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Inquérito policial e sistemas processuais: análise das alterações promovidas pela Lei nº 13.245/2016 e suas consequências na atuação do Delegado de Polícia

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Academic year: 2021

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(1)PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JUSTIÇA ADMINISTRATIVA MESTRADO PROFISSIONAL EM JUSTIÇA ADMINISRATIVA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE DIREITO. RENATA DO AMARAL BARRETO DE JESUS DE OLIVEIRA. INQUÉRITO POLICIAL E SISTEMAS PROCESSUAIS: ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.245/2016 E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA ATUAÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA. Niterói 2017.

(2) RENATA DO AMARAL BARRETO DE JESUS DE OLIVEIRA. INQUÉRITO POLICIAL E SISTEMAS PROCESSUAIS: ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.245/2016 E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA ATUAÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA. Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação Justiça Administrativa Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense e Núcleo de Ciências Jurídicas do Poder Judiciário - como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Justiça Administrativa. Linha de Pesquisa: Inovações na gestão dos órgãos de justiça administrativa.. Orientador: Professor Doutor Gilvan Luiz Hansen Coorientador: Professor Doutor Ozéas Corrêa Lopes Filho. Niterói 2017 ........................................................................................................................................

(3) Universidade Federal Fluminense Superintendência de Documentação Biblioteca da Faculdade de Direito O48. Oliveira, Renata do Amaral Barreto de Jesus de. Inquérito policial e sistemas processuais: análise das alterações promovidas pela lei nº 13.245/2016 e suas consequências na atuação do delegado de polícia / Renata do Amaral Barreto de Jesus de Oliveira. – Niterói, 2017. 151 f. Dissertação (Mestrado em Justiça Administrativa) – Programa de Pósgraduação em Justiça Administrativa, Universidade Federal Fluminense, 2017. 1. Inquérito policial. 2. Processo penal. 3. Delegado de polícia. 4. Sistema acusatório. 5. Investigação criminal. I. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Direito. II. Título. CDD 341.43.

(4) RENATA DO AMARAL BARRETO DE JESUS DE OLIVEIRA. INQUÉRITO POLICIAL E SISTEMAS PROCESSUAIS: ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.245/2016 E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA ATUAÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA. Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação Justiça Administrativa, da Universidade Federal Fluminense – UFF - em parceria com o Núcleo de Ciências Jurídicas do Poder Judiciário - NUPEJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Justiça Administrativa. Linha de Pesquisa: Inovações na gestão dos órgãos de Justiça Administrativa.. Aprovado em 15/12/2017.. ____________________________________________ Dr. Gilvan Luiz Hansen- UFF. ____________________________________________ Dr. Ozéas Corrêa Lopes Filho. ____________________________________________ Dr. Thiago Pereira- UFF. ____________________________________________ Dr. Antón Lois Fernandez Álvarez.

(5) DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho a três pessoas especiais que me apóiam incondicionalmente em todos os projetos da minha vida, que não permitem qualquer atitude de desistência, que cuidam de mim quando fico doente; que me consolam a cada frustração e a cada perda; e que me aplaudem quando tudo dá certo. Com todo amor, respeito e gratidão, dedico este trabalho a minha mãe, Marly do Amaral Barreto de Jesus, a minha irmã, Marcela do Amaral Barreto de Jesus e ao meu amado esposo, Marco Aurélio Alvares de Oliveira, que juntos são o grande alicerce da minha existência..

(6) AGRADECIMENTOS. De início, gratidão a Deus, que na minha crença particular, é o responsável pelo dom da vida e por todas as coisas, e me deu a oportunidade, saúde e serenidade para conclusão deste trabalho. Agradeço, imensamente, ao caríssimo professor Gilvan Luiz Hansen, pela generosidade e leveza na transmissão de conhecimentos tão vastos e, sobretudo, profundos, que inspiraram o trabalho e abriram minha mente, de modo a transformar minha vida. Ao querido professor Ozéas Corrêa Lopes Filho pelo grandioso auxílio nesta empreitada, pela atenção incondicional, pelo compartilhamento de conhecimento, respeito às opiniões, pelo acompanhamento da pesquisa, do projeto à conclusão. Aos ilustres professores do Programa de Pós-Graduação em Justiça Administrativa da Universidade Federal Fluminense, pela dedicação em lecionar, pelo clarividente preparo nos conhecimentos transmitidos, proporcionando uma expediência acadêmica interdisciplinar de qualidade. Aos queridos amigos de profissão Luciana Benjó, Mariana Ferrão, Alessandra Andrade, Sandro Caldeira e Bárbara Gatti, pelo apoio durante as aulas presenciais, permitindo a conciliação do trabalho com a atividade acadêmica, sem qualquer prejuízo. A colega e amiga Camila Lourenço, Delegada de Polícia, pela disponibilidade para entrevista e demonstração da forma de condução de um Inquérito Policial, de fora para dentro. A minha amada irmã, Marcela do Amaral, pelo incentivo no ingresso do curso e colaboração na revisão do trabalho. Ao meu querido esposo, Marco Aurélio, pelo cuidado e contribuição afetiva em toda a minha vida acadêmica e profissional, desde o ingresso da faculdade. A todos que contribuíram de alguma forma para a elaboração desta pesquisa, minha sincera gratidão..

(7) RESUMO. O inquérito policial, definido como procedimento administrativo que compõe a primeira fase da persecução penal, tem tradicionalmente reconhecida a natureza inquisitiva, uma vez que é despido de princípios constitucionais relacionados ao devido processo legal. Todavia, coadunando-se com a constitucionalização do Direito Processual Penal, a recente Lei nº 13.245, de 12 de janeiro de 2016, que altera a Lei nº 8906, de 04 de julho de 1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), passou a prever o contraditório e a ampla defesa nesta etapa pré-processual, acentuando-se o debate acerca da aplicabilidade do sistema acusatório ao inquérito policial. Esta modificação permite ainda investigar a eventual mudança da natureza jurídica do inquérito policial, de procedimento para processo administrativo, o que pode repercutir nos atributos que devem dotar a autoridade responsável por sua condução: o Delegado de Polícia.. Palavras-chave: Inquérito Policial. Sistemas Processuais. Delegado de Polícia. Sistema Acusatório..

(8) ABSTRACT. The police investigation, defined as an administrative procedure that composes the first phase of criminal prosecution, has traditionally recognized the inquisitive nature, since it is stripped of constitutional principles related to due process of law. However, in line with the constitutionalisation of Criminal Procedural Law, the recent Law 13245 of January 12, 2016, amending Law 8906 of July 4, 1994 (Statute of Brazilian Bar Association) to provide for the contradictory and ample defense in this pre-procedural stage, accentuating the debate about the applicability of the accusatory system to the police investigation. This modification also allows investigating the possible change in the legal nature of the police investigation, from procedure to administrative procedure, which may have repercussions on the attributes that must endow the authority responsible for its conduct: the Police Delegate.. Keywords: Police Inquiry. Procedural Systems. Police Officer. Accusatory System..

