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MonografiaEducaçãoparaotrânsitodeELIANESILVESTREOLIVEIRA

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Academic year: 2021

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ELIANE SILVESTRE OLIVEIRA

A CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO: DE 1910 ATÉ A APROVAÇÃO DO ATUAL CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (1997)

Belo Horizonte 2011

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ELIANE SILVESTRE OLIVEIRA

A CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO: DE 1910 ATÉ A APROVAÇÃO DO ATUAL CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (1997)

Monografia de final de curso de Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.

Orientador: Professor Dr. Sérgio Dias Cirino

Belo Horizonte 2011

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Monografia intitulada A Construção da Educação para o Trânsito: de 1910 até a aprovação do atual Código de Trânsito Brasileiro (1997), de autoria de Eliane Silvestre Oliveira. Banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

Prof. Doutor Sérgio Dias Cirino

Faculdade de Educação – FaE/UFMG – Orientador

Prof. Doutor Pablo Luiz de Oliveira Lima Faculdade de Educação – FaE/UFMG

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DEDICATÓRIA

Dedico a meus pais, a minhas irmãs, e a minha sobrinha Ingrid, pessoas fundamentais e queridas, com quem divido esta alegria.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar mais essa vitória, não deixando que o esgotamento e o cansaço me fizessem desistir.

Agradeço imensamente a meu orientador Sérgio, que foi muito além do seu papel de orientador. Com suas palavras e ensinamentos grandiosos me proporcionou concluir o meu trabalho com tanta propriedade. Sempre à disposição e acompanhando a pesquisa de perto, intervindo e realmente me orientando. E mais, por aceitar orientar uma pesquisa com um tema pouco explorado principalmente na Faculdade de Educação.

Ao professor Pablo, pelo parecer e pelas considerações importantes feitas acerca do projeto inicial, considerações estas que me possibilitaram enxergar aspectos até então não observados. Aos meus pais, José e Irma, agradeço pelo apoio emocional e pelas palavras de incentivo. A minhas queridas irmãs, Lílian e Luciene, e a minha sobrinha Ingrid, por me entenderem nos momentos de estresse, tendo sempre um sorriso para me apoiar.

A minha avó Augusta que não se encontra mais entre nós, mas foi luz e sabedoria nos momentos mais difíceis.

Agradeço aos colegas de turma que muito me incentivaram no decorrer do curso para levar em frente o meu projeto de abordar um tema novo na Pedagogia.

Agradeço também as minhas amigas Ednna e Tatiana que estiveram sempre ao meu lado compartilhado as mesmas angústias e pressões sofridas para a realização de uma monografia. Aos meus amigos e amigas que contribuíram de diversas formas para a realização desse sonho.

Agradeço à professora Ana Galvão pelas orientações e pela prévia correção do meu projeto, e pela estruturação da disciplina de Metodologia de Pesquisa que me fez organizar este trabalho com tanta clareza.

Agradeço, finalmente, às profissionais do Departamento Nacional de Trânsito, Rita Cunha e Maria Cristina Hoffmann, por contribuírem com um material didático muito importante para a realização dessa pesquisa. E às ―meninas‖ do Núcleo de Educação para o Trânsito do DER-MG por me receberem com tanto carisma quando foram procuradas por mim para uma conversa informal sobre educação para o trânsito.

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RESUMO

O presente estudo monográfico investigou a construção da educação para o trânsito na esfera da Legislação de Trânsito no Brasil no período compreendido entre a aprovação do primeiro decreto-lei de trânsito em 1910, até a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro em 1997. Nessa perspectiva foi feita uma análise das regulamentações aprovadas nesse período. Foram tomadas como objeto de investigação as leis que tratavam da educação ou formação para o trânsito. Para a realização da pesquisa foi feita uma busca minuciosa de palavras que remetem ao ato de educar. Foram analisadas leis, decretos, decretos-leis e resoluções do período e, a partir dessas análises e de contextualização do período, foram apresentadas as leis relevantes para o desenvolvimento dessa pesquisa. Alguns dos períodos estudados apresentaram lacunas que nos pareceram injustificadas e que dificultaram uma compreensão mais profunda do processo como um todo. Dentre os principais resultados, é possível destacar que: 1) A educação para o trânsito no Brasil foi construída de forma lenta, sem critérios claramente definidos e focando primordialmente em campanhas educativas; 2) As legislações para o trânsito indicam um processo de formação de condutores mais mecânico do que didático. Algumas hipóteses foram levantadas sobre a atuação dos órgãos responsáveis pela execução da educação para o trânsito no que se refere ao modo como se dá essa execução, e sobre possíveis articulações com os documentos do MEC. Como conclusão constatou-se que a educação para o trânsito merece outros estudos para que se entenda melhor a prática desse processo legislativo de educar para um trânsito mais seguro e cidadão.

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ABSTRACT

This monographic study investigated the construction of transit education in the sphere of transit legislation in Brazil in the period between the approval of the first transit decree law in 1910, until the approval of the Brazilian Transit Code in 1997. From this perspective we carried out an analysis of the regulations enacted in this period. Were taken as the object of investigation the regulations that dealt with education or training for transit. To conduct the study it was performed a thorough search of words that refer to the act of educating. Were analyzed laws, decrees, decree-laws and resolutions of the period. From these analysis and contextualization of the period, were taken the regulations relevant to the development of this research. Some of the periods studied showed gaps that seemed unjustified and that hampered a deeper understanding of the process as a whole. Among the main results, it is possible to highlight that: 1) Transit education in Brazil was built slowly, with no clearly defined criteria and focusing primarily on educational campaigns; 2) Transit laws emphasized a more mechanical than didactic driver training process. Some hypotheses have been raised about the performance by agencies responsible for enforcement of Transit education in relation to how this execution takes place, and on possible connections with the Ministry of Education documents. In conclusion it is observed that Transit education deserves further studies to better understand the practice of the legislative process of educating for a safer a citzen Transit.

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LISTA DE SIGLAS

ANFAVEA- Associação de Fabricantes de Veículos Automotores CF- Constituição Federal

CONTRADIFE- Conselho de Trânsito do Distrito Federal CONTRAN- Conselho Nacional de Trânsito

DER MG- Departamento de Estradas de Rodagem- Minas Gerais DOU- Diário Oficial da União

DPVAT- Danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres DENATRAN- Departamento Nacional de Trânsito

DETRAN- Departamento de Trânsito

GEIA- Grupo Executivo da Indústria Automobilística IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura

PETROBRAS- Petróleo do Brasil S/A PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais

SINFAVEA- Sindicato dos Fabricantes de Veículos Automotores UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 10 CAPÍTULO 1 ... 11 1.1. Construção do objeto ... 11 1.2. Justificativa ... 11 1.3. Objetivos ... 12 1.4. Método ... 12 1.5. Referenciais teórico-metodológicos ... 13 1.5.1. História ... 14 1.5.2. Educação ... 14 1.5.3. Trânsito ... 15

CAPÍTULO 2 - A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL ... 17

2.1. Decreto Nº 8.324 de 27 de outubro de 1910 ... 17

2.2. O Código Nacional de Trânsito de 1941 ... 21

2.2.1. As Resoluções ... 23

2.3. O Código Nacional de Trânsito de 1966 ... 27

2.3.1. As Resoluções ... 34

2.4. Código de Trânsito Brasileiro de 1997 ... 44

CONCLUSÕES ... 54

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi desenvolvida tendo como proposta analisar a Legislação de Trânsito Brasileira no período compreendido entre 1910 e 1997, tendo como foco a educação para o trânsito. Sabemos que já existem outras regulamentações publicadas após o ano de 1997, mas buscamos entender o que precedeu a aprovação do Código de Trânsito em vigor.

