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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Etelvo Ramos Filho
ARTIGOS ACADÊMICOS EM LÍNGUA INGLESA: UMA
ABORDAGEM MULTIDIMENSIONAL
DOUTORADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA
LINGUAGEM
ii
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Etelvo Ramos Filho
ARTIGOS ACADÊMICOS EM LÍNGUA INGLESA: UMA
ABORDAGEM MULTIDIMENSIONAL
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, como requisto parcial para a obtenção do título de DOUTOR em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob a orientação de Dr. Antônio Paulo Berber Sardinha.
DOUTORADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
iii AUTORIZAÇAO
iv Tese defendida e aprovada em ___ /___ /____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
_______________________________
_______________________________
_______________________________
v
vi AGRADECIMENTOS
Não é discurso, mas sinto orgulho de ter feito o doutorado na PUC, uma
grande instituição, que me deu oportunidade de crescer profissionalmente e conhecer
gente muito bacana e fazer amigos.
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, ao professor Tony Berber Sardinha,
orientador deste trabalho, por todo o conhecimento que ele dividiu comigo nos quatro
anos de convivência. Agradeço também pela paciência, profissionalismo, prontidão em
atender aos pedidos de ajuda, tolerância e “grand” senso de humor que ele sempre
“esteve tendo”, ao ministrar as disciplinas no LAEL e ao conduzir os estudos do GELC
(vou “estar sentindo” saudades do grupo).
Agradeço imensamente aos membros da banca pela ajuda: Profa. Célia Maria
Magalhães, que, com humildade, foi direta e profissional nas suas sugestões e
comentários enriquecedores; Profa. Cida Caltabiano, que com humildade, doçura,
profissionalismo e discernimento, pontuou o que deveria ser melhorado; Profa. Beth
Brait que, prontamente, aceitou participar da minha Banca, trazendo sua experiência,
alegria e expertise. Tive também a sorte de ter como membro da Banca a Profa. Renata
Condi de Souza, que sempre esteve pronta para ajudar, com boas ideias e muito
conhecimento da Análise Multidimensional, que recheavam meus textos com anotações.
Agradeço imensamente a Maria Lúcia e Márcia Martins, que, mesmo
ocupadas, estão sempre prontas a nos dar atenção e apoio no LAEL.
Agradeço aos amigos Profa. Karina Bersan e Prof. Antônio Carlos Gomes,
pelo incentivo; Christine Almeida, por ajudar o seu amigo aqui com orientações sobre o
preenchimento de formulários, e Juliana Ferrari, pelo empréstimo do livro que estava
esgotado.
Meus agradecimentos vão para Rosana de Barros Silva e Teixeira, pela grande
ajuda com seus conhecimentos de Linguística de Corpus e acolhimento quando cheguei
ao LAEL.
vii LAEL.
Denise Delegá-Lúcio, sou muito grato a você por ter participado do meu
segundo exame de qualificação. Muito obrigado pelas anotações e sugestões de AMD.
Miss Carol Zuppardo, muito thanks por toda a ajuda e amizade, as caronas and
great time we spent talking about school, life in the USA, music, planes, and life in
general.
Eduardo (Mr.) Cassimiro, muito obrigado pela ajuda com o preenchimento de
formulários e incentivo. You’re a great guy!
Carlos (Mr.) Kauffmann, agradeço pelo profissionalismo na revisão do texto
final.
Meu agradecimento vai para todos os colegas e amigos do Grupo GELC:
Flávia Silva, Cristina Acunzo, Telma de Lurdes, Maria Cecília Lopes, Márcia Veirano,
Juliana Barreto, Helenice Serikaku, Agnes Scaramuzzi, Bárbara Silva, Alexandre (Mr.)
Trigo, Zé Lourenço (you are the man!) e Deutschlehrerin Cris Alberts. (Mr. Trigo, Zé
and Cris, just remember, guys, coffee is life!). Todos vocês me ajudaram muito.
Dona Alina da Silva Bonella, muito obrigado pelas revisões de texto, feitas
com grande expertise.
Meus agradecimentos vão também para a grande amiga Ciomara de Freitas
Gonçalves pelo apoio e acompanhamento com sessões de coaching.
Agradeço ao meu sogro, Sr. Gelço Ribeiro, por me levar ao aeroporto
inúmeras vezes e à Dona Onorita, minha sogra, uma segunda mãe. Obrigado por ajudar
a cuidar de meu filho em minha ausência.
Flávia, obrigado pela paciência, compreensão e dedicação, cuidando do nosso
filho, nossa casa, e nossos akitas – Suki e Aiko –, na minha ausência.
Agradeço aos meus pais, Seu Etelvo e Dona Aryta, que, com esforço, me
proporcionaram estudar inglês na adolescência, quando isso “era coisa para rico”.
Por fim, sou muito grato à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
viii There are people in the world for whom "ʺcoming along"ʺ is a perpetual process,
people who are destined never to arrive.
ix SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 1
Justificativa ... 5
Objetivos e perguntas de pesquisa ... 11
Objetivo geral ... 11
Objetivos específicos ... 11
Perguntas de pesquisa: ... 11
1. CONTEXTUALIZAÇÃO ... 12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA ... 24
2.1 O artigo acadêmico ... 24
2.2 Linguística de Corpus ... 30
2.2.1 Definição e premissas da Linguística de Corpus ... 32
2.2.2 Breve histórico ... 34
2.2.3 Corpus: definição e tipologia ... 40
2.2.4 Tipologia do corpus ... 44
2.2.5 Ferramentas usadas na LC ... 48
2.2.6 Padronização ... 54
2.2.6.1 Colocação ... 55
2.2.6.2 Coligação ... 56
2.2.6.3 Prosódia semântica ... 57
2.2.6.4 Princípio idiomático e princípio da livre escolha ... 58
2.3. Análise Multidimensional(AMD) ... 58
2.3.1 Definições ... 59
2.3.1.1 Traços ... 59
2.3.1.2 Características ... 59
2.3.1.3 Registro e gênero ... 60
2.3.1.4 Tipos de texto ... 60
2.3.1.5 Fator ... 61
x
2.3.2 Análise Fatorial ... 62
2.3.2.1 Diagrama de sedimentação ... 62
2.3.2.2 Anova ... 63
2.3.2.3 R quadrado (ou R²) ... 63
2.3.2.4 Escore ... 63
2.3.2.5 Variáveis ... 64
2.3.3 Desenvolvimento e premissas da AMD ... 64
2.3.4 Dimensões de Biber e seus traços ... 72
Dimensão 1: Produção com interação versus informacional ... 72
Dimensão 2: Preocupações narrativas versus não-narrativas ... 73
Dimensão 3: Referências explícitas versus dependentes do contexto ... 74
Dimensão 4: Expressão explícita de persuasão versus não-explícita ... 74
Dimensão 5: Informação abstrata versus não-abstrata ... 75
2.3.5 Trabalhos com AMD ... 76
3. METODOLOGIA ... 79
3.1 Descrição do corpus de estudo ... 79
3.1.1 (Pré-)processamento do corpus ... 84
3.2 Procedimento de análise ... 92
3.3 Anotação e etiquetagem ... 92
3.4 Escores das dimensões no corpus CERA ... 101
