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O BE nasceu na Assembleia Fundadora de 28 de fevereiro de 1999 e viu autorizada pelo Tribunal Constitucional (TC) a sua inscrição como partido político a 24 de março de 1999,17e ainda nesse mesmo ano con-

correu a dois atos eleitorais, as eleições europeias decorridas em junho e

as legislativas de outubro, tendo nas últimas conseguido uma represen- tação parlamentar de 2 deputados com um resultado de 2,46%. Quando realizou a sua primeira Convenção Nacional, no final de janeiro de 2000, já o partido ocupava lugar na Assembleia da República. Assim, a sua I Convenção serviu basicamente para aprovar os estatutos definitivos, já que os provisórios entregues no TC previam a realização da Convenção até um ano após a legalização do partido.18Nesta reunião, para além da

aprovação dos estatutos, foi apresentada e aprovada a Resolução Política intitulada «Novos Tempos, Nova Esquerda» da autoria da Comissão Pro- motora eleita na Assembleia Fundadora. Este documento estava orien- tado para uma «apatia» organizacional, onde a preocupação com a filia- ção não existia, apenas estando latentes preocupações de natureza organizativa que consistiam em «privilegiar o papel do ativismo político e social não profissionalizado» e a indicação de que o partido teria «ati- vistas profissionalizados na equipa central» e que estes deveriam «estar em minoria nos Órgãos de decisão». Ou seja, a preocupação era em or- ganizar e manter o equilíbrio de poderes dentro do partido.

No entanto, as outras convenções que se seguiram, mais oito, todas elas observaram nos documentos finais aprovados uma orientação para a «consolidação» organizacional. Poder-se-á afirmar que tal não constitui uma surpresa para um partido que acaba de nascer e que logo no seu se- gundo documento aprovado o texto não deixava dúvidas para o futuro: «O aumento do número de aderentes ao Bloco é fundamental para o crescimento desta esquerda, para a maturação da capacidade de alterna- tiva e para o reforço da movimentação social.»19Esta posição era também

18Nos estatutos provisórios entregues no TC a designação é «movimento», pois o BE

sempre se assumiu como um movimento e não como um partido político (instituição que não consideravam adequada para representar os interesses dos cidadãos), no entanto e devido às exigências do normativo legal, o termo «partido» teve de ser obrigatoriamente incluído (para mais, consultar Lisi 2009b, 132-133).

Quadro 2.3 – Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem dos documentos analisados)

Partido Documentos Apatia Consolidação Inovação BE 9 1 (11,1%) 8 (88,9%) CDS-PP 9 5 (55,6%) 2 (22,3%) 2 (22,2%) PCP 4 4 (100%) PS 9 9 (100%) PSD 13 9 (66,7%) 4 (33,3%) Total 44 15 (34,1%) 14 (31,8%) 15 (34,1%) Média % 27,2% 42,2% 30,6%

reveladora do crescimento que o BE estava a experimentar, pois embora não estivesse no governo viu muitas das suas exigências serem satisfeitas, já que durante a legislatura do XIV Governo Constitucional, o BE utili- zou a sua posição para negociar diversas exigências, fazendo assim que muitas delas fossem atendidas.20 Porém, a II Convenção21 era clara

quanto à forma como os filiados22obtinham os seus direitos de partici-

pação e que, apesar da génese do BE e do discurso que tinha sido pro- palado, as regras de participação não eram assim tão distintas dos outros partidos políticos, onde a eleição dos 622 delegados à Convenção tinha sido realizada mediante votação em 31 assembleias eleitorais «de acordo com cadernos eleitorais elaborados centralmente onde constavam todos os inscritos no Bloco, ganhando cada um dos aderentes capacidade elei- toral cativa após ter sido cumprida a exigência estatutária do pagamento da contribuição anual».23

