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O Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico como espaço em construção permanente = The Agroecology Institute Amazon Latin American as space permanent construction

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de

Ciência e Matemática

ELENARA RIBEIRO DA SILVA

O INSTITUTO AGROECOLÓGICO LATINO AMERICANO AMAZÔNICO COMO ESPAÇO EM CONSTRUÇÃO PERMANENTE

THE AGROECOLOGY INSTITUTE AMAZON LATIN AMERICAN AS SPACE IN PERMANENT CONSTRUCTION

CAMPINAS 2016

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O INSTITUTO AGROECOLÓGICO LATINO AMERICANO AMAZÔNICO COMO ESPAÇO EM CONSTRUÇÃO PERMANENTE

THE AGROECOLOGY INSTITUTE AMAZON LATIN AMERICAN AS SPACE IN PERMANENT CONSTRUCTION

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra Em Ensino de Ciência e Matemática, na Área de Concentração: Ensino de Ciência e Matemática.

Dissertation presented the Postgraduation Multiunit Program in Science and Mathematics Education at University of Campinas as part of the requirements for obtaining a Master´s degree in Science and Mathematics Teaching in the Area of Concentration: Teaching Science and Mathematics.

Orientador: SANDRO TONSO

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ELENARA RIBEIRO DA SILVA E ORIENTADA PELO PROF. DR. SANDRO TONSO.

_______________________ Assinatura do Orientador

CAMPINAS 2016

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Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174

Silva, Elenara Ribeiro da,

Si38i SilO Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico como espaço em construção permanente / Elenara Ribeiro da Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

SilOrientador: Sandro Tonso.

SilDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Sil1. Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico. 2. Via Campesina. 3. Educação do campo. 4. Ecologia agrícola. 5. Participação democrática. I. Tonso, Sandro,1961-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The Agroecology Institute Amazon Latin American as space

permanent construction

Palavras-chave em inglês:

Agroecology Institute Amazon Latin American Via Campesina

Rural education Agricultural ecology Democratic participation

Área de concentração: Ensino de Ciências e Matemática Titulação: Mestra em Ensino de Ciências e Matemática Banca examinadora:

Sandro Tonso [Orientador] Mauricio Compiani

Maristela Simões do Carmo

Data de defesa: 30-08-2016

Programa de Pós-Graduação: Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática

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MEMBROS DA COMISSÃO JULGADORA DA DISSERTAÇÃO DE

MESTRADO DE ELENARA RIBEIRO DA SILVA - RA 149648,

APRESENTADA E APROVADA AO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO

MULTIUNIDADES EM ENSINO DE CIÊNCIA E MATEMÁTICA DA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, EM 30/08/2016.

Profº Drº Sandro Tonso - (Orientador) - FT/UNICAMP

Profª Drª Maristela Simões do Carmo - FCA/Unesp - Botucatu

Profº Drº Maurício Compiani - FE/UNICAMP

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Julgadora, consta no

processo de vida acadêmica da educanda.

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Existe um único lugar onde o ontem e o hoje se encontram e se

reconhecem e se abraçam, e este lugar é o amanhã.

Soam como futuras certas vozes do passado americano muito antigo.

As antigas vozes, digamos, que ainda nos dizem que somos filhos da

terra, e que mãe a gente não vende nem aluga. Enquanto chovem

pássaros mortos sobre a Cidade do México e os rios se transformam

em cloacas, os mares em depósitos de lixo e as selvas em deserto.

Essas vozes teimosamente vivas nos anunciam outro mundo que não

seja este, envenenador da água, do solo, do ar e da alma.

Também nos anunciam outro mundo possível as vozes antigas que nos

falam de comunidade. A comunidade, o modo comunitário de

produção e de vida, é a mais remota tradição das Américas, a mais

americana de todas: pertence aos primeiros tempos e às primeiras

pessoas, mas pertence também aos tempos que vêm e pressentem um

novo Mundo Novo. Porque nada existe menos estrangeiro que o

socialismo nestas terras nossas. Estrangeiro é, na verdade, o

capitalismo: como a varíola, como a gripe, veio de longe.

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Dedico

esse

trabalho

de

pesquisa à minha mãe Norma

(in memorian) e ao meu pai

Flávio (in memorian) por

cultivarem

em

mim

o

sentimento que todos os seres

humanos têm direito à vida, e

vida em abundância.

Ofereço esse trabalho de pesquisa a minha

família querida Everaldo, Isis e Júlio pelo

amor e pelo apoio.

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Agradecimentos

Nesse tempo que dediquei a refletir sobre o IALA Amazônico tive como interlocutor paciente o educador Sandro Tonso com quem tive boas conversas que me ajudaram questionar os meus pensamentos. Uma característica muito especial do Sandro é a capacidade de valorizar todas as ideias, isto é muito importante para o processo criativo que também faz parte do fazer científico. Dessa maneira, me sinto feliz e agradecida por essa convivência cheia de aprendizados.

Outra pessoa muito importante nesse processo, e a quem sou profundamente grata, é o meu querido amigo Fernando Michelotti que me levou para conhecer o IALA Amazônico. Com isso, além de proporcionar uma nova questão para essa pesquisa, fortaleceu minhas esperanças na possibilidade de outras formas de convivência pautadas por valores de respeito e amor ao próximo; e que negam qualquer tipo de exploração de homens e mulheres.

A minha amiga, Andreia Regiane Nicolau Ferreira, pela presença companheira, amorosa e constante. Além da leitura atenta das primeiras páginas desse trabalho e sugestões pertinentes, e também pelo texto do Eduardo Galeano que está na epígrafe deste trabalho, que considero um presente. Conheci a Andreia e o Fernando na faculdade, amizade antiga e querida, então para mim é muito especial ter a companhia dessas duas pessoas nesse processo, pois até hoje compartilhamos sonhos e projetos de uma sociedade democrática e menos injusta.

À banca da qualificação: educador e amigo Guilherme do Val Toledo Prado, educador Maurício Compiani e educadora Maristela do Carmo; pelas conversas atenciosas e sugestões enriquecedoras.

Ao meu companheiro Everaldo pelo carinho, ao Júlio, meu filho, pela companhia querida e a Isis, minha filha, pela torcida animada, alegre, amorosa e constante, e por entender o quanto foi importante para mim esse processo de elaboração teórica.

À minha irmã querida, Eliana, pelas conversas sempre animadoras e os cafezinhos, pelos empréstimos de livros na biblioteca, pelas leituras do texto da qualificação e dissertação e sugestões. E também pela super ajuda na transcrição de algumas entrevistas.

À Elci, querida irmã, pela torcida incondicional, pela leitura e sugestões para o texto final e pela alegria de viver. Ao Eduardo e à Eveline, irmão e irmã, por me apoiarem nesse projeto desafiador.

Em Marabá, tem muita gente querida que de forma direta ou indireta me ajudaram, eu agradeço muito. Porém, não posso deixar de agradecer especialmente a Maria Célia Vieira da

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Silva e seu companheiro Francisco Alves de Souza, o Chiquinho, pela acolhida amorosa na sua casa nos períodos do trabalho de campo. Foram muito importantes as conversas com a Maria Célia sobre o IALA Amazônico, Educação do Campo, ciência, o fazer científico e também a agradeço por me ajudar a estruturar o texto da qualificação, pelos incentivos e orientações. Além da Maria Célia e do Chiquinho, lá de Marabá, terra querida, também agradeço à Claudiana Guido e a Laura Guido pelo carinho das acolhidas e pelas prosas.

As pessoas que compõe o grupo Outras Margens com quem travei discussões que me ajudaram nesse trabalho de reflexão científica, em especial à Jéssica e ao Wagner com quem dividi muitas dúvidas, aflições e ideias.

