inexis-tência de visitas intima no sistema penitenciário moçambicano. Neste texto, a autora apresenta a uma discussão a cerca da importância das visitas ínti-mas dentro do nosso sistema penitenciário, a problemática de não imple-mentação das mesmas, na nossa opinião é de extrema importância, pelo facto de ser um dos meios com o qual pode alcançar¬¬-se os fins das penas, assim como a salvaguardas dos preceitos nos termos do artigo 89º da Constituição da república de Moçambique, a manutenção das famílias (as que tenham um dos cônjuges a cumprir alguma pena de prisão), a redução da reincidência e outros factores jurídicos e moralmente relevan-tes. A autora conclui que há que deixar bem claro que a nossa abordagem na cinge-se numa perspectiva de “privilégio”, mas sim de direito.

O terceiro artigo do Mestre Paulo Sandro Aboobacar de Sousa discute sobre a relação entre psiquiatria e o crime e faz uma análise pormenorizada das anomalias psíquicas, prática anti-ordem jurídica e o tratamento jurídico moçambicano. O autor pontua que as anomalias psiquicas, seja de indole aparentemente simples às complicadas, são um factor, em Moçambique, cuja identificação, estudo, diagnostico para efeitos de correlação de práti-ca criminosa e meios preventivos, estão àquem de serem atendidas, auto-maticamente a relação destes com o sector da administração da justiça é igualmente deficitário, levando assim a aplicação de responsabilidades e sua prevista sanção ferindo os dispositivos especiais de regulação criminal, Direitos fundamentais e humanos. Paulo Sousa termina referindo que as polí-ticas de acompanhamento de patologias mentais estão enfraquecidas, pelo desconhecimento, inexistência de especialistas e de vontade.

O penúltimo artigo do mestre João Isaías Pagara debruça sobre a ques-tão dos linchamentos na província de Sofala, tendo como foco a suas cau-sas, consequências e tipo de crime. O pesquisador apresenta a anatomia dos linchamentos na Província de Sofala, entre o período 2010 e 2015 e observa que os linchamentos são os crimes cometidos devido à inseguran-ça da população decorrente do sentimento de esvaziamento e de inapli-cabilidade das normas penais, bem como a analisa-se a atuação dos

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mados “justiceiros” que, ao lincharem os criminosos, fazem “justiça com as próprias mãos”, tendo como justificativa a insegurança e a impunidade existentes nos aglomerados urbanos.

O último artigo produzido pela Prof. Dra. Ana Piedade Armindo Monteiro apresenta o papel da antropologia na investigação e prevenção criminal. A autora refere que a temática do painel em discussão pretende problema-tizar as potencialidades e os limites da ciência na investigação criminal, pelo que a apresentação pretende dar subsídios a temática com o enfo-que na apresentação da percepção sócio cultural na execução do crime, da determinação do risco social para programas de prevenção do crime, e do papel da antropologia na reabilitação e reinserção social dos crimino-sos. A autora conclui e sugere a necessidade de ter em conta a diversidade cultural através da realização de estudos comparativos das diferentes tradi-ções legais e culturais, chamando atenção para o papel da antropologia dado ao método comparativo que fundamenta os seus estudos podendo desta forma a contribuir com fundamentos teóricos que permitam o enri-quecimento na resolução dos processos criminais.

A presente edição da revista possui, no final a resenha da obra “ A Cri-minologia e Criminalística Contemporâneas: Desafios do Jurista na Justiça Criminal: Teorias Universais e Práticas Moçambicanas” apresentada no 4º Congresso Internacional de Criminalística, em Maputo. A obra apresenta uma fundamentação teórica alargada e abrangente sobre a criminologia e criminalísticas contemporâneas, tendo em conta os desafios do jurista na justiça criminal à luz das teorias universais e práticas moçambicanas. A mesa busca entender o que leva a pessoas a cometer crimes é uma tarefa árdua. O que leva a um estudo sobre criminologia e criminalística neste tra-balho é a questão da segurança, que é apontada no mundo como um dos principais problemas que afligem a sociedade. A obra conclui que em Moçambique, a tendência dos crimes ao longo dos anos mostrou-se cons-tante, isto revela que a estratégia do Governo no âmbito da redução dos crimes não está surtindo o efeito desejado, dado que não verificou-se um decréscimo de casos criminais no país.

Por último, importa referir que continuamos a aguardar dos prezados lei-tores a vossa estimada colaboração com críticas, sugestões e contribuições positivas e oportunas para a renovação da Revista Científica do ISCTAC.

O Editor Emílio J. Zeca

PhD Candidate em Estudos Estratégicos Internacionais

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Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos

Limites do Processo penal

Autora: Emirene Matos Jurista e Delegada do ISCTAC – Delegação de Maputo. Mestranda em Ciências Jurídicas Público Forense pelo ISCTAC. O presente artigo tem por objectivo despertar para a importância da produção da prova pericial com rigor técnico e científico por meio de uma cadeia de custódia previamente estabelecida nas organizações de perícia oficial. A cadeia de custódia e constituída por um conjunto de procedimentos que visam à garantia da auten-ticidade, à idoneidade do produto elaborado e à garantia da história cronológica que permite a transparência de todo o processo da produção. As mudanças não permitem que a prova pericial seja produzida nas mesmas condições materiais do antigamente. A falta de percepção dos profissionais envolvidos no processo de produ-ção de prova pericial e as mudanças provocadas pelo mundo globalizado apontam para a necessidade de implantação de um programa de cadeia de custódia que possua directrizes voltadas não apenas para uma educação tecnológica, mas também que desenvolva a racionalidade substantiva. O cidadão cada vez mais consciente do seu papel na exigência de uma boa administração pública, clama por excelência, transparência do Estado nos processos de interesse das sociedades. E prestação de serviços satisfatórios.

1. Introdução

P

or mais que os avanços tec-nológicos e científicos venham contribuindo com as ciências forenses para melhorar a capacidade de reunir evi-dências utilizadas na solução em pro-cessos criminais ou civis (Access Excellence The National Health Museum, 2006), estes avanços, por si só, não representam garantia que estas evidências serão aceitas como prova pericial pela justiça. Todos os procedimentos relacionados à evi-dência, desde a colecta, o manuseio e análise, sem os devidos cuidados e sem a observação de condições

mínimas de segurança, podem acar-retar na falta de integridade da pro-va, provocando danos irrecuperáveis no material colectado, comprome-tendo a idoneidade do processo e prejudicando a sua rastreabilidade (Sampaio, 2006).

