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DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

PUC/SP

São Paulo

2013

Espaços de Imagens:

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Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica, sob orientação da Profa. Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara.

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

São Paulo

2013

Espaços de Imagens:

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Agradecimentos

 

 

À minha orientadora, Profa. Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara pela compreensão e apoio,  incentivo e inestimáveis ensinamentos. 

 

Aos professores do COS pelas aulas bem conduzidas que muito me acrescentaram.   

À Cida Bueno pelo apoio e atenção.   

Aos  colegas do Grupo de Pesquisa Espacc pelo conhecimento compartilhado ao longo  de vários anos. 

 

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A pesquisa tem como principal interesse entender como se elaboram estruturas de  sentido baseadas nas relações entre espaço e imagem. Em face da multiplicação de  imagens pelas tecnologias de informação e comunicação, de natureza eminentemente  digital, tal entendimento capacita‐nos a esquadrinhar a natureza da experiência visual  que hoje é oferecida pelos múltiplos espaços das imagens. A hipótese fundamental  sustenta que a imagem não pode operar fora de um espaço; portanto, espaço e imagem  participam  juntos  dessa  experiência  visual.  Assim,  o  espaço,  como  processo  transformado em meio, impõe sua realidade material e histórica para a formação da  imagem. Como a imagem depende de um aparato medial, transformações na natureza  mediativa  do  espaço  inevitavelmente  se  refletirão  na  esfera  das  imagens e,  em  consequência, na cultura. Por essa perspectiva, não se trata apenas de aferir e avaliar as  condições técnicas de produção da imagem dadas pelo meio técnico e que configuram a  sua materialidade, mas também incluir os espaços que as abrigam, ou seja, os espaços  multiplicados para e pela imagem, as atividades que existem neles e entre eles, e as  consequências socioculturais derivadas desse dinamismo, cuja investigação torna‐se o  principal  objetivo  da  pesquisa.  Pelo  processo  de  espacialização  da  imagem,  discriminaram‐se  quatro  categorias,  permitindo  compreender  seus  modos  de  construção,  circulação  e  exposição,  que  constituem  a  cadeia  operatória  dessa  emergente  espacialidade  imagética.  As  categorias  observadas  são  a  medialidade/construtibilidade e a visualidade/exponibilidade, que possibilitam explorar  as condições de surgimento de redes de relações instaladas entre os interagentes,  operadas  pela  intermedialidade  e  verdadeiras  responsáveis  pela  hibridização  e  multiplicidade das imagens mediáticas, no âmbito de uma ecologia da imagem. Verifica‐ se  aqui a  formação de  um  sistema  que  opera  pela  dinâmica  relacional  de seus  elementos, formado pelo meio e o medium, e sua interação com outro espaço bem mais  amplo, o ambiente, que conta com a presença do espectador. O percurso da pesquisa  situa‐se  entre os produtores, no seu modo de fazer e mostrar, e os espectadores, no  seu  modo  de  ver,  e  contempla  mudanças  culturais  e  históricas  de  ambientes  comunicativos, que permitem a instalação de uma perspectiva crítica da teoria da  visualidade, de caráter multidisciplinar, próxima à relação espaço‐imagem, impondo  como articulação teórico‐metodológica contribuições de conceitos e exemplos extraídos  de autores de campos teóricos distintos, para sublinhar as indicações fornecidas pelo  trabalho na sua apresentação. 

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Abstract

 

 