Partindo das primeiras reflexões sobre o tema, percebemos a sua amplitude e começamos a trabalhar com um olhar mais direcionado, para que fosse possível a compreensão do processo histórico de construção da educação para o trânsito a partir das regulamentações.

O termo escolhido foi educação para o trânsito por ser esse o tratamento dado ao tema no Código de Trânsito Brasileiro em vigor. Também partimos do pressuposto de que outros termos como educação de trânsito e educação do trânsito não seriam tão esclarecedores e norteadores desse trabalho. O termo educação para o trânsito nos remete a pensar no ato de educar para a cidadania e para a convivência em sociedade. Segundo Saviani (1997) a educação seria um instrumento de mediação na sociedade, e a partir daí o homem se apropriaria da cultura e da produção histórica acumulada. A educação então serviria de ponte para que o indivíduo assumisse uma postura ética e cidadã.

Como o Código de Trânsito Brasileiro em vigor explicita no artigo 14 que ―... a educação para o trânsito é um direito de todos e constitui dever prioritário...‖ (CTB LEI 9503 de 23 setembro de 1997) buscamos, então, entender que educação é essa e qual o objetivo dessa educação. Para nortear o trabalho, buscamos compreender um pouco sobre as mudanças ocorridas no período no que se refere à inserção do automóvel no Brasil e à formação histórica da cultura do automóvel e sua massificação. A questão da formação dos condutores também contribui para entendermos a educação para o trânsito de forma mais ampla. Foram analisadas as regulamentações sobre os requisitos para a formação de condutores, os cursos ministrados a estes e, por fim, as normas para poder ministrar tais cursos no tocante ao Centro de Formação de Condutores e aos seus profissionais. Cada um desses itens mereceria uma análise mais profunda e abrangente, mas como o nosso foco recai no termo ―educação‖, deixamos para futuras pesquisas as análises nesse sentido.

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CAPÍTULO 1

O primeiro capítulo deste trabalho apresenta uma estruturação que define o objeto de estudo, os objetivos que nortearão essa pesquisa e o referencial teórico que será utilizado. Os procedimentos metodológicos e a justificativa também serão apresentados nessa primeira parte.

1.1. Construção do objeto

A pesquisa tem como objeto entender a construção histórica da educação para o trânsito. Essa indagação surgiu a partir do ingresso da pesquisadora no curso de Graduação de Pedagogia da UFMG. A experiência trazida como educadora de trânsito associada às várias teorias e possibilidades de investigação que o curso proporciona, possibilitou construir a partir daí a vontade de pesquisar o tema. Várias questões foram pensadas como objeto da pesquisa, mas para tentar responder a todas elas era necessário entender historicamente a construção do tema. Como não encontramos estudos com essa abordagem, optamos por fazer esse caminho que contribuirá para ampliar os horizontes na área e possibilitar novos estudos.

1.2. Justificativa

O tema educação para o trânsito está presente em várias discussões no Brasil atual. Mas é inegável que essa construção se deu ao longo da história. História essa que através da cultura foi se alterando conforme as necessidades de cada época. Mudanças em outras esferas, como na história da indústria automobilística e na da construção de vias de circulação, devem ser consideradas como precursoras das mudanças ocorridas na educação. Dessa forma, pretendemos analisar e entender como foi esse movimento.

É marcante a ausência de trabalhos sobre o processo histórico de construção da educação para o trânsito. Encontramos vários estudos mais recentes com outras abordagens que não permitem um entendimento de como se chegou à atual situação. A desvalorização da educação para o trânsito no tocante a sua execução merece estudos profundos para tal entendimento. Analisar a legislação sobre o tema pressupõe que chegaremos a um patamar de

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entendimento que nos propiciará discutir com mais propriedade sobre as questões levantadas pela sociedade sobre o tema educação para o trânsito.

Sabemos que vários projetos de lei estão em tramitação no Congresso Nacional Brasileiro como atualmente a discussão sobre a aprovação e regulamentação da Lei Seca1. Entendemos que outras medidas também poderiam ser tomadas para a melhoria do trânsito e consequentemente para a diminuição dos acidentes, como por exemplo, uma educação para o trânsito mais rigorosa. Mas para tal é preciso um entendimento de em que consiste ―educação para o trânsito‖ na legislação. E entender a legislação faz parte do processo para a sua execução.

A partir da experiência da pesquisadora como educadora de trânsito e da junção com o curso de Pedagogia será feita uma análise de como ocorreu a entrada do tema ―educação‖ nas leis e como era o processo ensino-aprendizagem. A pesquisa abordará os anos de 1910 a 1997. Sabemos que muitas mudanças ocorreram até apresente data, mas o marco final foi escolhido tendo em vista o Código de Trânsito em vigor.

Pretendemos com esse trabalho levantar alguns questionamentos e alavancar novos estudos nessa área.

1.3. Objetivos

Com essa pesquisa pretendemos entender, a partir das regulamentações brasileiras, a construção da educação para o trânsito. Nesse sentido, objetivamos analisar e problematizar as regulamentações que foram aprovadas no período estudado de forma a contribuir para um maior entendimento dessa construção e, consequentemente, inferir se houve avanços ou retrocessos na abordagem da educação para o trânsito na aprovação e edição de tais documentos.

1.4. Método

Para a realização dessa pesquisa de monografia foi utilizada a metodologia de análise documental2 a partir de fontes oficiais escritas sobre a legislação de trânsito, que foram

1

Art. 1o Qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às penalidades administrativas do art. 165 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, por dirigir sob a influência de álcool.

2

Segundo Gil (2002) a pesquisa documental é muito parecida com a bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes, pois a primeira forma vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser

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acessadas através de sítios da internet e bibliotecas. Em um primeiro momento, analisamos uma publicação comemorativa sobre os 100 anos de Legislação de Trânsito no Brasil, data que foi comemorada no ano de 2010. A partir de palavras-chave pré-definidas como educação, ensino, aprendizagem, formação, dentre outras, foi possível a construção de um quadro com a incidência de cada palavra e uma pré-seleção de leis, decretos, decretos-leis ou resoluções que seriam analisados.

No decorrer das leituras foi necessário intercalar uma breve descrição da história da indústria automobilística e de algumas mudanças ocorridas na política em cada década estudada para que se chegasse a um entendimento do processo de mudança das leis.

Outras leituras também foram necessárias para a construção desse processo histórico. A análise da Constituição Federal do Brasil e das alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) também foram de extrema relevância para que chegássemos a algumas conclusões.

A categorização foi feita a partir de períodos e marcos determinantes para a consolidação da educação para o trânsito. Os dados foram analisados e agrupados em quatro categorias: a primeira, a partir da aprovação do Decreto lei de nº8324 de 1910; a segunda, a partir da instituição do primeiro Código Nacional de Trânsito em 1941; a terceira, a partir da aprovação do segundo Código Nacional em 1966 e, a quarta, a partir do Código em vigor. Os dados serão analisados sob a ótica dos avanços e retrocessos.

1.5. Referenciais teórico-metodológicos

Para uma contextualização dessa pesquisa consideramos os conceitos de história da educação, de cultura e de trânsito. O conceito de comportamento humano também será importante para entendermos a lógica da educação do indivíduo para o trânsito. Não nos estenderemos nessa questão uma vez que nossa intenção não é entender esse comportamento, mas sim, o que orienta esse comportamento.

reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. Além de analisar os documentos de ―primeira mão‖ (documentos de arquivos, igrejas, sindicatos, instituições etc.), existem também aqueles que já foram processados, mas podem receber outras interpretações, como relatórios de empresas, tabelas etc.

