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Bambus nativos do Brasil : panorama das iniciativas para uma cadeia produtiva integrada à conservação

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

ALINE LOPES E LIMA

BAMBUS NATIVOS DO BRASIL: PANORAMA DAS INICIATIVAS PARA UMA CADEIA PRODUTIVA INTEGRADA À CONSERVAÇÃO

CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

ALINE LOPES E LIMA

BAMBUS NATIVOS DO BRASIL: PANORAMA DAS INICIATIVAS PARA UMA CADEIA PRODUTIVA INTEGRADA À CONSERVAÇÃO

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutora em Ambiente e Sociedade na área de Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação

Orientadora: Dra. Cristiana Simão Seixas Coorientador: Prof. Dr. Carlos Alfredo Joly

ESTEEXEMPLARCORRESPONDEÀVERSÃOFINAL DATESEDEFENDIDAPELAALUNAALINELOPESE LIMA,EORIENTADAPELAPROFA.DRA.CRISTIANA SIMÃOSEIXAS

CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 24 de junho de 2019, considerou a candidata Aline Lopes e Lima aprovada.

Profa Dra Cristiana Simão Seixas

Profa Dra Rosely Alvim Sanches

Profa Dra Maíra de Campos Gorgulho Padgurschi

Prof Dr Rodrigo Rodrigues de Freitas

Profa Dra Aline Vieira de Carvalho

A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Teses e na Secretaria do Programa de Doutorado em Ambiente e Sociedade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

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DEDICATÓRIA

Dedico à paz entre todos os seres. Ao Danilo, meu irmão, com amor infinito. Ao Professor Tarciso Filgueiras, com gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Especial agradecimento a todos os participantes que solícita e gentilmente contribuíram e tornaram possível esta pesquisa. Que possamos empenhar ações para integrar a conservação da biodiversidade ao desenvolvimento humano.

À CAPES pela bolsa de doutorado, à Faepex (N°1222/15) e Fapesp (Processo N°2015/1919439-8) pelos auxílios de campo de 2015 a 2017. “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES – Código de Financiamento 001”.

Aos meus orientadores Cristiana Simão Seixas e Carlos Alfredo Joly e ao CG Commons, em especial: Deborah S. Prado, Marta da Graça Simbine, Alice R. Moraes, Rafael E. Ummus, Leandra Gonçalves, Ana Carolina E. Dias, Camila Islas que ajudaram com suas imensas luzes de sabedoria por todo o processo da pesquisa e leitura crítica dos textos finais e da qualificação. Agradeço por toda compreensão e apoio. À Fernanda Watanabe pelo interesse em fazer sua iniciação científica no tema.

Aos professores participantes do processo de qualificação, pré-banca e banca: Dra. Giovanna G. Fagundes, Dr. Maurício Bonesso Sampaio, Dra. Maíra de Campos Gorgulho Padgurschi, Dra. Rosely Alvim Sanches, Dr. Rodrigo Rodrigues de Freitas, Profa. Dra. Aline Vieira de Carvalho, Profa. Dra. Simone Aparecida Vieira, Prof. Dr. Roberto Luiz do Carmo e Dra. Juliana Sampaio Farinaci. Ao Prof. Dr. Tarciso S. Filgueiras e Regina T. Shirasuna por toda a contribuição e identificação botânica. À Dona Marlene, Carol Firmino e todos que me receberam tão cordialmente em Rio Branco, Assis Brasil e Brasiléia/AC.

Professores e funcionários da Unicamp, em especial: Dr. Diego Ivan C. Riquelme, Profa. Dra. Sonia Cal Seixas, Profa. Dra. Leila C. Ferreira, Profa. Dra. Célia Futemma, Márcia Regina Goulart, Waldinei Araujo, Adreilde de Souza e todos funcionários do NEPAM e IFCH. Aos meus amigos de turma (2014), em especial Mayara Martins e Isabela Frederico.

Agradeço e dedico este trabalho aos meus irmãos e suas famílias: Danilo Lopes Correia e Lima, Joseane Oliveira, Laís, Bruna Lopes e Lima, Marcos Chabes, Olivia e Paulo, Isabela C. Lima. Aos meus pais Márcia Regina, Reginaldo, meu marido Aldo Barreto Nogueira, meus sogros Dona Celina e Dr. José Lelis (Djey) e todos os familiares. Agradeço a(os) amig@s de tantos Cantos pelo apoio e carinho nos momentos mais difíceis. Agradeço mais uma vez ao Aldo pelas contribuições, por toda a paciência e companheirismo ilimitado, à Bru e ao Marcos, ao Djey e à Cela por todo apoio e participação quando estive em campo.

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“A mudança mental em curso nas relações humanas com a Terra e seus limites oferece oportunidades emocionantes para o desenvolvimento da sociedade em colaboração com a biosfera - uma agenda global de sustentabilidade para a humanidade (...) Esta é uma situação nova e exige novas perspectivas e paradigmas no desenvolvimento humano e no progresso - reconectando-se à biosfera e tornando-se cuidadores-protetores ativos do Sistema Terrestre como um todo. (...) O desafio de se reconectar à biosfera deve ser central nos esforços direcionados aos povos e lugares vulneráveis, à insegurança alimentar, à pobreza, aos meios de subsistência sustentáveis, à desigualdade, às relações de poder, aos conflitos, ao Estado de Direito, aos processos políticos de estabilidade e de democratização. Uma parte significativa deste desafio é tornar o trabalho da biosfera visível na sociedade, nas ações humanas e nas transações financeiras e econômicas".

“(…) The ongoing mind shift in human relations with Earth and its boundaries provides exciting opportunities for societal development in collaboration with the biosphere—a global sustainability agenda for humanity (...) This is a new situation and it calls for new perspectives and paradigms on human development and progress—reconnecting to the biosphere and becoming active stewards of the Earth System as a whole. (…) The challenge of reconnecting to the biosphere should be central in efforts addressing vulnerable peoples and places, food insecurity, poverty, sustainable livelihoods, inequality, power relations, conflicts, the rule of law, political (in)stability and democratization processes (…) A significant part of this challenge is to make the work of the biosphere visible in society, in human actions and in financial and economic transactions”.

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RESUMO

Bambus nativos do Brasil: panorama das iniciativas para uma cadeia produtiva integrada à conservação (Aprovação pelo Comitê de Ética: Número do CAAE: 2- 44632115.0.0000.5404)