Deste modo, é necessário que se estabeleça um controlo sobre todas as fases deste processo (Portugal, 1998). Assim, tem-se adoptado a Cadeia de Custódia - CC como modelo nas mais variadas áreas do conhecimento em que se inclua, entre as preocupações relacionadas à qualidade, questões de âmbito judicial (Rangel, 2004).

Neste contexto, este artigo tem

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por objectivo apresentar a Cadeia de Custódia como um processo fun-damental para garantir a idoneidade e a rastreabilidade em análises toxi-cológicas forenses, conceituando-a e caracterizando a sua aplicabilidade e importância nestas análises.

A Cadeia de Custódia é usada para manter e documentar a história cronológica da evidência, para ras-trear a posse e o manuseio da amos-tra a partir do preparo do recipiente colector, da colecta, do transporte, do recebimento, do armazenamento e da análise, portanto, refere-se ao tempo em curso no qual a amostra está sendo manuseada e inclui todas as pessoas que a manuseia. Esta ter-minologia vem sendo legalmente utili-zada para garantir a identidade e integridade da amostra, em todas as etapas do processo (Peace-Officers.Com, 2006; Regional Labora-tory For Toxicology, 2006; Smith; Bron-ner Shimomura, et al, 1990; Wikipedia, 2006; USA, 2006). Como a Cadeia de Custódia é usada para registar as informações de campo, de laborató-rio e das pessoas que manusearam a amostra, pressupõe-se um trabalho de equipa que envolve todas as par-tes, internas e externas ao laboratório de análises toxicológicas forenses, englobando os responsáveis pela colecta, recebimento, análise e dis-posição final da amostra que deve-rão desenvolver suas actividades conforme um programa previamente estabelecido e acordado pela insti-tuição, com conscientização e trei-namento sobre as suas respectivas responsabilidades (USA, 2006; United States Government, 1997).

1.1. Referencial Teórico

1.1.1. Aspectos da Cadeia de Custódia

Segundo Machado (2009, p. 18), “cadeia de custódia é procedimento preponderante e de suma importân-cia para a garantia e transparênimportân-cia na apuração criminal quanto à prova material, sendo relato fiel de todas as ocorrências da evidência, vinculan-do os factos e crianvinculan-do um lastro de autenticidade jurídica entre o tipo cri-minal, autor e vítima”. A cadeia de custódia é constituída por uma série de actos interligados, sem deixar lacuna, visando a segurança e con-fiabilidade do processo em que os vestígios estão submetidos, bem como a manutenção da integridade conforme sua natureza. Todos os actos devem ser registados, inclusive os profissionais que preservaram o local e os que manusearam com os vestígios desde a colecta, transporte, recebimento pelos órgãos de perícia oficial e armazenamento.

A cadeia de custódia contribui para manter e documentar a história cronológica da evidência, para ras-trear a posse e o manuseio da amos-tra a partir do preparo do recipiente colector, da colecta, do transporte, do recebimento, da análise e do armazenamento. Inclui toda a sequência de posse (Smith. p. 503-516, 1990).

Na área forense, todas as amos-tras são recebidas como evidências. São analisadas e o seu resultado é apresentado na forma de laudo para ser utilizado na persecução penal. As amostras devem ser manuseadas de forma cautelosa, para tentar evitar

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futuras alegações de adulteração ou má conduta que possam comprome-ter as decisões relacionadas ao caso em questão. O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, para tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o laudo técni-co produzido, técni-com teor irrefutável. A sequência dos factos é essencial: quem manuseou, como manuseou, onde o vestígio foi obtido, como armazenou-se, porque se manuseou.

O facto de assegurar a memória de todas as fases do processo consti-tui um protocolo legal que possibilita garantir a idoneidade do caminho que a amostra percorreu. (NÓBREGA. p. 25, 2006).

Segundo Chasin (p. 40-46, 2001), a cadeia de custódia divide-se em externa e interna: a fase externa seria o transporte do local de colecta até à chegada ao laboratório. A interna, refere-se ao procedimento interno no laboratório, até o descarte das amos-tras. Watson (2009) descreve a cadeia de custódia como o processo pelo qual as provas estão sempre sob o cuidado de um indivíduo conheci-do e acompanhaconheci-do de um conheci- docu-mento assinado pelo seu responsável, naquele momento.

Vários elementos são necessários à execução dos procedimentos do fenómeno denominado cadeia de custódia da prova pericial, tais como: recipientes adequados, lacres, tubos de vacutainer com tampa cinza, seringa, luvas, fitas antiviolação, eti-quetas, caixas térmicas, geladeiras, freezers, embalagem plástica com rótulo de descrição e lacres, máquina seladora, anticoagulante, espátula,

presença de histórico, máquina foto-gráfica além do tratamento técnico-científico rigoroso do profissional, peri-to criminal e seu auxiliar no momenperi-to da execução.

A escolha do elemento integrante da cadeia de custódia pode ser con-forme a natureza da amostra a ser preservada: sólida, líquida ou biológi-ca. Atentando para o rigor científico, bem como afastar qualquer suspeita de má-fé e negligência durante todo o procedimento. Todos os actos visam à manutenção da autenticida-de e idoneidaautenticida-de do processo a que a prova está submetida. Os procedi-mentos de cadeia de custódia são executados de forma integrada e documentados para mostrar sua sig-nificância para a organização com a manifestação na consequência da acção.

2. Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos Limites do Processo penal

2.1. O Código do Processo Penal

A cadeia de custódia, na Lei, ini-cia-se logo após o conhecimento do facto criminoso(CPP, art. 176) Logo que tiver conhecimento da prática da infracção penal, a autoridade policial deverá:

Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até à chega-da dos peritos criminais; apreender os objectos que tiverem relação com o facto, após liberados pelos peritos cri-minais; colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do facto e suas circunstâncias.

O CPP cita que a autoridade poli-cial deve garantir a conservação da

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cena do crime, manipular indícios do local do facto, portanto, a garantia da robustez da investigação se inicia neste momento. Espíndula (2009) cita que todos os elementos que darão origem às provas periciais ou docu-mentais requerem cuidados para res-guardar a sua idoneidade ao longo de todo o processo de investigação e trâmite judicial.

O artigo 170° do CPP cita que "nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sem-pre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas". O facto de a Lei exigir a guarda de amostra do material anali-sado garante ao investigado a possi-bilidade de contestação e defesa.