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 104
4.1 Apresentação ... 104
4.1.2 País como variável independente ... 104
4.1.3 Área de estudo como variável independente ... 118
4.2 Discussão dos resultados ... 131
4.2.1 Autores brasileiros nas dimensões de Biber (1988) ... 131
Dimensão 1 ... 131
Dimensão 2 ... 132
xi
Dimensão 4 ... 134
Dimensão 5 ... 134
4.2.2 Comparação entre as áreas de pesquisa ... 135
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 139
REFERÊNCIAS ... 142
xii LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Países e número de citações. Fonte: SCImago Journal & Country Rank, disponível
em http://www.scimagojr.com/index.php. ... 13
Quadro 2: Corpora de destaque (adaptado de Berber Sardinha, 2004b) ... 38
Quadro 3: Tamanhos de corpus (Fonte: BERBER SARDINHA, 2004b, p. 26) ... 47
Quadro 4: Dimensões de Biber (2009) revisadas. Fonte: adaptada de BERBER SARDINHA, 2013 ... 71
Quadro 5: Traços da dimensão 1 (fonte: adaptado de BIBER, 1988) ... 72
Quadro 6: Traços da dimensão 2 (fonte: adaptado de BIBER, 1988) ... 73
Quadro 7: Traços da dimensão 3 (fonte: adaptado de BIBER, 1988) ... 74
Quadro 8: Traços da dimensão 4 (fonte: adaptado de BIBER, 1988) ... 75
Quadro 9: Traços da dimensão 5 (fonte: adaptado de BIBER, 1988) ... 75
Quadro 10: CERA: origem, áreas e número de textos ... 81
Quadro 11: CERA: origem dos pesquisadores ... 83
Quadro 12: CERA: áreas de pesquisa. Fonte: National Science Foundation Graduate Research Fellowship Program. ... 84
Quadro 13: Composição do CERA. Contagem obtida pela ferramenta Wordlist, do programa WordSmith Tools 6.0. ... 88
Quadro 14: Excerto de texto etiquetado pelo Biber Tagger ... 94
Quadro 15: Excertos do texto 1 de Química da subpasta Brasil. Fonte: o autor. ... 106
Quadro 16: Excerto do texto 8 de Ciências da Vida, da subpasta França. Fonte: o autor ... 108
Quadro 17: Excertos do texto 3 de Psicologia da subpasta Alemanha. Fonte: o autor. ... 108
Quadro 18: Excertos do texto 8 de Linguística da subpasta Brasil. Fonte: o autor. ... 110
Quadro 19: Excerto do texto 5 de Engenharia da subpasta Brasil. Fonte: o autor. ... 112
Quadro 20: Excerto do texto 6 de Eng. e Ciência da Computação da subpasta Índia. Fonte: o autor. ... 112
Quadro 21: Excerto do trecho 6 de Engenharia da subpasta Reino Unido. Fonte: o autor. ... 113
Quadro 22: Excerto do texto 5 de Antropologia da subpasta Alemanha. Fonte: o autor. ... 115
Quadro 23: excerto do texto 10 de Física e Astronomia da subpasta Alemanha. Fonte: o autor. ... 115
xiii
Quadro 25: Excertos do texto 1 de Engenharia da subpasta Estados Unidos. Fonte: o autor. . 117
Quadro 26: Excertos de texto da área Pesquisa de Materiais (Alemanha). Fonte: o autor. ... 119
Quadro 27: Excertos de texto da área Linguística (Índia). Fonte: o autor. ... 120
Quadro 28: Excertos de texto da área de Física e Astronomia (Canadá). Fonte: o autor. ... 122
Quadro 29: Excertos de texto de Antropologia (Itália). Fonte: o autor. ... 122
Quadro 30: Excertos de texto de Psicologia (Estados Unidos). Fonte: o autor. ... 124
Quadro 31: Excertos de texto de Física e Astronomia (Estados Unidos). Fonte: o autor. ... 125
Quadro 32: Excerto de texto de Química (China). Fonte: o autor. ... 126
Quadro 33: Excerto de texto de Engenharia e Ciência da Computação (China). Fonte: o autor. ... 127
Quadro 34: Excerto de texto de Pesquisa de Materiais (Reino Unido). Fonte: o autor. ... 129
xiv LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Corpus usado por Biber (1988). Fonte: adaptado de SOUZA, 2012. ... 69
Tabela 2: Dimensões de Biber (1988) com CERA ... 103
Tabela 3: Variável Independente País – dimensão 1 ... 105
Tabela 4: Variável Independente País dimensão 2 ... 107
Tabela 5: Variável independente País – dimensão 3 ... 109
Tabela 6: Variável Independente País – dimensão 4 ... 111
Tabela 7: Variável Independente País – dimensão 5. ... 114
Tabela 8: Variável Independente Área – dimensão 1 ... 118
Tabela 10: Variável Independente Área – dimensão 3. ... 123
Tabela 11: Variável Independente Área – dimensão 4 ... 125
xv LISTA DE FIGURAS
Figura 1: O modelo CARS. Fonte: Silva (2004). ... 17
Figura 1: Modelo de artigo AIMRaD ... 26
figura 2: Pasta TXT ONLY. ... 85
Figura 3: Pasta BRAZIL, com subpasta BRAZIL CHEMISTRY ... 86
Figura 4: brazil_chemistry_1 em txt ... 86
Figura 5: Texto US_soc_scie_linguistics_5.txt após limpeza automática ... 87
Figura 6: Tela de abertura do WordSmith 6.0 ... 89
Figura 7: Tela com a opção Choose Texts Now ... 90
Figura 8: Inserção do corpus da pasta CLEAN NOTEPAD ... 90
Figura 9: Output estatístico da ferramenta WordList ... 91
Figura 10: Biber Tagger ... 93
Figura 11: Biber Tag Count ... 95
Figura 12: Planilhacom o resultado obtido do Biber Tag Count ... 96
Figura 13: Tela para inserção dos dados no SPSS ... 97
Figura 14: Dados abertos no SPSS ... 97
Figura 15: Marcação das caixas Analyze, General Linear Models e Univariate ... 98
Figura 16: Marcação da dimensão 1 como variável dependente ... 98
Figura 17: Marcação de país (origem) como fator fixo ... 99
Figura 18: Tela com Opções e Descriptive Statistics marcadas ... 99
Figura 19: Tela com o resultado de Univariate e R² na dimensão 1 ... 100
xvi RESUMO
Fundamentada teórico e medotologicamente na Linguística de Corpus e na
Análise Multidimensional, esta tese analisa um corpus de 900 artigos de pesquisa em
língua inglesa, escritos por pesquisadores de dez áreas, provenientes de nove diferentes
origens. Para tanto, a pesquisa se apoia em uma área da Linguística Aplicada que vê a
língua como um sistema probabilístico e para cujos estudos são utilizados ferramentas
computacionais e corpora. A Análise Multidimensional é uma abordagem baseada em
corpus para o estudo de dimensões de variação que usa procedimentos estatísticos para
identificar relações entre traços linguísticos e registros em grandes quantidades de
textos. A metodologia incluiu a compilação de um corpus de estudo (Corpus of English
Research Articles – CERA), composto de artigos coletados por meio da internet, que
envolveu processamento do texto e análises por origem e área de estudo. A partir do
mapeamento nas cinco dimensões de variação de Biber (1988), o resultado das análises
por origem e área mostra que o corpus é composto por artigos cujos traços os situam
nos seguintes polos: 1) produção informacional, 2) preocupação não-narrativa, 3)
referências explícitas, 4) persuasão não-explícita e 5) informação abstrata.