No Brasil, políticas e incentivos para consolidar uma Cadeia Produtiva (CP) baseada em bambus têm sido criados visando inserções no mercado global. O país possui a maior riqueza de espécies e de endemismos de Bambusoideae das Américas, além de diversidade sociocultural que conferem oportunidades ao desenvolvimento socioeconômico alinhado à conservação da biodiversidade e dos ecossistemas de origem. Por meio do estudo das iniciativas relacionadas aos bambus nativos, esta pesquisa busca compreender quais fatores do recurso, do sistema de recursos e sociais favorecem ou limitam o desenvolvimento de CPs atreladas à conservação. As iniciativas que trabalham com bambus nativos e os principais fatores condicionantes para a atuação foram identificados e caracterizados em nível nacional a partir de levantamento de dados secundários, da cadeia de referência e de entrevistas semiestruturadas entre 2014 e 2016. Um estudo de caso foi desenvolvido em 2016 no Acre em função da diversidade de arranjos multissetoriais para o uso dos bambus amazônicos, Guadua spp. Foram identificadas 222 iniciativas no setor produtivo e de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que além do Estado do Acre se concentram nas regiões Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo, e Sul. O aproveitamento de espécies lenhosas ocorre em todas as regiões, predominantemente de forma artesanal e informal. Os usos e serviços levantados demonstram potencial para articular CPs com vista à Conservação e Desenvolvimento Integrados (CDI). No Acre, 23 iniciativas foram identificadas em relação aos objetivos, áreas, atores e formas de manejo. De forma geral, os principais fatores favoráveis às iniciativas foram: a) o estabelecimento de arranjos institucionais inovadores; b) interesse e apoio do Governo do Estado; c) experiência prévia em CPs de recursos nativos; d) motivação pessoal; e) oportunidade para reduzir lacunas do conhecimento; f) política pública nacional e estadual específica para bambu; e g) processos descomplicados para obtenção de registros e/ou autorizações para produção, extração e beneficiamento das espécies. Dentre os fatores limitantes, contrapondo-se em parte aos favoráveis, destacaram-se: a) falta de financiamento; b) projetos e ações pontuais de curta duração (descontinuidade); c) ausência ou pouco apoio ou incentivos do governo; d) pouco conhecimento agrotecnológico sobre bambus nativos e exóticos nos ecossistemas brasileiros; e) falta de valorização do recurso pela sociedade; f) restrições legais (burocracias) e operacionais (dificuldade de acesso) para autorizações para produção, extração e beneficiamento das espécies nativas; g) falta de clareza sobre normas relacionada a flora nativa; e h) deficiência em regulamentações e operação dos órgãos ambientais. As iniciativas com incentivos político-econômicos demonstram capacidade de interagir com organizações de diferentes níveis, maior apoio governamental federal e estadual e parcerias internacionais, e esforço à consolidação de uma CP industrial voltada à exportação. A análise de atores e relações sociais das iniciativas permitiu a identificação das falhas e potencialidades para as articulações iniciais a serem escalonadas às CPs voltadas à CDI. Atores centrais e intermediadores favorecem interações tanto com o nível internacional para financiamentos e pesquisas como com o nível local, para o estímulo da manufatura e o comércio. Há, contudo, um menor protagonismo dos atores locais, que estruturam em maior número a rede das iniciativas, e dos segmentos socioambientais e da conservação, que apresentam perspectivas, informações e possibilidades diferenciadas, inclusive tecnológicas e de agregação de valor à produção.

Palavras chave: Sistemas Socioecológicos; Recursos Comuns; Extrativismo; Produtos Florestais Não

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ABSTRACT

Brazilian native bamboos: overview of initiatives for a supply chain integrating conservation and development Specific policies and incentives to consolidate a Supply Chain (SC) based on bamboos have been created in Brazil aiming at new insertions in the global market. The country has the greatest species richness and endemism of bamboos in the Americas, as well as sociocultural diversity that provide opportunities for socioeconomic development aligned with conservation of native biodiversity and ecosystems. Through the study of initiatives related to Brazilian native bamboos, this research seeks to understand which factors favor or limit the development of SCs linked to biodiversity conservation. The initiatives and their main conditioning factors were identified and characterized at the national level from an assessment of secondary data, reference chain survey (snowball method) and semi-structured interviews, conducted from 2014 to 2016. For regional and local level evaluation, a case study was developed in Acre in 2016, due to the occurrence of long-term multisector arrangements focusing on Amazonian tabocas (Guadua spp.). At the national level, 222 initiatives were identified in the productive sector and in research, development and innovation, concentrated mainly in the State of Acre, and in the Southeast and South regions. The use of woody species occurs all over the country, and is predominantly artisanal, informal or community-based. The uses and services assessed show potential for a SC of native bamboos for Integrating Conservation and Development (ICD). In Acre, 23 initiatives were categorized by their objectives, areas, actors and management practices. In general, the main factors favoring initiatives included: a) innovative institutional arrangements; b) interest and support by the state government of Acre; c) previous experience in SC of native resources; d) personal motivation; e) opportunity to reduce knowledge gaps f) national and state public policy specific to bamboo; and g) uncomplicated processes to obtain licenses and authorizations for the production, extraction and processing of bamboo species. The factors that constrained the initiatives included: a) lack of funding; b) short-term actions and projects (discontinuity); c) absence or little support or incentives by government; d)little agro-technological knowledge on native and exotic bamboos in Brazilian tropical ecosystems; e) native bamboos not being valued by society, f) legal restriction (bureaucracy) and operational restrictions (access difficulties) to apply for authorizations for production, extraction and processing of native species; g) lack of clarity about norms related to native flora; and f) deficiency in regulations and operation of environmental agencies. Those with greater political-economic incentives were capable of interacting with political and economic institutions at different levels and were distinguished by greater support from federal, state and international partnerships and by the effort to consolidate an export-oriented industrial SC. The analysis of actors and social relations of the initiatives allowed for identification of flaws and potentialities for articulating initial arrangements to be scaled up to SCs focused on ICD. Central actors and brokers favor institutional arrangements at the international level for funding and research, and at the local level, stimulate manufacturing and market. In general, there is less protagonism of local actors, who structure in large number the social network of initiatives working with bamboos, and of actors from socio-environmental and conservational sectors, who bring different perspectives, information and possibilities, including technological and value-added production.

Keywords: Social-Ecological Systems; Common-Pool Resources; Harvesting; Non Wood Forest Products

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Escalas, níveis e tipo de relações comumente utilizadas nos estudos de sistemas socioecológicos...43

Figura 2. Processo de auto-organização em iniciativas reconhecidas de Conservação e Desenvolvimento Integrados...48

Figura 3. Principais setores de atuação e regiões de localização das iniciativas com atividades relacionadas aos bambus nativos...91

Figura 4. Distribuição por Estados e regiões das iniciativas localizadas no Brasil com atividades relacionadas aos bambus nativos...92

Figura 5. Distribuição das iniciativas com atividades relacionadas aos bambus nativos confirmadas e localizadas em território nacional...93

Figura 6. Principais fases e setores de 45 iniciativas, cujos representantes foram entrevistados...94

Figura 7. Estrutura principal das iniciativas com atuação em bambus nativos...97

Figura 8. Principais segmentos de atuação das iniciativas que trabalham com bambus nativos...101

Figura 9. Início dos trabalhos das iniciativas entrevistadas do levantamento nacional...101

Figura 10. Cadeia produtiva conceitual potencial dos bambus nativos lenhosos integrada à conservação da biodiversidade...150

Figura 11. Cadeia produtiva conceitual em potencial dos bambus nativos herbáceos integrada à conservação da biodiversidade...151

Figura 12. Agrupamento geral dos fatores condicionantes emergentes das iniciativas...167

Figura 13. Problemáticas emergentes das iniciativas como desafios comuns a serem endereçados para a gestão de bambus e outros PFNM da flora nativa visando à Conservação e Desenvolvimento Integrados...209

Figura 14. Nível e estrutura de atuação dos atores envolvidos nas iniciativas e na rede social dos bambus nativos...238

Figura 15. Tipo de relações estabelecidas entre os atores envolvidos nas iniciativas...239

Figura 16. Rede social dos atores das iniciativas relacionadas aos bambus nativos...244

Figura 17. Rede social dos atores das iniciativas com destaque ao estado temporal das relações...246

Figura 18. Esquema ilustrativo do escalonamento das ações para o uso e conservação dos bambus nativos ao longo dos anos no Acre...247

Figura 19. Rede social dos atores das iniciativas acreanas relacionadas aos bambus nativos...250

Figura 20. Esquema simplificado das relações entre os atores sociais das iniciativas produtivas de bambus nativos no Acre...251

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Métricas estruturais, conceitos e referências utilizadas nas análises das redes sociais dos bambus nativos...81 Quadro 2. Iniciativas por categoria de atuação em conservação e desenvolvimento...101 Quadro 3. Percepção dos riscos da implementação da cadeia produtiva do bambu pelos entrevistados no Acre

...144 Quadro 4. Órgãos financiadores identificados nas iniciativas acreanas...252

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Informações sobre o esforço de pesquisa e participantes do estudo de caso realizado no Acre entre

outubro e dezembro de 2016...72

Tabela 2. Perfil das principais organizações envolvidas nas iniciativas confirmadas do levantamento nacional por setor...97

Tabela 3. Objetivos emergentes das iniciativas entrevistadas...98

Tabela 4. Lista das espécies de bambus nativos e principais atividades relacionadas às iniciativas entrevistadas do setor produtivo no levantamento nacional...115