The research has as main interest to understand as sense structures are elaborated  based in the relationships between space and image. In face of the multiplication of  images by the technologies of information and communication, predominantly of digital  nature, this understanding qualifies us to examine the nature of the visual experience  that  is  offered  nowadays  by  the  numerous  spaces  of  images.  The  fundamental  hypothesis sustains that the image cannot operate out of a space; therefore, space and  image  participate  together  of  this  visual  experience.  So,  the  space,  as  process  transformed in medium, imposes its material and historical reality to the formation of  the image. As the image depends on a medial apparatus, transformations in the  mediative nature of the space will be unavoidably reflected in the sphere of the images,  and, in consequence, in culture. For that perspective, besides checking and evaluating  the technical conditions of production of the image given by the technical medium, that  configures its materiality, it concerns to include the spaces that shelter them, in other  words, the spaces multiplied to and by the image, the activities that exist in them and  among them, and the derived sociocultural consequences of that dynamism, whose  investigation  becomes  the  main  objective  of  the  research.  By  the  process  of  espatialization of the image, four categories were discriminated, allowing to understand  their construction, circulation and exhibition ways, that constitute the operative chain of  that emerging imagetic spatiality. This categories are: constructability/mediality and  visuality/presentability that make possible to explore the conditions of appearance of  networks  of  relationships  installed  among  all  the  participants,  operated  by  the  intermediality and responsible for the hibridization and multiplicity of the media images,  in the extent of an ecology of the image. It is verified the formation of a system that  operates by the dynamics of relation of their elements, formed by the means of media  and the  medium,  and its interaction with another wider space, the environment  (milieu), that counts with the spectator’s presence. The course of the research is located  among the producers, in their way of doing and showing, and the spectators, in their  way of seeing and contemplating cultural and historical changes of communicative  environments, that allow the installation of a critical perspective of the theory of the  visuality, of multi‐disciplinary character, close to the space‐image relationship, imposing  as  theoretical‐methodological  articulation  contributions  of  concepts  and  examples  extracted from authors’ of different theoretical fields, to underline the indications  supplied by the work in its presentation. 

Keywords: image; space; visuality; mediality; visual culture; environment.    

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Figura 1 – Gráfico “condições ontológicas”.   Fonte: Autor...31  

Figura 2 – Gráfico “os espaços das imagens”.   Fonte:  Autor ...35       

Figura 3 – Real Gabinete Português de Leitura.   

      Fonte: http://colunalayoutcultural.zip.net/arch2009‐03‐15_2009‐03‐21.html...44  

Figura 4 – Data Center Google. 

      Fonte: http://www.submitinme.com/blogs/simtalk/google‐data‐centers,2012....44       

Figura 5 ‐ Real Gabinete Português de Leitura.    

      Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/11/as_fantasticas.html ...44  

Figura 6 – Data Center Google. 

      Fonte: http://www.tvi24.iol.pt/fotos/economia/8/283657, 2012...44 

Figura 7 – Gráfico “meio, médium, ambiente”.   Fonte: Autor...48  

Figura 8 – Gráfico “filosofia à comunicação”.   Fonte:  Autor...59     

Figura 9 – Família assistindo TV. 

       Fonte: http://tramasocial.wordpress.com/category/midia/...62 

Figura 10 – Passageiros em metrô.   Fonte: http://www.stern.de/digital/telefon/ 

       datensicherheitonlinekriminelle‐nehmen‐smartphones‐ins‐visier‐1656717.html...62  

Figura 11 – Palco Fifa Fun Fest Rio de Janeiro. 

       Fonte: http://colunistas.ig.com.br/guilhermebarros/2010/07/20...62 

Figura 12 – Visor Winamp.    Fonte: http://www.winamp.com/skins,2012...68 

Figura 13 – Gráfico “Resumo do espaço de imagens e suas categorias.” 

      Fonte: Autor...89 

Figura 14 – Floresta Urbana, Yansong, 2011.    Fonte: http://www.hypeness.com.br/         2011/12/floresta‐urbana‐na‐china/...96   

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Figura 15 – Edifício Seagram, Mies van der Rohe, 1958.  Fonte:  

       http://www.archdaily.com.br/80364/classicos‐da‐arquitetura‐ edificio‐seagram‐ 

      mies‐van‐der‐rohe/ ...96  Figura 16 – Cartaz de rua, A. M. Cassandre, 1937    Fonte: Library (2013)...97 

Figura 17  ‐ The Art Of Painting , Johannes Vermeer, 16661668    Fonte: 

      http://www.essentialvermeer.com/catalogue/art_of_painting.html...102 

Figura 18 –  Fotografia,  Helmut Newton, 1981.   