Palavras-chave: Linguística de Corpus; Análise Multidimensional; Artigos de
xvii ABSTRACT
This dissertation describes how a corpus of 900 research articles written in
English by researchers of 10 fields of study and nine different origins is mapped onto
the dimensions of variation proposed by Biber (1988). Its theoretical and
methodological underpinnings are provided by Corpus Linguistics and
Multidimensional Analysis. The former is an area in Applied Linguistics in which
language is seen as a probabilistic system and for whose studies computational tools and
corpora are used. The latter is a corpus based approach for the study of dimensions of
variations, which uses statistical procedures to identify relationships between linguistic
features and registers in large amounts of texts. The methodology included the
compilation of a corpus (Corpus of English Research Articles – CERA), which is
composed of articles collected using the Internet, its processing and analyses based both
on origin and field. The result of the analyses for both the origin and the field shows
that the corpus is composed of articles whose features characterize them in the 5
dimensions of variation proposed by Biber (1988) as: 1) being informational, 2) being
non-narrative, 3) having explicit reference, 4) having non-explicit persuasion, and 5)
having abstract information.
1
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a importância dada ao conhecimento de uma língua
estrangeira tem sido voltada de maneira especial para a língua inglesa. O conhecimento
da língua inglesa como língua estrangeira proporciona contemporaneamente mais
possibilidades de contato com pensamentos e ideias que surgem a cada dia, pois ela é o
meio usado para divulgação de grande parte do conhecimento mundial, em especial nas
áreas científicas e tecnológicas. Ademais, a constante internacionalização da pesquisa
aumenta a necessidade de domínio da escrita e da leitura em língua inglesa, o que
justifica o fato de muitos países terem feito dela a língua oficial ou a principal língua
estrangeira ensinada nas escolas (CRYSTAL, 2012).
A língua inglesa é usada por pesquisadores que buscam literatura, artigos,
pesquisas, manuais e livros das mais diversas áreas. Cada vez mais, também tem sido
usada por pesquisadores para publicação, em detrimento de publicações em suas línguas
nativas. Segundo Crystal (2009), a língua inglesa é a língua da ciência – o que faz com
que ela seja a mais utilizada em publicações científicas e técnicas. Publicar em inglês
proporciona ao autor maior divulgação de seu trabalho, pois ele encontrará um maior
número de leitores, tanto no modo impresso quanto no modo eletrônico.
De acordo com Hyland (2012), publicação internacional significa publicação
em inglês. O autor afirma que há uma tendência, que acadêmicos do mundo todo têm
seguido, de diminuição de publicações em suas línguas maternas e aumento de
publicações em inglês, o que resulta em maior número de citações de seus trabalhos.
Segundo Hyland (2012), referências a publicações em língua inglesa alcançaram 85%
em periódicos de ciências franceses e a língua inglesa compõe 95% de todas as
publicações no Science Citation Index1, Da mesma forma, Swales (2004) acrescenta que
muitos periódicos de primeira linha europeus e japoneses têm aderido à prática de
publicação de artigos em língua inglesa.
1
Índice de citações inicialmente produzido para o Institute for Scientific Information. É parte
do Science Citation Index Expanded, que engloba mais de 6.500 periódicos de renome e cobre 150
2 Hyland (2012) afirma que o aumento do número de artigos escritos por
falantes não-nativos de inglês em grandes periódicos denota um movimento de
anglicização das publicações. O autor aponta que, em muitas universidades de prestígio
da China, doutorandos têm de ter pelo menos um artigo aceito por um periódico
internacional antes de completar o doutoramento. Ainda, segundo Hyland (2012), a
Academia Chinesa de Ciências complementa os salários de pesquisadores que publicam
em periódicos internacionais. Todavia, tendo em vista essa competitividade, há
periódicos com índices de rejeição de 93%.
Segundo Hyland (2012), vários fatores contribuem para o prestígio de um
periódico. Esses fatores englobam a editora, os membros do conselho editorial, os altos
índices de rejeição, a política de revisão às cegas por pares, o fácil acesso a leitores por
meio de distribuição internacional on-line rápida e, seguramente, o impact factor2.
Hyland acrescenta que, para muitos acadêmicos, é impossível não fazer parte
dessa rede global acadêmica traçada por publicações. A publicação está associada com
prestígio e com credibilidade e muitas universidades medem o valor de seus professores
de acordo com o número de publicações que eles produzem.
Segundo dados do jornal Folha de S. Paulo3, o Brasil não tem nenhuma
universidade no rol das 200 melhores do mundo. Além disso, de acordo com a lista de
2014 do Times Higher Education (THE)4, a Universidade de São Paulo (USP), única
universidade brasileira que constava na seleta lista desde 2011, passou do 158º lugar em
2013 para um grupo que vai do 226º ao 250º. Na lista do THE, a Universidade de
Campinas (Unicamp) também perdeu posições. Ela estava entre 251º e 275º e passou
para o grupo entre 301º e 350º em 2014.
2
Fator de impacto é a medida que reflete o número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico. O ranking dos periódicos pode ser encontrado no endereço http://thomsonreuters.com/products_services/science/science_products/a-z/isi_web_of_knowledge/, da Science Citation Index (SCI), que lista os melhores 3.700 periódicos, de 100 disciplinas.
3 Edição de 4.out.2014.
4
3 A avaliação do THE é baseada em cinco itens principais, a saber: pesquisa,
ensino, citações, inovação tecnológica e internacionalização. De acordo com a Folha de
S. Paulo, o editor do THE informou que a baixa internacionalização das instituições
brasileiras é um dos principais pontos fracos que conferem o resultado que elas
alcançaram. O editor declarou que isso é negativo para o Brasil, na medida em que um
país com tal tamanho e poder econômico precisa de universidades competitivas.
Ainda segundo o jornal, a USP perdeu posições nos itens pesquisa, ensino e
citações, enquanto a Unicamp perdeu em pesquisa, ensino e internacionalização.
Percebe-se a importância da internacionalização, pois a citação de artigos acadêmicos
garante 30% da pontuação atribuída à universidade. Assim, no caso do Brasil, a
quantidade de citações de artigos científicos por outros pesquisadores cai se os trabalhos
estiverem em português.
O editor do THE declarou que, a exemplo de muitos países que já usam a
língua inglesa no meio acadêmico, é necessário o incentivo ao uso do inglês na sala de
aula. Em resposta, a USP declarou investimentos em internacionalização e a Unicamp
diz discordar dos critérios de avaliação.
Para ter seu artigo publicado, o pesquisador precisa ter conhecimento do
conteúdo e das metodologias de uma área específica. Conseguir esse feito requer um
aprendizado, pois o artigo precisa ter ideias e formas de argumentação estruturadas de
modo a torná-las familiares e apropriadas para o leitor.
Essas exigências assustam os falantes não-nativos de inglês que, por
insistência das editoras, têm seus textos submetidos à avaliação de falantes nativos e
revisores para correção da escrita antes de serem aceitos para publicação. Hyland
argumenta que essa dificuldade não é comum apenas aos falantes não-nativos de inglês,
já que o inglês acadêmico não é a primeira língua de ninguém. Para Swales (2004), é
uma questão de experiência. Segundo o autor, há autores mais experientes, que
conhecem os caminhos da escrita acadêmica, e outros menos experientes, que terão
mais dificuldades até terem seus artigos publicados.