(9) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................11 1. Um inquérito policial: da instauração ao relatório..........................................................17 1.1Do balcão ao registro de ocorrência: apresentação do fato na Delegacia de Polícia...........17 1.2A instauração do Inquérito Policial e execução das diligências..........................................22 1.3 Conclusão do Inquérito Policial: indiciamento e relatório.................................................23 1.4 Sujeitos e desenvolvimento de um Inquérito Policial.........................................................24 2. Aspectos teóricos da Investigação Policial........................................................................38 2.1 Bases históricas do Inquérito Policial Brasileiro................................................................39 2.2 Inquérito Policial: conceitos e finalidades.........................................................................53 2.3 Características do Inquérito Policial...................................................................................56 3. Sistemas Processuais e Inquérito Policial.........................................................................69 3.1 Princípios informadores do Inquérito Policial....................................................................69 3.2 Notas sobre o sistema inquisitivo.......................................................................................77 3.3 Notas sobre o sistema acusatório........................................................................................83 3.4 Notas sobre o sistema misto................................................................................................89 3.5 A Lei nº 13.245/2016 e as novas nuances acusatórias no Inquérito Policial......................92 4. Inquérito Policial e Justiça Administrativa....................................................................100 4.1 Justiça Administrativa e atividade policial.......................................................................102 4.2 Inquérito Policial: procedimento ou processo administrativo?.........................................104 4.3 Delegado de Polícia como Autoridade Democrática........................................................106 5.Credibilidade e inquérito policial: influências externas e internas...............................110 5.1 Sistemas Peritos e Inquérito Policial.................................................................................110 5.2 Racionalidades, Inquérito Policial e mídia.......................................................................114 5.2.1 Racionalidade. instrumental,. racionalidade. estratégica. e. racionalidade. comunicativa...............................................................................................................116 5.2.2 Racionalidade instrumental, atividade policial e mídia..............................................120 5.3 A influência da “autofagia" policial..................................................................................122 6. Desafios ............................................................................................................................127 6.1 Expectativaversus realidade: uma novidade pseudodemocrática.....................................128 6.2 O papel dos atores do Inquérito Policial...........................................................................132 6.3 A Polícia e a comunidade.................................................................................................136.

(10) CONCLUSÃO.......................................................................................................................141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................144.

(11) 11. INTRODUÇÃO. A nova ordem constitucional, introduzida pela Constituição Brasileira de 1988, estabeleceu uma série de direitos e garantias fundamentais para a pessoa humana, com fito de lhe assegurar dignidade nas diversas áreas de sua existência. Neste diapasão, com o advento da CRFB/88, foi exigida uma paulatina ressignificação de institutos inseridos nos mais diversos ramos do Direito. Na seara processual penal, o acolhimento do sistema acusatório como base do processo, impõe a necessidade de que o mesmo seja conduzido por uma autoridade independente, que seja capaz de garantir a efetividade de direitos como a ampla defesa e o contraditório. Entretanto, mesmo em ambiente de democracia, ainda sobrevive a ideia de que antes de ingressar no processo propriamente dito, existe um lugar “obscuro”, uma fase dita como “pré-processual”, conduzida por autoridade sem prerrogativas mínimas de independência e desprovida de contraditório e ampla defesa: trata-se do inquérito policial. A doutrina nacional é pacífica em atribuir ao inquérito policial natureza jurídica de procedimento administrativo de natureza inquisitorial, cujo objetivo é colher elementos de materialidade e autoria para subsidiar ao Ministério Público a propositura da ação penal. Neste contexto, diz-se que o que é produzido nesta fase investigativa não é prova, mas tão somente “elementos de prova”, os quais, para terem valor no processo, precisam ser repetidos na presença do magistrado, autoridade independente, dotada de prerrogativas como independência funcional, vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios1. Essa natureza inquisitorial do inquérito policial é defendida como indispensável para o êxito do exercício do poder investigatório, e enxergada como uma prerrogativa do Estado que viabiliza o exercício do jus puniendi. Todavia, questiona-se a compatibilidade deste modelo com a virada copernicana introduzida pela CRFB/88 – afinal, um procedimento inquisitorial é compatível com o Estado Democrático de Direito? Uma recente alteração legislativa iniciou um debate acerca da eventual mudança do caráter inquisitorial do procedimento investigatório conduzido pelo Delegado de Polícia. Trata-se da Lei nº 13.245, de 12 de janeiro de 2016, que, alterando a Lei nº 8.906, de 04 de 1. CRFB/1988. Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

(12) 12. julho de 1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), incluiu direitos para o advogado que repercutem diretamente na esfera de direitos do investigado. A prefalada Lei modificou a redação de dispositivos e introduziu outros, no seguinte sentido: Art. 7o São direitos do advogado: (...) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (...) XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: a) apresentar razões e quesitos; b) (VETADO). (...) § 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. § 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências. § 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente. (NR).. Com a introdução expressa do direito do advogado de assistir seu cliente durante o interrogatório policial, podendo inclusive propor razões e quesitos, bem como a menção do “exercício do direito de defesa”, no §12º, discute-se se houve a introdução dos direitos da ampla defesa e contraditório no inquérito policial. Com isto, controverte-se se os “elementos informativos” produzidos no inquérito ganharam a natureza de prova, uma vez que o vício em sua produção passa a ser punido com a sanção de nulidade. Partindo desta premissa, evidencia-se uma tendência de adequação do inquérito policial à ordem democrática introduzida pela CRFB, tornando-o um procedimento pautado no devido processo legal. E, aderindo aos conceitos utilizados pelos modernos estudos de Justiça Administrativa, é possível induzir, até mesmo, que o inquérito policial, ao receber os atributos do contraditório e da ampla defesa, teria alterada sua própria natureza jurídica,.

