• Nenhum resultado encontrado

7. Considerações finais

9.1.10 Zumbi dos Palmares

Duração: 13 minutos

Data da entrevista: novembro 2014 Data da transcrição: fevereiro 2015 Transcritora: Eliana Ribeiro da Silva

ZUMBI DOS PALMARES – Meu nome é Zumbi dos Palmares, tenho a idade de 19 anos. Eu entrei assim no MST, mesmo que, por um acidente, ah! Foi porque, foi tipo assim, eu tava morando numa cidadezinha, Tupiranga perto de Marabá, nas proximidades de Marabá aí, a minha Tia, tipo me convidou para ir morar mais ela em Paraopebas. Aí, eu vim passei uns 6 meses, em Paraopebas na cidade, aí após eu passar os 6 meses, aí ela me convidou para eu ir morar mais ela no acampamento, no Frei Henri. Aí eu fiquei morando por lá 1 ano, 1 ano e pouco, e 5 meses mais ou menos, aí me convidaram pra eu vim pra cá, pra apoiar (?) pra fazer um trabalho coletivo, para a coletividade, e passar 3 dias aqui trabalhando, aí eu vim pra cá, né, na intenção de passar 3 dias...risos, aí eu gostei do espaço, gostei do método de trabalho, do modo de trabalho, e acabei que meio que ficando, aqui, pelo IALA. Í recebi a proposta de ficar aqui, aí eu tava estudando no começo do ano. Eu comecei a estudar aqui na Vila mesmo, na Palmares, aí eu recebi a proposta de estudar no interno. Fazer Técnico em Cooperativismo, aí eu fui para lá passei quase 3 meses agora, aí to no meu TC agora, voltando no final de janeiro.

ELENARA – É...aqui no IALA você está há quanto tempo, desde que você veio para os três dias …. ZUMBI DOS PALMARES – To mais de 1 ano, 1 ano e 3 meses, por aí, assim.

ELENARA – E aí sobre o IALA, assim, quando te convidaram para vir pra cá, o que é que você pensou do IALA?

ZUMBI DOS PALMARES – Pois eu pensei assim: porque eu não sabia até hoje, ainda to pesquisando até hoje o que é o IALA em si, o que é o IALA tem a oferecer para o camponês. Aí, eu pensei eu fico, e vou estudar um pouco sobre o que é o IALA, o que é o IALA realmente, qual é o projeto do IALA, aí eu aceitei a proposta do..de ficar.

ELENARA – Você consegue...tem, você acha que tem alguma similaridade entre o ITerra e o IALA? Tem coisas parecidas, tem coisas diferentes, que é que...

ZUMBI DOS PALMARES – Tem num ponto e não tem.

ELENARA – O quê que é parecido O quê você acha que é diferente?

ZUMBI DOS PALMARES – Acho que é mais o método de produção, que é parecido. Porque lá eles usa meio que tipo a horta mandala pra sustentar a escola. Aqui a gente, ainda, não usa a horta madala para sustentar a escola, o IALA, mas a gente tenta fazer com que a horta mandala seja a sustentabilidade de verduras e hortaliças do, da cozinha da escola.

ELENARA – E essa coisa de quem chega para os cursos lá do ITerra, também, tem que participar da coisa da manutenção, dedo setor produtivo, também, ou não?

ZUMBI DOS PALMARES – Participa, praticamente quem movimenta o Iterra são os educandos, que trabalha, faz os trabalhos. Porque lá tem uma empresa terceirizada, que é paga para fazer a manutenção, mas só na escola, mas só que a Coordenação usa dos próprios educandos para fazer a manutenção na escola, e tem uma porcentagem que é dada para os educandos no final do curso. ELENARA – Tá certo, interessante, essa porcentagem eu não entendi. O que é, se é do que é produzido, vendido fica um porcentagem?

