• Nenhum resultado encontrado

Ideologia, cultura política e posições programáticas: as preferências dos filiados

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Ideologia, cultura política e posições programáticas: as preferências dos filiados"

Copied!
290
0
0

Texto

(1)Capa Militantes.qxp_Layout 1 23/10/17 10:40 Page 1. Outros títulos de interesse:. Partidos e Democracia em Portugal 1974-2005. A Arte de Ser Indispensável Líder e Organização no Partido Socialiata Português Marco Lisi. Democracia e Representação Partidária A Elite Parlamentar e os Cidadãos Ana Maria Belchior. Capa: Tarsila do Amaral, Operários (pormenor), 1933 (www.tarsiladoamaral.com.br), Palácio da Boa Vista, Acervo Artístico Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. Da Revolução ao Bipartidarismo Carlos Jalali. O espaço de relação dos partidos com a sociedade passa, necessariamente, pela filiação partidária como objeto e sujeito da política, da organização civil e do regime político, democrático ou não. Apesar da sua importância vital para o funcionamento dos sistemas políticos, a filiação partidária constitui-se um dos elos frágeis e, tendencialmente em declínio, da vida política. Esta obra partiu do objetivo genérico de identificar e avaliar a natureza da atividade de filiação partidária, à luz de um conjunto de dimensões, como sejam: a evolução da atividade partidária, em Portugal, numa perspetiva comparada; os moldes de relação dos filiados com os partidos, incluindo o seu posicionamento ideológico; a socialização partidária, tendo em conta as perspetivas de vínculo e continuidade da atividade através dos seus agentes principais, os filiados, e dos partidos como instituição e estrutura política, de entre várias linhas de análise aprofundadas. A obra resulta da aplicação de estudo internacional que envolve vários países, no âmbito do projeto MAPP (Members and Activists of Political Parties), coordenado por Emilie van Haute, da Universidade Livre de Bruxelas. Apoiando-se em dados recolhidos através de inquéritos aos filiados dos partidos políticos, esta obra apresenta o primeiro estudo sistemático sobre ativismo e militância partidária em Portugal.. Marco Lisi é professor auxiliar no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e investigador no Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Os seus principais interesses de investigação são partidos políticos, eleições, representação política e campanhas eleitorais, sobre os quais tem publicado vários livros e artigos em revistas nacionais e internacionais.. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. Paula do Espírito Santo é professora auxiliar com agregação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa) e investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP-ULisboa). Colabora ainda como docente em outras universidades nacionais e no estrangeiro. As suas áreas de investigação e interesse centram-se no estudo da cultura política e filiação partidária, para além da comunicação política e metodologia das ciências sociais. Entre as últimas contribuições de Paula do Espírito Santo está a obra com edição conjunta de Rita Figueiras (2016), Beyond Internet – Unplugging the Protest Movement Wave, Routledge.. Portugal em Perspetiva Comparada Marco Lisi Paula do Espírito Santo (organizadores). UID/SOC/50013/2013 UID/CPO/00713/2013. www.ics.ul.pt/imprensa. ICS. ICS.

(2) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 2.

(3) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 3.

(4) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 4.

(5) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 5. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos Portugal em Perspetiva Comparada Marco Lisi Paula do Espírito Santo (organizadores).

(6) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 6. Imprensa de Ciências Sociais. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9 1600-189 Lisboa – Portugal Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74 www.ics.ulisboa.pt/imprensa E-mail: imprensa@ics.ul.pt. Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação Militantes e ativismo nos partidos políticos : Portugal em perspetiva comparada / org., Marco Lisi, Paula do Espírito Santo. Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2017. ISBN 978-972-671-395-1 CDU 329 © Instituto de Ciências Sociais, 2017. Capa e concepção gráfica: João Segurado Revisão: Levi Condinho Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 426870/17 1.ª edição: Junho de 2017.

(7) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 7. Índice Os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 13. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Marco Lisi e Paula do Espírito Santo. 17. Capítulo 1 A evolução da militância em Portugal: enquadramento legal e tendências longitudinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sérgio de Almeida Correia Capítulo 2 O declínio da filiação partidária em Portugal: respostas e estratégias das lideranças partidárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . Júlio Fazendeiro Capítulo 3 Filiados e ativismo partidário em Portugal: enquadramento teórico e características do inquérito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Marco Lisi, Paula do Espírito Santo e Bruno Ferreira Costa. 29. 69. 99. Capítulo 4 Ativismo e participação nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . 125 Marco Lisi e João Cancela Capítulo 5 Ideologia, cultura política e posições programáticas: as preferências dos filiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Marco Lisi e Ekaterina Gorbunova.

(8) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 8. Capítulo 6 A democracia intrapartidária em Portugal: uma análise comparada das perceções dos filiados do BE, CDS-PP, LIVRE, PS e PSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Edalina Sanches e Isabella Razzuoli Capítulo 7 Padrões de comunicação interna nos partidos políticos portugueses: o caso do PSD, PS e CDS-PP . . . . . . . . . . . . . . 213 Rita Figueiras e Jaime R. S. Fonseca Capítulo 8 Filiados e ativistas partidários em perspetiva comparada . . . . . 247 Anika Gauja e Emilie Van Haute Capítulo 9 Filiação partidária: desafios e notas finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271 Paula do Espírito Santo e Marco Lisi.

(9) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 9. Índice de quadros e figuras Quadros 1.1 1.2 1.3 2.1 2.2 2.3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 5.1. Quadro-resumo estatutário dos membros dos partidos com assento parlamentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Taxas de militância na Europa com base em inquéritos 2002-2010 (%) Evolução da militância (números absolutos) 1974-2014 . . . . . . . . . . Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014 Congressos/Convenções realizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem dos documentos analisados) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Critérios e condições da filiação partidária em Portugal (2015) . . . . Direitos dos filiados nos estatutos dos partidos portugueses com representação parlamentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Amostra dos filiados partidários nos inquéritos aos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Perfil dos filiados partidários em Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . Perfil dos filiados e dos delegados dos partidos portugueses (%) . . . Motivações da adesão nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . Perceção do ativismo nos partidos portugueses (%) . . . . . . . . . . . . . Intensidade de participação por partido e tipo de estrutura (%) . . . . Ativismo nos partidos portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Análise de componentes principais (variável «índice de participação») Caracterização das variáveis em análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de regressão linear para a variável dependente «índice de participação» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Determinantes de diferentes tipos de participação partidária . . . . . . Análises de componentes principais (ACP) das atividades conduzidas no quadro do partido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Temas socioeconómicos e socioculturais: inquérito aos filiados . . .. 52 54 59 71 77 79 109 109 112 113 116 133 134 135 137 140 142 143 145 151 166.