(13) 13. deixando de ser um procedimento administrativo para ser um verdadeiro processo administrativo. E essa nova concepção, por certo, apesar de evidentemente mais garantista, não agrada a todos os atores do Processo Penal. Isto porque a eventual alteração da natureza jurídica do inquérito policial passa ser associada à necessidade de imbuir a autoridade que o conduz – o Delegado de Polícia - de certas prerrogativas, com o fim de que o mesmo seja capaz de conduzir essa fase processual com o mínimo de independência. A ideia de despir o inquérito policial de seu caráter inquisitório pode não agradar os próprios Delegados de Polícia, na medida em que esta mudança pode ser confundida com a perda de poderes desta autoridade. Noutro giro, a atribuição de prerrogativas de independência a órgão fora do Poder Judiciário e das funções essenciais à Justiça, mormente o Ministério Público, em geral não conta com apoio destes órgãos, por soar como nítida ameaça a concentração de poderes nos mesmos. Isso se deve a concepção moderna de indivíduo que, na linguagem habermasiana 2, é dissociada do conceito aristotélico, o qual pressupunha uma dimensão coletiva do ser. E o que se observa, no cenário contemporâneo, são instituições que perseguem a exclusividade de prerrogativas, como forma de concentrar o poder, em vez de efetivar o interesse coletivo, e a vida das pessoas, que primordialmente é o que está em jogo nas decisões judiciais, sobretudo no Processo Penal, passa depender de “decisões descentralizadas de sujeitos singulares orientados pelo sucesso próprio.”3. Assim sendo, busca-se aferir se as modificações destacadas foram capazes de alterar natureza jurídica e ao caráter inquisitorial do inquérito policial atual, pela inclusão dos direitos ao contraditório e à ampla defesa nesta fase investigatória, objetivando-se, ainda, identificar se tais alterações ensejariam na necessidade de imbuir o Delegado de Polícia de certas prerrogativas, a fim de que possa atuar de forma independente, para conduzir uma investigação policial dotada dos princípios que norteiam o devido processo legal.. 2. Segundo Jürgen Habermas, em sua obra “Direito e Democracia – entre facticidade e validade”, v.1, traduzido por Flávio Breno Siebeneichler, p 17, “A modernidade inventou o conceito de razão prática como faculdade subjetiva. Transpondo conceitos aristotélicos para premissas da filosofia do sujeito, ela produziu um desenraizamento da razão prática, desligando-a das suas encarnações nas formas de vida culturais e nas ordens da vida política. Isso tornou possível referir a razão prática à felicidade, entendida de modo individualista, e à autonomia do indivíduo, moralmente agudizada – à liberdade do homem tido como sujeito privado, que também pode assumir papéis de um membro da sociedade civil do Estado e do mundo.” 3 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Vol.I. tradução: Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 114..

(14) 14. A presente pesquisa tem por objetivos gerais buscar a evolução histórica do poder investigativo na sociedade brasileira; analisar a natureza jurídica do inquérito policial, no momento pré e pós Constituição Brasileira de 1988; expor as consequências decorrentes das recentes alterações trazidas pela Lei nº 13.245/2016, que alterou o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, no inquérito policial; avaliar a função do Delegado de Polícia, bem como a necessidade de alterações em sua atuação, com inserção de prerrogativas que o tornem uma autoridade minimamente independente, capaz de ser o primeiro garantidor dos direitos fundamentais da pessoa; analisar as influências internas e externas que afetam a credibilidade do Inquérito Policial e da atuação do Delegado de Polícia. De forma específica, busca-se uma abordagem constitucional do tema, partindo-se do pressuposto de que tanto o direito penal quanto o direito processual penal contemporâneos podem ser utilizados com instrumentos de efetivação de direitos fundamentais, de modo que a atuação dos órgãos estatais responsáveis por sua aplicação ao caso concreto não pode estar dissociada do caráter protetivo e democrático. Nesta toada, a pesquisa é iniciada com o capítulo 1 que, para fins de contextualização do tema com a facticidade, expõe como se dá um inquérito policial real, desde sua instauração até o relatório. Neste ponto, também é dedicado um item para tratar dos sujeitos do Inquérito Policial e seu desenvolvimento. Em seguida, o capítulo 2 aborda alguns aspectos teóricos da Investigação Policial, cuidando das bases históricas do Inquérito Policial Brasileiro, o conceito, finalidades e características deste instrumento que, na prática, é o que materializa a maioria das investigações preliminares no país. No capítulo 3, são analisados os sistemas processuais penais exististes e sua relação com o Inquérito Policial. Neste ponto, dedica-se um item ao aos princípios informadores do Inquérito Policial no Brasil, passando-se para a exposição de notas sobre o sistema inquisitivo, sistema acusatório e sistema misto. Por fim, o último item do capítulo explora as alterações produzidas pela Lei nº 13.245/2016, bem como as novas nuances acusatórias no Inquérito Policial. Em prosseguimento, o capítulo 4 relaciona o Inquérito Policial com a Justiça Administrativa, correlacionando conceitos e princípios informadores e apurando se as alterações produzidas pela Lei nº 13.245/2016 foram capazes de alterar a natureza jurídica do Inquérito de procedimento para processo administrativo. Além disso, o último tópico do capítulo cuida do Delegado de Polícia como Autoridade Democrática..

(15) 15. O capítulo 5, com viés filosófico, aborda as influências externas e internas que afetam o Inquérito Policial e atuação do Delegado de Polícia, comprometendo quaisquer tentativas legislativas e hermenêuticas de adequação da Investigação Policial ao contexto democrático e garantista. Neste sentido, cuida-se dos sistemas peritos, da relação da Polícia com as mídias sob o viés das racionalidades instrumental, estratégica e comunicativa, explorando-se, ainda, a influência da autofagia policial Por fim, o capítulo 6, de conotação crítica, objetiva explorar se, na prática a inovação legislativa foi capaz de alterar a realidade vivenciada na etapa pré-processual do sistema penal brasileiro, indicando, ainda o real papel dos atores envolvidos no Inquérito Policial a apontando uma mudança de mentalidade da relação entre a Polícia e a comunidade como alternativa de transformação caráter do inquérito policial como instrumento de efetivação de direitos fundamentais. A pesquisa teve seu desenvolvimento firmado no método hipotético dedutivo, posto que, após a análise do arcabouço legislativo e da doutrina ético-jurídica, buscando-se avaliar como as mudanças propostas poderão repercutir no inquérito policial, na atividade do Delegado de Polícia e dos demais atores do processo penal. Para tanto, utilizou-se a metodologia da revisão bibliográfica com abordagem qualitativa, com foco em elementos sociológicos e filosóficos hábeis a viabilizar a compreensão do fenômeno sob diversos prismas. Assim, o procedimento adotado foi a pesquisa bibliográfica, com a análise de obras específicas de filosofia, direitos fundamentais e processo penal, com enfoque na fase pré-processual. A pesquisa também foi subsidiada com entrevista colhida com a Delegada de Polícia Camila Lourenço, bem como em outros dados obtidos na Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, com autorização da Comissão de Gestão de Documentos. Os procedimentos de pesquisa se deram, mormente, pelo levantamento bibliográfico de obras teóricas, sobretudo livros e periódicos e análise de documentos dados estatísticos e dados oficiais da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. O início do estudo resultou de visita a 73ª DP, acompanhando-se o desenvolvimento de um Inquérito Policial, com ênfase no desdobramento dos fatos e nas diligências adotadas em virtude dos mesmo. Em seguida, os capítulos seguintes (do 3 ao 5), resultaram da análise da bibliografia Processo Penal, Direito Penal, Inquérito Policial, Direitos Fundamentais, Sistemas Processuais, Direito Constitucional, Direito Administrativo e Filosofia, com larga abordagem sobre fatos históricos questões sociológicas que envolvem a matéria em estudo. Por fim, o último capítulo, resultou na análise crítica da situação atual, com destaque.