      Fonte: http://theartreserve.com/self‐portrait...102 

Figura 19 –  Filme Scenário du film Passion , Jean‐Luc Godard,  1982. 

       Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=S9QV45WifOw...102 

Figura 20 –  Fotograma de Cena do filme Fantasia, de Walt Disney, 1940.  

      Fonte: Acervo Autor...131  Figura 21 – Infográfico sobre a TV e outras mídias. GOOGLE; IPSOS, 2012.        Fonte: http://www.google.com/think/research‐studies/the‐new‐multi‐screen‐world‐

study.html…………...……….140 

Figura 22 – The Ambassadors de Hans Holbein, 1533, National Gallery, 

       Londres.   Fonte:  www.googleartproject.com...145 

           

                                   

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Apresentação

Os Espaços Multiplos das Imagens

A matriz espacial das imagens

Quais espaços de imagens?

Pensar privilegiadamente o espaço

O espaço de representação e a representação do espaço

Meio, medium, ambiente

O itinerário errático do termo 'medium': referências históricas Imagem, ambiente e fluxo

O medium como fluxo

Imagem, meio e media

Não existe medium puro, nem isolado

O meio permanece, mesmo que o medium se altere

O que percebemos no ambiente é o medium e não o meio

Confundimos a imagem do medium com os dados da visão

O ambiente como ruído para o medium

O meio transmite, o medium comunica

Tempo moderno, espaço pós-modern

Espacialização: medialidade e visualidade

O processo de espacialização do analógico ao digital A técnica é um meio que gera outros meios

O digital entre a tecnologia e a técnica: diferenças fundamentais A tecnicidade do meio digital e o novo regime visual

da informação

Entremeios das imagens

O visual sem fronteiras: uma perspectiva ecológica da imagem A comutação e mobilidade dos meios e das imagens:

procedimentos

Distribuição, fluxo e recombinação: remixabilidade

Encontro de meios como remediação Encontro de meios como convergência Encontro de meios como intermedialidade Encontro de meios: o Google Art Project

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     A tomada de contato com o problema 

Esta pesquisa parte de uma indagação bem direta, nem por isso simples,  sobre a relação entre espaço e imagem. Se considerados separadamente, os  termos apresentam seu próprio domínio conceitual e suas problemáticas são  mantidas isoladas. Quando associados, possibilitam o cruzamento de questões  que  ultrapassam  seus  referenciais  teóricos  e  nos  induzem  a  uma  reflexão  interdisciplinar a respeito da maneira como interagem.  

A bem dizer, a brevidade da indagação e o peso específico dos termos  ‘espaço’ e ‘imagem’ impelem, de início, o pensamento a vagar de um lado a  outro, como um pêndulo que oscila sem se definir por nenhuma extremidade. Se  ora conceituamos espaço, ora imagem, sem associálos, elaboramos uma espécie  de  conhecimento compartimentado que  visa,  sobretudo,  a  manter puros e  estanques esses domínios. Essa compreensão, no entanto, não foi imediata e   transpareceu no curso dos estudos aqui apresentados.  

Deuse o ponto de partida no aprofundamento de questões relativas ao  desenvolvimento desses dois domínios como objetos conceituais ao longo de  uma  escala  crescente  de  preocupação  na  transformação  do  pensamento  ocidental, até ocuparem uma posiçãochave para entender a atualidade em sua  plenitude.  Nesse  movimento, é  interessante  verificar  como  saltam  de  uma  posição marginal, supostamente periférica, de nossa cultura para uma posição  de destaque no limiar da existência póshistórica1 em que nos encontramos, sem  a  qual  ficam  comprometidas  ou,  no  mínimo,  incompletas  as  análises  que  procuram entender as atuais condições culturais que dão sentido à presença e  ao relacionamento do homem com o mundo em acelerada transformação. 