E por fim, as pessoas que me concederam as entrevistas, sem as quais esse trabalho de pesquisa não teria a mesma qualidade e ao pessoal do IALA Amazônico pela acolhida e pela esperança, meu muito agradecida!

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Resumo

Esse trabalho de pesquisa trata-se de um Estudo de Caso sobre o Instituto de Agroecologia Latina Americano Amazônico (IALA Amazônico). Esse Instituto faz parte de uma rede de instituições ligadas à Via Campesina responsáveis pela formação política e científica de camponeses e camponesas. Também tem como objetivo se constituir em um centro de convergência de experimentação baseadas em princípios agroecológicos no bioma Amazônico, isto significa que a sua abrangência extrapola a fronteira brasileira. Para manter o Instituto funcionando existe um grupo de pessoas que constituem a Brigada “Mamede Oliveira” que tem a responsabilidade de planejar e executar as atividades pedagógicas e produtivas, além de atividades de manutenção do espaço. Todas as pessoas que participam das atividades pedagógicas (cursos, reuniões, oficinas) também participam das atividades nas unidades produtivas, isto é, as atividades pedagógicas envolvem tanto estudo teórico como trabalho. Além disso, as pessoas participam de grupos e reuniões onde podem contribuir para reflexão e decisão sobre questões relacionadas ao IALA Amazônico. Todas as pessoas que participam, trabalham voluntariamente e como está vinculado a Via Campesina e tem abrangência Pan Americana, esse Instituto recebe visita de vários atores sociais. Como foi criado a partir de reflexões e discussões que sempre envolveram vários atores sociais e também por negar a ideia de ser centro de referência ou modelo, o IALA Amazônico se propõe a ser ‘um espaço em construção permanente’. Nesse trabalho busquei entender em que medida as estratégias metodológicas adotadas no Instituto contribuem para que ele possa ser considerado ‘um espaço em construção permanente’. Para me aproximar do cotidiano do IALA Amazônico realizei duas visitas de campo quando utilizei a metodologia Observação Participante. Além disso, entrevistei várias pessoas, pesquisei documentos relacionados ao Instituto, gravei reuniões e aulas que participei. Para análise utilizei elementos relacionados a Agroecologia, Educação do Campo e Participação Democrática. A Agroecologia compõe a proposta do Instituto, e é uma ciência que valoriza o conhecimento das comunidades do campo, e por meio desse diálogo também vai elaborando e sistematizando os conhecimentos. Além disso, por ser uma ciência recente também está em construção. O IALA Amazônico se configura uma experiência de Educação do Campo e busca utilizar princípios como alternância, trabalho e pesquisa como princípio educativo e relação entre teoria e prática. A alternância permite a aproximação com a realidade cotidiana das comunidades e é a base para as discussões teóricas e estudo. O trabalho e pesquisa como princípio educativo são formas de articulação crítica entre teoria e prática, buscando superar as incoerências e aprimorar as intervenções na realidade. A Participação Democrática traz elementos como decisão coletiva, acordos coletivos, relações dialógicas, delegação de poder juntamente com prestação de contas e compromisso por parte do representante para com os representados. As estratégias ligadas à discussão da Agroecologia, tais como buscar se tornar um centro de convergência de experimentações agroecológicas e o Encontro dos Sábios, a adoção dos princípios pedagógicos e também instâncias de participação e os acordos coletivos que existem no IALA Amazônico contribuem para configurá-lo em um espaço de construção permanente.

Palavras chaves: IALA Amazônico, Via Campesina, Agroecologia, Educação do Campo, Participação Democrática

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Abstract

This research work it is a Case Study on the Agroecology Institute Amazon Latin American (IALA Amazon). This Institute is part of a network of institutions linked to the Via Campesina, responsible for political and scientific education of peasants. It also aims to constitute a convergence center of experimentation based on agroecological principles in the Amazon biome, this means that its scope extends beyond the Brazilian border. To keep the Institute running there is a group of people who constitute the Brigade "Mamede Oliveira" who has the responsibility to plan and execute the educational and productive activities, and space maintenance activities. All persons participating in educational activities (courses, meetings, workshops) also participate in activities in productive units, ie educational activities involve both theoretical study and work. In addition, people participate in groups and meetings which can contribute to reflection and decision on issues related to IALA Amazon. All people who participate, voluntarily work. Also this Institute is visited by various social actors because it is linked to Via Campesina and has a Pan American scope. The IALA Amazon was created from reflections and discussions that always involved various stakeholders and also to deny the idea of a reference center or model, IALA Amazon intended to be 'a space in permanent construction'. This study aim to understand to what extent the methodological strategies adopted at the Institute contribute to its consideration as 'a space in permanent construction'. To approach the IALA Amazon I performed two field visits using the methodology of Participant Observation. In addition, I interviewed several people, researched documents related to the Institute and recorded the meetings and classes that I attended. To the analyze I used elements related to Agroecology, Peasant Education and Democratic Participation. Agroecology is part of the proposal of the Institute, and is a science that values the knowledge of the peasant communities, and through this dialogue also elaborate and systematize knowledge. Moreover, being a recent science is also under construction. The IALA Amazon to set up a Rural Education experience and seeks to use principles such as switching ( alternância ) , work and research as an educational principle and relation between theory and practice. Switching allows approach to the everyday reality of communities and is the basis for the theoretical study and discussions. The work and research as an educational principle are forms of critical articulation between theory and practice, seeking to overcome inconsistencies and improve interventions in reality. Democratic Participation brings elements such as collective decision, collective agreements, dialogical relations, power delegation along with accountability and commitment by the representative to the represented. The strategies related to the discussion of Agroecology, such as seeking to become a center of convergence of agroecological trials and the Meeting of the Wise , the adoption of pedagogical principles and also instances of participation and collective agreements that exist in IALA Amazon contribute to configure it in a space in permanent construction.

Keywords: IALA Amazon, Via Campesina, Agroecology, Rural Education, Democratic Participation.

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Lista de figuras

Figura 1 Mapa localização do Assentamento Palmares II. Fonte: (Bordalo, 2010 apud

MORENO, 2011)... 28 Figura 2 Localização do lote Núcleo "Filhos da Terra". Fonte: (Bordalo, 2010 apud

MORENO, 2011)... 29 Figura 3 Vista aérea do IALA Amazônico. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015. ... 30 Figura 4 Instâncias que participam da reunião Coordenação Geral do Curso... 35 Figura 5 Estrutura Organizativa do IALA Amazônico. Fonte: Diagnóstico IALA Amazônico ... 36

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (opcional) AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa

Coopserviços - Prestadora de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural para assentados da Reforma Agrária

CPP - Coordenação Político Pedagógica CPT - Comissão Pastoral da Terra CRMB - Campus Rural de Marabá EFA - Escola Família Agrícola

ELAA - Escola Latino Americana de Agroecologia (Paraná)

FASE - Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional Fetagri - Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura FREC - Fórum Regional de Educação do Campo

IFPA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará IFSP - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MFR - Maisons Familiales Rurales

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MAM - Movimento dos Atingidos pela Mineração MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

Pecim - Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática - Mestrado e Doutorado

Pronera - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

Rede ACES - Rede de Ambientalização Curricular no Ensino Superior. UFPA - Universidade Federal do Pará

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Sumário

1.Introdução ... 15

2. Caracterização do IALA Amazônico ... 22

2.1 Os Institutos de Agroecologia da Via Campesina ...23

2.2 Aspectos socioambientais do IALA Amazônico...26

2.3 O contexto de elaboração da assertiva "O IALA Amazônico como espaço em construção permanente" ...38

3. Objetivos ... 40

4. Metodologia ... 40

5. Referenciais teóricos ... 55

5.1 Uma aproximação com a questão da Agroecologia ...56

5.2 Uma aproximação com a questão da Educação do Campo ...69

5.3 Uma aproximação com a questão da Participação Democrática ...76

6. As interações entre as representações sobre o IALA Amazônico e Agroecologia, Educação do Campo e Participação Democrática ... 80