(16) 16. para as dificuldades enfrentadas pela Polícia investigativa, o déficit democrático que é uma realidade no país, e a busca de alternativas factíveis para efetividade e transformação do Inquérito Policial. Tendo em vista a interdisciplinaridade da abordagem, foram colacionadas bibliografias relacionadas a diferentes campos de conhecimentos, sobretudo direitos fundamentais, processo penal e filosofia, implicando que os capítulos 5 e 6 contassem com uma diferenciação na metodologia e nos parâmetros de pesquisa. A utilização de obras autores clássicos do Direito Processual Penal, como Fernando Capez, José Frederico Marques, Humberto Theodoro Junior, Fernando da Costa Tourinho Filho, Ada Pellegrini Grinover e Julio Fabrini Mirabete ocorreu mormente nas abordagens conceituais, buscando-se maior amparo doutrinário nos autores da vanguarda processual penal e com viés democrático e progressista, tais como Rubens Cassara, Marcelo Lessa, Afrânio Silva Jardim, Aury Lopes Jr, Ozéas Corrêa Lopes Filho e Geraldo Prado, além de outros, voltados para doutrina especializada. Na seara filosófica, o embasamento deu-se, fundamentalmente, nas obras de Jürgen Habermas e Anthony Giddens, sem olvidar das contribuições antropológicas colhidas das obras de Michel Misse e Roberto Kant de Lima..

(17) 17. 1. Um Inquérito Policial: da instauração ao relatório. O Inquérito Policial é o principal instrumento de atuação das Polícias Civil e Federal na apuração de crimes e contravenções. Seu conceito, características e princípios inspiradores são estabelecidos no ordenamento jurídico. Todavia, a prática oferece grande contribuição para a análise jurídica e filosófica deste instrumento investigativo. Neste sentido, propõe-se a apresentação de um Inquérito Policial, de sua instauração ao relatório final, identificando os fatores intrínsecos e extrínsecos que influenciam em seu desenvolvimento, a fim de que os dados extraídos da realidade contribuam para a análise crítica do objeto desta pesquisa. Para tanto, acompanhou-se o a instauração de um Inquérito Policial na 73ª Delegacia de Polícia4, unidade da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro que fica no bairro de Neves, Município de São Gonçalo, o segundo mais populoso do Estado do Rio de Janeiro, que conta com outras três unidades de polícia judiciária em seu território (72ª DP, 74ª DP, 75ª DP).. 1.1Do balcão ao registro de ocorrência: apresentação do fato na Delegacia de Polícia. Todos os dias chegam às Delegacias de Polícia Civil um sem número de situações que são objeto apreciação por parte do Delegado de Polícia e demais agentes responsáveis pelo plantão. Grande parte das ocorrências apresentadas em sede policial não tem qualquer relação com o Direito Penal, o que não afasta a necessidade de atuação dos servidores públicos que ali exercem suas atividades, compelidos a prestar auxílio a pessoas imersas nos mais diversos problemas sociais. Não é diferente na 73ª DP, que atua em uma circunscrição 5 extensa e atende mensalmente cerca de 1800 pessoas. Destes atendimentos, aproximadamente 420 geram registros de ocorrência, e 16 implicam em efetiva instauração de Inquérito Policial6.. 4. Dados obtidos com autorização da Comissão de Gestão de Documentos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, preservando-se nomes e dados pessoais dos envolvidos, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 e do Decreto Estadual nº º 43.597 de maio de 2012. 5 A circunscrição da 73ª DP é definida pela Resolução SSP nº 19, de 31 de outubro de 1984, e corresponde “II 73ª DP - Neves: a) Começa na Baia da Guanabara no prolongamento da Rua Padre Marcelino, continuando pela Orla marítima até a foz do Rio Imboaçú; b) da foz do Rio Imboaçú, prossegue por este até a ponte da Rua Luiz Pereira dos Santos, continuando por esta rua, pela Avenida Joaquim de Oliveira, Rua Minas Gerais, Rua Abílio José de Matos, Rua Dr. Jaime Figueiredo, Avenida Santa Maria, Rua Francisco Portela, Rua Rodrigues Fonseca, Rua Coronel Serrado, Avenida Edson, Estrada da Carioca, Rua Adélia Luiza do Couto, Rua Félix Antônio da Silva, Rua Rogério Fabrico e Rua Acacio Raposo até a Rodovia RJ 104, tudo exclusive, fazendo limite com a 72ª DP - São Gonçalo; c) continua pela Rodovia RJ 104, exclusive e a partir da Rua Acácio Raposo, até a esquina com a Estrada da Paciência, fazendo limite com a 75a DP - Rio do Ouro; d) prossegue pela Rodovia RJ.