Tabela 5. Lista das espécies de bambus nativos e principais atividades relacionadas às iniciativas de PD&I entrevistadas no levantamento nacional...116

Tabela 6. Nomes populares e científicos dos bambus nativos e exóticos relacionados às iniciativas produtivas e de PD&I do Acre. ...126

Tabela 7. Principais formas de uso dos bambus nativos identificados durante o estudo de caso no Acre...127

Tabela 8. Aspectos da apropriação do sistema de produção voltado ao mercado e às comunidades locais e dos atores sociais identificados no Acre (baseado em Borrini-Feyerabend et al., 2004)...131

Tabela 9. Conhecimento dos entrevistados no Acre sobre aspectos de provisão dos bambus nativos...143

Tabela 10. Atividades de conservação, recuperação ou restauração identificadas nas iniciativas levantadas em nível nacional...148

Tabela 11. Fatores favoráveis às iniciativas a partir do recurso e sistema de recurso...168

Tabela 12. Fatores limitantes às iniciativa a partir do recurso e sistema de recurso...171

Tabela 13. Fatores favoráveis às iniciativas a partir do sistema social e dos arranjos institucionais...194

Tabela 14. Fatores limitantes às iniciativas a partir do sistema social e dos arranjos institucionais...198

Tabela 15. Problemáticas para o uso e conservação de bambus nativos emergentes das iniciativas...207

Tabela 16. Métricas das redes estabelecidas pelos atores das iniciativas relacionadas aos bambus nativos...242

Tabela 17. Declaração dos entrevistados sobre a participação em reuniões formais relacionadas ao recurso no Acre. ...255

Tabela 18. Principais lideranças e fatores catalíticos das iniciativas com atuação em bambus nativos com base em Seixas & Davy (2008) e Seixas et al. (2009). ...262

Tabela 19. Ações, aspectos favoráveis e lacunas observadas para o estabelecimento de relações interníveis e transescalares a partir da escala jurisdicional da gestão para o uso e conservação de bambus nativos. ...263

Tabela 20. Principais organizações acreanas envolvidas nas classes de atividades favoráveis ao estabelecimento de relações transescalares...265

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMOPREAB: Associação de Moradores e Produtores da Reserva Chico Mendes em Assis Brasil AMOPREBE: Associação de Moradores e Produtores da Reserva Chico Mendes em Brasiléia e

Epitaciolândia

APP: Área de Proteção Permanente

APROBAMBU: Associação Brasileira dos Produtores de Bambu BAMBUSC: Associação Catarinense do Bambu

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CDI: Conservação e Desenvolvimento Integrados

CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CP: Cadeia Produtiva

CPB: Cadeia Produtiva do Bambu

CR: Cadeia de Referência (Método cadeia de citação ou snowball) CVT Bambu: Centro Vocacional Tecnológico do Bambu da FUNTAC EMBRAPA-AC: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no Acre FAPAC: Fundação de Amaro à Pesquisa do Acre

FIEAC: Federação das Indústrias do Acre

FUNTAC: Fundação de Tecnologia do Estado do Acre

IAC/APTA: Instituto Agronômico de Campinas/Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBT: Instituto de Botânica da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo

ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Instituto Chico Mendes), IMAC: Instituto de Meio Ambiente do Acre

INBAR: Rede Internacional do Bambu e Ratã (International Network for Bamboo and Rattan) INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (modificado em 2016 para Ministério da Ciência,

Tecnologia e Comunicações - MCTIC)

MEI: Microempreendedor Individual MMA: Ministério do Meio Ambiente

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OSC: Organização da Sociedade Civil PA: Projeto de Assentamento do INCRA PD&I: Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação RL: Reserva Legal

RESEX: Reserva Extrativista

PFNM: Produtos Florestais Não Madeireiros PMAB: Prefeitura Municipal de Assis Brasil PMRB: Prefeitura Municipal de Rio Branco

PNMCB: Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu RBB: Rede Brasileira do Bambu

RECM: Reserva Extrativista Chico Mendes SEs: Serviços Ecossistêmicos

SEAPROF: Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar do Estado do Acre SEBRAE-AC: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Unidade Rio Branco/AC SECT: Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Acre

SEDENS: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços

Sustentáveis do Estado do Acre

SEMA: Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Estado do Acre

SENAI-AC: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Departamento Regional do Acre SSE: Sistema Socioecológico

STTR: Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais UFAC: Universidade Federal do Acre

UnB: Universidade de Brasília

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SUMÁRIO

Introdução ... 19

Contextualização e conceitos gerais da pesquisa ... 19

Objetivo ... 30

Justificativa ... 30

Perguntas orientadoras e estrutura da tese ... 35

Fundamentos teóricos e analíticos: gestão e conservação de recursos naturais comuns para o desenvolvimento de cadeias produtivas de espécies da flora nativa ... 37

I. Conservação e Desenvolvimento Integrados (CDI) da gestão de recursos naturais comuns ... 37

I.a. Definições e estrutura analítica adotada da gestão de recursos comuns ... 40

I.b. Conservação e Desenvolvimento Integrados (CDI) e fatores condicionantes às iniciativas ... 42

I.c. Cadeias produtivas de recursos nativos enquanto estratégia para a CDI: uma proposição conceitual .. 47

II. Compromissos internacionais e nacionais para a conservação da biodiversidade ... 51

III. Conhecimentos biológicos sobre a categoria de recurso em estudo: bambus da flora nativa... 54

IV. Teoria fundamentada nos dados ... 65

Métodos para a coleta e análise de dados ... 66

FASE 1: Levantamento nacional e caracterização das iniciativas ... 66

a) Fontes secundárias de informação ... 66

b) Cadeia de referência ... 67

c) Entrevistas semiestruturadas ... 69

FASE 2: Levantamento e caracterização das iniciativas no Estado do Acre ... 69

Organização e análise dos dados ... 73

a) Caracterização dos setores, atuação e fases das iniciativas ... 74

b) Detalhamento do recurso e sistema de recurso ... 76

c) Atores e relações sociais ... 78

Validação e devolutiva da pesquisa ... 85

Limitações dos métodos ... 86

Apresentação dos capítulos ... 87

Capítulo 1 – Caracterização das iniciativas relacionadas ao uso e conservação de bambus nativos: importância da interação multissetorial e da atuação do setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação .... 89

Resultados ... 89

I. Análise geográfica e setorial das iniciativas ... 89

II. Perfil das organizações e a atuação das iniciativas ... 94

III. Início da atuação das iniciativas ... 101

(16)

Conclusões ... 111

Capítulo 2 – Bambus nativos como recurso para cadeias produtivas: espécies, ecossistemas e usos ... 114

Resultados ... 114

I. Espécies, gêneros ou nomes populares de bambus nativos de interesse ... 114

II. Usos de bambus nativos: atuais e potenciais ... 119

II.a. Usos e conhecimentos locais e tradicionais ... 122

II.b. Uso artesanal realizado e industrial em implementação no Estado do Acre ... 124

III. Aspectos da apropriação do recurso ... 130

III.a. Atividades de produção ... 130

III.b. Áreas envolvidas, acesso e forma de apropriação dos bambus nativos ... 134

IV. Aspectos da provisão do recurso ... 141

IV.a. Estoques e papel ecológico dos bambus nativos ... 141

IV.b. O gargalo da produção de mudas ... 145

V. Uso e conservação para um aproveitamento socioecologicamente sustentável ... 146

V.a. Ações para a conservação visando ao aproveitamento sustentável ... 146

V.b. Usos e funções dos bambus nativos para a conservação da sociobiodiversidade... 148

Discussão ... 150

I. A importância da identificação botânica e do contexto socioecológico para a conservação ... 151

I.a. Desafios relacionados à falta de identificação das espécies ... 152

I.b. Dominância e escassez das espécies de bambus nativos ... 155

I.c. A problemática dos termos e definições das atividades e sistemas produtivos ... 158