(10) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 10. 5.2. Diferenças no posicionamento ideológico dos filiados: comparações múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Coesão intrapartidária nos temas socioeconómicos e culturais (desvio-padrão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.4. Determinação de autoposicionamento na escala esquerda-direita: análise multivariada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Codificação das variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.6 Características da escala esquerda-direita socioeconómica . . . . . . . . 5.7 Características da escala GALTAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.1 Grau de inclusividade do selectorate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.2 Experiência partidária dos militantes (% que concorda ou discorda de cada uma das afirmações) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.3 Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido . 6.4 Índice de participação em atividades político-partidárias, de acordo com a experiência partidária dos militantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.1 Perfis do conjunto dos filiados (PS, PSD e CDS-PP) . . . . . . . . . . . . 7.2 Perfis dos filiados (covariáveis) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.3 Perfis dos filiados – PS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.4 Perfis dos delegados – PSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.5 Perfis dos delegados – CDS-PP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.6 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (PS, PSD, CDS-PP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.7 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (covariáveis) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.1 Critérios/condicionamentos à filiação partidária – visão geral comparativa (N = 77) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.2 Direitos e obrigações dos filiados – visão geral comparativa . . . . . . 8.3 Perfil social dos filiados – visão geral comparativa (N = 57) . . . . . . .. 172 172 176 181 181 182 198 201 204 206 222 225 228 230 232 239 243 251 253 258. Figuras 1.1 2.1. Evolução da militância em Portugal 1974-2014 . . . . . . . . . . . . . . . . Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014. 60 72.

(11) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 11. 2.2 2.3 4.1 5.1 5.2 5.3 5.4 6.1 6.2. Evolução do rácio F/E, 2000-2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Classificação da resposta dos partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . Distribuição da variável «índice de participação» . . . . . . . . . . . . . . . Posicionamento na escala esquerda-direita: congruência entre filiados e partidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioeconómicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioculturais Posicionamento dos militantes nos eixos esquerda-direita socioeconómica e GALTAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Procedimento para a escolha do líder (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Satisfação com a influência exercida no partido (%) . . . . . . . . . . . . .. 72 73 140 165 168 169 171 203 203.

(12) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 12.

(13) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 13. Os autores Anika Gauja é professora no Departamento de Governo e Relações Internacionais, na Universidade de Sydney. A sua investigação incide sobre a transformação organizacional de partidos políticos em resposta a mudanças sociais. Tem várias publicações sobre partidos políticos na Austrália e no Reino Unido. Bruno Ferreira Costa é doutorado em Ciências Sociais, na especialidade de Ciência Política, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e tem desenvolvido investigação na área da qualidade da democracia, sistemas políticos e eleitorais e participação política. Atualmente é professor auxiliar da Universidade da Beira Interior (UBI) e diretor do mestrado em Ciência Política nesta Universidade. Edalina Rodrigues Sanches é investigadora de pós-doutoramento em Ciência Política no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-UNL). É ainda professora auxiliar convidada no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Recebeu o prémio de melhor tese de doutoramento da Associação Portuguesa de Ciência Política (2014-2016) pela investigação Explaining Party System Institutionalization in Africa: From a Broad Comparison to a Focus on Mozambique and Zambia. Os seus interesses de pesquisa incluem democratização, instituições e atitudes políticas em novas democracias, com foco em África. Ekaterina Gorbunova é doutoranda em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e bolseira de investigação no Instituto Português das Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). A sua investigação 13.

(14) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 14. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. tem-se centrado na democratização e qualidade da democracia, atitudes políticas e cultura política, estudos europeus, governação global e desenvolvimento das políticas de educação. Recentemente, publicou «Portuguese citizens support for democracy 40 years after the carnation revolution» (South European Society and Politics), em coautoria. Emilie van Haute é professora na Université Libre de Bruxelles (ULB) e membro do Centre d’étude de la vie politique (Cevipol). É doutorada pela ULB (2008) e foi bolseira de pós-doutoramento pela fundação Francqui (Universiteit Antwerpen) e FNRS (University of British Columbia). As suas áreas de investigação incluem a militância partidária, dinâmicas intrapartidárias, participação, eleições e comportamento eleitoral. Isabella Razzuoli é doutoranda em Política Comparada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Na sua dissertação analisa o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD) do ponto de vista da distribuição do poder interno e da relação entre a estrutura nacional e as estruturas no território. Os seus principais interesses de investigação incluem partidos políticos, democracia intrapartidária, financiamento da política e relação partidos-grupos de interesses. Jaime R. S. Fonseca é doutorado em métodos quantitativos (Statistics and Data Analysis) pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE-Business School-IUL). Atualmente ́ e professor auxiliar com agregac ̧̃ ao no Instituto Superior de Cie ̂ncias Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), docente nos tre ̂s ciclos de estudos da ́ area das Cie ̂ncias da Comunicac ̧̃ ao e investigador no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP/Ulisboa), onde coordena o grupo de investigac ̧̃ ao «Sociedade, Comunicac ̧̃ ao e Cultura». Os seus interesses incluem a aplicac ̧̃ ao dos me ́todos mistos de investigac ̧̃ ao ̀ as Cie ̂ncias Sociais, nomeadamente aos aspetos da comunicac ̧̃ ao. João Cancela é doutorando em Ciência Política na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Atualmente é também docente assistente convidado na FCSH-UNL e na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG-UM). As suas áreas de interesse são a participação eleitoral, o envolvimento político, os partidos e a democracia.. 14.

(15) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 15. Os autores. Júlio Fazendeiro é licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade da Beira Interior (UBI). Atualmente é doutorando em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) onde desenvolve uma investigação sobre a filiação partidária. Os seus interesses de investigação incluem partidos políticos, eleições e atitudes políticas. Marco Lisi é professor auxiliar no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e investigador no Instituto Português das Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Os seus principais interesses de investigação são partidos políticos, eleições, representação política e campanhas eleitorais, sobre os quais tem publicado vários livros e artigos em revistas nacionais e internacionais. Paula do Espírito Santo é professora auxiliar com agregação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP-ULisboa). Colabora ainda como docente em outras universidades nacionais e no estrangeiro. As suas áreas de investigação e interesse centram-se no estudo da cultura política e filiação partidária, para além da comunicação política e metodologia das ciências sociais. Entre as últimas contribuições de Paula do Espírito Santo está a obra com edição conjunta de Rita Figueiras (2016), Beyond Internet – Unplugging the Protest Movement Wave, Routledge. Rita Figueiras é doutorada em Ciências da Comunicação pela Universidade Católica Portuguesa (UCP), onde é coordenadora do programa de doutoramento em Ciências da Comunicação e docente nos três ciclos de estudos da área das Ciências da Comunicação. É Membro da Direção do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa (CECC-UCP). Sérgio de Almeida Correia é licenciado em Direito, na menção de Ciências Jurídico-Políticas, da Universidade de Lisboa (FDL-ULisboa) (1985), e mestre em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) (2003), onde é atualmente doutorando de Ciência Política. Advogado de profissão, é colaborador regular da imprensa de Macau e um dos membros permanentes do programa de análise política internacional 15.

(16) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 16. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. da TDM-Rádio Macau. É autor do blogue «Visto de Macau» e coautor do blogue «Delito de Opinião».. 16.