(18) 18. Como uma Central de Flagrantes regular, a 73ª DP possui em seus quadros funcionais, um Delegado Titular 7 , um Delegado Assistente 8 e quatro Delegados Adjuntos 9 , estes. 104, exclusive, a partir da Estrada da Paciência, continuando pela Estrada do Baldeador, Estrada do Rio das Pedras, Rua Morro do Castro, Rua Dr. March até a ponte sobre o Rio Bomba e por este até a ponte da Rua General Castrioto, prosseguindo por esta e pela Rua Padre Marcelino, tudo inclusive até a Baia da Guanabara, ponto inicial, fazendo limite com o Município de Niterói; e) Ilhas do Carvalho, das Flores, Ananás, Alxingueira, do Engenho e do Tavares.” Entretanto, no que diz respeito às ocorrências flagranciais, tendo em vista que no Rio de Janeiro a Polícia Civil adota o sistema de Centrais de Flagrantes, a 73ª DP responde também pelas circunscrições da 72ª DP e da Delegacia de Mulheres de São Gonçalo. Fonte: Boletim Informativo da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro nº 117, de 28 de junho de 2017. Disponível em: <,https://intrapol.pcivil.rj.gov.br/bi/junho2017/inc/BI-1172017.asp>. Acesso em: 29/06/2017. 6 Dados colhidos em entrevista com a Delegada Camila Lourenço de Oliveira, autorizada pela Comissão de Gestão de Documentos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, referentes ao mês de junho de 2017. 7 Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 4º - São atribuições do Delegado Titular: I - dirigir, coordenar e fiscalizar as atividades administrativas e atos de polícia judiciária praticados pelos policiais lotados na UPAJ II - presidir reuniões com gestores e dirigentes de entidades públicas e privadas, visando melhorar a qualidade das atividades policiais na circunscrição da UPAJ; III - presidir reuniões com todo o efetivo da UPAJ para avaliação da qualidade de suas atividades visando o aumento da produtividade e efetividade do serviço prestado IV - presidir reuniões com os demais Delegados de Polícia da UPAJ para análise da atuação e produção das equipes de apoio e execução, assim como para formular metas, avaliar resultados e dinamizar as investigações; V - receber e despachar todo o expediente externo da UPAJ, com vistas à distribuição aos demais Delegados de Polícia ou Agentes, conforme suas respectivas atribuições; VI - avocar e redistribuir procedimentos investigatórios da UPAJ em casos de fundada necessidade, na forma da lei VII - adotar providências de natureza disciplinar, podendo designar o Delegado Assistente para a presidência de sindicâncias; VIII - decidir, a partir de escala elaborada pelo Agente de Pessoal, sobre férias e outros afastamentos temporários previstos em lei; IX - emitir e expedir boletins de merecimento ou similares referentes aos servidores lotados na UPAJ; X - estimular a solidariedade e a interação entre os Policiais da UPAJ, visando sempre o aperfeiçoamento das atividades policiais; XI - decidir sobre a solicitação do Delegado Assistente ou Adjunto, ou avocar, fundamentadamente, nas hipóteses do artigo 8º, inciso I Parágrafo Único- O Delegado de Polícia poderá acumular a titularidade de mais de uma UPAJ. 8 Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 5º - São atribuições do Delegado Assistente: I - substituir o Delegado Titular nos casos de incompatibilidade ou impedimento, afastamentos temporários ou eventuais, bem como auxiliá-lo na direção e fiscalização das atividades policiais; II - substituir o Delegado Adjunto nos casos de incompatibilidade ou impedimento, bem como auxiliá-lo na condução das investigações policiais, fornecendo-lhe todo o apoio técnico e administrativo necessário; III - manter o Delegado Titular informado de todo fato de interesse policial ou administrativo relativo à UPAJ de que venha a ter conhecimento IV - auxiliar o Delegado Titular na direção, coordenação e fiscalização das atividades das equipes de apoio e execução; V - promover a integração das equipes de plantão, participando pessoalmente das reuniões da UPAJ, bem como zelar pela uniformização das tarefas e atividades administrativas à luz das normativas vigentes; VI - auxiliar o Delegado Titular na emissão de boletins de merecimento ou similares dos servidores policiais subordinados, no prazo regulamentar; 9 Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 6º - São atribuições dos Delegados Adjuntos: I - dirigir, coordenar, orientar, supervisionar e fiscalizar as atividades investigatórias do GIP, bem como, solicitar, fundamentadamente, nas hipóteses previstas no artigo 8º, inciso I, a atuação do GIC; II - conhecer das infrações penais e fatos de interesse policial, ocorridos na circunscrição, mediante a instauração do competente procedimento, além de determinar à equipe de plantão diretamente subordinada o início e a conclusão do feito por meio de investigação imediata e sucessiva; III - determinar a lavratura de registro de ocorrência e a designação de agente para o início imediato das investigações pertinentes.

(19) 19. responsáveis pelos plantões de 24 (vinte e quatro) horas, que se iniciam às 8 horas da manhã de um dia e terminam às 8h da manhã do dia seguinte. Os Delegados Adjuntos chefiam pequenas equipes de três policiais denominadas Grupo de Investigação de Plantão - GIP10, responsável, dentre outras tarefas, pela confecção dos registros de ocorrência e lavratura de autos de prisão em flagrante, e são auxiliados por. IV - determinar providências para lavratura de registros de ocorrências nos casos de requerimento, notícias de crime ou expediente de requisição, protocolizados, ou outro documento despachado pelo Delegado Titular ou seu substituto legal; V - presidir e despachar autos de prisão em flagrante, bem como determinar providências de polícia judiciária ao agente designado para a investigação; VI - remeter no prazo legal, Inquérito Policial, investigação preliminar e registro de ocorrência ao Poder Judiciário ou a outro órgão investido de atribuições legais especiais; VII - zelar pela observância dos prazos e cumprimento das determinações das Autoridades Judiciais e Administrativas, observando obrigatoriamente suas atribuições legais; VIII - zelar pelo trâmite regular dos procedimentos em curso; IX - informar ao Delegado Titular sobre ocorrência policial que tenha ou possa ter grave repercussão junto à opinião pública, ou que reclame providências imediatas de investigação policial, ou, ainda, de fato administrativo que tome conhecimento por intermédio do Registro de Comunicações Administrativas (RCA); X - consignar em RCA o estado das viaturas, armamento, munição e material permanente sob custódia, dentre outros; XI - atender ato de convocação e designação do Delegado Titular para reuniões, representações, eventos e solenidades oficiais, dentre outros, no ensejo de promover a integração e cooperação entre as Autoridades Policiais e agentes lotados na UPAJ; XII - auxiliar o Delegado Titular no preenchimento dos boletins de merecimento ou similares dos agentes do GIP; Parágrafo Único - Na ausência de Delegado Adjunto na UPAJ, as atribuições previstas neste artigo poderão ser supridas pelo Delegado Titular ou Assistente. 10 Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 7º - O GIP, integrado por equipes de Inspetores de Polícia, Oficiais de Cartório e Investigadores Policiais, terá as seguintes atribuições: I - conhecer das infrações penais e fatos de interesse policial ocorridos na circunscrição da UPAJ, dando ciência imediata ao Delegado de Polícia responsável pela coordenação de suas atividades, objetivando a classificação da ocorrência para fins de registro II - lavrar registros de ocorrências e autos de prisão em flagrante, executar medidas cautelares, diligências e demais atos de polícia judiciária, bem como outras atividades administrativas, sempre sob a presidência do Delegado de Polícia; III - comunicar ao Delegado de Polícia todas as eventuais irregularidades encontradas na UPAJ, na assunção do plantão; IV - coletar dados e informações sobre eventos de interesse policial cuja atuação prevista em lei seja necessária; V - participar das ações policias coletivas da UPAJ ou dos demais órgãos da PCERJ sempre que houver determinação específica do Delegado Titular; VI - entregar expedientes administrativos relativos a pessoas, bens ou valores vinculados a procedimentos policiais da UPAJ em locais determinados pelo Delegado de Polícia; VII - encaminhar pessoa presa ou apreendida à SIP para o processo de identificação decorrente da autuação, quando cabível; VIII - Cuidar da guarda de pessoa presa, apreendida ou custodiada durante a permanência desta na UPAJ, órgão judicial ou ministerial, ou ainda, durante a escolta da mesma para local determinado pelo Delegado de Polícia; IX - fornecer à SIP todos os dados de inteligência policial que tome conhecimento; X - receber, expedir e controlar mensagens via telefone, rádio e telemática, dando imediata ciência à Autoridade destinatária; XI - guardar o prédio da UPAJ, seus bens, viaturas policiais, documentos e objetos nela acautelados ou em carga; XII - encaminhar à SESOP bens, valores e objetos apreendidos, juntamente com o respectivo expediente, bem como autos de infração lavrados com as correspondentes multas prestadas, acompanhadas das respectivas guias devidamente preenchidas..