6.1 Concepções sobre o IALA Amazônico como espaço em construção permanente na voz dos respondentes80 6.2 Agroecologia como um indicador de construção permanente do IALA Amazônico ...84

6.3 Princípios da Educação do Campo na construção permanente do IALA Amazônico ...91

6.4 A participação democrática na construção permanente do IALA Amazônico ...94

7. Considerações finais ... 103 8. Referências ... 114 9. Apêndices... 119 9.1 Transcrições completas ...119 9.1.1 Antonio Conselheiro ...119 9.1.2 Carlos Marighella ...126 9.1.3 Dandara ...133 9.1.4 Dina Teixeira...138 9.1.5 Iara Iavelberg ...150 9.1.6 Maurício Grabois ...156 9.1.7 Olga Benário ...158 9.1.8 Osvaldão ...165 9.1.9 Pagu ...170

9.1.10 Zumbi dos Palmares ...175

9.2 Entrevistas transcritas parcialmente...178

9.2.1 Alfredo ...178

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9.2.3 Cristina...191

9.2.4 Dora ...201

9.2.5 Lourival Paulino...202

9.2.6 Micheas ...209

9.2.7 Lucia Maria de Souza ...213

9.2.8 Pedro Carretel ...223

9.2.9 Oziel Alvez Pereira ...225

9.2.10 Tuca ...227

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1.Introdução

Esta introdução descreve os caminhos que percorri até chegar aos objetivos deste projeto de pesquisa, que foi alterado duas vezes. Ao descrever esse processo, aproveito para apresentar o Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico - IALA Amazônico, sua relação com a Via Campesina e o contexto onde ele se insere. Em seguida, apresento as principais questões sobre o Instituto, o referencial teórico e em linhas gerais as estratégias metodológicas utilizadas.

Sou filha de uma mineira, chamada Norma e de um mato-grossense do sul que se chamava Flávio. Meu pai nasceu em Dourados (MS), em 1934, quando meus avós estavam trabalhando na Missão Kaiwoá, compondo o primeiro grupo de missionários e missionárias1 que foram para lá evangelizar os indígenas. Tanto a família do meu pai como a da minha mãe era Presbiteriana.

Gosto de contar esse fato da minha história porque acredito que ele ilustra a importância da religião na minha família e como isto influenciou minha vida. Minha formação religiosa me propiciou a reflexão sobre os princípios cristãos de igualdade entre todas as pessoas, compaixão, saber se por no lugar das outras pessoas, amor, justiça e principalmente não fazer para as outras pessoas o que não quero que façam para mim. Mais tarde quando comecei a me aproximar das discussões sobre o Capitalismo e o Socialismo compreendi que os princípios cristãos eram mais próximos dos princípios Socialistas. O Capitalismo necessita do acúmulo de capital e da mais valia, se baseia na exploração do trabalho do outro, atitude que é contraditória para a ética cristã. Por esses caminhos de reflexão e vivência cristã me tornei Socialista e acredito que podemos construir formas mais humanas e igualitárias de organização social.

Escolhi ser Engenheira Agrônoma porque ansiava ajudar as pessoas, penso que essa minha necessidade de ajudar as pessoas foi alimentada pela minha formação cristã. Ingressei em Engenharia Agronômica em 1990 e na faculdade participei de grupos de extensão universitária que discutiam questões relativas à Agricultura Alternativa, Reforma Agrária, Agricultura Familiar, além disso, me envolvi com as discussões e ações no

1 A desigualdade de gênero é uma forma de exploração e de subalternidade e a invisibilidade do gênero

feminino nos textos também é uma forma de representação desta desigualdade. Preocupada com isto, escolhi escrever as formas femininas e masculinas por extenso e sempre que possível também usei termos genéricos como estratégia para tornar o texto menos pesado e maçante. Tenho consciência que o problema da desigualdade de gênero tem profundas raízes na sociedade e que utilizar o feminino e o masculino, por si só, não irá resolvê-lo. Mas também, acredito que a disseminação da representação do gênero feminino na linguagem escrita pode contribuir para a reflexões e mudanças nas atitudes.

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movimento estudantil. Conclui o curso em 1996 e trabalhei em alguns projetos e instituições que desenvolviam atividades de formação junto a comunidades do campo: trabalhadores e trabalhadoras rurais, quilombolas, assentados e assentadas da Reforma Agrária, camponeses e camponesas2 comunidades ribeirinhas. Essas experiências trouxeram reflexões sobre como o trabalho de Extensão Rural tem um caráter fundamentalmente pedagógico, nesse sentido o trabalho do extensionista e da extensionista se assemelha ao papel do educador e da educadora, conforme as reflexões feitas por Paulo Freire no livro "Extensão ou comunicação?".

As minhas atividades profissionais sempre estiveram relacionadas a processos educativos, entretanto, foi em 2006, quando me mudei com minha família para Marabá/PA3, que entrei em contado com o Movimento de Educação do Campo. Esse movimento que surgiu em 1998 reivindica políticas públicas que garantam qualidade para as escolas do campo e a universalização do ensino do campo. Pois parte do pressuposto que, historicamente as condições de funcionamento das escolas rurais são precárias, onde faltam infra estrutura, merenda, materiais didáticos, transporte, profissionais de apoio e professores. Esse descaso político com a educação do campo está relacionado em parte, com a concepção que a industrialização brasileira resultaria em um esvaziamento do campo e portanto as escolas rurais não seriam necessárias. Além disso, o Movimento de Educação do Campo entende que a escola tem um papel importante na reflexão sobre os rumos da sociedade, sobre o quais são as questões que são fundamentais que devem embasar o desenvolvimento social e econômico que seja orientado para diminuir as desigualdades sociais. Porém, entende também que a escola por si só não poderá fazer essa transformação, dessa forma, além das escolas do campo esse movimento entende que são necessárias outras políticas públicas que criem condições de vida dignas à população que mora no campo.

O Movimento de Educação do Campo articula várias experiências de formação de sujeitos que moram ou tem suas vidas vinculadas ao campo, que propiciou reflexões, discussões e acúmulo de conhecimento a respeito de qual Educação do Campo se almeja. Esse movimento critica os modelos de escolas rurais referenciados no modo de vida urbano porque assim, embora as escolas rurais estejam localizadas no campo, raramente promovem educação

2 O debate sobre os conceitos de campesinato e agricultura familiar é controverso e intenso, e não foi possível

tratar nesse trabalho de pesquisa, sem incorrer no risco de trata-lo superficialmente. Por isso não entrei nesse debate e optei por utilizar os nomes que os movimentos sociais se auto denominam.

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do campo. O Movimento de Educação do Campo propõe que as escolas do campo devem dialogar com suas especificidades da realidade dos educandos e educandas do campo.

Na região do sul e sudeste paraense se localizam aproximadamente 500 assentamentos rurais da Reforma Agrária, dessa forma há um grande número de pessoas que estão ligadas ao campo e que demandam políticas públicas, entre elas acesso a educação. Por outro lado a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa4), em parceria com os movimentos sociais do campo como a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Fetagri) do Estado do Pará e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra organizaram vários cursos de formação em várias modalidades, desde alfabetização de jovens e adultos até especialização.

No período entre 2007 a 2008 pude participar de um desses projetos, quando integrei a equipe de educadores e educadoras responsáveis pela formação de jovens camponeses e camponesas e agricultores familiares e agricultoras familiares, no curso de ensino médio e profissionalizante em Agropecuária com ênfase em Agroecologia, Esse projeto era uma parceria entre a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Fetagri) do Estado do Pará - regional sudeste, Unifesspa, Coopserviços5, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Esse projeto recebeu recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera/Incra) e funcionava na Escola Família Agrícola de Marabá (EFA de Marabá) que era vinculada a Fetagri - regional sudeste.