Ao iniciar nosso trabalho, o desenvolvimento do objeto de estudo parecia  atado à necessidade de elaboração de uma espécie de compêndio das imagens  de acordo com o espaço habitado por elas, ou seja, distinguir uma tipologia que  as classificasse pela maneira como preenchem determinado espaço, tal qual uma  tela por uma pintura, um papel por uma fotografia ou um monitor de televisão 

      

1 No sentido apresentado por Flusser (2002) de um mundo dividido em existências pré‐histórica, 

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ou computador por feixes luminosos, e daí partir para a análise de seus mútuos  comportamentos,  mas  distintos,  tendo  como  elemento  condutor  o  corpus 

selecionado para essa finalidade. 

Embarcar nessa tentativa taxonômica mostrouse uma tarefa de alto risco  por alguns motivos. A dificuldade classificatória, segundo critérios tipológicos,  imposta nessa operação é imensa, devido principalmente à diversidade das  imagens e suas múltiplas maneiras de apresentação2. A principal consequência  dessa diversidade é que não  um ponto de vista único, muito menos um olhar  privilegiado  sobre  essa  questão.  Por  conta  disso,  essa  diversidade  vem  acompanhada das muitas maneiras de se pensar a imagem e das numerosas  teorias  derivadas da crítica imagética, compondo um vasto  e multifacetado  campo de investigação que é visitado por autores de linhagens e princípios  teóricos diversos.  

O que primeiramente salta aos olhos é a constatação de que, apesar de sua  aparente  ubiquidade,  a  “imagem”  como  categoria  de  análise  permanece  notavelmente  resistente  ao entendimento teórico. Embora críticos culturais,  estudiosos da imagem e sociólogos, entre outros, tenham catalogado diferentes  tipos  de  imagem,  descrito  seus  vários papéis  na cultura  e  observado  suas  especificidades tecnológicas, fica, no entanto, longe de estar claro precisamente  o que conta como imagem nesses estudos e como ou se devemos distinguir  imagens a partir de termos relacionados, como figuras e ícones, e definir a que  classe pertencem3. Para Belting (2005), o discurso corrente das imagens sofre de  uma abundância de concepções diferentes e até contraditórias sobre o que são  imagens e como elas operam. 

      

2 Ao apresentar seu estudo que trata dos objetos, Baudrillard (2000) viuse frente a um dilema 

semelhante e se fez a pergunta: pode‐se esperar classificar um mundo de objetos que se  modifica diante de nossos olhos e chegar a um sistema descritivo? Para ele, existiriam tantos  critérios de classificação quantos fossem os objetos. Passando ao largo de qualquer intenção  meramente funcional, ou seja, para que serve um objeto (este apenas um critério classificatório),  o autor revela sua intenção de saber como os objetos são vividos, a que necessidades, além das  funcionais, atendem, sobre que sistema cultural é fundada a sua cotidianidade. Ele pretende  estudar os processos pelos quais as pessoas entram em relação com eles e a sistemática das  condutas e das relações humanas que disso resulta. Para cumprir esse objetivo, procura no plano  tecnológico um elemento estruturador para sua análise. Seu exemplo é inspirador para este  trabalho. 

3 Conforme Khalip e Mitchell (2011, p. 3), em especial sua proposta de libertar as imagens da 

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É  possível  que  essa  confusão  gire  em  torno  do  procedimento  classificatório,  que,  como  afirma  Agamben  (1993,  p.  15),  “transforma  as  singularidades em membros de uma classe, cujo sentido define a propriedade  comum”, observado no exemplo da palavra ‘árvore’, que não distingue uma  árvore, mas nomeia indiferentemente todas as árvores. Por isso, é na linguagem,  diz ele, que se  a origem da antinomia do individual e do universal. De maneira  análoga, diríamos que a palavra ‘imagem’ parece carregar o fardo de nomear  todas as produções visuais possíveis, como se delas fosse proprietária. Por isso,  essa palavra pode se tornar a primeira inimiga a ser enfrentada. O primeiro  passo  que  damos  aqui  para  destronála  da  sua  “altivez”  é  remover  sua  autonomia para abalar sua autossuficiência, mostrandoa dependente de certas  relações para se constituir. O segundo passo é colocála ao lado de semelhantes,  tornála  mais  comum,  provendo  de  compreensão  as  correspondências  e  diferenças entre visível, imagem e visual, e dessas palavras com visão e olhar, a  fim de distribuir e equilibrar suas forças. 