(20) 20. um policial responsável pela Seção de Inteligência Policial – SIP11, com diversas atribuições, como, realizar consultas nos sistemas policiais para subsidiar o cruzamento de dados, fundamental das investigações policiais. As atividades burocráticas são realizadas pela Seção de Suporte Operacional – SESOP12.. 11. Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 9º - A SIP, composta por equipes de Inspetores de Polícia ou Investigadores Policiais, terá as seguintes atribuições: I - executar a atividade de inteligência policial; II - executar atividade de identificação biométrica, datiloscópica e fotográfica, classificação, processamento e arquivamento de informações relativas aos investigados ou indiciados em investigações preliminares ou Inquéritos Policiais, assim como as medidas necessárias ao procedimento correlato em se tratando de adolescentes infratores; III - providenciar o pedido de anotação criminal quando determinado pelo Delegado de Polícia; IV - solicitar folha de antecedentes penais ao órgão oficial de identificação, informando o referido órgão dos detalhes do indiciamento, além de instruir os autos com os dados relativos aos antecedentes porventura existentes, quando determinado pelo Delegado de Polícia; V - receber, em caso de prisão em flagrante, a fiança arbitrada pelo Delegado de Polícia, a qual deverá ser imediatamente lançada no livro de fianças e repassada à SESOP para recolhimento aos cofres públicos por meio de guia oficial, desde que tais procedimentos não estejam sob a responsabilidade do núcleo de apoio cartorário; VI - acautelar e escriturar livro de fianças e seus respectivos valores, desde que tais procedimentos não estejam sob a responsabilidade do núcleo de apoio cartorário; VII - acautelar e manter atualizados os arquivos relativos às guias de pessoa presa ou apreendida, mandados de prisão, alvará de soltura, álbuns fotográficos e retratos falados; VIII - expedir pelo sistema informatizado e arquivar em pasta própria, as guias de pessoas presas ou apreendidas, mediante o devido recibo; IX - zelar pela inviolabilidade dos dados e informações registradas na SIP, somente fornecendo-as a pessoas ou órgãos legalmente autorizados, após ou por determinação do Delegado de Polícia; X - arquivar fotografia e retrato falado digitalizado no sistema, referente a pessoa ou local vinculado a infração penal, para imediata consulta em álbuns; XI - realizar consultas a órgãos do serviço público referentes a antecedentes penais do investigado ou indiciado, para fins de atualização do respectivo prontuário; XII - elaborar análise criminal ou estatística de ocorrências policiais, conforme determinação do Delegado de Polícia; XIII - analisar dados e informações de inteligência policial coletados nas investigações ou em outras fontes para fins de cadastro, relativos a fatos de interesse policial, investigados ou indiciados, bem como modalidades de delitos praticados em locais sensíveis da circunscrição; XIV - analisar preliminarmente informações relativas a patrimônio incompatível atribuído a servidores da UPAJ, conforme determinação do Delegado Titular; XV - inserir de imediato em sistema próprio, ocorrências relativas a veículos; XVI - manter as senhas de acesso aos principais sistemas sempre ativas e atualizadas. Parágrafo Único- Os agentes lotados na SIP estarão subordinados hierárquica e administrativamente à UPAJ na qual estejam lotados, porém manterão vinculação técnica com a Assessoria de Inteligência Policial - Assinpol, conforme Resolução SSP nº 801/05. 12 Resolução SESEG Nº 1001, de 30 de agosto de 2016. Art. 10 - A SESOP, chefiada por um Oficial de Cartório, preferencialmente da classe comissário de polícia, e integrada por equipes de Inspetores de Polícia, Oficiais de Cartório e Investigadores Policiais, será dividida, sempre que necessário, em núcleos de apoio administrativo e apoio cartorário, e terá as seguintes atribuições: I - protocolar, distribuir, controlar, encaminhar e arquivar, após registro no sistema, todos os expedientes ou documentos da UPAJ II - receber e dar destino a bens, valores e objetos apreendidos, valores de fianças, documentos e multas recolhidas, juntamente com o respectivo expediente; III - manter atualizado o sistema acerca dos procedimentos investigatórios distribuídos ao Poder Judiciário ou a outros órgãos IV - arquivar notas de débito, autos de apreensão, entrega, depósito, e de inutilização de materiais, guias ou talonários oficiais de recolhimentos de valores ou depósitos judiciais, assim como os demais expedientes administrativos, nos respectivos arquivos e pastas, com exceção dos documentos de atribuição da SIP;.

(21) 21. No dia 03 de maio de 2017, a responsável pelo plantão da 73ª DP era a Delegada de Polícia Camila Lourenço de Oliveira, que aos 28 anos, é adjunta na 73ª DP desde 2013. Em meio à escassez de recursos materiais e humanos13, a Delegada prestigia o trabalho em equipe para tentar proporcionar um atendimento digno às pessoas que procuram a Delegacia. Naquele dia, por volta das 19h, compareceu à Delegacia o Sr. HMS14, gerente de um estabelecimento comercial que vende aparelhos celulares, no Shopping São Gonçalo, situado no bairro de Boa Vista, São Gonçalo. De acordo com o comunicante, que não estava no local na hora do fato, uma funcionária da loja relatou que foi houve anúncio do assalto por quatro indivíduos armados, e diversos aparelhos haviam sido subtraídos, dentre os quais um modelo de celular que era lançamento, que não havia sequer sido exposto à venda, de elevado valor, cujos exemplares haviam chegado na loja no mesmo dia do crime, cerca de uma hora antes. Informou ainda que um outro vendedor da loja afirmou que os assaltantes eram as mesmas pessoas que haviam praticado crime na loja dois meses antes. Diante da comunicação da ocorrência e apreensão de mídia contendo imagens gravadas no local, a Delegada instaurou Inquérito Policial, determinando, a partir de então, a V - consignar no sistema o recebimento e a emissão de guias de remessa para controle de todo o expediente da UPAJ recebido ou remetido a outros órgãos por intermédio de malote ou meios próprios; VI - controlar os prazos legais dos procedimentos investigatórios em curso por intermédio do mapa de ocorrências para ciência dos Delegados e agentes responsáveis, bem como os arquivos de procedimentos investigatórios pendentes de documentos, peças técnicas e informações complementares para prosseguimento ou encaminhamento desses procedimentos; VII - receber os valores das fianças prestadas, mediante o preenchimento das respectivas guias, e providenciar o recolhimento desses valores aos cofres públicos no devido prazo legal; VIII - receber autos de infração lavrados, bem como as correspondentes multas prestadas, acompanhados das respectivas guias devidamente preenchidas, além de providenciar o recolhimento dos valores aos cofres públicos no devido prazo legal; IX - lavrar nota de débito referente ao auto de infração originado de multa não paga, para encaminhamento à COINPOL, no devido prazo legal; X - preencher formulário de depósito judicial e recolher aos cofres públicos, o valor correspondente apreendido por meio de comprovante de depósito bancário do banco oficial, no devido prazo legal; XI - atualizar o sistema da UPAJ com os dados da distribuição dos procedimentos investigatórios encaminhados ao Poder Judiciário, assinalando o órgão competente, comarca e número do processo criminal; Parágrafo Único- Aos Oficiais de Cartório Policiais caberá a organização do núcleo de apoio cartorário, a responsabilidade pela carga e formalização dos atos de polícia judiciária nos inquéritos policiais, bem como a guarda e a destinação dos valores devidamente apreendidos nos autos. 13 De acordo com dados fornecidos pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, comparando-se o quantitativo de cargos previstos em lei com o número de servidores ocupantes do quadro permanente da PCERJ, até o mês de junho de 2017 havia um déficit de 32,38% no número e Delegados de Polícia; de 53,63% no número de Inspetores de Polícia; 64,09% no número de Oficiais de Cartório; de 79,60% no número de Investigadores de Polícia. Na Polícia Técnico científica, a escassez de servidores é evidenciada: no mesmo período, o déficit no número de Peritos Legistas era de 45,40%; 19,25%, no número de Peritos Criminais;46,15% no número de Técnicos de Necropsia; e 50,43% no número de Auxiliares Policiais de Necropsia. Dados obtidos com autorização da Comissão de Gestão de Documentos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, preservando-se nomes e dados pessoais dos envolvidos, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 e do Decreto Estadual nº º 43.597 de maio de 2012. 14 Nomes dos envolvidos omitidos para preservação de sua intimidade..