(17) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 17. Marco Lisi Paula do Espírito Santo. Introdução * As sociedades contemporâneas experimentaram um declínio das formas coletivas de ação política e uma crescente individualização da esfera pública. A crise das ideologias, as transformações dos meios de comunicação, o crescente papel do Estado na regulação da vida pública, e a emergência de novas formas e atores de participação política são fatores que contribuíram para o declínio da militância e para uma maior dificuldade dos partidos em mobilizar os eleitores. Porém, o estudo da militância partidária é fundamental para examinar vários aspetos do funcionamento dos regimes representativos e a qualidade das democracias contemporâneas. Em primeiro lugar, a análise dos processos de adesão e recrutamento contribui para elucidar acerca do funcionamento interno dos partidos, sobretudo no que diz respeito a uma tarefa essencial destas organizações, que consiste na seleção dos candidatos. Deste ponto de vista, a análise da filiação partidária constitui uma importante dimensão para examinar as características da representação política em Portugal, complementando os estudos existentes nesta área (Martins 2004; Teixeira 2009; Belchior 2010; Costa Pinto, Sousa e Magalhães 2013; Freire e Viegas 2009; Freire, Lisi e Viegas 2015 e 2016; Freire 2015). Em terceiro lugar, a filiação partidária é uma importante forma de participação política, e permite esclarecer os aspetos que influenciam a mobilização e o ativismo na esfera pública. Do ponto de vista dos partidos, a filiação pode constituir um indicador essencial da própria legitimidade dos partidos junto da sociedade civil, da capacidade de representar de forma extensiva os diversos grupos sociais, e de dar voz à heterogeneidade dos interesses dos cidadãos. Do ponto de vista dos cidadãos, a participação nos partidos poderá representar uma forma de aprendizagem, de socialização na vida política que é suposta reforçar as virtudes cívicas e as qualidades democráticas dos indivíduos. Em última instância, o estudo da filiação partidária é uma dimensão crucial para analisar até que ponto as organizações partidárias re-. * Por razões de uniformização dos textos incluídos nesta colectânea, na grafia utilizada foi seguido o Acordo Ortográfico de 1990, independentemente da vontade dos autores dos textos.. 17.

(18) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 18. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. presentam ainda estruturas relevantes para assegurar a função de intermediação entre decisores políticos e instituições, por um lado, e sociedade civil, por outro (Dalton e Wattenberg 2000; Dalton, Farrell e McAllister 2011). O debate epistemológico acerca do papel dos filiados está associado à própria essência da democracia, evidenciando duas visões completamente divergentes (Kölln 2015a). De acordo com a visão «shumpeteriana» da democracia, os partidos são importantes na medida em que asseguram uma efetiva competição e um pluralismo partidário. Neste sentido, a democracia intrapartidária e, mais em geral, os filiados, desempenham um papel marginal para o funcionamento das democracias (Sartori 1976). Por outro, a visão participativa da democracia enfatiza a importância da mobilização e da integração política dos cidadãos, assim como das diferentes formas – diretas e indiretas – de intervenção dos eleitores na esfera política (Barber 1984; Teorell 1999). Uma visão intermédia é constituída pelas conceções da democracia representativa, segundo a qual os partidos desempenham um papel essencial para o funcionamento dos circuitos representativos (Schattschneider 1942; Lawson 1980). Com a expansão dos estudos empíricos sobre filiação partidária, realizados a partir dos anos 80, o debate centrou-se, principalmente, na questão da «crise» das organizações partidárias (Ignazi 2014; Faucher 2015). O declínio da militância partidária, a crescente importância assumida pelas novas formas de participação, assim como a necessidade de recorrer ao financiamento público constituem os principais indicadores da dificuldade de manter um papel central por parte dos partidos, no que diz respeito ao funcionamento destas organizações enquanto associações de filiados. Deste ponto de vista, vários autores começaram a enfatizar a capacidade de adaptação dos partidos e a transformação das estruturas de base e do papel dos filiados (Mair 1997; Seiler 2000; Faucher 2015; Kölln 2015b), agora mais direcionados para funções externas – nomeadamente, na arena eleitoral – do que a nível interno. Os estudos existentes sobre filiação têm evidenciado não apenas a diversidade das formas de organização partidária, mas também as diferentes modalidades de enquadramento e de participação dos filiados na vida política (Heidar 1994 e 2006; Gauja 2015; Scarrow 2015). Por outras palavras, os partidos variam no que diz respeito aos poderes que atribuem aos militantes, no grau de participação e nas tarefas desempenhadas. Os estudos empíricos sobre o tema também demonstram a heterogeneidade do perfil dos filiados, das razões para a adesão, das suas opiniões e dos efeitos sobre o funcionamento dos partidos (Seyd e Whiteley 1992 e 2004; Gallagher e Marsh 2004; Saglie e Heidar 2004; Bille 2001; Pedersen. 18.

(19) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 19. Introdução. e Saglie 2005; Weldon 2006; Van Haute e Gauja 2015). Neste sentido, é importante a recolha empírica de dados para podermos comparar as diferenças entre os que pertencem ou não aos partidos, assim como entre filiados de diferentes famílias partidárias e entre partidos de países diferentes. Apenas uma recolha de dados mais abrangente, em termos de número e variedade de partidos, e comparada poderá esclarecer melhor os efeitos da filiação não apenas a nível individual, mas sobretudo em termos do funcionamento dos sistemas políticos. Em geral, é possível destacar três áreas principais de estudo relacionadas com a filiação partidária (Van Haute 2011). A primeira baseia-se na análise quantitativa da militância partidária. De modo cada vez mais sistemático, sobretudo a partir dos anos 90 (Katz e Mair 1992; Dalton e Wattenberg 2000; Mair e Van Biezen 2001), vários estudos procuraram medir a consistência e a volatilidade das adesões aos partidos através de indicadores objetivos (dados oficiais fornecidos pelos partidos) ou subjetivos (inquéritos).1 Em geral, os resultados indiciam um declínio generalizado da filiação partidária no contexto europeu (Van Biezen, Mair e Poguntke 2012; Poguntke, Scarrow e Webb 2016). A segunda área de pesquisa tem a ver com a procura, ou seja, com as motivações para a entrada nos partidos, o perfil dos ativistas, assim como as atividades desempenhadas internamente (Norris 2002; Bruter e Harrison 2009; Van Haute 2009). A terceira dimensão de análise consiste nas organizações partidárias, mais especificadamente, nas suas estruturas de base e no tipo de enquadramento dos filiados (Scarrow 2015; Poguntke, Scarrow e Webb 2016). Alguns aspetos de análise considerados no âmbito desta perspetiva relacionam-se com a ligação com organizações colaterais, a transformação organizativa dos partidos, e o papel desempenhado pelos filiados (Allern e Bale 2012; Van Biezen e Poguntke 2014). Os estudos incluídos na presente obra foram apresentados pela primeira vez na conferência «Filiados e Ativismo Partidário: Portugal em Perspetiva Comparada» organizada no ISCSP/Universidade de Lisboa, a 23 de Janeiro de 2015,2 e têm como base empírica inquéritos conduzi1. Para uma visão geral desta área de estudo, ver Van Haute, Paulins e Sierens (2017). Para além do ISCSP, agradecemos o apoio da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia para a realização da conferência. Agradecemos também a participação de todos os intervenientes, em particular os oradores estrangeiros e os representantes de várias forças políticas. Marco Lisi agradece também a colaboração de João Loureiro para a revisão de alguns capítulos do livro. Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto «Da Representação à Legitimação: Partidos e Grupos de Interesses na Europa do Sul (PTDC/IVC-CPO/ 1864/2014)». 2. 19.