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1.5.1. História

A história se apresenta em várias áreas do conhecimento, possuindo assim variadas definições. Dessa forma, faremos uma abordagem considerando a história cultural como norteadora deste trabalho. Segundo Chartier (1990) ―(...) a história cultural tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada e dada a ler (...)‖ (CHARTIER, 1988, p. 16-17). Para o autor, a partir desses pressupostos é possível entender como os sujeitos atribuem significados à sociedade na qual estão inseridos e quais significados são atribuídos ao uso e às apropriações de objetos culturais de uma dada época. Nesse sentido, optamos por esse conceito para tentar entender como a cultura do automóvel e, consequentemente, a sua massificação ocorreram em diferentes épocas e como se deu essa apropriação. Em contrapartida pressupõe-se que a educação nessa mesma cultura que se apropriou desse objeto deva ser revista acompanhando todo esse processo cultural.

Segundo Galvão (2010) o estudo da história, seja ela de qualquer abordagem, possibilita ao pesquisador acompanhar de perto como se deram as mudanças culturais e sociais de uma dada época, mas para isso é necessário um trabalho em que ―o historiador debruça-se sobre esse passado e extrai dele lições para o presente e para o futuro.‖ (GALVÃO, 2010, p. 12) Ainda segundo a autora, a história nos permite ―(...) olhar a nossa realidade com paciência (...)‖ (GALVAO, 2010, p. 13) para que possamos entender que as mudanças ocorrem de forma lenta e que é necessário um longo período para se estabelecer mudanças.

1.5.2. Educação

No decorrer dos anos a educação tem sido definida de inúmeras formas e por vários autores, necessitando, dessa forma, que apresentemos um conceito de educação que mais se aproxime do assunto estudado. Assim, abordaremos o conceito de educação a partir da definição utilizada por Brandão (1995). Segundo esse autor a educação é um processo que varia conforme o tempo e os lugares e que os sujeitos são peças importantes nessa mudança que se processa de forma cultural. Através da educação é possível intervir no processo cultural de uma sociedade, definindo novas regras e valores para o funcionamento da mesma. Para ele a educação tem o poder de transformação da realidade e é um processo que não possui apenas um modelo e não está em um só lugar, existindo muitos tipos de educação:

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A educação está em todos os lugares e no ensino de todos os saberes. Assim não existe modelo de educação, a escola não é o único lugar onde ela ocorre e nem muito menos o professor é seu único agente. Existem inúmeras educações e cada uma atende a sociedade em que ocorre, pois, é a forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, portanto, a educação de uma sociedade tem identidade própria. (BRANDÃO, 1995, p.7).

Cabe ressaltar então que o processo de educação para o trânsito pode ser entendido à luz dessa teoria, pois educar para o trânsito pressupõe que mudanças culturais dentro das sociedades serão norteadoras na formulação de novas leis no sentido de educar os indivíduos para a utilização do sistema de trânsito.

1.5.3. Trânsito

O Código de Trânsito Brasileiro define o trânsito como: ―a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.‖ (Lei nº 9503 de 23 de setembro de 1997). O termo ―tráfego‖ também é utilizado no documento, mas não é definido, deixando subentendido que teria o mesmo significado. O dicionário Aurélio Eletrônico do ano de 1999, versão 3.0, define o trânsito como:

(zi). [Do lat. transitu.]S. m. 1. Ato ou efeito de caminhar; marcha. 2. Ato ou efeito de passar; passagem: 3. Caminho, trajeto; passagem. 4. Morte, passamento: 5. Mudança, passagem: 6. Movimento, circulação, afluência de pessoas ou de veículos; tráfego: 7. Restr. Trânsito (6) nas cidades, considerado no conjunto; circulação, tráfego, tráfico. 8.Acesso fácil; boa aceitação: 9. Instrumento us. em topografia para medir ângulos horizontais. (Dicionário Aurélio Eletrônico século XXI, versão 3.0, 1999)

Já o termo ―tráfego‖ é definido como ―Movimento, circulação de trens, de veículos (numa rodovia), de aviões etc‖ (Dicionário Aurélio Eletrônico século XXI, versão 3.0, 1999). Ao analisar tais conceitos percebe-se que há uma grande diferença entre os dois termos. Segundo essa definição, entendemos que o ato de transitar é feito por todos os usuários da via e não só por condutores de veículos, e o termo tráfego definiria a utilização das vias para fins de transporte. Vasconcelos (1998) define o termo ―trânsito‖ como ―(...) o conjunto de todos os deslocamentos diários feitos pelas calçadas e vias da cidade, e que aparece nas ruas na forma

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da movimentação geral dos pedestres e veículos‖ (VASCONCELOS, 1998, p.11) sugerindo assim que transitar envolve o ato de ir e vir independente da forma utilizada.

Para Rozestraten (1988) o trânsito é ―o conjunto de deslocamentos de pessoas e veículos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional de normas, que tem por fim assegurar a integridade de seus participantes‖. (ROZESTRATEN, 1988, p.4) Nessa definição encontramos envolvido o complexo sistema de trânsito que, segundo esse mesmo autor, envolve ―o homem, a via e o veículo‖ que são os três elementos essenciais nesse processo. Processo esse que, segundo Rozestraten, é direcionado por um conjunto de normas que possibilitarão a preservação da integridade desses usuários.

Nessa pesquisa utilizaremos o conceito de trânsito na perspectiva do Código de Trânsito Brasileiro e do autor Rozestraten, uma vez que são várias as definições. Pretendemos utilizar uma definição mais ampla que nos possibilite compreender o termo educação para o trânsito no sentido de sua aplicação a todos os usuários das vias.

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CAPÍTULO 2 - A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL

Nesse capítulo apresentaremos uma análise das leis3, decretos4, decretos-leis5 e resoluções6 editadas no período de 1910 a 1997. Não foram analisadas as resoluções 100/48; 145/49; 149/49; 160/49; 165/49; 230/52; pois segundo o Departamento Nacional de Trânsito, tais resoluções não se encontram em arquivo.

2.1. Decreto Nº 8.324 de 27 de outubro de 1910

O primeiro documento decretado que aprovou regulamentos para o trânsito surgiu em 1910 no governo do então presidente do Brasil, Nilo Peçanha. O Decreto Nº 8.324 de 27 de Outubro de 1910, trazia em sua pauta a aprovação de regulamento para o serviço subvencionado de transportes por automóveis, que tinha como objetivo facilitar o transporte no país.

Artigo único. E' approvado o regulamento que com este baixa assignado pelo Ministro e Secretario de Estado da Viação e Obras Publicas, para o serviço subvencionado de transporte de passageiros ou mercadorias por meio de automóveis industriaes, ligando dous ou mais Estados da União ou dentro de um só Estado. (texto original) (decreto nº 8324 de 1910)

Em um total de 39 artigos o texto era bastante específico, tratando da concessão e construção das estradas de rodagem para automóveis. Em nenhum momento o documento mencionava os requisitos para a condução de veículos e normas para a circulação, e muito menos o termo ―educação para o trânsito‖.