À luz do artigo 179, do Código de Processo Penal, a figura do assistente técnico se tornou num típico fiscaliza-dor das partes. A função é de acom-panhar a perícia oficial, apresentar sugestões, opinar sobre o laudo do perito nomeado, apresentar as hipó-teses possíveis, desde que técnica e juridicamente plausíveis. Ao elaborar laudo divergente do apresentado pelo perito oficial, o perito assistente analisará primeiramente a cadeia de custódia, pois qualquer falha apre-sentada enfraquecerá o laudo ofi-cial.

Espíndula (2009) explica que a prática de alguns advogados de questionar o manuseio de evidências ganha força com a figura do assis-tente técnico no processo penal e esse procedimento será enormemen-te explorado como argumento de

defesa. Quanto à formulação de quesitos, a presença do assistente técnico é necessária para assessorar o advogado na formulação dos que-sitos aos peritos. É público e notório que os advogados não dominam a área técnica fora de sua área de for-mação e a assessoria do perito assis-tente acrescenta qualidade à defesa do acusado.

Outra demonstração da necessi-dade de se estabelecer a cadeia de custódia na análise de vestígios seria no procedimento de busca e apreensão realizado pela autoridade policial e seus agentes. Da mesma forma, o modo como encontraram-se os objectos, a manipulação e armazenagem são questionamentos a serem utilizados pela defesa, no intuito de enfraquecer as provas pro-duzidas. Percebe-se que a cadeia de custódia não é exclusividade do peri-to criminal, mas sim de peri-todos os envolvidos na localização e produ-ção de provas: delegados, agentes, escrivães, papiloscopistas.

2.2. A Importância Da Colecta De Evidências

A importância do procedimento adequado na cena de crime é a diferença entre o sucesso e o fracas-so de uma condenação. Como exemplo, o famoso julgamento de O.J. Simpson, que ocorrera nos Esta-dos UniEsta-dos, em que a defesa do réu questionou o modo de colecta e pro-dução da prova incriminatória e per-suadiu o júri demonstrando que havia dúvidas sobre a autoria de O.J. Simp-son, apesar de o perfil genético dele

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ter coincidido com o da prova colec-tada no local do crime.

2.2.1. Preservação do Local de Crime e suas evidências

A preservação do local e de suas evidências objectiva a protecção adequada e medidas para evitar a contaminação, e para que as altera-ções do local e das evidências mate-riais sejam reduzidas ao mínimo. A preservação do local inicia-se logo que possível após o incidente ser des-coberto e denunciado às autorida-des competentes. As preocupações quanto à protecção do local encer-ram-se somente quando o processo de exame pericial estiver concluído e o local for liberado.

A delimitação da área a ser pre-servada é uma actividade complexa e os limites do local podem mudar de acordo com o prosseguimento da análise do local. O que parece ser evidente no início pode mudar e pre-cisar ser reavaliado. Uma vez defini-da, a área é explicitamente isolada usando-se qualquer tipo de barreira física. Qualquer pessoa não-essencial que adentrou no local antes do esta-belecimento do cordão de isolamen-to deve ser retirada (e essa informa-ção é registada) e quaisquer pessoas não-essenciais são impedidas de entrar no local de crime durante todo o exame pericial.

2.2.2. O valor da evidência e o conceito de cadeia de custódia

Evidência material pode ser qual-quer elemento, desde objectos

gran-des aos itens microscópicos, produzi-do durante a execução de um crime e colectado no local ou em locais relacionados.

Considerando todas as fontes de informação disponíveis em investiga-ções (como, por exemplo, confissões, testemunhas, videovigilância), a evi-dência material desempenha um papel central e especialmente impor-tante. Exceptuando-se as provas materiais, todas as outras fontes de informação sofrem com problemas de confiabilidade limitada. A evidên-cia material, quando identificada e apropriadamente tratada, oferece a melhor perspectiva para prover infor-mações objectivas e confiáveis envolvendo o incidente sob investiga-ção.

No entanto, o valor da evidência, mesmo cuidadosamente colectada e preservada, pode ser perdido se a cadeia de custódia não for adequa-damente constituída. Cadeia de cus-tódia é geralmente reconhecida como o elo fraco em investigações criminais. Refere-se ao procedimento de documentação cuidadosa e cro-nológica da evidência material para estabelecer a sua ligação à infrac-ção penal. Desde o início até o fim do processo judicial, é fundamental ser capaz de demonstrar cada passo (todas as etapas) para assegurar o “rastreamento” e a “continuidade” da evidência desde o local de crime até a sala do tribunal.

2.3. Cadeira de Custódia e a Toxicologia

Na área de toxicologia forense, todas as amostras são recebidas

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como evidências, as quais serão ana-lisadas e o seu resultado apresentado na forma de laudo que será utilizado no processo judicial. Estas devem ser manuseadas de forma cautelosa, para evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em questão. Nesta situação, a cadeia de custódia permite ao perito garantir e provar a integridade do processo ao qual a amostra foi submetida.

Nesta área, as amostras são, na maioria das vezes, únicas e a perda das mesmas significa um prejuízo, na medida que pode inviabilizar ou pre-judicar a análise toxicológica.

Como consequência, a Cadeia de Custódia permite minimizar a pos-sibilidade de extravio e dano das amostras, desde a sua colecta nos pontos de amostragem até o final da fase analítica. Assim, a Cadeia de Custódia viabiliza o controlo sobre o trâmite da amostra com a identifica-ção nominal das pessoas envolvidas em todas as fases do processo, caracterizando as suas responsabili-dades, as quais são reconhecidas ins-titucionalmente, uma vez que, como já foi citado, as mesmas foram treina-das para estas actividades. Portanto, o facto de assegurar a memória de todas as fases do processo, constitui um protocolo legal que permite garantir a idoneidade do resultado e rebater as possíveis contestações (SHIMOMURA. p. 503-516, 1990).

Neste contexto, a responsabilida-de dos profissionais envolvidos na Cadeia de Custódia não tem apenas uma implicação legal, mas também

moral, na medida em que o destino das vítimas e dos réus dependem do resultado da perícia. Embora a Cadeia de Custódia não se reduza à área de saúde, a percepção sobre a sua importância deve permear, ain-da, todos os profissionais de saúde que, mesmo não sendo da área forense, desenvolvem actividades que possam desencadear em pro-cessos judiciais. Estes profissionais também têm o dever legal e moral de defender os interesses de seus pacientes em disputas judiciais, pre-servando as possíveis evidências nos locais de suas actividades, que tam-bém poderão servir para defende-rem-se judicialmente, em certas situa-ções (Carrigan; Collington; Tyndall, 2000). Deste modo, as actividades destes profissionais devem ser organi-zadas, incluindo a CC na sua rotina, assegurando o controlo e o registo de todas as fases do processo.