II. Oportunidades para a diversificação de atividades produtivas artesanais e industriais ... 159

Conclusões ... 162

Capítulo 3 – Fatores condicionantes do recurso e do sistema de recurso para a atuação das iniciativas .... 165

Resultados ... 165

I. Fatores favoráveis às iniciativas relacionados ao recurso e sistema de recurso ... 166

II. Fatores limitantes relacionados ao recurso e ao sistema de recurso ... 169

Discussão ... 172

I. Especificidades dos sistemas socioecológicos e benefícios potenciais do recurso ... 174

I.a. Serviços ecossistêmicos: novos segmentos das cadeias produtivas ... 178

I.b. Características e versatilidade dos recursos ... 181

I.c. Substituição por bambus exóticos e materiais heteróclitos... 183

Conclusões ... 185

Capítulo 4 – Fatores condicionantes institucionais e problemáticas emergentes das iniciativas para o desenvolvimento de cadeias produtivas integradas à conservação ... 189

(17)

I. Fatores que favorecem as iniciativas para o uso e a conservação de bambus nativos ... 190

II. Fatores limitantes às iniciativas para o uso e a conservação de bambus nativos... 195

III. Problemáticas emergentes das iniciativas para a Conservação e Desenvolvimento Integrados ... 205

Discussão ... 210

I. Fatores contrapostos: motivação em resposta aos desestímulos amplos ... 214

II. Importância do apoio governamental e integração das políticas públicas ... 216

III. Limitações comuns aos PFNM no Brasil ... 220

III.a. Limitações relacionadas à capacitação técnica e ao mercado ... 220

III.b. Barreiras legais ... 222

Conclusões ... 232

Capítulo 5 – Importância dos arranjos institucionais interníveis e transescalares para articulação de setores e gestão para produção integrada à conservação... 236

Resultados ... 236

I. Estruturação da rede social dos bambus nativos ... 236

I.a. Nível de atuação dos atores sociais ... 236

I.b. Relações estabelecidas entre os atores sociais ... 238

I.c. Redes sociais dos bambus nativos ... 240

II. Participação de atores locais e de base comunitária ... 260

III. Relações interníveis e transescalares: potencial da rede acreana para a CDI ... 262

Discussão ... 265

I. Rede das iniciativas: centralidade e intermediação por organizações-chave ... 265

I.a. Superação da centralização pela participação e engajamento local ... 270

II. Prenúncios para iniciativas multiníveis e transescalares: potenciais do Estado do Acre ... 274

Conclusões ... 279

Conclusões finais ... 282

Referências ... 286

Apêndices ... 321

Apêndice 1. Definições das categorias de tratamento das espécies convencionalmente adotadas em pesquisas e políticas sobre a flora. ... 321

Apêndice 2. Bambus exóticos invasores reconhecidos em listagens oficiais. ... 322

Apêndice 3. Bambus nativos dominantes ou com indícios de dominância sobre demais componentes da fitofisionomia. ... 325

Apêndice 4. Cartaz de divulgação utilizado na divulgação da pesquisa em pôster impresso e digital. ... 327

Apêndice 5. Termo de consentimento livre e esclarecido da pesquisa (TCLE). ... 328

(18)

Apêndice 7. Caracterização geral dos participantes da cadeia de referência com indicações e contribuições abertas. ... 337 Apêndice 8. Código e caracterização geral das iniciativas do setor produtivo entrevistadas até abril de 2016 (Fase 1 - nacional). Número de iniciativas: 11. ... 338 Apêndice 9. Código e caracterização geral das iniciativas do setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação entrevistadas até abril de 2016 (Fase 1). Número de iniciativas de PD&I:11. ... 339 Apêndice 10. Código das organizações do setor produtivo identificados no estudo de caso nas regiões do Alto e Baixo Acre em 2016. ... 340 Apêndice 11. Código das organizações de PD&I identificadas no estudo de caso nas regiões do Alto e Baixo Acre em 2016. ... 342 Apêndice 12. Código das organizações governamentais identificadas no estudo de caso nas regiões do Alto e Baixo Acre em 2016. ... 343 Apêndice 13. Código dos grupos com maior atuação multissetorial identificado no estudo de caso nas regiões do Alto e Baixo Acre em 2016. ... 344 Apêndice 14. Classificação das iniciativas em categorias conforme atuação na conservação e no

desenvolvimento (C&D) em função da atuação em bambus nativos. ... 345 Apêndice 15. Cartaz de divulgação e convite para a participação nos encontros de validação e devolutiva da pesquisa e panfleto duas dobras (frente e verso) distribuído em via impressa. ... 347 Apêndice 16. Cartaz de devolutiva da pesquisa sobre as espécies observadas durante o estudo de caso no Acre disponibilizado em via digital ou impressa aos participantes. ... 348 Apêndice 17. Apresentação e conteúdos resumidos utilizados nos materiais complementares impressos da validação e devolutiva da pesquisa... 350 Apêndice 18. Lista geral das iniciativas trabalhando com bambus nativos identificadas até dezembro de 2016 (Fase 1 - Levantamento nacional, n=222). ... 353 Apêndice 19. Iniciativas ou grupo de iniciativas identificadas durante o estudo de caso realizado nas regiões do Alto e Baixo Acre entre outubro e dezembro de 2016. ... 363 Apêndice 20. Evento ou marco histórico relacionados às atividades envolvendo bambus nativos no Estado do Acre. ... 367 Apêndice 21. Número de citações totais dos profissionais e/ou organizações mais influentes por Estado. .. 370 Apêndice 22. Lideranças identificadas pelos entrevistados durante o estudo de caso do Acre em 2016. Dados triangulados das entrevistas. ... 370 Apêndice 23. Contribuições dos atores com relações de colaboração, cooperação e/ou parceria emergentes das iniciativas acreanas. ... 371 Apêndice 24. Conflitos emergentes das entrevistas a representantes das iniciativas e identificadas durante o estudo de caso no Acre (out.-dez.2016). ... 372 Anexo ... 375 Anexo 1. Nomes populares relacionados aos bambus nativos listados por Filgueiras & Gonçalves (2006, 2007). ... 375

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Introdução Contextualização e conceitos gerais da pesquisa

A presente tese investiga fatores condicionantes às iniciativas - compreendidas enquanto arranjos amplos de atores e organizações sociais - capazes de estabelecer cadeias produtivas sustentáveis de uma categoria de recurso da biodiversidade1

, os bambus nativos. Neste sentido, contribui para a gestão de recursos de uso comum com foco no estabelecimento de cadeias produtivas integradas à conservação da biodiversidade2. Revela-se importante especialmente no contexto nacional, uma vez que o Brasil detém a maior riqueza de bambus neotropicais (JUDZIEWICZ et al., 1999) e potencialidades de usos diferenciados no cenário internacional (FILGUEIRAS & GONÇALVES, 2006). Movendo um mercado anual bilionário, o bambu emerge mundialmente como um dos mais promissores recursos renováveis para o século XXI, provendo matéria prima versátil para múltiplas aplicações envolvendo manufatura tanto artesanal local quanto a industrial avançada, de alta tecnologia e inovadora da produção ao aproveitamento final (FAO, 2007; INBAR, 2016; UN COMTRADE, 2016; DRUMOND & WIEDMAN, 2017; DWIVEDI et al., 2019).

Os aspectos socioeconômicos e culturais relacionados aos bambus nativos brasileiros foram identificados a partir do estudo de iniciativas utilizando uma abordagem indutiva e qualitativa entre os anos de 2014 e 2016. As principais características e condicionantes identificadas nas iniciativas associadas ao uso e à conservação de bambus nativos e ecossistemas naturais em diferentes níveis (nacional, regional e local) foram analisadas e, posteriormente, relacionadas àquelas descritas em referências da literatura científica sobre Conservação e Desenvolvimento Integrados (CDI)3. Entender ações integradas em múltiplas áreas e setores da sociedade, como aqui proposto em relação aos bambus nativos, torna-se necessária e urgente diante do panorama de ameaças à biodiversidade e dos compromissos assumidos pelo país para a conservação. A importância

1 “Biodiversidade (contração de diversidade biológica): A variabilidade existente de organismos vivos de todos

os componentes, incluindo terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e a complexidade ecológica da qual fazem parte. O termo inclui a variação nos atributos genéticos, fenotípicos, filogenéticos e funcionais, bem como as mudanças na abundância e distribuição ao longo do tempo e do espaço dentro e entre espécies, comunidades biológicas e ecossistemas”, conforme Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos - IPBES (DÍAZ et al., 2015).