(22) 22. realização de diligências, com objetivo de identificar a autoria e apurar as circunstâncias em que os fatos se deram.. 1.2 A instauração do Inquérito Policial e execução das diligências. Após a lavratura do registro de ocorrência, com cadastramento de todos os 144 (centro e quarenta e quatro) aparelhos subtraídos, houve instauração de Inquérito por meio de Portaria, indicando-se as diligências iniciais a serem adotadas, para apuração do crime tipificado pela Delegada condutora da investigação como roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e pelo concurso de pessoas15. Uma das primeiras diligências adotadas foi a intimação do funcionário CPA, vendedor loja, que estava presente na data dos fatos apurados, e foi ouvido na Delegacia no dia seguinte ao registro da ocorrência. De acordo com o CPA, no período de dois anos e cinco meses em que trabalha como vendedor no estabelecimento, a loja já foi assaltada duas vezes, estando o mesmo presente nas duas ocasiões. Disse que, na parte da tarde, foi abordado no interior da loja por dois sujeitos, com uniformes de colégio, que se portavam como clientes. Após um deles pedir informação sobre a existência de um aparelho, o outro anunciou o roubo, sacando a arma e determinando que o mesmo os conduzissem até o estoque. Afirmou que outra funcionária estava no estoque e o indivíduo ordenou que a mesma colocasse os equipamentos no interior de uma bolsa. Em seu relato, CPA afirmou ainda que os assaltantes pediram os aparelhos mais caros da loja, que ainda não contavam com lançamento oficial, e que haviam chegado na loja naquele dia mesmo, na parte da manhã. Sempre mediante ameaça das armas de fogo, os indivíduos afirmavam que havia carros fora do shopping, com pessoas dispostas a explodir o estabelecimento se algo desse errado. Por fim, CPA disse que reconheceu um dos indivíduos como participante do roubo anterior. Ainda no dia 04 de maio de 2017, policiais militares conduziram à Delegacia de Polícia o indivíduo JNRDS, que foi abordado quando dirigia um veículo roubado o qual, ao 15. Código Penal: Roubo Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. [...] § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;.

(23) 23. ser revistado, estava com diversos dos aparelhos que haviam sido subtraídos no dia anterior. Preso em flagrante pelo crime de receptação, JNRDS foi cientificado do direito de contar a presença de um advogado, para acompanhá-lo no interrogatório, caso desejasse prestar declarações. Assim, foi acionado pelo preso o advogado JMSS, que o acompanhou em toda a sua declaração, inclusive indicando perguntas a serem feitas pela Delegada. Em seu depoimento no Inquérito que apurava o roubo dos aparelhos de celular, JNRDS disse de fato participou dos dois roubos que ocorreram na loja de celulares do São Gonçalo Shopping, indicando o apelido dos outros três indivíduos que participaram com ele. Afirmou ainda que nas duas ações criminosas, o grupo contou com o auxílio de um funcionário, identificado na Delegacia como CPA, que repassava informações privilegiadas, amigo de um dos integrantes do grupo. Além disto, JNRDS relatou que um dos integrantes do grupo usava um simulacro de arma de fogo e o outro, usava uma arma verdadeira, sendo sua função na ação criminosa a de transportar o material roubado, que posteriormente seria vendido em um box da Uruguaiana. Outras diligências foram adotadas, como a restituição de parte da mercadoria roubada que foi recuperada ao representante estabelecimento comercial, análise das imagens gravadas na data dos fatos, oitiva dos outros dois funcionários presentes na loja no dia do crime, reconhecimento de JNRDS pelos outros funcionários da loja.. 1.3 Conclusão do Inquérito Policial: indiciamento e relatório. Diante das diligências adotadas, a Delegada concluiu o Inquérito Policial indiciando CPA e JNRDS pela participação nos crimes de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e pelo concurso de pessoas, e pelo crime de associação criminosa16, representando pela prisão temporária de ambos de ambos junto ao Plantão Judiciário, na madrugada de 05 de maio de 2017. O pedido de prisão temporária foi apreciado pelo Ministério Público, que o referendou, sendo a ordem de prisão expedida pelo Poder Judiciário. No dia 08 de maio de 2017, a Delegada de Polícia representou pela conversão da prisão temporária em preventiva, o 16. Código Penal: Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência).

(24) 24. que também foi deferido pelo Poder Judiciário, após oferecimento da denúncia pelo Ministério Público. Tendo em vista a necessidade de recuperação dos outros objetos do roubo, bem como de identificação dos demais participantes do crime, antes de sua conclusão, o Inquérito foi desmembrado, dando origem a outro procedimento, com investigações ainda em andamento.. 1.4 Sujeitos e desenvolvimento de um Inquérito Policial. Como visto, o Inquérito Policial, em seu desenvolvimento, conta com a participação de diversos atores, alguns deles não pertencentes à instituição policial. Embora algumas nuances sejam observadas a depender da esfera federativa (União, Estado, Distrito Federal) ou da unidade da federação, via de regra, participam do Inquérito Policial o Delegado de Polícia, os agentes policiais, os peritos, o suspeito/investigado, a vítima, o advogado/defensor, além do juiz e do representante do Ministério Público. O Delegado de Polícia é a denominação utilizada pela Constituição Federal 17 , correspondendo à autoridade policial a que se referem os artigos 4º e seguintes do CPP 18. Trata-se de servidor público, que ingressa na carreira mediante aprovação em concurso público. O cargo de Delegado de Polícia é privativo de bacharel em Direito e as funções de polícia judiciária por ele exercidas são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado19. A missão precípua do Delegado de Polícia é a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, visando a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. Além disto, atendendo ao comando constitucional, lhe incumbe a gestão das instituições policiais.. 17. CRFB/1988: Art. 144 [...]§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 18 Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Art. 5º [...] § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 19 Lei nº 12.830/2013: Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. [...] Art. 3o O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados..