4 notória limitação quanto ao uso da língua inglesa. Dessa forma, o pesquisador que não
detém o conhecimento da língua inglesa em nível de escrita acadêmica se depara com
dificuldades para redigir um texto em inglês. Muitas vezes, esses pesquisadores buscam
o serviço de tradutores, especialistas que levarão à língua-alvo, no caso o inglês, o texto
fonte em português ou em outra língua. O desconhecimento do funcionamento de
qualquer língua em nível acadêmico pode atrasar o sucesso de uma carreira.
Segundo Mauranen (2014), no âmbito da escrita acadêmica, há um
desequilíbrio de poder. Periódicos concentrados nos Estados Unidos e no Reino Unido
geralmente colocam critérios básicos para publicação. Esses critérios vão além da
gramática correta e estilo retórico. É exigido que a escrita acadêmica em inglês seja
semelhante à escrita de um nativo (native-like English).
De acordo com Hyland (2012), a escrita para publicação apresenta desafios
que intimidam todos os acadêmicos, em especial no clima competitivo atual, quando
algumas áreas de estudo apresentam rejeição de mais de 90% das submissões. Essa
dificuldade, que não é comum apenas a pesquisadores brasileiros, é maior para autores
não-nativos, conforme mostram estudos. Hyland (2012) relata que há pesquisadores
espanhóis que recorrem à tradução do espanhol quando da revisão de seus artigos para
publicação. Dificuldade semelhante é encarada por pesquisadores chineses. Segundo o
mesmo autor, acadêmicos de Hong Kong dizem se sentir em desvantagem em relação
aos seus colegas falantes nativos do inglês. Da mesma forma, Gosden (1995), apud
Hyland (2012), relata a dificuldade de pesquisadores japoneses e descreve o caso de
uma pesquisadora nipônica que, orientada por um supervisor, um editor e um revisor,
reescreveu seu trabalho seis vezes, perfazendo um total de 320 alterações, para que ele
fosse aceito para publicação.
Hyland (2012) concorda com Swales, que afirma que a escrita acadêmica é
difícil para qualquer autor iniciante, independentemente de qual for sua língua materna.
Segundo Hyland (2012), os textos de não-nativos são enviados para revisões, que
consistem em trabalhar as metas retóricas, como estrutura e vocabulário específicos da
5 de leitura e adequação de conteúdo.
Devido à necessidade de se descrever o artigo acadêmico de modo aceitável,
apresento esta pesquisa, que tem como meta levantar as dimensões de variação do artigo
acadêmico em um corpus composto por artigos de dez áreas de estudo, escritos em
língua inglesa, por autores de nove diferentes origens. Assim, faz-se necessário
antecipar que dimensão, conceito usado na Análise Multidimensional, é um conjunto de
traços que subjazem a um corpus (BERBER SARDINHA, 2000b), como será visto em
maior detalhe a seguir.
A Linguística de Corpus alicerça a base teórica deste estudo. Assim, este
estudo compartilha de algumas características que são comuns aos trabalhos do âmbito
da Linguística de Corpus. De acordo com Berber Sardinha (2004a), tais trabalhos são
empíricos e utilizam grande número de textos naturais, coletados de maneira criteriosa –
o corpus, que serve de objeto para a análise, realizada com o auxílio do computador e
de programas automáticos e interativos. Segundo o mesmo autor, esses trabalhos
analisam padrões reais da linguagem em textos naturais.
Este trabalho usa a abordagem da Análise Multidimensional, que descreve a
relação entre uma gama completa de registros em uma língua (BIBER, 2006). Neste
caso, a Análise Multidimensional será empregada para a descrição do artigo acadêmico,
o registro em questão, no que tange a seus múltiplos parâmetros linguísticos de
variação. Ela também permite fazer uma comparação desse registro quanto as nove
diferentes origens dos autores e as dez áreas de estudo.
JUSTIFICATIVA
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) discutiu
recentemente a necessidade de proficiência em língua inglesa por parte do pesquisador
brasileiro. Em um debate intitulado “Oportunidades e desafios da internacionalização da
ciência brasileira”, ocorrido em novembro de 2013, a presidente da SBPC, Helena
6 universidades precisam mudar e o brasileiro precisa falar bem o inglês, que é a língua
internacional (SBPC, 2013).
Para participar dessa cooperação internacional por meio da publicação, é
aconselhável que pesquisadores brasileiros aprimorem a escrita acadêmica para que
seus artigos sejam aceitos em periódicos com visibilidade internacional. Segundo
aponta Mauranen (2014), para tais periódicos são necessários artigos que apresentem
padrões equiparáveis àqueles escritos por falantes nativos. Assim, são esperados artigos
com estrutura, padrão e léxico comparáveis aos textos escritos por pessoas que sejam
proficientes em língua inglesa – em particular, na escrita acadêmica. De acordo com
Mauranen (2014), seguindo o critério adotado pelo periódico em que o artigo será
publicado, o texto precisa estar em conformidade com um modelo, britânico ou
americano, de escrita.
Essas informações são corroboradas por Burrough-Boenisch (2011), que
afirma que acadêmicos não-nativos precisam atentar para a forma de inglês que usarão,
ao submeter artigos a periódicos americanos ou britânicos. Os artigos precisam seguir
não somente o estilo requisitado (grafia, pontuação e tipografia) pelo periódico e pela
editora, mas também precisa ter a variação de inglês usado pelo periódico. A autora
menciona, por exemplo, o New England Journal of Medicine, que usa o inglês
americano, e o British Medical Journal, cuja variação é a britânica. Segundo autora, os
manuais padrões de copidesque usados para as convenções do inglês britânico e
americano são, respectivamente, o Ritter e o University of Chicago Press. No entanto,
ela acrescenta, existem também outros guias para áreas específicas, como o Modern
Humanities Research Association e o Council of Science Editors.
O conhecimento aprofundado do funcionamento do artigo acadêmico em
inglês, que é justamente o que esta pesquisa intenta revelar, pretende ser uma
ferramenta que irá contribuir para o pesquisador brasileiro melhorar sua escrita de
artigos acadêmicos em inglês e, consequentemente, ter maiores chances de serem
aceitos por periódicos internacionais indexados.
7 Análise Multidimensional que descrevem o registro acadêmico, como Biber et al.
(2002b), que examinaram a linguagem comumente encontrada no ambiente
universitário, como aulas ministradas, atendimento ao aluno por parte do professor e
grupos de estudo. Biber & Conrad (2009), em cujo livro os autores descrevem os mais
importantes tipos de textos em inglês e introduzem técnicas metodológicas que podem
ser usadas para analisá-los e descrevê-los, sob a perspectiva de registro, gênero e estilo.
Os trabalhos de Cao & Xiao (2013), cujo estudo com Análise Multidimensional
examina as variações textuais entre resumos de 12 áreas de estudo escritos por
pesquisadores nativos (ingleses) e não-nativos (chineses), e de Gray (2013), que usou a
Análise Multidimensional para analisar a variação no uso de 70 traços lexicais e
gramaticais em 270 artigos de três sub-registros, também vêm contribuir para esse
conhecimento.
Todavia, o tema específico deste estudo parece não ter sido contemplado.
Tendo em vista o panorama apresentado, pode se dizer que há uma lacuna referente à
escrita acadêmica relativa à definição da origem dos autores. Isto é, para este estudo,
definiu-se como conceito de origem o local de nascimento e trabalho do autor.