Ainda de acordo com Agamben (2007, p. 5254), “a imagem é um ser cuja  essência consiste em ser uma espécie, uma visibilidade ou uma aparência” ou,  ainda, uma espécie de coisa, um ser especial que seria contrário ao ser genérico.  Transformar essa espécie em um princípio de identidade e de classificação é,  para ele, “o pecado original de nossa cultura, o seu dispositivo mais implacável”  (p. 5254). Seria sacrificar o singular, a especialidade de cada imagem, a favor e  em benefício de um padrão identificável que se possa generalizar. Esse ser  especial é um “rosto, um gesto, um evento que, não se assemelhando a nenhum,  se assemelha a todos os outros”, diz ele (p. 5254). Aquilo que contrariaria essa  oposição é o exemplo, um objeto singular, uma singularidade entre as outras,  mas que vale por todas, sendo, assim, nem particular, nem universal, que se  a  ver como tal e mostra a sua singularidade.  

Barthes (1984) inicia A câmara clara com um problema semelhante. O 

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profissionais especialistas preocuparse, que exige “um ato segundo de saber ou  de reflexão” (p. 13). Esse ato de perceber o significante é dado intencionalmente  pelo nosso trabalho, mas sem deixar escapar a singularidade que encantou  Barthes (1984). 

Trabalhar  com  situações  singulares  ou,  ainda,  com  análise  de  casos  individuais, reconstruídos somente por meio de pistas, sintomas, indícios, como  sugere Ginzburg (2002) e seu método indiciário, permite captar uma “realidade  mais profunda” (p. 154), de outra forma inatingível. Isso, segundo ele, explicaria  “como apareceu historicamente uma constelação de disciplinas centradas na  decifração de signos de vários tipos, dos sintomas às escritas” (p. 154), por  permitir  uma  investigação  sem  preconceitos,  cuja  fundamentação  não  é  exclusivamente “colher e descrever indícios  mas selecionar e organizar para  fazer inferências. [...] [para] fazer proposições de ordem geral a partir de dados  singulares obtidos.” (BRAGA, 2008, p. 78). 

Para Ginzburg (2002), essas circunstâncias definem esse paradigma como  muito utilizado em tempos antigos, mas que “permaneceu implícito  esmagado  pelo mais prestigioso (e socialmente mais elevado) modelo de conhecimento  elaborado por Platão.” (p. 155). Compreendese, como afirma Braga (2008, p.  78), que “o envolvimento com a concretude da experiência” é passo decisivo  para o estabelecimento desse método, que, enquanto tal, tanto pode significar  sua riqueza quanto sua ruína. 

Esta é uma alternativa que se apresenta para uma possível inversão de  caminho, que, em vez de partir de um grande eixo de elementos comuns,  portanto gerais, para os quais aquilo que se pesquisa deve ser ajustado ou  acomodado  numa  teoria  predeterminada  pelo  pesquisador,  procura  primeiramente investigar sinais e indícios na especificidade de cada fenômeno  singular envolvido em uma determinada experiência que indique tendências,  para   extrapolar suas propriedades comuns, livre de apriorismos. Aquilo de  que  fala  Agamben  (2007),  ou  seja,  o  exemplo,  como  experiência  singular  carregada de universalidade, como singularidade que força a diferença, para,  então, proporse à abertura de um universal possível, é correspondente ao que  Badiou (1994, p. 18) chama singularidade universal, como “daquilo que é, a cada  vez, absolutamente singular, como um poema, um teorema, uma paixão, uma  revolução; e contudo, para o pensamento, absolutamente universal.” 