Nessa época a frota de veículos ainda era muito pequena. Segundo dados da Associação de Fabricantes de automóveis do Brasil, a ANFAVEA, a inserção do automóvel no país ocorreu antes do final do século XIX. Em 1903 a frota de veículos em São Paulo era de 6 veículos,

3

Regra geral, justa e permanente estabelecida por vontade imperativa do Estado. Qualquer norma jurídica obrigatória, de efeito social, emanada do poder público competente. Conceitua-se como dispositivo a parte da lei que contém os preceitos coercitivos devidamente coordenados e articulados. (http://tesouro.fazenda.gov.br/serviços/glossário)

4

"Lato Sensu", todo ato ou resolução emanada de um órgão do Poder Público competente, com força obrigatória, destinado a assegurar ou promover a boa ordem política, social, jurídica, administrativa, ou a reconhecer, proclamar e atribuir um direito, estabelecido em lei, decreto legislativo, decreto do Congresso, decreto judiciário ou judicial; 2 - Mandado expedido pela autoridade competente: decreto de prisão preventiva, etc; 3 - Ato pelo qual o chefe do governo determina a observância de uma regra legal, cuja execução é de competência do Poder Executivo e; 4 - "Stricto Sensu", qualquer sentença proferida por autoridade judiciária. (http://tesouro.fazenda.gov.br/serviços/glossário)

5

Decreto com força de lei, que num período anormal de governo é expedido pelo chefe de fato do Estado, que concentra nas suas mãos o Poder Legislativo, então suspenso. Pode, também, ser expedido pelo Poder Executivo, em virtude de autorização do Congresso, e com as condições e limites que a Constituição estabelecer. A Constituição de 1988 não prevê, no processo Legislativo, a figura de Decreto-lei. (http://tesouro.fazenda.gov.br/serviços/glossário)

6

Ato legislativo de conteúdo concreto, de efeitos internos. É a forma que revestem determinadas deliberações da Assembleia da República. As Resoluções não estão, em princípio, sujeitas a promulgação e também não estão sujeitas a controlo preventivo da constitucionalidade, excepto as que aprovem acordos internacionais. (http://tesouro.fazenda.gov.br/serviços/glossário)

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passando para 83 em 1904, ano em que foi expedida a primeira carteira de habilitação. De 1914 a 1918, período em que ocorreu a 2ª Guerra Mundial, os carros que rodavam no Brasil eram todos importados. No ano de 1919 surgiu a primeira linha de montagem, a Ford, e atrás dela vieram várias outras, trazendo grande expansão para o setor. Mas com a crise das bolsas de valores ocorrida em 1929, na cidade de Nova York, o crescimento foi retardado, sendo retomado em 1945, após o fim da 2ª Guerra Mundial.

No tocante às normas e regras de trânsito, não houve muitas aprovações nesse período. Alguns decretos-leis dessa época encontrados em buscas no Diário Oficial da União (DOU) tratavam da construção de estradas e da circulação internacional de veículos. No ano de 1922, o Decreto Lei. nº 4.460 autorizava a concessão de subvenção ao Distrito Federal e aos Estados que construíssem e conservassem estradas de rodagem nos respectivos territórios. Com relação a normas referentes à circulação de veículos, o decreto apenas definia quais veículos poderiam circular nas estradas:

§ 2º As estradas deverão ser franqueadas a quaesquer vehiculos, automóveis ou não, com excepção dos chamados carros de bois de eixo móvel, que por ellas não poderão transitar. Ao Poder Executivo compete fixar, no regulamento que baixar para observância das condições impostas pela presente lei, o mínimo admissível para a largura do aro e para o comprimento do raio das rodas. (texto original) (Decreto Lei. nº 4.460 de 1922)

Em seguida, o Decreto lei N. 4.730, de 5 de setembro de 1923, autorizava o Poder Executivo a mandar construir uma estrada de rodagem, adaptável ao tráfego de automóveis, ligando Porto Nacional, no Estado de Goyaz, à cidade de Barreiras, no Estado da Bahia:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a mandar construir uma estrada de rodagem, adaptavel a automoveis, que, partindo da cidade de Porto Nacional, no Estado de Goyaz, passe pelos arraiaes do Carmo e Chapada, cidade de Natividade, villas de Conceição do Norte e Santa Maria de Taguatinga, terminando na cidade de Barreiras, no Estado da Bahia. (texto original) (Decreto nº 4.730 de 1923)

Em 1927, foram aprovados dois decretos. O decreto nº 5.141, de 05 de Janeiro, criava um fundo especial para a construção e conservação de estradas:

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Art. 1º Fica creado o «Fundo Especial para Construcção e Conservação de Estradas de Rodagem Federaes, constituido por um addicional aos impostos de importação para consumo a que estão sujeitos: gazolina, automoveis, auto-omnibus, auto-caminhões, chassis para automoveis, pneumaticos, camaras de ar, rodas massiças, motocycletas, bicycletas, side-car e accessorios para automóveis (texto original) (Decreto nº5.145 de 1927)

Nessa época, os meios mais utilizados para os transportes ainda eram as vias ferroviárias e fluviais, o que alongava muito o trajeto. Em 1926, o presidente do Brasil, Washington Luís, declarou à nação: ―governar é abrir estradas‖, dando impulso assim à exploração da malha viária no país que até então não era explorada devido às más condições para tráfego. Esse processo deu início a investimentos cada vez maiores para a expansão da extensão rodoviária brasileira.

O outro decreto, aprovado em 1927 e de nº. 5.372, autorizava a expedição de um regulamento para estabelecer as regras para o tráfego internacional de veículos no território nacional:

Art. 1º Fica o Presidente da Republica autorizado a expedir regulamento para a circulação dos automoveis, estabelecendo, como os demais paizes civilizados do mundo, regras para o trafego internacional desses vehiculos, estabelecendo tambem a marcação das estradas de accôrdo com as nórmas mundiaes, de fórma a serem garantidas a segurança e demais condições, de accôrdo com a pratica e a technica adoptadas universalmente (texto original) (Decreto nº5.372 de 1927)

No ano seguinte, o decreto nº 18.323, de 24 de Julho, estabelecia tal regulamento e regras:

Art. 1º Fica approvado o regulamento, que com este baixa, estabelecendo regras para a circulação internacional de automoveis, no territorio brasileiro, de conformidade com o decreto n. 5.252 A, de 9 de setembro de 1927, e para a signalização, segurança do transito e policia das estradas de rodagem, de accôrdo com as ultimas convenções internacionaes. (texto original) (Decreto nº 18.323 de 1928)

O documento possuía 93 artigos que tratavam da circulação internacional de veículos. Esses artigos especificavam questões de sinalização, segurança e punições para aqueles que infringissem quaisquer uns dos artigos mencionados em tal decreto. Era um documento amplo

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e com exigências rigorosas para se poder transitar em território brasileiro. Isso se deu devido à promulgação da convenção internacional de Paris, firmada em 1926, da qual o Brasil era signatário. A convenção estabelecia normas e preceitos para os automóveis serem admitidos internacionalmente para circular em vias públicas:

Art. 1º. A Convenção aplica-se a circulação de automóveis em geral, qualquer que seja o objetivo ou a natureza do transporte, sob a ressalva, porem, das disposições especiais nacionais, relativas aos serviços públicos de transporte em comum de passageiros e aos serviços públicos de transporte de mercadorias. (Decreto nº 19.038 de 17 de Dezembro de 1929)

Em 17 artigos, a convenção trazia normas para a circulação de veículos, mas nada relativo a requisitos para o condutor. É interessante ressaltar que, para os condutores brasileiros, não havia nenhum documento com tais exigências.

Em abril de 1939 foi aprovado o decreto nº 1.211 autorizando a abertura de um crédito especial para a realização do 1º Congresso Nacional de Trânsito e da Semana Educativa de Trânsito.

Artigo único. Fica aberto, pelo Ministério da justiça e Negócios Interiores, o crédito especial de 30:000$000 (trinta contos de réis), para auxiliar a realização do 1º Congresso Nacional de Trânsito e da Semana Educativa de Transito, a serem levados a efeito na Capital da Republica, no mês de abril corrente, por iniciativa do Touring Club do Brasil. (Decreto nº 1211 de 1939)

Em buscas detalhadas a arquivos e fontes não foi possível encontrar nenhum documento referente ao evento.