A pesquisa com foco na origem pode elucidar questões de semelhanças e / ou
diferenças entre países e áreas sobre as quais os autores publicam. No entanto, não há
pesquisa, a partir de uma perspectiva de corpus, sobre características linguísticas de
artigos científicos escritos em inglês por pesquisadores brasileiros, que abranja as
grandes áreas de estudo. Isto é, não foram encontradas pesquisas baseadas em corpus
para descrever elementos linguísticos – como adjetivos, advérbios, verbos e
substantivos – presentes em textos acadêmicos escritos por brasileiros. Esta pesquisa,
portanto, buscará preencher essa lacuna.
Esta pesquisa tem como arcabouço teórico-metodológico a Linguística de
Corpus e, mais especificamente, a Análise Multidimensional, pois enxerga na
problemática da escrita acadêmica a questão da variação inerente aos textos, às áreas e
aos autores, com suas respectivas origens. Dessa forma, esta pesquisa se inscreve no
8 acadêmica, origens, ascensão social, entre outras, em que a linguagem desempenha um
papel central.
Este estudo de corpus se justifica, pois ele propicia a observação de aspectos
morfológicos, sintáticos, semânticos e discursivos presentes no Corpus of English
Research Articles (CERA), visando contribuir de maneira original para o campo de
pesquisas no âmbito de estudos de Linguística de Corpus em interface com a Análise
Multidimensional.
O estudo aqui proposto se insere no Grupo de Pesquisa de Análise
Multidimensional do Grupo de Estudos de Linguística de Corpus (GELC). A análise do
corpus eletrônico compilado para esta pesquisa permitiu identificar a linguagem das dez
áreas de estudo usada efetivamente em artigos acadêmicos escritos em inglês por
pesquisadores brasileiros e de oito diferentes origens. Com essa análise, foi possível
descrever a partir do mapeamento dos artigos acadêmicos nas dimensões de Biber
(1988), os padrões de uso de natureza léxico-gramatical e as dimensões de variação
subjacentes ao registro artigo acadêmico.
Para Biber et al. (2002b, p. 10), “registro é um termo geral que abrange
qualquer variedade de linguagem definida em termos situacionais, incluindo o propósito
do interlocutor na comunicação, o tópico, a relação entre o interlocutor e o ouvinte, o
modo escrito ou falado, e as circunstâncias de produção” 5 (tradução minha; grifo dos
autores).
Segundo Biber et al. (1998), a abordagem baseada em corpus vem possibilitar
pesquisas de uso da língua que não podem ser baseadas em intuições ou em episódios
de uso. Dessa forma, os autores explicam que a abordagem baseada em corpus difere de
outras abordagens analíticas em linguística. Análises baseadas em corpus apresentam
características essenciais, como: o empirismo, o uso de computadores para análise por
meio de técnicas automáticas e interativas de padrões reais em textos naturais. Essas
5
9 análises dependem tanto de técnicas analíticas qualitativas quanto de técnicas analíticas
quantitativas. Os autores enfatizam que sem o uso de computadores, que permitem
analisar grandes bancos de dados, a execução desse tipo de análise seria impossível.
De acordo com Biber et al. (1998), os estudos de uma língua podem ser sobre
duas áreas principais: sua estrutura e o seu uso. Eles dizem que, tradicionalmente, a
linguística tem o foco na estrutura. No entanto, eles explicam que, diferentemente de
querer descrever semelhanças e diferenças entre estruturas gramaticalmente corretas que
têm o mesmo significado, o foco no uso questiona quando e em qual contexto elas são
usadas. Eles sugerem que estudos com ênfase no uso podem investigar se a escolha de
um uso em detrimento de outro é mais comum na escrita, na fala, ou em um contexto
específico. Eles sugerem que, se bem explorado, um corpus pode mostrar muito sobre o
uso da linguagem.
Desse modo, este trabalho pretende contribuir de maneira original para a área
de escrita acadêmica em inglês. Para tanto, a pesquisa fundamentar-se-á, do ponto de
vista teórico-metodológico, na Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA, 2004a) e
na Análise Multidimensional. A primeira “ocupa-se da coleta e da exploraçao de
corpora, ou conjunto de dados linguísticos textuais coletados criteriosamente, com o
propósto de sevirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguística” (BERBER
SARDINHA, 2004a, p. 3). A Análise Multidimensional (AMD), por sua vez, pode ser
definida como uma abordagem metodológica que identifica, a partir de análise
quantitativa / empírica, os padrões frequentes de coocorrência linguística numa língua
(BIBER, 2010).
Este estudo, composto por 900 artigos de dez diferentes áreas de estudo e de
nove origens é relevante para que sejam conhecidos seus padrões linguísticos, em
especial aqueles escritos por brasileiros. Espera-se que haja uma variação, daí a inclusão
de oito origens, além do Brasil, nessa pesquisa, o que possibilita comparar e descrever
se os traços observados nos artigos escritos por brasileiros são específicos de autores
dessa origem ou não.
10 de estudo, independentemente da origem. Vale acrescentar que isso corroboraria o que
Biber et al. (2002b) pontuam sobre a grande gama de diferenças linguísticas que podem
ocorrer em textos de um mesmo registro:
Devido ao fato de que registros são definidos em termos situacionais e não linguísticos, textos de um
mesmo registro podem ter grandes diferenças linguísticas. Alguns registros, como documentos oficiais, são muito
uniformes em suas características linguísticas; textos de outros registros, como ficção, podem ser bastante
diferentes em termos de características linguísticas.6 (BIBER ET AL., 2002b, p. 10)
Finalmente, este estudo tem uma justificativa pessoal, despertada a partir da
experiência como professor de língua inglesa no Instituto Federal do Espírito Santo
(Ifes), campus Vitória. Era evidente a dificuldade que muitos têm com a produção de
artigos em inglês. Frequentemente, colegas de trabalho, professores do campus onde eu
leciono, vinham a mim com artigos escritos por eles em inglês e me pediam para
revisá-los. Alguns escreviam em português e pediam para que eu “passasse para o inglês”.
Outros professores de inglês do campus também eram abordados com pedidos
semelhantes.
Com o objetivo de atender a essa demanda por parte dos servidores dos 17
campi que compõem a rede, o Ifes lançou recentemente um edital (cf. Anecxo 1) que
contempla a submissão de artigos em duas modalidades. Eles podem ter sido escritos
em português e serão traduzidos para o inglês. Ou, se estiverem escritos em inglês, esses
artigos serão revisados. A instituição faz algumas exigências quanto à submissão dos
artigos que passarem pelo processo. O não-cumprimento pode acarretar na devolução
do valor investido à instituição pelo servidor. Essa pressão demonstra, inclusive, um
interesse por parte da instituição em participar do processo de internacionalização da
pesquisa.
6
11
OBJETIVOS E PERGUNTAS DE PESQUISA
Objetivo geral
Esta pesquisa objetiva descrever, a partir do mapeamento nas dimensões de
variação de Biber (1988), 900 artigos acadêmicos em língua inglesa escritos por
pesquisadores de dez áreas de estudo e de nove diferentes origens.
Objetivos específicos
Descrever, a partir do levantamento das dimensões de variação do artigo de
pesquisa acadêmica, como as dez áreas de estudo que compõem o corpus se
assemelham ou diferem entre si quanto às cinco dimensões de variação do inglês
propostas por Biber (1988), e como as nove diferentes origens dos autores se comparam
quanto às dimensões de variação de Biber (1988).