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pela  intenção  de  estruturálo em torno de regularidades. Tal como explica  Domènech (2011), seria catalogar a imagem como um documento, mediante a  sua  descrição,  sua  interpretação  e  o  estabelecimento  do  contexto  de  sua  produção, imobilizandoa como que pronta para ser arquivada. 

Mesmo  que  o  impulso  classificatório  sirva  perfeitamente  para  fins  metodológicos, renunciar à sua utilização não significa que dele prescindimos  totalmente, pois empregamos seu princípio, vez ou outra, para identificar as  imagens aqui tratadas, em virtude do contato e diálogo estabelecidos com os  muitos estudos  realizados na área. Também porque, como reconhece Elkins  (2001), sem o trabalho de alguma classificação não seria possível reconhecer  afinidades  (similaridades),  que  serão  encontradas  à  maneira  de  uma  “classificação comedida”, que  aparecerá no caminhar e avançar do trabalho.  Parecenos,  pois,  que  partir  de  uma  “classificação  abrangente”  não  seja  suficiente,  tanto  para  captar  essa  realidade  mais  profunda,  ao  oferecer  “afirmações gerais, onde, hoje, precisamos perceber distinções finas” (BRAGA,  2008, p. 75), quanto para oferecer alternativas de entendimento para o que nos  pareceu ser a questão mais premente a ser investigada: qual é a natureza da  experiência visual que hoje nos é oferecida ante a multiplicação medial das 

imagens?  

A origem da pergunta baseiase na simples constatação de que boa parte  das aspirações da pesquisa está em compreender como chegamos ao ponto de  produzir uma  diversidade  tão exuberante de imagens, constatação  ocorrida  quando dos  esforços iniciais de  constituição do  corpus  da  pesquisa, ao  se 

detectar que  a característica mais  evidente  presente naquele  corpus  era  a 

diversidade entre seus pares, de imagens que  haviam sofrido algum processo  de contágio umas com as outras, de imagens “impuras”. Ou seja, percebeuse  que nessas imagens dissipavase a indicação original de sua constituição, como  se  elas   tivessem  percorrido  outros  caminhos  e  penetrado  em  outros  imaginários,  até  finalmente se  constituir.  Da  primeira  seleção efetuada,  foi  realizada uma segunda seleção que ressaltava essa característica, qual seja, a  mistura de tecnologias e de imaginários envolvidos com as que eram elaboradas.   

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possibilidade de emergência das estruturas de sentido e não em procurar  identificar o sentido de imagens, para resgatálo em seguida. As perguntas feitas  estão dirigidas às imagens como estruturas de sentido capazes de mobilizar a  realidade social, a história, a política e a economia, por exemplo. Nesse sentido,  a finalidade do estudo indica que não estamos interessados, neste momento, em  averiguar o significado específico de determinadas experiências visuais, mas na  maneira como estas são geradas. 

Se priorizadas por oferecer um contato ampliado com a peculiaridade  daquilo que  é  produzido visualmente  no  âmbito  intrínseco  da  imagem,  as  distinções finas, ou os detalhes mais íntimos das imagens, por oposição às  distinções  gerais  e  institucionalizadas,  são  necessárias para  que  se  consiga  elaborar  um  entendimento  que  avance  além  das  condições  formais  e  de  iconicidade da imagem, alcançando esse território nebuloso pouco explorado no  qual se situam os sinais e indícios dessa realidade mais profunda, que se insinua  entre o visível e o invisível da imagem.  

Se a generalização é normalmente entendida como o ponto de chegada de  um percurso que se desenvolve do particular ao geral, ou seja, que parte da  seleção e observação de singularidades, dispostas normalmente em séries, para  alcançar daí sua generalização, apreendida na relação estabelecida entre sujeito  e objeto, ela pode também ser um ponto de partida para a observação de  fenômenos que se assemelhem, que sejam homogêneos, meta do processo de  categorização,  que  “significa  tornar  diferentes  coisas  equivalentes”  (MALDONADO, 2012, p. 216); portanto, elaborar diferenciações. 