ZUMBI DOS PALMARES – Porque tem, é tipo assim, é um tempo que é dado para os educandos trabalhar por dia. São 2 horas por dia de trabalho. Aí nessas 2 horas, no final do curso, por exemplo, se for de 3 anos, se tu passa lá 2 meses, 3 meses é somado no final do curso, toda a tua etapa de 2 meses, das horas que tu trabalhou por dia, para aí, tirar o recurso, mas aí tendo, se a turma tiver dado prejuízo para a escola, por exemplo ter quebrado alguma coisa, é tirado do caixa da turma, ou dos próprios educandos, que é aquela porcentagem. Aí também, tem o trabalho de sobrevivência que é aos domingos, que é os educandos que fazem a janta, almoço, merenda...

ELENARA – Anhan..e aí é parecido com aqui.

ZUMBI DOS PALMARES – É também o que movimenta a escola são os educandos, aqui, praticamente.

ELENARA – Anhan..Eu fiquei assim, me perguntando, como é que é essa coisa do IALA como espaço de construção permanente. Que que é isso para você?

ZUMBI DOS PALMARES – Porque é tipo assim. O IALA não, tipo assim, se tu vie, bota uma empresa aqui para tu construi o IALA, imediatamente, para levantar o IALA dentro de um ano. O camponês não vai se sentir parte do IALA, o camponês tem que se sentir parte do IALA, chega aqui vê que ele tem um, vê que ele tem condições de fazer aquilo que o IALA tem aqui, por exemplo, a pocilga que a gente fez aqui, convencional. O camponês chega aqui e ele vê que pode reaproveitar o

material que ele tem no lote dele para construir uma pocilga que seja de acordo com as suas condições financeiras.

ELENARA – E aí, tem os encontros de sábios, também, né? ZUMBI DOS PALMARES – Tem.

ELENARA – E você acha que tem relação com essa construção do IALA?

ZUMBI DOS PALMARES – De ter tem, mas agora não sei lhe fala a relação, porque... me esqueci o nome do Sr. menino que veio aqui, Sr. Sabá. Ele chegou aqui e disse que ficou encantado pelo lugar, porque ele ficou com medo de chegar aqui e encontrar aquelas super estruturas, que chega em certas escolas e, encontra, aquelas estruturas enormes já construídas.

ELENARA – Hum, hum...

ZUMBI DOS PALMARES – O pessoal tem que se sentir, tem que chegar e sentir que faz parte do IALA, deixar a sua marca aqui, de construção. Por exemplo, a primeira turma de especialização, que veio, deixou a horta mandala como seu, como a sua marca.

ELENARA – Hum, hum...

ZUMBI DOS PALMARES – De construção do IALA. ELENARA – E assim outras, também.

ZUMBI DOS PALMARES - E assim outras todas, também.

ELENARA – E a leitura, o tempo de leitura, tempo de estudo. Você acha que isso se relaciona com essa coisa da construção do IALA?

ZUMBI DOS PALMARES – Isto é importante, também, porque tu ter o tempo leitura, o tempo estudo é importante porque se tu for ficar aqui só para ti trabalha, tu num vai, tu num vai fazer parte da construção, vai fazer parte do trabalho.

ELENARA – Hum, hum...

ZUMBI DOS PALMARES – Porque a construção, a construção permanente ela não se envolve apenas no trabalho mas também no estudo, e na leitura. Se envolve os dois.

ELENARA – É....essa, normalmente, as escolas são muito mais teóricas. A maior parte fica o tempo todo estudando, não tem o trabalho, né. E, você acha interessante, como que você vê essa metodologia de estudo e trabalho?

ZUMBI DOS PALMARES - Estudo e trabalho? Eu acho importante porque o momento de estudo serve para ti, estudar. E o momento de trabalho serve pra ti refleti sobre aquele assunto que tu estudou. ELENARA – Hum, hum...

ZUMBI DOS PALMARES – Eu penso assim. Eu uso bastante.

ELENARA – Sim, e..e...essa coisa. Porque as pessoas vem para participar e aí cada hora tem uma turma, aqui, e as vezes tem alguns conflitos, né assim de.... As pessoas porque se sentem parte, também dão algumas ideias, e aí as vezes não é.. Como você vê isto, né. Essa questão dos conflitos que geram em função, né, de posições diferentes..., visões diferentes, expectativas diferentes?

ZUMBI DOS PALMARES – Tem uma expectativa, totalmente, diferente da escola do que aquilo que a gente está imaginando, né? Não sei se a senhora....