2.4. Cadeia de Custódia e a Forense Com-putacional

A evidência digital é complexa, volátil e pode ser modificada aciden-talmente ou propositadamente depois de colectada, para que se consiga determinar se essa evidência sofreu modificações, torna-se neces-sário o estabelecimento de uma cadeia de custódia. O U.S National Institute of Justice define cadeia de custódia como um processo usado para manter e documentar cronolo-gicamente a evidência. Os docu-mentos devem incluir nome ou iniciais dos indivíduos que colectaram as evi-dências, cada pessoa ou entidade

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que após a colecta teve acesso à evidência, data que os itens foram colectados ou transferidos, órgão e número do caso, nome das vítimas ou suspeitos, e uma rápida descrição do caso.

Em Moçambique, o tema “cadeia de custódia” é pouco conhecido ou mal compreendido, em muitas ocasiões os trâmites com-plexos da cadeia são descumpridos ou tratados inadequadamente devi-do ao desinteresse de ser cientifica-mente rigoroso e, outras vezes, por simples ignorância acerca de sua importância.

Não há na legislação brasileira referência específica à cadeia de custódia do material. O Código de Processo Penal Moçambicano (CPP) determina que a autoridade policial deverá providenciar para que não se alterem o estado das coisas e deverá apreender os objectos que tenham relação com o fato, estas condutas compõem a cadeia de custódia. No entanto, não é mencionada directa-mente a necessidade de manter uma cadeia de custódia, nem mes-mo este termes-mo está presente no CPP. Giova (2011) afirma que o ciclo de vida da evidência digital está se tor-nando mais complexo e cada está-gio aumenta a probabilidade de uma brecha violar a cadeia de cus-tódia. O resultado é um cenário de dificuldade crescente para que o judiciário avalie a evidência e a con-sidere genuína e confiável.

2.4.1. Modelos de Cadeia de Custódia em Forense Computacional

Alguns modelos foram propostos para manter uma cadeia de custó-dia (Carrier e Spafford, 2004), (Köhn, 2008) (Cosic e Baca, 2010), softwares especificamente criados para proce-dimentos de forense computacional podem adicionalmente fornecer melhor descrição das evidências, auditoria automática e gerar hashes criptográficos para verificação da integridade.

Na aplicação dos modelos para manter uma cadeia de custódia pode haver variação por conta do país, da legislação, da organização da justiça, do tipo do caso, dentre outros factores, o importante é que esses modelos são capazes de conhecer melhor os personagens envolvidos e suas actividades no pro-cesso forense. Procedimentos que permitam ao investigador recuperar dados de computadores envolvidos em actos ilegais e usar estes dados como evidências numa investigação criminal estão se tornando funda-mentais para as agências de aplica-ção da lei. Tais procedimentos devem ser robustos tecnologicamen-te para assegurar que todas as infor-mações probatórias foram recupera-das. Além disso, as evidências digitais devem ser tratadas de forma tal que se possa garantir que nada na evi-dência original foi alterado Noblett, M. G.; L. A. Presley (2000).

Para a área forense, um caso em que os procedimentos e a possível contaminação das provas foram usa-dos para absolver um indivíduo ocor-reu no julgamento do jogador de futebol americano O. J. Simpson. Quando se fala de forense

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cional a falta de boas práticas e pro-cedimentos confiáveis são problemas sérios, é uma ciência nova e que tra-balha com evidências voláteis que existem apenas em circuitos electró-nicos.

2.5. Relevância da acção do cumprimen-to da cadeia de custódia

A acção do sujeito no mundo em comum é como assevera Fraga (2009, p. 5) “...agentes intencionais, conscientes e consequentes...”. A acção deve possuir um sentido espe-cífico da humanidade não apenas para obtenção de resultados, mas reconhecendo como agente dos actos praticados e conscientemente orientado para a direcção do agir ético. O bem comum é o sentido que o sujeito da acção fenomenológico direcciona sua intenção consciente.

O homem é concreto agindo sub-jectivamente e intersubsub-jectivamente no sentido de alcançar significado relevante para o ser humano. A acção surge da vivência do mundo com sua história e cultura na direc-ção de desvelar valores escondidos por cortinas nebulosas para propor-cionar resultados que tragam conse-quências humanas. Segundo Srour (2008, p.23) “O que os agentes pen-sam e fazem espelha a estrutura das relações sociais prevalecentes em cada formação histórica.” O homem concreto e intencional é aquele que para fenomenologia entende o mun-do em sua vivência e é consideramun-do na conformidade do seu sentido de agir, compreendendo a si mesmo e sua co-humanidade.

Seu agir subjectivo não o torna perceptível dos fenómenos, necessi-tando da intersubjectividade para desvelamento do que é mostrado velado. Como assevera Dartigues (1992, p.145) “...é um modo de expe-riência que nos coloca autentica-mente na presença de objectos objectivos...”. O co-humano é modo de agir conscientemente do ser humano, o agir no sentido de desve-lamento, da mostração dos objectos e objectivos para relevância no mun-do de “eu” e Outro.

O desvelamento da cadeia de custódia da prova pericial resultou da acção do homem concreto, inten-cional, na sua singularidade e intera-gindo inter subjectivamente no mun-do vivimun-do, no munmun-do em comum. Na percepção, o fenómeno cadeia de custódia da prova pericial é reduzido na sua essência sem perder o sentido da acção para um resultado que provoque relevância no mundo em comum e distante da abstracção.

Neste diapasão, a actuação do homem concreto no mundo das organizações de perícia oficial ocorre por necessidade, portanto intencio-nal e direccionado a propiciar conse-quências relevantes para o ser huma-no huma-no mundo em comum. A com-preensão do mundo em que ocorre a acção do agente é fundamental para mostrar a significação da corre-lação sujeito-objecto. A vivência do mundo em comum é diferente na percepção de cada sujeito, mas não devendo perder a noção de totalida-de e totalida-de possibilidatotalida-des totalida-de mudança. O homem concreto intencional vive em mundo comum, dinâmico, de

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impermanência, vivido e convivido na busca de condições humanas e sendo o valor dignidade, um dos importantes para materialização das condições humanas, Dartigues (1992, p. 145) diz: “...ele é, como o das essências, um a priori e um a priori material, susceptível de uma apreen-são intuitiva”.