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Quando  a  comunicação  é  estabelecida  entre  séries  heterogêneas, toda sorte de consequências flui no sistema.  Alguma  coisa  ‘passa’  entre  as  bordas;  estouram  acontecimentos, fulguram fenômenos do tipo relâmpago ou  raio.  Dinamismos  espaciotemporais  preenchem  o  sistema,  exprimindo  ao  mesmo  tempo  a  ressonância  das  séries  acopladas e a amplitude do movimento que as transborda.  (DELEUZE, 2006, p. 173). 

Nas imediações do debate entre a preservação de singularidades e as  generalizações,  configurase  grande  parte  das  questões  que  permearam  as  discussões a respeito do método científico no século XX. Assim, nesse impasse,  encontramos, por um lado, universalismo rigoroso e restrito, como também  presunção  de  racionalidade,  eliminando  tudo  que  lhe  escapa;  por  outro,  construções particulares que alimentam a ação e a prática, mas que não são  universalizáveis, nem necessariamente compatíveis entre si. Ao lado do método  como produção de certeza universal proposto pelo cartesianismo, que excluía as  observações empíricas, têm sido elaborados vários caminhos alternativos que  preservam a multiplicidade do fenômeno sob análise. Para Deleuze (2004), um  dos mais influentes articuladores desse pensamento, as multiplicidades são “a  própria realidade e não supõe nenhuma unidade, não entram em nenhuma  totalidade e tampouco remetem a um sujeito” (p. 8), e dessa multiplicidade não  nos  desviamos;  pelo  contrário,  saudamos  sua  existência  como  condição  necessária, como se verá, constituindoa como um dos pontos fundamentais  desta pesquisa.    

      A identificação do sistema espaço‐imagem 

Caso estivéssemos à procura de um estudo que se restringisse às imagens,  poderíamos adotar como procedimento metodológico o estudo de uma série de  imagens que contivessem traços homogêneos, como, por exemplo, fotografias  de um mesmo período relacionadas a um tema comum, ou, ainda, selecionar  imagens oriundas de uma mesma prática, isolandoas do contato com produções  imagéticas adjacentes, para daí discriminar suas características e dados básicos  e, então, apontar generalizações, o que seria elaborar uma classificação. 

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perceptual, mental e verbal. Como esclarece ele, sua intenção ao elaborar essa  tipologia foi alcançar por meio dela a diferença entre picture‐image,4 dentro da 

relação palavraimagem, uma de suas preocupações principais, desenvolvida ao  longo de sua vasta obra. 

Para operacionalizar um tipo de estudo que partisse de uma classificação,  encontraríamos imagens que se adaptam a cada tipo mencionado por Mitchell  (1987), procedendo à sua análise pela constituição de suas diferenças formais e  chegando, ou não, a uma reflexão coincidente à dele, ou seja, explicaríamos uma  teoria. Se não soubéssemos, a princípio, o porquê de essa classificação ter sido  elaborada,  o  seu  contexto,  bem  possivelmente  nem  poderíamos  checar  as  intenções do autor ao elaborar aquela classificação, agindo de modo inocente.  Por outro lado, se tomássemos o trabalho de Mitchell (1987) apenas por esse  aspecto restrito, poderíamos tirar algumas conclusões apressadas a seu respeito.  Mesmo trabalhando, nesse caso, com um princípio classificatório, seu trabalho  assume postura bem diferente dessa metodologia. Ele é um pensador crítico,  fecundo e, por que não, polêmico da teoria das imagens e responsável direto por  muitas das novas direções e aberturas a outros ramos de pensamento, como,  por exemplo, filosofia, ciência, comunicação, arte etc., assumidas no estudo da  imagem.  Entre  outros  conceitos  desenvolvidos  por  ele,  destacamse  o  da  metaimagem e o da virada imagética, que investigam e tencionam a ação das  imagens na cultura e no pensamento contemporâneo. 