2 A Conservação da diversidade biológica tratada nesta tese advém das concepções da Convenção sobre

Diversidade Biológica (CDB, 2014) e abrange a manutenção das espécies e ecossistemas especialmente originários, autóctones e nativos dos territórios, considerando a diversidade genética das populações e as áreas necessárias de ocorrência e propagação natural.

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sociocultural e ecológica do recurso reforça o uso e a conservação do grupo botânico como estratégia de interesse para a CDI. O contexto nacional e internacional, no qual esta pesquisa está inserida e que a justifica, será detalhado nos próximos itens sobre: (i) estratégias de CDI para reduzir a perda da biodiversidade; e (ii) a relevância socioeconômica e ecológica dos bambus nativos como recursos da vegetação brasileira.

I. A perda da biodiversidade e o potencial das estratégias de Conservação e Desenvolvimento Integrados (CDI)

A perda da biodiversidade é apontada pela comunidade científica como uma das maiores ameaças ao planeta, sendo alarmantes as taxas aceleradas e crescentes de redução do número de espécies e da diversidade genética (CDB, 2010a, 2014; STEFFEN et al., 2015; IPBES, 2019). Diferentemente das extinções biológicas em massa ocorridas na história da Terra, a sexta extinção em massa (BARNOSKY et al., 2011), em processo, foi iniciada em poucas décadas em função das ações antrópicas (WILSON, 1988; STEFFEN et al., 2015). O desenvolvimento das sociedades humanas industrializadas provoca os principais fatores de ameaça e pressão à biodiversidade. Esses fatores estão diretamente relacionados aos modelos produtivos econômicos que levam a perda dos habitat naturais, invasão biológica, poluição, uso não sustentável e sobre-exploração de recursos e mudanças climáticas subsequentes (CDB, 2010a, 2014; IPBES, 2018a,b). Para conter e reverter a atual perda acelerada da biodiversidade, ações multi, intra e intersetoriais e com diferentes estratégias de conservação são urgentemente necessárias de forma que possam ser articuladas entre si. São múltiplas as estratégias que podem ser somadas como pela valorização dos recursos e ecossistemas naturais pelo aproveitamento, ainda por mecanismos de compensação a partir de restrições ao uso e/ou criação de áreas de proteção; e/ou ainda pela implementação de alternativas tecnológicas e/ou econômicas, poupando recursos e ecossistemas naturais (ABBOT et al., 2001). Essas estratégias podem ser planejadas e agregadas adequadamente às potencialidades e necessidades dos subsistemas sociais e ecológicos, dedicando atenção às especificidades locais (com base em WILSON, 1988; CDB, 2010a, 2014; FOLKE et al., 2011; STEFFEN et al., 2015; IPBES, 2018a,b; KREMEN & MERENLENDER, 2018).

Cada componente da biodiversidade possui importância e valor em si e agrega-se na manutenção de processos biogeofísicos que são fundamentais para a geração de Serviços

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Ecossistêmicos (SEs)4, inclusive para a manutenção dos próprios processos produtivos que os ameaçam (CDB, 2010a, 2014). Independentemente do nível de compreensão sobre a importância da biodiversidade demonstrada pelos setores sociais, é a biodiversidade que provê a segurança da produtividade e manutenção dos recursos essenciais à sobrevivência e desenvolvimento humano (e.g. ALCORN, 1995; CHAPIN III et al. 2000; VIEIRA et al., 2005; MIKO & STORCH, 2015; SANDIFER et al., 2015; SMITH et al., 2015). Mesmo os sistemas produtivos mais desacoplados dos ecossistemas naturais originais, como as extensas monoculturas convencionais, dependem dos provimentos de água e do material (ou pool) genético de recursos de interesse comercial (GADGIL et al., 1998). Essa dependência reforça a necessidade de múltiplas estratégias combinadas para a manutenção de áreas protegidas e áreas produtivas mais sustentáveis, incluindo áreas privadas e indeterminadas por sua significativa extensão geográfica e detenção da biodiversidade autóctone como se verifica no território brasileiro (SPAROVEK et al., 2010, 2019). A conservação da biodiversidade em áreas privadas tem se revelado um desafio no Brasil, somado ainda às pressões por interesses particulares sobre os remanescentes das áreas do Estado e comunais, que sob condições diferentes de gestão tem o controle e monitoramento limitados, de forma geral, pela falta ou insuficiência de mecanismos governamentais integrados e de mercado eficazes (PIASENTIN & GÓIS, 2016).

Enquanto provedora direta de recursos para o aproveitamento sociocultural e econômico, os componentes da biodiversidade integram ainda o patrimônio genético de coletivos sociais, formalizados ou não5, de diferentes períodos históricos6. Os recursos da biodiversidade compreendem um recurso de uso comum (commons), isto é, uma classe de recursos utilizados de forma compartilhada por vários usuários, em que a exclusão do uso pela sociedade torna-se difícil e o aproveitamento por um usuário resulta na diminuição da disponibilidade para outros (redutibilidade) (BERKES, 1989; FEENY et al., 1990). Os custos do estabelecimento de instituições sociais para o controle do manejo e o acesso aos recursos

4 Serviços ecossistêmicos: os benefícios e ocasionalmente perdas e prejuízos que as pessoas recebem dos

ecossistemas. Esses incluem os serviços de provisão (e.g. madeira, fibras, alimentos, água), serviços de regulação de fatores bióticos (e.g. controle de pragas, polinização) e abióticos (e.g. controle de enchentes, da qualidade da água, do clima), serviços culturais (e.g. turismo, recreação, educação, senso de pertencimento, ética e espiritualidade) e serviços de suporte (e.g. produção primária, ciclagem de nutrientes, formação edáfica) (MEA, 2005; DÍAZ et al., 2015).

5 Formais, como definidos nas legislações nacionais (ex. Patrimônio Genético Brasileiro legalmente definido e

protegido – BRASIL, 2012, 2015, 2016); e informais, como grupos étnicos, tradicionais, locais associados a processos de coevolução (seja por domesticação, seleções direcionadas, proteção por regras culturais etc.) ou simples compartilhamento de áreas de vida e habitats.

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comuns são elevados uma vez que o direito de propriedade e do uso igualitário é complexo. Os integrantes do grupo social (i.e. comunidade, vila, tribo) tem direito ao mesmo uso dos recursos – fazendo-o ou não em maior ou menor quantidade, mas não engloba contudo a transferência do recurso e o direito de um uso específico por vários proprietários (CIRIACY-WANTRUP & BISHOP, 1975). Ainda assim, pode contemplar uma perspectiva ampla por onde, por exemplo, todos os recursos da biodiversidade podem ser compreendidos como recursos comuns, e devem ser geridos enquanto e como herança comum de toda a humanidade para qual só resta adotar soluções em nível nacional e internacional (CIRIACY-WANTRUP & BISHOP, 1975). Dessa forma, entende-se que os recursos da vegetação nativa são recursos comuns de diferentes níveis, pois propiciam usos diretos e formam os estoques genéticos do patrimônio biológico nacional, sob regras comunitárias, políticas e regulamentações formais para o controle e acesso ao uso e formas de manejo. No Brasil, ainda são escassas as pontes realizadas entre a teoria da gestão de recursos de uso comum e o estudo de Cadeias Produtivas (CPs) da vegetação nativa, e mesmo no cenário internacional identifica-se a falta de trabalhos diretamente relacionados ao mercado, produção sustentável de commodities e mecanismos de certificação (BRAY, 2005).