(20) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 20. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. dos juntos dos principais partidos portugueses – com exclusão do Partido Comunista Português3 – a nível dos filiados ou dos delegados aos congressos partidários. Os contributos apresentados foram, sucessivamente, reformulados e harmonizados para cobrir melhor a diversidade dos temas e das dimensões analisadas. Este contributo propõe-se sistematizar um conjunto de linhas de orientação e investigação, assentes numa longa tradição de investigação internacional sobre a filiação partidária, a qual, em Portugal, tem sido, escassamente, desenvolvida (Stock 1986; Martins 2004; Espírito Santo 2006; Lisi 2011 e 2015). Concretamente, este estudo assenta nas linhas gerais do projeto internacional designado MAPP (Members and Actvivists of Political Parties), do qual resultou a construção do questionário e requisitos metodológicos que estiveram na base desta contribuição. Os objetivos específicos deste estudo centram-se num conjunto de eixos, aliados a conceitos-chave essenciais no plano da sociologia política, e que são concretamente os seguintes: identificação do perfil dos filiados dos vários partidos políticos em análise; motivações políticas dos filiados; posicionamentos políticos e ideológicos; modus operandi e estratégias de captação de novos membros assim como de mobilização dos filiados; satisfação e integração na estrutura partidária. Ou seja, esta contribuição propõe sistematizar um espaço de pesquisa com bases empíricas para futuros desenvolvimentos, também em Portugal, numa perspetiva comparada. A questão da filiação partidária é abordada neste livro, principalmente, através de três perspetivas. Nos primeiros dois capítulos analisa-se a evolução da filiação partidária e as respostas dos partidos ao declínio da militância. Sucessivamente, o livro oferece uma análise sistemática do papel dos aderentes através dos inquéritos administrados aos principais partidos portugueses. Mais em pormenor, os capítulos centrais do livro examinam a participação dos filiados, as posições sobre temas políticos, os padrões de comunicação e a avaliação do funcionamento interno dos partidos. Finalmente, a terceira parte do livro é dedicada a uma análise comparada da filiação partidária. Antes de passar à descrição dos contributos incluídos neste livro, ocorre definir melhor o conceito de filiação partidária. Como vários au-. 3 A nossa intenção, neste projeto, seria incluir, pelo menos, todos os partidos com assento parlamentar. Contudo, apesar da nossa insistência, o PCP assim como o partido Os Verdes, não chegaram a anuir integrar este estudo. Por outro lado, tendo em consideração as perspetivas eleitorais do LIVRE depois das eleições europeias de 2014, decidiu-se incluir também este partido no presente estudo.. 20.

(21) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 21. Introdução. tores evidenciaram (Duverger 1951 [1981]; Ware 1996; Heidar 2006; Van Haute 2011; Gauja 2015; Scarrow 2015), o termo «filiado» pode ter diversos referentes empíricos e significados, conforme o período histórico considerado, a legislação e a cultura de cada país, e as características organizativas dos partidos. No caso dos países europeus, a filiação partidária é definida, principalmente, pelos próprios partidos e pode basear-se na adesão individual ou coletiva. A primeira modalidade é de longe a mais comum no continente europeu. Em geral, os partidos definem os seus filiados através de uma adesão formal, sendo este procedimento o que distingue um membro partidário dos outros cidadãos. Esta também é a conceptualização usada neste livro. Embora o termo «militante» tenha origens mais remotas e não circunscritas à esfera partidária, no caso dos partidos identifica os indivíduos vitais para o funcionamento diário destas organizações, apresentando normalmente níveis de participação superiores aos filiados (Espírito Santo 2006, 148-149). Dado que esta distinção se baseia no comportamento dos membros partidários e é principalmente uma questão empírica, nesta obra diferentes termos – filiados, militantes, ativistas ou membros partidários – serão utilizados de forma indistinta. Por outro lado, os delegados que participam nos congressos partidários serão tratados como uma categoria à parte; isto porque, embora não sejam, necessariamente, profissionais da política, os delegados ocupam, em regra, posições de liderança a nível local ou nacional, com um estatuto – conjunto de direitos e deveres – muito distinto dos filiados. É por isso que os delegados são também considerados parte integrante das elites intermédias dos partidos (Reif, Cayrol e Niedermayer 1980).4 No capítulo 1, Sérgio de Almeida Correia apresenta uma análise da regulamentação da filiação partidária, e do contexto legal que disciplina a participação dos militantes. Neste sentido, este estudo oferece um duplo contributo. Por um lado, apresenta o enquadramento legal da filiação partidária, examinando o tipo de regulação quer a nível da legislação quer a nível dos estatutos partidários. Por outro, aquele contributo analisa de forma sistemática os dados existentes acerca da filiação partidária, numa perspetiva comparada e longitudinal. Naquele capítulo são também consideradas as diferenças entre partidos, evidenciando assim a diversidade das organizações partidárias, e o peso relativo dos filiados nas bases sociais das principais forças políticas.. 4. Sobre este ponto, ver o capítulo 3.. 21.

(22) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 22. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. O capítulo seguinte, de autoria de Júlio Fazendeiro, analisa a participação dos filiados, do ponto de vista das estratégias partidárias. Este estudo considera a estratégia de recrutamento e de mobilização dos partidos portugueses, a partir das moções apresentadas nos congressos. Distinguindo três tipos de estratégias – de inovação, consolidação ou apatia –, o capítulo tem como objetivo principal examinar se existem diferenças significativas entre modelos organizativos distintos, nomeadamente entre o PCP e o CDS-PP. Deste ponto de vista, este estudo oferece um contributo importante para perceber melhor a estratégia de mobilização dos diversos partidos, e o impacto do modelo originário e da cultura organizacional. Esta análise permite também examinar os instrumentos que os partidos utilizam para se relacionar com os filiados, assim como a sua evolução ao longo do tempo. Finalmente, a análise longitudinal permite também averiguar se a crescente diminuição da filiação partidária gerou ou não uma mudança na estratégia de recrutamento dos principais partidos. A segunda parte do livro é subordinada à análise dos inquéritos aos militantes. Marco Lisi, Paula do Espírito Santo e Bruno Ferreira Costa introduzem e contextualizam o caso português, considerando os estudos existentes sobre filiação partidária ao longo do regime democrático português, e numa perspetiva comparada. Esta área é ainda pouco explorada na ciência política assim como na sociologia política, embora tenha havido um crescente interesse sobre este tópico. A revisão da literatura demonstra o carácter fragmentário e incipiente desta área de estudo, e atesta a necessidade de recolher e analisar dados empíricos de uma forma mais sistemática. Sucessivamente, o capítulo apresenta a metodologia adotada na realização dos inquéritos aos partidos portugueses e as características técnicas da recolha do material empírico. O capítulo conclui com uma descrição do perfil sociodemográfico dos filiados, evidenciando o grau de representatividade dos diferentes partidos, nomeadamente em relação à população. O capítulo de Marco Lisi e João Cancela tem como objetivo principal examinar os padrões de participação dos militantes partidários. O estudo começa por considerar as teorias e os resultados empíricos sobre o tópico, evidenciando quais as variáveis mais importantes que explicam o nível de participação. De seguida, são apresentados os níveis de participação dos filiados e dos delegados nos partidos portugueses, distinguindo vários tipos de atividades. Uma das linhas de investigação seguidas neste estudo refere-se às diferenças entre elites intermédias e filiados, assim como entre partidos de esquerda e de direita. Este capítulo também traça a trajetória 22.