Após obter nas eleições autárquicas de 2001 um resultado assinalável24

e de ver reforçada nas eleições legislativas de 2002 a sua posição na As- sembleia da República, passando de 2 para 3 deputados, o BE realizou a sua III Convenção. O partido contava em 2003 com 5035 filiados, um crescimento extraordinário tendo em conta que em 2000 o número de- clarado era de 1000 filiados. Foi em 2003 que surgiram pela primeira vez duas listas candidatas aos órgãos, espelho das divisões internas que o par- tido experimentava. Nesta convenção foi dada uma atenção especial, ainda que num quadro de «consolidação», para a qualidade da filiação: «reforço do papel das assembleias e coordenadoras distritais, para pode- rem ser base da democracia, da informação de proximidade e da partici- pação direta dos aderentes nos debates e nas decisões, e dos grupos de trabalho que auto-organizam os aderentes para determinadas atividades e para interesses específicos».25

Este discurso manteve-se. Apelava sobretudo ao diálogo e à necessi- dade de crescer. Esta necessidade desembocou no reforço das competên-

19Moção «Para a clarificação política do país».

20Durante a legislatura do XIV Governo Constitucional, o BE ajudou o governo de

António Guterres na aprovação de diversas leis tendo, em contrapartida, influenciado a agenda política (para mais, consultar Freire e Lobo 2002, 226).

21Esta Convenção já foi realizada com os dados dos membros centralizados numa

base de dados criada em 2001 para melhorar a comunicação.

22No caso do BE o termo aplicado é «aderente».

23Acta do II Congresso presente no Processo n.º 37-PP do TC.

24O BE candidatou-se a 70 concelhos e conseguiu 6 mandatos (a presidência em maio-

ria absoluta da câmara de Salvaterra de Magos).

cias das assembleias e das coordenadoras distritais, e aquando da sua IV Convenção, em maio de 2005, após um resultado de 4,92% nas elei- ções europeias de 2004 que se traduziu na eleição de um deputado e de um resultado nas legislativas de 2005 que quase triplicou a sua presença no Parlamento, passando a deter 8 lugares, o desígnio mantinha-se e pas- sava por «criar uma nova cultura de organização, uma estrutura de tra- balho descentralizada e eficiente que responda à participação de milhares de aderentes, como reforço das estruturas distritais e concelhias demo- craticamente eleitas, que respondam à participação de milhares de ade - rentes».26Ainda nesta convenção foi aprovada a constituição de um novo

órgão, a Comissão Política, eleita pela Mesa Nacional, a qual teria um coordenador, na prática o líder do partido. De referir que entre as duas convenções e de forma a responder às exigências da III Convenção, o BE criou uma publicação mensal – o Esquerda – e apostou nas ferramen- tas de comunicação via internet. Tais ações não refletiram a tendência de crescimento na filiação que até aqui se verificava, tendo apesar de tudo crescido nos números, apresentando em 2005 5200 membros. A V Convenção decorreu em junho de 2007 e, apesar do bom resultado no refendo ao aborto,27a reunião magna do BE decorreu num ambiente

pautado pela fragmentação e pela crítica ao funcionamento interno da organização (concorreram quatro listas aos órgãos) e na moção política aprovada era notória a mensagem de apelo ao crescimento, mas sempre com a condição de filiado inscrita: «O Bloco deve estar aberto a milhares de aderentes, que sejam parte importante da parte ativa dessa força social, e é assim que se alargará e rejuvenescerá.»28Neste ano os números de

membros continuavam em crescente, e o BE tinha chegado aos 7000 membros.

A VI Convenção realizou-se em 2009 e o BE continuou a apresentar um crescimento, embora menor, nos números da filiação: detinha agora 7350 membros. Esta convenção antecedia três atos eleitorais, as Europeias em junho, as Legislativas em setembro e as Autárquicas em outubro. Por- tanto a preparação dos atos eleitorais foi o assunto dominante da Con- venção. A «consolidação» continuou a ser o caminho escolhido onde se reforçava a necessidade de continuar a realizar a organização de «mais aderentes e melhor[ar] os instrumentos de informação, de debate e de formação»29porque o BE necessitava «de ter muitos mais protagonistas

26Moção «O Bloco como Alternativa Socialista».