Os movimentos sociais ligados à luta pela terra, além de participarem da elaboração e realização de cursos de formação também reivindicavam a construção de uma Escola Agrotécnica, para suprir a demanda de formação técnica para a juventude do campo. Assim, em 2008 foi criada a Escola Agrotécnica Federal de Marabá (EAFMB) que é fruto da luta dos agricultores e agricultoras familiares e camponeses e camponesas. Estes sujeitos do campo também reivindicaram a sua participação na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) da nova escola. Vale ressaltar dois aspectos fundamentais garantidos no PPP, o primeiro diz respeito ao público prioritário da escola que são os povos do campo e o segundo são os princípios pedagógicos baseados nos princípios da Educação do Campo. Um outro aspecto marcante na criação da EAFMB é que ela foi construída dentro do Assentamento 26 de março, a 35 km do centro urbano de Marabá, para tanto os assentados e as assentadas

4 Desde 2011, o campus da UFPA de Marabá juntamente com os campi de outros municípios do sul e sudeste

paraense passaram a constituir a nova Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).

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cederam a área para o governo federal construir a escola. Pode-se afirmar que a identidade desta escola é marcada pela luta dos movimentos sociais do campo e pelo conhecimento acumulado nas suas experiências em Educação do Campo.

No início de 2009, a EAFMB foi incorporada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (IFPA) e recebeu o nome de Campus Rural de Marabá (CRMB). Neste período também foi iniciada a elaboração, juntamente com militantes do MST e Fetagri, além de professores da Unifesspa, de um projeto de Curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio, ênfase em Agroecologia. Eu participei desse processo como educadora pois passei a trabalhar nessa instituição de ensino onde fiquei até outubro de 2012, quando me mudei para Campinas.

Em agosto de 2013, elaborei um projeto de pesquisa que tinha a intenção de estudar a relação entre teoria e prática nas experiências pedagógicas do CRMB. Apresentei esse projeto para o Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática - Mestrado e Doutorado (Pecim) da Unicamp.

A primeira mudança nesse projeto foi em relação ao lugar onde iria realizar a pesquisa, pois no final de 2013, encontrei o educador Fernando Michelotti, que trabalha na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), no Campus de Marabá. Nesta época, ele estava participando da coordenação da segunda turma do Curso de Especialização Residência Agrária, denominado "Educação do Campo, Agroecologia e Questão Agrária na Amazônia", que havia iniciado suas atividades em setembro de 2013 e tinha o seu término para 2015. Este curso também foi financiado pelo Pronera e era feito em parceria com a Via Campesina e foi realizado no Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico (IALA Amazônico), localizado no Assentamento Palmares II, em Parauapebas/PA.

Naquele momento, surgiu a ideia de alterar o objeto de estudo desta pesquisa do CRMB para a segunda turma do Curso de Especialização Residência Agrária. Alguns pontos foram levados em consideração para essa alteração, entretanto dois foram fundamentais. O primeiro é o fato do Curso de Especialização também se constituir uma experiência de Educação do Campo, em que estão postas as questões referentes aos processos de aprendizados a partir da realidade dos sujeitos do campo.

O segundo ponto é a importância do IALA Amazônico como projeto da Via Campesina, que se opõe ao projeto capitalista hegemônico e que objetiva por em prática novas formas de relações sociais, bem como novas formas de relações entre as pessoas e os outros elementos da natureza (AMARAL, 2010).

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Dentro desse contexto, pesquisar a relação teoria e prática no Curso de Especialização Residência Agrária, realizado no IALA Amazônico, ligado a Via Campesina, pareceu-me mais interessante do que retornar ao Campus Rural de Marabá (CRMB).

O primeiro período de trabalho de campo foi realizado em junho de 2014, quando a segunda turma do Curso de Especialização - Residência Agrária estava no segundo tempo-escola. Essa primeira viagem acabou se configurando em uma visita exploratória, que contribuiu para uma aproximação do IALA Amazônico, bem como para avaliar se as questões previamente levantadas dentro do contexto do CRMB também eram importantes no contexto do Curso de Especialização Residência Agrária, no IALA Amazônico.

Após este trabalho de campo, o projeto novamente foi alterado. Nesta segunda alteração, o objetivo deste projeto de pesquisa se tornou buscar aprofundar o conhecimento sobre o IALA Amazônico.

Neste período, tive a oportunidade de entrar em contato com a complexidade do contexto e da proposta do IALA Amazônico e me deparei várias vezes com a expressão "o IALA Amazônico é um espaço em construção permanente". Esta assertiva é muito utilizada pelos sujeitos que participam desse processo tanto nos espaços de discussões quanto em documentos de reflexão sobre essa experiência. Me pareceu que essa afirmação articulava alguns aspectos fundamentais do IALA Amazônico como a participação democrática, gestão coletiva do espaço, protagonismos dos sujeitos, construção de conhecimento e Agroecologia.

Pude perceber que há no IALA Amazônico muitas pessoas que participam em diferentes momentos e de atividades diferentes, além disto, essas pessoas também são de lugares diferentes. Algumas dessas pessoas constituem a Brigada "Mamede de Oliveira"6 que

entre outras atribuições é responsável pela manutenção do espaço, principalmente quando não há cursos sendo realizados, e também por pensar o Instituto. Esse grupo de pessoas, chamadas brigadistas, permanece morando no Instituto. Existem também pessoas que participam dos Cursos e Encontros e são organizadas em Núcleos de Base. Essas pessoas além de estudarem e trabalharem nas unidades produtivas, também contribuem na manutenção diária dos espaços coletivos tais como refeitório, plenária, biblioteca entre outros. Esses Núcleos têm coordenadores que participam das reuniões de Coordenação Geral do Curso onde são discutidas as questões relativas aos Cursos e ao IALA Amazônico. E por fim, existem dois

6 Em homenagem ao sr. Mamade Gomes de Oliveira, militante do MST, assassinado em 23 de dezembro 2012, devido à sua

atuação e luta na construção de uma sociedade mais justa. O seu lote no assentamento “Mártires de Abril”, em Belém/PA, é conhecido como LAPO “Laboratório Agroecológico de Produção Orgânica”.

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Conselhos compostos de militantes dos movimentos da Via Campesina e assentados e assentadas do Palmares II.

Essa organização permite a participação dos vários sujeitos, comprometidos com a luta camponesa, na construção permanente desse espaço. Esses sujeitos trazem várias perspectivas, concepções críticas ao capitalismo, sonhos, e esperanças de experiências e ações transformadoras da sociedade que querem ver concretizados no IALA Amazônico. Num movimento que busca coerência entre reflexões e ações vão se definindo os elementos fundamentais que orientam o IALA Amazônico.

Dentro desse contexto, me interessei em entender o que é ser um espaço de formação de camponeses e camponesas numa perspectiva de luta contra hegemônica e estar em processo de constante transformação. Quais a estratégias metodológicas dentro da proposta do IALA Amazônico contribuem ou não para que ele se constitua um espaço em construção permanente?

Escolhi Agroecologia, a Educação do Campo e Participação democrática para refletir sobre essa questão. De modo geral, esses três temas são importantes para compreender o IALA Amazônico, que se propõe ser um centro de formação dos camponeses e camponesas, além de ser centro de convergência de experiências agroecológicas e por fim, por ser um projeto da Via Campesina que articula vários movimentos sociais que se organizam a partir da participação das pessoas no Brasil e no mundo.