(23) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 23. Introdução. política dos filiados e as motivações para a adesão aos partidos. Finalmente, utiliza-se a análise multivariada para testar a validade das diferentes teorias explicativas da participação na vida partidária para o caso português. O objetivo principal do capítulo de Marco Lisi e Ekaterina Gorbunova é compreender a ideologia e a cultura política dos filiados partidários. O estudo centra-se, em particular, no posicionamento dos filiados e dos delegados na escala esquerda-direita, e as atitudes em relação a temas específicos. A análise empírica realizada permite diferenciar duas dimensões, uma baseada numa componente socioeconómica e uma segunda relacionada com uma outra cultural. Para além disso, este contributo examina o grau de coesão ideológica dos vários partidos. O estudo é interessante também para a análise das diferenças programáticas dentro dos partidos de esquerda, uma questão relevante para as dinâmicas de competição que antecederam as eleições legislativas de 2015, e que influenciaram a solução governamental que deu origem ao governo minoritário liderado por António Costa. Neste sentido, este capítulo evidencia quais as convergências programáticas dentro deste bloco ideológico, e até que ponto as relações interpartidárias foram influenciadas por questões estratégicas, ou seja, pela (im)possibilidade de estabelecer canais de cooperação entre as forças de esquerda. Finalmente, outro dado relevante relaciona-se com as diferenças entre o PS e os partidos de direita, que muitas vezes convergiram durante a aplicação do designado «memorando de entendimento» (2011-2014) 5 em relação a determinadas políticas. Estas considerações permitem uma leitura interessante do acordo, entre as forças de esquerda, estabelecido em. 5 Em 2011, Portugal necessitou de recorrer à ajuda externa financeira de três entidades internacionais: o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE). O documento resultante dos trabalhos de acordo quanto a esta operação financeira, sobre o Estado português, foi assinado a 17 de maio de 2011 por governantes portugueses, nomeadamente, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o primeiro-ministro José Sócrates, assim como por responsáveis do Partido Social Democrata (PSD), e do Centro Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP). Este acordo ficou designado como memorando de políticas económicas e financeiras (MEFP), ou, mais simplesmente, memorando de entendimento, e saldou-se num empréstimo pecuniário de 78 mil milhões de euros, o qual seria a base para atingir os objetivos do equilíbrio das contas públicas e a reforma do Estado, objetivos estes perpetrados sob um clima de profunda austeridade económica e financeira. Seria o governo de coligação PSD-CDS-PP a pôr em prática as medidas preconizadas neste memorando, a partir de 2011, na sequência da demissão do primeiro-ministro do Partido Socialista José Sócrates e da consequente dissolução da Assembleia da República. A intervenção financeira das três entidades externas (designadas vulgarmente como troika) findou, oficialmente, em 17 de maio de 2014.. 23.

(24) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 24. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. 2015, e evidenciam a importância das lideranças partidárias em condicionar as escolhas estratégicas e a política de alianças. Rita Figueiras e Jaime Fonseca analisam o perfil dos filiados nos partidos ao traçar as características dos vários tipos de militantes presentes nos partidos de governo (PS, PSD e CDS-PP). Em particular, o estudo distingue os filiados não apenas segundo o nível de ativismo, mas também com base nos diferentes canais de comunicação utilizados, assim como no tipo de mobilização cognitiva que caracteriza filiados e delegados partidários. Neste sentido, os resultados revelam a predominância de práticas e instrumentos tradicionais de comunicação, enquanto marginal é a utilização das ferramentas digitais. Para além disso, a comunicação privilegia a transmissão da mensagem de «cima para baixo», com um reduzido input por parte dos filiados. Contudo, os autores identificam a presença de dois tipos distintos de filiados. Por um lado, um primeiro grupo com um elevado nível de integração no partido, um maior ativismo partidário e uma utilização mais intensa dos instrumentos de comunicação. Por outro lado, emerge um grupo mais apático e desinteressado, que está menos exposto aos meios de comunicação, e de mais difícil mobilização. Estas diferenças têm implicações relevantes também a nível da satisfação com o funcionamento interno dos partidos, tema que é abordado de forma mais exaustiva no capítulo sucessivo. O objeto da democracia intrapartidária e do papel dos filiados nas principais decisões e funções desempenhadas pelos partidos é o ponto principal do capítulo de Edalina Sanches e Isabella Razzuoli. O estudo considera vários indicadores acerca do funcionamento interno das organizações partidárias, a satisfação relativa à vida interna do partido e a perceção do papel dos filiados. Os resultados indicam que existe uma proporção significativa de filiados com opiniões negativas ou críticas em relação aos partidos. Em geral, estes filiados apresentam também níveis baixos de participação. Outro resultado importante é que existem diferenças significativas entre os partidos, e que nem sempre os partidos mais inclusivos e abertos são os que apresentam uma porção maior de satisfeitos. Para além disso, este capítulo oferece um importante contributo ao analisar as principais reformas organizativas dos partidos e as mudanças estatutárias no que diz respeito aos poderes atribuídos aos militantes, como por exemplo através da eleição direta dos líderes. Finalmente, o volume conclui com um estudo comparado sobre o perfil dos militantes partidários na Europa. O estudo de Anika Gauja e Emilie van Haute apresenta uma análise empírica baseada no projeto Members and Actvists of Political Parties (MAPP), no qual se insere também a presente 24.