27O BE defendia o «Sim» que acabou por vencer com 59,24% dos votos.

28Moção «A Esquerda Socialista como Alternativa ao Governo Sócrates».

da luta social e de mais capacidade de ação em movimentos, através dos seus eleitos, através dos coletivos concelhios e distritais e da intervenção juvenil».30O resultado dos três atos eleitorais de 2009 foi favorável às as-

pirações desta organização partidária. Nas Europeias conseguiu eleger três deputados, nas legislativas tornou-se no quarto partido mais votado com 9,82% e 16 deputados, já nas autárquicas atingiu os nove mandatos com uma presidência de câmara em maioria. Tais resultados não se tor- naram o foco da VII Convenção que se realizou em maio de 2011, pois, o BE juntamente com os outros partidos representados na Assembleia da República (CDS, PCP, PEV e PSD) tinham chumbado o PEC 4, o que levou à demissão em março desse ano do governo minoritário de José Sócrates. A organização contava agora com 8311 membros confir- mando a sua tendência de crescimento. Pela primeira vez surge nos do- cumentos a expressão «partido de massas»: a moção aprovada nesta Con- venção continua a apelar a uma estratégia de «consolidação» onde «só um movimento com muitos milhares de ativistas e dirigentes, capazes de animar uma campanha, de se candidatar a uma eleição, de organizar uma luta social, de apresentar proposta política, de estimular uma direção coletiva a todos os níveis, só com essa força será possível construir um partido de massas».31

A VIII Convenção teve lugar em novembro de 2012, e o partido apre- sentou pela primeira vez uma descida no seu número de filiados, ci- frando-se na altura pelos 8025, descida que não será imune ao resultado eleitoral obtido pelo BE no qual perdeu 8 deputados. Esta Convenção ficou marcada, com a eleição de João Semedo e de Catarina Martins, pela inauguração de uma liderança bicéfala que tinha sido proposta por Francisco Louçã na hora da sua despedida,32o que provocou uma lista

que se opunha a este cenário. Na moção aprovada na Convenção, o ca- minho apontado continua a passar pela «consolidação», apela-se aos re- cursos tradicionais das organizações auxiliares onde se pretende recrutar mais membros:

[...] impõe-se maior empenho coletivo e individual, respeitando sempre a autonomia dos movimentos. No movimento das comissões de trabalha- dores (CT), aponta-se para a necessidade de uma rede nacional de CT. No sindical, que mais ativistas se candidatem a dirigentes e a delegado/as sindi-

30Ver a nota 28.

31Moção «Juntar forças pelo emprego e contra a bancarrota».

cais. Incentivaremos a participação ativa e intervenção política dos/as ade- rentes na constituição destas redes, determinante para o alargamento do Bloco como partido de massas.33

Na última convenção sob análise, a IX, que decorreu nos dias 22 e 23 de novembro de 2014, o partido voltou a apresentar um crescimento nos seus números de filiados, apresentando 9264 membros. Nesta IX Con- venção a Mesa Nacional realiza, pela primeira vez, um relatório34no

qual faz uma resenha das atividades realizadas e indica o crescimento de 1239 no número de militantes. Na moção aprovada a estratégia organi- zacional continuou a ser a de «consolidação», onde se apela ao cresci- mento da organização através do recrutamento de mais membros:

O Bloco continua a ter pouca implantação local e autárquica. Tem hoje centenas de eleitos locais, mas organizações com níveis desiguais de estrutu- ração. [...] É necessário corrigir o desequilíbrio de género na base do Bloco, estudando formas de aumentar a filiação de mulheres, bem como modos de organização (horários das reuniões, guarda das crianças, etc.) e integra - ção de novas militantes.35