Como esses temas são polissêmicos busquei definir a concepção que eu adotei. A concepção de Agroecologia que embasa essa discussão entende que os problemas socioambientais causados pelo modelo de desenvolvimento urbano industrial não podem ser resolvidos apenas pela substituição de insumos orgânicos. Como os problemas socioambientais possuem várias dimensões: social, econômica, cultural, ecológica necessitam de uma perspectiva multidisciplinar para sua solução. Nesse processo, a perspectiva das comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses e camponesas é fundamental. Nesse sentido, o conceito de participação considerado é aquele construído através do diálogo democrático, onde todas as pessoas têm direito de falar e serem ouvidas, e também tem poder de decisão.

A Educação do Campo, além das características que foram apontadas no início dessa introdução, é entendida como instrumento de construção de autonomia dos sujeitos e de valorização do modo de vida das pessoas que vivem e/ou tem suas vidas vinculadas ao campo.

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De modo específico, a Agroecologia pode auxiliar nesse processo porque i) o debate da Agroecologia na Via Campesina, no MST e no próprio IALA Amazônico contribuem para o processo de elaboração das propostas e lutas desses movimentos; ii) não há pretensão de construir modelos que devam ser replicados ou receitas previamente elaboradas porque cada realidade exige um tratamento específico; iii) a ênfase em enfoque multidisciplinar, que considera várias perspectivas e por isso necessita do diálogo para elaboração das resposta; iv) a valorização e diálogo com o conhecimento tradicional dos camponeses e das camponesas, aprendendo com esses sujeitos, isto é, incorporam novas ideias às suas teorias e práticas; v) a apropriação dos camponeses e camponesas por meio dos estudos agroecológicos dos conhecimentos científicos acumulados; vi) por fim a própria definição de Agroecologia está em construção.

Os motivos específicos que me levaram a escolha de Educação do Campo como indicador de construção permanente são i) os processos de ensino e aprendizado que levam em consideração a realidade do sujeito têm que ser dialógicos e incorporar novas ideias e concepções, por isso não pode ser acabado e concluído; ii) os processos de formação são por essência inconclusos; iii) os processos educativos emancipatórios que tem por objetivo a construção de autonomia são fundamentalmente promotores de liberdade e portanto não determinam o que os sujeitos devem pensar ou fazer, dessa forma são processos que estão em aberto; iv) o trabalho e a pesquisa como princípio educativo e a busca de coerência pela reflexão entre teoria e prática, produzem transformações na teoria e na prática.

A participação democrática é fundamental em projetos de construção coletiva como é o IALA Amazônico, pois sem ela não é possível a dinâmica de construção coletiva caracterizada pela i) divisão de poder de decisão entre todos os participantes, é a comunidade que é a detentora do poder; ii) não há distância entre representantes e representados; iii) quem está ocupando função de representação deve dialogar com os representados de maneira transparente; iv) ter espaços onde seja possível debater e refletir coletivamente; v) espaços caracterizados por respeito às diferenças; vi) existência de acordos coletivos, regras elaboradas em concordância com todos.

Em relação à metodologia, como esta pesquisa se debruça sobre uma situação particular ela se caracteriza como um Estudo de Caso. Além disto, para entender a complexidade do IALA Amazônico enquanto espaço em construção permanente foram utilizadas as seguintes estratégias metodológicas: a Observação Participante, o diário de campo, as entrevistas e a pesquisa documental.

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Por fim, quero reforçar que o IALA Amazônico faz parte de uma estratégia de um movimento que é crítico ao modelo hegemônico de desenvolvimento social e econômico. Neste embate as classes dominantes, muitas vezes associadas ao Estado, buscam formas de desarticular os movimentos sociais, como por exemplo, criminalizá-lo ou ainda apontar falhas, para fortalecer o argumento de que não há outra maneira de organização e desenvolvimento da sociedade que não seja a baseada nas relações de exploração capitalista.

Neste contexto, o exercício de refletir sobre o IALA Amazônico torna-se delicado, na medida em que também são encontradas contradições, equívocos, limites colocados pela própria natureza de um projeto que se propõe por fazer-se, em constante revisão entre prática e teoria. Embora, o fato das contradições emergirem pode ser considerado como um indicativo de um processo em construção permanente mas também pode ser entendido como uma fraqueza. Desta maneira, discutir sobre problemas e contradições não deve ser entendido como uma tentativa de desqualificar o trabalho desenvolvido, muito pelo contrário, pelo o que vivenciei no IALA Amazônico e as reflexões que me trouxeram, reafirmaram em mim a esperança que uma sociedade solidária e igualitária é possível.

2. Caracterização do IALA Amazônico

Este capítulo está dividido em 3 partes que trazem informações sobre o IALA Amazônico. Na primeira parte busquei explicar o IALA Amazônico como um projeto da Via Campesina, na segunda parte trouxe elementos da estrutura física e da organização das pessoas e das atividades cotidianas.

A terceira parte traz a discussão sobre a origem da afirmação "o IALA Amazônico é um espaço em construção permanente", para ser possível entender quais concepções embasaram a elaboração desta assertiva como síntese do processo que se desenvolve no Instituto. Para a elaboração desse capítulo, em alguns momentos utilizo algumas partes das entrevistas, que se encontram no Apêndice, porque acredito que elas podem explicar melhor o Instituto, pois trazem a perspectiva das pessoas que estão no seu dia-a-dia. As pessoas entrevistadas receberam nomes fictícios porque na época das entrevistas combinei com elas que seus os nomes não seriam divulgados, como foi comentado no capítulo que trata sobre Metodologia.

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2.1 Os Institutos de Agroecologia da Via Campesina

A Via Campesina nasceu em 1992, no II Congresso da Unión Nacional de Agricultores y Ganaderos de Nicarágua (Unag), realizado em Manágua. Entretanto, foi em 1993 que foram elaboradas as suas diretrizes gerais e a Via foi oficialmente criada, por lideranças camponesas da África, Ásia, Europa e Américas, que se reuniram em Mons, na Bélgica, no I Congresso da Via Campesina. Essa organização articula vários movimentos sociais de "pequenos e médios agricultores, trabalhadores agrícolas assalariados, indígenas e sem-terra, e apresenta-se como um movimento internacional autônomo, pluralista, sem vinculação com partidos, Igrejas e governos." (FERNANDES, 2012).

A Via Campesina defende “a agricultura sustentável em pequena escala, como forma de promover a justiça social e a dignidade”7 e tem como principal bandeira de luta a

soberania alimentar, que se constitui no direito das pessoas se alimentarem de produtos saudáveis e também no direito "dos povos, de seus países e das uniões de Estados de definirem suas políticas agrícolas e alimentares" (FERNANDES, 2012).

Durante os seus 20 anos de existência, a Via Campesina se tornou amplamente conhecida como movimento de articulação mundial da luta pelo desenvolvimento da agricultura camponesa (FERNANDES, 2012).

A luta pela soberania alimentar compreende várias dimensões políticas, sociais, éticas, técnicas que demandam a constante formação dos quadros dos movimentos sociais que compõe a Via. Para tanto, se propôs a criação dos Institutos de Agroecologia Latino Americanos (IALAs), que segundo o documento La agroecologia: puntal de la soberania alimentaria8

Estos institutos se visualizan a mediano plazo como centros de educación superior que formarán estudiantes latinoamericanos y caribeños provenientes de la base de los movimientos campesinos, quienes, al regreso a sus regiones de origen, contribuirán con el desarrollo endógeno, integral y agroecológico de su región y a fortalecer las luchas contra el neoliberalismo, los agronegocios capitalistas, la dependencia en todas sus formas y la depredación ambiental. Su trabajo estará directamente orientado hacia el logro de la soberanía alimentaria y la integración solidaria de los pueblos de América Latina, el Caribe y el mundo.

7 Em: <

http://viacampesina.org/en/index.php/organisation-mainmenu-44/what-is-la-via-campesina-mainmenu-45/1002-the-international-peasants-voice27> Acesso em 26 julho 2014.