Sistemas produtivos que atrelem o desenvolvimento humano à proteção e recuperação da diversidade biológica e sociocultural requer a soma de esforços multi e intersetoriais com intenções claras e diretamente definidas para essa integração – o que passou a ser objeto crescente de pesquisa a partir dos anos 1980 (com base em ALCORN, 1991, 1995; VIEIRA et al., 2005; SEIXAS et al., 2009; CDB, 2010a, 2014; DÍAZ et al., 2015). A partir desses estudos, a conservação e o desenvolvimento socioeconômico, vistos antes predominantemente como antagônicos, passaram a ser mais bem compreendidos em mútua interação por abordagens integradoras dos sistemas sociais e ecológicos. Os chamados Sistemas Socioecológicos (SSEs) são sistemas complexos e incertos compostos pelos subsistemas sociais (humanos) e ecológicos (biofísicos) em relações de reforços e/ou inibições (feedbacks, retroalimentação ou respostas) (BERKES & FOLKE, 1998; CCRN, 2013), coevoluindo de forma inseparável e complexa (HOLLING & SANDERSON, 1996; HOLLING et al. 1998).

Diferentes estratégias integradoras do desenvolvimento à conservação foram empiricamente identificadas e descritas, sendo a valoração de recursos biológicos uma dentre as mais frequentes, com relações diretas entre os objetivos socioeconômicos e ecológicos

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(ABBOT et al., 2001). Para que a conservação ocorra em compasso ao desenvolvimento socioeconômico, garantindo justiça e sustentabilidade, inovações na forma de gestão e manejo dos recursos são consideradas fundamentais (BROWN, 2002). No sentido amplo, a sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, é compreendida como processo orientado por três principais imperativos, relacionados aos aspectos ecológicos, socioculturais e econômicos, para que as necessidades das gerações atuais sejam atendidas sem que se prejudique a capacidade de atender as das futuras gerações (sem desconto ao futuro). A sustentabilidade é uma referência orientadora que considera os ciclos dinâmicos de renovação, conservação, destruição e reorganização dos ecossistemas, e pode ser compreendida por atributos associados à maior diversidade e complexidade dentro do ecossistema (HOLLING et al., 1998). As características que conferem efetividade das ações de CDI para o desenvolvimento sustentável tem sido reconhecidos por meio da investigação dos fatores relacionados às inovações de gestão e manejo dos recursos naturais (e.g. ABBOT et al., 2001; BROWN, 2002; VIEIRA et al., 2005; SEIXAS & DAVY, 2008; SEIXAS & BERKES, 2010; BLOM et al., 2010; COX et al., 2010; BAUCH et al., 2014).

Como ponto comum emerge a importância dos recursos advindos da biodiversidade nativa (autóctone ou indígena, de origem natural do território7 - ver conceitos adotados no Apêndice 1) enquanto estratégia de conservação, inclusive da variabilidade genética, integrada ao desenvolvimento socioeconômico. Diferentes linhas de pesquisa e políticas convergiram a partir dos anos 1980 com estudo e implementações para agregar valor econômico à biodiversidade em prol da sua conservação do nível local ao global – como na Economia Ecológica, Botânica Econômica, Ecodesenvolvimento, Conservação e Desenvolvimento (e.g. ALCORN, 1991, 1995; NEPSTAD & SCHARTZMAN, 1992; GADGIL et al., 1993, 1998; HOBLEY, 1996; COSTANZA, 1997). A valorização da biodiversidade de ecossistemas naturais pelo uso racional foi inserida em diversos programas governamentais e não governamentais em contato com políticas e compromissos pela conservação e desenvolvimento sustentável firmados internacionalmente (e.g. CONGRESSO NACIONAL, 1994; MMA, 2000; BRASIL, 2002; CDB, 2010a,b). A área da CDI propriciou a criação de inúmeros projetos entre governos, sociedade civil e agentes financeiros privados e públicos nacionais e internacionais para a manutenção de modos de vida integrados, sobretudo a partir de editais diversos e/ou dentro do contexto de programas de apoio e

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Isto é, determina taxon naturalmente ocorrente e originário da área, território ou região - como compreensão comum em diversas definições compiladas pela CDB (2018) (ver designações adotadas no Apêndice 1).

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incentivo (e.g. ABBOT et al., 2001; HUGHES & FLINTAN, 2001) e de certificação (e.g. MERINO & ROBSON, 2005).

Na valorização social e econômica da biodiversidade para a CDI, produtos e matéria-prima provenientes de ecossistemas naturais são obtidos para o uso doméstico ou local e/ou para serem comercializados, trocados e/ou vendidos, em mercados locais e regionais (ABBOT et al., 2001), contribuindo à manutenção de sistemas produtivos integrados (GADGIL et al., 1998). A inclusão de espécies nativas em sistemas produtivos e planos de desenvolvimento confere um passo adiante nas políticas socioambientais para a sustentabilidade. Com o advento de mercados virtuais, da maior facilidade de transporte e tecnologias de beneficiamento, esses produtos podem ser comercializados também entre diferentes regiões e países (e.g. ABRANTES, 2002; BRONDÍZIO, 2008). Contudo, a intensificação das demandas por produtos naturais - inclusive potencialmente resultante da ampliação do mercado - pode ocasionar danos às populações e/ou aos ecossistemas, ainda que compreendam “fontes renováveis”, sobretudo quando há falhas na gestão e no manejo dos recursos. Isso ocorre, por exemplo, com extrações acima das taxas de reposição natural (ALCORN, 1995) ou que prejudicam os processos biogeofísicos e ecológicos, como identificado para diversos Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM) (e.g. NEPSTAD & SCHARTZMAN, 1992; ABRANTES, 2002; SIMÕES & LINO, 2003; BRONDÍZIO, 2008). Dessa maneira, os empecilhos à gestão para a sustentabilidade devem ser compreendidos, ajustando-se os processos para a CDI nos diferentes sistemas produtivos de PFNM.

Trabalhos científicos que sintetizam e analisam casos empíricos para elaborações teóricas sobre condicionantes favorecem a gestão em projetos e programas de CDI e a criação de diretrizes para planos e políticas socioambientais preventivas e proativas (e.g. ABBOT et al., 2001; BROWN, 2002; VIEIRA et al., 2005; SEIXAS & DAVY, 2008; SEIXAS & BERKES, 2010; BLOM et al., 2010; COX et al., 2010; BAUCH et al., 2014). A gestão e o manejo sustentável de recursos para a melhoria do modo de vida8 local vêm sendo realizados em vários países, como em iniciativas de CDI (BERKES & SEIXAS, 2004; SEIXAS &

8

Modo de vida ou meios de subsistência (livelihoods): compreende a capacidade e os meios de vida que as pessoas possuem para garantir renda, ativos ou bens tangíveis (e.g. recursos, incluindo alimentos) e intangíveis (e.g direito, acesso aos recursos e ecossistemas) e as atividades realizados para obtê-los (CHAMBERS & CONWAY, 1991). Compreende inclusive a maneira de assegurar subsistência para além da satisfação das necessidades humanas fundamentais, integrando dimensões socioculturais domésticas e comunitárias (VIEIRA et al., 2005). Para modo de vida sustentável ver Chambers & Conway (1991).

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DAVY, 2008) ou de conservação e desenvolvimento de base comunitária9 (HERREIRA, 2006; SEIXAS, 2006; SHUKLA, 2007; SEIXAS et al., 2009). As iniciativas de CDI e de base comunitária se tornaram referências, por suas propostas e resultados, a partir do reconhecimento em nível internacional pelo Prêmio Equatorial das Nações Unidas (Equator Prize Initiative) (BERKES & SEIXAS, 2004; BERKES & ADHIKARI, 2006; HERRERA, 2006; SEIXAS & DAVY, 2008; SEIXAS, 2006; SEIXAS et al., 2009). Tais iniciativas estão frequentemente vinculadas a comunidades locais e tradicionais e ainda pouco alcançam regiões geográficas mais amplas (BERKES & ADHIKARI, 2006; UMMUS, 2017). Nesta pesquisa, os fatores condicionantes e as relações sociais para a gestão e conservação integrada dos bambus nativos são apresentados na expectativa que sejam contribuições significativas para o direcionamento e favorecimento de iniciativas, programas e projetos comprometidos com o uso sustentável e a conservação da biodiversidade para a CDI.

