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a Serviços ecossistêmicos: novos segmentos das cadeias produtivas

Capítulo 3 – Fatores condicionantes do recurso e do sistema de recurso para a atuação das iniciativas

I. a Serviços ecossistêmicos: novos segmentos das cadeias produtivas

A valorização da conservação da sociobiodiversidade e dos Serviços Ecossistêmicos (SEs) associados142 a uma diversidade de PFNM conferem elementos competitivos, diferenciados no mercado interno e internacional (e.g. ABRANTES, 2002; SIMÕES & LINO, 2003; KFFURI et al., 2016; ICMBIO, 2018). ACPB no Brasil conta com ações demonstrativas incipientes de reconhecimento e/ou pagamento dos benefícios monetários do uso da biomassa e biomateriais para a substituição de fontes fósseis143 e contribuição para a redução e fixação de gás carbônico (e.g. MOGNON et al., 2017). Um potencial distinto ainda maior foi apontado por participantes da pesquisa em relação os bambus nativos e seus sistemas produtivos pela percepação de serem capazes de conferir benefícios socioeconômicos, ecológicos e ambientais mais abrangentes, do nível local ao global, a partir do maior reconhecimento dos produtos, conhecimentos e funções a eles associados, passando por processos de avaliação, rotulagem e/ou certificação.

Tem aumentado a compreensão da importância da manutenção e recuperação da vegetação nativa para além das unidades de conservação para se ter maior eficiência e a

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A redução das áreas de ocorrência dos bambus nativos do gênero Merostachys com as mudanças climáticas no Brasil e na América Central (EILSOHRN, 2015) ilustra elementos de imprevisibilidade do recurso, quando genericamente se espera a “expansão dos bambus” (sem discriminar espécies).

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Os programas de pagamento de serviços ambientais por vezes encontram-se desvinculados das comunidades locais e da qualidade dos remanescentes e das formações naturais (Fundamentos teóricos e analíticos).

143 A indústria de referência da CPB, de papéis e embalagens em Santo Amaro/BA, negociou de forma pioneira

no país créditos de carbono com o Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW Entwicklungsbank) pela adoção de caldeira de produção de vapor movida à biomassa de bambu cultivado do gênero Bambusa (GAZETA MERCANTIL, 2007).

garantia da conservação da biodiversidade e a manutenção de SEs essenciais. A adequação ambiental e a implementação de programas específicos socioambientais ganham ainda maior importância dado que 53% da vegetação nativa se encontra em propriedades rurais particulares (SOARES-FILHO et al., 2014). Em países tropicais, as áreas produtivas podem ser otimizadas em sistemas multifuncionais agroflorestais, contendo espécies de múltiplos usos e papéis ecossistêmicos, como palmeiras, bambus, frutíferas, medicinais, madeireiras etc. e permear áreas urbanas e rurais (e.g. KUSTERS et al., 2001; KAGEYAMA, 2012; ATANGANA et al., 2014).

Sistemas agroflorestais para produção de bambus nativos têm sido planejados para atender a critérios e protocolos de análise ambiental dos ciclos de vida, de certificações comunitárias-participativas ou privadas aplicáveis a produtos florestais não madeireiros. Critérios internacionais para biomassa sólida e de organizações certificadoras de produtos da vegetação nativa podem orientar, em um primeiro momento até a adequação e elaborações próprias, para a qualidade socioambiental dos sistemas produtivos e de beneficiamento dos bambus nativos no Brasil (com base em HOMMA, 2002; DAZA et al. 2013, 2015; DAZA, 2014). Iniciativas com aproveitamento certificado de bambus entre outros instrumentos para a comercialização legal e de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) estão sendo desenvolvidas em diversos países (BUCKINGHAM et al., 2013; BUCKINGHAM & JEPSON, 2014; DWIVEDI et al., 2019). Na América Latina, a Colômbia tem exemplos de acreditação de seus sistemas produtivos de bambus junto ao Forest Stewardship Council (FSC), que possui critérios ambientais, sociais e relativos à biodiversidade para a produção sustentável de biomassa, seguindo também normas técnicas europeias para as emissões de GEEs (DAZA et al. 2013, 2015; DAZA, 2014).