8 Em:

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Os IALAs foram criados para serem Universidades Camponesas porque historicamente os camponeses e as camponesas foram excluídos da educação superior (MARTINS, 2014, p.7). Dessa forma, esses institutos fazem parte da estratégia da Via Campesina de criar uma rede de escolas de formação política e científica dos sujeitos do campo, além de propiciar troca de experiências agroecológicas nos diferentes biomas da América Latina (MICHELOTTI, 2014).

A discussão sobre a criação dos IALAs foi impulsionada a partir de 2005 quando o Governo da República Bolivariana e a Via Campesina firmaram um protocolo de intenções e compromissos, conhecido como Acordo de Tapes9 (CAMPOS, 2014, p.55). Segundo Martins (2014) além do IALA Amazônico criado em 2009, existem outros três Institutos ligados a Via Campesina em funcionamento na América Latina.

A primeira escola foi criada em agosto de 2005 e se chama Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), se localiza no Assentamento Contestado, no município de Lapa (Paraná), onde estão assentadas 108 famílias, desde 1999. A ELAA em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia formou até 2013 três turmas de Tecnólogos em Agroecologia (LEGNANI, 2014, p. 39).

Em 2006, foi criado o Instituto Agroecológico Latino Americano Paulo Freire na Venezuela, provisoriamente instalado na Cidade Desportiva de Barinas. Em 2008, a primeira turma, que havia iniciado as atividades de formação em 2006, resolve ocupar o espaço onde funcionaria definitivamente o IALA Paulo Freire, isso possibilitou às educandas e aos educandos construir experiências técnicas agroecológicas, bem como realizar trabalho junto a comunidades campesinas localizadas próximas ao Instituto. Foram criadas até 2013, três turmas de Engenharia Agroecológica, sendo que as duas últimas turmas iniciaram suas atividades em 2011 e 2013, respectivamente (CAMPOS, 2014).

Em dezembro de 2008, iniciou-se o processo de discussão sobre o Instituto Agroecológico Latino Americano Guarani, localizado no Assentamento de Santa Catalina em Curuguaity, na estado de Canindeyú, no Paraguai10 (BATISTA, 2014, p. 111). A primeira turma de Engenharia Agroecológica começou suas atividades em 2010 e sua Comissão Político Pedagógica é composta por representantes de vários movimentos sociais paraguaios e também conta com a participação do MST, que em função da sua grande experiência na área

9 Tapes se refere a cidade do Rio Grande do Sul onde foi firmado esse acordo. 10 Município onde ocorreu o Massacre de Curuguatay no mês de junho de 2012.

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de educação, desempenhou um papel importante na condução do curso. Esse Instituto tem inúmeros problemas estruturais, financeiros, de formalização e também sofre com a situação política do país, principalmente depois da deposição do presidente Fernando Lugo, que aconteceu em 2012 (MARTINS, 2014).

Mais recentemente, segundo o documento IALAs: luchas y esperanza globalizada en defensa de la humanidad11, já foram criados os IALAs Maria Cano na Colômbia e Mujeres, no Chile, a Escuela Campesina Francisco Morazán na Nicarágua, a Escuela Nacional de Agroecologia no Equador e a Asociación Nacional de Pequeños Agricultores de Cuba, além de outras iniciativas no Peru.

Batista (2014, p. 113) destaca o esforço da Via Campesina de "constituir a unidade destas experiências, buscando manter a especificidade de cada uma delas." Essa autora também aponta várias características que são comuns nessas e em outras experiências de formação da Via Campesina, entre elas ressalto: i) caráter de classe, apontando as consequências negativas do capital no campo, seja ele relacionado ao agronegócio, ao hidronegócio, à mineração e aos grandes projetos de infra estrutura para possibilitar a circulação de mercadorias; ii) a práxis como princípio político pedagógico; iii) a preocupação com a discussão de gênero; iv) a mística e a internacionalização como forma de construir também unidade e identidade entre as organizações que são diferentes e estão localizadas em países diferentes mas sofrem com o avanço do capital sobre os seus territórios; v) trabalho como princípio pedagógico e vi) a organicidade12.

Essas características estão presentes no IALA Amazônico e há um esforço constante das pessoas que constituem a Brigada e as lideranças em pensar o Instituto como um projeto de muitas organizações. Como afirma a dirigente Dina Teixeira

mas quem está, independentemente se ele é de uma organização, se ele pertence a um estado, ele não pode perder de vista que a tarefa de qualquer um que esteja aqui, é esse internacionalismo mesmo, camponês, proletário, esse internacionalismo da classe trabalhadora, que tem que se materializar nesses esforços cotidianos.

11 Em:

https://viacampesina.org/es/index.php/temas-principales-mainmenu-27/soberanalimentary-comercio-mainmenu-38/2658-ialas-luchas-y-esperanzas-globalizada-en-defensa-de-la-humanidad1 > Acesso em 26 agosto 2016

12 A expressão organicidade indica no Movimento [MST] o processo através do qual uma determinada ideia ou

tomada de decisão consegue percorrer de forma ágil e sincronizada o conjunto das instâncias que constituem a organização, desde o núcleo de base de cada acampamento e assentamento até a direção nacional do MST, em uma combinação permanente de movimentos ascendentes e descendentes capazes de garantir a participação efetiva de todos na condução da luta em suas diversas dimensões (CALDART, 2000, p. 162).

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Porém, embora o IALA Amazônico seja uma experiência que se insere na rede de Institutos da Via Campesina, e que portanto deveria ser um projeto executado por várias instituições que compõe a Via, até a época que foram feitas as visitas de campo havia uma predominância do MST na condução do dia a dia do Instituto. Conforme explica o Brigadista Lourival Paulino

Bom a ideia do espaço é ser da Via Campesina, né? Mas você acaba vendo que a Via Campesina não está presente aqui. (...) aqui quem tem mais proeminência é o MST dentro do espaço, tanto do ponto de vista da militância que são as pessoas contribuem aqui (...) por exemplo, das contribuições materiais mesmo, dos projetos, enfim, acaba sendo o MST. Daí, acho que do ponto de vista pedagógico também acaba sendo isto. (...) talvez por ser um movimento no âmbito nacional que mais avançou na prática pedagógica e na organicidade, né? Apesar do MAB ter uma organicidade própria (...) o MST, talvez seja o que mais avançou na construção dessa organicidade nas práticas pedagógicas do Movimento Sem Terra. E daí, acho que a gente acaba se apropriando um pouco disto por que essa divisão de setores, núcleo, coordenação política, essas brigadas enfim é tudo nomenclatura e uma forma de divisão dos grupos que vem do MST. (...) pelo fazer mesmo da Brigada, tirando eu todo mundo é do MST, todo mundo vem dessa forma de organização e a gente acaba imprimindo isto nos cursos.

Essa predominância é percebida em várias dimensões do IALA Amazônico pois, na prática, como as pessoas que estão no dia-a-dia são ligadas ao MST é impossível fazer de outra forma.

2.2 Aspectos socioambientais do IALA Amazônico

A região onde o IALA Amazônico está localizado tem sido desigualmente disputada nas suas diversas dimensões pelos setores marginalizados econômica e politicamente, como: agricultores familiares, camponeses, indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pescadores, extrativistas; e por representantes do Agronegócio: fazendeiros associados às agroindústrias e madeireiros; e ainda às siderúrgicas e mineradoras, setores esses, historicamente privilegiados pelas políticas de desenvolvimento da região (UFPA, 2013).