Perguntas de pesquisa:
1. Como essas áreas diferentes de conhecimento se comparam quanto às
dimensões do inglês propostas por Biber (1988)?
2. Como as diferentes origens dos autores se comparam quanto às dimensões
propostas por Biber (1988)?
Esta tese está organizada da seguinte forma: no capítulo 1, é feita uma
discussão contextualizada sobre o uso do artigo acadêmico. No capítulo 2, a
fundamentação teórico-metodológica é apresentada com uma breve revisão da literatura
que destaca pesquisas em Linguística de Corpus e, especificamente, aquelas que
utilizam a Análise Multidimensional. No capítulo 3, que trata da metodologia, o corpus
de estudo é apresentado, assim como os programas de computador usados nesta
pesquisa e os passos que foram tomados para a execução deste trabalho. O capítulo 4
apresenta os resultados da pesquisa, seguido de uma discussão ilustrada com exemplos
retirados dos artigos que compõem o corpus, de acordo com suas diferentes origens e
12
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Nesta seção, são apresentadas informações sobre a internacionalização da
pesquisa e a necessidade da produção acadêmica na língua inglesa por parte de
pesquisadores não-nativos. Há uma breve apresentação de indexadores e como eles
interferem no ranking de classificação dos periódicos internacionais e nacionais.
O desenvolvimento científico do Brasil passa pela formação de profissionais
que precisam fazer intercâmbio de informações, pesquisas e estudos. Esse intercâmbio
está inerentemente ligado a recursos linguísticos em português e em outras línguas,
notadamente o inglês.
É fato que a internacionalização das pesquisas tem como ferramenta a língua
inglesa, que é a mais utilizada academicamente. As razões políticas, amplamente
discutidas em Lacoste & Rajagopalan (2005) e Crystal (2012), que elevaram a língua
inglesa a esse patamar, fogem do escopo deste trabalho. No entanto, vale ressaltar que
dados do portal SCImago Journal & Country Rank, que inclui indicadores científicos de
periódicos e de países gerados a partir de informações contidas no banco de dados
Scopus, apontam os Estados Unidos como país com o maior número de publicações
científicas7.
Segundo Pinto e Andrade (1999), a partir dos anos 1960 surge a
cienciometria, área do saber que trata da análise de aspectos referentes à geração e
difusão de informações científicas. Essa ciência tem como principal ferramenta os
índices bibliométricos, que são obtidos a partir de bancos de dados onde estão
armazenados e catalogados grande parte da produção científica mundial. O Institute for
Scientific Information (ISI) é o organizador de um dos principais bancos de dados com
essa especialidade.
Esses números podem ser vistos no Quadro 1, a seguir, que abrange dados de
1996 a 2007. O endereço eletrônico não fornece uma lista mais recente. Optei por listar
apenas os 20 primeiros países, da extensa lista de 238, por uma questão de espaço. O
7 SCImago Journal & Country Rank. Disponível em www.scimagojr.com/. Acesso em 16
13 original, com os países e os itens em língua inglesa, encontra-se no Anexo 2.
País Documentos Documentos
citáveis Citações
Auto-citações
Citações por
documentos Índice H Estados
Unidos 7.063.329 6.672.307 129.540.193 62.480.425 20,45 1.380
China 2.680.395 2.655.272 11.253.119 6.127.507 6,17 385
Reino
Unido 1.918.650 1.763.766 31.393.290 7.513.112 18,29 851
Alemanha 1.782.920 1.704.566 25.848.738 6.852.785 16,16 740
Japão 1.776.473 1.734.289 20.347.377 6.073.934 12,11 635
França 1.283.370 1.229.376 17.870.597 4.151.730 15,6 681
Canadá 993.461 946.493 15.696.168 3.050.504 18,5 658
Itália 959.688 909.701 12.719.572 2.976.533 15,26 588
Espanha 759.811 715.452 8.688.942 2.212.008 13,89 476
Índia 750.777 716.232 4.528.302 1.585.248 7,99 301
Austrália 683.585 643.028 9.338.061 2.016.394 16,73 514
Federação
Russa 586.646 579.814 3.132.050 938.471 5,52 325
Coreia do
Sul 578.625 566.953 4.640.390 1.067.252 10,55 333
Países
Baixos 547.634 519.258 10.050.413 1.701.502 21,25 576
Brasil 461.118 446.892 3.362.480 1.151.280 10,09 305
Taiwan 398.720 389.411 3.259.864 790.103 10,41 267
Suíça 395.703 377.016 7.714.443 1.077.442 22,69 569
Suécia 375.891 361.569 6.810.427 1.104.677 20,11 511
Polônia 346.611 339.712 2.441.439 652.956 8,25 302
Turquia 306.926 291.814 1.935.431 519.675 8,24 210
QUADRO 1: PAÍSES E NÚMERO DE CITAÇÕES. FONTE: SCIMAGO JOURNAL & COUNTRY RANK, DISPONÍVEL EM HTTP://WWW.SCIMAGOJR.COM/INDEX.PHP.
O conhecimento dos índices bibliométricos, como o índice H e os índices
14 periódicos. Assim parece ser necessária uma breve introdução sobre esses itens que,
quanto mais altos, indicam a maior visibilidade do periódico. Os índices acima – índice
H e índices qualis – são usados para aferir, respectivamente, o impacto de periódicos
estrangeiros e os periódicos brasileiros no Brasil.
Segundo Chizzotti & Ponce (2010), a biliometria e a cientometria são meios
que surgiram para mensurar a produção de científica. A “bibliometria extrai o volume e
o entrelaçamento dos textos citados, infere o desenvolvimento de um campo científico,
enuncia o estágio das publicações e a autoria das contribuições dadas em uma área de
investigação” (CHIZZOTTI & PONCE, 2010, p. 7). A cienciometria, por sua vez, mede
a relevância de periódicos em dada área de conhecimento.
A partir dessas informações, chegarmos ao foco dessa seção, que são os
pesquisadores brasileiros. Também são apresentadas algumas iniciativas tomadas por
instituições brasileiras, que visam atender à necessidade de melhorar a escrita
acadêmica em inglês de pesquisadores brasileiros.
Para uma melhor leitura da tabela, os itens que a compõem são apresentados
seguindo a explicação disponível na fonte. Os itens contemplados na tabela são country
(país), documents (documentos publicados), citable documents (documentos passíveis
de citações, como artigos, revisões e trabalhos apresentados em conferência, citations
(citações), self-citations (autocitações do país de documentos publicados), citations per
document (média de citações por documentos publicados) e H index – índice H, que
corresponde ao número (h) de artigos do país que receberam ao menos um número h de
citações.
O índice H foi criado por Jorge Hirsch, um físico argentino e professor da
Universidade da Califórnia (MARQUES, 2013). O índice H apresenta vantagens e
limitações. Entre as principais vantagens, Marques (2013) cita o fato de esse indicador
combinar quantidade e qualidade de maneira objetiva em um só indicador. Ele também
pode ser obtido por qualquer pessoa que acesse uma base de dados, como a Web of
Science, que é um portal que permite o acesso a várias bases de dados de referência
15 e Journal Citation Reports.