Ainda no ano de 1939 foi aprovado o decreto-lei nº 1.400 que exigia novas condições para o exercício da profissão de motorista, considerando:

(...) que, na atual situação de emprego generalizado da motorização, importa à Segurança Nacional dispor do maior número possível de motoristas profissionais brasileiros, com que se possa contar em estado de guerra‖ Art. 1º Para obtenção da carteira de motorista profissional, além das condições já previstas nas leis e regulamentos em vigor, são indispensáveis as seguintes:

I, ser brasileiro nato ou naturalizado;

II, possuir a carteira de reservista das Forças Armadas nacionais, ou, pelo menos, documento comprobatório de que o candidato a motorista não está

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em falta com a Lei do Serviço Militar, passado por Circunscrição de Recrutamento. (Decreto nº 1.400 de 1939)

As exigências eram definidas tendo em vista preparar os motoristas para um possível ―estado de guerra‖ em que seria necessário contar com esses motoristas profissionais, já que nessa época havia começado a Segunda Guerra Mundial.

O período de 1910 a 1941, ano em que foi decretado o primeiro Código Nacional de Trânsito, foi um período sem aprovação de muitas leis que normatizassem o trânsito. Inferimos que isso se deva à frota reduzida de veículos que circulavam na época, não havendo a necessidade dessas aprovações.

2.2. O Código Nacional de Trânsito de 1941

O primeiro Código Nacional de Trânsito foi decretado através do Decreto-lei nº 2.994 em janeiro de 1941. No capitulo X o documento definia as normas para o processo de habilitação. A partir de então os candidatos deveriam saber ler e escrever:

Art. 93. Para inscrição nos exames de qualquer categoria, é requisito indispensável saber ler e escrever. (Decreto-lei nº 2.994 de janeiro de 1941, capítulo X)

Em outro artigo, tal exigência era comprovada uma vez que o candidato à carteira de habilitação deveria solicitar o seu pedido por escrito:

Art. 95. O candidato a exame ou a expedição de carteira instruirá o seu pedido, escrito, com os seguintes documentos: (...)(Decreto-lei nº 2.994 de janeiro de 1941, capítulo X)

Até 1941 essa exigência não era determinada por nenhum decreto ou lei específica. Inferimos então que tal exigência passa a ser feita a partir da promulgação do documento.

O Código Nacional de Trânsito de 1941 fez uma primeira referência ao exame para a habilitação:

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l a Oral (de máquinas), em que o candidato demonstrará, praticamente, no espaço máximo de 10 minutos para cada examinador,conhecimento das peças principais do motor e sua função,das avarias comuns e meios de evitá-las ou remediá-evitá-las, e tudo o mais que se relacione com o mecanismo do veículo.

2.a Prática (de direção), em que o candidato executará o manejo de todas as peças essenciais de condução do veículo e manobras comuns na sua direção, e pela qual devem ser cuidadosamente apreciados não só o grau do desembaraço com também as qualidades de calma e prudência durante a prova.

3.ª Regulamentar, em que o candidato demonstrará conhecimentos deste Código, no que lhe for aplicável; conhecimentos das ruas da cidade, com as mãos e contramãos; instruções em vigor relativas ao serviço de veículos, localização dos principais edifícios públicos, estabelecimentos industriais e casas de diversão. (Decreto-lei nº 2.994 de janeiro de 1941, capítulo X)

Em nenhum momento, o documento tratava da educação para o trânsito, constituindo-se como um documento que abordava o exame para habilitação como um processo técnico em que o candidato deveria ter conhecimentos da máquina e das vias pela quais iria circular.

Logo em seguida, no mês de setembro do mesmo ano, houve uma alteração que deu nova redação ao Código Nacional de Trânsito devido à inclusão de anexos sobre sinalização e modelos de documentos. No documento não houve nenhuma alteração em relação às normas para o processo de habilitação. Os requisitos para habilitar-se continuaram os mesmos, mudando apenas o numero do artigo. ―Art. 103. O candidato a exame de habilitação deverá instruir o requerimento respectivo com os seguintes documentos ou comprovações: (…) e) saber ler e escrever.‖ (Decreto-lei nº 3.651 de 25 de setembro de1941, Secção I,capítulo IX) O Código continuava com um caráter técnico e mecânico em que o processo de habilitação consistia em apenas saber conduzir a máquina, mas não modificava as exigências para o candidato à habilitação no sentido de educá-lo para a utilização das vias na convivência com os outros usuários.

A r t. 109. O exame para motorista amador habilita somente à condução de automóveis de uso particular, e constará de uma argüição sobre as regras deste Código e, em especial, a mão contramão as vias públicas da localidade onde residir; de prova prática de direção, prestada segundo as normas prescritas para os profissionais. (Decreto-lei nº 3.651 de 25 de setembro de1941, Secção III)

No conteúdo do documento não havia nenhum artigo que mencionasse a educação de trânsito. No ano de 1946 foi aprovado o Decreto-lei nº 9.545 que dispunha sobre a habilitação e

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exercício da atividade de condutor de veículos automotores. No 2º artigo do documento havia um parágrafo que especificava que o candidato à habilitação não seria admitido se não soubesse ler e escrever.

Art. 2º Para, prestar exame de habilitação, o candidato requererá inscrição à repartição de trânsito, juntando o seguintes documentos ou comprovações (...)

§ 1º Não será concedida inscrição candidato que não souber ler e escrever. (Decreto-lei nº 9.545 de 1946)

2.2.1. As Resoluções

Após o Código de 1941, foram implantadas 371 resoluções. Apenas seis resoluções mencionavam a educação para o trânsito ou algum assunto sobre a formação.

Na resolução de nº187 do ano de 1950, o texto listava os cento e setenta e cinco servidores que, mesmo analfabetos, poderiam ser candidatos à habilitação. Isso devido à necessidade de se manter os carroceiros e cocheiros que já exerciam tais funções. A não aceitação dessa condição resultaria em graves consequências como a paralisação de serviços imprescindíveis à cidade do Distrito Federal.

(...) permitir que os serventuários, do Departamento de Limpeza Urbana da Secretaria Geral do Distrito Federal, abaixo nominalmente, relacionados, sejam admitidos a exame para obtenção de carteira de habilitação de Carroceiros e Cocheiro ainda que analfabetos;‖. ( BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de Trânsito no Brasil: 1910 a 2010, 2010, Resolução nº187/50)

Tal medida trazia restrições quanto ao trajeto e à zona de circulação que, segundo a resolução, abrangeria somente a zona rural.

Logo em seguida, foram regulamentadas as resoluções nº312/1956, 321/1957 e 336/1958 que tratavam do mesmo assunto: a concessão de habilitação a candidatos analfabetos.

Houve então um retrocesso na lei, pois a partir de 1941 todos os candidatos deveriam saber ler e escrever. Uma hipótese que talvez justifique essa alteração poderia ser a situação específica da época em que a educação formal ainda não era demandada pela população. Na década de 1940, segundo o IBGE, a porcentagem de analfabetos no Brasil era superior a 50%, apesar de

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a Constituição Federal já definir a educação ―(...) como um direito de todos devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos.‖ (CF/1934). Mas seria a partir da aprovação da primeira LDBEN, em 1961, que o número de analfabetos no país passaria a diminuir com a garantia do direito igualitário a todos:

Art. 3º O direito à educação é assegurado:

I - pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma de lei em vigor;

II - pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem dos encargos da educação, quando provada a insuficiência de meios, de modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos. (LDBEN, 1961, p.1)

A educação para o trânsito foi mencionada com maior importância na última resolução publicada antes da promulgação do Código Nacional de Trânsito no ano de 1966, a de n°371. Tal resolução aprovava as instruções relativas à ―Semana Nacional de Trânsito‖. Pela primeira vez um documento tratava do assunto mencionado como ―fator importante‖. Tal resolução baixava as instruções para uma maior divulgação da ―Campanha Nacional Educativa de Trânsito‖ que foi estabelecida pelo decreto lei nº 45.064 de dezembro de 1941:

Considerando que o Decreto supra, institui a ―Campanha Nacional Educativa de Trânsito‖ a se realizar durante a semana que precede o dia 25 de setembro de cada ano;

Considerando que os problemas de trânsito, além do aspecto concernente a Engenharia de Trânsito e as medidas coercitivas ou punitivas destinadas ao cumprimento da Legislação de Trânsito, também incorpora como fator importante, a Educação do Trânsito. ; ―( BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de Trânsito no Brasil: 1910 a 2010, 2010, Resolução nº371/66)

A resolução ordenava que o Conselho Nacional de Trânsito deveria baixar as instruções gerais que iriam regular a campanha para que então houvesse uma maior divulgação. Em buscas minuciosas em bases digitais de legislação e consultas ao Departamento Nacional de Trânsito não foi possível encontrar nenhum documento que apresentasse as referidas instruções, o que indica que a campanha não teve ampla divulgação e muito menos foram baixadas as instruções para que a campanha acontecesse.