Nesta região, encontram-se 492 Projetos de Assentamento que ocupam uma área de 4.470.729 ha (SOUZA; HURTIENE, 2012). Muitos desses assentamentos foram conquistados pelos camponeses e camponesas e em alguns casos houve conflitos. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) (2012, p.13), no ano de 2011 foram assassinados 12 trabalhadores rurais no Pará, 10 destes trabalhadores "moravam e desenvolviam as suas atividades agrícolas e sociais no sul e sudeste paraense [...]." Um caso emblemático aconteceu em 17 de abril de 1996, quando 19 sem terras foram assassinados numa ação da Polícia Militar do estado do Pará conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás.

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Além das extensas áreas, nesta região também se encontram jazidas de minério, tais como a Serra Pelada (Curionópolis), onde até início da década de 1990 era extraído ouro (MOURA, 2008; Monteiro et al 2010 apud WANDERLEY, 2015) e a Serra dos Carajás (Parauapebas), onde uma das maiores jazidas de minério de ferro do mundo é explorada pela companhia multinacional Vale do Rio Doce.

A abundância de diversidade natural e as vastas extensões de terra que caracterizam esta região a tornam um espaço de "disputa entre dois grandes projetos de desenvolvimento de base agrária na região" (UFPA, 2013, p.3). Um projeto baseado no uso agrícola do solo e na retirada da floresta, para produção de commodities em larga escala, sobretudo pecuária e grãos. "Para tanto, conformam-se na região grandes latifúndios, utilizando uma pequena mão de obra pouco qualificada e muitos insumos mecânicos e químicos." (UFPA, 2013, p.3). Outro projeto baseado em propriedades fundiárias menores, onde uma diversidade de atividades agrícolas e de extrativismo são feitas por mão de obra familiar, "com técnicas que exprimem uma qualificação elevada, a partir de um saber local adquirido pela experiência empírica de inúmeras gerações." (UFPA, 2013, p.3).

Por isto, a localização do IALA Amazônico contribui ainda mais para torná-lo uma iniciativa relevante de fortalecimento do projeto de desenvolvimento camponês para a região, buscando construir outras formas de relações sociais e entre as pessoas e os outros elementos naturais.

O Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico (IALA Amazônico) foi criado em 2009 e está situado em um lote de 25 ha no Assentamento Palmares II, no município de Parauapebas, no sudeste paraense. Este assentamento foi criado em 11 de março de 1996 e é fruto da organização de trabalhadores rurais Sem Terra, que ocuparam a área em 26 de junho de 1994. O assentamento possui 15.848,922 hectares de extensão onde foram assentadas 517 famílias, totalizando um número aproximado de 4.400 pessoas morando no assentamento. Os lotes tem área média de 25 ha onde são desenvolvidas as atividades agropecuárias. Há também uma agrovila, que abrange uma área de 150 ha, onde se encontram duas escolas, posto de saúde, espaços de lazer, praça, igrejas e associação, além de 517 terrenos com tamanho de 20mx30m onde cada família assentada pode construir uma casa. Nesta agrovila também existem estabelecimentos comerciais, tais como mercearias, bares, farmácia, restaurantes, padaria, lanchonetes e açougues (UFPA, 2013). Existem meios de comunicação como uma rádio comunitária, telefones públicos e alguns telefones residenciais, acesso a internet e celular. O rio Parauapebas passa dentro do assentamento que também é

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cortado pela Estrada de Ferro Carajás; tal fato contribui para complexificar ainda mais a dinâmica local e interfere no processo de (re)produção nesse território (UFPA, 2013).

Figura 1 Mapa localização do Assentamento Palmares II. Fonte: (Bordalo, 2010 apud MORENO, 2011)

Escala aproximada 1:1.500.000

O lote onde está localizado o IALA Amazônico abrigou por 10 anos uma experiência de produção coletiva, conhecida por Núcleo "Filhos da Terra". Neste período, cinco famílias moraram e trabalharam na área, produzindo hortaliças, arroz, feijão, milho, mandioca e criando animais (MORENO, 2011).

A distância entre a Agrovila e o Instituto é de aproximadamente 10 km e a primeira impressão que se tem ao chegar ao IALA Amazônico é que ele é um lote de uma família camponesa caprichosa. As construções, na sua maioria de madeira, são rodeadas por árvores e palmeiras ou ainda de grama bem aparada, assim embora as construções sejam feitas de materiais rústicos, o cuidado com o espaço, o zelo torna a paisagem agradável. Na entrada do auditório tinha uma faixa escrita: "Sejam bem vindos ao IALA Amazônico" e essas palavras de acolhimento podem ser vivenciadas no dia-a-dia do Instituto.

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Figura 2 Localização do lote Núcleo "Filhos da Terra". Fonte: (Bordalo, 2010 apud MORENO, 2011)

Além de haver estruturas físicas tais como o auditório, refeitório, dormitórios, biblioteca, almoxarifado que dão suporte para a realização dos cursos, também existem espaços onde são realizadas atividades produtivas conduzidas agroecologicamente, tais como horta em Mandala, roça, viveiros de mudas, galinheiro, pocilga, entre outras e áreas de regeneração da vegetação nativa utilizada para manejo extrativista de frutas, sementes, remédios medicinais e produção de mel. O Instituto também é banhado pelo rio Parauabepas, como mostra a imagem a seguir.

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Figura 3 Vista aérea do IALA Amazônico. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015. Escala aproximada 1:4500

Segundo os documentos "Desafios atuais na construção do IALA Amazônico" (IALA AMAZÔNICO, p. 2) e "Elementos que fomos acumulando sobre o IALA Amazônico" (Ferreira, p. 1), o Instituto:

É um espaço de articulação da Via Campesina e demais sujeitos e Organizações que vivem processos de lutas e resistência na Pan Amazônia;

É um espaço de formação e escolarização dos camponeses organizados, por meio dos cursos formais (níveis médio, graduação e pós-graduação), e não-formais (cursos livres, mutirões de trabalho voluntário e encontros de camponeses para trocas de experiências produtivas e organizativas);

É um espaço de produção de novos conhecimentos, por meio da convergência dos processos de ensino, pesquisa e extensão, capaz de elevar as condições dos sujeitos em luta e que supere as relações de subordinação Capitalistas.

Observando essas definições sobre o Instituto, fica claro a vocação para a formação de pessoas que estão na luta contra o modo capitalista de produção. Nesses documentos também são apontados três objetivos específicos

a) Deverá dialogar com diferentes sujeitos e experiências que estão atuando nos movimentos sociais da Via Campesina, nas universidades e nas Organizações ambientalistas, que comungam uma mesma perspectiva de fortalecer processos produtivos e sociais de organização dos camponeses na Pan Amazônia.

b) Deverá experimentar práticas produtivas com ênfase na agroecologia no e para além do espaço físico do IALA Amazônico, assim como dialogar com as práticas sociais e produtivas desenvolvidas pelo acúmulo histórico dos camponeses na região amazônica;

c) Deverá expressar os valores humanistas, ecológicos e socialistas o que implica pensar e recriar: 1.No âmbito dos cursos: os currículos, as metodologias, as

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parcerias, as pesquisas e os apoios financeiros, primando por processos verdadeiramente emancipatórios; 2. No âmbito da Via Campesina Internacional e

Pan- Amazônica: Construir conexões/Intercâmbio com as distintas experiências dos

IALAS/ELAA envolvendo, sobretudo a nossa juventude (para estudar e para se inserir nas brigadas de cada escola/instituto). 3. No âmbito do IALA Amazônico: Seguir na construção político, pedagógico e produtivo, assumindo o desafio permanente de compor um coletivo de militantes que não seja a expressão de apenas uma Organização, que tenha gosto pelo estudo, pelo trabalho, pelo diálogo permanente com as famílias do Assentamento Palmares II que em um gesto de solidariedade de classe dispuseram a área que tornou realidade o IALA Amazônico.