As estratégias para integrar conservação e desenvolvimento, de forma atenta aos potenciais e necessidades área-específicas, ou do contexto socioecológico, podem ser compatíveis com programas de compensação e pagamento de serviços ambientais. As metodologias existentes para espécies e ecossistemas asiáticos podem ser adaptadas às espécies e ecossistemas brasileiros, como, por exemplo, do Crédito de Carbono do Bambu (Bamboo Carbon Credits) desenvolvido pelo International Network for Bamboo and Rattan (INBAR) e o Center for International Forestry Research (CIFOR) (FOREST NEWS-CIFOR, 2012; GUOMO et al., 2013). As metodologias foram desenvolvidas para consolidar os bambus no mercado voluntário de carbono, dentro de planos de mitigação das alterações

climáticas globais, uma vez reconhecido o sequestro de GEEs do sistema produtivo de bambus em dimensão global (e.g. CAO et al., 2011; GUOMO et al., 2013; DAZA et al., 2013, 2015; DAZA, 2014; DWIVEDI et al., 2019). CPs de gêneros neotropicais também conferem benefícios adicionais em múltiplos níveis geográficos, a partir da produção agroflorestal ou agrícola mitigadora. Na geração de eletricidade, por exemplo, Daza et al. (2015) verificou que o uso de combustível sólido à base de bambu Guadua torrificado reduz as emissões dos GEEs em 70% em comparação com a eletricidade a carvão mineral (198 gr CO2 eq/MJ versus 26 gr CO2eq/MJ), sem mesmo considerar a economia do carbono

acumulado nas áreas produtivas e os benefícios adicionais advindos da recuperação de ecossistemas e de outros elementos da análise do ciclo de vida associados à maior sustentabilidade dos sistemas produtivos (DAZA et al., 2015). Espécies de Guadua são frequentemente mencionadas por seus benefícios ambientais em termos de sequestro de carbono (estimado em 17 ton/ha∙ano ao longo do seu ciclo de vida na Colômbia - DAZA et al., 2015), proteção e contenção de solos contra lixiviação e aumento da disponibilidade de água (RAO, 2004).

Com investimento dedicado e intermediado pelo setor de PD&I, iniciativas podem voltar-se em favorecer o provimento de benefícios socioecológicos múltiplos, a partir dos recursos, das tecnologias e serviços ecossistêmicos e ambientais relacionados à sociobiodiversidade autóctone. A Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu (PNMCB) confere uma oportunidade para as articulações necessárias, dentro dos comitês para a sua regulamentação, estando ainda nas fases iniciais da implementação de uma nova CP no país144. A PNMCB permite apresentar o fomento e o incentivo mais direto das iniciativas que incorporam conceitos e práticas à integração à sociobiodiversidade, considerando diferentes sistemas de conhecimentos - como feito para outros PFNM (e.g. Schmidt & Tickin, 2012) - concedendo-se apoio institucional e financiamento direcionado nessa perspectiva para a CDI. A partir da articulação entre atores e setores pode-se planejar ações coordenadas para um mesmo fim em prol do desenvolvimento de sistemas econômicos sustentáveis adequados ao contexto e necessidades locais. CPs

144 A criação da PNMCB é atribuída como uma resposta à demanda popular, ocorreu principalmente pela força

política da atuação de grupos colaborativos organizados em redes com abertura e influência junto ao governo federal. Esses são compostos por pesquisadores da área tecnológica (engenharia e arquitetura) de organizações públicas de PD&I, empresários, representantes de programas privados e internacionais, com trabalhos especialmente dedicados às prospecções e ao agronegócio a partir de bambus de origem asiática já introduzidos ou interessados à introdução para plantios comerciais no Brasil, frequentemente sob a determinação genérica de “florestas plantadas” (ver Capítulo 2).

integradas surgem enquanto estratégia coletivamente direcionada aos propósitos do desenvolvimento sustentável pela explícita valorização da conservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais.

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