O mundo dos valores é o que dá sentido aos objectivos no mundo da vida. O valor qualidade é o que dá sentido ao objectivo almejado com a cadeia de custódia da prova pericial e que pode ser desvelado pelos pro-fissionais envolvidos com a produção da prova pericial. A prova pericial, por sua vez, tem a sua importância no sentido do desvelamento do valor verdade nas infracções que deixam vestígios. Para a fenomenologia, o mundo dos valores é a priori, material e apreendido intuitivamente no mun-do vivimun-do, adquirinmun-do sua estrutura material e colocando de forma autêntica não apenas o objecto, mas o objectivo da acção intencio-nal do agente direccionado cons-cientemente para o agir ético e para proporcionar relevância para a humanidade. (Fraga, 2009).

Os valores necessários para o cumprimento da cadeia de custódia da prova pericial são percebidos a

priori na correlação sujeito – objecto

– objectivo, cuja acção intencional ganha sentido não apenas em direc-ção ao resultado, mas principalmen-te da consequência para o ser humano. Como consequências, outros valores serão desvelados, tais como: a dignidade, idoneidade, transparência, verdade,

confiabilida-de e segurança.

No mundo globalizado a busca pela excelência é constante, o homem concreto intencional em seu estado de impermanência procura andar neste sentido. Como todo pre-sente traz consigo o passado é necessário a implantação de um pro-grama que possa consolidar o cum-primento da cadeia de custódia da prova pericial. O programa é uma expectativa para o futuro e o presen-te de hoje será um passado que tam-bém fará parte deste futuro e que assumirá a posição de presente em uma relação de intimidade do sujeito e tempo, como assevera Fraga:

“O sentido que circula no tem-po e no sujeito é o da perma-nente impermanência, que não é uma imperfeição, mas possi-bilidade de uma formação essencialmente humana, isto é, no sentido da ética e segundo a condição humana.” (Fraga. 2009, p.20).

Nesta formação essencialmente humana o agente actua como homem concreto, intencional em um mundo vivido com seu processo histó-rico-cultural em constante transfor-mação e buscando a legititransfor-mação com o reconhecimento da co-humanidade, do mundo comparti-lhado.

O reconhecimento não surge da dinâmica natural deste mundo, mas com a consequente retomada do ser humano, como co-humano, ou seja, do ser com o outro. Desta forma, a organização de perícia com seus profissionais passam a articular seu conhecimento e voltar a posicionar

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no mundo de possibilidade no qual faz parte.

O produto pode ser elaborado no sentido de sua confiabilidade, segu-rança e que atenda a necessidade do ser humano no sentido de produzir consequências relevantes para o co-humano. Valores como responsabili-dade, compromisso e solidariedade precisam ser desvelados e absorvidos pelos profissionais das organizações de perícia oficial para o cumprimen-to fiel da cadeia de custódia da va pericial, visando elaborar um pro-duto com qualidade, como sugere Fraga:

“Da significância do que é dito no convívio quotidiano com as pessoas no trabalho e da rele-vância discernida de cada situação na gestão, dependerá, em boa parte, a possibilidade de uma formação humana que leve justa gratificação pessoal a todos os envolvidos enquanto buscam resultados produtivos condizentes com seus dignos compromissos laborais e sociais.”

Fraga (2009, p.25) considera que o cumprimento da cadeia de custó-dia da prova pericial traz resultados e consequências relevantes para os profissionais e para a sociedade. Valores tais como: dignidade, trans-parência, segurança, confiança, integridade, idoneidade e verdade são desveladas com o compromisso, responsabilidade e solidariedade de profissionais responsáveis pela preser-vação.

Considerações Finais

O nosso Código de Processo Penal (2014) trata acanhadamente da investigação criminal, prevendo ritos voltados a crimes que eram cometidos na época de sua edição, "crimes comuns". Assim, considerando as actividades forenses, podemos concluir que a Cadeia de Custódia não pode ser uma preocupação que se restrinja aos Laboratórios de Toxi-cologia Forense, mas tem de se estender a todas as demais fases do processo que envolvem a evidência, externa e internamente à instituição a qual pertence o referido Laborató-rio, para poder garantir a manuten-ção da integridade da evidência e da idoneidade do processo.

A Cadeia de Custódia não é pri-mazia das actividades forenses, ela se faz necessária em todas as activi-dades profissionais onde possa ocor-rer situações que resultem em proces-sos judiciais. Os curproces-sos que fazem par-te da área de saúde devem, então, incorporar esta abordagem em seus programas curriculares, na medida em que a Universidade, enquanto educadora, pode desempenhar um papel transformador nas práticas pro-fissionais. Finalizando, podemos con-cluir, também, que a implantação, com sucesso, de um programa de Cadeia de Custódia depende da sua inclusão nas directrizes políticas da instituição, na medida em que isto significa o seu comprometimento e consequente apoio da mesma para com a continuidade do processo.

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Implicações Jurídicas e Criminais da Inexistência de

Visitas Intimas no Sistema Penitenciário Moçambicano

Autora: Joelma chiquite Gonçalves Olece Mestre em Criminologia, jurista e criminalista Docente da FCJC-ISCTAC, Técnica jurídica do IPAJ

Joelmaolece@gmail.com O presente artigo tem como objectivo a discussão, a cerca da importância das visitas íntimas dentro do nosso sistema penitenciário, a problemática de não implementação das mesmas, na nossa opinião é de extrema importância, pelo facto de ser um dos meios com o qual pode alcançar---se os fins das penas, assim como a salvaguardas dos preceitos nos termos do artigo 89º da CRM, a manutenção das famílias (as que tenham um dos cônjuges a cumprir alguma pena de prisão), a redução da reincidência e outros factores jurídicos e moralmente relevantes. Há que deixar bem claro que a nossa abordagem na cinge-se numa perspectiva de “privilégio”, mas sim de Direito.

Introdução

“Nesse mundo em que vivemos, cheios de imperfeições, todos nos estamos sujeitos a cometer erros. No momento, estou privado da minha liberdade, pois cometi um erro, e estou pagando por ele. Sabe princesa? Logo, logo, apenas três coisas farão parte da nossa relação: eu, você e o nosso amor. Beijos molhados, de quem não consegue viver um minuto sem você” – Carta remetida por recluso a sua companheira

S

egundo Priscila Spricigo, não se pode deixar de aplicar um Direito inerente ao ser huma-no, como é o exercício da sexualidade, pela precariedade das condições em que ocorre um Direito anterior a ele, como é o tratamento digno e a assistência durante a

exe-cução das penas.