Iniciativas da flora nativa para compor cadeias produtivas voltadas à Conservação e Desenvolvimento Integrados

Nesta tese, o termo iniciativa foi adotado para designar organizações de base comunitária, organizações indígenas, organizações não governamentais ou parcerias com instâncias governamentais, organizações de pesquisa ou acadêmicas, setor privado e fundações públicas ou privadas (SEIXAS & DAVY, 2008). As iniciativas podem apresentar diferentes constituições em termos de estrutura e funcionamento (porte, setor, regimes, forma de acesso ao recurso etc.) e de dependência socioeconômica ao recurso (participação na renda, provisão de bens e benefícios não monetários) (SEIXAS & DAVY, 2008; SEIXAS & BERKES, 2010). As iniciativas, consideradas no escopo desta pesquisa, envolvem ainda arranjo de atores e organizações sociais como: associação, cooperativa, empresas, institutos, fundações, agências de consultoria, extrativistas, produtores, artesãos, entre outros, ainda que conduzido por uma pessoa ou grupos pequenos. Essas atendem demandas externas (como mercado, políticas públicas, entre outros) e contribuem como fonte de renda (direta ou indiretamente) e/ou para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva. As iniciativas configuraram-se, portanto, de forma individual ou coletiva e de acordo com a finalidade da atuação relacionada ao recurso-foco, e foram subdivididas em dois principais setores: 1) Setor

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Em inglês, respectivamente: Integrated Conservation and Development Projects (ICDPs), Community-based conservation and development initiatives.

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produtivo (com fins lucrativos); e 2) Setor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) (sem fins lucrativos diretos).

As iniciativas do setor produtivo se configuram por suas atividades relacionadas à produção florestal ou agroflorestal (extração, manejo, plantio), manufatura, treinamento, consultoria, certificação, venda de matéria-prima bruta ou processada, produtos feitos com bambus nativos ou serviços relacionados (geralmente envolvendo conhecimentos científicos e/ou culturais, do patrimônio imaterial). São compostas por empresas, cooperativas, produtores, associações, organizações sociais, consultores e agências de consultorias, entre outros que atendam demandas de mercado, ambientais ou sociais, e obtenção direta de renda. As iniciativas predominantemente do setor de PD&I, por sua vez, apresentam atividades de pesquisa, ensino, extensão, transferência tecnológica, assessoria, divulgação e capacitação, fomento, incentivo político, econômico e/ou técnico com relações econômicas geralmente de uso indireto do recurso. Esse setor é composto por pesquisadores, grupos ou laboratórios, institutos de pesquisa, universidades, empresas de pesquisa e extensão, fundações tecnológicas, autarquias diversas, órgãos públicos (municipais, estaduais, federais), comitês especiais, redes, associações, fundações, entidades privadas de serviços.

A presente pesquisa voltou-se ao levantamento e caracterização ampla das iniciativas relacionadas a bambus nativos – um PFNM – presentes nas mais diversas fitofisionomias e na cultura de comunidades tradicionais brasileiras. Essa categoria de recurso é particularmente relevante devido ao crescente fomento da Cadeia Produtiva do Bambu (CPB), do potencial, mas também de riscos associados a esse grupo botânico e dos objetivos prementes da recuperação e proteção da flora nativa assumidas em diferentes níveis políticos nos últimos anos. Um primeiro panorama nacional pode ser delineado, possibilitando compreender condicionantes associadas ao desempenho das iniciativas para integrar conservação ao desenvolvimento por meio da implementação de uma cadeia produtiva de bambus nativos em potencial.

A investigação dos fatores que estimulam e limitam o uso e a conservação de recursos da flora nativa e que implicam no desenvolvimento de cadeias produtivas endógenas10 é necessária no Brasil (FRAGA et al., 2015). O conhecimento desses fatores, aplicados à gestão de iniciativas produtivas, pode aperfeiçoar as funções econômicas, sociais

10 Advindas da necessidade das próprias populações locais de se tornarem corresponsáveis – em parceria com

outros atores, como do governo – pela concepção e condução de suas trajetórias de desenvolvimento (VIEIRA, 2005).

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e ambientais em seus múltiplos segmentos, da produção no campo (por extrativismo, manejo florestal, cultivo etc.) até a manufatura e comercialização, envolvidos nas cadeias produtivas para a sustentabilidade. Pinto e colaboradores (2010) listam os agentes mais comuns das cadeias de PFNM verificados na Amazônia brasileira, e fornecem avaliações por espécie e instruções para boas práticas de manejo e aproveitamento agroindustrial da flora nativa; eles definem cadeia produtiva como:

“O conjunto de sucessivos "tratamentos" pelos quais um produto da floresta passa (por exemplo: coleta, lavagem, secagem, seleção, empacotamento etc.) até sua venda a um consumidor final (...), na qual cada “tratamento” representa um elo dessa cadeia. Ao longo de uma cadeia de produção vários agentes atuam, contribuindo com suas habilidades ou potencialidades para o beneficiamento e/ou o processamento do produto florestal”.

Investigar as iniciativas relacionadas à formação de cadeias produtivas de bambus nativos que possa estar integrada à conservação torna-se necessário num país tropical e megadiverso como o Brasil. Assim, entender os elementos indutores e inibidores das ações das iniciativas relacionadas ao uso e conservação destes recursos pode contribuir para a tomada de decisões nos diversos níveis, para maior efetividade e durabilidade das iniciativas e dos planos de uso e conservação da biodiversidade.

II. Recursos da vegetação nativa com potencial socioeconômico: bambus como modelo de estudo

Diversos recursos da vegetação nativa possuem importância social e econômica parte dos quais de forma emergente, como os bambus autóctones de diversas fitosionomias da vegetação brasileira. As espécies de bambus nativos se referem às espécies da subfamília Bambusoideae Luerss. (Poaceae) originárias do território brasileiro, de acordo com a Flora do Brasil 2020 do Jardim Botânico do Rio de Janeiro11 e geralmente designada por nomes populares de origem etimológica indígena (FILGUEIRA & GONÇALVES, 2007). Esse táxon apresenta heterogeneidade em termos de morfologia e hábito (JUDZIEWICZ et al., 1999; FILGUEIRAS & GONÇALVES, 2004; FILGUEIRAS & VIANA, 2017), fisiologia (KLINK & JOLY, 1989; LARCHER, 2000; DÜKING et al., 2011), papel ecológico (e.g. KRATTER, 1997, 1998; LACERDA & KELLERMAN, 2014, 2017; PIVELLO et al., 2018; PADGURSCHI et al., 2011, 2018) e por seus diferentes usos pode ser compreendido como um recurso comum, como outros grupos botânicos utilizados e pertencentes ao patrimônio

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Flora do Brasil 2020 (em construção). Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB102232>. Acessos entre abr. 2014 e mar. 2017.

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genético nacional. No Brasil, ocorrem duas das três tribos que compõem a subfamília, os bambus herbáceos (Tribo Olyreae) e bambus lenhosos (Tribo Bambuseae, agrupando 64% das espécies nativas) (FILGUEIRAS & VIANA, 2017).