(25) 25. No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a Lei Estadual nº 3.586, de 21 de junho de 2001, ao cuidar da reestruturação do quadro permanente de servidores da Polícia Civil, dispõe, em seu anexo V, que são atribuições genéricas do Delegado de Polícia:. - zelar pela segurança do Estado e de sua população; - concorrer para a manutenção da ordem pública - assegurar a observância da lei; - defender as instituições públicas - promover a prevenção, a apuração e a repressão das infrações penais; - assegurar o exercício pelo da cidadania e das liberdades individuais; -exercer atividades e nível superior compreendendo supervisão, planejamento, coordenação e controle, no mais alto nível de hierarquia da Administração Policial do Estado; -exercer atividades de pesquisa, orientação e organização de trabalhos técnicos relacionados com segurança, investigação e operações policiais; -exercer atividades de comando, coordenação e controle de programas; -exercer atividades de direção e chefia nos vários escalões da estrutura organizacional da Polícia Civil; -exercer atividades de direção de Divisões, Delegacias Especializadas e Policiais, de conformidade com a escala hierárquica, instauração e presidência de todos os procedimentos de Polícia Judiciária; - e outras atividades que forem definidas por lei ou regulamento.. Na condução do Inquérito o Delegado de Polícia determina a realização de diligências (apreensão de evidências criminais, requisição de perícia; oitiva de testemunhas, interrogatório policial, dentre outros), representando ao juízo, quando a lei exige; exerce poder de requisição quando autorizado pelo ordenamento jurídico; lavra o auto de prisão em flagrante; elabora o minucioso relatório, como produto final do Inquérito; coordena operações para cumprimento de determinações judiciais; zela pela integridade física dos presos durante o período em que ficam acautelados nas dependências da polícia judiciária; dentre outras atribuições. Mas seu mister não se encerra neste ponto. Todos os dias, um sem número de questões sociais são apresentados nas Delegacias de Polícia, muitos delas sem qualquer interesse criminal e, atendendo ao interesse público e coletivo, os Delegados de Polícia acabam por participar da solução de demandas, mesmo que isto ultrapasse o âmbito de suas atribuições. São questões que envolvem direito de família; causas trabalhistas; controvérsias cíveis e até mesmo problemas de saúde pública 20 , motivo pelo que este profissional acaba por 20. A título de exemplo, cabe mencionar o problema na ausência de implantação do Serviço de Verificação de Óbito- SVO, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Este serviço, atribuição do Sistema Único de Saúde, tem o objetivo adotar providências para determinar a causa mortis em caso de morte não violenta e viabilizar o sepultamento de pessoas que falecem nestas condições. Ocorre que, na prática, ao menos no Estado do Rio de Janeiro, pessoas que falecem de causas naturais no interior de suas residências ou tão logo socorridas a hospitais.

(26) 26. desenvolver um caráter multidisciplinar. A capacidade conciliatória do Delegado de Polícia tem sido observada pelo legislador pátrio que, ainda de forma tímida, lança projetos de lei com vistas a regulamentar esta conciliação no âmbito dos juizados especiais criminais21. Também participam do Inquérito Policial os agentes de polícia. São servidores públicos incumbidos de efetivar as diligências determinadas pelo Delegado de Polícia, sempre sob sua supervisão. Os cargos por eles desempenhados variam a depender da unidade da federação. No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, são agentes de polícia o Investigador de Polícia, o Inspetor de Polícia e o Oficial de Cartório, cujas atribuições são delineadas na Lei Estadual nº 3.586/200122. públicos, por exemplo, não têm o óbito atestado pelos médicos do Sistema Único de Saúde. Impossibilitados de proceder ao sepultamento, os familiares destas pessoas são orientados a comparecer às Delegacias de Polícia para registrar uma ocorrência policial e obter a declaração de óbito após realização de necropsia pela Polícia Civil. Apenas após a requisição do exame pelo Delegado de Polícia, com elaboração de laudo de necropsia que identifique a causa – não violenta – da morte, é que se torna possível o sepultamento. Trata-se de procedimento burocrático e desgastante para os familiares, que tem trazido grandes transtornos para a Polícia Civil, que no Estado do Rio de Janeiro tem um gasto muito grande realizando uma atividade que não esta vinculada à sua tarefa constitucional qual seja, apurar a materialidade e autoria de crimes. 21 PL 1028/2011, de 13/04/2011. Ementa: Altera a redação dos artigos 60, 69, 73 e 74, da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispões sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, possibilitando a composição preliminar dos danos oriundos de conflitos decorrentes dos crimes de menor potencial ofensivo pelos delegados de polícia. 22 Lei nº 3.586/2001. Anexo V. [...] INSPETOR DE POLÍCIA - exercer atividades, envolvendo supervisão, coordenação, orientação e controle chefias de policiais civis, bem como assistência às autoridades superiores em assuntos técnicos especializados e fiscalização de trabalhos de segurança, investigações e operações policiais; - exercer a segurança de autoridades, de bens e de serviços ou de áreas de interesse da segurança interna, bem assim investigações e operações policiais, com vistas à apuração de atos e fatos que caracterizam infrações penais; - exercer, quando exigidas a especialidade e habilitação profissionais, atividades de natureza repetitiva, compreendendo a execução qualificada, sob supervisão e orientação superior, dos trabalhos laboratoriais, relativos a determinações, dosagens e análises em geral, com vistas à investigação policial, operar radiografias em vivo e em cadáver, para localização de projéteis de arma de fogo ou outros, bem como técnicas histológicas e hematológicas; - zelar, quando incumbido de sua guarda, pelo instrumento técnico e científico dos laboratórios de perícias, encarregando-se de sua preparação para exame em geral, limpeza e conservação; - exercer, ainda, quando exigidas, no concurso público, a especialidade e habilitação profissionais, atividades de natureza técnica, envolvendo supervisão, orientação e execução de serviços em oficinas ou unidades policiais relacionadas com a função, bem assim a revisão de trabalho de equipes de funcionários de categoria igual ou inferior, além de outras relativas às áreas de informática e de telecomunicações policiais; - dirigir viaturas policiais, quando a situação o exigir, em qualquer órgão da Polícia Civil, compatível com suas funções; - exercer, quando ocupante da classe Comissário de Polícia, além da assistência às autoridades superiores em assuntos técnicos especializados e fiscalização de trabalhos de segurança, investigações e operações policiais, segurança de autoridades, bens, serviços e de áreas de interesse da segurança pública, investigações e operações policiais, com vistas à apuração de atos e fatos que caracterizam infrações penais, também, a supervisão, coordenação, orientação e o controle de chefias de equipes de policiais civis hierarquicamente subordinados; exercer outras atividades que forem definidas por lei ou outro ato normativo. * Nova redação dada pela Lei nº 4368/2004. OFICIAL DE CARTÓRIO POLICIAL - exercer atividades envolvendo supervisão, coordenação, orientação, controle e chefia de equipes de Oficiais de.

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