Uma das estratégias adotadas para consolidar-se enquanto um espaço de formação para camponeses e camponesas, segundo Michelotti (2014), foi a realização de um curso de especialização Residência Agrária, entre 2011 e 2012, numa parceria das organizações camponesas e Universidade Federal do Sul e Sudeste Paraense (Unifesspa). O curso contou com apoio financeiro do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera)/Incra e revelou-se uma experiência positiva, que inclusive contribuiu para elaboração da concepção do "IALA como espaço em construção permanente", como foi apresentado no próximo item. Devido aos resultados positivos, foi proposta uma segunda turma de Residência Agrária, que teve início em 2013 e término em 2015.

É importante ressaltar que não foram apenas esses dois cursos que aconteceram no IALA Amazônico, segundo o documento "Desafios atuais na construção do IALA Amazônico" (IALA AMAZÔNICO, p.1),

Neste ano de 2014 o IALA Amazônico entrará em seu terceiro ano de atividades de formação e de produção. Ao longo desse período 600 pessoas de 08 países, representando 30 Organizações e Instituições participaram de reuniões, encontros, cursos, seminários e trabalhos voluntários de produção agrícola.

Para garantir a manutenção das atividades e o fortalecimento do Instituto enquanto espaço de sistematização e produção de conhecimento, e experimentação de práticas agroecológicas vem se constituindo, desde 2013, a Brigada do IALA Amazônico chamada

“Mamede de Oliveira”.

As pessoas que integram a Brigada tem assumido a responsabilidade de manter as atividades produtivas e experimentais, participar da coordenação das atividades pedagógicas, além de realizar atividades com os agricultores e as agricultoras de Assentamentos e Acampamentos da região. Segundo Carlos Marighella

A Brigada é talvez um (...) dos mais importantes pois o espaço não se viabiliza se não houver um grupo que o assuma como profissão de fé. O IALA é minha profissão de fé, eu vou militar em torno da agricultura ecológica mas vou fincar [...] na construção metodológica e no próprio espaço físico do IALA.

Esse fincar o pé significa entre outras coisas que os Brigadistas e as Brigadistas moram no IALA Amazônico, isto é, essas pessoas são as que ficam mais tempo dentro do

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Instituto. Quando está acontecendo algum curso ou atividade, a Brigada coordena as atividades realizadas nas unidades produtivas e quando não está acontecendo nenhuma atividade são os Brigadistas e as Brigadistas que assumem todas as tarefas, em alguns momentos com ajuda de camponeses assentados ou acampados que doam ao Instituto um dia de trabalho. A princípio, a ideia é que haja um revezamento de pessoas na Brigada, propiciando a saída dos mais antigos e a entrada de gente nova, segundo o Brigadista Pedro Carrel a ideia é que as pessoas não devam "criar dentes, nem perder dentes no IALA".

Todo trabalho desenvolvido é voluntário, em outras palavras, não existe ninguém que recebe um salário para desempenhar qualquer função dentro do IALA Amazônico. Segundo a dirigente Iara, isto poderia descaracterizar a proposta agroecológica

(...) as vezes está tudo bem trabalhado na cabeça mas isso numa relação cotidiana da vivência, com os limites que tem, e tem muito limite na vida material das pessoas que vivem aqui e das próprias condições coletivas (...) E a gente encara esses limites como um desafio e que bom que eles aparecem mesmo, para gente saber que algumas coisas são necessárias, são essenciais para uma proposta de Agroecologia. Por exemplo, (...) tem que ter uma brigada no IALA, não dá para ser uma pessoa, não dá para ser um caseiro, entendeu? Como outras estruturas, não dá para ser um gerente, tem que ser um grupo, um coletivo que vivencia essa prática permanentemente (...) Então essa coisa é um estudo permanente, é um acompanhamento permanente e ai tu tem que ter um coletivo, não dá para deixar uma pessoa, um agrônomo cuidar, (...) um técnico para cuidar das coisas, mas alguém nessa relação mesmo de aprendizado, de observar, de sentir.

Nessa perspectiva, a proposta Agroecológica exige uma relação com o trabalho como parte da vida, como estudo, aprendizado e que não pode se basear no trabalho alienado, onde as pessoas recebem um salário para se manter e aquele trabalho não diz respeito a ela, por meio dele a pessoa não realiza parte da sua existência. Nesse sentido, ela pode alienar o resultado do seu trabalho, porém ao fazer isso ela também se aliena.

Para se manterem, as pessoas que participam da Brigada contam com bolsas de estudo, pesquisa ou extensão e para complementar a renda familiar alguns brigadistas trabalham fora do Instituto, em alguns dias da semana.

A maioria das pessoas que compunha a Brigada estava participando de algum curso fora do Instituto, sendo que, duas pessoas estavam participando da 2ª Turma de Especialização (mais detalhes sobre essa turma foram apresentados no capítulo da Metodologia). As pessoas que estão participando de cursos fora do IALA Amazônico se ausentam por determinados períodos quando estão em tempo-escola ou tempo-acadêmico13.

13 As pessoas que compõe a Brigada participam de cursos que utilizam a alternância de tempos e espaço. o

tempo em que os educandos e as educandas estão na escola chama-se tempo-escola, alguns cursos de nível superior usam o nome de tempo-acadêmico.

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Nesses momentos com a Brigada reduzida, o trabalho aumenta, sobrecarregando as pessoas que ficam.

Como já foi comentado, a princípio a Brigada deve ser composta por pessoas ligadas às organizações que compõe a Via Campesina, porém até novembro de 2014, era formada apenas por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Outros movimentos que apoiam e discutem o IALA Amazônico ainda não tem condições de liberar pessoas dos seus quadros para comporem a Brigada. Para o dirigente Carlos Marighella,

é um grupo de pessoas que se reúnem e fazem a melhor análise do mundo, mas nós não temos força numérica para enfrentar com radicalidade as tarefas que a luta política nos dá nesse momento (...). Eu diria que estamos mais próximo de ter no próximo momento, no próximo período, uma Brigada dos outros movimentos da Via Campesina do que longe disso.

Na época da primeira visita a Brigada "Mamede de Oliveira" era formada por 10 pessoas e na segunda visita havia sete pessoas, essa variação no número de pessoas deve-se a vários motivos, entre eles, às condições financeiras em que são realizadas as atividades no Instituto e também à própria dinâmica dos movimentos sociais que leva as pessoas a atuarem em outros projetos, em outros lugares.

Além de se basear no trabalho voluntário, o IALA Amazônico busca superar modelos hierarquizados e construir relações horizontais. Na medida em que a crítica ao modelo hegemônico capitalista abarca tanto discussões amplas sobre organização do trabalho e a relação de exploração que se estabelece entre as classes sociais e também entre países; como também questiona as relações de desigualdade que ocorrem nas relações cotidianas. Segundo a dirigente, Dina Teixeira,

De dialogar com diferentes dimensões: estudo, trabalho e novas relações humanas. (...) Então, para nós essas três dimensões, todas elas tem o mesmo grau de importância na ideia de forjarmos ou contribuirmos no processo de formação desses sujeitos, que terão que portar (...) o que há de melhor, e portar o desafio de transformar essas relações que estão consolidadas pela hegemonia do Capital. Então, para isto, é (...) romper com visões da dicotomia dos que pensam daqueles que devem executar. Ou então aquele que só executa não tem obrigatoriamente a tarefa de pensar. De novas relações que rompa com essa ideia de subordinação.

Essas concepções se refletem na maneira de cuidar do espaço, por isto, no IALA Amazônico as tarefas são dividas entre as pessoas, isto significa que, todos os indivíduos devem participar das atividades de manutenção e limpeza do espaço. Além disso, todas as pessoas participam das discussões e decisões. Uma das estratégias utilizadas é organizar as pessoas em grupos menores que se responsabilizam por diferentes atividades.

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