ELENARA – É as vezes assim, porque tem graus, tem gente que chega assim com uma expectativa muito diferente, né. E tem gente que também, assim oh, eu achava só que tinha que fazer isso e aí, não faz e aí dá, vira as vezes conflito, né. De pessoas, quando a gente tem ideias diferentes sobre a mesma coisa, em geral, a gente tem conflito. O que se acha, imagino que aqui aconteça aqui , né, também muito.

ZUMBI DOS PALMARES – Eu tenho um exemplo bem claro de uma formação, que a gente veio fazer aqui. A gente trouxe gente da cidade de Paraopebas, trouxe alguns educandos para passar uma semana, ou foi duas aqui. Aí quando algumas meninas chegaram aqui olharam, para a estrutura do IALA, e falaram: eu pensei que eu vinha para escola e não para a roça. Mas eu vim foi para roça e não para uma escola. Aí gera...um

ELENARA – E aí como vocês trabalharam isso?

ZUMBI DOS PALMARES – Algumas pessoas até que retornaram para sua cidade. Mas aí a gente foi conversando, aqui é um espaço em construção permanente, vocês tem que entender isso, não é fazer parte desta construção. Não sei se estou respondendo o quê a senhora está querendo....

ELENARA – Mas aí a coisa, quando o pessoal coloca uma expectativa diferente, o método que vocês usaram foi a questão do diálogo?

ZUMBI DOS PALMARES – Eu de banda assim, mas foi o diálogo mesmo, com a turma. ELENARA – Explicar.

ZUMBI DOS PALMARES – Ahan, explicar o que é o IALA, o quê que era o IALA antigamente... ELENARA – Hum, hum... É essa coisa de, porque também é isso, tem um monte de gente que passa por aqui, e tem a Brigada, também, que ela meio que permanece, né

ZUMBI DOS PALMARES – Ahan, ahan...

ELENARA – E é assim: não é todo mundo que chega, a ideia é essa de construção coletiva, que as pessoas participem, mas também, que tem coisas que não mudam, imagino,né . O quê que você acha, assim, que é fundamental assim, que o IALA, no seu entendimento, até como Brigada, isso a gente não negocia, isso não muda. Se alguém vier aí com umas ideias meio diferentes...isso é uma coisa que é princípio mesmo, que se a gente mudar vai descaracterizar o IALA .

ZUMBI DOS PALMARES – A senhora me pegou de jeito, oh! ELENARA – risos...

ZUMBI DOS PALMARES – Acho que é mais é o regime interno ELENARA – Hum, hum.. risos....

ZUMBI DOS PALMARES – A senhora me pegou de jeito, oh!

ELENARA - Mas no regime interno tem alguma coisa que você...Vocês discutiram, acho que na escola estadual, não é ? Tem alguma coisa que você lembra que te chamou atenção. Isto aqui é uma cosa que tá no regime interno e, que eu acho que é importante mesmo, que se acontecer ao contrário eu vou começar a repensar a possibilidade de ir embora....do IALA, porque aí eu acho que num...vai ter assim, né. Que se acha que é realmente um princípio do IALA?

ZUMBI DOS PALMARES – Eu vou lhe dever esta pergunta....rsrsrs...eu vou lhe deve ela... ELENARA – Isso, e aí, se você quiser depois a gente volta a gravar.

ZUMBI DOS PALMARES – Eu vou lhe dever esta pergunta.

ELENARA – Hum, hum..tem alguma coisa que quando eu fale com você, vamos lá conversar um pouquinho, que você pensou em falar, e que você quer falar agora ou deixar registrado?

ZUMBI DOS PALMARES – Não, eu pensei mais foi ao contrário...porque ela vai me fazer perguntas, eu vou responder do jeito que ela vai querer.? ..rsrsrs, foi mais, foi isso psicológico...eu ainda cacei alguma coisa ali na Secretaria que era para eu rever novamente, mais eu não achei...

ELENARA – Essa coisa de registro é complicada, né, mas enfim, muito obrigada mesmo. Risos..valeu ZUMBI DOS PALMARES – Aí se eu me lembrar de alguma coisa que a senhora...

9.2 Entrevistas transcritas parcialmente