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A década de 50 foi marcada pelo processo de nacionalização da indústria automobilística brasileira, uma vez que em 1952, o então presidente do Brasil Getúlio Vargas, proibiu a importação de autopeças se houvesse similar nacional no país; e logo no ano seguinte também proibiu a entrada de veículos completos no país. Tal medida abriu mercado para a produção nacional.

Em 1953, Getúlio Vargas criou a Petrobras7. Isso possibilitou executar as atividades do setor petrolífero no Brasil. Em 1956, a indústria automobilística, até então agrupada no Sinfavea8, criava a Anfavea9 que seria a mola propulsora da indústria automobilística nacional, sacramentada logo em seguida pelo então presidente do Brasil Juscelino Kubtisckek com a criação do Geia10. No ano de 1959, ocorreu o lançamento do primeiro Fusca fabricado pela Volkswagen do Brasil, exatamente no dia 3 de janeiro. Essa data é considerada o marco da indústria automobilística, pois o veículo se tornaria o primeiro a ter baixo custo, possibilitando sua aquisição por milhões de brasileiros.

No ano de 1958, o presidente Juscelino Kubtischek aprovou o Decreto lei nº 45.064 que instituiu a ―Campanha Nacional Educativa de Trânsito‖, no qual se considerava importante a promoção de medidas voltadas para a segurança dos usuários de vias públicas e a necessidade de divulgação do Código de Transito para uma melhor organização da circulação. O documento afirmava ainda que os problemas do trânsito seriam decorrentes de aspectos de engenharia de trânsito e medidas coercitivas ou punitivas, mas que também se deveria incorporar como ―fator importante‖ a educação de trânsito. E também devido aos resultados obtidos em algumas localidades que promoveram a semana de trânsito, ficaria então instituída a Campanha Nacional Educativa de Trânsito. A campanha definiu o dia 25 de setembro como o dia do trânsito e estendia-se às escolas e às universidades:

Art. 1º Fica instituída, em caráter permanente, a ―Campanha Nacional Educativa de Trânsito‖, a ser promovida sob a orientação e supervisão dos Conselhos Nacional e Regionais do Trânsito, abrangendo todo o território nacional pela coordenação dos aludidos Conselhos com os diversos órgãos locais encarregados dos serviços de trânsito.

Art. 2º Anualmente, durante a semana que proceder o dia 25 de setembro, que será consagrado como o ―Dia do Trânsito‖, aludida Campanha terá caráter intensivo, estendendo-se, inclusive, as escolas e universidades.

7 Nome dado à empresa de sociedade mista de petróleo no Brasil. 8 Nome dado ao sindicato dos fabricantes de veículos no Brasil. 9

Associação que substituíra o sindicato de fabricantes de veículos no Brasil.

10 Nome dado ao grupo executivo da indústria automobilística no Brasil, que mobilizou recursos e planos para o

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Art. 3º O Conselho Nacional de Trânsito baixará as instruções gerais reguladoras da Campanha e coordenará as atividades dos Conselhos Regionais no mesmo sentido.

Parágrafo único. Poderão participar da aludida Campanha tôdas as associações civis e de classe, outras entidades e emprêsas privadas que se dediquem ou tenham interêsse ligados a utilização das vias públicas. (texto original) (Decreto lei nº 45.064 de 1958)

A partir de então as campanhas educativas deveriam ser promovidas pelos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito através de ações articuladas.

No ano de 1962, foi aprovada a resolução 353 que estabelecia normas no sentido de dar uniformidade ao processo de habilitação de condutores e também citava a ineficiência das campanhas educativas de trânsito. As instruções contidas no documento deveriam ser seguidas pelos Conselhos Regionais de Trânsito, repartições e Circunscrições de Trânsito.

no sentido de dar uniformidade ao exame de habilitação a motoristas, em função ainda da campanha educativa de transito

Considerando a necessidade presente de evitar conseqüências graves para o transito advindas da habilitação defeituosa dos motoristas...

Considerado que ineficientes serão as campanhas educativas de trânsito se o nível técnico e moral do motorista não estiver a altura de assimilar tal empreendimento... ( BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de Trânsito no Brasil: 1910 a 2010, 2010, Resolução nº353/1962)

O texto do documento mostra que o processo de habilitação era falho, o que trazia consequências graves para o trânsito, e que as campanhas educativas não funcionavam devido à conduta inadequada dos motoristas.

As instruções contidas na resolução 353 tratavam apenas do processo de habilitação, não fazendo nenhuma menção à educação de trânsito, apesar de considerar o tema em sua apresentação.

De acordo com Rozestraten (1988, p.17), para que se produzam comportamentos adequados no trânsito, são necessárias pelo menos três condições, sendo que uma delas é "uma aprendizagem prévia dos sinais e das normas, que devem ser seguidas, para que o homem saiba se comportar adequadamente no sistema complicado do trânsito‖. Esse comportamento nos remete a pensar na educação como fator importante quando aplicada seguindo normas e preceitos.

O funcionamento das chamadas escolas de motoristas deveria obedecer à legislação pertinente que versava apenas sobre o aprendizado da condução do veículo. Isso confirma a hipótese de

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que o processo de habilitação na década de 40 considerava como mais importante para a segurança e a para a circulação a parte prática.

2.3. O Código Nacional de Trânsito de 1966

Em setembro 1966, a lei nº 5.108 instituía o novo Código Nacional de Trânsito. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito, foi feita uma análise das 371 resoluções aprovadas desde a implantação do Código de 1941. Todas as resoluções foram revogadas passando a valer então as novas resoluções expedidas tendo em vista a necessidade de uma melhor compreensão e execução do novo Código.

O Código era composto de 131 artigos. Com relação aos artigos que tratavam de educação e ensino podemos destacar o artigo 5º que apresentava as atribuições do Conselho Nacional de Trânsito, órgão máximo normativo de trânsito. No inciso XI era atribuída ao órgão a promoção de campanhas educativas de trânsito, sendo que essa atribuição também se estendia aos órgãos normativos estaduais, como descrito no artigo 8º inciso V. Os órgãos executivos dos estados, os Departamentos Estaduais de Trânsito, deveriam dispor de serviços variados, dentre eles, a promoção de campanhas educativas de trânsito, conforme descrito no artigo 10º:

Art. 5 Compete ao Conselho Nacional de Trânsito, além do que dispõem outros artigos deste Código:

XI - Promover e coordenar campanhas educativas de trânsito

Art. 8 Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito, no âmbito de suas jurisdições, alem do que dispõem outros artigos deste Código:

V — Promover e coordenar campanhas Educativas de trânsito

Art.10 - Os Departamentos Estaduais de Trânsito, órgãos executivos com jurisdição sobre todo território do respectivo Estado, deverão dispor dos seguintes serviços dentre outros:

h) de campanhas educativas de trânsito. (LEI Nº 5.108 de 21 de setembro de 1966)

Sobre o processo de habilitação, o código determinava em seu artigo 70 os pré- requisitos para o candidato, no qual havia um parágrafo que afirmava que candidatos analfabetos não poderiam se inscrever ao processo de habilitação.