(25) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 25. Introdução. investigação. Para além da recolha de dados empíricos acerca da evolução do número de filiados, o estudo analisa o acesso às organizações partidárias e as características da militância do ponto de vista dos próprios partidos. Nesta contribuição evidencia-se a importância da recolha de dados através de inquéritos, a qual permitiu examinar o perfil sociodemográfico dos filiados, os padrões de participação, assim como algumas dimensões atitudinais importantes relativas às motivações e aos valores dos filiados.. Referências bibliográficas Aldrich, J. H. 1995. Why Parties? The Origin and Transformation of Political Parties in America. Chicago: Chicago University Press. Allern, E., e T. Bale. 2012. «Political parties and interest groups: Disentangling complex relationships». Party Politics, 18 (1): 7-25. Barber, B. 1984. Strong Democracy. Berkeley: University of California Press. Belchior, A. 2010. Democracia e Representação Partidária: A Elite Partidária e os Cidadãos. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. Bille, L. 2001. «Democratizing a democratic procedure: Myth or reality?». Party Politics, 7 (3): 363-380. Bruter, M,. e S. Harrison. 2009. The Future of our Democracies: Young Party Members in Europe: Basingstoke: Palgrave Macmillan. Costa Pinto, A., L. de Sousa, e P. Magalhães. orgs. 2013. A Qualidade da Democracia em Portugal. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. Dalton, R. J., e M. Wattenberg orgs. 2000. Parties without Partisans. Political Change in Advanced Industrial Democracies. Oxford: Oxford University Press. Dalton, R. J., D. Farrell, e I. McAllister orgs. 2011. Political Parties and Democratic Linkage. Oxford: Oxford University Press. Duverger, M. 1951 [1981]. Les partis politiques. Paris: Armand Colin. Espírito Santo, P. do 2006. Sociologia Política e Eleitoral. Lisboa: ISCSP. Faucher, F. 2015. «New forms of political participation. Changing demands or changing opportunities to participate in political parties?». Comparative European Politics, 13 (4): 405-429. Freire, A. 2015. O Futuro da Representação Política Democrática. Lisboa: Nova Vega. Freire, A., e J. M. Leite Viegas orgs. 2009. A Representação Política. O Caso Português em Perspectiva Comparada. Lisboa: Sextante. Freire, A., M. Lisi, e J. M. Leite Viegas orgs. 2015. Crise Económica, Políticas de Austeridade e Representação Política. Lisboa: Assembleia da República. Freire, A., M. Lisi, e J. M. Leite Viegas orgs. 2016. Representação Política e Participação na Europa em Crise. Lisboa: Assembleia da República. Gallagher, M. e D. Marsh. 2004. «Party membership in Ireland». Party Politics, 10 (4): 407–25. Gauja, A. 2015. «The construction of party membership». European Journal of Political Research, 54 (2): 232-248. Heidar, K. 1994. «The polymorphic nature of party membership». European Journal of Political Research, 25 (1): 61-86.. 25.

(26) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 26. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos Heidar, K. 2006. «Party membership and participation». In Handbook of Party Politics, orgs. Richard S. Katz e William J. Crotty. Londres: Sage, 301-315. Ignazi, P. 2014. «Power and the (il)legitimacy of political parties: An unavoidable paradox of contemporary democracy?», Party Politics, 20 (2): 160-169. Katz, R. S., e P. Mair. 1992. Party Organizations. A Data Handbook on Party Organizations in Western Democracies. Londres: Sage. Kölln, A.-K. 2015a. «The value of political parties to representative democracy». European Political Science Review, 7 (4): 593-613. Kölln, A.-K. 2015b. «The effects of membership decline on party organisations in Europe». European Journal of Political Research, 54 (4): 707-725. Lawson, K. org. 1980. Political Parties and Linkage: A Comparative Perspective, New Haven: Yale University Press. Lisi, M. 2011. Os Partidos Políticos em Portugal: Continuidade e Transformação. Coimbra: Almedina. Lisi, M. 2015. Party Change, Recent Democracies and Portugal. Comparative Perspectives. Lanham, MD: Lexington. Mair, P. 1997. Party System Change. Approaches and Interpretations. Oxford: Clarendon Press. Mair, P., e I. Van Biezen. 2001. «Party membership in twenty European democracies: 1980-2000. » Party Politics, 7 (1): 5-21. Martins, M. Meirinho. 2004. Participação Política e Democracia – O Caso Português (1975-2000). Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Norris, P. 2002. Democratic Phoenix: Reinventing Political Activism. Cambridge: Cambridge University Press. Pedersen, K., e J. Saglie. 2005. «New Technology in ageing parties. Internet use in Danish and Norwegian parties». Party Politics, 11 (3): 359-377. Poguntke, T., S. E. Scarrow, e P. Webb. 2016. «Party rules, party resources and the politics of parliamentary democracies: How parties organize in the 21st century». Party Politics, 22 (6): 661-678. Reif, K., R. Cayrol, e O. Niedermayer. 1980. «National political parties’ middle level elites and European integration». European Journal of Political Research, 8 (1): 91-112. Saglie, J., e K. Heidar. 2004. «Democracy within Norwegian political parties». Party Politics, 10 (4): 385-405. Sartori, G. 1976. Parties and Party Systems. A Framework for Analysis. Cambridge: Cambridge University Press. Scarrow, S. E. 2015. Beyond Party Members: Approaches to Partisan Mobilization. Oxford: Oxford University Press. Schattschneider, E. E. 1942. Party Government. Nova Iorque: Greenwood Press Reprint. Seiler, D.-L. 2000. Les Partis Politiques. Paris: Armand Colin. Seyd, P., e P. Whiteley. 1992. Labour’s Grass Roots: The Politics of Party Membership. Oxford: Clarendon Press. Seyd, P., e P. Whiteley. 2004. «British party members». Party Politics, 10 (4): 355-366. Stock, M. J. 1986. Os Partidos do Poder Dez Anos Depois do 25 de Abril. Évora: Universidade de Évora. Teixeira, M. da Conceição Pequito. 2009. Partidos Políticos e Recrutamento Parlamentar. Coimbra: Almedina. Teorell, J. 1999. «A deliberative defence of intra-party democracy». Party Politics, 5 (3): 363-382.. 26.

(27) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 27. Introdução Van Biezen, I., P. Mair, e T. Poguntke. 2012. «Going, going... gone? Party membership in the 21st century». European Journal of Political Research, 51 (1): 24-56. Van Biezen, I., e T. Poguntke. 2014. «The Decline of Membership-Based Politics.» Party Politics, 20 (2): 205-216. Van Haute, E. 2009. Adhérer à un parti: Aux sources de la participation politique. Bruxelas: Université Libre de Bruxelles. Van Haute, E., org. 2011. Party Membership in Europe: Exploration into the Anthills of Party Politics. Bruxelas: Editions de l’Université de Bruxelles. Van Haute, E., e A. Gauja. 2015. Party Members and Activists. Londres: Routledge. Van Haute, E., E. Paulis, e V. Sierens. 2017. «Assessing party membership figures: the MAPP dataset». European Political Science, doi: 10.1057/s41304-016-0098-z. Ware, A. 1996. Political Parties. Oxford: Oxford University Press. Weldon, S. 2006. «Downsize My Polity? The Impact of Size on Party Membership and Party Activism». Party Politics, 12 (4): 467-481.. 27.

(28) 00 Militantes Intro.qxp_Layout 1 23/05/17 18:00 Page 28.