Existem actualmente, varias dis-cussões relacionadas as condições do nosso sistema penitenciário, todas elas ligadas a visível violação dos Direitos humanos a que os reclusos são submetidos (um dos exemplos a questão da super lotação das celas), as justificações são de diversa nature-za (se administrativas ou ligadas as politicas Institucionais), nenhuma delas tira-nos o sono ao pensar nos Direitos da população prisional, tanto que decidimos trazer em debate a questão do Direito a visitas íntimas, ou por outra, a preocupação com a manutenção da vida sexual dos indi-víduos, pois se no nosso ordenamento jurídico não vigora a teoria retributiva (em ralação aos fins das penas), em algum momento a situação actual

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faz-nos pensar que embora de forma involuntária, colocamo--los ao critério de tal teoria (que encara a prisão como um sofrimento a que os indiví-duos devem ser submetidos, com objectivo de “pagarem” pelo crime que cometeram, muito ligada ao castigo, etc).

Será que todos nos conhecemos a real importância da actividade sexual na vida dos seres humanos? Em algum momento já nos passou pela cabeça que podemos estar a violar a Constituição da República? Que de alguma forma não estamos a agir de acordo com os fins da pena? Que podemos estar a contribuir para o “fracasso”, de algumas famílias Moçambicanas? A aumentar a práti-ca de relações homo afectivas den-tro das celas? O aumento do índice de sero prevalência do HIV dentro das penitenciárias? Será em torno dessas questões, que ira cingir--se a nossa discussão, com a qual preten-demos apenas fazer com haja uma necessidade urgente das visitas ínti-mas saírem dos papéis (projectos) e serem aplicadas.

1. Violação da Constituição da Repú-blica

A Constituição da República de Moçambique, no seu artigo 89º versa em torno do Direito a Saúde, deixan-do bem claro que o mesmo não pode ser negado a nenhum cidadão dentro do nosso território, aparente-mente não há violação nenhuma, na medida em que os reclusos têm acesso a assistência médica e medi-camentosa, “a preocupação” com

tal Direito, pode verificada com a existência de postos médicos dentro das penitenciárias. Mas, com base no conceito de Saúde apresentado pela OMS, é o bem-estar físico e psíquico do indivíduo.

A questão de violação vem a tona mesmo na acenda do segundo elemento “bem-estar psicológico”, por acreditarmos que essa “privação da pratica da actividade sexual”, compromete de forma significativa a saúde mental dos indivíduos. Abram Mazlow (psicólogo renomado), em sua pirâmide coloca sexo na base (considerando como uma necessida-de fisiológica, tal como alimentar-se, etc).

Acreditando ter uma ligação directa com a mente e o comporta-mento do individuo, na medida em que a ausência pode causar estéria (deficiência no funcionamento nor-mal do sistema nervoso). Acredita-se que 72 horas é o máximo de tempo que o indivíduo consegue ficar sem que atinja necessariamente o estado acima citado, mas que depois disso, alguns sinais podem ser: stress, agres-sividade, irritabilidade, intolerância, dores de cabeça, depressão, etc.

Um estudo de 2013, do Hippo-campus percebeu que o sexo poten-cializa a heterogénese (processo de criação de novos neurónios), e melhora as funções cognitivas (pelo facto das relance sexuais, levarem a crescimento celular do hipocampo, que é a região de cérebro vital para memoria a longo prazo), Por causa disso, o sexo pode ajudar a prevenir a deterioração do cérebro que causa perda de memória e, eventualmente

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a demência. Não constante o facto de ser por nos conhecida a teoria da Biologia que diz que “todo o órgão do nosso corpo, quando não usado, tende a atrofiar”.

1.1. Como a falta de visitas íntimas pode influenciar na existência da Reincidência?

O código penal Moçambicano, no seu artigo 38º fala a cerca desse factor (reincidência), por se tratar de casos em que os indivíduos após sen-tenças transitadas em julgado por algum crime, comete outro crime de mesma natureza antes de terem pas-sado oito anos desde a condenação. Acreditamos, que pelos factos acima descritos, referentes as condições psi-cológicas em que os reclusos se encontram, faz com que muitos deles não se arrependam do crime pratica-do, pois o elevado nível de frustração não os permite, automaticamente fazendo com que não se alcance os fins das penas, pois o inverso seria em situações em que a reincidência não ocorre.

Segundo Cesare Bonesana, Mar-chese di Beccaria, se se proíbem aos cidadãos uma Porcão de actos indi-ferentes, não tendo tais actos nada de nocivo, não se previnem os cri-mes. Ao contrario, faz-se com que surjam novos, porque se mudam arbi-trariamente as ideias ordinárias de vício e de virtude, que antes se pro-clamavam eternas e imutáveis.

Incorre-se em grande contradi-ção quando se busca a correccontradi-ção e a ressocialização do delinquente e, ao mesmo tempo, ignora-se o proble-ma sexual ou pensa-se que o mesmo

na requerer uma atenção especial. A repressão ao instinto sexual propicia a perversão da esfera sexual e da per-sonalidade do individuo. Em fim, é impossível falar de ressocialização em um meio penitenciário que deforma e desnatura um dos instintos funda-mentais do Homem.

Para os que acreditam ser o exer-cício da sexualidade uma condição irrelevante para o coro e para a alma, tendo em vista que muitas prá-ticas e concepções ético-religiosas têm em sua abstinência a razão de ser, a justificativa não pode ser trans-passada para dentro das prisões, mesmo porque os seria uma a sua liberdade de escolha, uma imposi-ção que não existe ara o homem livre que com plena consciência dos seus actos opta pela repressão sexual.

2. Contaminação dos reclusos, pelo vírus do HIV dentro das penitenciárias

O sistema tem-se deparado com casos de aumento dos níveis de cero prevalência (exemplo, a penitencia-ria de Manica, revelou recentemente dados que sustentam a afirmação, mas a situação não é exclusiva), ain-da relativo ao tema ain-da nossa pesqui-sa, encontramos como uns dos moti-vos que possam justificar, o facto de existirem práticas de relações homos-sexuais dentro das celas (faz nos crer que é uma das vias de contamina-ção, na medida em que condições para outros tipos de contaminação tais como: por objectos cortantes “não estão criadas).

De salientar que não temos nada

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contra esse tipo de relações, mas levantamos o debate na perspectiva de muitos deles não terem tendên-cias a esse tipo de comportamento antes da reclusão, o que leva a crer que desenvolvem dentro do sistema, como um dos únicos meios de satisfa-ção sexual disponível. E assim cami-nhamos para outro grande dilema que é o aumento do índice de sero prevalência em Moçambique, e suas implicações.