Os bambus nativos formam um grupo-modelo de estudo que combina fatores favoráveis ao desenvolvimento de uma cadeia produtiva integrada à conservação da biodiversidade: política nacional própria (BRASIL, 2011) e programas específicos de incentivos à pesquisa aplicada (e.g. CNPq, 2008, 2013a,b; FAPAC, 2017), grande riqueza e endemismo nacional, estado de conservação12 variado entre espécies, ecossistemas e regiões (JUDZIEWICZ et al., 1999; FILGUEIRAS et al., 2013, 2016), existência de iniciativas envolvidas com produção e/ou pesquisa, comunidades e conhecimentos locais e tradicionais13 associados e um amplo espectro de usos realizados e potenciais (JUDZIEWICZ et al., 1999; FILGUEIRAS & GONÇALVES, 2007; LONDOÑO, 2012). Vale ressaltar que o estado de conservação das espécies de Bambusoideae é variado, necessitando olhar atento às fisionomias em que se inserem, havendo desde aquelas abundantes e dominantes, até outras endêmicas, raras, vulneráveis ou ameaçadas de extinção - o que implica em maior investigação taxonômica.

O Brasil é um importador de matéria-prima (principalmente painéis e peças semiacabadas) e utensílios manufaturados artesanal ou industrialmente de bambu, principalmente para usos domésticos, provenientes da China (CANCIAN et al. 201514; UN COMTRADE, 2016). As importações de matéria-prima e peças manufaturadas de bambu lenhoso, ainda que com pouca exigência e complexidade técnica, ocorrem no Brasil apesar da indústria no ramo madeireiro possuir polos industriais em operação e iniciativas de destaque inclusive auditadas e certificadas desde do final dos anos 1990 (e.g. IBA, 2018; FSC, 2019). Por outro lado, a China, de fato, se configura como o maior exportador de produtos derivados do bambu com mercado doméstico de 19,5 bilhões de dólares anuais, empregando quase oito

12 Estado de conservação: estimativa da probabilidade ou do risco relativo de extinção de uma espécie ou

subespécie. Esse aponta as espécies com maior urgência de ações de conservação, as avaliações podem gerar índices do estado de degeneração ou recuperação da biodiversidade por grupo taxonômico ou por região geográfica (PERES et al., 2011).

13 Como povos indígenas (identificados por sua etnia, aldeias, localizações de venda e residência em terras

indígenas e/ou urbanas), quilombolas, caiçaras e rurais tradicionais (caipiras). “Comunidade tradicional: grupo culturalmente diferenciado que se reconhece como tal, possui forma própria de organização social e ocupa e usa territórios e recursos naturais como condição para a sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição” (BRASIL, 2015).

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Painel e palestra concedida pelo Prof. Dr. Marco Antonio R. Pereira da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP de Bauru durante o III SNB (2015).

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milhões de pessoas (INBAR, 2016) e abastecendo o mercado mundial em mais de 40% (REVISTA BAMBU, 2015). Os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão se destacam, respectivamente, como os maiores importadores desses produtos, principalmente de painéis para pisos (JORNAL DIA DE CAMPO, 2014b; REVISTA BAMBU, 2015). Em 2012, o mercado financeiro envolvendo os maiores produtores mundiais de bambu foi estimado em 34,2 bilhões de dólares (INBAR, 2016). Diante do cenário internacional, e na falta de dados macroeconômicos no que tange à manufatura de bambus nativos, o Brasil, grosso modo, se aproxima do cenário de alguns países africanos, dado os múltiplos usos por comunidades locais e tradicionais e provisão de artigos utilitários e material para construções rurais e moradias com pouca participação econômica oficial (e.g. FAO, 2007; MEKONNEN et al. 2014).

Vem sendo realizado esforços de atores e organizações em nível nacional e estadual para consolidar a “cultura do bambu” em sistemas produtivos industriais no Brasil, com o abastecimento em escala de mercados internos e externos (e.g. MMA, 2005; ALMEIDA & TEIXEIRA, 2006; MAGALHÃES & ALMEIDA, 2010; BRASIL, 2011; III SNB, 2015). Porém, após duas décadas de organizações multissetoriais, pouca atenção tem sido dada ao potencial dos bambus nativos e sua participação em arranjos e cadeias de produção, que se apresentam insignificantes para a macroeconomia da mesma forma como ocorre com outros PFNM (IBGE, 2013). Apesar da falta de dados econômicos, os bambus nativos demonstram relevância sociocultural pelos usos diretos e indiretos15 das espécies e para a conservação da biodiversidade (ver item III - Fundamentos da tese). A importância do recurso contudo encontra-se dispersa na literatura, sendo esta tese um esforço de síntese geral sobre as iniciativas existentes no país.

Neste contexto a pesquisa busca responder a seguinte pergunta: Quais fatores condicionam a atuação das iniciativas para o estabelecimento de uma cadeia produtiva baseada em bambus nativos capaz de integrar conservação e desenvolvimento no Brasil? Ao longo dos capítulos será possível identificar as condições do recurso, de seus sistemas produtivos e sociais, o papel da diversificação dos atores e das relações sociais, os objetivos e

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Usos diretos envolvem o uso da matéria-prima para finalidades e aplicações econômicas e socioculturais, sendo os usuários primários aqueles que dependem diretamente do recurso para seu modo de vida ou sobrevivência, realizando atividades de coleta e manejo dos recursos in situ. Os usuários secundários usam o recurso depois da coleta direta in situ. Já no uso indireto do recurso não envolve a extração enquanto matéria-prima para fins econômicos (BORRINI-FEYERABEND et al., 2004), eventualmente pode envolver coletas pontuais para a identificação taxonômica e prospecções no contexto da pesquisa e gestão.

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as motivações das iniciativas, a relevância da sociobiodiversidade16 associada ao uso e à conservação do recurso. Transversais a todos os capítulos estarão os elementos que se destacam para o uso sustentável e conservação do recurso e dos ecossistemas naturais associados, em diálogo com os fatores condicionantes-chave da gestão de recursos comuns e CDI.

Objetivo

Objetivo geral desta pesquisa é investigar os principais fatores que favorecem ou limitam o desenvolvimento das iniciativas para estabelecer uma cadeia produtiva baseada em bambus nativos que esteja atrelada à conservação da biodiversidade. Os objetivos específicos serão endereçados ao longo dos capítulos e buscam:

1. Identificar e caracterizar as iniciativas relacionadas ao aproveitamento econômico e à conservação de bambus nativos do setor produtivo (da extração, manejo, produção florestal, manufatura, consultoria, mercado) e do setor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) quanto aos aspectos geográficos, institucionais e socioeconômicos (Capítulos 1 e 2); 2. Identificar os fatores relacionados às principais escalas17 de gestão (espaciais, de manejo do recurso, jurisdicionais, institucionais, conhecimento) que condicionam as iniciativas quanto às suas atividades de uso e/ou conservação de bambus nativos e ecossistemas associados (Capítulos 3, 4 e 5).

Justificativa

A Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e Cultivo do Bambu (PNMCB) foi estabelecida pela Lei Nº12.484 em 2011 para instrumentar a implementação e manutenção dos sistemas produtivos de bambus no Brasil (BRASIL, 2011) e formalizou a importância da realização de estudos socioambientais, ecológicos, econômicos e tecnológicos da subfamília Bambusoideae. São inúmeras as possibilidades de aplicações frente à riqueza natural desse táxon no país, especialmente quando as espécies são abundantes e apresentam

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Sociobiodiversidade: Conceito que expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais. Os aspectos culturais associados à biodiversidade se encontram ameaçados de forma preocupante, sendo necessário ações para o levantamento e valorização dos aspectos bioculturais para a conservação dos conhecimentos e memórias tradicionais e da biodiversidade (NAZAREA, 1998).

17Escalas (em sistemas complexos): dimensões espaciais, temporais, quantitativas ou analíticas usadas para

medir e estudar qualquer que seja o fenômeno. Essas dimensões podem ser compreendidas como subsistemas de um sistema complexo que estão imbricados uns nos outros ou organizados hierarquicamente (VIEIRA et al., 2005). Para o estudo de SSEs, comumente são utilizadas as escalas: espacial (geográfica), temporal, jurisdicional, institucional, do sistema de gestão, de redes e conexões e de conhecimento (CASH et al., 2006).

Referências

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