(29) 01 Militantes Cap. 1.qxp_Layout 1 23/05/17 18:01 Page 29. Sérgio de Almeida Correia. Capítulo 1. A evolução da militância em Portugal: enquadramento legal e tendências longitudinais * Introdução Diversos autores sublinharam o papel que a cartelização representou na mudança da relação que os partidos mantinham com o Estado (Lawson 1980; Katz 1990; Mair 2003; Dalton, Farell, e McAllister 2011). Mair (2003) sublinhou, em consequência da maior interpenetração entre o Estado e os partidos políticos, a necessidade que aquele sentiu de intervir no seu modo de funcionamento e organização interna, de tal forma que num número crescente de países os partidos ficaram sujeitos a um quadro regulador que os aproximou ainda mais do Estado (2003, 281). Também Van Biezen e Kopceký (2007) referiram que a transformação da anterior ligação permanente dos partidos à sociedade se tornou temporária, passando a sua ligação ao Estado a ser permanente, o que enfatiza a simbiose entre os partidos e o Estado nas democracias contemporâneas (2007, 237). Outro autor, Karvonen (2007), chamou a atenção para o facto de esta intervenção ter vindo gradualmente a estender-se tendo deixado de ser exclusiva das democracias, estabelecidas ou novas, para se alargar a Estados semidemocráticos ou até mesmo a países que classifica como não-livres mas que teriam iniciado entretanto a marcha para a democracia. Poder-se-ia desse modo afirmar que a regulamentação jurídico-legal, sendo hoje um reflexo da referida interligação, se tornou na mais poderosa – Müller chama-lhe direta (1993, 421) – forma de intervenção do Estado nos partidos políticos, sendo ao mesmo tempo vista como um fator de legitimação dos partidos, conferida pela chancela estadual (Rashkova e Van Biezen 2014, 269), e um modo de influenciar o sistema de partidos (2014, * O texto original foi escrito sem respeitar o Acordo Ortográfico de 1990, posto em vigor em 13 de Maio de 2009.. 29.

(30) 01 Militantes Cap. 1.qxp_Layout 1 23/05/17 18:01 Page 30. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. 268), o que terá levado um autor como Katz (2002, 90) a questionar se as regulamentações estaduais não excedem hoje largamente aquilo que seria admissível em sociedade liberais. Falar de regulamentação jurídico-legal significa falar do direito dos partidos em sentido amplo, ou seja, de Party law, nesta se incluindo em termos gerais todo o conjunto de leis especificamente criadas para regularem a vida das organizações partidárias (Müller e Sieberer 2006). Para Katz (2004) serão três os objetivos básicos das Party laws: (i) definir que entidades podem ser reconhecidas como partidos, (ii) regular as atividades em que se podem envolver e (iii) balizar a respetiva organização e comportamento político. Na sugestiva terminologia de Svåsand (2014, 277), a Party law é a armadura crucial para a institucionalização dos partidos e o desenvolvimento de uma organização estável. Entre essas leis, que podem ir da regulação de aspetos organizativos, à composição, forma de escolha, estrutura, atividades e finanças, incluem-se as normas que dispõem sobre os termos do exercício da militância. Nem todos os países lhes conferem a mesma relevância variando esta em função da dignidade do texto onde se inserem, que por sua vez é aferida pela sua colocação na hierarquia da produção legislativa de cada ordem jurídica, havendo alguns que acolhem constitucionalmente a figura, outros que a ela se referem a propósito dos estatutos dos partidos, e ainda países que nada dizem. Este artigo centra-se no caso português e visa apresentar algumas notas sobre a evolução da militância em Portugal, quer numa perspetiva normativa, quer numa visão quantitativa, desde o momento do golpe militar de 25 de Abril de 1974, que conduziu ao derrube do regime autoritário anteriormente vigente, à instauração da democracia e ao reconhecimento dos partidos, até ao presente. A importância do caso português reside nas características únicas da sua regulamentação, que a colocam entre as mais completas de toda a Europa, contendo por isso mesmo um extenso rol de disposições que interessam à militância, e na circunstância de, tal como sucedeu na Finlândia e em Espanha, a regulação dos partidos ser anterior ao respetivo acolhimento constitucional. São poucos os trabalhos de fundo existentes em Portugal sobre a militância. Para além de alguns estudos especificamente dirigidos a partidos individualizados, a maioria dos realizados abordam-na lateralmente e inserida em análises sobre os partidos. Em regra, corresponderam a visões gerais sobre estes, sua génese e consagração no sistema jurídico-constitucional (Sousa 1983), à apresentação da evolução do sistema de partidos no regime democrático (Stock 1985), a visões comparativas conduzidas por investigadores estrangeiros face ao vizinho espanhol (Van Biezen 30.

(31) 01 Militantes Cap. 1.qxp_Layout 1 23/05/17 18:01 Page 31. A evolução da militância em Portugal. 1998), no contexto de outros países da Europa (Mair e Van Biezen 2001) ou, ainda, referidas ao grupo particular da Europa do Sul (Van Biezen e Bértoa 2014). Sobre as oportunidades de intervenção dos militantes no quadro estatutário face aos princípios constitucionalmente definidos debruçou-se Ana Maria Belchior (2008). Carlos Jalali, num trabalho sobre o comportamento eleitoral, também apresentou uma tabela de taxas de filiação para os eleitores partidários entre 1976 e 1999 (2003) e os números da militância numa análise sobre o PSD (2006, 371). Outros trabalhos sobre os partidos focaram-se no recrutamento do pessoal dirigente (Coelho 2014) e no recrutamento parlamentar (Teixeira 2009), bem como na génese do sistema de partidos, na extensão e na natureza do apoio popular, e, ainda, nas atitudes dos cidadãos em relação a estes (Teixeira 2011; Teixeira e Pereira 2011). Meirinho Martins (2004) compilou alguns dados atinentes à militância em Portugal no contexto de um trabalho sobre a participação na democracia portuguesa. Mais recentemente, Marco Lisi (2011) abordou a evolução da militância no período democrático e as mudanças quantitativas e qualitativas operadas nos perfis dos militantes. Com base em dados estatísticos disponibilizados pelos partidos e pela imprensa, Paula do Espírito Santo (2011, 151-154) apresentou as principais tendências sociodemográficas dos filiados dos maiores partidos e uma evolução do seu número para o período 1974 a 2010. Casal Bértoa tem em fase de ultimação um desenvolvido artigo sobre a regulação partidária em Portugal, onde regista alguns aspetos do regime legal (2014). Alguns outros trabalhos foram realizados com base em inquéritos que visaram a obtenção de dados de natureza quantitativa para contabilização dos efetivos, apurar razões de adesão, perfil dos militantes, idades, profissões, qualificações e tempo consagrado ao partido, mas ainda aguardam adequado tratamento. Este capítulo procura colocar em destaque a militância, pelo que procederemos num primeiro momento ao seu enquadramento constitucional, regulamentar e estatutário na legislação portuguesa. Seguidamente apresentaremos os números da evolução da militância e as conclusões que se podem extrair da análise realizada.. Terminologia e metodologia Atenta a diversidade de situações e de realidades que alguns termos abarcam, bem como o diferente sentido que quer autores, quer textos legais e partidários lhes atribuem (Bennie 2013; Došek 2014, 16), importa clarificar o sentido dos que serão utilizados, assim como a metodologia que irá ser aqui seguida. 31.