2.1.2 Necessidade de manutenção das relações do recluso com seus cônjuges

Os objectivos das visitas é o de garantir que haja uma manutenção das relações afectivas dos reclusos, uma vez que é fácil imagina o que será de uma relação (casamento por exemplo), Em que não há contacto sexual entre os cônjuges durante anos, sem duvidas, contribui para a manutenção dos vínculos afectivos por estes estabelecidos, influencia na reabilitação social, para além de contribuir de forma significativa ara o seu desenvolvimento pessoal e humano, além das vantagens na esfera física e psicológica, não obs-tante o facto de em todas se não na maior parte das relações na fidelida-de ser condition sine qua non para a sua existência, e colocando (em caso dos homens), a maioria expos-tos ao risco de uma disfunção eréctil segundo estudo publicado no Ameri-can Journal of Medicine em 2008, “Homens que praticam relações sexuais com pouca frequência, ten-dem a ter problemas com a erec-ção”, o que significa que mesmo

depois do cumprimento da pena os problemas com a sexualidade do casal terão tendências a existir.

Essas visitas são uma clara mani-festação do princípio da manifesta-ção da generalidade dos Direitos, liberdade e garantia dos reclusos. No nosso entender, tal facto, faz com que se mantenha o Direito a família (Constitucional). Para Moll (apud SPRICIGO), dois são os factores a serem considerados na sexualidade:

Um de ordem fisica, que é a impulsao de detumescência, c o n s t i t u i d a p e l o a l i v i o espasmodico dos orgaos sexuais e outro de ordem psiquica que se revela na impulsão de contacto e q u e s e m a n i f e s t a p e r l a necessidade de tocar, de beijar uma pessoa, geralmente do sexo oposto.

Betencout (1993, p. 185-189), aponta os resultados desvantajosos, para o recluso no que tange a inexis-tência da actividade sexual, para o seu processo de ressocialização, trazi-dos pela privação de relações sexuais nas prisões. Primeiramente, ressalta a problemática da abstinên-cia sexual de ponto de vista físico e psicológico, não gerando qualquer facto positivo, apenas operando transtornos de personalidade e forta-lecendo-se o temperamento, e as energias psíquica, ética e estética, que podem ser descarregadas em condutas inadequadas. Além disso, influencia na deformação da auto-imagem, gerando um questionamen-to sobre si mesmo e sua sexualidade pela ruptura da figura feminina ou masculina, provocando desajustes

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que impeçam ou dificultem o retorno a vida sexual anterior, provocadas elo sentimento de culpa, por relacio-namentos homossexuais dentro do cárcere, como ejaculação precoce, impotência, etc.

Reiterando práticas de homosse-xualismo forcado ou consensual que podem gerar frustrações, graves, desequilíbrios psicológicos e transtor-nos de comportamento sexual. Além disso, a abstinência sexual pode levar ao agravante social de destruição de relações conjugais. O índice de divórcios após a condenação de um dos parceiros é muito superior ao que ocorre entre casais que desfrutam da liberdade. Para o que permanece entre os muros da prisão, a expectativa de reinserção social após o desfazimento da união conjugal é afastada:

Para muitos internos a ruptura do seu lar pode significar uma profunda amargura e um grave i m p e d i m e n t o p a r a a ressocialização. A única coisa que poderia ter significado um f a t o r i m p o r t a n t e d e reabilitação, a manutenção dos laços familiares, está desfeita. É extremamente difícil que uma pessoa possa readaptar-se às portas de um lar destruído. (Burstein apud Bitencourt, 1993, p. 187)

Importante ressaltar aqui, os entraves para a pessoa do parceiro que se encontra em liberdade. De modo indireto, a depressão e alguns sentimentos como culpa, solidão, ansiedade e o isolamento

transpassam as fronteiras da prisão,

agravando a situação psicossexual de quem tem nos anos de espera o signo da eternidade. A realidade mostra, assim, uma verdadeira “re-personalização da pena”.

Considerações Finais

Concluímos que a preocupação com a sexualidade dos reclusos, deve ser olhada não somente como questões ligadas ao “prazer”, mas sim como necessidades fisiológicas que tem grande impacto em termos jurídi-cos e não só. Está mais do que na hora, de perceber que não se tratam de privilégios, mais sim de Direitos que advém de uma necessidade física e psicológica, e dos “estragos”, que algo aparentemente insignificante como o sexo, pode causar não só na vida de cada um deles, assim com o no sistema inteiro. Na medida em que de “forma inconsciente”, esta-mos a violar os Direitos dos cidadãos (Direito a Saúde nos termos do artigo 89º da CRM). A manutenção dos laços afectivos foi avançado como um dos principais factores que pos-sam contribuir para a pessoalizarão dos indivíduos, dai a necessidade de mante-los.

Há uma certa urgência no que concerne a aplicação dos projectos relacionadas as visitas íntimas, mas que o mesmo deve ser muito bem estudado não só em termos adminis-trativos, mas também no que concer-ne aos possíveis experiencias concer- negati-vas que teremos com a implementa-ção (a questão de haver lugar para o mercado da prostituição dentro das penitenciarias, ou de cobranças

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ilícitas para que os reclusos tenham acesso as mesmas, dentre outras), é necessário que olhemos para as experiencias dos outros Países que tenham implementado as visitas, que olhemos sempre na perspectiva da ressocialização dos indivíduos, ou seja, nos fins das penas. Que se cum-pram escrupulosamente as leis e que lutemos de todas as formas para uma sociedade melhor, buscando sempre a protecção das famílias que são as bases de todo o individuo. Concluí-mos ainda, que há um longo e árduo caminho pela frente, repleto de sucessos e fracassos, mas que n o final ira compensar pois sentiremos o alívio de ter retirado um grande fardo das “nossas costas”. E que sejam sempre salvaguardados os Direitos, sejam lá de quem forem.

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Da Psiquiatria ao Crime: Análise Pormenorizada das

Anomalias Psíquicas, Práticas Anti-Ordem Jurídica e o

Tratamento Jurídico Moçambicano

Autor: Paulo Sandro Aboobacar de Sousa, ISCTAC – Delegação da Beira Jurista e Criminalísta, Mestre em Ciências Jurídicas Público Forense Doutorando em Direito Público, email: paulosandrodesousa@gmail.com

As anomalias psiquicas, seja de indole aparentemente simples à complicadas, são um factor em Moçambique, cuja identificação, estudo, diagnostico para efeitos de correlação de prática criminosa e meios preventivos, estão àquem de serem atendidas, automaticamente a relação destes com o sector da administração da justiça é igualmente deficitário, levando assim a aplicação de responsabilidades e sua prevista sanção ferindo os dispositivos especiais de regulação criminal, Direitos fundamentais e humanos. As politicas de acompanhamento de patologias mentais estão enfraquecidas, pelo desconhecimento, inexistência de especialistas e de vontade.