Art. 70. A habilitação para dirigir veículos será apurada através de exame que o candidato requererá à autoridade de trânsito juntando os seguintes documentos, além aos que forem exigidos na regulamentação deste Código: § Não será concedida inscrição ao candidato que não souber ler e escrever. (LEI Nº 5.108 de 21 de setembro de 1966).

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O código anterior não fazia menção ao exame escrito ou oral para candidatos à habilitação, e sim, a uma prova ―regulamentar‖ oral em que deveria demonstrar os conhecimentos necessários à condução do veículo. Já no código de 1966, no artigo 72, eram definidos os exames para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, determinando que o candidato deveria fazer prova escrita ou oral sobre as leis e regulamentações de trânsito:

A r t. 72. Os exames para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação serão os seguintes:

o) de sanidade física e mental, a cargo de médicos do serviço médico oficial de trânsito ou por ele credenciados;

o) escrito ou oral, versando sobre leis e regulamentos de trânsito

c) prática de direção na via pública (LEI Nº 5.108 de 21 de setembro de 1966)

Não houve mudanças significativas, mas começou uma exigência de conhecimentos das leis e regulamentos de trânsito na prova oral ou escrita. Essa exigência provavelmente se deveu à necessidade de um maior conhecimento de normas para uma convivência mais harmônica no trânsito, uma vez que o número de veículos que já circulavam nessa época se tornara bem maior devido à aquisição de veículos populares ocorrida em 1959 com o lançamento do Fusca.

A Campanha educativa aprovada pelo decreto lei nº 45.064 em 1958 foi transformada no artigo 124 que trazia em seu texto a obrigatoriedade de abrangência em todo o território nacional.

Art. 124. Pelo menos uma vez cada ano, o Conselho Nacional de Trânsito fará realizar uma Campanha Educativa de Trânsito, em todo território nacional, com a cooperação de todos os órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito. (LEI Nº 5.108 de 21 de setembro de 1966)

O artigo atribuiu a responsabilidade ao órgão máximo normativo de trânsito, que deveria publicar tais campanhas, que seriam divulgadas e executadas por todos os órgãos componentes do sistema nacional de trânsito. O artigo 125, logo em seguida, viria atribuir ao Ministério da Educação e Cultura a promoção e divulgação de noções de trânsito nas escolas de todo o país:

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Ar t. 125- O Ministério da Educação e Cultura promoverá a divulgação de noções de trânsito nas escolas primárias e médias do País, segundo programa estabelecido de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito. (LEI Nº 5.108 de 21 de setembro de 1966)

A partir de então o Ministério da Educação e Cultura (MEC), seria responsável pela promoção e divulgação do tema ―trânsito‖. Cabe ressaltar aqui que o artigo 125 não trata de campanhas educativas, mas sim afirma que o MEC deve promover ―noções de trânsito‖ nas escolas. Isso nos leva a entender que deveria haver um conteúdo a ser abordado que não fosse apenas uma campanha educativa e a inferir que o tema deveria ser utilizado dentro do currículo escolar. No total dos 131 artigos do Código de 1966, somente em seis encontramos alguma menção relativa à educação de trânsito. Na análise do documento, em comparação com os anteriores, o de janeiro de 1941, e logo em seguida a nova redação em setembro de 1941, percebemos que o foco recai na implantação de punições para o motorista infrator, pois podemos encontrar 48 artigos que tratam de punições a este.

Logo após a implantação do Código de 1966, entra em vigor o decreto-lei n° 237, de 28 de fevereiro de 1967, que modifica o Código Nacional de Trânsito e trata novamente das atribuições dos órgãos normativos de trânsito. Há uma citação sobre o MEC, e em outro artigo desse mesmo documento trata-se dos componentes do Conselho Nacional de Trânsito, e pela primeira vez é mencionado que deverá haver um representante do MEC tecnicamente capacitado para tratar de assuntos do trânsito:

Art. 4º O Conselho Nacional de Trânsito, com sede no Distrito Federal, subordinado diretamente ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, é o órgão máximo normativo da coordenação da política e do sistema nacional de trânsito e compor-se-á dos seguintes membros, tecnicamente capacitados em assuntos trânsito:

f) um representante do Ministério da Educação e Cultura;

Art. 5º Compete ao Conselho Nacional de Trânsito, além do que dispõem outros artigos deste Código:

X - Promover e coordenar campanhas educativas de trânsito;

Art 8º Compete ao Departamento Nacional de Trânsito, especialmente: VI - Incentivar o estudo das questões atinentes ao trânsito;

VIl - Promover a divulgação de trabalhos sôbre trânsito;

XIII - Elaborar de acôrdo com o Ministério da Educação e Cultura, programas para divulgação de noções de trânsito nos Estabelecimentos de ensino elementar e médio; (Decreto lei nº 237 de 28 de fevereiro de 1967)

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Percebemos que passa a haver uma preocupação maior em educar o condutor e em divulgar as referidas ―noções de trânsito‖ até mesmo introduzindo um representante da área da educação que deveria ser tecnicamente capacitado para estudos sobre o tema.

Durante o período de vigência do Código de 1966 foram editadas 15 resoluções. Nenhuma delas tratava de assuntos relativos ao processo de habilitação ou de educação para o trânsito. No ano de 1967, a Constituição da República Federativa do Brasil apresentava três artigos que mencionavam o tema ―trânsito‖, uma novidade, tendo em vista que as Constituições do ano de 1934, substituídas logo em seguida pela do ano de 1937 e posteriormente por uma nova em 1946, não faziam menção ao assunto.

CAPÍTULO II

Da Competência da União Art. 8º - Compete à União: XVII - legislar sobre:

n) tráfego e trânsito nas vias terrestres;

Art. 20 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios

II - estabelecer limitações ao tráfego, no território nacional, de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, exceto o pedágio para atender ao custo de vias de transporte.

Art. 22 - Compete à União decretar impostos sobre

VII - serviços de transporte e comunicações, salvo os de natureza estritamente municipal; (BRASIL. CF/67)

A constituição fazia referência aos dois conceitos explorados no início desse trabalho, confirmando a nossa hipótese da diferença entre os dois termos a nível constitucional. Apesar de não mencionar a educação para o trânsito, é definida a atribuição da competência da União em legislar sobre o tema, uma vez que o mesmo é de abrangência nacional.

No ano de 1968 foi aprovado o Regulamento do Código Nacional de Trânsito pelo Decreto nº 62.127. O documento foi aprovado usando da atribuição que lhe confere o artigo 83, item II, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966, alterada pelo Decreto-lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967. Essa alteração foi necessária para que se pudesse unificar as alterações feitas pelo decreto 237 com o Código Nacional do ano de 1966. O novo documento apresentava uma organização muito diferente do anterior. Os artigos eram separados por capítulos e dentre estes havia seções. O documento anterior possuía 131 artigos e o atual passaria a vigorar com 264, mais que o dobro do anterior. A diferença é que muitos assuntos foram introduzidos no documento. Com relação ao tema educação para o trânsito ou ensino, podemos destacar as seguintes alterações:

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Na seção I, o documento trazia as atribuições dos órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito, dentre eles o Conselho Nacional de Trânsito, que deveria possuir a partir de então um representante do Ministério da Educação e Cultura, reafirmando o decreto 237:

Art 6º O Conselho Nacional de Trânsito compor-se-á, além do seu Presidente e do Diretor-Geral Departamento Nacional de Trânsito, de: II - Um representante do Ministério da Educação e Cultura. (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

E, dentre as competências do órgão, no artigo 9º inciso X era definida a promoção e coordenação de campanhas educativas de trânsito.