Quanto às limitações, o índice H não serve para fazer comparações entre
pesquisadores de disciplinas diferentes, uma vez que o volume de citações varia de
acordo com o tamanho de cada comunidade. Outra limitação é o fato de ele poder ser
manipulado através de autocitações. Adicionalmente, no cálculo do índice H livros e
artigos têm o mesmo peso, o que torna difícil comparar a produção de pesquisadores de
áreas com diferentes culturas de publicação. O autor cita, por exemplo, que, em
humanidades, é costume que resultados de pesquisas sejam publicados em livros, o que
diminui a quantidade de artigos publicados nessa área. Marques (2013) também aponta
que o índice não distingue entre um artigo de um só autor e um de múltipla autoria. No
último, a participação individual é de difícil avaliação.
De acordo com Chizzotti & Ponce (2010), no Brasil, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) desenvolveu sua própria
metodologia de avaliação, com início em 1978, para os programas de pós-graduação. A
partir de 1998, com a ampliação da pós-graduação nacional, a CAPES adotou um
sistema de avaliação trienal, que leva em consideração a produção dos programas e de
seu corpo docente. A fim de qualificar a produção científica dos programas de
pós-graduação, a CAPES criou o programa Qualis. Trata-se de um conjunto de
procedimentos usados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção
intelectual para classificação de periódicos, eventos e livros. Essa classificação objetiva
a elevação do padrão de qualidade técnica e científica das produções nacionais nas mais
diferentes áreas de pesquisa.
Em decorrência, a CAPES disponibiliza uma lista com a classificação desses
veículos que divulgam a produção dos referidos programas. Eles são aferidos pelo
Qualis, que enquadra os periódicos em estratos indicativos de qualidade. Essa
classificação é feita anualmente e os estratos começam em C, que tem peso zero, e
cresce até A1, o mais elevado. Os intermediários são, a partir do mais baixo, B5; B4;
B3; B2; B1; e A2.
16 pesquisadores brasileiros usam o mesmo modelo de movimento da estrutura textual que
eles usam quando escrevem em português. A autora aponta que o conhecimento do
modelo CARS, proposto por Swales, de organização retórica usada na introdução da
maioria dos artigos de pesquisa, seria uma boa ferramenta pedagógica. Segundo a
autora, de posse desse modelo, o pesquisador brasileiro “pode estar em uma posição
melhor para fazer escolhas retóricas ao escrever em inglês”8. (HIRANO, 2009, p. 247;
minha tradução).
O modelo apresentado por Swales em 1990 é conhecido como CARS, do
inglês (Create a Research Space). Ele é composto por uma sequência retórica, que são
os movimentos e passos. No movimento 1, o autor estabelece o território da pesquisa. A
seguir, no movimento 2, o autor estabelece um nicho dentro do território. No
movimento 3, o autor ocupa o nicho que foi estabelecido. Em cada movimento existem
passos, conforme pode ser visto no esquema na Figura 1 a seguir, adaptado de Silva
(2004).
8 No original, em inglês: “…might be in a better position to make informed rhetorical
17
Movimento 1 – Estabelecimento do território Passo 1 reivindicação de centralidade;
e / ou
Passo 2 generalização sobre o tópico;
e / ou
Passo 3 revisão dos pontos de pesquisas anteriores.
|
Movimento 2 – Estabelecimento do nicho A contra-argumentação;
ou
B indicação de falha;
Passo 1 ou
C levantamento de questionamentos;
ou
D continuação da tradição
|
Movimento 3 – Ocupação do nicho A resumo dos objetivos; Passo 1 ou
B apresentação da pesquisa;
Passo 2 apresentação dos principais achados;
Passo 3 indicação da estrutura do presente artigo.
FIGURA 1: O MODELO CARS. FONTE: SILVA (2004).
No entanto, ressaltamos que modelos de movimentos retóricos, como o
mostrado acima, não consideram as mesmas premissas da Linguística de Corpus. No
CARS, a quantidade de material é pequena e a análise é manual, o que contrasta com os
grandes corpora que são comuns em estudos de Linguística de Corpus. Sendo assim,
18 base no modelo CARS.
Conforme mostra a literatura apresentada aqui, o conhecimento da língua
inglesa para fins de escrita acadêmica tem sido abordado por vários autores. No entanto,
segundo a Scientific Electronic Library Online (SCIELO, 2014), o domínio da língua
inglesa ainda é um problema não solucionado. Editores qualificam artigos mal escritos
como um dos motivos mais recorrentes para rejeição. Para isso, há inúmeros serviços
profissionais de revisão e tradução de manuscritos em países cujo idioma nativo não é o
inglês.
De acordo com Salager-Meyer (2014), há dois grupos distintos de periódicos.
O primeiro é conhecido por mainstream, center, high-ranking ou elite9. Esses
periódicos são publicados em inglês, língua dos periódicos de maior prestígio, e são
indexados em um dos seguintes indicadores: Science Citation Index, Social Science
Citation Index e Arts and Humanities Citation Index, da Thomson Reuters.
O segundo é conhecido como peripheral ou small journals10, cujo nome não
está relacionado ao tamanho. As palavras “periférico” e “pequeno” aludem ao fato de
que esses periódicos são publicados em países periféricos, onde o meio de publicação
não é a língua inglesa. A maior parte deles não consta dos bancos de dados de
indexadores internacionais, como os mencionados no parágrafo anterior, ou outros
semelhantes.
Conforme relata Salager-Meyer (2014), a busca por maior visibilidade
internacional tem conduzido alguns periódicos periféricos, de países como México,
Rússia, Sérvia, Irã, Coreia do Sul e Brasil, a publicar em inglês. Outros passaram a ser
periódicos com publicações bilíngues, que apresentam edições com uma tradução
completa dos artigos publicados.
Salager-Meyer (2014) acrescenta que pesquisadores que não são falantes
nativos da língua inglesa enfrentam múltiplas dificuldades ao escrever um artigo em
9 Corrente principal, central, de alto nível e elite (minha tradução).
10
19 inglês para uma possível publicação em periódicos do tipo mainstream. São,
principalmente, dificuldades de cunho linguístico e discursivo. Entre essas dificuldades,
a autora menciona o baixo nível nas habilidades básicas de escrita acadêmica, as quais
incluem a habilidade retórica e argumentativa.
Além das barreiras linguísticas, a autora acrescenta que pesquisadores em
países em desenvolvimento enfrentam outras dificuldades, que abrangem problemas
locais comuns nessas regiões. Essas questões não fazem parte do cotidiano dos
pesquisadores de países ricos. Tais problemas vão desde a queda de energia elétrica,
conexão ruim de internet, pouco ou nenhum material bibliográfico e baixos salários.
Segundo a autora, com frequência, pesquisadores falantes não-nativos de
inglês precisam investir tempo e dinheiro a fim de produzir manuscritos que atendam as
expectativas de revisores e editores de periódicos de elite. No entanto, apesar desse
esforço e de gastos muitas vezes fomentados, é comum a frustração de terem seus
artigos rejeitados.
O fator de Impacto é um dos indicadores mais utilizados e aceitos na área
acadêmica. Esse indicador demonstra o número médio de citações de artigos científicos
publicados em um determinado periódico.