Como partimos de uma situação dada pela definição do objeto de estudo  como sendo a “relação entre espaço e imagem”, identificamos nesse início de  estudo que nossa abordagem  partia de uma situação geral, ainda que obtida  por meio de observações preliminares, que bem poderiam se desdobrar em  muitas outras, como um papel que se desenrola. A generalização da relação  espaçoimagem talvez  nos bastasse como ponto de partida, isentandonos de  vasculhar  o  plano  formal  ou  discursivo  das  imagens  à  procura  de  outras  aproximações cabíveis. Assumir a relação entre imagem e espaço é atentar  inicialmente para a existência de um vínculo inextricável entre aquilo que vemos  como imagem, sua superfície visível, e a concretude do suporte que lhe serve de  apoio físico. Essa situação parecenos a mais fundamental, pois, uma vez que não  dispomos de um dispositivo natural para exteriorizar nossas imagens mentais, tal  qual o aparelho fonador dado a nós pela natureza, por meio do qual podemos 

      

4 Para Mitchell (2009, p. 16, tradução nossa), 

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exteriorizar nosso pensamento por sons, necessitamos sempre de uma mediação  técnica para exteriorizálas (MACHADO, 2002), ainda que de caráter funcional,  muito dependente do grau de tecnicidade da operação.  

No campo das imagens, a composição da mediação técnica varia conforme  a especificidade de cada meio e da técnica concreta empregada na produção,  que se revela determinante para compreender a maneira pela qual as imagens  são feitas, transmitidas e recebidas. Ao lidar com o critério da tecnicidade, torna se possível incluir elementos que incrementam o alcance de análise sobre a ação  das imagens, não limitada à sua dimensão formal ou a uma classificação   subordinada aos problemas de estrutura  ou, ainda, limitada à discriminação da  sua sintaxe discursiva, e passar a considerar a sua imersão em outros sistemas  operativos identificados na dimensão sociocultural com os quais as imagens  interagem. Como sugere Domènech (2011), o ideal é combinar esses tipos de  aproximação  e  tanto  buscar  um  marco  no  paradigma  sociocultural  quanto  permanecer  atento  aos  dispositivos  formais  dos  processos  de  visualização  correspondentes, assim como à sua genealogia. 

Essa mobilização entre a dimensão formal e a sociocultural é bastante  representativa do trânsito que é estabelecido entre o que acontece no interior  da imagem e o que acontece no seu exterior. Temos, aqui, uma situação em que  acontecem intercâmbios de informação entre o sistema imagético e o meio  sociocultural que lhe serve de referência exterior, o que lhe confere a capacidade  de afetar esse meio e, por extensão, ser também afetado, devido à interação  estabelecida  pela  operação  de  suas  propriedades.  Temos,  portanto,  que  considerar a relação espaçoimagem como um sistema acoplado a um meio, os  quais se afetam mutuamente. 

Dentro  da  teoria  filosófica  de  DeLanda  (2011),  que  descreve  os  mecanismos e simulações de emergência em sistemas de diferentes escalas,  a  caracterização  do  afeiçoamento  como  sendo  a  capacidade de  afetar  e  ser  afetado, que é definida pelas suas propriedades, capacidades e tendências.  Como explica o autor, nessa teoria, as propriedades de uma coisa, que emergem  da interação das partes da coisa, definem a sua capacidade de afetar5. No caso 

      

5 Para DeLanda (2011), as propriedades especificam a capacidade de afetar, como uma faca, cuja 

Imagem

Figura 3  e 4 –  Fachada   do   Real   Gabinete   Português   de   Leitura,   no   Rio   de   Janeiro,   Fonte:  
Figura 13 –  Resumo   do   espaço     de   imagens   e   suas   categorias.  
Figura  14  –  O   pensamento   visual   do   arquiteto   Ma   Yansong:   lógica   imaginativa   em   ação,   aliando   o   pensamento   analógico   à   volumetrização   ambiental
Figura   16   –   A   importância   da   visão   no   limiar   da   sociedade   de   consumo:   o   olhar   como   fonte   de   desejo   para   o   consumo
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