Art. 9º Compete ao Conselho Nacional de Trânsito:

X - Promover e coordenar campanhas educativas de trânsito (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

Tal competência era reforçada no inciso XXXIX do mesmo artigo:

XXXIX - Promover, incentivar, coordenar e orientar a Campanha Nacional Educativa de Trânsito; (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

A competência se estendia aos conselhos estaduais e do Distrito Federal:

Art. 15. Compete ao Conselho Estadual de Trânsito:

Art. 18. No Distrito Federal haverá um Conselho de Trânsito (CONTRADIFE), com a mesma composição e competência dos Conselhos Estaduais (...)

V - Promover e coordenar campanhas educativas de trânsito; (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

Já o Departamento Nacional de Trânsito, órgão máximo executivo, tinha competências definidas no sentido de incentivar estudos de questões sobre o trânsito, promoção e divulgação desses trabalhos, além de elaborar programas de acordo com o Ministério da Educação e Cultura de forma a divulgar noções sobre o tema trânsito nos estabelecimentos de ensino:

Art 28. Ao Departamento Nacional de Trânsito compete, especialmente: (...)

VI - Incentivar o estudo das questões atinentes ao trânsito; VII - Promover a divulgação de trabalhos sobre trânsito;

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XIII - Elaborar, de acordo com o Ministério da Educação e Cultura, programa para divulgação de noções de trânsito nos estabelecimentos de ensino elementar e médio; (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

Os Departamentos de Trânsito (DETRAN), órgãos estaduais de trânsito, deveriam dispor de vários serviços dentre eles de campanhas educativas de trânsito:

Art. 29. Os Departamentos de Trânsito (DETRAN), órgãos executivos com jurisdição sobre a área do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal deverão dispor, entre outros, dos seguintes serviços (...)

VIII - De campanhas educativas de trânsito. (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

A nova organização do código definia muito bem as atribuições, mas não trazia muitas novidades nessa primeira parte uma vez que os órgãos de trânsito até então já tinham tais atribuições. Seria necessário um estudo mais aprofundado sobre a execução dessas atribuições para podermos entender melhor esse processo e ter uma resposta sobre como ele se dava na prática.

Uma alteração significativa é apresentada no artigo 139, em que há uma especificação sobre os requisitos para o exercício das funções de diretor e instrutor de escola de formação de condutores:

Art. 139. Os diretores e instrutores de escolas de formação de condutor de veículo automotor só poderão exercer essas funções após obter certificado de habilitação expedido pelos Departamentos de Trânsito.

Parágrafo único. Para obter o certificado, o interessado deverá satisfazer, especialmente, as seguintes condições: (...)

II - obter aprovação em exame psicotécnico para fins pedagógicos, feito em entidade oficial ou credenciada; (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

No documento anterior havia um artigo que mencionava o assunto, mas não especificava a exigência para obtenção do certificado como no artigo abaixo:

Art. 119 A contar de dois anos da publicação deste Código, n e n h u m diretor ou instrutor de escola de aprendizagem ou examinador de trânsito poderá exercer essas funções sem que apresente Certificado habilitando-o para esse mister, expedido pelos Departamentos Estaduais de Transito. (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

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Percebemos a necessidade de uma instrução mais qualificada e com fins mais pedagógicos. Inferimos que o aumento da frota de veículos no país e consequentemente o aumento do número de candidatos à habilitação exigiu uma melhor formação dos profissionais das escolas de formação de condutores, tendo em vista que provavelmente o número de acidentes ocorridos nessa época também já era considerável.

Com relação aos requisitos para a habilitação e aos exames prestados, o novo documento continuava com as mesmas exigências, somente alterando os números dos artigos:

Art. 143. O requerimento do candidato será apresentado à autoridade do trânsito com jurisdição no lugar de sua residência, e instruído com: (...) IV - Declaração, de próprio punho, de que saber ler e escrever; (...)

Art. 144. Os candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação sujeitar-se-ão aos seguintes exames, na ordem em que vão indicados;

III - Escrito ou oral, sobre a legislação de trânsito; (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

No tocante às campanhas educativas de trânsito, não há alteração significativa, continuando apenas dois artigos que tratam do tema. O artigo 124 passa a ser o 228 e nele é acrescentado um parágrafo único que trata da responsabilidade da elaboração e supervisão de tais campanhas nos Estados e no Distrito Federal:

Art. 228. Pelo menos uma vez por ano, o Conselho Nacional de Trânsito realizará campanha educativa de trânsito em todo o território nacional com a colaboração de todos os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito.

Parágrafo único. Nos Estados, Territórios e Distrito Federal, a elaboração e supervisão da execução do programa a ser desenvolvido durante a campanha nacional educativa de trânsito ficará a cargo dos respectivos Conselhos. (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

E no artigo 229, antigo 125, a única mudança é a responsabilidade por estabelecer os programas para a promoção de noções de trânsito, que no documento anterior era do Conselho Nacional de Trânsito, passando neste a ser do Departamento Nacional de Trânsito:

Art. 229. O Ministério da Educação e Cultura promoverá a divulgação de noções de trânsito nas escolas de ensino médio e elementar, segundo programas estabelecidos de acordo com o DENATRAN. (Decreto nº 62.127 de 16 de janeiro de 1968)

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Em 1968, um tratado foi assinado com o objetivo de padronizar e uniformizar a circulação de veículos em circulação internacional. A Convenção de Viena foi firmada na cidade de Viena, localizada na Áustria, em 08 de novembro de 1968, e só foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 86.714, de 10 de dezembro de 1981. O documento trazia normas para a circulação internacional de veículos e adotava um modelo único de sinalização de trânsito, além de normas para a conduta de usuários nas vias, regras de circulação, limites de velocidade, dentre outros itens. Os países signatários deveriam adotar as disposições no que fosse possível desde que não entrassem em conflito com a legislação do país. Com relação à educação e formação do condutor não havia nenhum artigo específico.

2.3.1. As Resoluções

Após o Código de 1968 foram aprovadas 450 resoluções, dentre as quais, 32 tratavam de educação e formação, sendo que algumas não citadas nessa pesquisa são apenas alterações feitas que não tratam do tema de nosso trabalho. A resolução 390/68 foi aprovada, tratando da regulamentação das escolas de formação de condutores. A partir daí o foco recaiu na regulamentação dessas escolas no tocante às normas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Essa resolução regulamenta o exame como escrito ou oral sobre a legislação de trânsito e trata dos fins pedagógicos do exame psicotécnico que deverá ser realizado pelos instrutores de trânsito, reforçando o artigo 139 do código em vigor na época. Até essa data não havia regulamentação e a instrução aos candidatos era feita até mesmo por um condutor com mais de dois anos de habilitação:

Art. 4º Procedido o registro, os diretores e instrutores de escolas de formação de condutores de veículo automotor só poderão exercer essas funções, após obter o certificado de habilitação a que se refere o artigo 139 do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 62127 de 16 de janeiro de 1968. Parágrafo único. O certificado será expedido pelo Departamento de Trânsito do Estado, Território ou Distrito Federal, e para a sua obtenção o interessado deverá satisfazer, especialmente, às seguintes condições:

a) ser condutor de veículo automotor de categoria profissional, com bons antecedentes profissionais;

b) ser aprovado em exame psicotécnico para fins pedagógicos, feito em entidade oficial ou credenciada; ( BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de Trânsito no Brasil: 1910 a 2010, 2010, Resolução nº390/68)

Referências

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