Introdução

A

dificuldade de prever a perigosidade de uma pes-soa e prevenir o risco de agressão, homicidio, ou sui-cídio, nem sempre é fácil. E isto por ser imprevisível e, muitas vezes, ilógi-ca. Em comportamentos treslouca-dos inesperatreslouca-dos estamos em pleno no dominio da impoderabilidade, isto é, não se chega a colocar a questão de prever e ponderar a perigosidade que cada um transporta em si. E isto porque a maior parte destas situa-ções inesperadas e imprevisíveis acontece em pessoas que não se dis-tinguem em nada da população em geral.

São mesmo, muitas vezes, pacífi-cos cidadãos, bons pais e chefes de família, integrados sociais e profissio-nalmente. O que acontece é que aos longos dos anos, certas pessoas vão acumulando por repressão das suas frustrações, irritações, zangas, uma sobrecarga de violência que poderá acabar por dar origem a um acto violento tresloucado. Todos nós transportamos fortes pulsões agressi-vas e sexuais, potencialmente violen-tas. Mas, só em algumas pessoas o equilibrio se rompe entre aquilo que podemos e o que não podemos fazer, entre o bem e o mal. Não sen-do possivel prever muitos destes actos violentos inesperados podemos, pelo menos, tentar configurar as

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dades que correm mais riscos de per-der o controlo e serem violentas, para os outros ou para si próprios.

A legislação civil assim como cri-minal, traz elementos de tratamento de circunstâncias de falta de saúde mental, como é o caso dos artigos 138º (interdição); 152º (inabilitação) do C.C. dos artigos 46º e 47º do códi-go penal que se refere as inimputabi-lidades, como também o artigo 52º que refere a forma de tratamento dos delinquentes.

Fundamento Teórico: Conceitos Chaves

Antes de entrarmos para o emba-samento teórico, descrição dos diver-sos transtornos que directa ou indirec-tamente levam o indivíduo a cometer crime (s), é importante definirmos alguns conceitos chaves, nomeada-mente: Psiquiatria, Psicopatologia, cri-me e transtornos cri-mentais.

Psiquiatria

Segundo R. Jouvent (dicionário de psicologia) a Psiquiatria é uma especialidade da Medicina que lida com a prevenção, atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilita-ção das doenças mentais em huma-nos, sejam elas de cunho orgânico ou funcional, tais como depressão, trans-torno bipolar, esquizofrenia e transtor-nos de ansiedade. A meta principal é o alívio do sofrimento psíquico e o bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do doente, com perspectivas biológi-ca, psicológibiológi-ca, sociológica e outras áreas afins.

A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer “arte de curar a alma”. Aparentemente, a Psiquiatria originou-se no século V A.C., enquan-to os primeiros hospitais para doentes mentais foram criados na Idade Média. Durante o século XVIII a Psi-quiatria evoluiu como campo médi-co e as instituições para doentes mentais passaram autilizar tratamen-tos mais elaborados e humanos. No século XIX houve um aumento impor-tante no número de pacientes. No século XX houve o renascimento do entendimento biológico das doenças mentais, introdução de classificações para os transtornos e medicamentos psiquiátricos.

Psicopatologia

Na opinião de Marta Vaz (2002:2), psicopatologia é a ciência que estu-da as anormaliestu-dades psíquicas do ser humano. A psicopatologia pode ain-da ser definiain-da como o ramo ain-da psi-cologia que estuda os fenómenos patológicos ou distúrbios mentais e outros fenómenos anormais. Ela ten-ta, especialmente, estabelecer a diferença entre o normal e o patoló-gico.

Crime

Émile Durkheim citado por Helena Machado (2008:28), define crime como sendo “ todo o acto que, num qualquer grau, determina contra o seu autor essa reacção característica a que se chama pena”. Esta foca-gem na dimensão da resposta oficial surge articulada com a questão do

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consenso social, na medida em que o autor não só define a pena como sendo uma “ reacção passional, de intensidade graduada, que a socie-dade exerce por intermédio de um corpo constituído sobre aqueles dos seus membros que violaram certas normas de conduta” (id, ibid.:29), como acrescenta que “um acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da consciência colectiva”.

Na perspectiva durkheimiana, não há crime sem lei, do mesmo modo que não há lei criminal sem existência de dano ou prejuizo. Em suma, para Durkheim o crime consiste numa transgressão em relação ao que é definido ao nível dos estados fortes e definidos da consciência colectiva, suscitando como tal reac-ções intensas que se projectam pelas sanções previstas no direito criminal. Na perspectiva desse autor, a carac-terística comum aos crimes residiria no facto de constituírem actos univer-salmente reprovados pelos membros de cada sociedade.

Transtornos Mentais

Transtornos mentais são altera-ções do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, social, pes-soal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tole-rância aos problemas e na possibili-dade de ter prazer na vida em geral. Isto significa que os transtornos men-tais não deixam nenhum aspecto da condição humana intocado.

Sinais de Transtornos Mentais

Um dos principais sinais de trans-tornos mentais é a auto-agressão deliberada que é uma expressão genérica que designa os comporta-mentos de auto-agressão não fatais, (Harrison et al, 2006:82). Muitos actos são uma resposta impulsiva a uma situação que se considera intolerável, ou constituem uma tentativa para influenciar o comportamento de ter-ceiros. A auto-agressão ocorre muitas vezes sob a influência de drogas (álcool e outras drogas ilícitas). A ten-tativa de Suicídio é quando tenha existido uma clara acção para pôr termo à própria vida, (Harrison et all, 2006:83).

Existem vários fenómenos psíqui-cos que compõem a esfera cognitiva com destaque para a percepção definida como sendo a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estí-mulo sensorial. (Dalgalarrondo, 2000:81). Podemos concluir que a percepção é organização das infor-mações transmitidas pelas sensações que permite conhecer a realidade. A esfera Cognitiva, nesta organização, intervêm factores externos (movimento, intensidade e contraste do estímulo), factores internos/ biológicos (fome, sono, etc.), e psico-lógicos (motivação, expectativa, etc.). Outro fenómeno que compõe a esfera cognitiva são as alterações da percepção; ilusão que é a per-cepção deformada, alterada de um objecto real e presente. A ilusão pode ser: visual e auditiva.

Para além disso, temos a alucina-ção que é a percepalucina-ção clara e

Referências

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