Laus (2004) discute a internacionalização da universidade e diz que projetos
de pesquisa internacionais são uma forma de realizar a internacionalização. Segundo a
autora, agências de fomento “buscam promover a integração dos grupos de pesquisas e
a paridade científica entre os cooperadores brasileiros e internacionais.” (p. 5)
De acordo com Pinto & Cunha (2008, p. 2.222), a internacionalização da
produção científica brasileira é medida pelos artigos produzidos no país que estão no
portal ISI Web of Knowledge:
que inclui os acessos ao Web of Science e ao Journal Citation Reports. Mais
recentemente vem ganhando espaço no País no meio acadêmico a base Scopus. O
conceito de internacionalização pode ser ampliado, por exemplo, para pesquisadores do
exterior que publicam seus artigos em revistas brasileiras. Talvez seja este atualmente o
20 brasileira.
Os crescentes intercâmbio e internacionalização de pesquisas acadêmicas, dos
quais o Brasil vem participando desde a década de 1990, tornam necessário que
estudantes e pesquisadores brasileiros publiquem cada vez mais em inglês. Isso se deve
ao fato de que, conforme mencionado, a língua inglesa é a língua da academia.
Segundo Paiva (2014), a internacionalização da pesquisa está associada à
internacionalização da pós-graduação. Um dos principais mecanismos para que a
internacionalização da pesquisa aconteça é a distribuição de bolsas de estudo para o
exterior.
Segundo dados da FAPESP (2013), o número de artigos científicos publicados
em inglês nos periódicos da Scientific Electronic Library Online - SciELO Brasil, que é
uma biblioteca eletrônica de artigos científicos em rede, superou o total de artigos
disponíveis em português. A agência tem feito esforços para aumentar a visibilidade e o
impacto internacional dos artigos publicados indexados na SciELO. De acordo com a
FAPESP (2013), a SciELO Brasil conta hoje com cerca de 270 revistas disponibilizadas
com acesso livre na internet.
Para ser incluído na SciELO Brasil11, o periódico deve aceitar os critérios para
admissão e permanência na Coleção. Esses critérios estão descritos no documento
“Critérios SciELO Brasil: critérios, política e procedimentos para a admissão e a
permanência de periódicos científicos na coleção SciELO Brasil”. O conteúdo da
Coleção é de acesso aberto e são textos completos de periódicos científicos brasileiros
de todas as áreas do conhecimento. São, predominantemente, artigos inéditos resultantes
de pesquisa científica original. A contribuição é avaliada por pares, que analisam
conteúdo e relevância dos artigos.
Ainda, de acordo com a FAPESP (2013), o esforço das sociedades científicas,
dos editores e das publicações tem contribuído de forma efetiva para aumentar a
quantidade de publicações em inglês. Como resultado, o número de artigos científicos
11
21 publicados em inglês nas revistas brasileiras da SciELO Brasil subiu de 38%, em 2007,
para 52%, em 2012. Da mesma forma, houve um crescimento de publicação de artigos
bilíngues – em português e inglês. As áreas com maior concentração de publicações
bilíngue são: a área da Saúde, que tem o maior número de publicações; em segundo
lugar, vem a área de Ciências Humanas.
O desempenho dos periódicos indexados na Rede SciELO, composta por
revistas brasileiras, da África do Sul e de outros 14 países ibero-americanos ainda é
baixo comparado ao desempenho de periódicos de países mais ricos. Aproximadamente,
90% desses periódicos têm fator de impacto abaixo da média em suas áreas nos índices
de referência internacional. De acordo com o coordenador do programa SciELO, ainda
existem muitos fatores que afetam o desempenho das coleções de periódicos da Rede
SciELO. Entre esses problemas, constam a qualidade e a relevância internacional das
pesquisas, o idioma de publicação e a baixa qualidade de artigos publicados em
colaboração com pesquisadores estrangeiros.
Algumas universidades brasileiras dispõem de programas que fomentam a
divulgação de pesquisas desenvolvidas por cientistas brasileiros. A Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), por exemplo, tem o Programa de
Internacionalização da Pesquisa da UNESP. Esse programa busca fornecer subsídios
para que seus pesquisadores possam publicar em periódicos de maior prestígio. A
instituição reconhece que o inglês é o “idioma de uso preponderante na comunicação
entre pesquisadores. Publicar em outro idioma quase sempre implica menor visibilidade
na comunidade internacional.”
Segundo o Programa de Internacionalização da Pesquisa da UNESP,
“pesquisadores que conseguem publicar seus trabalhos nos periódicos de maior
prestígio ganham crédito junto às agências de fomento e projetam suas instituições de
origem no cenário científico internacional.”
Com o objetivo de estar inserida no contexto científico internacional, a
UNESP tem interesse que seus docentes publiquem em periódicos internacionais, para
22 versões de textos do português para o inglês e revisões de textos em inglês.
Porém muitos pesquisadores brasileiros têm deficiências que travam a
publicação de seus artigos. A questão tem sido discutida por cientistas brasileiros, como
Vasconcelos & Sorenson (2007), que defendem que as universidades brasileiras, a
exemplo de universidades estrangeiras, como as americanas e canadenses, mantenham
cursos de escrita acadêmica para todas as áreas.
Segundo Vasconcelos & Sorenson (2007), alguns cientistas brasileiros, como
o físico Fernando Lázaro, revisor de vários jornais internacionais, sugerem que as
universidades brasileiras contribuam com a fase de escrita e reescrita de manuscritos
para publicação, oferecendo cursos de escrita formal aos seus alunos de pós-graduação.
De acordo com Langoni (2010), o intercâmbio de experiências entre
estudantes de pós-graduação e professores de diferentes nacionalidades abre
perspectivas e dá aos participantes uma nova visão. Alguns órgãos de fomento
apresentam iniciativas para viabilizar a internacionalização da pesquisa. A Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) tem como estratégia acordos de
cooperação com agências e / ou instituições científicas de diversos países, como
Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, México, Portugal, Reino Unido e Suíça. A
cooperação entre o Brasil e esses países permite aos pesquisadores brasileiros fazerem
intercâmbio e realizarem projetos conjuntos com pesquisadores estrangeiros.
Segundo Vasconcelos & Sorenson (2007), o periódico European Journal of
Epidemiology publicou um relatório com dados que demonstram a relação entre
financiamento de pesquisa, proficiência em língua inglesa e publicação em periódicos
médicos de renome. Segundo esses dados, países com alto investimento em
financiamento de pesquisas, mas com baixo escore no Test of English as a Foreign
Language (TOEFL) apresentam um nível relativamente baixo de publicação científica.
Os mesmos autores destacam que a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) mantém um projeto relacionado à proficiência em inglês de cientistas brasileiros
e o tempo de publicação, que vai desde a primeira versão do artigo até sua aceitação
23 A ciência brasileira ganhou visibilidade nos últimos 25 anos, o que pode ser
visto no aumento do percentual de publicação do Brasil em periódicos indexados pelo
ISI, de 0,4% para 1,6% no período (VASCONCELOS & SORENSON, 2007). Os
autores afirmam que Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) mantém um banco de dados, o qual sugere haver uma relação entre proficiência
em inglês escrito e publicações em periódicos internacionais. Nesse banco de dados
estão cadastrados 51.223 pesquisadores brasileiros.
A Universidade de São Paulo (USP), Campus São Carlos, mantém um portal
dedicado à escrita científica. Nele é possível encontrar um repositório de informações
destinadas a estudantes e pesquisadores interessados em aperfeiçoar a escrita científica
em português e em inglês. A USP mantém nesse portal um curso de escrita científica
que tem como um dos módulos a disciplina “Plain English, Escrever em Inglês”.