(32) 01 Militantes Cap. 1.qxp_Layout 1 23/05/17 18:01 Page 32. Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos. Temos hoje menos dúvidas quanto à necessidade de se avançar com uma clarificação dos termos utilizados no estudo da militância. As distinções têm cabimento e este entendimento surge reforçado a partir do momento em que alguns partidos e os seus próprios membros assinalam e reconhecem a diferença de estatutos que corresponde a cada termo (Combes 2011, 122-124). A título de exemplo refira-se que quando se recolheram os dados de análise relativos aos comícios de encerramento de campanhas eleitorais no México, ouvidos os participantes do encontro promovido pelo PAN (Partido Acción Nacional) verificou-se uma diversificação de perfis dos membros do partido: «Os participantes têm um perfil militante mais diversificado: há mais simpatizantes que no caso do PRI e mais gente se define como participantes da campanha. Outros dizem-se aderentes ou militantes e essa diversidade provém do próprio funcionamento interno do PAN, partido que, até à sua vitória para a Presidência da República em 2000, favoreceu um acesso seletivo ao estatuto de militante, ao contrário de um partido de massas através de uma verdadeira formação militante. Um militante que ingressou no PAN em 1993, jardineiro independente em Cuernavaca, explica-nos: «Vamos por partes. Primeiro vai-se às práticas, posteriormente nomeiam-te militante. Mas antes eras um aderente: aderente, dizem-to as regras do partido, se as vais acatar ou não... É a primeira coisa que te dizem aqui: a doutrina do Acção Nacional é que estamos aqui para servir. Assim é, essa é a diferença entre o militante e o aderente. Posteriormente indicam as obrigações que há que cumprir [...]» [Combes 2011, 122].. Assim, na esteira da definição de Heidar (2006, 301), entendemos que militante é todo o indivíduo que obtém aprovação no processo formal voluntário de adesão a um partido político e que, sendo admitido como membro dessa organização, adquire um conjunto de direitos e de deveres que conformam o respetivo estatuto. Esta definição corresponde à noção tradicional de filiado, termo sinónimo daquele e que não sendo para nós passível de confusão com a figura do aderente deverá ser mantida. O termo «aderente» é muitas vezes utilizado como sinónimo de militante,1 mas é em nosso entender suscetível de confusão 2 e corresponde a um estatuto diferente. Para este efeito, e distinguindo-o da definição anterior, aderente é todo o indivíduo que, considerando preenchidos os 1. Sobre as diferenças de significado dos termos ver Tomáš Došek (2014). Já anteriormente entre nós se escrevera que «[e]m termos práticos, as noções de aderente e militante acabam por confundir-se no vocabulário político e politológico corrente» (Espírito Santo 2011, 147). E Bennie (2013) fala mesmo em confusão linguística e conceptual entre os vários termos que definem a participação partidária. 2. 32.

(33) 01 Militantes Cap. 1.qxp_Layout 1 23/05/17 18:01 Page 33. A evolução da militância em Portugal. requisitos de admissibilidade exigidos pelo partido político com que se identifica, pede a respetiva adesão mediante a subscrição de um formulário ou manifestação expressa de vontade de adesão a esse partido político. A aprovação da adesão pelos órgãos competentes do partido investilo-á no estatuto de militante. Nesta perspetiva, o aderente tem sempre um estatuto transitório, destinado a desaparecer com a aceitação do pedido de adesão ou com a sua rejeição. Das figuras anteriores destaca-se o simpatizante que, como decorre do significado comum do termo, se trata de alguém que não possui qualquer vínculo ao partido e não formalizou qualquer pedido de adesão. Recentemente, designadamente por via da introdução das eleições primárias para a escolha dos líderes, essa figura tem vindo a adquirir crescente saliência, passando-se a reconhecer a existência de uma ligação formal do simpatizante ao partido, embora de natureza diferente dos anteriores vínculos, de efeitos limitados, mas já constando de listas próprias dos partidos para efeitos eleitorais. Posto isto, optou-se por se efetuar uma análise em duas fases em função dos objetivos acima traçados. Na primeira fase, percorreu-se a legislação vigente desde 25 de Abril de 1974 atinente aos partidos políticos, de maneira a obter-se uma perspetiva cronológica e material do que foi produzido em termos legislativos, procurando-se encontrar nos diversos textos o que de pertinente existe sobre a militância, designadamente previsões e eventuais remissões na Constituição (CRP) e na Lei dos Partidos (LPP). Num segundo momento, averiguou-se o que existe nos documentos a que se teve acesso – por pesquisa direta ou disponibilizados pelos próprios partidos. Concluída esta fase passou-se a uma segunda que visou atualizar os números em termos de efetivos totais, procurando ver a sua evolução ao longo do tempo e aproveitando os números que foram sendo colhidos por quem nos precedeu. A recolha quantitativa circunscreveu-se aos partidos com representação parlamentar, com exceção do Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV). A exclusão prende-se a duas ordens de razões: (i) não foram encontrados dados publicados disponíveis sobre a sua militância, nem este partido respondeu às solicitações realizadas por escrito para a sua obtenção; (ii) o PEV nunca se apresentou a eleições sozinho, desconhecendo-se qual o seu peso eleitoral.. O enquadramento constitucional da militância Alguns constitucionalistas têm chamado a atenção para a análise de Triepel, segundo a qual as relações entre o Estado e os partidos atravessaram quatro fases. As três primeiras corresponderam a períodos de hostilidade 33.

Imagem

Figura 2.1 – Evolução da densidade da filiação (números absolutos),                     2000-2014
Figura 2.3 – Classificação da resposta dos partidos políticos Resposta da organização partidária
Figura 5.3 – Diferenças entre as posições dos filiados face a questões                     socioculturais

Referências

Documentos relacionados

A tem á tica dos jornais mudou com o progresso social e é cada vez maior a variação de assuntos con- sumidos pelo homem, o que conduz também à especialização dos jor- nais,

Na busca de uma resposta ao problema, que teve como questão norteadora desta pesquisa, levantamento dos gastos e despesas nos atendimentos realizados e identificar qual o custo que

SOLOS E MANEJO FLORESTAL – Eucalyptus spp Responsável pelo desenvolvimento de estratégias de conservação de solos e manejo florestal para todas as áreas de eucalipto plantadas

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

A prevalência global de enteroparasitoses foi de 36,6% (34 crianças com resultado positivo para um ou mais parasitos), ocorrendo quatro casos de biparasitismo, sendo que ,em

Analisando os cinco tópicos da primeira aprendizagem, aprender a conhecer, que é um dos tentáculos da educação superior, em especial no curso de Administração da UNESC,

A par disso, analisa-se o papel da tecnologia dentro da escola, o potencial dos recursos tecnológicos como instrumento de trabalho articulado ao desenvolvimento do currículo, e

3 O presente artigo tem como objetivo expor as melhorias nas praticas e ferramentas de recrutamento e seleção, visando explorar o capital intelectual para